Capítulo Único
olhou-se no espelho e com o dedo indicador limpou o batom vermelho que havia escorrido para o seu dente. Estava estonteante no vertido preto, modéstia a parte, por mais simples que fosse o modelo.
Saiu do local, e seus olhos encontraram os de uma ruiva muito bonita, não muito longe dali, que de forma discreta, passou o dedo mindinho nas sobrancelhas. Com isso, soube que era o momento de afastar e ir relaxar, não estava em uma boa hora para jogar. Já tinha jogado duas horas seguidas e era possível notar alguns olhares curiosos para saber de onde havia surgido uma sorte como a da moça, mesmo que às vezes se forçava a perder uma ou duas partidas. Sorte. Rá. Está mais para truques. A menina fazia daquele um dos seus hobbies. Melhor. Fazia do seu emprego, pois era de jogos como aqueles que ela e tiravam o dinheiro para viver uma vida de classe média alta regada de alguns privilégios e fugir de quem deviam (uma quantidade absurda, devo citar, que beirava 1,5 milhões, com os juros), sem falar que o seu pai ainda dava um jeito de pegar um pouco para si.
Ajeitou suavemente seu ponto de ouvido, para o caso da outra precisar ser notada.
Ali estava cheio de pessoas bem vestidas com o bolso pesando com notas de cem dólares, doidos pela sensação que invade os corpos ao apostarem. Era por isso que muitos viciavam, não? Pelo prazer. adorava sentir e ter esse prazer para si, mas sempre preferiu ao sexo do que o jogos. Pena que tem aquele ditado, sorte no jogo, azar no sexo. Ou qualquer coisa parecida com isso. Um cheiro adentrou seu espaço. Era tão bom que foi obrigada a procurar de onde vinha. Com um paletó slim preto e uma calça apertada nos lugares certos, surgiu ao seu lado um rapaz de vinte e oito ou nove anos e ela logo identificou como o dono do perfume. Ele é problema, sussurrou para si mesma, afastando qualquer pensamento que teve sobre suas calças tão delineadas e nem percebeu que continuava a encará-lo, só percebeu quando este pegou sua bebida, jogou algumas notas, - que eram suficientes para pagar umas três garrafas inteiras do mesmo conteúdo do copo -, se virou para ela e abriu um sorriso, levantando o dedo do meio.
Que otário! Tinha que ser riquinho metido mesmo. sentiu suas bochechas queimarem e torceu que não tivessem tão vermelhas como de costume. Foi pega no flagrante, secando o rapaz. Ela não era como e não sabia lidar com situações como essa. Sua amiga já teria partido para cima, perguntando ao rapaz se ele sabia que o dinheiro dele iria servir para ela enfiar dentro do ânus do dono.
- E aí, gata? Vai querer um drink ou não? - Perguntou o barman.
- Só se for dois. Manda o mais forte que tiver, por favor. - Riu tentando espantar a vergonha que acabara de passar, enquanto ele virou de costas para começar a preparar sua bebida, coisa que ela não prestou atenção, já que ouviu um "meu Deus, vocês já viram a revista nova da Rolling Stones?" pelo ponto no seu ouvido.
Calculou bem o que ouviu "revista = desconfiança" e "Rolling Stones = seguranças".
Seguranças desconfiados. Era o que elas menos esperavam naquele momento. Nem estavam colocando os truques em práticas. Depois de ganharem muitas vezes, aquela pausa tinha sido justamente para ninguém desconfiar. só não tinha saído da mesa ainda, pois hoje era seu dia de ficar de plantão vigiando o que poderia dar errado.
- Mas, tem... Vocês... Viram... Revista... - Um forte barulho ecoou vindo do seu ponto no ouvido e agora ouvia a voz da ruiva entrecortada. Bateu de leve no equipamento esperando que voltasse ao normal. O que estava acontecendo? Uma voz masculina adentrou falando:
- Tudo... Pronto... - E então as luzes se apagaram. O que estava acontecendo naquele caralho? Interferência?
Fingiu não escutar o que o homem ao seu lado dizia sobre ela não precisar ter medo. Ela estava muito ocupada pensando o que faria para encontrar . Perguntou-se que merda de cassino era aquele que não tinha luzes de reservas e foi com esse pensamento que afirmou "alguém planejou isso".
Quando você deve, você teme. Ah, e se cada passagem da polícia que e tivessem fosse um real, estariam ricas e se cada gente ruim que estavam procurando elas fossem cinquenta centavos, elas estavam milionárias. Foi com essa motivação que saiu apressadamente com passos largos, empurrando quem quer que fosse, buscando sua amiga igual cego em tiroteio. Não queria pagar pra ver se era algo, ou melhor, alguém contra elas.
Praguejou tanto o imbecil que teve a ideia de que celulares e demais pertences devessem ficar na recepção que acha que a orelha dele poderia até cair. Estava na cara que se fosse uma queda comum da energia, as luzes emergenciais iriam se acender.
- ? - Ouviu o chamado de sua amiga. Havia esquecido completamente do ponto no ouvido. - Onde você está?
- Te encontro na porta do banheiro em um minuto e meio. Sem atrasos.
E saiu andando, sem correr, para não despertar atenção. Quando chegou, já estava lá e ambas sabiam o que fariam, era um plano antigo que foi repassado várias vezes.
Entraram na última cabine do banheiro feminino, - que estava vazio, já que todas estavam procurando por seus acompanhantes ou ajuda pelo salão -, desabotoaram as sandálias e a ruiva subiu no vaso sanitário para alcançar a janela, com o punho direito tornou o vidro em míseros cacos no chão e com a blusa de frio, jogou os que sobraram para longe, mais tarde, os saltos que usavam anteriormente.
Passou primeiro, caindo em um beco ao lado do hotel onde se localizava o cassino, e agora era o seu ponto que fazia sons estranhos misturados com vozes masculinas. Olhou para e pela cara da mulher, estava passando pelo mesmo problema.
- Estou... Perto... Dele. - O primeiro homem disse.
- Termine o... Serviço. - Afirmou o segundo.
Então, se fez presente dentro do salão um barulho. Um não, três. Eram tiros.
- Vai, . Temos que ir. Passa logo! Quando estava prestes a pôr sua perna para o outro lado, a morena cortou seu pé. Mesmo assim, ela pulou e foi quando aterrissou que sentiu a dor, fazendo uma única lágrima escorrer enquanto segurava a merda do pé.
Que praga! Péssima hora para machucar, precisava correr para fugir dos problemas que cercavam aquele cassino no momento. Sangrava muito, tinha sido um corte no centro do peito do pé, e ela conseguia ver a ponta do caco do outro lado.
- Você precisa ir, eu não vou conseguir com isso enfiado assim.
- Merda, eu não vou te deixar, . - disse com convicção. - A gente vai tirar isso, porra!
Quando terminou de se sentar para deixar que puxasse, ouviram vozes vindo em direção ao beco.
- Vai, . Foge logo, porra. Não tem como.
segurou o choro, olhando para o início do beco onde começaram a surgir três homens.
- Eu vou te encontrar, . - E saiu correndo. A morena, mordeu o lábio e alcançou um caco que estava no chão, pensando que poderia usar para enfiar em algum dos bandidos.
Junto com os passos rápidos dos caras, ouviu-se as sirenes da polícia.
- Tive uma ideia. - Disse o homem de uns trinta e poucos anos quando viu a mulher caída no chão, era o único sem máscara. Mas logo colocou no rosto novamente.
Pegou ela pelos cabelos e a obrigou que andasse na frente, murmurando de dor pelo pé, indo em direção de onde eles tinham chegado. Pela dor, acabou se esquecendo que segurava o caco e deixando ele cair, perdendo a oportunidade de tentar fugir.
- Os policiais estão lá. - Alertou um dos outros dois.
- Cala a porra dessa boca e deixa que eu sei o que eu faço. E você também, piranha. - Colocou a arma na cabeça da mulher. Quando terminou de atravessar o beco, olhou para os policiais que haviam fechado a rua com os carros e sorriu maroto. - Acho que temos muito o que conversar. Eu dito e vocês anotam, e a nossa amiga volta para casa hoje.
Um policial se aproximou para tentar conversar:
- Não vamos nos alterar. A gente pode fazer diferente, devolve a moça e fica comigo no lugar dela, aí vamos te dar tudo o que quer.
- E eu devo ser otário. Tem troca porra nenhuma. Não me tira o resto de paciência que eu tenho. Quero um carro com o tanque cheio e três coletes à prova de balas. Vocês têm vinte minutos ou a bonitinha vai morrer.
Não foi preciso os vinte minutos, em menos de quinze, o policial já se aproximou novamente. Jogou a arma no chão e estendeu os três coletes e a chave do carro que outro policial tinha acabado de estacionar perto de todos.
- Coloca no chão e afasta ou eu atiro.
O policial fez exatamente o que pediu, assistindo um dos homens com a touca ir e pegar tudo o que tava no chão, inclusive a arma, - não que fosse preciso, já que cada um tinha seu próprio revólver. Devidamente protegidos, foram caminhando em passos lentos até o carro, usando o corpo de como escudo. Quando estavam dentro carro foi que o policial ousou perguntar:
- E o nosso acordo?
- Que se foda o acordo. Não me segue ou eu vou meter bala nessa puta. - E saiu cantando os pneus. E naquele momento, preferiu que toda aquela confusão fosse os policiais atrás dela e da , pelo menos tinha como pagar a fiança, ou o pessoal que elas deviam, que já matavam ela de cara. Sentiu uma forte pancada na cabeça e logo tudo ficou preto.
***
Com o chacoalhar do veículo, acabou acordado, - junto de uma forte dor de cabeça -, e quase no mesmo momento, o carro estacionou.
Puxaram a garota pelo braço fino, direcionando-a ao galpão velho, com cordas, amarraram seus braços um ao outro e a deixaram caída no chão, indo embora de lá os três homens, depois de fechar todo o lugar, escurecendo-o. Não ia conseguir correr, de qualquer forma, então nem tentou se levantar.
Foram boas três horas, - que achou ser no mínimo dois dias -, até o galpão se encher de luz novamente, e agora quatro homens entrar.
- VOCÊS USARAM UMA MULHER COMO REFÉM. ESTÁ EM TODOS JORNAIS! - Gritou possesso de raiva. - Eu pedi para serem discretos ao saírem de lá. Isso que é ser discreto para vocês? O combinado era não machucar ninguém.
- O que vamos fazer com ela, chefe? - Questionou um dos rapazes.
ainda tentava se acostumar com a luz, quando reparou que um dos quatro lhe fitava.
- Eu te conheço. - Soprou a moça sem nem perceber. - Você é o riquinho otário.
- Já fui chamado de muita coisa, principalmente por mulheres, mas riquinho otário é a primeira vez. - Respondeu galanteador lhe ajudando a levantar e colocando na cadeira que estava por ali.
- Vamos jogar ela no mato e deixar ela se virar. Podemos ter sérios problemas com ela. - Opinou um dos homens.
- Cala a boca, . Vocês já fizeram merda demais. E quem manda nessa porra sou eu. Eu quero todos lá fora, vigiando esse caralho de lugar. - Olhou para a mulher a sua frente com desdém e perguntou: - Qual o seu nome, donzela em perigo?
- . E o seu, riquinho otário?
- Não, não. Quem faz as perguntas aqui sou eu e você apenas responde, tudo bem? - Sussurrou próximo ao rosto da mulher, que sentiu seu corpo corresponder. - Não ouvi. Tudo bem?
- Tudo.
- Boa garota. , aproveita que vai sair e traz a caixa de primeiro socorros que tá no meu carro. Vamos cuidar disso aqui. - Sentou-se no chão, pegando para si o pé com o ferimento. - Ainda bem que não tirou o caco, do jeito que tá aqui, se tirasse, iria começar uma grande hemorragia.
