Capítulo Único
O inverno em Seul estava sendo mais rigoroso esse ano. O termômetro batia a marca de -30 graus celsius, o que fazia com que as pessoas sensatas ficassem em suas casas, protegidas por seus aquecedores de chão e suas grossas cobertas.
Esse não era o meu caso.
Pisei ainda mais fundo no acelerador, vendo os ponteiros chegarem ao seu máximo e o motor do carro roncar pelo esforço na pista livre de Mapo. Com a janela aberta, senti o vento congelante açoitar meu rosto, me dando um prazer quase sádico. O último cigarro do maço que havia levado comigo de Guro estava em minha boca e, a cada tragada que eu dava no mentolado, o meu frágil pulmão respondia em dissonância. Eu gargalhava como um louco, enquanto sentia o carro patinar pela pista escorregadia por causa da neve que cobria a região.
Muitos me chamariam de louco, mas eu gostaria que me vissem como um sobrevivente.
“- Você não devia andar tão rápido! Fica mais difícil de ter reflexos de proteção! Junko!
- Querida, eu não estou acima de 80 km, que é o limite da estrada. Você pode ficar tranquila.
- Ainda assim, não nos custa tomar cuidado! Eu sou muito preciosa para morrer em um acidente de carro!
- Oh, é mesmo? Tão preciosa…
- Pare de debochar! Você sabe que não consegue viver sem mim. ”
Soyou era tão cuidadosa e precavida, que estar perto do perigo me fazia sentir como se ela estivesse bem ali do meu lado, sentada no banco do carona. Se eu fechasse os olhos bem naquele momento, conseguiria ver seu sorriso, que iluminava meu dia e aquecia minhas noites mais frias. Tomado pela nostalgia, nossas viagens agora tão distantes se tornaram vivas em minha memória. Eu podia sentir suas mãos, cálidas, acariciando as minhas. Seu olhar no meu conseguia aquecer tudo por dentro, mais do que o próprio Sol.
Ela era tão perfeita para mim e eu sequer sabia disso. Não consigo contar quantas vezes me senti um imbecil por não notar antes o quão maravilhosa minha esposa era e o quanto ela simplesmente me completava. Estar com ela era como ter todo o mundo na palma da mão. Todas as manhãs eram divertidas ao vê-la tentando domar o cabelo e todas as noites eram esforços incansáveis em fazê-la rir, enquanto estava com a máscara facial. Ela não precisava de uma pele de porcelana, nem de fios sedosos e brilhantes. Não havia nada em Soyou que eu não amasse. Até mesmo sua mania irritante de me contradizer em tudo, era completamente encantadora.
Chegar em casa todos os dias, depois de uma rotina estressante, e vê-la sorrindo para mim era como um sonho. Ela era aquilo que eu (e a maioria dos homens no mundo) sempre pensou ser impossível ter em uma garota. Não porque ela seguia os padrões de beleza, não por ela ser submissa ou reservada - Deus sabe o quão geniosa ela sempre foi -, mas porque com ela eu me sentia vivo, tinha coragem e queria me tornar alguém melhor. Para ela, por ela. Eu prometi amá-la para sempre e mesmo com tanto amor, não pude mantê-la por perto. Como Ícaro, que ao se aproximar demais do Sol, só conseguiu ferir-se ainda mais.
Eu tinha a mulher que se encaixava perfeitamente ao meu molde e ainda assim, perdido em minha ignorância, só pude notar isso depois que a perdi.
Mas, quando não se tem mais nada a perder, o medo é apenas uma ilusão.
“ - Você é muito medroso!
- Por não querer me jogar de mais de 30 metros de altura, pendurado por um elástico? Com muito orgulho!
- Não é como se a corda fosse arrebentar, ou algo do tipo. Esses equipamentos costumam ser bastante seguros, na maioria das vezes.
- Na maioria das vezes? Você só pode estar brincando comigo. Eu não vou fazer isso.
- Querida, o medo está todo na sua cabeça. Não tem porque temer. Estou com você, não estou? O medo é só uma ilusão que seu cérebro cria para tentar preservar a sua vida.
- Eu amo meu cérebro.”
- Patético, Junko. Você é simplesmente patético. - Falei para mim mesmo depois de parar o carro no acostamento, balançando a cabeça em descrédito. - Soyou não está aqui. É sua mente doentia te punindo de novo, seu imbecil. Soyou se foi.
Soyou se foi.
E a culpa era toda minha. Da minha insegurança. Minha ganância. E, acima de tudo, minha covardia.
Soyou sempre mereceu muito mais do que um covarde como eu. Ela amava as coisas simples da vida, e eu só sabia complicá-las. Passamos tanto tempo juntos e, enquanto eu só fazia reclamar de seus defeitos, da sua falta de seriedade na vida e de tantas outras coisas, ela apenas ria da minha rabugice e dizia que “éramos tão diferentes que daria certo”, que ela “faria dar certo”. Ela iluminava minha vida entediante, trazia cor ao meu mundo cinza e sem graça. Da forma mais clichê o possível, Soyou era a peça que faltava no meu quebra-cabeças. Ela fazia a minha vida valer a pena.
