01. Take Me To Church
Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Confusão, Caos, Desastre e Destruição.
Essas foram algumas das coisas que ela trouxe para minha vida assim que pisou pela primeira vez na escadaria da minha igreja, vestida em seus trajes pretos cheio de luxo, como se fosse a rainha da noite. Rosto de traços femininos, olhar de bruxaria que desperta a paixão pelos seus lábios carnudos, dentes perfeitamente alinhados, sempre prontos para devorar a alma dos inocentes que se atreviam a se aproximarem, cabelos negros de longos fios para prender a vítima a ela de uma forma que não queira se soltar.
A perdição em forma de mulher.
De uma beleza tão admirável que se tornava difícil desviar o olhar, fazendo sua mente se perguntar se realmente era uma mulher e não um anjo criado pessoalmente pelas mãos divinas de Deus, por causa de toda a perfeição que se era possível ter em uma criatura.
Eu já tinha visto muitas mulheres bonitas na minha vida, algumas com olhos mais belos, sorrisos mais doces e boca mais calorosas, mas tinha algo nela... Era o conjunto, algo além da beleza física, um tipo de essência que hipnotizava, encantava e corroía. Um tipo de magnetismo cruel e sombrio que me levou a cometer pecados diversos para ter o prazer de tê-la.

CONFUSÃO
O estado em que não se consegue raciocinar e decidir prontamente.


Lembro-me, que a igreja já estava cheia quando ela passou pela porta chamando toda a atenção das pessoas para si, como um imã de olhares feito de carne e ossos.
Seu olhar caiu sobre mim, me envolvendo em algum tipo de feitiço que imediatamente paralisou meu corpo, enquanto a via se movimentar lenta e sensualmente até um canto no fundo da igreja. Todos os olhares permaneciam sobre ela, que tirou a luva preta e voltou a me olhar por alguns segundos, fazendo sinal com as mãos para que eu prosseguisse com a cerimônia.
Pigarreei a garganta completamente desconcertado, voltando a olhar para a bíblia. Fazia muito tempo que alguém não me chamava a atenção daquela maneira, para mim eram todos iguais, pessoas cheias de pecados procurando o perdão divido, a paz de espirito, o caminho da luz. Mas ela não, ela não estava ali para isso. Assim que nossos olhares se cruzaram, soube que não estava em busca de perdão, soube que não se arrependia de nenhum de seus pecados.
Suspirei profundamente e tentei me concentrar.
Estava recitando o Salmos Capítulo 23, antes que ela tirasse minha atenção.
- Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me consolam. – continuei a partir do versículo 4 em diante, olhando para o caixão na minha frente onde o corpo sem vida de Margot Maddox se encontrava. - Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges com óleo a minha cabeça, o meu cálice transborda. Certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa do Senhor por longos dias. – Finalizei, fechando a bíblia enquanto ouvia uma risada baixa vindo do fundo da igreja.
- Amém. – sussurraram os fiéis enquanto se viravam para ver a bela moça desconhecida a sorrir.
Da onde eu estava não dava para ver o tipo de olhar que ela recebia dos cristãos, mas sabia que era o de reprovação já que Margot Maddox era uma senhora cristã que todos admiravam muito, ela quase chegava a ser um tipo de santa aos olhos do povo daquela cidade.
Olhei diretamente para a moça no fundo da igreja, o sorriso sumiu de seu rosto, mas ainda dava para ver estampado em seu olhar que tinha algo naquela situação que a divertia muito. Talvez a morte da senhora Maddox a agradasse por algum motivo desconhecido.
Ela semicerrou o olhar, ele tinha um brilho familiar, esquecido, mas já visto antes.
Voltei a falar, chamando a atenção para mim até o fim da cerimônia fúnebre da senhora Maddox, quando levamos o caixão para ser enterrado no cemitério atrás da igreja. Os parentes e amigos se despediram e no fim todos saíram da igreja com pressa para se aconchegar em seus lares, já que a noite estava terrivelmente gelada e escura.
Me despedi de todos nos degraus da igreja e depois de ver a última silhueta sumir na escuridão, ,voltei para dentro da igreja me deparando com a bela moça misteriosa a me esperar.
Ela estava em um dos bancos da frente olhando fixamente para o altar, completamente perdida em pensamentos até ouvir meus passos ecoando pela igreja.
Se virando na minha direção, abriu um sorriso caloroso que era capaz de derreter todo o gelo do lado de fora.
- O senhor se tornou um belo padre. – disse ela, enquanto se levantava do banco e se posicionava na minha frente. Sua postura perfeita dava a impressão de que se tratava de alguém da realeza, ou pelo menos de uma família de boa posição social. – Quando o vi deixar a cidade, imaginei que não levaria essa história adiante e, no fim... Aqui está você, o ilustre .
- Obrigada milady, mas parece que estou em desvantagem aqui. – respondi – Você me conhece, sabe meu nome, mas no entanto eu não sei o seu.
- Você sabe. – disse ela com um sorriso. – Só não consegue associar esse rosto a ele porque esse rosto mudou demasiadamente desde que você partiu.
- Às vezes minha memória falha e meu poder de conexão também. – respondi franzindo a testa.
Realmente o rosto não me lembrava nenhum nome, ninguém que eu tivesse conhecido ao longo de minha vida. Mas o olhar... O olhar tinha algo familiar.
- Se o senhor fizer um esforço irá se lembrar. – falou, antes de se virar e começar a andar em direção ao altar com passos largos, firmes e vagarosos, rebolado sensual, olhar curioso que absorvia cada detalhe do lugar.
Estava evidente que ela não me falaria seu nome, eu teria que forçar minha mente a se lembrar de algo que nem sabia que tinha esquecido. Estava confuso porque tinha certeza de que não esqueceria um rosto como aquele e muito menos o nome de uma criatura como aquela.
- Você era daqui quando parti? – perguntei a observando se virar para mim do altar e sacudir a cabeça em afirmação. – No entanto não estava aqui quando voltei, estou certo? – Perguntei e novamente ela confirmou.
Então forcei minha mente a se lembrar de todas as mulheres que eu conhecida naquela pequena cidade quando parti para o seminário e qual delas não se encontravam mais ali quando retornei. Entre as que me lembrei estavam Kirsty Slughorn, que havia se casado com homem rico e partido com ele para outra cidade levando sua irmã mais nova, Meghan Slughorn, para ser desposada por algum homem rico; Vika Manson, Kaily O’Donell que morreram de varíola; Bonnie Gunn que fugiu com John MacNab para se casar, já que seus pais eram contra essa união; e , uma garota tímida que sempre perdia a fala quando eu estava por perto ou tentava se esconder quando eu olhava na sua direção. Pequena e tímida , filha de um viúva curandeira do vilarejo que também morreu de varíola, segundo alguns moradores da cidade. Me disseram que contraiu o vírus e sobreviveu, mas foi embora por não aguentar viver no local onde sua amada mãe morrera.
