Finalizada em: 15/11/2021

Capítulo Único

- Coitada... – a enfermeira que checava o prontuário alternava o olhar para a paciente inconsciente – ... – leu o nome com delicadeza – Família influente, bem sucedida, bonita... Mas solitária? Ninguém nunca vem visita-la. – desabafou.
- Verdade? – a colega que ajustava a oxigenação e checava o soro ficou imóvel – Como assim? – olhou para a outra por cima dos ombros – está completando quase três semanas de coma. E a família?
Em resposta, a enfermeira que iniciou o diálogo soltou um riso anasalado de deboche.
- Pagam as diárias no prazo. Só isso. Às vezes, ligam de noite perguntando por novidades, mas parece sempre tudo tão... Frio?
A segunda mordeu os lábios com pena.
- E aquele noivo dela?
Outro ruído de deboche.
- Veio na primeira semana. Depois sumiu. Já deve ter fugido com outra.
Inconsciente fisicamente, não muito longe dali, presa em alguma camada espectral do universo, podia ouvir tudo e ver... Ela não sabia como era possível, mas era real. Era como se sua alma tivesse descolado do corpo em determinado nível de inconsciência. Lembrava-se do acidente que a fizera parar lá. Um imbecil bêbado no volante, um ciclista e ela. Depois a colisão. As pálpebras de trepidavam ao relembrar com vivacidade a dor que era ter todas as células do corpo sendo esmagadas pelas peças do carro.
Estava morrendo?
Seriam esses os dias do “juízo final” que tanto se falava? Uma última chance de se despedir da vida? Ninguém conseguia enxergar ou tocá-la. Ao mesmo tempo em que era amedrontador, a mulher sentia uma paz. Desde que despertara nesse sonho esquisito, passava o tempo todo entre a dualidade de sentir demais ou não sentir. Todavia, o que era tudo isso?
Segundo o que capturou de conversas perdidas entre os médicos, a data em que seu espectro despertara não coincidia com o dia que entrou em coma. Demorou uma semana, ou quase isso, até que passasse a perambular entre os mundos. Ver a si própria em uma cama foi forte na primeira vez, a segunda e a terceira também. A questão é que demorou para aceitar que aquela imagem seria a única que teria de si pelos próximos tempos, se não a última. Desde então, vem sentindo o amargo das fofocas que as enfermeiras comentavam sobre si.
Ninguém parecia se lembrar da existência dela, ou se importar. E quando ia buscar respostas, outra coisa estranha acontecia: ela não conseguia se livrar dos limites do hospital. Havia uma espécie de barreira que não a deixava sair para ir checar os amigos e familiares. Então, questionava-se outra vez: para quê tudo isso?
Quando olhava para trás, sentia orgulho de toda a sua trajetória. A longa escalada até assumir o próprio espaço dentro da indústria da música. Foram noites em claro até a primeira migalha de reconhecimento, muitos momentos bons foram sacrificados, poucos entendiam a determinação, porém sensação de satisfação seria sempre uma coisa que preencheria a ela e ninguém mais de qualquer maneira. Se tivesse tomado outros rumos, os resultados teriam sido os mesmos apesar das adversidades serem outras?
Sem muito que fazer dentro dos limites das instalações hospitalares, ficava vagando entre os corredores, capturando informações aleatórias, anúncios de tristeza e também momentos ternos de esperança. Os médicos comentavam que seu caso clínico era estável e poderia vir a despertar a qualquer instante. Então, por que não acordava?
Algo em si afundava só de pensar que ela continuava como um espírito, porque não tinha aceitado morrer, por outro lado também não queria viver. Um frio se passou pela espinha. Ela podia atravessar coisas e não as sentia, contudo as sensações do corpo e as memórias ainda a pertenciam.
- Amiga, lembra o que conversamos sobre a de manhã? - ouviu o nome ser proferido e ficou em alerta. Era a enfermeira que recebia as fofocas falando para a fofoqueira que sempre estava responsável pelo prontuário – Santa boca nossa!
- O que foi?
- O noivo dela acabou de passar na recepção e está nesse momento com ela.
dispensou toda a ladainha que estava por vir e deixou o corredor para retornar ao quarto. O noivo. Em todo esse tempo de reflexão, ela não havia parado para pensar nele, afinal o relacionamento foi uma escolha das famílias, não dele e nem dela. Era uma bagunça de sentimentos saber que o homem estava ali. Gratidão por ser lembrada mesmo que não fosse constantemente? O famoso “antes tarde do que nunca”? Apesar da confusão, o que predominava era a lamúria de não conseguir ficar balançada o suficiente. Eles não se amavam. Desnorteada, atravessou a parede que os separava e o choque veio. O homem que estava de pé ao lado da cama, mirando para a versão dela na cama com profundidade, apertando os dedos e acariciando os cabelos com a outra mão não era seu noivo.