E fez. Por dois anos e seis meses, Soyou suportou tudo e todos para ficar comigo.
“- Minha mãe ligou outra vez. Quer saber se iremos passar o Chuseok com eles.
- Você quer mesmo ir? Não quer ficar em casa e comemorar juntinho?
- Quase não temos oportunidade de ir pra Namhae. Sinto falta dos meus pais, dos meus irmãos, do mar… E eu adoro ver você completamente deslocado por lá, garoto de Seul.
- Jagiya, você sabe que sua mãe não gosta muito de mim. Além disso, preciso ficar aqui, em Seul, caso precisem de mim na empresa. Pode ser a oportunidade de promoção que eu tanto espero.
- Ela gosta de você. Não posso dizer o mesmo do papai, mas minha mãe nunca teve nada contra você. Enfim, tudo bem. Eu entendo. Podemos ir no ano que vem, certo?
- Tudo o que você quiser. Vou para qualquer lugar com você, meu amor. Ano que vem, sem falta.”
Agora eu estava ali, sozinho com meus fantasmas. Meu egoísmo fez com que a única coisa boa que eu já tive se esvaísse por entre meus dedos, como areia.
Dei um último trago em meu cigarro, jogando-o no chão ao sair do carro. Eu finalmente havia chegado ao meu destino final. Fazia tanto tempo que eu não ia ali, mas mesmo assim, tudo continuava exatamente igual à última vez. Soyou amava subir até aquela pequena montanha e ficar observando o pôr-do-sol dali, aninhada em meus braços. No verão, era possível ver os patos nadando no lago, as gaivotas em seus vôos rasantes à procura de comida e algumas famílias confraternizando na grama. Soyou chamava aquele lugar de “paraíso”, pois ela dizia que conseguia esquecer qualquer problema, dor ou confusão do passado e pensar em todas as coisas boas que ela tinha, que poderia conquistar. Era como um botão de reiniciar que ela usava de tempos em tempos, sempre que as coisas se tornavam pesadas demais para os pequenos ombros do meu amor. Eu nunca entendi muito bem, mas era minha oportunidade de passar mais tempo com ela, então eu sempre aceitava.
“ - O que você acha de um bebê?
- O-o q-quê?
- Não fica nervoso. Não estou cobrando nada, só… Não sei. Me peguei pensando nisso nos últimos dias. Em ter um bebê. Uma pessoinha que fosse a combinação perfeita das nossas piores características, que corresse pela casa e nos deixasse loucos pelo resto das nossas vidas.
- Querida, eu…
- Não, não. Espera. Agora, eu vou te beijar e nós vamos aproveitar o paraíso. Eu só quero que você me prometa que vai pensar no assunto.
- …
- Junko? Promete que vai pensar? Sem pressão, pelo tempo que achar necessário? Só não descarte isso tão rápido, ok? Pode me prometer isso? Só preciso que você diga que realmente irá considerar e…
- Tudo bem. Eu… eu prometo que irei cogitar a possibilidade de termos um bebê.
- Ah, obrigada meu amor! Eu te amo. Muito, muito mesmo!”
Nunca havíamos ido ali no inverno. Eu me questiono se Soyou ficaria decepcionada ao ver o lago congelado, a grama sem vida e o sentimento de vazio que eu tinha naquele momento. Talvez, ela me consolaria com sua voz melódica e positiva, dizendo que aquela era uma fase e logo a vida voltaria aquele lugar. Mas o maior problema não estava na mudança das estações, ou no fato de estar tão frio a ponto de meu nariz adormecer, mas no fato de que era ela que dava vida aquele lugar para mim. Sem Soyou, não eram só as árvores que perdiam as folhas ou só o lago que congelava, mantendo tudo intacto até a próxima primavera. Sem ela, não tinha “paraíso” nenhum. Apenas frio, vazio e dor.
Se eu pudesse eu voltaria no tempo, até o momento em que destruí tudo de bom que ela sentia por mim.
“- Eu não acredito que estamos brigando por algo tão estúpido.
- Estúpido?! É isso mesmo o que você acha?
- Sim! É o que eu acho! Eu passo todo o dia fora de casa, tentando nos dar uma vida mais decente e então, do nada, você surge com essa ideia absurda de exposição de arte?
- Do nada? Eu tenho pintado desde sempre, Junko! Você que está sempre ocupado demais com seu próprio umbigo para perceber o que está acontecendo à sua volta. Todos os dias eu tenho estado aqui, trancada entre essas paredes, pensando o que posso fazer sem prejudicá-lo. Eu passo dias e noites frustrada, ignorando todos os meus planos, meus desejos e até meus gostos, apenas para deixá-lo feliz, tranquilo, confortável para que você conquiste tudo o que quer. Mas, quando espero isso em retorno, é estúpido ou absurdo? Eu não sei quem você acha que é, Min Junko, mas vou lhe dizer uma coisa: não espere mais que eu me anule por você.