Olhei novamente para a mulher na minha frente que sorriu de canto e ergueu uma sobrancelha esperando que eu me lembrasse de seu nome. Naquele momento percebi de onde conhecia aqueles olhos porque já os tinha flagrado me observando com muita frequência. Era difícil acreditar que ela tinha mudado tanto.
- . – falei em um sussurro surpreso, a chamando pelo apelido que eu tinha colocado nela, enquanto um sorriso surgia em meus lábios e ela rolava os olhos descendo os degraus do altar, vindo na minha direção.
A tímida garota amedrontada tinha se tornado uma mulher confiante e bela, do tipo que era capaz de fazer um homem matar para tê-la em sua cama pelo menos uma vez na vida.
- Não me chame assim. – disse ela, parando na minha frente e estendendo a mão em comprimento. – Me chame . era só uma garotinha idiota que ficou no passado.
Pensei em dizer que não era uma garotinha idiota, que gostava muito dela e do seu jeitinho tímido, mas apenas apertei a mão dela e assenti com a cabeça. Seus dedos calorosos tocaram nos meus gélidos fazendo um choque correr das minhas mãos até minha espinha.
- Se assim preferir. – falei rapidamente puxando minha mão e colocando no bolso da batina enquanto ela me avaliava dos pés à cabeça com seus olhos marcantes. – E como você está? – perguntei, tentando não parecer amedrontado com a reação do meu corpo ao toque de nossas mãos. Eu tive sentimentos por ela quando jovem, eu queria me aproximar, descobrir mais sobre ela, ser o guardião dos seus segredos e seu melhor amigo. Eu gostava de , mas ela nunca permitiu que ninguém se aproximasse por tempo suficiente para se tornar um amigo.
- Bem, na medida do possível. – respondeu ela, dando de ombros voltando a observar a igreja. Era como se ela estivesse avaliando o local para algum evento que queria realizar ali. – Mas não estou aqui para falar sobre mim. Onde se encontra o padre Logan?
- Doente. – respondi. – Por isso que acabei voltando para cá, para cuidar dele e também da igreja.
- Doente? – perguntou voltando a me olhar e eu confirmei. Não sorriu, mas tinha algo na sua expressão de deixava claro que aquilo a divertia. – Que pena. – disse, apensar de estar óbvio que suas palavras não eram verdadeiras. – Pelo menos isso te trouxe de volta.
- Não é como se fosse algo positivo.
- Ao meu ver, não é negativo. – respondeu, dando de ombros novamente com um sorriso, olhando por cima dos meus ombros na direção da porta da igreja. – Eu tenho que ir. – falou, voltando a me olhar. – Mas fico contente em saber que voltou, padre .
- Digo o mesmo, mademoiselle . – respondi.
Ela sorriu e acenou com a cabeça em despedida, antes de passar por mim em direção a saída, onde havia uma bela mulher de cabelos loiros compridos que pareciam um véu caindo sobre seus ombros, ela também estava toda vestida de preto, de forma tão elegante quanto . O rosto jovem, pálido e gélido que parecia não saber o que era um sorriso há anos, pois só assim poderia adquirir a aparência de que era feito de porcelanato duramente liso.
A mulher olhou na minha direção por alguns segundos antes de menear a cabeça em comprimento.
- Padre . – falou, sua voz fria e dura como gelo ecoou pela igreja.
Apenas acenei de volta com a cabeça, antes que ela se virasse para seguir .
Senti uma sensação estranha, algo como um calafrio que fez todos os meus ossos tremerem alertando o perigo, exatamente no momento que um vento gelado soprou para dentro da igreja carregando o aroma de sangue, apando todas as velas acessas no local e me deixando na completa escuridão.
Depois que fechei e deixei a igreja ainda me sentindo estranho por causa do acontecimento estranho, decidi descobrir mais sobre e sua estranha e bela amiga.
Cheguei em casa, tomei um banho e vesti roupas normais antes de ir até o quarto onde padre Logan se encontrava deitado, visivelmente abatido por causa de uma doença que tinham como sintomas: febre, tosse, vômito com sangue e dores no corpo. O estranho era que ninguém conseguia identificar exatamente o que era, tudo sempre era uma mera suspeita disso ou daquilo. Logan estava naquele estado há duas semanas, há duas semanas eu cuidava e rezava pelo velho padre com a ajuda de Bennett, uma senhora que trabalhava e morava na casa de Logan. O que mais me amedrontava na história toda era o fato da senhora Maddox ter morrido depois de quatro semanas tendo exatamente os mesmos sintomas que padre Logan.
Bennett sorriu assim que me viu entrar pela porta, ela terminou de arrumar os lençóis de padre Logan que a agradeceu com um sorriso gentil.
- Deus lhe abençoe, Bennett.
- Amém. – respondeu ela antes se afastar em direção a porta passando por mim rapidamente. - Padre . – disse ela, em comprimento.
- Senhora Bennett – respondi, antes dela sumir de vez pela porta enquanto Logan sorria para mim de sua cama, dando alguns tapas no colchão indicando para que eu me sentasse ao seu lado.
- Como foi a cerimônia? – perguntou com uma voz extremamente rouca e fraca, tossindo um pouco em seguida.
- Bem, padre. Muito boa. – respondi enquanto me aproximava e sentava na cama como ele havia pedido. – Toda a cidade estava na igreja para se despedir da senhora Maddox, apesar do grande frio e da neve lá fora.
- Isso é bom. – disse, com um sorriso triste. - Margot agora está no reino dos céus.
- Sim. – respondi, simplesmente.
- O fim do frio está chegando. – anunciou Logan de repente, olhando fixamente para com a testa franzida. – Mas parece que tem algo lhe incomodando.
Ele tinha acertado em cheio, porque eu ainda estava perturbado com , a mulher do rosto de porcelana e o vento com cheiro de sangue, mas não tinha certeza se perguntava Logan sobre essas coisas.
- Estou preocupado com você. – falei, o fazendo sorrir e tossir. Padre Logan era quase como um pai para mim, ele foi um dos grandes motivos que me levou a virar padre.
- Não se preocupe comigo. – disse ele, depois que a tosse cessou. – Se preocupe com as pessoas dessa cidade, se preocupe em mantê-las limpas.
Concordei com a cabeça porque naquele momento pensava que Logan estava falando sobre pecados, sobre manter as pessoas na igreja mesmo que algo ruim acontecesse com ele, mas na verdade ele falava de outra coisa, algo maior do que eu poderia imaginar.
Conversamos um pouco, rezamos e ele adormeceu. Sai do quarto e fui para cozinha, onde encontrei Bennett ainda acordada separando algumas ervas e colocando em uma panela.
- Ainda acordada? – perguntei, enquanto me sentava a mesa.
- Não tenho costume de dormir cedo. – ela respondeu, ao me olhar. – Mas o senhor já devia estar dormindo.