- Você é da área da saúde. - Afirmou. - Mesmo assim, eu não quero que faça nada por mim. Pode me deixar aqui para morrer, não ligo.
- O que eu disse sobre perguntas? Você tem que entender que quem manda aqui sou eu.
- Não disse nada sobre afirmações. - Fechou os olhos com forças, sentindo ele mexer no ferimento. Mas logo cessou.
O rapaz levantou-se, para pegar a caixa que o outro trazia e aproveitou para desamarrar seus braços, entregou uma blusa para que ela, com as mãos agora livres, colocasse na boca.
- Isso vai doer pra caralho. - Contou para ela. - Mas vai doer mais se eu te deixar aqui para morrer.
Ela puxou o pé algumas vezes, só que o rapaz era mais forte. Logo imobilizou a perna e puxou de uma vez só o caco. O grito foi rápido e sofrido, entretanto bem menos que o que saiu quando ele limpou o corte.
- Queria jamais ter ido para aquele lugar. - Sussurrou.
- E o que foi fazer lá? Não é lugar para moças indefesas. - Provocou o rapaz.
- A pergunta seria: o que você estava fazendo lá? Eu ouvi algumas coisas pelo ponto e sem dúvidas você tá envolvido naquele apagão e aqueles barulhos.
- Trabalhando. - O rapaz deu de ombros.
- O mesmo. - Piscou com um dos olhos.
- E para que usava um ponto no ouvido? - Ele colocou o cabelo da atrás da orelha e aproveitou o caminho livre para retirar o aparelho, e com a outra mão, apoiou-se na coxa da garota, sentindo algo firme por baixo do vestido.
- Para trabalhar.
Tentou levantar o vestido e recebeu um forte tapa na mão, que foi ignorado. Continuou o que fazia e sentiu tencionar o corpo, era óbvio que aquilo não era tensão sexual. Era medo de ele achar o que não devia.
Quando o vestido já estava 15 cm (ou um pouco mais) fora do lugar anterior, revelou duas cinta-ligas, uma em cada coxa. Na direita, tinha algumas muitas notas de dinheiro e a maioria alta. Na esquerda, tinha algumas cartas de baralho. Fechou os olhos com medo e o que veio a seguir foi... Uma risada estridente que preencheu todo o lugar. Ele estava rindo?
- Qual é a graça? Quero rir também!
- Achei que estivesse trabalhando.
- Mas eu estava!
- Isso é trabalho? - Soltou mais uma gargalhada. - Achava que jogar estava mais para lazer.
- O que você achou que estivesse fazendo lá? Sendo garçonete? Você me viu no balcão, sentada.
- Tava mais pra acompanhante de luxo. - Murmurou.
- O QUÊ? - Aumentou o tom da sua voz, indignada.
- Não me leve a mal, mas pelo menos elas recebem bem. Você deve perder tanto dinheiro, que nem deve lucrar.
- E você deve parar de concluir as coisas como se fosse o dono da razão, machista prepotente. Ganhamos o suficiente para levar uma vida boa.
- Ganhamos? No plural? Você e mais quem? Seu namorado?
- Isso não é da sua conta.
- Eu ainda mando aqui, . Você quer ver o que eu faço com gente que não me responde? - Desafiou e ela deixou que o silêncio respondesse. - Imaginei que não. Mas só para motivar, vou pedir para trazerem um lanche para você.
- Eu e minha amiga, . Ela fugiu antes que seus amiguinhos me encontrassem.
- Grande amiga. - Disse irônico. - Pelo menos não levou o dinheiro. - Apontou para as notas na coxa.
- Não, não, nem deu tempo de trocar as fichas pelo dinheiro. Isso é só uns trocados para usar na emergência. Em uma noite e em um único cassino a gente fatura sete ou oito.
- Vocês ganham sete ou oito partidas?
- Não, não. Você pensa muito pequeno. A gente fatura sete ou oito mil dólares. Isso que seguramos pensando sempre em não passar de dez mil, para ninguém desconfiar. O que ainda fazemos de vez em quando é ir para outro cassino na mesma noite, e assim dobramos o valor.
- Vocês faturam vinte mil reais fácil, fácil assim? Sem serem pegas, só jogando? Na sorte?
- Depende do que você chama de sorte. Eu costumo chamar de truques. E se formos pegas, o que já aconteceu algumas vezes, são passagens nas polícias pequenas, onde só perdemos o dinheiro da noite, pagamos a fiança e arranjamos outra documentação.
- Você vai me ensinar seus truques.
- Não.
- Isso não foi um pedido. Foi uma ordem, amorzinho.
O chefe, como diria os outros rapazes, foi para fora do galpão e passou as coordenadas ao mais velho.
- Tio, leve a garota para nossa casa de campo ainda amanhã cedo. Quando ela terminar de se acomodar, me liga que irei ver como anda a situação. Quero os três de olhos abertos e não vão encostar um dedo nela, nem mesmo a prender. E você, , vai lá dentro e pergunta o que ela quer lanchar, depois vai na rua e compra tudo o que ela pedir para comer. - Tirou umas duas notas de cem e deu para o garoto. - Fique com o troco.
Para , aquela noite havia se arrastado. Dormiu ali mesmo, na cadeira, que não ousou levantar depois do riquinho ir embora. Antes mesmo do sol aparecer por completo, foi acordada pelo o homem que havia lhe segurado no dia da confusão.
Ele mostrou o caminho até o carro esportivo que estava estacionado ao lado de fora, onde os outros dois rapazes os esperavam. A mulher já estava preparada para venda que imaginou que seria colocada, mas isso não aconteceu. Pode observar o caminho todo, que não variava muito entre matos e barrancos, por isso, permitiu-se dormir.
Quando sentiu o carro desligar, ousou abrir os olhos novamente, dando de cara com uma casa simples, todavia majestosa, no meio do nada. Os seus sequestradores saíram do carro e ela ousou acompanhar, o que a levou até o interior da casa.
- Nossa casa, sua casa. Venha, vou te mostrar onde vai ficar. - , - o único do qual sabia o nome -, disse simpático.
Subiram um lance de escadas e no corredor foi visto cinco portas, duas de cada lado e uma ao final do mesmo.
- Este é do , meu irmão. - Apontou para a primeira à direita. - O meu é este. - Indicou a primeira à esquerda e olhando para a última do mesmo lado completou: - Ali é o banheiro.
Juntos caminharam até a segunda porta do lado direito, que foi logo aberta pelo garoto.
- Acredito que este é o meu, não é? Mas ainda tem uma porta.
- O último é do chefe. Fica trancado, nem adianta querer espiar. Jeffrey, aquele gordo rabugento, fica no quarto perto da cozinha, ele não gosta de escadas. Sorte a sua.
Sorte? Ela estava sendo feita de refém e ela tinha sorte?
Muitos definiam a sorte de tantos jeitos. só pensava em um: meu cu que a sorte existe.
Se ela tivesse sorte, não precisaria trapacear para ganhar os jogos, não teria nascido pobre, não teria que escolher entre estudar ou comer e, o melhor de tudo, não estaria fadada à morrer como vítima de um sequestro.
- Se precisar de alguma coisa, é só chamar. - E marchou para fora do cômodo, deixando absorta em teorias e conclusões.
De quatro, três ela sabia o nome, o que já era alguma coisa.
.
.
Jeffrey.
Passou seus olhos no quarto buscando uma caneta, que achou dentro de uma das gavetas do criado-mudo. Achar uma folha foi mais difícil, no entanto usou do papel higiênico que estava no banheiro da suíte.
Anotou os três nomes e com uma certa dificuldade, chutou uma idade para cada e lembrou-se de quando ouviu o chefe chamando um deles de tio.
, 19 anos
, 24 anos
Jeffrey, 33 anos, tio.
Só que nenhum deles realmente importavam para , ela precisava, ela devia e ela queria saber mais sobre o riquinho otário. E estava disposta a fazer isso.
Riquinho otário, 29 anos.
***
- Posso entrar? - O rapaz dos olhos azuis questionou. Não houve respostas, pois já havia entendido que ele era quem mandava e que mesmo se ela falasse não, ele entraria no quarto. - Espero não te incomodar.
Tinha dois dias que havia se mudado para a casa e o comportamento de todos os três que ali habitavam com ela era no mínimo estranho. Sempre buscavam agradar a menina, tirando Jeffrey, que não se mostrava ríspido, mas também não era só amores.
No seu papel higiênico havia anotado mais algumas coisas, entre elas, a informação que teve ao assistir TV no dia anterior. A manchete era "Policiais permanecem sem pistas sobre o assassinato do governador William Henris no Hotel e Cassino Bellagio".
, 19 anos, extrovertido, simpático, assassino.
, 24 anos, tímido, inteligente, amigável, assassino.
Jeffrey, 33 anos, tio, carrancudo, péssimo cozinheiro, assassino.
Riquinho otário, 29 anos, gostoso, sumiu misteriosamente, assassino.
- Fiquei sabendo que andou recusando comida e que não sai do quarto. Não me diga que estou lidando com uma criança ou uma adolescente.
Ela manteve o silêncio absoluto.
- Eles estão tentando te tratar bem. Você não é nenhuma prisioneira aqui, você é nossa visita, nossa convidada. Queremos que se sinta bem aqui.
- Meio difícil não me sentir presa se você é quem manda aqui. Eu nem sei o seu nome! - Disse em uma mistura de frustração e raiva, soltando um suspiro longo.
- . Meu nome é . Mas isso não faz muita diferença. - Deu de ombros.
- Ahhhh! Faz sim, se você quer realmente me fazer sentir em casa. - Respirou fundo procurando ganhar coragem suficiente para completar. - Ou para me pedir pra fazer o que raios eu estou aqui para fazer. Você não me deixaria viva sem motivos, não estou certa? Vamos ser diretos. Eu sei que você matou um cara. Ou melhor, o governador. O que eu, uma mísera mortal, posso fazer por você?
- Quero que nos ensine seus truques de mágica. - Ironizou.
- Primeiro, não é truque de mágica. É táticas de jogadas. Segundo, o que um assassino anda querendo em um ramo tão pequeno como o meu?
- Tirar meus primos dá confusão em que os enfiei.
- e são seus primos? - Perguntou incrédula. Não tinha se tocado, que tirando os olhos claros do , eles se pareciam e muito.
O rapaz acenou a cabeça afirmativamente com um sorriso safado. Aquele sorriso que nunca lhe abandonava os lábios. Será que ele só tem aquele?
- Digamos que o ramo de assassinos de aluguel não é muito seguro fisicamente. Só de forma financeira. E você mesma me disse, as trapaças em jogos só dão leves acusações. Não é como se eles fossem sair das armas para os livros. Minha melhor opção é você. E não estou falando sobre sexo.
piscou uma ou duas vezes digerindo todas as informações. Eram assassinos de aluguel. Treinados para matar.
Que sorte a dele. A situação só piorava.
- O trato é o seguinte: você treina os dois e eu te dou quinhentos mil. Mas, caso você não quiser, você pode ir. Eu entendo que aqui não é seu lugar preferido no mundo.
A mulher sabia que quinhentos mil era muito dinheiro, sua dívida era muita alta e se fosse para aceitar um serviço que fosse o mais próximo possível para fazer um acordo, para se livrar de todos os problemas e também largar a vida de fugitiva.
- Um milhão, ou nem pensar.
- Só por um jogo besta?
- É o jogo besta que vai salvar seus primos, não, bebê?
hesitou, mas acabou cedendo. nem pensou antes de soltar:
- Mas só treino se for os três.
- Ah. Acho que isso não tem problema, eu converso com o Jeffr... - Foi interrompido pela mulher.
- , e você. - Sorriu sapeca com a atitude que acabara de tomar. - Fechado?
- Fechado.
***
Naquele mesmo dia, foi no centro da cidade e comprou três estojos de baralho.