- Você está tentando dizer o que eu acho que está, Han Soyou?
- Se o que você acha que eu quero dizer “Eu te amo, mas não vou mais me rebaixar a você”, sim. É exatamente o que estou dizendo. Eu cansei de ser uma esposa de enfeite. Cansei de viver como se você fosse meu dono, meu chefe. Eu quero um esposo! Um cara que saiba os hobbies da esposa, que a apóie e incentive, exatamente da mesma maneira que ela faz com ele. Quero sentar e conversar sobre as despesas, ao invés de entregá-las a você e esperar que você pague. Quero que você entenda, de uma vez por todas, que se eu estive aqui até hoje, se me casei com você, é porque eu te amo. Mas não há amor que suporte tanto desrespeito, Junko. Eu não aguento mais me sentir como se não importasse o suficiente.
- Aonde você vai?
- Respirar um pouco.
- Kim Soyou!”
Sentado no chão frio e sozinho, rodeado pelo inverno, eu me pergunto se Soyou ainda estaria ao meu lado se eu a ouvisse e entendesse mais. Tão cego pelo meu egoísmo, eu permiti que ela se fosse da minha vida e nunca mais voltasse. “E se?”, eu me questionava religiosamente desde que Soyou me deixara.
E se eu fosse atrás dela?
E se eu pedisse desculpas?
E se eu finalmente resolvesse lutar pelo nosso amor?
Entretanto, esse questionamento ficou sem respostas até agora, pois não fui corajoso o bastante para largar tudo e ir atrás dela. Eu não era como Soyou. Eu não me arriscava, não me entregava de corpo e alma a nada e, acima de tudo, não tinha aquele brilho de confiança que iluminava a todos. Eu sempre fui dependente dela. Da energia que ela emanava, de tudo o que ela era. Eu não passava de uma versão fajuta de mim mesmo agora e a culpa era inteiramente minha.
Fechei os olhos por alguns segundos, tentando recuperar o ar que me faltava naquele momento. Reviver tantas memórias fazia com a minha culpa me sufocasse. Os meus pulmões, frágeis por causa do vício do cigarro e do avanço da doença, dificultavam a minha respiração, enquanto minha cabeça latejava. A dor, que me acompanhava nos últimos anos, não me deixava esquecer que meu destino estava traçado.
Eu estou morrendo.
E por mais terrível que isso pudesse parecer, eu tinha um tormento ainda maior: eu estava me esquecendo dela. “Um tumor no lobo temporal”, foi o que eles disseram. Minha memória, audição, minha capacidade de entender outras línguas (não que eu soubesse muitas), tudo estava comprometido por um “corpo estranho” do tamanho de uma ameixa. Por ser em um local delicado, não era possível operar. Sequer tiveram como fazer uma biópsia. Eu viveria pelo dias que me restassem, perdendo minhas memórias, ficando surdo e tomando remédios para dor de cabeça, até que eles também não fizessem efeito e eu só morresse. Parece promissor, não?
Flashes de memórias iam e vinham com frequência, mas passaram a ser cada vez menos frequentes. Há duas semanas, mais de seis meses sem Soyou, não a reconheci nas fotos de nosso casamento, sempre expostas na sala. Era como aqueles filmes sobre amnésia, sem toda a parte romântica sobre novas chances ou pancadas na cabeça. Minha cabeça estava uma merda mesmo, como todo o resto da minha vida, mas eu não podia me esquecer dela. Eu já não a tinha comigo, não podia perder a única coisa que me restou: minhas memórias. Afinal, não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Soyou estava morta.
É incrível como tudo muda em uma fração de segundos. Eu sempre achei que tivesse tempo demais para resolver todos os problemas da minha vida, que tinha tudo sob controle. Ledo engano. Quando menos se espera, no momento em que tudo poderia simplesmente tornar-se melhor, a vida te bate tão forte que você sequer sabe como levantar.
“- JunKo?
- Ommoni? Ommoni, por que você está chorando?
- Soyou…
- Ela não está, ommoni. Ela precisou sair por alguns minutos. O que houve? Eu posso ajudar?
- Oh querido… Soyou… Hospital…
- O quê?”
Ela estava atravessando na faixa de pedestres, como sempre fazia, quando um carro ultrapassou o sinal vermelho e a atingiu em cheio. Quatro costelas quebradas, um pulmão perfurado, traumatismo craniano. Foi um milagre que ela tenha conseguido chegar viva ao hospital, segundo os médicos. E mesmo que eu tivesse corrido, pago mais do que deveria ao taxista e brigado com mais de uma enfermeira até encontrar nossa família, não houve tempo suficiente antes que ela se fosse. Soyou havia partido, e eu não havido sido capaz de segurar sua mão pela última vez, abraçar seu corpo que tão bem se encaixava ao meu, e implorar pelo seu perdão. A partir das 19h51m daquela segunda-feira, eu estava condenado a viver eternamente com a culpa e o remorso como meus companheiros. Logo depois deles, o tumor tornou-se o ceifador que me levaria à morte. Era como se eu tivesse perdido a vida junto com minha amada esposa.