- Estou sem sono e um pouco perturbado. – respondi dando de ombros.
- Quer um chá que te ajude a dormir? – perguntou, enquanto me observava. - Conheço algumas combinações de ervas que lhe colocarão em um sono profundo pelas próximas oitos horas.
Apenas sacudi a cabeça em negação com um suspiro.
- Bennett, o que sabe sobre a família , mais especificamente sobre ?
- ? – ela perguntou, arregalando os olhos enquanto sua voz mostrava um tom de surpresa, preocupação e... Medo? – Por que quer saber sobre aquela garota e sua família?
- sempre me despertou o interesse por ser tão...
- Estranha e maligna? – concluiu Bennet ao me interromper.
- Eu ia dizer diferente. – respondi franzindo a testa completamente confuso. – Por que maligna? – perguntei.
Afinal, em toda a minha infância e adolescência naquela cidade, nunca tinha visto ser maligna com ninguém, pelo contrário, as outras pessoas que não eram muito agradáveis com ela devido sua timidez e condição social.
- Por que quer saber sobre ela?
- Porque eu a vi, na igreja. – respondi e vi a expressão de Bennett mudar para puro pavor. – Por que está fazendo essa cara?
Ela sacudiu a cabeça e se sentou em uma das cadeiras ao redor da mesa, como se fosse acabar desmaiando.
- Temos que avisar o padre Logan. – disse ela com o olhar perdido.
- Se for algo tão ruim assim como você está fazendo parecer, não podemos contar para ele no estado em que se encontra. Então me explica o porquê de chamar de maligna e o porquê de você estar tão apavorada com o retorno dela a essa cidade. – pedi, me levantando da minha cadeira e andando em direção a ela que parecia não me ouvir. Ajoelhei diante dela que finalmente me olhou. – Bennett, por favor, me conta o que está acontecendo.
Ela engoliu em seco antes de segurar minhas mãos entre as suas.
- Ela veio se vingar, condenar nossas almas e nos ver queimar. – disse Bennett num sussurro. As palavras dela me fizeram tremer involuntariamente. – Você tem que ser nosso salvador, impedi-la antes que se vingue, condená-la antes que nos condene, queimá-la antes que nos queime.
- Por que ela faria isso? Do quê ela se vingaria?
- ainda era jovem quando tudo começou. Era uma bela manhã de céu ensolarado, quando John MacNab e Bonnie Gunn surgiram da floresta gritando desesperados por ajuda. – disse ela, suspirando profundamente. – A cidade inteira os cercou, no centro do círculo de pessoas estava Bonnie em pé chorando com John ajoelhado ao seu lado e diante dos dois havia uma garota deitada no chão. Lembro-me até hoje da imagem, a vida parecia ter deixado de habitar no corpo de . Era horrível de se ver a pele cheia de hematomas e as vestes rasgadas completamente sujas se sangue e terra.
- O que tinha acontecido com ela? – perguntei depois de um longo tempo que Bennett permaneceu calada apenas relembrando a cena em sua mente.
- Foi atacada. – respondeu – Estuprada e quase assassinada. John e Bonnie a encontraram enquanto tinham um dos seus encontros secretos na floresta.
- Quem fez isso? – perguntei horrorizado, enquanto uma imagem pavorosa de naquela situação se formava em minha mente.
- disse a todos que não conseguiu ver o rosto do homem na escuridão e o caso acabou sendo esquecido por todos, exceto e sua mãe Margaret, se lembra dela?
- A curandeira. – respondi com um aceno de cabeça.
- Sim, Margaret, a curandeira. – concordou Bennett enquanto seus olhos pareciam ganhar um novo tom, tom de raiva e rancor. – Ela estava tão revoltada com o que tinha acontecido com , queria que alguém tomasse uma atitude, que descobrissem o culpado, mas ninguém tinha sequer uma pista que pudesse ajudar na descoberta. – Ela suspirou pesadamente mais uma vez. – Foi quando começou, logo depois da notícia chocante de que estava carregando em seu ventre um filho de seu agressor, a doença chegou. Foi apavorante ver tanta gente adoecendo ao mesmo tempo, pedindo ajuda a Margaret e depois morrendo porque ela não fazia nada para ajudá-los, porque aquela era a vingança perfeita pelo o quê tinha acontecido com sua filha.
Franzi a testa completamente confuso, a Margaret que eu lembrava era incrivelmente gentil, dócil e bondosa.
- Margaret não parecia ser esse tipo de pessoa. – comentei.
- Ela era algo pior, padre . Ela ofereceu o próprio neto, ainda no ventre de para fazer um acordo com o diabo. Junto com o filho de morreram mais nove pessoas por causa da doença.
- Varíola. – conclui e ela confirmou. – Então Margaret era uma bruxa? Ela que trouxe a doença? – perguntei meio cético. - E pagou por isso. Foi queimada viva como toda bruxa deve ser.
- Queimada vida? – perguntei, me levantando completamente chocado, pois em minha mente bruxas não existiam. Eles tinham queimado uma mulher inocente. - E ?
- Ela é como a mãe. Se tornou uma bruxa assim que sacrificou seu filho por vingança, infelizmente não conseguimos pegá-la antes que ela fugisse sem deixar rastros. – O rosto de Bennett logo se encheu de medo. - Mas agora ela voltou! É por isso que Margot morreu e padre Logan está tão doente. É ela, é a vingança dela. Você tem que nos salvar padre, tem que acabar com ela.
Eu não sabia exatamente o quê dizer, aquela mulher acreditava fielmente naquilo e não ia deixar de acreditar por causa de algumas palavras. Eu precisava falar com , precisava saber o seu lado, precisava saber a verdadeira história sem a fantasia.
O surpreendente foi que minha conversa com não demorou muito para acontecer. No dia seguinte, a noite parecia chegar ainda mais fria, fazendo os moradores da cidade se esconderem para se aquecer em seus lares. Eu estava prestes a fazer o mesmo, fechando a igreja, pronto para me aquecer em minha cama.
Foi quando ela apareceu.
Eu tinha acabado de fechar as portas da igreja e me virado para descer os degraus da escadaria quando a vi parada no final, com um sorriso de canto e olhos sinistramente belos.
- Boa noite, padre. – disse simplesmente.
- Boa noite, . – respondi, começando a descer a escadaria em sua direção. – O quê a traz aqui?
- Senti que você queria falar comigo. – ela respondeu erguendo a sobrancelha assim que viu a surpresa eu meu rosto. – Estou certa?
- Está. – respondi num sussurro quando parei na sua frente. Ela sorriu ainda sem mostrar os dentes e olhou dos meus olhos para minha boca antes de se virar e começar a andar, me obrigando a seguí-la. – Quero fazer perguntas.
- Sobre meu estupro? Minha gravidez interrompida? A morte da minha mãe? Ou a acusação de bruxaria? – ela perguntou, sem olhar para trás, sem olhar pra mim.
