01. Witness

Última atualização: Fanfic Finalizada

Capítulo Único

Assim que a água começou a descer por seu corpo, fechou os olhos, como que para não ver o sangue ainda não oxidado se misturando com água e se empossando no chão antes de descer pelo ralo.
Mas infelizmente não teria tempo para esperar ser seguro abrir os olhos novamente, precisava ser rápida. Tinha que ir embora antes que sua presença fosse ao menos percebida, mas não podia sair do hotel coberta de sangue e seu cliente havia sido especifico ao requisitar seu trabalho, ele precisava de um espetáculo para a polícia e para a imprensa.
E ele teria.
Áron era um homem público. Sua vida além do trabalho estava sempre exposta em jornais e revistas do país inteiro, seus filhos e esposa não davam um passo sequer sem que todos ficassem sabendo. Pelo menos, era o que todos pensavam.
Ou a maioria.
A verdade é que por debaixo dos panos, era sujo. Se envolvia em negócios ilegais e em algumas ocasiões, precisava ajeitar as pontas soltas. Dessa vez a Srta. foi a escolhida para dar um dos nós de seus trabalhos “paralelos”.
era conhecida por sua clientela pelo trabalho impecável que exercia, se é que em seu ramo pudessem exigir muito além da descrição e eficácia. Mas ela era boa no que fazia, como se tivesse sido criada para aquilo, e realmente havia.
O corpo que jazia na cama daquele quarto de hotel onde o sangue havia coberto os lençóis imaculados, o chão e até a parede, era só mais um na lista que crescia mais e mais e havia começado quando ela ainda era uma adolescente.
Não significava que ela realmente gostava do que fazia, apenas fazia o que tinha que ser feito, aquela era a única vida que conhecia.
Saiu do banho e se secou, calçando a mesma sandália que usava antes e deixando o chuveiro ainda ligado, saiu do cubículo. Enrolada na toalha que havia enfiado na bolsa quando se preparava mais cedo, caminhou até a porta, onde a mesma bolsa estava no canto e então se trocou, vestindo roupas limpas e enfiando as sujas dentro de uma sacola, um par de sapatos limpos foi a substituição da sandália e a toalha foi enfiada na bolsa junto de todo o resto.
saiu do quarto como se nada tivesse acontecido. E pelas próximas horas, as que se seguiriam naquela tarde até o anoitecer quando o homem não desse notícias para a própria família, seria assim, como se fosse só mais um dia normal em sua vida.
saiu ajeitando o próprio cabelo, a mesma pose que tinha usado ao se registrar na recepção no dia anterior, o mesmo sorriso simpático que havia direcionado a recepcionista de cabelo impecável.

_ Boa tarde querida, vim fazer meu check-out.
_ Sim, claro. - A mulher lhe atendeu com sorriso de volta e ainda conversaram amenidades enquanto a hóspede assinava os documentos e entregava as chaves.

O Hall estava pouco movimentado naquela hora do dia, poucos hóspedes passavam por ali e mais alguns poucos funcionários. precisava ser vista pelo maior número de pessoas possível e ainda assim, o universo parecia nada conspiratório.

_ Espero que volte um dia.
_ Ah, com certeza, se voltar a Vienna, ficarei aqui, é um ótimo lugar.
_ Faça uma boa viagem, Sra. Boltzmann.
_ Obrigada. - agradeceu com um aceno e então foi embora.

O primeiro táxi vago da fila foi seu destino, sua bolsa foi cuidadosamente colocada no banco ao seu lado e ela pediu que ele fosse até a Estação Central. Uma conversa sobre o clima do outono na capital rendeu até que o homem parasse em frente ao destino da mulher.
Depois que foi deixada ali, poucos minutos se passaram até que o carro mandado por chegasse para buscá-la. Ficaria escondida em uma das propriedades do magnata até que o caso fosse descoberto e arquivado, o que poderia levar dias, semanas ou meses ate que Áron achasse que era suficiente para que descobrissem que a vítima de tinha problemas com o mesmo.