Então, mesmo que contrariasse tudo aquilo que eu sempre acreditei, mesmo que o conflito dentro de mim fosse constante, eu sabia que não teria escolha. Ela era todo o meu amor, toda a minha vida, e eu seria eternamente grato por ter conhecido um amor como o que ela deu a mim, durante todo nosso tempo juntos. Eu não conseguiria viver sem suas carícias e gestos doces. Eu não suportaria acordar todos os dias sem ouvir seus cantos desafinados no banheiro ou dormir todas as noites sem ouvir o ressonar leve de sua respiração.
Eu não sabia e não queria viver sem amá-la.
Sendo assim, eu só fiz a única coisa que pude:
Eu abracei a morte como uma ponte que me levaria à Soyou.
Não fora por acaso que eu havia saído de casa justo no dia mais frio dos últimos tempos, na Coreia do Sul. Nenhuma pessoa que prezava um pouco a sua vida, sairia de casa com aquela temperatura. Eu queria morrer. Era um prazer quase sádico sentir minha pele ficar cada vez mais fria, vê-la atingir a mórbida tonalidade acinzentada. Com o sol quase se pondo, os tremores já haviam passado, indicando que eu havia passado para o próximo estágio: a letargia. Nesse passo, eu já não tinha mais controle do meu corpo. Minhas mãos já se mexiam com dificuldade e eu não tinha os mesmos reflexos que antes. Minhas pálpebras estavam pesadas, como se dominadas por um intenso estupor. Incapaz de me conter, fechei os olhos e aguardei.
Soyou, que era como um Sol para todos os meus dias, se fora. Desde então, eu tenho vivido uma vida fria e escura. Estar deitado na neve, sabendo que meu corpo congela aos poucos, não é tão doloroso quanto viver sem ela.
***
Quando abri meus olhos novamente, o vento congelante do inverno sul-coreano deu lugar a uma brisa fresca de verão. Como mágica, olhei incrédulo para a paisagem a minha frente, o gelo que cobria o lago se derretia, e o verde voltava a tingir a grama, trazendo novamente vida aquele lugar. O paraíso tomava forma na minha frente e eu desejei que pudesse dividir isso com Soyou.
Como se meus desejos fossem atendidos, ela surgiu. Com seu sorriso angelical, ela vinha até mim, caminhando tranquila, fazendo-me ter certeza: Eu estava morto. Não havia outra maneira de viver esse momento, com minha Soyou novamente, se eu não estivesse morto. Com uma felicidade genuína, finalmente me sentindo completo outra vez, me levantei da pedra onde estava sentado desde que havia chegado ali, estendendo minha mão para ela. Era hora de desfrutar do meu paraíso, que era qualquer lugar, contanto que ela estivesse lá.
Soyou sorriu para mim mais uma vez e estendeu seus braços, como se me chamasse para perto, fazendo-me correr imediatamente para dentro de seu abraço aconchegante. Meu amor estava aqui, como isso não poderia ser perfeito?
- Min Junko… - Ela sussurrou em meu ouvido e a alegria apenas aumentava a cada minuto. - O que você fez?
- Eu vim encontrar você, meu amor. Vim para nosso paraíso, te encontrar, ficar ao seu lado como prometido: para sempre. Eu nunca mais, nunca mais, vou abandonar você. Vamos ficar juntos pela eternidade. - Ao dizer isso, quase imediatamente, senti nossos corpos esquentarem mais e as unhas dela começarem a apertar nas minhas costas.
- Você tem toda razão. Ficaremos juntos por toda a eternidade, querido… - Sua voz parecia um pouco melancólica, deixando-me confuso. Ela não estava feliz por me ver? - A não ser por um detalhe… - Olhei para ela, vendo o doce retrato de minha esposa tornar-se uma expressão medonha, com olhos flamejantes e aspecto diabólico. Era aterrorizante. Tentei escapar, soltar-me do monstro que agora estava ali, mas quanto mais eu me movia, mais suas garras penetravam em minha carne, causando uma dor excruciante. Eu tentei gritar, avisar a Soyou que ela estava me machucando, mas minha voz sumiu de repente. Era como um pesadelo. - Você errou por pouco, meu amor. - Uma gargalhada horrenda saiu dos lábios do monstro no qual minha esposa se tornara. Foi quando o lugar que minha esposa amava, que antes parecia tão tranquilo e bonito, em um piscar de olhos, foi tomado por fogo e destruição. Era terrível. Gritos medonhos, pedidos de socorro, choro e um cheiro pungente de carne queimada que deixava a ânsia cada vez maior. Aquilo era terrível demais. - Esse não é o paraíso. É quase.