So wake up


Desistir. Essa era a vontade que rondava todos os dias dentro da empresa. As tarefas que executava eram tranquilas, sua relação com os funcionários era boa, com algumas ressalvas. O lugar como qualquer outro tinha seus prós e contras, mas a experiência de respirar em um prédio que exalava o cheiro e brilho dela começava a sufocar.
- Talvez nós não sejamos para ser.
Aquelas palavras acompanhadas da expressão de dor de nunca deixaram a mente de . Eles eram para ser, daquele tipo de conexão que só acontecia um e um milhão. Em consideração a esse amor que ele jamais poderia força-la a seguir um caminho que os colocasse em uma posição desconfortável. e ele tinham combinado de fugir, deixar tudo e todos para trás e recomeçar. Todavia, conforme a data marcada se aproximava, ela ia demonstrando cada vez mais sinais de que não estava tão certa de que queria fazer aquilo.
Isso o quebrou.
Se fosse analisar racionalmente, ela tinha muito mais a abrir mão que ele. estava noiva, mas não dele, e era uma das sucessoras da empresa de entretenimento onde trabalhava. Toda a realidade dela havia sido ditada e moldada pelos pais, inclusive o noivo.
Casamento por conveniência.
achava aquilo uma piada.
aceitou para fazer a vontade dos progenitores e só isso. Uma relação fachada e de momentos frios e robóticos. sentia por ela se sujeitar a tão pouco em prol das relações familiares.
Então, veio a promessa de fugirem.
E o arrependimento também.
No momento que rompeu com o que combinaram, acabou.
- Não acho justo ficar te prendendo a um amor que visivelmente te arranca muito mais do que posso oferecer. Isso acaba aqui, nessa noite, . Não quero viver sabendo que precisa viver com minhas inseguranças e inconsistências...
- Relacionamentos são constituídos de trocas e compreensão, . Não vou te deixar de amar por nada.
- Vai, sim. – ela engoliu seco – Com o tempo, vai. Eu não aprendi a ir contra os meus pais ainda, sinto-me uma adolescente. Obviamente você não precisa pagar por essa conta. Por isso, estou rompendo tudo que tivemos um dia.
- Está tomando uma decisão errada por dois. – baixou a cabeça. Era complicado querer respeitar as decisões dela até o fim e ao mesmo tempo sentir que estavam retornando uma vida de felicidades em uma bandeja ao destino.
- Que seja