- Sobre a verdade. – respondi. – Eu não acredito em bruxas, senhorita .
Ela deu risada enquanto parava de andar e virava na minha direção, tinha uma risada gostosa de se ouvir, harmoniosa, tentadora como seus lábios que pareciam bem macios visualmente.
- Deveria acreditar. – disse, enquanto seu rosto ficava sério. – Porque eles acreditam que você será o novo salvador dessa cidade, assim como Logan foi um dia. E como você pode livrá-los de algo que nem acredita, padre? – ela perguntou enquanto se aproximava. Nossos rosto se aproximavam, mas eu não conseguia me mover do lugar, ou talvez não quisesse. – Porque você não vai querer que algo ruim aconteça a eles, não vai querer decepcioná-los. – ela sussurrou com seu rosto à centímetros do meu, nossos lábios estavam quase se tocando, eu fechei os olhos sentindo algo me envolver, algo perigoso, mas irresistível. Faltava pouco para a realização de um doce pecado. – Foi o quê minha mãe fez. – ela disse por fim. Um vento forte bateu contra meu corpo e quando abri os olhos, não havia mais ninguém lá além de mim.

CAOS
A mistura de ideias em total desarmonia.


Realmente não sabia o quê pensar quanto . Ela tinha mudado muito, não se parecia em nada com a garota que conheci quando jovem, mas ainda assim, nem ela e nem a mãe pareciam ser o tipo de pessoa que Bennett tinha me contado.
Acho que fiquei cerca de quinze minutos parado no mesmo lugar onde me deixou naquela noite, apenas tentando entender o quê tinha acontecido no passado e o quê estava para acontecer com a volta dela. Depois que meu momento de reflexão acabou, voltei para minha casa, tomei um banho e fui ver Logan em seu quarto. Ele estava com uma aparência melhor do que na noite anterior, sua pele não estava tão quente e nem tão pálida, apesar da tosse e o vômito continuarem. Logan não falou nada sobre , Margaret ou bruxaria, o quê significava que Bennett não tinha lhe contado nada sobre a nossa conversa na noite anterior. Saí do quarto de Logan assim que ele caiu no sono e fui para o meu, para também dormir.

O dia seguinte foi tranquilo na igreja. Houve o batismo de uma criança, três confissões e uma missa no final do dia, como era de costume. Deixei a igreja logo depois de um casal de fiéis, que ficaram um pouco mais que os demais para deixar um presente ao padre Logan. Nada de aparecer na igreja ou na escadaria, então segui para casa, tomei banho, cuidei um pouco de Logan e fui dormir.
No outro dia, as coisas correram normais, apesar da minha desconcentração devido a minha mente insistentemente pensar em sem parar. Aquilo estava começando a me deixar louco, porque já fazia alguns anos que alguém não dominava minha mente daquela forma. Fechei a igreja e segui meu caminho para casa. A rua estava assombrosamente vazia, silenciosa e escura, me permitindo ouvir com clareza o barulho dos arbustos se mexendo. Virei rapidamente na direção da floresta, tentei enxergar, mas a escuridão era grande demais para que eu conseguisse, então suspirei e fui naquela direção sem pensar direito.
Assim que passei os arbustos, pelas primeiras árvores ouvi vozes. Era harmoniosa a mistura das vozes que formavam uma bela canção, apesar de cantada em língua desconhecida por mim. Foi quase hipnótica, eu sabia que não devia ir na direção da qual vinha o som, mas queria tanto ir, era uma das coisas mais fortes que já quis na vida. Me deixei levar pelo feitiço que continha aquela melodia, andando floresta adentro até uma clareira que me proporcionou uma das visões mais belas que já vi na vida.
Era tudo surreal, inacreditável. O lugar era uma fantasia se tornando real diante dos meus olhos. Aquela clareira já tinha sido o meu lugar preferido no mundo quando jovem, mas conheci outros lugares que tomaram seu lugar, mas de repente ele subiu de volta no ranking para o primeiro lugar. Era até difícil explicar em palavras tudo o quê vi, mas eu sempre tento, sempre busco formas de descrever.
Eu estava completamente confuso e encantado, porque momentos atrás a escuridão estava em todo lugar, a lua estava coberta por nuvens, a neve cobria o chão e o vento era forte, mas assim que pisei naquela clareira o clima mudou, parecendo que entrei em outra realidade.
A melodia era sussurros sincronizados que vinham de todos os lados, a neve continuava a cair do céu apesar de não ter nenhum floco dela no chão.
Estático, olhando maravilhado para a cena, meu corpo se aquecia como se estivesse com febre e o calor que sentia era como se o verão tivesse chegado. Havia um lago no centro da clareira, que assustadoramente não estava congelado como deveria estar. A lua estava mais brilhante do que nunca, iluminando a água cristalina no lago, de forma quase mística e também iluminava ela, ela que estava na beira do lago tornando tudo ainda mais bonito.
, com um vestido preto e longo que se arrastava no chão, longos cabelos soltos que dançavam com vento.
Eu estava quente como o inferno, parado, silencioso, observador. Ela tinha o conhecimento de que eu estava ali, quase prendendo a respiração enquanto sua mão deslizava uma das alças do vestido por seu ombro com lentidão torturante e tentadora.
Não sei o quê me prendia ali, se era a feitiçaria ou se era o meu desejo, só sabia que permaneci ali, sem me mover enquanto via a outra alça do vestido deslizar por seus ombros e em seguida o vestido deslizar por todo seu corpo, revelando a pele nua do meu maior desejo, meu maior pecado. tinha o corpo perfeito, bunda grande, cintura fina devido ao espartilho de deveria usar com frequência. Um mar de pecado no qual estava disposto a mergulhar. Eu até poderia tentar lutar contra o desejo e dar meia volta, poderia falar que tentei resistir, mas seria um hipócrita se dissesse algo assim, porque eu realmente não queria lutar ou fugir daquilo, apenas queria me entregar a tentação e me deliciar dela o máximo que pudesse. Eu estava terrivelmente fodido, completamente, eu sabia bem disso. Sentia meu corpo fervendo e sentia meu pau dolorosamente duro dentro das calças, como prova de que eu estava muito fodido. Ela virou na minha direção, um olhar profundo, sedutor, que quase me fez ajoelhar diante dos seus pés que se aproximavam de mim com lentidão, mas surpreendentemente, num piscar de olhos ela estava diante de mim, com seus malditos seios fartos roçando na minha batina e seus lábios risonhos a centímetros dos meus.
- Padre, eu pequei. – sussurrou, com seu hálito fresco batendo em meu rosto. Sua respiração era profunda, seus olhos devoravam minha alma, minha sanidade, minha ética. – Qual a minha penitencia?
- Qual o seu pecado? – perguntei no mesmo tom, ela sorriu.