Não demorou a voltar para casa e dedicar o resto da noite montando seu pequeno vocabulário, para que quando votasse na intenção de iniciar o treinamento, estivesse tudo pronto.
Só não contava que demorasse uma semana e meia para que ele aparecesse.
As vezes ouvia os homens da casa conversando pelo telefone e sentia que era ele do outro lado da linha. Queria ser um mosquitinho só para ouvir tudo o que falavam em todas as ligações.
No dia que ele finalmente chegou, não ficou nem mesmo dez minutos. Entrou de mãos vazias, cara fechada e saiu com as mãos cheias de pastas, uma maleta e a cara do mesmo jeito.
Foram mais três dias para quê viesse com tempo para conversar e aprender.
Sentaram-se todos na mesa do jardim, embaralhou as cartas e começou uma partida de Black Jack, que foi suficiente para pelo menos trinta críticas.
De imediato na primeira rodada, já ficaram dois conselhos.
1° - O medo não deve transparecer. 2° - Não se deve jogar de impulso.
, por mais que também fosse um dos "alunos", mais parecia um pai vistoriando a conversa dos filhos e a professora particular, já que evitava participar.
- Por hoje é só isso? Achei que íamos aprender coisas legais, tipo aquele filme Truque de Mestre. - disse decepcionado e de uma forma fofa, parecendo ter cinco anos.
- Eu primeiro preciso conhecer vocês. Mas dever de casa tem de sobra. É necessário muita dedicação e empenho, aí tem por volta de 250 palavras esquematizadas com outros significados. É nelas que você encontra segurança na hora de jogar, pois é sua própria linguagem. Eu tenho que entender o que vocês dizem ou fazem para poder ter provas que são jogadores que quebram a banca. Se vocês são discretos e usam sua própria língua, eu não tenho o que denunciar.
olhava admirado para as anotações e exemplos que havia colocado para facilitar o entendimento. Estava perplexo, assim como o irmão.
- Você parece um grande computador falando desse jeito. - Notou . - Quem te ensinou tudo isso? - O básico do jogo foi meu pai. Já os códigos, minha amiga fez um levantamento de palavras que a gente não usaria em momento algum do jogo ou em uma conversa real e eu relacionei. Nada muito incrível.
Os três homens estavam se levantando quando disse:
- , por favor, gostaria de conversar com você.
Os outros se retiraram dando privacidade ao par.
- Preciso de algumas coisas para poder continuar com as aulas. Tem como pedir um dos rapazes ir à rua buscar para mim?
- , isso não é necessário, você tem que entender que você não é uma refém.
- Não foi o que pareceu naquele dia, mas voltando ao assun... - Foi interrompida no mesmo instante por .
- Aquilo foi loucura do Jeffrey, eu não pedi para ele fazer nada. Você é livre para ir embora. Se ainda está aqui é pelo dinheiro, não é mesmo? Eu tenho que ir, se não se importa.
- Amanhã no mesmo horário. Não posso passar minha vida esperando você resolver vir aprender.
- Já com saudades? - Ela olhou de forma irritada e ele logo completou: - Tá, tá, tá, entendido, querida professora. - E o dono dos olhos mais azuis e brilhantes exibiu o sorriso que tanto usava.
***
Muitas vezes se pegava pensando em ligar para , mas tinha medo da reação da amiga, principalmente, quando soubesse que a mulher dividia a casa com assassinos e que não tinha previsão de ir embora.
No dia anterior, havia sido a primeira aula e naquela mesma madrugada, fez mais algumas anotações e resumos se preparando para a próxima aula, mas já imaginava que demoraria acontecer.
Tamanha foi sua surpresa ao descer até a cozinha pela manhã e encontrar tomando café junto dos outros três.
- Bom dia, professora. Achei que nem ia nos dar o ar da sua graça.
- Falou o que aparece todo dia, não é mesmo? - Retrucou divertida próxima ao seu ouvido.
- Só vou aparecer se for pra ter aulas com vocês sobre outra coisa.
- Cinco minutos e vamos todos para o jardim, como ontem.
Foi só o tempo de apanhar os baralhos, os resumos e uma xícara de café para ir em direção ao lado de fora.
Mais uma vez ela colocou todos jogando todos os tipos de jogos e os encheu de críticas e esporros, ainda mais quando soube que não haviam nem lido o papel que entregou.
As três aulas seguintes aquela foram de certa forma mais produtivas, porém já estava sem paciência da falta de compromisso e do ego. Devia ser coisa de família.
- Não aguento mais isso, a gente só fica jogando e você brigando. Que dia vamos jogar de verdade? Com aquelas mulheres gostosas sentadas no nosso colo.
Para a mulher na mesa, só restou virar os olhos e se levantar.
- Você acha que já tá pronto? Se acha o rei do pedaço? O Houdini? Estejam os três prontos às nove horas, no hall da casa. Fui clara? Espero que sim. E partiu para seu quarto.
***
Seu vestido vermelho (que comprou pela tarde) combinava com o seu batom, a fenda profunda na perna esquerda, deixava uma faixa até perto da virilha à mostra e a parte superior tampava praticamente tudo com sua gola alta e as mangas 3/4. Aproveitou que não iria jogar para usar a roupa que mais lhe agradasse.
Desceu as escadas confiante e quando encontrou os três lhe esperando com seus ternos, já saiu pela porta indo até o carro parado na calçada.
- e vai cada um em um carro, e eu e você em outro, para não desconfiarem. Tudo bem?
Ele não esperou que ela confirmasse para abrir a porta do carona e oferecer a mão para ajudá-la a entrar na Lamborghini Aventador Roadster encarando-a, e foi nesse momento que se perdeu na imensidão daqueles olhos azuis.
Quando recobrou os sentidos, se permitiu fitar todo o corpo de que estava com seus traços estupidamente realçados.
Pouco depois que deu a partida já estavam no Wynn Las Vegas. a acompanhou até o bar e pediu um drink para os dois.
- Vai jogar não, riquinho?
- Se você acha que eu sou burro e não escuto o que você fala nas aulas, tá muito enganada. Vou esperar o se ajeitar e depois o , para aí sim eu ir jogar. - Disse. - Mas relaxa, que sempre tenho tempo para você. - Piscou sacana.
Em uma hora, já haviam perdido no mínimo umas sete vezes e ganhado uma única vez (uma quantia baixíssima). Derrotado, foi o primeiro a sair da mesa de jogo, e com no seu encalço, foram até o bar. Pedidos feitos, a mulher o abraçou e mordiscando sua orelha disse:
- Parece que não tiveram muita sorte, não é mesmo? - E abriu um sorriso irônico.
- Sorte eu só vou ter quando eu tirar seu vestido. - Sussurrou em seu ouvido.
Naquele momento, à distância até o banheiro masculino pareceu uma eternidade. Quando o alcançaram, entraram em um box qualquer e a agarrou pelas pernas que circularam imediatamente sua cintura, fazendo que o vestido subisse para cima da virilha, mostrando a calcinha branca.
O amasso durou algum tempo e os beijos quentes e fervorosos aumentavam o desejo de ambos, além disso, arriscou desabotoar a calça do outro e iniciar uma masturbação, que começou lenta, mas logo alcançou um ritmo rápido.
Eu tenho que parar, pensou.
Era possível escutar ambas respirações descompassadas e o tesão era palpável. Não era admissível que não estivesse tão molhada e com tanto desejo como ele e foi por isso a tamanha surpresa que levou quando viu a mulher se desprender dos seus braços, arrumar a roupa e partir como uma sombra sem ser notada para fora do banheiro.
Ela se sentia exausta, não de uma forma ruim. Era tanto anseio de ir em frente, de se dar o prazer de continuar e transar ali mesmo, naquele banheiro, que quase se esqueceu do maior problema da equação: ele é um assassino. E, bem, esse tipo de cara entrava na lista dos "Nunca deverei beijar", juntamente com políticos, pedófilos e outros.
Ao sair do banheiro, não se atreveu a questionar, até porquê todo o desejo foi do vermelho para o preto e se transformou em um certo tipo de raiva. Ele queria mais! E tinha certeza que ela também queria. Sua vontade era de levá-la para o banheiro, arrancar sua roupa e mostrar para ela o que prazer pode fazer com alguém. Mostrar pra ela o prazer que ele pode causar nela. Mas se ela não quisesse, que chupasse o dedo! Tem quem quer e foi isso mesmo que ele foi procurar.
Não foi difícil achar uma mulher atraente que estivesse interessada em descobrir o que era possível se fazer em um banheiro.
É, , parece que hoje você vai embora para casa sozinha. Só que como já diz aquele ditado, melhor sozinha do que acompanhada de um assassino. Ou algo assim.
***
Uma música doce e suave tocava no fundo do ambiente que eu não conseguia reconhecer. Onde estou? Era algo semelhante a um salão de festas, porém uma única mesa, - bem decorada -, compunha uma extremidade do espaço. No centro do teto, um lustre iluminava. Com curiosidade, observei a roupa que usava. Um vestido branco longo com um certo decote.
- Me procurando? - surgiu em smoking perfeitamente alinhado em seu corpo.
- Não exatamente. - Soprei, me praguejando em seguida pela minha língua grande. - Você está bonito...
Ele riu sereno.
- Você também.
Foram cinco segundos de silêncio até que ele puxasse a minha mão me guiando para uma dança. Com os braços firmes em minha cintura, me conduzia pelo salão, enquanto eu deixava minha cabeça escorada em seu ombro.
Senti um leve roçar em minha coxa. Que atrevido! O que eu estava fazendo ali mesmo? Ele ainda era um assassino. O assassino mais gostoso que eu conhecia, mas, ainda assim, um assassino.
Novamente, senti o roçar. Ele estava tentando me provocar? Não podia ser menos previsível.
Esse jogo, dois podem jogar.
Deixei uma trilha de beijos molhados por seu pescoço, vendo seus pelos eriçarem.
Aproveitando da situação, escorreguei minha mão até o cós da sua calça, puxei sua blusa social e enfiei meus dedos por dentro dela, meus dedos frios deslizavam arranhando de leve a pele quente de .
- Eu quero tanto fuder contigo. - Soltou.
- Idem.
E esta foi à largada para que ele me empurrasse até perto da mesa que estava por ali e, às cegas,- e sem partir o beijo -, jogasse os talheres, pratos, copos e demais no chão, me pegando no colo e me colocando onde antes estavam os objetos.
As pernas circuladas em seu quadril diminuíam o espaço consideravelmente, me fazendo acreditar que aquela teoria sobre dois corpos não habitarem o mesmo espaço ser mentira. Não é difícil saber o que houve depois, os corpos suados em uma dança sensual se tornaram um. Mas faltava alguma coisa.
- ? te espera lá embaixo. - Tudo foi um sonho? 'Tá brincando! - Você tá suada demais, o ar-condicionado tá funcionando direitinho?
- Acho que o problema sou eu, . - Não conseguia acreditar que na calada da noite seu único pensamento era como seriam os dotes sexuais do .
- O quê?
- Nada, esquece.
***
- Devo lembrar que vocês foram um desastre ao vivo. Uma vergonha para nós, profissionais em jogos.
- Ladrões, você quis dizer - Corrigiu, .
- Pode ser. - decidiu que seria curta e grossa, e que evitaria ao máximo problema nos dias que estivesse naquela casa. Foi por isso que sentou na cadeira mais distante possível de e fugiu de seus olhos da forma que conseguia, sem falar que começou a tratá-lo de forma séria. - Vocês sabem jogar Poker?
Os mais novos na mesa fizeram que não.
- Eu sei. - soltou.
- Você vai me ajudar a ensinar.
Distribuiu dois mil em fichas e deu para cada duas cartas. Em suas mãos, um dois de paus e um cinco de espadas. Nada. Cada um dos dois apostaram duzentos e deram mesa, liberando abrir mais três cartas, logo após da primeira ser queimada.