. Depois daquilo, ambos não voltaram a se contatar. nunca mais apareceu no setor dele do prédio para fazer as vistorias de rotina ou se dirigiu a ele. No lugar dela, aparecia o insosso do noivo, Daniel Harris.
Era assim que ela acreditava que superariam mais rápido?
questionava-se internamente sobre até onde o outro conhecia a mulher que tinha ao lado. Teria contado a respeito eles? A resposta dessa dúvida veio mais tarde.
Como se o destino não estivesse satisfeito em tirá-la de si, sofrera um acidente de carro por conta de um caminhoneiro embriagado, ficando entre a vida e a morte. A falta de reação aos tratamentos a colocou em estado de coma. nunca precisou forçar tanto o cérebro para que não perdesse o controle sobre suas emoções.
Se ele pudesse ao menos trocar de lugar com ela... Ele daria qualquer coisa para isso. Embora não tivesse possibilidade de alguém prever aquele acidente, não tirava da cabeça de que ainda poderia ter sido diferente se estivessem juntos. Ele poderia estar com ela no momento e assim feito alguma coisa.
Ninguém da empresa, com exceção da assistente pessoal de , sabia do envolvimento de ambos. Não faria sentido ele ficar tão alterado pela superior que supostamente nem sabia da existência dele. Então, todos os dias, vivia uma jornada dupla entre ser apenas mais um cara da produção na Srats Entertaiment e fora dali era o noivo de fazendo uma visita ao hospital.
Aquela era uma ideia perigosa que cheirava a desastre, mas deu certo... No começo.
Com a ajuda de Livie, a assistente de , ia recebendo a agenda de compromissos de Daniel, dentro e fora da Srats. Sem , Harris precisou trabalhar por dois, aprender a rotina da empresa e ao mesmo tempo executar o que aprendia. Não sobrava tempo para se lembrar de se importar com a noiva. Pelo menos era assim que via, já que Livie compartilhava que ninguém estava visitando a chefe.
- O caminho está livre. já fez muito por mim, acredito que a oportunidade de retribuir um pouco surgiu. Se realmente me confirmar que está disposto a ir até lá, , eu posso mexer os pauzinhos para que liberem a sua entrada no hospital.
- Acha mesmo que vão cair na mentira de que sou Daniel Harris?
- Não! – a assistente negou prontamente de olhos arregalados – Não vou te fazer cometer o crime de falsidade ideológica. – riu nervosa – Podem até saber que tem um noivo, mas Daniel nunca deu as caras lá. O relacionamento – desenhou aspas no ar – deles não é público a ponto de ser anunciado em matérias de revistas.
- Tem certeza?
- O máximo que pode acontecer é você perder o emprego. – gargalhou tentando tirar o peso da discussão – Normalmente, me incluiria nessa, mas a única pessoa que tem poder sobre mim é a própria . Estamos bem, .
- Que seja. – deu os ombros – Eu não tenho nada a perder.