- Você. – ela respondeu enquanto seu rosto ganhava uma expressão séria, seus lábios roçaram nos meus e eu me segurei para não avançar sobre ela como um cão faminto.
- E? Eu não sou exatamente um pecado. – respondi, olhando diretamente nos olhos dela que pareciam um pouco confusos. Talvez ela esperasse me ver perder o controle rápido, mas eu tinha aprendido bem como manter minhas mãos longe de uma mulher apesar de só pensar em fodê-la o máximo que eu pudesse.
- E senti-lo. – ela respondeu num sussurro, pousando sua mão sobre meu peito, subindo até o colarinho romano que ela agarrou e se preparou para puxar. – E fazê-lo quebrar as regras, ver o azuis dos seus olhos me possuirem. - Assim que terminou de falar, tentou puxar o colarinho, mas eu a impedi, segurando seu braço com força.
- Eu não sou o bom mocinho que você pensa, . – respondi. – Eu já quebrei as regras, não exatamente essa que você quer que eu quebre, mas já quebrei algumas. – falei encostando meus lábios nos dela. - Todos nós somos pecadores, nascemos doentes e completamente fodidos. Alguns mais do que os outros, essa é a única diferença. – Passei minha mão livre pela cintura dela, fazendo seu corpo colar completamente no meu, assim como nossos lábios.
Podia sentir o calor da pele dela, mesmo por cima do tecido da batina, o seu coração acelerado, o tremor de seus ossos.
Cravei meus dentes no lábio inferior dela, que soltou um gemido baixo, relaxando e entregando seu corpo em minhas mãos.
Ah! Tinha tanta coisa que gostaria de fazer com ela, minha mente estava um completo caos com as ideias obscenas, enquanto minha língua molhava os lábios dela e minhas mãos soltavam seu braço, para então, me afastar.
se virou e começou a andar em direção ao lago depois de me lançar um olhar malicioso, cheio de promessas sujas e quentes como o inferno. Segui os passos dela para dentro da água que estava incrivelmente morna, relaxante. Olhei surpreso para , que estava quase submersa, com exceção de seus olhos que brilhavam a luz do luar.
Ela se aproximou rapidamente, envolvendo os braços ao redor do meu pescoço e selando nossos lábios. Sua língua umedeceu meus lábios antes de pedir passagem por meus dentes, para que nossas línguas se encontrassem enquanto suas pernas se envolviam ao redor da minha cintura.
Aquilo era um pecado, eu sabia, mas mesmo assim me sentia como se estivesse na alturas, prestes a entrar no paraíso, mas fui interrompido por , ou melhor, pela voz dela que parecia distante, fazendo eu me dar conta de que estava na imensa escuridão, antes de abrir meus olhos.
Então vi o rosto dela, divino, belo, confuso e um pouco embaçado. Seus olhos estavam um pouco arregalados transbordando preocupação.
- Padre? Você está bem? – Perguntou.
Assenti com a cabeça, apesar de sentir uma certa tontura como se a terra estivesse balançando muito enquanto minha visão ganhava foco.
Logo percebi, com a ajuda da luz do luar, as árvores ao nosso redor. Estávamos na floresta, no frio, sem neve. Eu deitado na grama, com a cabeça sobre o colo dela, que estava sentada, me olhando como se eu tivesse vindo de outro mundo ou algo parecido.
- O que aconteceu? – perguntei e ela sorriu.
- Era o que eu ia lhe perguntar, . – respondeu enquanto seus dedos deslizavam pelos fios dos meus cabelos, me dando uma sensação de paz. – Te encontrei desmaiado no meio dessa clareira.
Levantei meu tronco e sentei imediatamente olhando ao meu redor, na direção do lago no qual tínhamos entrado e vi que ele estava completamente congelado.
- Eu... Você... – comecei a falar, mas não sabia como concluir. A cena dela se despindo na minha frente... Nós nos beijando... Entrando no lago... Tinha tudo sido um tipo de sonho ou delírio. Não tinha realmente acontecido.
- O quê, ? – ela perguntou me olhando completamente confusa.
- Não sei, me sinto estranho. – respondi enquanto passava minhas mãos nos meus cabelos, tentando tirar as cenas da minha mente, que ficavam se repetindo várias e várias vezes. , o vestido, a lua, a neve, o lago, o beijo.
- Defina “estranho”.
- Fora do meu comum. Talvez seja cansaço ou... Não sei. – respondi enquanto ficava de pé. também se levantou de forma graciosa com um sorriso nos lábios e uma diversão no olhar.
- Quer que eu...
- ? – chamou uma voz na escuridão, interrompendo a frase de . Segundos depois surgiu a mesma mulher que apareceu na porta na igreja no primeiro dia em que vi de volta a cidade. Sua pele parecia ainda mais branca e gélida do que a última vez que a vi.
- Estou indo, Miranda. – respondeu , com o sorriso sumindo de seu rosto.
Miranda assentiu com a cabeça e olhou para mim. Eu nunca tinha conhecido nenhuma Miranda na cidade, ela com certeza era forasteira.
- Olá padre. - disse ela. – O quê faz por aqui?
- Nada, eu só achei ter escutado algo e acabei me perdendo. – respondi. – E vocês?
- Caçando. – respondeu Miranda com um sorriso rápido aparecendo em seu rosto. – Mas já estávamos de partida.
Olhei para que negou com a cabeça.
- Não é verdade. – Disse , enquanto começava a andar na direção de Miranda. – Só estamos colhendo algumas plantas. Tem uma em especifico que libera um aroma inconfundível a noite, facilitando nossa busca.
- Exatamente. – concluiu Miranda. – Mas já achamos e estamos de partida. Então, até breve, padre. – disse com um sorriso antes de se virar e andar de volta para a escuridão da floresta.
se virou para mim com um sorriso.
- É só você seguir reto naquela direção e chegará em sua casa. – falou ela, aprontando para uma trilha entre as árvores a minha esquerda. – Agora tenho que ir.
- Obrigada, . – falei com sinceridade.
- Até mais, padre. – respondeu ela, antes de seguir seu caminho.
Voltei a andar por entre as árvores na direção que tinha me indicado, até estar de volta a cidade. Eu ainda não sabia o quê diabos tinha acontecido naquela clareira, se tinha sido sono, delírio, visão ou feitiçaria. A única coisa que eu sabia, era que minha mente estava começando a ficar tão confusa, que estava considerando a hipótese de bruxaria ou feitiçaria existir.
Fui com esse pensamento para casa, tomei um banho gelado, tentando afastar tudo daquela noite da minha mente. Principalmente a imagem do corpo nu de , antes de comer e ir ao quarto de Logan, que parecia diferente. Assim que entrei no quarto percebi que algo estava o incomodando, não aprecia calmo e sereno como os demais dias.
- Oi padre, Logan. – falei, enquanto puxava a cadeira no canto do quarto para me sentar ao lado da cama. – Tudo bem?