Ás de ouros, valete de espadas e três ouros.
riu e aumentou a aposta para quatrocentos, torcendo fielmente nas próximas, resolveu continuar e casou a aposta. Queimou-se a próxima carta e, então, virou-se mais uma.
Nove de paus.
Mais uma vez, o homem aumentou a aposta e continuou casando. Queimou-se mais uma carta e a última carta foi colocada na mesa.
Quatro de copas.
Uma onda de alívio percorreu o peito de . mostrou o ás e o valente, ambos de copas, que tinha em mãos.
- Duas duplas, bebê. - Já preparava os braços para limpar a mesa, quando ouviu da boca da mulher:
- Uma sequência. Parece que hoje não é seu dia de sorte. Ás, dois, três, quatro e cinco.
O dia foi tirado para ensinar todo o básico do poker, desde os nomes de jogadas até regras idiotas que podiam te fazer ganhar ou perder tudo. Depois de ganhar do , foi levada um pouco mais a sério pelos meninos e e ficou fácil ter a atenção de todos na mesa.
- Por hoje é só. - Disse, ao terminar um último lance e começar a guardar os estojos de baralho. Ouviu passos indo para longe e pensou que estivesse sozinha, mas não tardou perceber que estava lhe esperando. - O que você deseja?
- Fiquei sabendo que seu ar parece tá estragado, vou mandar alguém vir olhar, mas preciso que fique longe de quem quer seja que for vir aqui consertar ele. Tudo bem? - A mulher assentiu com a cabeça, saindo de perto dele. - Tem alguma coisa acontecendo com você que eu não saiba? - Aproximou-se mais. - Parece querer fugir de mim.
- Só repensei em nossa relação e percebi que deve ser unicamente profissional. Ontem foi um erro, . Ambos devemos concordar. - Permitiu-se dizer.
- Desde quando me trata por ?
- Desde que notei que eu não passo de uma subordinada e você do meu chefe. Você adorava me lembrar quem mandava, agora não será mais preciso. Posso me retirar, chefe? - A contragostoso, confirmou com a cabeça e também saiu do jardim, esse seria o fim de todas as provocações e piadinhas (que, mesmo que não gostasse de admitir, fazia o seu dia valer)?
***
A mulher sempre adorou um sono depois do almoço, e aquilo só se intensificou quando precisou começar a acordar cedo para passar toda manhã ensinando para cabeças duras como , e . Seu momento de paz era quando estava de barriga cheia e podia encostar a cabeça no travesseiro e só levantar de noite, entretanto, naquele dia, um rapaz foi na casa fazer a manutenção do ar-condicionado e precisou sair durante toda tarde para não ser vista (e reconhecida, já que pela polícia ela ainda estava desaparecida e era uma testemunha perfeita sobre o crime que ocorreu no Hotel e Cassino Bellagio).
Quando eram cinco horas e já não tinha mais nenhuma loja que não tivesse passado, foi que voltou para casa, que, inexplicavelmente, encontrava-se em silêncio.
- Alguém em casa? - Gritou e não houve respostas. Subiu o lance de escadas e foi até seu quarto. Na cama, havia duas caixas de embrulho e um buquê de rosas vermelhas sangue, que causava um contraste com a colcha e tudo do quarto branco.
Sentou-se lá e abriu as duas caixas. Na maior, estava um vestido prata, tubinho, de alças finas e costas nuas. Já na caixa média, uma sandália também prata. Observava os presentes atentamente, quando encontrou um cartão.
"Acho que te devo um pedido de desculpas. - L. ".
- Gostou? - Levantou o olhar e encontrou escorado no batente da porta.
- ? Sério que seu sobrenome é ?
- Algo contra? - Questionou, levantando uma das sobrancelhas.
- Jamais. É bonito. - Sorriu minimamente. - Não entendi o cartão, você não me deve nenhum pedido de desculpa. Você é meu patrão.
- Eu não sou seu dono, . Não posso mandar em você como o tal, convenhamos que eu fui um filho da puta desde o dia que você chegou, tentando te fazer medo para não me desobedecer. Só que você não tem medinho de mim. Você tem uma bravura, uma valentia só sua. Mesmo eu sendo um riquinho otário, um bosta, você só ignorava e me respondia no mesmo tom de ironia que a minha. E, porra, eu acho que é por isso que eu tô louco para te fuder desde o primeiro dia que te vi.
, assustada com tanta informação, quase esqueceu como se fala. Quase. Mas isso não impediu de dizer aquilo que estava pulando para fora do seu peito.
- Idem. - Repetiu como nos seus sonhos mais obscuros. E foi aquela palavra que desencadeou uma porção de sentimentos, como luxúria, exuberância, desejo, prazer. Os beijos dele eram maravilhosos, e aquela cama macia foi o melhor lugar que poderiam ter escolhido para transar naquela noite. As mãos dela o levavam a loucura, seja qual for o local que elas estivessem, fosse nos cabelos, nos ombros ou no pênis. podia afirmar que nunca tinha se sentido daquela forma. E tinha certeza que nunca esqueceria da satisfação que foi saciar seus desejos mais loucos.
***
Nunca contou que ele estivesse na cama no dia seguinte e foi por isso que não ficou surpresa ao passar as mãos pela cama e perceber que estava sozinha. Vestiu-se após um banho longo e desceu para tomar um pouco do delicioso café que preparava todas as manhãs.
Imensa foi a estranheza quando reparou que a casa estava vazia como o dia anterior. Entrou na cozinha, colocou uma música no celular e pegou a frigideira, ovos e bacon. Teria que dar certo, já que estava roxa de fome. Tentou fazer uma manobra como daquelas de filmes e jogar o mexido para cima, só que não foi inesperado que metade parou no chão.
- Você é um desastre na cozinha, puta que pariu. - Disse . Ela desligou o fogão e o olhou com um olhar mortífero. estava todo suado, usava uma regata preta e um shorts e tênis esportivos, entre os dedos, carregava um cigarro. - Aceita?
- Não quero um câncer, obrigada. Aceita? - Apontou para o pouco ovo mexido que ainda tinha na frigideira.
- Não quero ser obeso, obrigado.
Ela alcançou um garfo e se sentou na mesa, a acompanhou logo depois de apagar o cigarro.
- Onde estão todos?
- Trabalhando. Agora que você não precisa mais de babá, coloquei-os para fazer serviços de verdade. - Deu uma piscadinha.
- Eu não preciso mais de babá? Quem falou isso? - Perguntou de boca cheia.
- Eu achei que você ia preferir ficar sozinha, mas se você quiser, eles voltam amanhã mesmo.
- Achou certo. Prefiro esse silêncio.
O telefone de começou a emitir um som e o rapaz pediu licença para atendê-lo, ela tentava espantar a curiosidade, mas era impossível não querer saber o que ele tanto discutia nessas ligações constantes. Foram uma dúzia de palavras trocadas, até que ele desligasse a chamada.
- Preciso ir. Depois do almoço, venho com e para a aula. - E sumiu pela porta, sem ao menos esperar uma resposta de .
- Espera! Eu quero falar com você. - A mulher correu pelo quintal e apoiou na janela do carona do carro. - Acho que eu tô merecendo mais pela paciência que eu estou tendo.
- O que você quer, em? Fala logo.
- Eu quero aprender a atirar. Pra ontem, bebê.
- Posso pensar no seu caso.
***
Três latas estavam bem posicionadas na cerca do quintal da casa, à uns trinta metros de distância, estava segurando uma pistola e em seu encalço.
- Agora, você coloca um dos pés na frente do corpo, para firmar.
- Eu já entendi. Não sou nenhuma analfabeta.
- Você mira n... - não deixou que ele completasse, cortando o som da voz dele com o apertar do gatilho. A bala acertou na cerca, com uma margem de erro de uns 30 centímetros. - Nada mau para uma virgem.
Outra vez o som da bala partindo da pistola foi escutado e, a se ver o resultado, a lata estava com um pequeno furo. Já a terceira bala, passou tão longe que nem foi possível calcular o quão distante do alvo foi.
- Eu até te elogiaria, mas depois dessa última... Uma vergonha!
- Aposto que aprendi mais rápido que você, riquinho. - Ele passou às mãos pelos braços da e posicionou todo o corpo da mulher na forma adequada, e forjou está atirando, ainda segurando a pistola por cima das mãos dela. - Eu estava pensando de, talvez, amanhã irmos ao cassino. Os meninos, e você também, melhoraram, tem chances de não serem massacrados.
- Se for para ser massacrados e eu ser consolado como aquela vez no banheiro, eu não quero ganhar jamais.
***
Os noticiários ferviam, os jornalistas estavam doidos pelas informações de primeira mão: o que o filho de William Henris, o Yudhi Henris, estava fazendo na delegacia? Seriam as primeiras pistas concretas sobre o assassinato frio que havia ocorrido há pouco mais de dois meses?
Não tardou para anunciarem a manchete chocante "Yudhi Henris se diz culpado pela morte de seu pai, William Henris". Todos os jornais noticiavam a tragédia, filho era o cabeça da emboscada preparada para seu próprio pai, sangue do seu sangue.
Na mesma nota, o advogado de Yudhi afirmava que o rapaz estava passando por sérios problemas de distimia e estresse psicológico severos, que ao formular o assassinato estava fazendo uso de remédios fortíssimos que o atrapalhava distinguir a realidade da ficção.
não precisou ouvir nem meia dúzia de palavras da reportagem para já começar a fazer ligações. O maior medo de todos os envolvidos no assassinato era o Yudhi contar tudo em troca de uma pena menor. Ele sempre pareceu fraco, mesmo. Não é inesperado a covardia dele.
- Acho que melou nosso treinamento amanhã.
- Melou o cacete. Agora que você precisa ensinar essas merdas para esses dois. - disse em um meio tempo entre uma ligação e outra. - Eu vou matar aquele cagão filho de papai, aquele porra.
***
olhou-se no espelho e com o dedo indicador limpou o batom vermelho que havia escorrido para o seu dente. Estava estonteante no vertido preto, modéstia a parte, por mais simples que fosse o modelo.
Saiu do local, e seus olhos encontraram os de... . Ele era seu parceiro de jogo, não mais .
Nas coxas, levava algumas cartas e um pouco de dinheiro como estava acostumada, e no rosto o sorriso mais brilhante que conseguiu abrir.
- Está pronto para isso? Os jogos vão começar, bebê.
Sentaram em mesas opostas e deram início aos truques da forma mais sútil que conseguiam, entretanto, não levou dez minutos de partida até que o celular de tocasse. Por sorte, o cassino onde estavam permitia celulares (contanto, deveriam ficar desligados). Ele se retirou da mesa e se afastou de forma que sumiu em meio à multidão.
- Alô. Seu merda, é você? Eu te fiz a porra de um favor, nem dinheiro para me pagar você tinha na hora e você me fode assim? Eu te livrei daquele merda. - vociferou.
- Merda é você que tirou meu marido e agora tá tirando meu filho de mim. Ele vai ser preso por sua causa. Yudhi nunca iria pensar em algo assim, você que colocou isso na cabeça dele. - Uma mulher de voz embargada disse.
- Quem é você? Giselle Henris? - Ele nem terminou de perguntar e foi cortado.
- Você vai pagar o que fez para mim na mesma moeda. Eu vou tirar de você tudo.
A ligação foi encerrada e, como um estalo, lembrou que , e ainda estavam por ali e que estavam em perigo. Primeiro encontrou os meninos e deu instruções para que seguissem até em casa, que fossem cautelosos e que andassem armados.
Para achar levou-se mais uns três minutos que pareciam três séculos, estava ficando desesperado, foi quando avistou aquele olhar tão conhecido. Um olhar selvagem e safado em uma mistura doce com a inocência. Deu um sorriso que foi retribuído. Um alívio percorreu o corpo do que fez que seus ombros caíssem por cinco segundos. Isso mesmo, cinco segundos. Foi o tempo de um homem, - que parecia um dos garçons -, circularem o braço pelo pescoço da mulher e encostar em suas têmporas o cano gélido da pistola.