Esse não era o meu caso.
Pisei ainda mais fundo no acelerador, vendo os ponteiros chegarem ao seu máximo e o motor do carro roncar pelo esforço na pista livre de Mapo. Com a janela aberta, senti o vento congelante açoitar meu rosto, me dando um prazer quase sádico. O último cigarro do maço que havia levado comigo de Guro estava em minha boca e, a cada tragada que eu dava no mentolado, o meu frágil pulmão respondia em dissonância. Eu gargalhava como um louco, enquanto sentia o carro patinar pela pista escorregadia por causa da neve que cobria a região.
Muitos me chamariam de louco, mas eu gostaria que me vissem como um sobrevivente.
“- Você não devia andar tão rápido! Fica mais difícil de ter reflexos de proteção! Junko!
- Querida, eu não estou acima de 80 km, que é o limite da estrada. Você pode ficar tranquila.
- Ainda assim, não nos custa tomar cuidado! Eu sou muito preciosa para morrer em um acidente de carro!
- Oh, é mesmo? Tão preciosa…
- Pare de debochar! Você sabe que não consegue viver sem mim. ”
Soyou era tão cuidadosa e precavida, que estar perto do perigo me fazia sentir como se ela estivesse bem ali do meu lado, sentada no banco do carona. Se eu fechasse os olhos bem naquele momento, conseguiria ver seu sorriso, que iluminava meu dia e aquecia minhas noites mais frias. Tomado pela nostalgia, nossas viagens agora tão distantes se tornaram vivas em minha memória. Eu podia sentir suas mãos, cálidas, acariciando as minhas. Seu olhar no meu conseguia aquecer tudo por dentro, mais do que o próprio Sol.
Ela era tão perfeita para mim e eu sequer sabia disso. Não consigo contar quantas vezes me senti um imbecil por não notar antes o quão maravilhosa minha esposa era e o quanto ela simplesmente me completava. Estar com ela era como ter todo o mundo na palma da mão. Todas as manhãs eram divertidas ao vê-la tentando domar o cabelo e todas as noites eram esforços incansáveis em fazê-la rir, enquanto estava com a máscara facial. Ela não precisava de uma pele de porcelana, nem de fios sedosos e brilhantes. Não havia nada em Soyou que eu não amasse. Até mesmo sua mania irritante de me contradizer em tudo, era completamente encantadora.
Chegar em casa todos os dias, depois de uma rotina estressante, e vê-la sorrindo para mim era como um sonho. Ela era aquilo que eu (e a maioria dos homens no mundo) sempre pensou ser impossível ter em uma garota. Não porque ela seguia os padrões de beleza, não por ela ser submissa ou reservada - Deus sabe o quão geniosa ela sempre foi -, mas porque com ela eu me sentia vivo, tinha coragem e queria me tornar alguém melhor. Para ela, por ela. Eu prometi amá-la para sempre e mesmo com tanto amor, não pude mantê-la por perto. Como Ícaro, que ao se aproximar demais do Sol, só conseguiu ferir-se ainda mais.
Eu tinha a mulher que se encaixava perfeitamente ao meu molde e ainda assim, perdido em minha ignorância, só pude notar isso depois que a perdi.
Mas, quando não se tem mais nada a perder, o medo é apenas uma ilusão.
“ - Você é muito medroso!
- Por não querer me jogar de mais de 30 metros de altura, pendurado por um elástico? Com muito orgulho!
- Não é como se a corda fosse arrebentar, ou algo do tipo. Esses equipamentos costumam ser bastante seguros, na maioria das vezes.
- Na maioria das vezes? Você só pode estar brincando comigo. Eu não vou fazer isso.
- Querida, o medo está todo na sua cabeça. Não tem porque temer. Estou com você, não estou? O medo é só uma ilusão que seu cérebro cria para tentar preservar a sua vida.
- Eu amo meu cérebro.”
- Patético, Junko. Você é simplesmente patético. - Falei para mim mesmo depois de parar o carro no acostamento, balançando a cabeça em descrédito. - Soyou não está aqui. É sua mente doentia te punindo de novo, seu imbecil. Soyou se foi.
Soyou se foi.
E a culpa era toda minha. Da minha insegurança. Minha ganância. E, acima de tudo, minha covardia.
Soyou sempre mereceu muito mais do que um covarde como eu. Ela amava as coisas simples da vida, e eu só sabia complicá-las. Passamos tanto tempo juntos e, enquanto eu só fazia reclamar de seus defeitos, da sua falta de seriedade na vida e de tantas outras coisas, ela apenas ria da minha rabugice e dizia que “éramos tão diferentes que daria certo”, que ela “faria dar certo”. Ela iluminava minha vida entediante, trazia cor ao meu mundo cinza e sem graça. Da forma mais clichê o possível, Soyou era a peça que faltava no meu quebra-cabeças. Ela fazia a minha vida valer a pena.