- Acho que sim. – ele respondeu enquanto me observava sentar próximo de si. – Como estão as coisas na igreja? Com você?
- Bem, tudo bem. – respondi.
- Nada diferente? – perguntou.
- O quê seria “diferente”, na concepção do senhor? – perguntei com um sorriso, porque já sabia o motivos das perguntas. Bennett tinha abrido a boca para finalmente contar sobre .
- . – Respondeu ele, com um olhar severo. - Bennett me contou que ela foi até você.
- Sim, mas não tem nada de diferente nisso. – respondi dando de ombros. - Ela é só mais uma pessoa que foi para o enterro da senhora Maddox e não há nada demais nisso.
- Bennett me disse que você perguntou por ela; . – respondeu Logan, franzindo a testa. – Ela está lhe chamando a atenção? Me lembro que quando vocês eram novos, antes de você ir para o seminário, parecia despertar o seu interesse.
- Não estou entendendo onde quer chegar. – respondi com sinceridade.
- Eu criei você depois que seus pais morreram, . Eu te levei para o caminho certo quando estava perto de ir para o errado. – disse ele, tossindo em seguida.
- Está falando da ? Está dizendo que ela era o caminho errado? – perguntei assim que a tosse dele cessou.
- Ela é uma tentação. – respondeu ele, parecendo um pouco bravo. – Uma serva do mal pronta para levar os homens de Deus para o caminho do pecado.
Quase sorri quando o ouvi dizer essa palavras, sempre foi típico das pessoas culparem as outras pelos seus erros ou pecados.
- Eu nunca tinha visto tentando seduzir ninguém, nem mesmo a mim. Ela sempre foi tímida e solitária. - Rebati.
- Isso foi antes.
- Antes do que aconteceu com ela na floresta? – perguntei.
- Antes de você ir embora. – respondeu Logan, frustrado. – teve o que mereceu naquela floresta por andar pela cidade exibindo sua beleza aos homens, fazendo eles a desejarem e depois mostrando a eles que nunca a teriam. provocou e brincou com muitos homens até algum dentre eles decidir acabar a tortura e tomar o que tanto desejava com um pouco de violência.
- Isso é um absurdo! – falei indignado. O quê ele estava falando? Que o fato de um cara ter forçado a transar com ele era culpa dela? Aquele pensamento era doentio. - era apenas uma garota inocente, provavelmente nem tinha ideia do que se passava na mente impura desses homens doentes.
- Claro que sabia! – ele acusou com grande convicção e raiva. - Ela tomava banho completamente nua naquele lago que fica na clareira no meio floresta. Louca para que algum homem a visse e ficasse fascinado com seu corpo cheio de curvas perfeitas. – disse ele, mostrando seu desprezo por em cada palavra. – E aconteceu exatamente o que ela queria, aquela puta imunda ainda se fez de inocente para todos na cidade, chorando pelos cantos como se a culpa de enfeitiçar os homens não fosse dela.
Nesse momento meus olhos se arregalaram incrédulos enquanto eu me levantava da cadeira. Minha mente criou a cena nítida de Logan, atrás das árvores observando se banhar, desejando o corpo da moça como nunca havia desejado antes em toda a sua vida, exatamente como eu estava desejando. Eu soube que aquilo era real, que realmente tinha acontecido pelo jeito que ela falava dela, pelo rancor que tinha. Logan tinha transformado seu desejo por em ódio, a culpando por seus pensamentos impuros, por seus pecados.
- Você a viu, não foi? No lago? – perguntei, apesar de já saber a resposta.
Dava para ver a raiva estampada no rosto de Logan quando ele respondeu.
- Ela me atraiu até lá.
Passei as mãos pelo cabelo em desespero. Era como se o grande herói que eu sempre amei tivesse tirado a máscara e se revelado o vilão que eu sempre odiei.
- Foi você? Que a atacou? – perguntei, tremendo de ódio ao imaginar a cena de Logan prendendo contra o chão da floresta, rasgando suas roupas e roubando sua pureza enquanto ela chorava e se esperneava em desespero e medo. Meu Deus! Era apavorante só de imaginar a cena imagina vive-la. Pobre .
- A culpa não foi minha. – ela disse balançando a cabeça em negação, parecendo tentar convencer a si próprio e não a mim. – Ela queria aquilo, estava pedindo por aquilo. Aquela maldita puta exibida, exatamente igual a mãe, aquela maldita puta desgraçada, bruxa que está queimando no inferno onde é o lugar dela.
- Você é doente. – falei com desprezo. – Acha mesmo que as portas dos céus estarão abertas pra você?
- Eu já perdi perdão, já fiz meu corpo pagar por cair na tentação. Deus me perdoou.
- Não, me recuso a acreditar que esse é o nosso Deus, que ele perdoa coisas como essa. O Deus que eu conheço, aquele para qual sirvo, perdoa aqueles que admitem seu erro e se arrependem. Você não está nem perto disso. – praticamente gritei para ele. – Você fez aquilo com e depois queimou a mãe dela panejando fazer o mesmo com ela.
- ? – ele perguntou, me olhando incrédulo. – Você que está cego, que está deixando o feitiço dela te abater. Aposto que já teve sonhos com ela, não teve? Já imaginou como é o corpo dela por debaixo daquelas malditas roupas de puta que ela usa.
Respirei profundamente, negando com a cabeça enquanto a imagem de no logo me voltava a mente.
- Não adianta negar com essa cara apavorada. – disse Logan, começando a tossir. – Eu sei... Que ela está... Impregnada em sua mente... Dá para ver nos seus olhos.
A tosse dele piorou e logo Bennett apareceu no quarto para cuidar dele, enquanto eu saía do quarto. Precisava colocar minhas ideias em ordem e ir atrás da o mais rápido possível.

DESASTRE
O acontecimento que causa sofrimento e grande prejuízo físico, moral, material e emocional.

Cometi muitos erros na minha vida, não era só porque um homem se compromete com Deus e usa uma batina que ele se torna um tipo de santo, que não tem pensamentos impuros ou comete alguns dos pecados capitais como preguiça, gula, inveja... Padres não eram santos, não eram imunes a todas as porcarias do mundo. Padres apenas aprendem a ter um controle maior sobre si mesmo. E mesmo assim, alguns acabam cedendo aos seus desejos proibidos. E dentre esses, haviam os que assumiam sua culpa, mas também haviam aqueles que eram covardes demais para admitir seu erro e receber sua punição.
Eu sempre achei que Logan era o tipo que conseguia se controlar, que conseguia se manter o máximo possível no caminho que dizia seguir, mas infelizmente, ele se revelou o covarde.