- Surpresa. - Sussurrou para . A adrenalina que estava no corpo do homem não deixava menos explícito seu desespero repentino e logo entendeu o que estava acontecendo. – Todo mundo abaixa, isso é um assalto.
Os três sabiam que não, aquilo não era um assalto, mas de nada adiantava alertar as pessoas disso.
- Seu problema é comigo. – Disse calmo. – Larga ela e me leva, cara. Ela não fez nada.
O rapaz ignorou tudo que o outro disse e gritou:
- Quero todo o dinheiro que vocês tiverem no saco preto que está debaixo do balcão. – Algumas pessoas começaram a cochichar, já que ele estava claramente sozinho, ou seja, seria facilmente imobilizado pelos seguranças. Tamanha a surpresa quando todos os aparelhos da televisão, - que eram utilizados para passar os ganhadores e alguns patrocinadores -, começaram a piscar. E então, um relógio surgiu nos visores marcando cinco minutos. – Eu instalei bombas por todo o prédio. Acho que não é interessante da parte de vocês duvidarem de mim.
Foram dois minutos torturantes até que resolveu mordê-lo na mão para se liberar de seus braços. , com sua agilidade, buscou a pistola bereta 21 bobcat calibre 6.35 no bolso falso.
O louco, logo se recuperou da distração, dando um jeito de pegar pelos cabelos e mirar novamente nela. Mas foi só quando ele viu que estava armado foi que um barulho estrondoso se fez presente.
Os gritos de horror cessaram, as pessoas correndo desapareceram, tudo parecia andar em câmera lenta e, talvez, foi isso que explicou como ele conseguiu segurar o corpo da mulher. Nada importava, nem mesmo para onde o merda que tinha feito aquilo corria.
O corpo já esfriava e já estava sem vida, o que sobrara foi o olhar cinza vago que um dia fora o mais brilhante que já vira.
Não, ela não sentiu dor. Ela sentiu sorte. Aquela sorte que todos falavam para ela e nunca souberam explicar. Sorte por não ter que fugir. Sorte por finalmente se libertar e encontrar sua paz de espírito.
O azar fica para quem está vivo e que tem que estar pronto para jogar o jogo da vida.
Saiu do local, e seus olhos encontraram os de uma ruiva muito bonita, não muito longe dali, que de forma discreta, passou o dedo mindinho nas sobrancelhas. Com isso, soube que era o momento de afastar e ir relaxar, não estava em uma boa hora para jogar. Já tinha jogado duas horas seguidas e era possível notar alguns olhares curiosos para saber de onde havia surgido uma sorte como a da moça, mesmo que às vezes se forçava a perder uma ou duas partidas. Sorte. Rá. Está mais para truques. A menina fazia daquele um dos seus hobbies. Melhor. Fazia do seu emprego, pois era de jogos como aqueles que ela e tiravam o dinheiro para viver uma vida de classe média alta regada de alguns privilégios e fugir de quem deviam (uma quantidade absurda, devo citar, que beirava 1,5 milhões, com os juros), sem falar que o seu pai ainda dava um jeito de pegar um pouco para si.
Ajeitou suavemente seu ponto de ouvido, para o caso da outra precisar ser notada.
Ali estava cheio de pessoas bem vestidas com o bolso pesando com notas de cem dólares, doidos pela sensação que invade os corpos ao apostarem. Era por isso que muitos viciavam, não? Pelo prazer. adorava sentir e ter esse prazer para si, mas sempre preferiu ao sexo do que o jogos. Pena que tem aquele ditado, sorte no jogo, azar no sexo. Ou qualquer coisa parecida com isso. Um cheiro adentrou seu espaço. Era tão bom que foi obrigada a procurar de onde vinha. Com um paletó slim preto e uma calça apertada nos lugares certos, surgiu ao seu lado um rapaz de vinte e oito ou nove anos e ela logo identificou como o dono do perfume. Ele é problema, sussurrou para si mesma, afastando qualquer pensamento que teve sobre suas calças tão delineadas e nem percebeu que continuava a encará-lo, só percebeu quando este pegou sua bebida, jogou algumas notas, - que eram suficientes para pagar umas três garrafas inteiras do mesmo conteúdo do copo -, se virou para ela e abriu um sorriso, levantando o dedo do meio.
Que otário! Tinha que ser riquinho metido mesmo. sentiu suas bochechas queimarem e torceu que não tivessem tão vermelhas como de costume. Foi pega no flagrante, secando o rapaz. Ela não era como e não sabia lidar com situações como essa. Sua amiga já teria partido para cima, perguntando ao rapaz se ele sabia que o dinheiro dele iria servir para ela enfiar dentro do ânus do dono.
- E aí, gata? Vai querer um drink ou não? - Perguntou o barman.
- Só se for dois. Manda o mais forte que tiver, por favor. - Riu tentando espantar a vergonha que acabara de passar, enquanto ele virou de costas para começar a preparar sua bebida, coisa que ela não prestou atenção, já que ouviu um "meu Deus, vocês já viram a revista nova da Rolling Stones?" pelo ponto no seu ouvido.
Calculou bem o que ouviu "revista = desconfiança" e "Rolling Stones = seguranças".
Seguranças desconfiados. Era o que elas menos esperavam naquele momento. Nem estavam colocando os truques em práticas. Depois de ganharem muitas vezes, aquela pausa tinha sido justamente para ninguém desconfiar. só não tinha saído da mesa ainda, pois hoje era seu dia de ficar de plantão vigiando o que poderia dar errado.
- Mas, tem... Vocês... Viram... Revista... - Um forte barulho ecoou vindo do seu ponto no ouvido e agora ouvia a voz da ruiva entrecortada. Bateu de leve no equipamento esperando que voltasse ao normal. O que estava acontecendo? Uma voz masculina adentrou falando:
- Tudo... Pronto... - E então as luzes se apagaram. O que estava acontecendo naquele caralho? Interferência?
Fingiu não escutar o que o homem ao seu lado dizia sobre ela não precisar ter medo. Ela estava muito ocupada pensando o que faria para encontrar . Perguntou-se que merda de cassino era aquele que não tinha luzes de reservas e foi com esse pensamento que afirmou "alguém planejou isso".
Quando você deve, você teme. Ah, e se cada passagem da polícia que e tivessem fosse um real, estariam ricas e se cada gente ruim que estavam procurando elas fossem cinquenta centavos, elas estavam milionárias. Foi com essa motivação que saiu apressadamente com passos largos, empurrando quem quer que fosse, buscando sua amiga igual cego em tiroteio. Não queria pagar pra ver se era algo, ou melhor, alguém contra elas.
Praguejou tanto o imbecil que teve a ideia de que celulares e demais pertences devessem ficar na recepção que acha que a orelha dele poderia até cair. Estava na cara que se fosse uma queda comum da energia, as luzes emergenciais iriam se acender.
- ? - Ouviu o chamado de sua amiga. Havia esquecido completamente do ponto no ouvido. - Onde você está?
- Te encontro na porta do banheiro em um minuto e meio. Sem atrasos.
E saiu andando, sem correr, para não despertar atenção. Quando chegou, já estava lá e ambas sabiam o que fariam, era um plano antigo que foi repassado várias vezes.
Entraram na última cabine do banheiro feminino, - que estava vazio, já que todas estavam procurando por seus acompanhantes ou ajuda pelo salão -, desabotoaram as sandálias e a ruiva subiu no vaso sanitário para alcançar a janela, com o punho direito tornou o vidro em míseros cacos no chão e com a blusa de frio, jogou os que sobraram para longe, mais tarde, os saltos que usavam anteriormente.
Passou primeiro, caindo em um beco ao lado do hotel onde se localizava o cassino, e agora era o seu ponto que fazia sons estranhos misturados com vozes masculinas. Olhou para e pela cara da mulher, estava passando pelo mesmo problema.
- Estou... Perto... Dele. - O primeiro homem disse.
- Termine o... Serviço. - Afirmou o segundo.
Então, se fez presente dentro do salão um barulho. Um não, três. Eram tiros.
- Vai, . Temos que ir. Passa logo! Quando estava prestes a pôr sua perna para o outro lado, a morena cortou seu pé. Mesmo assim, ela pulou e foi quando aterrissou que sentiu a dor, fazendo uma única lágrima escorrer enquanto segurava a merda do pé.
Que praga! Péssima hora para machucar, precisava correr para fugir dos problemas que cercavam aquele cassino no momento. Sangrava muito, tinha sido um corte no centro do peito do pé, e ela conseguia ver a ponta do caco do outro lado.
- Você precisa ir, eu não vou conseguir com isso enfiado assim.
- Merda, eu não vou te deixar, . - disse com convicção. - A gente vai tirar isso, porra!
Quando terminou de se sentar para deixar que puxasse, ouviram vozes vindo em direção ao beco.
- Vai, . Foge logo, porra. Não tem como.
segurou o choro, olhando para o início do beco onde começaram a surgir três homens.
- Eu vou te encontrar, . - E saiu correndo. A morena, mordeu o lábio e alcançou um caco que estava no chão, pensando que poderia usar para enfiar em algum dos bandidos.
Junto com os passos rápidos dos caras, ouviu-se as sirenes da polícia.
- Tive uma ideia. - Disse o homem de uns trinta e poucos anos quando viu a mulher caída no chão, era o único sem máscara. Mas logo colocou no rosto novamente.
Pegou ela pelos cabelos e a obrigou que andasse na frente, murmurando de dor pelo pé, indo em direção de onde eles tinham chegado. Pela dor, acabou se esquecendo que segurava o caco e deixando ele cair, perdendo a oportunidade de tentar fugir.
- Os policiais estão lá. - Alertou um dos outros dois.
- Cala a porra dessa boca e deixa que eu sei o que eu faço. E você também, piranha. - Colocou a arma na cabeça da mulher. Quando terminou de atravessar o beco, olhou para os policiais que haviam fechado a rua com os carros e sorriu maroto. - Acho que temos muito o que conversar. Eu dito e vocês anotam, e a nossa amiga volta para casa hoje.
Um policial se aproximou para tentar conversar:
- Não vamos nos alterar. A gente pode fazer diferente, devolve a moça e fica comigo no lugar dela, aí vamos te dar tudo o que quer.
- E eu devo ser otário. Tem troca porra nenhuma. Não me tira o resto de paciência que eu tenho. Quero um carro com o tanque cheio e três coletes à prova de balas. Vocês têm vinte minutos ou a bonitinha vai morrer.
Não foi preciso os vinte minutos, em menos de quinze, o policial já se aproximou novamente. Jogou a arma no chão e estendeu os três coletes e a chave do carro que outro policial tinha acabado de estacionar perto de todos.
- Coloca no chão e afasta ou eu atiro.
O policial fez exatamente o que pediu, assistindo um dos homens com a touca ir e pegar tudo o que tava no chão, inclusive a arma, - não que fosse preciso, já que cada um tinha seu próprio revólver. Devidamente protegidos, foram caminhando em passos lentos até o carro, usando o corpo de como escudo. Quando estavam dentro carro foi que o policial ousou perguntar:
- E o nosso acordo?
- Que se foda o acordo. Não me segue ou eu vou meter bala nessa puta. - E saiu cantando os pneus. E naquele momento, preferiu que toda aquela confusão fosse os policiais atrás dela e da , pelo menos tinha como pagar a fiança, ou o pessoal que elas deviam, que já matavam ela de cara. Sentiu uma forte pancada na cabeça e logo tudo ficou preto.
Puxaram a garota pelo braço fino, direcionando-a ao galpão velho, com cordas, amarraram seus braços um ao outro e a deixaram caída no chão, indo embora de lá os três homens, depois de fechar todo o lugar, escurecendo-o. Não ia conseguir correr, de qualquer forma, então nem tentou se levantar.