As visitas foram pacíficas durante a primeira semana de internamento de . começou a chegar mais cedo no trabalho para adiantar algumas tarefas. Durante a tarde, saía para vê-la, pois era um horário seguro onde tinham a certeza de que Daniel estaria na empresa e nem suspeitaria. Mais tarde, retornava para a empresa como se nada tivesse acontecido e ficava até mais tarde até fechar as horas diárias que deveria cumprir segundo o contrato.
não reagia. Os únicos sons do quarto enquanto narrava os últimos acontecimentos para a amada eram os das máquinas desenhando a sequência de batidas cardíacas dela. Às vezes, se pegava engolido por um medo devastador de nunca mais poder ouvir a voz dela. Tão rápido quanto os pensamentos absurdos vinham, uma onda de esperança vinha. Ele acreditava na força dela.
“O bem prevalece”, era o que ela tinha o costume de dizer a ele nos momentos íntimos quando algo desandava.
- Por favor, acorde. – com os olhos apertados, pedia para as forças do universo – Só dessa vez. – entrelaçava os dedos dela contra os seus e apertava com ternura.
Contudo, Daniel Harris descobriu. sentiu a merda estratosférica estava vindo quando foi chamado para comparecer à sala da diretoria.
- Eu sei o que está fazendo, . – foram as primeiras palavras que ouviu ao pisar sobre o tapete vinho de alta costura.
- Boa tarde, senhor Harris.
- Fique longe da minha noiva.
considerou sustentar o teatro de sonso, ao invés disso disparou:
- Você a ama?
Tão de repente que Daniel perdeu a compostura por um instante, esquecendo se de todas as falas que armara.
- Como é?
- Mesmo que esteja inconsciente, não sente que ela merecia mais de todo mundo? Os pais estão em outro país. Você passa o dia aqui...
- Você não é ninguém para dizer como devemos conduzir as coisas com . Ela está sendo bem cuidada e é isso que importa. Vou dizer apenas mais uma vez: fique longe dela. De todos nós. – corrigiu.
- Como descobriu? – não estava intimidado como imaginou que ficaria, caso fosse descoberto.
- Quando o pai dela me ligou agradecido por cuidar tão bem da filha enquanto eles estavam longe, eu sabia que tinha algo errado. Emocionado, ele agradecia sem parar por eu passar todos os dias ao lado de . Não foi difícil encontrar suas imagens nas câmeras do hospital.
Depois disso, sentiu que começou a ser vigiado de perto pelo próprio Harris. Ele sempre estava em sua cola, passando atividades sem muito nexo que não o permitiam ter tempo para dar uma escapada. Depois do expediente não era muito diferente, suspeitava que pudessem ter colocado seguranças na porta do quarto de . Ele precisou esperar as suspeitas baixarem e assim ficou sem visita-la por uns dias.
Era massacrante ver os dias se arrastando para passar sem atualizações maiores da mulher. Quando contestava Livie por mensagens para mais informações, tudo o que recebia era um “Continua na mesma”.
Não tinha como ser tudo igual sempre.
precisava se certificar com os próprios olhos de que ela continuava sendo bem cuidada. Foi assim, depois de um curto período em hiatos, que ele decidiu se arriscar para outra visita.
“Livie, está na hora de você fazer sua mágica.”
Para os colegas de setor, deixou avisado que tinha uma consulta médica inadiável e que era isso que deveriam repassar caso Daniel surgisse querendo atualizações.
Tão difícil como era engolir as mensagens de Livie dizendo que nada tinha mudado, era estar parado ao lado da cama de e realmente ver que ela continuava longe. acariciou o rosto pálido e bem moldado, segurando mais as emoções do que imaginou que conseguiria. Enquanto apreciava cada mínimo detalhe dela, os orbes pousaram nos próprios dedos trêmulos envolvidos nos cabelos dela.
Ele tinha chegado ao limite.
- Volta para nós, por favor. – o pedido desesperado escapou com uma lufada de ar – Não precisa ser para mim, ou por mim, mas acorde, . – debulhava-se em lágrimas no quarto pela primeira vez – Eu preciso de você. Preciso que você fique bem. Preciso te ver andando pela empresa, como se o mundo todo se curvasse quando está respirando por perto. Acorda!

So wake up


podia ouvir as súplicas. Parada ao lado de , sem que ele tivesse chance de vê-la ou imaginar que ela estava ali, sentiu as mãos tremerem com o ímpeto de tocá-lo, apesar de que nenhum dos dois sentiria de fato o contato.
Aquele não era o noivo dela.
Daniel nunca a visitara naquele hospital, como comentavam as enfermeiras.
Era e sempre seria .
Ocupada tentando absorver o choque de encontrar ali, tão entregue, consigo, mesmo depois de tudo, começou a sentir que os próprios sentidos estavam escorrendo de si. Ela estava transbordando. Então, o monitor que exibia os batimentos cardíacos estabilizados apitou.
Uma parada cardíaca.
Ela estava morrendo.
Tudo começou a embaçar e ela se sentiu sendo transportada para longe, mas a imagem de se debatendo enquanto os médicos o levavam para longe para isolar o quarto para a reanimação.
chorou.
Ela tinha dúvidas se naquele estado ainda era capaz de mensurar a dor que sentia ao presenciar a pessoa que mais amava e talvez mais a amasse escapando.
- ... – o nome saiu como um suspiro falho.
Os sentimentos dele sempre foram transparentes e sinceros, contudo assisti-lo se martirizando ali a afetava a ponto de desejar que tivesse outra chance para tentar as coisas de forma diferente.
Morrer sendo tão amada assim poderia soar como um final satisfatório. Deixar essa vida sabendo que fora tão amada quanto amou deveria encher o coração, mas ela estava voltando atrás outra vez. Da mesma maneira que recuou para fugir, ela estava tentando lutar contra o fim. Morrer não parecia mais tão fácil de aceitar depois do que assistira. Ela tinha um motivo para continuar existindo. era lembrada. estava sendo amada. Uma oportunidade para ter a chance de mostrar a que ele era correspondido na mesma intensidade era o que precisava.
Em um plano espiritual fundido com o hospital, que estava se fragmentando, afastando-se cada vez mais da realidade, caiu de joelhos, implorando com as duas mãos entrelaçadas por uma chance de respirar outra vez.
Ela não viu, mas ouviu uma voz dentro de sua mente avisando que uma nova oportunidade havia sido dada. Seria como renascer. teria que encontrar o caminho certo outra vez, mas não se lembraria de nada daquela experiência no momento que abrisse os olhos outra vez.
E assim foi.