E fez. Por dois anos e seis meses, Soyou suportou tudo e todos para ficar comigo.
“- Minha mãe ligou outra vez. Quer saber se iremos passar o Chuseok com eles.
- Você quer mesmo ir? Não quer ficar em casa e comemorar juntinho?
- Quase não temos oportunidade de ir pra Namhae. Sinto falta dos meus pais, dos meus irmãos, do mar… E eu adoro ver você completamente deslocado por lá, garoto de Seul.
- Jagiya, você sabe que sua mãe não gosta muito de mim. Além disso, preciso ficar aqui, em Seul, caso precisem de mim na empresa. Pode ser a oportunidade de promoção que eu tanto espero.
- Ela gosta de você. Não posso dizer o mesmo do papai, mas minha mãe nunca teve nada contra você. Enfim, tudo bem. Eu entendo. Podemos ir no ano que vem, certo?
- Tudo o que você quiser. Vou para qualquer lugar com você, meu amor. Ano que vem, sem falta.”
Agora eu estava ali, sozinho com meus fantasmas. Meu egoísmo fez com que a única coisa boa que eu já tive se esvaísse por entre meus dedos, como areia.
Dei um último trago em meu cigarro, jogando-o no chão ao sair do carro. Eu finalmente havia chegado ao meu destino final. Fazia tanto tempo que eu não ia ali, mas mesmo assim, tudo continuava exatamente igual à última vez. Soyou amava subir até aquela pequena montanha e ficar observando o pôr-do-sol dali, aninhada em meus braços. No verão, era possível ver os patos nadando no lago, as gaivotas em seus vôos rasantes à procura de comida e algumas famílias confraternizando na grama. Soyou chamava aquele lugar de “paraíso”, pois ela dizia que conseguia esquecer qualquer problema, dor ou confusão do passado e pensar em todas as coisas boas que ela tinha, que poderia conquistar. Era como um botão de reiniciar que ela usava de tempos em tempos, sempre que as coisas se tornavam pesadas demais para os pequenos ombros do meu amor. Eu nunca entendi muito bem, mas era minha oportunidade de passar mais tempo com ela, então eu sempre aceitava.
“ - O que você acha de um bebê?
- O-o q-quê?
- Não fica nervoso. Não estou cobrando nada, só… Não sei. Me peguei pensando nisso nos últimos dias. Em ter um bebê. Uma pessoinha que fosse a combinação perfeita das nossas piores características, que corresse pela casa e nos deixasse loucos pelo resto das nossas vidas.
- Querida, eu…
- Não, não. Espera. Agora, eu vou te beijar e nós vamos aproveitar o paraíso. Eu só quero que você me prometa que vai pensar no assunto.
- …
- Junko? Promete que vai pensar? Sem pressão, pelo tempo que achar necessário? Só não descarte isso tão rápido, ok? Pode me prometer isso? Só preciso que você diga que realmente irá considerar e…
- Tudo bem. Eu… eu prometo que irei cogitar a possibilidade de termos um bebê.
- Ah, obrigada meu amor! Eu te amo. Muito, muito mesmo!”
Nunca havíamos ido ali no inverno. Eu me questiono se Soyou ficaria decepcionada ao ver o lago congelado, a grama sem vida e o sentimento de vazio que eu tinha naquele momento. Talvez, ela me consolaria com sua voz melódica e positiva, dizendo que aquela era uma fase e logo a vida voltaria aquele lugar. Mas o maior problema não estava na mudança das estações, ou no fato de estar tão frio a ponto de meu nariz adormecer, mas no fato de que era ela que dava vida aquele lugar para mim. Sem Soyou, não eram só as árvores que perdiam as folhas ou só o lago que congelava, mantendo tudo intacto até a próxima primavera. Sem ela, não tinha “paraíso” nenhum. Apenas frio, vazio e dor.
Se eu pudesse eu voltaria no tempo, até o momento em que destruí tudo de bom que ela sentia por mim.
“- Eu não acredito que estamos brigando por algo tão estúpido.
- Estúpido?! É isso mesmo o que você acha?
- Sim! É o que eu acho! Eu passo todo o dia fora de casa, tentando nos dar uma vida mais decente e então, do nada, você surge com essa ideia absurda de exposição de arte?
- Do nada? Eu tenho pintado desde sempre, Junko! Você que está sempre ocupado demais com seu próprio umbigo para perceber o que está acontecendo à sua volta. Todos os dias eu tenho estado aqui, trancada entre essas paredes, pensando o que posso fazer sem prejudicá-lo. Eu passo dias e noites frustrada, ignorando todos os meus planos, meus desejos e até meus gostos, apenas para deixá-lo feliz, tranquilo, confortável para que você conquiste tudo o que quer. Mas, quando espero isso em retorno, é estúpido ou absurdo? Eu não sei quem você acha que é, Min Junko, mas vou lhe dizer uma coisa: não espere mais que eu me anule por você.