Foram boas três horas, - que achou ser no mínimo dois dias -, até o galpão se encher de luz novamente, e agora quatro homens entrar.
- VOCÊS USARAM UMA MULHER COMO REFÉM. ESTÁ EM TODOS JORNAIS! - Gritou possesso de raiva. - Eu pedi para serem discretos ao saírem de lá. Isso que é ser discreto para vocês? O combinado era não machucar ninguém.
- O que vamos fazer com ela, chefe? - Questionou um dos rapazes.
ainda tentava se acostumar com a luz, quando reparou que um dos quatro lhe fitava.
- Eu te conheço. - Soprou a moça sem nem perceber. - Você é o riquinho otário.
- Já fui chamado de muita coisa, principalmente por mulheres, mas riquinho otário é a primeira vez. - Respondeu galanteador lhe ajudando a levantar e colocando na cadeira que estava por ali.
- Vamos jogar ela no mato e deixar ela se virar. Podemos ter sérios problemas com ela. - Opinou um dos homens.
- Cala a boca, . Vocês já fizeram merda demais. E quem manda nessa porra sou eu. Eu quero todos lá fora, vigiando esse caralho de lugar. - Olhou para a mulher a sua frente com desdém e perguntou: - Qual o seu nome, donzela em perigo?
- . E o seu, riquinho otário?
- Não, não. Quem faz as perguntas aqui sou eu e você apenas responde, tudo bem? - Sussurrou próximo ao rosto da mulher, que sentiu seu corpo corresponder. - Não ouvi. Tudo bem?
- Tudo.
- Boa garota. , aproveita que vai sair e traz a caixa de primeiro socorros que tá no meu carro. Vamos cuidar disso aqui. - Sentou-se no chão, pegando para si o pé com o ferimento. - Ainda bem que não tirou o caco, do jeito que tá aqui, se tirasse, iria começar uma grande hemorragia.
- Você é da área da saúde. - Afirmou. - Mesmo assim, eu não quero que faça nada por mim. Pode me deixar aqui para morrer, não ligo.
- O que eu disse sobre perguntas? Você tem que entender que quem manda aqui sou eu.
- Não disse nada sobre afirmações. - Fechou os olhos com forças, sentindo ele mexer no ferimento. Mas logo cessou.
O rapaz levantou-se, para pegar a caixa que o outro trazia e aproveitou para desamarrar seus braços, entregou uma blusa para que ela, com as mãos agora livres, colocasse na boca.
- Isso vai doer pra caralho. - Contou para ela. - Mas vai doer mais se eu te deixar aqui para morrer.
Ela puxou o pé algumas vezes, só que o rapaz era mais forte. Logo imobilizou a perna e puxou de uma vez só o caco. O grito foi rápido e sofrido, entretanto bem menos que o que saiu quando ele limpou o corte.
- Queria jamais ter ido para aquele lugar. - Sussurrou.
- E o que foi fazer lá? Não é lugar para moças indefesas. - Provocou o rapaz.
- A pergunta seria: o que você estava fazendo lá? Eu ouvi algumas coisas pelo ponto e sem dúvidas você tá envolvido naquele apagão e aqueles barulhos.
- Trabalhando. - O rapaz deu de ombros.
- O mesmo. - Piscou com um dos olhos.
- E para que usava um ponto no ouvido? - Ele colocou o cabelo da atrás da orelha e aproveitou o caminho livre para retirar o aparelho, e com a outra mão, apoiou-se na coxa da garota, sentindo algo firme por baixo do vestido.
- Para trabalhar.
Tentou levantar o vestido e recebeu um forte tapa na mão, que foi ignorado. Continuou o que fazia e sentiu tencionar o corpo, era óbvio que aquilo não era tensão sexual. Era medo de ele achar o que não devia.
Quando o vestido já estava 15 cm (ou um pouco mais) fora do lugar anterior, revelou duas cinta-ligas, uma em cada coxa. Na direita, tinha algumas muitas notas de dinheiro e a maioria alta. Na esquerda, tinha algumas cartas de baralho. Fechou os olhos com medo e o que veio a seguir foi... Uma risada estridente que preencheu todo o lugar. Ele estava rindo?
- Qual é a graça? Quero rir também!
- Achei que estivesse trabalhando.
- Mas eu estava!
- Isso é trabalho? - Soltou mais uma gargalhada. - Achava que jogar estava mais para lazer.
- O que você achou que estivesse fazendo lá? Sendo garçonete? Você me viu no balcão, sentada.
- Tava mais pra acompanhante de luxo. - Murmurou.
- O QUÊ? - Aumentou o tom da sua voz, indignada.
- Não me leve a mal, mas pelo menos elas recebem bem. Você deve perder tanto dinheiro, que nem deve lucrar.
- E você deve parar de concluir as coisas como se fosse o dono da razão, machista prepotente. Ganhamos o suficiente para levar uma vida boa.
- Ganhamos? No plural? Você e mais quem? Seu namorado?
- Isso não é da sua conta.
- Eu ainda mando aqui, . Você quer ver o que eu faço com gente que não me responde? - Desafiou e ela deixou que o silêncio respondesse. - Imaginei que não. Mas só para motivar, vou pedir para trazerem um lanche para você.
- Eu e minha amiga, . Ela fugiu antes que seus amiguinhos me encontrassem.
- Grande amiga. - Disse irônico. - Pelo menos não levou o dinheiro. - Apontou para as notas na coxa.
- Não, não, nem deu tempo de trocar as fichas pelo dinheiro. Isso é só uns trocados para usar na emergência. Em uma noite e em um único cassino a gente fatura sete ou oito.
- Vocês ganham sete ou oito partidas?
- Não, não. Você pensa muito pequeno. A gente fatura sete ou oito mil dólares. Isso que seguramos pensando sempre em não passar de dez mil, para ninguém desconfiar. O que ainda fazemos de vez em quando é ir para outro cassino na mesma noite, e assim dobramos o valor.
- Vocês faturam vinte mil reais fácil, fácil assim? Sem serem pegas, só jogando? Na sorte?
- Depende do que você chama de sorte. Eu costumo chamar de truques. E se formos pegas, o que já aconteceu algumas vezes, são passagens nas polícias pequenas, onde só perdemos o dinheiro da noite, pagamos a fiança e arranjamos outra documentação.
- Você vai me ensinar seus truques.
- Não.
- Isso não foi um pedido. Foi uma ordem, amorzinho.
O chefe, como diria os outros rapazes, foi para fora do galpão e passou as coordenadas ao mais velho.
- Tio, leve a garota para nossa casa de campo ainda amanhã cedo. Quando ela terminar de se acomodar, me liga que irei ver como anda a situação. Quero os três de olhos abertos e não vão encostar um dedo nela, nem mesmo a prender. E você, , vai lá dentro e pergunta o que ela quer lanchar, depois vai na rua e compra tudo o que ela pedir para comer. - Tirou umas duas notas de cem e deu para o garoto. - Fique com o troco.
Para , aquela noite havia se arrastado. Dormiu ali mesmo, na cadeira, que não ousou levantar depois do riquinho ir embora. Antes mesmo do sol aparecer por completo, foi acordada pelo o homem que havia lhe segurado no dia da confusão.
Ele mostrou o caminho até o carro esportivo que estava estacionado ao lado de fora, onde os outros dois rapazes os esperavam. A mulher já estava preparada para venda que imaginou que seria colocada, mas isso não aconteceu. Pode observar o caminho todo, que não variava muito entre matos e barrancos, por isso, permitiu-se dormir.
Quando sentiu o carro desligar, ousou abrir os olhos novamente, dando de cara com uma casa simples, todavia majestosa, no meio do nada. Os seus sequestradores saíram do carro e ela ousou acompanhar, o que a levou até o interior da casa.
- Nossa casa, sua casa. Venha, vou te mostrar onde vai ficar. - , - o único do qual sabia o nome -, disse simpático.
Subiram um lance de escadas e no corredor foi visto cinco portas, duas de cada lado e uma ao final do mesmo.
- Este é do , meu irmão. - Apontou para a primeira à direita. - O meu é este. - Indicou a primeira à esquerda e olhando para a última do mesmo lado completou: - Ali é o banheiro.
Juntos caminharam até a segunda porta do lado direito, que foi logo aberta pelo garoto.
- Acredito que este é o meu, não é? Mas ainda tem uma porta.
- O último é do chefe. Fica trancado, nem adianta querer espiar. Jeffrey, aquele gordo rabugento, fica no quarto perto da cozinha, ele não gosta de escadas. Sorte a sua.
Sorte? Ela estava sendo feita de refém e ela tinha sorte?
Muitos definiam a sorte de tantos jeitos. só pensava em um: meu cu que a sorte existe.
Se ela tivesse sorte, não precisaria trapacear para ganhar os jogos, não teria nascido pobre, não teria que escolher entre estudar ou comer e, o melhor de tudo, não estaria fadada à morrer como vítima de um sequestro.
- Se precisar de alguma coisa, é só chamar. - E marchou para fora do cômodo, deixando absorta em teorias e conclusões.
De quatro, três ela sabia o nome, o que já era alguma coisa.
.
.
Jeffrey.
Passou seus olhos no quarto buscando uma caneta, que achou dentro de uma das gavetas do criado-mudo. Achar uma folha foi mais difícil, no entanto usou do papel higiênico que estava no banheiro da suíte.
Anotou os três nomes e com uma certa dificuldade, chutou uma idade para cada e lembrou-se de quando ouviu o chefe chamando um deles de tio.
, 19 anos
, 24 anos
Jeffrey, 33 anos, tio.
Só que nenhum deles realmente importavam para , ela precisava, ela devia e ela queria saber mais sobre o riquinho otário. E estava disposta a fazer isso.
Riquinho otário, 29 anos.
Tinha dois dias que havia se mudado para a casa e o comportamento de todos os três que ali habitavam com ela era no mínimo estranho. Sempre buscavam agradar a menina, tirando Jeffrey, que não se mostrava ríspido, mas também não era só amores.
No seu papel higiênico havia anotado mais algumas coisas, entre elas, a informação que teve ao assistir TV no dia anterior. A manchete era "Policiais permanecem sem pistas sobre o assassinato do governador William Henris no Hotel e Cassino Bellagio".
, 19 anos, extrovertido, simpático, assassino.
, 24 anos, tímido, inteligente, amigável, assassino.
Jeffrey, 33 anos, tio, carrancudo, péssimo cozinheiro, assassino.
Riquinho otário, 29 anos, gostoso, sumiu misteriosamente, assassino.
- Fiquei sabendo que andou recusando comida e que não sai do quarto. Não me diga que estou lidando com uma criança ou uma adolescente.
Ela manteve o silêncio absoluto.
- Eles estão tentando te tratar bem. Você não é nenhuma prisioneira aqui, você é nossa visita, nossa convidada. Queremos que se sinta bem aqui.
- Meio difícil não me sentir presa se você é quem manda aqui. Eu nem sei o seu nome! - Disse em uma mistura de frustração e raiva, soltando um suspiro longo.
- . Meu nome é . Mas isso não faz muita diferença. - Deu de ombros.
- Ahhhh! Faz sim, se você quer realmente me fazer sentir em casa. - Respirou fundo procurando ganhar coragem suficiente para completar. - Ou para me pedir pra fazer o que raios eu estou aqui para fazer. Você não me deixaria viva sem motivos, não estou certa? Vamos ser diretos. Eu sei que você matou um cara. Ou melhor, o governador. O que eu, uma mísera mortal, posso fazer por você?
- Quero que nos ensine seus truques de mágica. - Ironizou.
- Primeiro, não é truque de mágica. É táticas de jogadas. Segundo, o que um assassino anda querendo em um ramo tão pequeno como o meu?
- Tirar meus primos dá confusão em que os enfiei.
