Capítulo Único
A tristeza tem se tornado um hobby para .
E, assim como na maioria das coisas, ele é extremamente bom. Sentado em seu sofá azul-marinho que parece um pouco grande demais, a televisão tocando no fundo com uma voz aguada comentando sobre o programa, sentindo pena de si mesmo, e olhando fixamente o telefone em uma competição de encaradas assíduas.
Ele sempre perde para o telefone.
Estar sozinho nunca tinha sido um problema, antes de estar com . Seu apartamento de solteiro era ótimo para passar o tempo com seus amigos, desmaiar depois de um dia longo, dormir no sofá mais vezes do que um homem adulto provavelmente deveria e trazer quem ele quisesse para uma visita noturna.
Até aquela porra de dia.
Quando ele e ainda eram 'dois amigos' e não os 'ele e ela'. Quando ela sentou do lado dele nesse sofá tarde de noite, zarpeando pelos canais da televisão. Quando o controle decidiu escorregar em um programa de adultos. Quando ele a olhou para como ele costumava olhar antes.
Antes deles decidirem serem apenas amigos, antes deles terminarem. Janeiro de 1989. E ela parecia tão bonita quanto no dia em que gritou com ele no meio da calçada por 'desperdiçar metade de um sanduíche de frango pelo qual uma galinha tinha morrido.'
Seus olhos demoraram um pouco mais em seu rosto (bochechas rosadas que sempre apareciam quando ele estava por perto, seja por irritação ou algo ainda mais letal), suas pupilas dilataram um pouco demais, sua boca abriu um pouco além do comum, e seu coração bateu um pouco mais que rápido.
riu e o provocou, apesar de sua mão, que segurava o vestido, não parar por um segundo, mostrando que ela tinha tantas lembranças quanto ele.
Que mal teria? Eles só estariam adicionando algo à boa amizade, sem as complicações de um relacionamento (já testado). Era como juntar as melhoras partes deles, a amizade e o sexo, e ignorar o que deu errado. Sem romance.
E agora ele estava brincando de encarar o telefone, enquanto passava um programa estúpido que amava na sua televisão.
Tudo estava em paz; amigos ótimos, saúde ótima, casa ótima, carreira ótima. Todos os ótimos do mundo tinham se deitado no colo de . Exceto pelo buraco faminto que parecia choramingar por uma pessoa.
Ele não tinha se sentindo assim da primeira vez que eles terminaram, e essa não podia ser considerada uma segunda vez de término porque eles eram só amigos transado. Ainda assim, quando e chegaram à conclusão de que não eram um bom casal, ele não estava disposto a perder ela, mesmo que seu namoro só tivesse durado alguns meses. Então, ele sugeriu que eles permanecessem amigos depois da separação mútua - não do jeito usal dos relacionamentos, em que as palavras ‘continuar amigos’ sempre tem um ‘até parece’ nas entrelinhas. Quando se tratava de , as coisas eram o que deviam ser. E assim eles tinham sido por um ano.
Ele nunca teve que passar uma semana sem ligar para ela. Ou sem ir para o cinema com ela. Ou sem comer com ela na lanchonete. Ou sem ouvir ela reclamar do chefe. Ou sem ter ela aparecendo no seu apartamento de repente.
E agora ele estava perdendo a batalha de encarar o celular.
Porque ela saiu de sua cama uma semana depois de terem começado sua amizade colorida, porque eles estavam começando a ter brigas de casal. Porque ele tinha reconhecido isso, e dito que talvez eles devessem ser amigos de novo, porque não queria perder isso. Porque ela tinha dito que não conseguia ser apenas amiga dele, não mais. Porque ele não podia simplesmente ir atrás dela.
O que ele podia dizer? Os motivos pelos quais eles terminaram não tinham mudado. Eles tinham desviado de uma bala quando cobriram o término com uma amizade, e agora eles não se tinham de nenhum jeito. Eles tinham se perdido um do outro.
O buraco no peito dele parecia crescer com a falta. Que se danem as pessoas que dizem que o tempo cura, cada segundo era uma nova expansão do pesar.
E tudo que restou: um telefone zombando dele quando ele desviou o olhar.
Parecia até que estava rindo, aquela música repetitiva e irritante. Para quem será que estava telefonando? Por que não parava de tocar? Espera, ele estava tocando!
Sem esperança, ele agarrou o aparelho com um revirar de olhos.
— O que você quer, ?
— Desde quando o te liga? Ele só entra no seu apartamento e rouba comida. Só dá pra saber que que ele está lá pelas migalhas. Ou o cheiro.
A tom de estava regado em bom humor, apesar da risadinha no final da frase denunciar o seu nervosismo. Ele a tinha feito rir mais de um milhão de vezes, era simples distinguir seus risos.
Porém, não podia culpá-la. Ele também estava agitado com a sua ligação. Ela tinha ligado para ele primeiro!
— ! — ele exclamou com um sorriso, como se isso fosse toda a resposta necessária. — Quer dizer, é. Eu provavelmente não devia ter dado a chave. E preciso combrar mais biscoitos... e maçãs. E macarrão. Ele não tem comida em casa?!
A risada que escapou estava mais calma, e o coração dele estava mais ansioso. Como ele conseguia sentir ainda mais saudade a cada momento trocado?
— Então, como você tem estado? — perguntou casualmente.
— Bem, tudo em paz. — encarou a parte do telefone que não estava em sua orelha. Ela tinha ligado primeiro, é claro. sempre tomava atitude quando queria algo. Talvez ele devesse seguir o conselho dela e tapar o buraco no peito. — Tirando a falta que você me faz.
É, os motivos pelos quais eles terminaram não tinham mudado.