- Você está tentando dizer o que eu acho que está, Han Soyou?
- Se o que você acha que eu quero dizer “Eu te amo, mas não vou mais me rebaixar a você”, sim. É exatamente o que estou dizendo. Eu cansei de ser uma esposa de enfeite. Cansei de viver como se você fosse meu dono, meu chefe. Eu quero um esposo! Um cara que saiba os hobbies da esposa, que a apóie e incentive, exatamente da mesma maneira que ela faz com ele. Quero sentar e conversar sobre as despesas, ao invés de entregá-las a você e esperar que você pague. Quero que você entenda, de uma vez por todas, que se eu estive aqui até hoje, se me casei com você, é porque eu te amo. Mas não há amor que suporte tanto desrespeito, Junko. Eu não aguento mais me sentir como se não importasse o suficiente.
- Aonde você vai?
- Respirar um pouco.
- Kim Soyou!”
Sentado no chão frio e sozinho, rodeado pelo inverno, eu me pergunto se Soyou ainda estaria ao meu lado se eu a ouvisse e entendesse mais. Tão cego pelo meu egoísmo, eu permiti que ela se fosse da minha vida e nunca mais voltasse. “E se?”, eu me questionava religiosamente desde que Soyou me deixara.
E se eu fosse atrás dela?
E se eu pedisse desculpas?
E se eu finalmente resolvesse lutar pelo nosso amor?
Entretanto, esse questionamento ficou sem respostas até agora, pois não fui corajoso o bastante para largar tudo e ir atrás dela. Eu não era como Soyou. Eu não me arriscava, não me entregava de corpo e alma a nada e, acima de tudo, não tinha aquele brilho de confiança que iluminava a todos. Eu sempre fui dependente dela. Da energia que ela emanava, de tudo o que ela era. Eu não passava de uma versão fajuta de mim mesmo agora e a culpa era inteiramente minha.
Fechei os olhos por alguns segundos, tentando recuperar o ar que me faltava naquele momento. Reviver tantas memórias fazia com a minha culpa me sufocasse. Os meus pulmões, frágeis por causa do vício do cigarro e do avanço da doença, dificultavam a minha respiração, enquanto minha cabeça latejava. A dor, que me acompanhava nos últimos anos, não me deixava esquecer que meu destino estava traçado.
Eu estou morrendo.
E por mais terrível que isso pudesse parecer, eu tinha um tormento ainda maior: eu estava me esquecendo dela. “Um tumor no lobo temporal”, foi o que eles disseram. Minha memória, audição, minha capacidade de entender outras línguas (não que eu soubesse muitas), tudo estava comprometido por um “corpo estranho” do tamanho de uma ameixa. Por ser em um local delicado, não era possível operar. Sequer tiveram como fazer uma biópsia. Eu viveria pelo dias que me restassem, perdendo minhas memórias, ficando surdo e tomando remédios para dor de cabeça, até que eles também não fizessem efeito e eu só morresse. Parece promissor, não?
Flashes de memórias iam e vinham com frequência, mas passaram a ser cada vez menos frequentes. Há duas semanas, mais de seis meses sem Soyou, não a reconheci nas fotos de nosso casamento, sempre expostas na sala. Era como aqueles filmes sobre amnésia, sem toda a parte romântica sobre novas chances ou pancadas na cabeça. Minha cabeça estava uma merda mesmo, como todo o resto da minha vida, mas eu não podia me esquecer dela. Eu já não a tinha comigo, não podia perder a única coisa que me restou: minhas memórias. Afinal, não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Soyou estava morta.
É incrível como tudo muda em uma fração de segundos. Eu sempre achei que tivesse tempo demais para resolver todos os problemas da minha vida, que tinha tudo sob controle. Ledo engano. Quando menos se espera, no momento em que tudo poderia simplesmente tornar-se melhor, a vida te bate tão forte que você sequer sabe como levantar.
“- JunKo?
- Ommoni? Ommoni, por que você está chorando?
- Soyou…
- Ela não está, ommoni. Ela precisou sair por alguns minutos. O que houve? Eu posso ajudar?
- Oh querido… Soyou… Hospital…
- O quê?”
Ela estava atravessando na faixa de pedestres, como sempre fazia, quando um carro ultrapassou o sinal vermelho e a atingiu em cheio. Quatro costelas quebradas, um pulmão perfurado, traumatismo craniano. Foi um milagre que ela tenha conseguido chegar viva ao hospital, segundo os médicos. E mesmo que eu tivesse corrido, pago mais do que deveria ao taxista e brigado com mais de uma enfermeira até encontrar nossa família, não houve tempo suficiente antes que ela se fosse. Soyou havia partido, e eu não havido sido capaz de segurar sua mão pela última vez, abraçar seu corpo que tão bem se encaixava ao meu, e implorar pelo seu perdão. A partir das 19h51m daquela segunda-feira, eu estava condenado a viver eternamente com a culpa e o remorso como meus companheiros. Logo depois deles, o tumor tornou-se o ceifador que me levaria à morte. Era como se eu tivesse perdido a vida junto com minha amada esposa.