- e são seus primos? - Perguntou incrédula. Não tinha se tocado, que tirando os olhos claros do , eles se pareciam e muito.
O rapaz acenou a cabeça afirmativamente com um sorriso safado. Aquele sorriso que nunca lhe abandonava os lábios. Será que ele só tem aquele?
- Digamos que o ramo de assassinos de aluguel não é muito seguro fisicamente. Só de forma financeira. E você mesma me disse, as trapaças em jogos só dão leves acusações. Não é como se eles fossem sair das armas para os livros. Minha melhor opção é você. E não estou falando sobre sexo.
piscou uma ou duas vezes digerindo todas as informações. Eram assassinos de aluguel. Treinados para matar.
Que sorte a dele. A situação só piorava.
- O trato é o seguinte: você treina os dois e eu te dou quinhentos mil. Mas, caso você não quiser, você pode ir. Eu entendo que aqui não é seu lugar preferido no mundo.
A mulher sabia que quinhentos mil era muito dinheiro, sua dívida era muita alta e se fosse para aceitar um serviço que fosse o mais próximo possível para fazer um acordo, para se livrar de todos os problemas e também largar a vida de fugitiva.
- Um milhão, ou nem pensar.
- Só por um jogo besta?
- É o jogo besta que vai salvar seus primos, não, bebê?
hesitou, mas acabou cedendo. nem pensou antes de soltar:
- Mas só treino se for os três.
- Ah. Acho que isso não tem problema, eu converso com o Jeffr... - Foi interrompido pela mulher.
- , e você. - Sorriu sapeca com a atitude que acabara de tomar. - Fechado?
- Fechado.
Não demorou a voltar para casa e dedicar o resto da noite montando seu pequeno vocabulário, para que quando votasse na intenção de iniciar o treinamento, estivesse tudo pronto.
Só não contava que demorasse uma semana e meia para que ele aparecesse.
As vezes ouvia os homens da casa conversando pelo telefone e sentia que era ele do outro lado da linha. Queria ser um mosquitinho só para ouvir tudo o que falavam em todas as ligações.
No dia que ele finalmente chegou, não ficou nem mesmo dez minutos. Entrou de mãos vazias, cara fechada e saiu com as mãos cheias de pastas, uma maleta e a cara do mesmo jeito.
Foram mais três dias para quê viesse com tempo para conversar e aprender.
Sentaram-se todos na mesa do jardim, embaralhou as cartas e começou uma partida de Black Jack, que foi suficiente para pelo menos trinta críticas.
De imediato na primeira rodada, já ficaram dois conselhos.
1° - O medo não deve transparecer. 2° - Não se deve jogar de impulso.
, por mais que também fosse um dos "alunos", mais parecia um pai vistoriando a conversa dos filhos e a professora particular, já que evitava participar.
- Por hoje é só isso? Achei que íamos aprender coisas legais, tipo aquele filme Truque de Mestre. - disse decepcionado e de uma forma fofa, parecendo ter cinco anos.
- Eu primeiro preciso conhecer vocês. Mas dever de casa tem de sobra. É necessário muita dedicação e empenho, aí tem por volta de 250 palavras esquematizadas com outros significados. É nelas que você encontra segurança na hora de jogar, pois é sua própria linguagem. Eu tenho que entender o que vocês dizem ou fazem para poder ter provas que são jogadores que quebram a banca. Se vocês são discretos e usam sua própria língua, eu não tenho o que denunciar.
olhava admirado para as anotações e exemplos que havia colocado para facilitar o entendimento. Estava perplexo, assim como o irmão.
- Você parece um grande computador falando desse jeito. - Notou . - Quem te ensinou tudo isso? - O básico do jogo foi meu pai. Já os códigos, minha amiga fez um levantamento de palavras que a gente não usaria em momento algum do jogo ou em uma conversa real e eu relacionei. Nada muito incrível.
Os três homens estavam se levantando quando disse:
- , por favor, gostaria de conversar com você.
Os outros se retiraram dando privacidade ao par.
- Preciso de algumas coisas para poder continuar com as aulas. Tem como pedir um dos rapazes ir à rua buscar para mim?
- , isso não é necessário, você tem que entender que você não é uma refém.
- Não foi o que pareceu naquele dia, mas voltando ao assun... - Foi interrompida no mesmo instante por .
- Aquilo foi loucura do Jeffrey, eu não pedi para ele fazer nada. Você é livre para ir embora. Se ainda está aqui é pelo dinheiro, não é mesmo? Eu tenho que ir, se não se importa.
- Amanhã no mesmo horário. Não posso passar minha vida esperando você resolver vir aprender.
- Já com saudades? - Ela olhou de forma irritada e ele logo completou: - Tá, tá, tá, entendido, querida professora. - E o dono dos olhos mais azuis e brilhantes exibiu o sorriso que tanto usava.
Muitas vezes se pegava pensando em ligar para , mas tinha medo da reação da amiga, principalmente, quando soubesse que a mulher dividia a casa com assassinos e que não tinha previsão de ir embora.
No dia anterior, havia sido a primeira aula e naquela mesma madrugada, fez mais algumas anotações e resumos se preparando para a próxima aula, mas já imaginava que demoraria acontecer.
Tamanha foi sua surpresa ao descer até a cozinha pela manhã e encontrar tomando café junto dos outros três.
- Bom dia, professora. Achei que nem ia nos dar o ar da sua graça.
- Falou o que aparece todo dia, não é mesmo? - Retrucou divertida próxima ao seu ouvido.
- Só vou aparecer se for pra ter aulas com vocês sobre outra coisa.
- Cinco minutos e vamos todos para o jardim, como ontem.
Foi só o tempo de apanhar os baralhos, os resumos e uma xícara de café para ir em direção ao lado de fora.
Mais uma vez ela colocou todos jogando todos os tipos de jogos e os encheu de críticas e esporros, ainda mais quando soube que não haviam nem lido o papel que entregou.
As três aulas seguintes aquela foram de certa forma mais produtivas, porém já estava sem paciência da falta de compromisso e do ego. Devia ser coisa de família.
- Não aguento mais isso, a gente só fica jogando e você brigando. Que dia vamos jogar de verdade? Com aquelas mulheres gostosas sentadas no nosso colo.
Para a mulher na mesa, só restou virar os olhos e se levantar.
- Você acha que já tá pronto? Se acha o rei do pedaço? O Houdini? Estejam os três prontos às nove horas, no hall da casa. Fui clara? Espero que sim. E partiu para seu quarto.
Desceu as escadas confiante e quando encontrou os três lhe esperando com seus ternos, já saiu pela porta indo até o carro parado na calçada.
- e vai cada um em um carro, e eu e você em outro, para não desconfiarem. Tudo bem?
Ele não esperou que ela confirmasse para abrir a porta do carona e oferecer a mão para ajudá-la a entrar na Lamborghini Aventador Roadster encarando-a, e foi nesse momento que se perdeu na imensidão daqueles olhos azuis.
Quando recobrou os sentidos, se permitiu fitar todo o corpo de que estava com seus traços estupidamente realçados.
Pouco depois que deu a partida já estavam no Wynn Las Vegas. a acompanhou até o bar e pediu um drink para os dois.
- Vai jogar não, riquinho?
- Se você acha que eu sou burro e não escuto o que você fala nas aulas, tá muito enganada. Vou esperar o se ajeitar e depois o , para aí sim eu ir jogar. - Disse. - Mas relaxa, que sempre tenho tempo para você. - Piscou sacana.
Em uma hora, já haviam perdido no mínimo umas sete vezes e ganhado uma única vez (uma quantia baixíssima). Derrotado, foi o primeiro a sair da mesa de jogo, e com no seu encalço, foram até o bar. Pedidos feitos, a mulher o abraçou e mordiscando sua orelha disse:
- Parece que não tiveram muita sorte, não é mesmo? - E abriu um sorriso irônico.
- Sorte eu só vou ter quando eu tirar seu vestido. - Sussurrou em seu ouvido.
Naquele momento, à distância até o banheiro masculino pareceu uma eternidade. Quando o alcançaram, entraram em um box qualquer e a agarrou pelas pernas que circularam imediatamente sua cintura, fazendo que o vestido subisse para cima da virilha, mostrando a calcinha branca.
O amasso durou algum tempo e os beijos quentes e fervorosos aumentavam o desejo de ambos, além disso, arriscou desabotoar a calça do outro e iniciar uma masturbação, que começou lenta, mas logo alcançou um ritmo rápido.
Eu tenho que parar, pensou.
Era possível escutar ambas respirações descompassadas e o tesão era palpável. Não era admissível que não estivesse tão molhada e com tanto desejo como ele e foi por isso a tamanha surpresa que levou quando viu a mulher se desprender dos seus braços, arrumar a roupa e partir como uma sombra sem ser notada para fora do banheiro.
Ela se sentia exausta, não de uma forma ruim. Era tanto anseio de ir em frente, de se dar o prazer de continuar e transar ali mesmo, naquele banheiro, que quase se esqueceu do maior problema da equação: ele é um assassino. E, bem, esse tipo de cara entrava na lista dos "Nunca deverei beijar", juntamente com políticos, pedófilos e outros.
Ao sair do banheiro, não se atreveu a questionar, até porquê todo o desejo foi do vermelho para o preto e se transformou em um certo tipo de raiva. Ele queria mais! E tinha certeza que ela também queria. Sua vontade era de levá-la para o banheiro, arrancar sua roupa e mostrar para ela o que prazer pode fazer com alguém. Mostrar pra ela o prazer que ele pode causar nela. Mas se ela não quisesse, que chupasse o dedo! Tem quem quer e foi isso mesmo que ele foi procurar.
Não foi difícil achar uma mulher atraente que estivesse interessada em descobrir o que era possível se fazer em um banheiro.
É, , parece que hoje você vai embora para casa sozinha. Só que como já diz aquele ditado, melhor sozinha do que acompanhada de um assassino. Ou algo assim.
- ? te espera lá embaixo. - Tudo foi um sonho? 'Tá brincando! - Você tá suada demais, o ar-condicionado tá funcionando direitinho?
- Acho que o problema sou eu, . - Não conseguia acreditar que na calada da noite seu único pensamento era como seriam os dotes sexuais do .
- O quê?
- Nada, esquece.
- Ladrões, você quis dizer - Corrigiu, .
- Pode ser. - decidiu que seria curta e grossa, e que evitaria ao máximo problema nos dias que estivesse naquela casa. Foi por isso que sentou na cadeira mais distante possível de e fugiu de seus olhos da forma que conseguia, sem falar que começou a tratá-lo de forma séria. - Vocês sabem jogar Poker?
Os mais novos na mesa fizeram que não.
- Eu sei. - soltou.
- Você vai me ajudar a ensinar.
Distribuiu dois mil em fichas e deu para cada duas cartas. Em suas mãos, um dois de paus e um cinco de espadas. Nada. Cada um dos dois apostaram duzentos e deram mesa, liberando abrir mais três cartas, logo após da primeira ser queimada.
Ás de ouros, valete de espadas e três ouros.
riu e aumentou a aposta para quatrocentos, torcendo fielmente nas próximas, resolveu continuar e casou a aposta. Queimou-se a próxima carta e, então, virou-se mais uma.
Nove de paus.
Mais uma vez, o homem aumentou a aposta e continuou casando. Queimou-se mais uma carta e a última carta foi colocada na mesa.
Quatro de copas.
Uma onda de alívio percorreu o peito de . mostrou o ás e o valente, ambos de copas, que tinha em mãos.
- Duas duplas, bebê. - Já preparava os braços para limpar a mesa, quando ouviu da boca da mulher:
- Uma sequência. Parece que hoje não é seu dia de sorte. Ás, dois, três, quatro e cinco.
O dia foi tirado para ensinar todo o básico do poker, desde os nomes de jogadas até regras idiotas que podiam te fazer ganhar ou perder tudo. Depois de ganhar do , foi levada um pouco mais a sério pelos meninos e e ficou fácil ter a atenção de todos na mesa.