Pensei muito nisso ao longo do dia e também pensei em , pensei em ir até ela e pedir que me contasse sua versão da história. Queria saber se ela realmente não sabia quem era seu agressor ou não o tinha revelado por medo. Queria poder abraçá-la e pedir desculpas por não estar por perto para protegê-la quando tudo aconteceu. Queria pedir desculpas por Logan ser um pervertido cretino e, principalmente, pedir desculpas pelas pessoas que acreditaram nele levando Margaret a morte. Queria fazer muitas coisas assim que a encontrasse, mas não tinha ideia por onde começar a minha busca.
Então fui para a igreja, era domingo, as pessoas de toda a cidade estavam lá em busca do perdão para os seus pecados. Enquanto realizava a missa e via todas aquelas pessoas diante de mim, ajoelhadas, rezando, não pude evitar em pensar nas mesmas pessoas olhando com satisfação o corpo de Margaret queimar, os gritos dela se espalhando da praça central da cidade, até as árvores na floresta onde corria chorando, fugindo amedrontada. As pessoas que ela conhecia desde de criança se transformaram em monstros prontos para queimá-la viva.
“Pobre ”, pensei enquanto dizia minhas últimas palavras para aquelas pessoas que começavam a se levantar para voltar a suas casas.
As horas passaram rápido e a noite logo chegou.
parecia sentir quando eu queria muito vê-la. Apareceu andando na minha direção com sua vestes pretas e seu sorriso impecável quando eu já estava do lado de fora da igreja, fechando as portas.
- . – falei, realmente contente ao vê-la.
- Pelo sorriso, presumo que queria me ver.
- Sempre certa.
Ela soltou uma risada suave enquanto olhava para trás parecendo se certificar que não havia ninguém nas ruas.
- Está um pouco frio aqui fora. – falou voltando a me olhar. – Podemos entrar por um instante?
Eu nem disse nada, apenas concordei com a cabeça e abri passagem para ela, que rapidamente se entocou dentro da igreja, me fazendo seguí-la. Fechei a porta e rapidamente procurei por uma vela para que não ficássemos na escuridão.
- Precisava falar com você. – falei, assim que acendi a vela. A respiração dela ecoava pela igreja.
- Eu sei. – ela sussurrou, enquanto se aproximava de mim. – Eu não vou te falar sobre aquilo na floresta.
- Eu entendo que você... – comecei a falar, mas fui interrompido pelo toque repentino das mãos quentes dela em meu rosto frio.
- Shiu! Eu vou te mostrar. – disse ela, antes de dar um sobro forte na vela, apagando a chama e nos deixando no completo escuro.
Eu mal pude acreditar nos meus olhos quando a imagem da clareira começou a se formar ao meu redor. Lá estava o belo lado, a noite começando a cair e nadando despreocupadamente enquanto cantarolava uma cantiga.
Bela, inocente e jovem . Já devia fazer algumas primaveras desde a minha ida, pois seu rosto já estavam adquirindo os mesmos traços que tinha atualmente e seu corpo já ganhava formas tentadoras, mas seu olhos ainda tinham o brilho da inocência que estavam prestes a perder.
olhou para o céu e só então percebeu notar que a noite chegava. Saiu do lago, pegou seu vestido do chão e o vestiu ainda cantarolando distraída, mas ainda assim conseguiu ouvir o barulho de passos se aproximando. se virou na direção com medo, que sumiu assim que viu o rosto de Logan surgir entre as árvores.
- ? – ele a chamou assim que pisou na clareira.
- Padre Logan. – falou aliviada. – Quase me deu um susto.
- Não era minha intenção. – disse ele com um sorriso enquanto se aproximava dela vagarosamente, igual um animal selvagem que se aproximava sorrateiramente de sua vítima. - O quê faz aqui, garota? A noite já está caindo.
- Nadando. – ela respondeu com um sorriso inocente sem perceber o perigo. – Só percebi agora que já está tarde.
O Sorriso sumiu do rosto de Logan. Os acontecimentos seguintes foram muito rápidos.
- Sua vadiazinha mentirosa. – ela disse, assim que agarrou os braços delicados de e a puxou para perto de si. – você estava apenas se exibindo como sempre faz, como a puta da sua mãe lhe ensinou a fazer.
assustada gritou, ele a bateu com tanta força que a fez cair no chão, então montou sobre ela. tentava se soltar, mas Logan era mais forte, prendeu os braços dela, passou a mão por suas coxas enquanto erguia o vestido. Eu não queria ver aquilo, eu sentia meu peito arder com a cena das lágrimas de escorrendo por seu rosto. Tentei me mexer, mas não consegui. Fechei os olhos, mas ainda a ouvi. Não vi, mas ouvi tudo. Foi como um pesadelo, o pior pesadelo de minha vida.
Quando acabou e eu abri os olhos, não gritava mais, não dizia nada, as lágrimas apenas rolavam de seus olhos que olhavam raivosos para Logan.
- Não me olhe assim. Você andou pedindo por isso, então, não me olhe assim. – disse ele, enquanto arrumava sua batina. – Volte para sua casa e finja que isso nunca aconteceu, porque se contar pra alguém, você vai ser punida. – disse ele por fim, antes de virar as costas e seguir seu caminho de volta a cidade, deixando para trás.
Então a cena se desfez. Tudo voltou a se tornar escuridão. Os únicos sons que eu ouvia era o da minha respiração e a de que estavam no mesmo ritmo. As mãos dela pararam de tocar meu rosto e eu engoli em seco.
- Eu sinto muito, . – sussurrei na escuridão.
- Eu sei. – ela sussurrou de volta.
Não sabia se era o certo, mas estiquei os braços na escuridão, encontrei o corpo dela a poucos centímetros e sem pensar duas vezes a puxei para perto de mim, envolvendo-a em um abraço. pareceu completamente estática no começo, mas depois relaxou seu corpo e encostou sua cabeça sobre meu ombro. Afaguei seus cabelos por um longo período, antes que ela decidisse erguer a cabeça do meu ombro e ficar de frente a mim. Eu não podia ver nada na escuridão, mas sabia que nossos rostos estavam muito próximos devido a respiração dela que batia nos meus lábios.
Eu queria muito beijá-la, mas depois do que tinha visto, não tinha coragem de tentar nada. Tinha medo de assustá-la, magoá-la ou ofendê-la de alguma forma.
Foi ela que me beijou, que segurou meus lábios firmemente presos entre seus dentes que quase os fez sangrar, me fazendo gemer de dor e desejando sentir as unhas dela arranhando minha pele com a mesma força com que ela me mordia. Ela que deu o primeiro passo, mas fui eu que decidi continuar seguindo o caminho daquele doce pecado. Eu só podia estar louco, mas ela me fazia perder a cabeça.
Foi tudo no calor do momento que nem lembro direito como nos livramos tão rápido de nossas roupas. Eu queria fodê-la na escada do altar da igreja.
desceu a mão pelo meu tórax até meu pênis enquanto eu a empurrava em direção ao altar sem cortar o beijo, um pouco acelerado e desajeitado que dávamos, mas a vontade de suprir nossos desejos era tão grande que realmente não ligávamos. Cuidadosamente a sentei na escada e subi minhas mãos pela sua parte interior da sua coxa até sua intimidade dela. soltou um gemido deliciosamente baixo.