So wake up


acordou.
Via vários rostos, mas não conseguia sentir nada, ou lembrar. A mente estava tão em branco quanto os móveis dos aposentos de onde estava. O tempo todo, as pessoas surgiam falando nomes e explicando a situação, mas ela não conseguia absorver.
Sentada no próprio quarto do apartamento onde morava sozinha, a mulher podia sentir uma inquietação. Algo dentro de si, no mais profundo da alma brigava para que ela se lembrasse, porém quanto mais esforço fazia, mais o peito ardia com a frustração. Não vinha nada. Ela não conseguia se se recordar da vida antes do acidente, mas os instintos não paravam de apitar para que ela não desistisse.
se considerava uma pessoa de sorte. Tinha a seu lado muitos recursos e pessoas que estavam se esforçando todos os dias para que ficasse confortável. Bendito noivo paciente. Dentro da Srats, ele não a deixava um minuto só durante o período de ressocialização. Os funcionários também eram bem amigáveis.
- Falem a verdade: eu era uma víbora? – sussurrou divertida, como se estivesse fofocando para o círculo de pessoas em volta de si – Não vou demitir ninguém por falar a verdade, ‘tá?
- Pior que não era.
Sentada na cadeira, como uma criança que estava aprendendo na escola, os olhos ágeis de capturavam o máximo de detalhes da equipe diante de si. Apesar da garota que estava na linha da frente ter negado de prontidão, a superior reparou que três pessoas no meio se entreolharam incertos. De repente, um ponto ao fundo da sala se mexendo a distraiu da discussão. Em uma checada despretensiosa, de soslaio, sentiu todo o oxigênio escapando dos pulmões. Tão rápido quanto ela viu, a pessoa sumiu entre as portas do elevador se fechando.
O mal estar foi instantâneo.
Ela não sabia por que, mas os olhos começaram a arder e lacrimejar, acompanhados da sensação de que o corpo cederia a qualquer instante. Desolada, começou a ver sentido e relação com pensamentos em sua cabeça que até então eram apenas devaneios. A memória não retornara, mas o rosto que vira instantes atrás serviu de estopim para que começasse a confiar mais no que a mente pregava.
Desde que acordara do coma, tinha uma memória afetiva a qual jurava ter criado como um mecanismo de conforto, visto que não havia nada ao que se agarrar. Na imaginação dela, havia um rosto com semblante terno que a deixava aquecida e fazia se sentir abraçada. Apesar de borrado e longe, ela podia ouvir a pessoa que a mente projetara prometendo que ela ficaria bem, mas precisava acordar.
Após a crise, Daniel pediu para que ela retornasse ao hospital para novos exames. De fato, estavam preocupados com ela e não podia fazer nada para amenizar. Suas mãos estavam atadas, pois não compreendia os lapsos que o cérebro sofria. Apesar dos profissionais garantirem que as fortes impressões não se passavam de ideias, ela se pegava desejando avistar aquele rosto outra vez. Ela só precisava sentir outra vez.
Os pais estavam finalmente chegando à capital para encontrá-la. Naquele dia, o noivo a deixara para fechar o escritório enquanto buscava os sogros no aeroporto.
era respeitada como chefe, mas sentia-se como uma estagiária. Os processos na Srats eram burocráticos e muito específicos. Era aquilo que enchia o peito dela? Aquele lugar era o motivo pela qual levantava todos os dias? Sozinha, suspirou, passeando de um lado para o outro. Ansiava pelos pais. Não existiam pessoas melhores que os progenitores para a guiarem.
“Estaremos te esperando em casa para jantar. Daniel”