Porém, talvez eles tivessem.
E, assim como na maioria das coisas, ele é extremamente bom. Sentado em seu sofá azul-marinho que parece um pouco grande demais, a televisão tocando no fundo com uma voz aguada comentando sobre o programa, sentindo pena de si mesmo, e olhando fixamente o telefone em uma competição de encaradas assíduas.
Ele sempre perde para o telefone.
Estar sozinho nunca tinha sido um problema, antes de estar com . Seu apartamento de solteiro era ótimo para passar o tempo com seus amigos, desmaiar depois de um dia longo, dormir no sofá mais vezes do que um homem adulto provavelmente deveria e trazer quem ele quisesse para uma visita noturna.
Até aquela porra de dia.
Quando ele e ainda eram 'dois amigos' e não os 'ele e ela'. Quando ela sentou do lado dele nesse sofá tarde de noite, zarpeando pelos canais da televisão. Quando o controle decidiu escorregar em um programa de adultos. Quando ele a olhou para como ele costumava olhar antes.
Antes deles decidirem serem apenas amigos, antes deles terminarem. Janeiro de 1989. E ela parecia tão bonita quanto no dia em que gritou com ele no meio da calçada por 'desperdiçar metade de um sanduíche de frango pelo qual uma galinha tinha morrido.'
Seus olhos demoraram um pouco mais em seu rosto (bochechas rosadas que sempre apareciam quando ele estava por perto, seja por irritação ou algo ainda mais letal), suas pupilas dilataram um pouco demais, sua boca abriu um pouco além do comum, e seu coração bateu um pouco mais que rápido.
riu e o provocou, apesar de sua mão, que segurava o vestido, não parar por um segundo, mostrando que ela tinha tantas lembranças quanto ele.
Que mal teria? Eles só estariam adicionando algo à boa amizade, sem as complicações de um relacionamento (já testado). Era como juntar as melhoras partes deles, a amizade e o sexo, e ignorar o que deu errado. Sem romance.
E agora ele estava brincando de encarar o telefone, enquanto passava um programa estúpido que amava na sua televisão.
Tudo estava em paz; amigos ótimos, saúde ótima, casa ótima, carreira ótima. Todos os ótimos do mundo tinham se deitado no colo de . Exceto pelo buraco faminto que parecia choramingar por uma pessoa.
Ele não tinha se sentindo assim da primeira vez que eles terminaram, e essa não podia ser considerada uma segunda vez de término porque eles eram só amigos transado. Ainda assim, quando e chegaram à conclusão de que não eram um bom casal, ele não estava disposto a perder ela, mesmo que seu namoro só tivesse durado alguns meses. Então, ele sugeriu que eles permanecessem amigos depois da separação mútua - não do jeito usal dos relacionamentos, em que as palavras ‘continuar amigos’ sempre tem um ‘até parece’ nas entrelinhas. Quando se tratava de , as coisas eram o que deviam ser. E assim eles tinham sido por um ano.
Ele nunca teve que passar uma semana sem ligar para ela. Ou sem ir para o cinema com ela. Ou sem comer com ela na lanchonete. Ou sem ouvir ela reclamar do chefe. Ou sem ter ela aparecendo no seu apartamento de repente.
E agora ele estava perdendo a batalha de encarar o celular.
Porque ela saiu de sua cama uma semana depois de terem começado sua amizade colorida, porque eles estavam começando a ter brigas de casal. Porque ele tinha reconhecido isso, e dito que talvez eles devessem ser amigos de novo, porque não queria perder isso. Porque ela tinha dito que não conseguia ser apenas amiga dele, não mais. Porque ele não podia simplesmente ir atrás dela.
O que ele podia dizer? Os motivos pelos quais eles terminaram não tinham mudado. Eles tinham desviado de uma bala quando cobriram o término com uma amizade, e agora eles não se tinham de nenhum jeito. Eles tinham se perdido um do outro.
O buraco no peito dele parecia crescer com a falta. Que se danem as pessoas que dizem que o tempo cura, cada segundo era uma nova expansão do pesar.
E tudo que restou: um telefone zombando dele quando ele desviou o olhar.
Parecia até que estava rindo, aquela música repetitiva e irritante. Para quem será que estava telefonando? Por que não parava de tocar? Espera, ele estava tocando!
Sem esperança, ele agarrou o aparelho com um revirar de olhos.
— O que você quer, ?
— Desde quando o te liga? Ele só entra no seu apartamento e rouba comida. Só dá pra saber que que ele está lá pelas migalhas. Ou o cheiro.
A tom de estava regado em bom humor, apesar da risadinha no final da frase denunciar o seu nervosismo. Ele a tinha feito rir mais de um milhão de vezes, era simples distinguir seus risos.
Porém, não podia culpá-la. Ele também estava agitado com a sua ligação. Ela tinha ligado para ele primeiro!
— ! — ele exclamou com um sorriso, como se isso fosse toda a resposta necessária. — Quer dizer, é. Eu provavelmente não devia ter dado a chave. E preciso combrar mais biscoitos... e maçãs. E macarrão. Ele não tem comida em casa?!
A risada que escapou estava mais calma, e o coração dele estava mais ansioso. Como ele conseguia sentir ainda mais saudade a cada momento trocado?
— Então, como você tem estado? — perguntou casualmente.
— Bem, tudo em paz. — encarou a parte do telefone que não estava em sua orelha. Ela tinha ligado primeiro, é claro. sempre tomava atitude quando queria algo. Talvez ele devesse seguir o conselho dela e tapar o buraco no peito. — Tirando a falta que você me faz.
É, os motivos pelos quais eles terminaram não tinham mudado.
Porém, talvez eles tivessem.