- Tem certeza sobre isso? – perguntei enquanto levava minha boca até o seu pescoço esguio.
- Sempre tive certeza sobre você. – ela sussurrou de volta envolvendo as pernas ao redor do meu quadril e me puxando para mais perto para voltar a me beijar.
- Digo o mesmo. – respondi antes de selar nossos lábios.
Tudo que eu precisava era me aliviar dentro dela antes que eu enlouquecesse. Então a ajeitei sobre a escada, colocando minha ereção na entrada da sua intimidade e foi que me puxou, fazendo penetrá-la completamente. E, Porra! As unhas dela se afundaram em minha pele parecendo que queria arrancar um pedaço de mim com suas unhas, enquanto gemia baixinho. A segurei pela coxa movimentei-me um pouco para trás e voltei a preenchê-la por inteiro, sentindo o quanto ela era apertada. encaixou seus dentes em meu ombro quando comecei a me movimentar mais rápido e com mais força. Eu queria parti-la ao meio enquanto estocava meu pau dentro dela. Era tão quente, macia, úmida e apertada que eu não consegui resistir por muito tempo. Senti meu corpo começar a formigar e a sensação de que iria explodir como uma bomba nuclear se apossou de mim, quando a intimidade dela começou a pulsar em minha volta. E eu gemi, junto com ela, chegando no ápice da minha noite, da minha vida.
Como poderia me arrepender de fodê-la se a sensação foi como entrar no paraíso? Eu provavelmente iria para o inferno depois de transar nas escadas do altar da igreja, mas iria para o inferno feliz e realizado.
estava com a cabeça encostada no meu tórax quando deu um suspiro profundo e selou nossos lábios por segundos rápidos antes de se afastar um pouco.
- Padre, eu pequei. – ela disse, sua voz parecia chorosa. – Qual a minha penitência?
Meus olhos se arregalaram, assim que ela pronunciou as mesmas palavras do meu delírio.
- Qual o seu pecado? – perguntei.
- Eu sou uma bruxa. – respondeu em um tom quase inaudível. – Matei Margot Maddox com o mesmo feitiço que estou a matar Padre Logan. E quando isso acontecer, a cidade se acabará em chamas.
Meu coração quase saiu pela boca com as palavras dela.

DESTRUIÇÃO
A ação de destroçar; o aniquilamento de um ser.


Eu estava fodido. No meio de uma guerra que eu sabia que não teria um final feliz. Ou acabaria com todas as pessoas daquela cidade, ou eles a queimariam viva. Não tinha uma terceira opção onde os dois lados saíam ilesos.
estava decidida sobre o que faria, pelo o quê entendi, Miranda era quem estava colocando essas ideias na cabeça dela e não a deixava desistir da vingança da morte de sua mãe. Eu tentei convencê-la do contrário, tentei fazê-la mudar de ideia, mas isso só a irritou profundamente, fazendo com que fosse embora e me deixasse a sós na igreja.
Foi agoniante ver os dias se passando sem nenhum sinal de . Foram oito longos dias até a morte de Logan acontecer devido a doença, mesmo comigo e Bennett tentando fazer o possível para curá-lo.
No enterro, apareceu, com suas roupas pretas elegantes e seu enorme sorriso. Ficou no fundo da igreja a cerimônia fúnebre inteira, até chegar a hora de enterrar Logan. Alguns fiéis começaram a xingá-la mesmo dentro da igreja, mas pararam assim que mandei. Tudo aquilo parecia divertir ainda mais . Ela queria que eles a odiassem, que a atacassem, para que isso alimentasse ainda mais seu ódio contra eles.
Apesar disso, a desistência veio dela, que apareceu dois dias depois na minha porta. Ela estava chorando, tremendo, nervosa. Era noite, Bennett na casa de alguns parentes da cidade, então permiti que entrasse e se sentasse.
Depois de alguns copos de água, ela se acalmou.
- Eu menti para você. – Disse ela, assim que tomou seu último gole de água. – Não fui eu que trouxe a doença e vai queimar a cidade. É Miranda.
Franzi a testa confuso.
- Mas por que ela faria isso? Fizeram algo para ela também? Você não tem poderes, por isso a trouxe? – perguntei e confirmava com a cabeça.
- Sim, fizeram algo com ela. – ela disse engolindo em seco. – E sim, eu tenho poderes. Acontece que eu descobri um feitiço há algumas estações. Um feitiço que ressuscita os mortos. Eu trouxe de volta a alma de minha mãe para o corpo de Miranda.
- Quer dizer que... Miranda é sua mãe? – perguntei incrédulo e ela assentiu.
- Sim. Eu queria que ela voltasse e tivéssemos uma vida juntas, em paz, longe daqui, mas ela voltou diferente e insistiu em ter a sua vingança. Eu me deixei levar, até ver que você tinha voltado, – ela disse ao suspirar. – Eu queria desistir e ela não queria deixar. Até ameaçou te machucar, então deixei que ela fizesse tudo do seu jeito, mas agora vejo que não posso deixá-la fazer isso.
- O quê podemos fazer para impedi-la?
- Queimá-la viva. – respondeu , com um olhar triste.
- ... – comecei a falar, mas fui interrompido.
- ‘Tá tudo bem. – disse ela com um sorriso forçado. - Aquela não é minha mãe, ela não era assim.
Eu sabia daquilo, mas sabia que mesmo assim ia doer pra ela fazer.
foi até o fim e eu a ajudei. A cena foi horrível. Miranda gritou, chorou, o cheiro de queimado e nossa viagem para longe daquela cidade que só tinha começado.

trouxe quatro coisas ruins para minha vida assim que pisou na minha igreja, mas trouxe muito mais coisas boas do que ruins. Tenho que admitir que seguí-la pelo mundo tinha sido muito bom. Ela, a minha deusa e eu sou o seu fiel, para tê-la ao meu lado eu faria qualquer sacrifício. Eu a venero, pois ela era minha profetisa, minha mestre, minha rainha, o meu suave e doce pecado.
O motivo pelo qual vou alegremente para o inferno, que era onde eu preferiria ir, se era pra lá que ela também vai, pois o paraíso não seria bom para mim sem ela.



Fim.




Nota da autora: Não tenho muito o que dizer sobre essa fic, foi uma ideia maluca que me surgiu desde que ouvi Take Me To Church a primeira vez. Então espero que tenham gostado.

Outras Fics: We need to talk about your father, 10. Feelings, 13. Sex and Candy. Boys don’t Cry I e II, In The Woods, 9. Not In That Way, 9. Free The Animal, 14. For The Love Of A Daughter, 9. The Lazy Song, 5. To Be Alone, 10. Like Real People Do;




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