- Por hoje é só. - Disse, ao terminar um último lance e começar a guardar os estojos de baralho. Ouviu passos indo para longe e pensou que estivesse sozinha, mas não tardou perceber que estava lhe esperando. - O que você deseja?
- Fiquei sabendo que seu ar parece tá estragado, vou mandar alguém vir olhar, mas preciso que fique longe de quem quer seja que for vir aqui consertar ele. Tudo bem? - A mulher assentiu com a cabeça, saindo de perto dele. - Tem alguma coisa acontecendo com você que eu não saiba? - Aproximou-se mais. - Parece querer fugir de mim.
- Só repensei em nossa relação e percebi que deve ser unicamente profissional. Ontem foi um erro, . Ambos devemos concordar. - Permitiu-se dizer.
- Desde quando me trata por ?
- Desde que notei que eu não passo de uma subordinada e você do meu chefe. Você adorava me lembrar quem mandava, agora não será mais preciso. Posso me retirar, chefe? - A contragostoso, confirmou com a cabeça e também saiu do jardim, esse seria o fim de todas as provocações e piadinhas (que, mesmo que não gostasse de admitir, fazia o seu dia valer)?
Quando eram cinco horas e já não tinha mais nenhuma loja que não tivesse passado, foi que voltou para casa, que, inexplicavelmente, encontrava-se em silêncio.
- Alguém em casa? - Gritou e não houve respostas. Subiu o lance de escadas e foi até seu quarto. Na cama, havia duas caixas de embrulho e um buquê de rosas vermelhas sangue, que causava um contraste com a colcha e tudo do quarto branco.
Sentou-se lá e abriu as duas caixas. Na maior, estava um vestido prata, tubinho, de alças finas e costas nuas. Já na caixa média, uma sandália também prata. Observava os presentes atentamente, quando encontrou um cartão.
"Acho que te devo um pedido de desculpas. - L. ".
- Gostou? - Levantou o olhar e encontrou escorado no batente da porta.
- ? Sério que seu sobrenome é ?
- Algo contra? - Questionou, levantando uma das sobrancelhas.
- Jamais. É bonito. - Sorriu minimamente. - Não entendi o cartão, você não me deve nenhum pedido de desculpa. Você é meu patrão.
- Eu não sou seu dono, . Não posso mandar em você como o tal, convenhamos que eu fui um filho da puta desde o dia que você chegou, tentando te fazer medo para não me desobedecer. Só que você não tem medinho de mim. Você tem uma bravura, uma valentia só sua. Mesmo eu sendo um riquinho otário, um bosta, você só ignorava e me respondia no mesmo tom de ironia que a minha. E, porra, eu acho que é por isso que eu tô louco para te fuder desde o primeiro dia que te vi.
, assustada com tanta informação, quase esqueceu como se fala. Quase. Mas isso não impediu de dizer aquilo que estava pulando para fora do seu peito.
- Idem. - Repetiu como nos seus sonhos mais obscuros. E foi aquela palavra que desencadeou uma porção de sentimentos, como luxúria, exuberância, desejo, prazer. Os beijos dele eram maravilhosos, e aquela cama macia foi o melhor lugar que poderiam ter escolhido para transar naquela noite. As mãos dela o levavam a loucura, seja qual for o local que elas estivessem, fosse nos cabelos, nos ombros ou no pênis. podia afirmar que nunca tinha se sentido daquela forma. E tinha certeza que nunca esqueceria da satisfação que foi saciar seus desejos mais loucos.
Imensa foi a estranheza quando reparou que a casa estava vazia como o dia anterior. Entrou na cozinha, colocou uma música no celular e pegou a frigideira, ovos e bacon. Teria que dar certo, já que estava roxa de fome. Tentou fazer uma manobra como daquelas de filmes e jogar o mexido para cima, só que não foi inesperado que metade parou no chão.
- Você é um desastre na cozinha, puta que pariu. - Disse . Ela desligou o fogão e o olhou com um olhar mortífero. estava todo suado, usava uma regata preta e um shorts e tênis esportivos, entre os dedos, carregava um cigarro. - Aceita?
- Não quero um câncer, obrigada. Aceita? - Apontou para o pouco ovo mexido que ainda tinha na frigideira.
- Não quero ser obeso, obrigado.
Ela alcançou um garfo e se sentou na mesa, a acompanhou logo depois de apagar o cigarro.
- Onde estão todos?
- Trabalhando. Agora que você não precisa mais de babá, coloquei-os para fazer serviços de verdade. - Deu uma piscadinha.
- Eu não preciso mais de babá? Quem falou isso? - Perguntou de boca cheia.
- Eu achei que você ia preferir ficar sozinha, mas se você quiser, eles voltam amanhã mesmo.
- Achou certo. Prefiro esse silêncio.
O telefone de começou a emitir um som e o rapaz pediu licença para atendê-lo, ela tentava espantar a curiosidade, mas era impossível não querer saber o que ele tanto discutia nessas ligações constantes. Foram uma dúzia de palavras trocadas, até que ele desligasse a chamada.
- Preciso ir. Depois do almoço, venho com e para a aula. - E sumiu pela porta, sem ao menos esperar uma resposta de .
- Espera! Eu quero falar com você. - A mulher correu pelo quintal e apoiou na janela do carona do carro. - Acho que eu tô merecendo mais pela paciência que eu estou tendo.
- O que você quer, em? Fala logo.
- Eu quero aprender a atirar. Pra ontem, bebê.
- Posso pensar no seu caso.
- Agora, você coloca um dos pés na frente do corpo, para firmar.
- Eu já entendi. Não sou nenhuma analfabeta.
- Você mira n... - não deixou que ele completasse, cortando o som da voz dele com o apertar do gatilho. A bala acertou na cerca, com uma margem de erro de uns 30 centímetros. - Nada mau para uma virgem.
Outra vez o som da bala partindo da pistola foi escutado e, a se ver o resultado, a lata estava com um pequeno furo. Já a terceira bala, passou tão longe que nem foi possível calcular o quão distante do alvo foi.
- Eu até te elogiaria, mas depois dessa última... Uma vergonha!
- Aposto que aprendi mais rápido que você, riquinho. - Ele passou às mãos pelos braços da e posicionou todo o corpo da mulher na forma adequada, e forjou está atirando, ainda segurando a pistola por cima das mãos dela. - Eu estava pensando de, talvez, amanhã irmos ao cassino. Os meninos, e você também, melhoraram, tem chances de não serem massacrados.
- Se for para ser massacrados e eu ser consolado como aquela vez no banheiro, eu não quero ganhar jamais.
Não tardou para anunciarem a manchete chocante "Yudhi Henris se diz culpado pela morte de seu pai, William Henris". Todos os jornais noticiavam a tragédia, filho era o cabeça da emboscada preparada para seu próprio pai, sangue do seu sangue.
Na mesma nota, o advogado de Yudhi afirmava que o rapaz estava passando por sérios problemas de distimia e estresse psicológico severos, que ao formular o assassinato estava fazendo uso de remédios fortíssimos que o atrapalhava distinguir a realidade da ficção.
não precisou ouvir nem meia dúzia de palavras da reportagem para já começar a fazer ligações. O maior medo de todos os envolvidos no assassinato era o Yudhi contar tudo em troca de uma pena menor. Ele sempre pareceu fraco, mesmo. Não é inesperado a covardia dele.
- Acho que melou nosso treinamento amanhã.
- Melou o cacete. Agora que você precisa ensinar essas merdas para esses dois. - disse em um meio tempo entre uma ligação e outra. - Eu vou matar aquele cagão filho de papai, aquele porra.
Saiu do local, e seus olhos encontraram os de... . Ele era seu parceiro de jogo, não mais .
Nas coxas, levava algumas cartas e um pouco de dinheiro como estava acostumada, e no rosto o sorriso mais brilhante que conseguiu abrir.
- Está pronto para isso? Os jogos vão começar, bebê.
Sentaram em mesas opostas e deram início aos truques da forma mais sútil que conseguiam, entretanto, não levou dez minutos de partida até que o celular de tocasse. Por sorte, o cassino onde estavam permitia celulares (contanto, deveriam ficar desligados). Ele se retirou da mesa e se afastou de forma que sumiu em meio à multidão.
- Alô. Seu merda, é você? Eu te fiz a porra de um favor, nem dinheiro para me pagar você tinha na hora e você me fode assim? Eu te livrei daquele merda. - vociferou.
- Merda é você que tirou meu marido e agora tá tirando meu filho de mim. Ele vai ser preso por sua causa. Yudhi nunca iria pensar em algo assim, você que colocou isso na cabeça dele. - Uma mulher de voz embargada disse.
- Quem é você? Giselle Henris? - Ele nem terminou de perguntar e foi cortado.
- Você vai pagar o que fez para mim na mesma moeda. Eu vou tirar de você tudo.
A ligação foi encerrada e, como um estalo, lembrou que , e ainda estavam por ali e que estavam em perigo. Primeiro encontrou os meninos e deu instruções para que seguissem até em casa, que fossem cautelosos e que andassem armados.
Para achar levou-se mais uns três minutos que pareciam três séculos, estava ficando desesperado, foi quando avistou aquele olhar tão conhecido. Um olhar selvagem e safado em uma mistura doce com a inocência. Deu um sorriso que foi retribuído. Um alívio percorreu o corpo do que fez que seus ombros caíssem por cinco segundos. Isso mesmo, cinco segundos. Foi o tempo de um homem, - que parecia um dos garçons -, circularem o braço pelo pescoço da mulher e encostar em suas têmporas o cano gélido da pistola.
- Surpresa. - Sussurrou para . A adrenalina que estava no corpo do homem não deixava menos explícito seu desespero repentino e logo entendeu o que estava acontecendo. – Todo mundo abaixa, isso é um assalto.
Os três sabiam que não, aquilo não era um assalto, mas de nada adiantava alertar as pessoas disso.
- Seu problema é comigo. – Disse calmo. – Larga ela e me leva, cara. Ela não fez nada.
O rapaz ignorou tudo que o outro disse e gritou:
- Quero todo o dinheiro que vocês tiverem no saco preto que está debaixo do balcão. – Algumas pessoas começaram a cochichar, já que ele estava claramente sozinho, ou seja, seria facilmente imobilizado pelos seguranças. Tamanha a surpresa quando todos os aparelhos da televisão, - que eram utilizados para passar os ganhadores e alguns patrocinadores -, começaram a piscar. E então, um relógio surgiu nos visores marcando cinco minutos. – Eu instalei bombas por todo o prédio. Acho que não é interessante da parte de vocês duvidarem de mim.
Foram dois minutos torturantes até que resolveu mordê-lo na mão para se liberar de seus braços. , com sua agilidade, buscou a pistola bereta 21 bobcat calibre 6.35 no bolso falso.
O louco, logo se recuperou da distração, dando um jeito de pegar pelos cabelos e mirar novamente nela. Mas foi só quando ele viu que estava armado foi que um barulho estrondoso se fez presente.
Os gritos de horror cessaram, as pessoas correndo desapareceram, tudo parecia andar em câmera lenta e, talvez, foi isso que explicou como ele conseguiu segurar o corpo da mulher. Nada importava, nem mesmo para onde o merda que tinha feito aquilo corria.
O corpo já esfriava e já estava sem vida, o que sobrara foi o olhar cinza vago que um dia fora o mais brilhante que já vira.
Não, ela não sentiu dor. Ela sentiu sorte. Aquela sorte que todos falavam para ela e nunca souberam explicar. Sorte por não ter que fugir. Sorte por finalmente se libertar e encontrar sua paz de espírito.
O azar fica para quem está vivo e que tem que estar pronto para jogar o jogo da vida.
FIM!
Nota da autora: Sem nota.
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