Então, mesmo que contrariasse tudo aquilo que eu sempre acreditei, mesmo que o conflito dentro de mim fosse constante, eu sabia que não teria escolha. Ela era todo o meu amor, toda a minha vida, e eu seria eternamente grato por ter conhecido um amor como o que ela deu a mim, durante todo nosso tempo juntos. Eu não conseguiria viver sem suas carícias e gestos doces. Eu não suportaria acordar todos os dias sem ouvir seus cantos desafinados no banheiro ou dormir todas as noites sem ouvir o ressonar leve de sua respiração.
Eu não sabia e não queria viver sem amá-la.
Sendo assim, eu só fiz a única coisa que pude:
Eu abracei a morte como uma ponte que me levaria à Soyou.
Não fora por acaso que eu havia saído de casa justo no dia mais frio dos últimos tempos, na Coreia do Sul. Nenhuma pessoa que prezava um pouco a sua vida, sairia de casa com aquela temperatura. Eu queria morrer. Era um prazer quase sádico sentir minha pele ficar cada vez mais fria, vê-la atingir a mórbida tonalidade acinzentada. Com o sol quase se pondo, os tremores já haviam passado, indicando que eu havia passado para o próximo estágio: a letargia. Nesse passo, eu já não tinha mais controle do meu corpo. Minhas mãos já se mexiam com dificuldade e eu não tinha os mesmos reflexos que antes. Minhas pálpebras estavam pesadas, como se dominadas por um intenso estupor. Incapaz de me conter, fechei os olhos e aguardei.
Soyou, que era como um Sol para todos os meus dias, se fora. Desde então, eu tenho vivido uma vida fria e escura. Estar deitado na neve, sabendo que meu corpo congela aos poucos, não é tão doloroso quanto viver sem ela.
Quando abri meus olhos novamente, o vento congelante do inverno sul-coreano deu lugar a uma brisa fresca de verão. Como mágica, olhei incrédulo para a paisagem a minha frente, o gelo que cobria o lago se derretia, e o verde voltava a tingir a grama, trazendo novamente vida aquele lugar. O paraíso tomava forma na minha frente e eu desejei que pudesse dividir isso com Soyou.
Como se meus desejos fossem atendidos, ela surgiu. Com seu sorriso angelical, ela vinha até mim, caminhando tranquila, fazendo-me ter certeza: Eu estava morto. Não havia outra maneira de viver esse momento, com minha Soyou novamente, se eu não estivesse morto. Com uma felicidade genuína, finalmente me sentindo completo outra vez, me levantei da pedra onde estava sentado desde que havia chegado ali, estendendo minha mão para ela. Era hora de desfrutar do meu paraíso, que era qualquer lugar, contanto que ela estivesse lá.
Soyou sorriu para mim mais uma vez e estendeu seus braços, como se me chamasse para perto, fazendo-me correr imediatamente para dentro de seu abraço aconchegante. Meu amor estava aqui, como isso não poderia ser perfeito?
- Min Junko… - Ela sussurrou em meu ouvido e a alegria apenas aumentava a cada minuto. - O que você fez?
- Eu vim encontrar você, meu amor. Vim para nosso paraíso, te encontrar, ficar ao seu lado como prometido: para sempre. Eu nunca mais, nunca mais, vou abandonar você. Vamos ficar juntos pela eternidade. - Ao dizer isso, quase imediatamente, senti nossos corpos esquentarem mais e as unhas dela começarem a apertar nas minhas costas.
- Você tem toda razão. Ficaremos juntos por toda a eternidade, querido… - Sua voz parecia um pouco melancólica, deixando-me confuso. Ela não estava feliz por me ver? - A não ser por um detalhe… - Olhei para ela, vendo o doce retrato de minha esposa tornar-se uma expressão medonha, com olhos flamejantes e aspecto diabólico. Era aterrorizante. Tentei escapar, soltar-me do monstro que agora estava ali, mas quanto mais eu me movia, mais suas garras penetravam em minha carne, causando uma dor excruciante. Eu tentei gritar, avisar a Soyou que ela estava me machucando, mas minha voz sumiu de repente. Era como um pesadelo. - Você errou por pouco, meu amor. - Uma gargalhada horrenda saiu dos lábios do monstro no qual minha esposa se tornara. Foi quando o lugar que minha esposa amava, que antes parecia tão tranquilo e bonito, em um piscar de olhos, foi tomado por fogo e destruição. Era terrível. Gritos medonhos, pedidos de socorro, choro e um cheiro pungente de carne queimada que deixava a ânsia cada vez maior. Aquilo era terrível demais. - Esse não é o paraíso. É quase.
Fim.
Nota da autora: A gente fala pra caramba aqui ó: @mianeyoomma e @bitterminho
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