Uma última coisa que ainda estava pendente para resolver antes de sair era trocar a lâmpada da luminária da sala de espera. Para buscar o bulbo reserva, precisou atravessar o andar todo e descer as escadarias até chegar ao depósito. Lá estava toda a história da Srats: moveis antigos, cadeiras quebradas e materiais de papelaria comprados no atacado.
As caixas com as lâmpadas novas estavam no alto das estantes metálicas. Amaldiçoado fosse a pessoa que organizara assim. se esticou até onde não podia para que o dedo médio conseguisse empurrar uma ponta das caixas para fora. O esforço era tamanho, que o sangue no rosto começou a circular mais rápido. Enquanto se espremia contra o móvel na tentativa de puxar as lâmpadas, dois braços esticados entraram em seu campo de visão para alcançar o que tanto queria.
virou-se lentamente ao ver que a caixa era retirada da prateleira pronta para agradecer, mas as palavras foram morrendo conforme o olhar ia subindo pelo rosto da pessoa que a ajudava.
Era ele.
A garganta secou.
- Obrigada... – disse fraca, sem ousar pestanejar, com medo que de que ele pudesse desaparecer outra vez.
- Já faz muito tempo, . – o timbre baixo dele a arrepiou por inteira. Era aquela voz que conversava com ela.
recuou, até as costas encontrarem com o metal gelado. Levou as mãos á boca em choque, pressionando os lábios trêmulos, em busca por controle e outra vez sentiu-se subitamente atacada.
- Isso pode soar muito esquisito, mas tem algo em você que me faz pensar em coisas que eu não tenho certeza se aconteceram.
- Você se lembra de mim? – o homem pareceu se iluminar por um instante.
- Não. – os ombros dele desceram poucos centímetros – O acidente de carro me deixou fora de órbita. Se trabalha aqui, já devem ter te adiantado que estou com amnésia temporária.
- Não se recorda de nada? Absolutamente nada?
- Qual é o seu nome? – usou o tom mais delicado que conseguiu.
- . .
A respiração de ficou descompassada.
- Por que eu sinto que você pode me contar coisas que ninguém mais pode? – indagou em um fio de voz.
- Porque te conheço como ninguém e te amo como jamais poderia amar alguém. – soltou o ar pela boca com força com a repentina declaração. – Obrigado por voltar para nós. – dito, deixou a caixa que alcançou de lado para romper com a distância e envolve-la em um abraço.
Surpresa, embasbacada com as palavras que ouvira, se deixou ser abraçada com força e calor. O corpo dela reagiu imediatamente com a temperatura que o corpo dele emanava. O encaixe dela sobre os braços de parecia tão certo e familiar. Calada, sentiu o contato se estreitar.
- Eu cometi esse erro uma vez, mas aprendi a lição, . Não vou deixa-la ir outra vez. Nunca mais.
- Para. – debateu-se, empurrando-o para longe – Algo está errado. Eu tenho noivo. Daniel. – a mirou com dor – Mas por que você me causa tanta instabilidade apenas com o olhar?
Foi naquele instante que entendeu que ele ainda podia ter toda a esperança do mundo. Ela conseguia o sentir ainda que estivesse sem as lembranças mais bonitas deles.
- Porque nós somos para ser. e é para acontecer.




Fim



Nota da autora: Oieeeee! Se você está lendo isso, obrigada por dar uma chance à história e obrigada por chegar até aqui <3 Gostaria de deixar registrado também os meus eternos agradecimentos pelas meninas que fizeram esse ficstape acontecer e por toda paciência comigo!
Fiquem bem!

Beijos,
Ale

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