_ Boa tarde, Srta. . - O motorista cumprimentou quando a mesma entrou no carro com sua bolsa.
_ Boa tarde. Pode me dizer onde vou ficar?
_ O Sr. mandou-a para um dos edifícios no centro da cidade.
_ No centro?
_ Sim, você sabe, não a lugar melhor para se esconder do que ao alcance dos olhos.

No curto caminho, o homem explicou que aquele imóvel era pouquíssimo usado no geral e que somente vez ou outra o filho mais velho era o único a aparecer ali, fosse fugindo de alguma mulher ou do marido de alguma delas. Ninguém além de poucos funcionários de confiança da família sabiam daquele imóvel e por isso ela poderia ficar tranquila e por quanto tempo achasse necessário.
Só um funcionário teria acesso ao apartamento, indo vê-la com a mesma frequência que faria a limpeza do imóvel e garantindo que suas necessidades fossem supridas. No mais, ficaria em paz.

Já havia se instalado, a pequena mala que havia deixado com um dos empregados de antes de sua tarefa também havia sido traga e agora ela olhava os armários da cozinha e se espantou pela gentileza de Áron ao abastecer os mantimentos para sua estadia. Era a primeira vez que um cliente lhe tratava tão bem durante seu tempo sob proteção deles.
Aquele era um luxo que nunca havia vivido em todos os seus anos de vida.

Só no dia seguinte que resolveu dar um jeito nas roupas sujas. O amoníaco que havia colocado na mala era o grande responsável pelo peso da mesma, sabia que de acordo com o pedido de seria necessário e não economizou ao se preparar.

As bancadas da cozinha que recebiam luz do sol estavam cobertas pelas roupas e o cheiro de amônia era fortíssimo, fazendo com que a mulher se obrigasse a abrir todas as janelas possíveis, nem o pequeno basculante do banheiro havia sido poupado. Ela estava sentada no chão da sala ouvindo o rádio baixinho quando a maçaneta da porta se mexeu e todo o seu corpo entrou em alerta.
Então se lembrou que o motorista havia dito que o funcionário viria e seu corpo relaxou.
Mas seus olhos se arregalaram quando o rosto que via nos jornais passou pela porta, não era um funcionário, era o mais velho, .

_ O que você está fazendo? - Ele perguntou vendo a mulher de pijamas sentada no meio da sala.
_ Seu pai… - Começou a se explicar mas foi interrompida.
_ Você é uma das amantes dele?
_ O quê? - Seu tom de voz era ofendido. De todas as possibilidades aquela era a mais louca possível. - Não. Eu…
_ Que cheiro é esse? O que você está fazendo aqui?
_ Você vai me deixar falar ou o quê? - Perdeu a paciência e se exaltou, levantando de sua posição inicial e ajeitando sua postura para que o queixo ficasse erguido.

Aquele definitivamente não era o comportamento de uma dama ou qualquer mulher que seu pai escolheria para ter seus casos extra-matrimoniais. conhecia bem o tipo de mulher oferecida que se escondia por trás de uma falsa timidez que o pai costumava carregar a tira-colo sempre que a esposa não estava vendo. Aquela não tinha nada do que elas tinham. Era atrevida demais.

_ Seu pai me contratou para fazer um trabalho. E eu preciso ficar aqui até que ele me libere.
_ Ah, você é a caçadora de recompensas que ele procurou para dar fim no banqueiro.
_ Isso.
_ Eu não pensei que ele fosse te mandar pra cá, e eu definitivamente não esperava alguém como você e nem que se vestisse assim.
_ Você queria o quê? Uma senhora?
_ Você tem cara de inexperiente, não parece alguém que comete crimes por dinheiro. E devo recomendar uma mudança de perfume.
_ Isso é amônia, preciso acabar com os resquícios de DNA do velho antes de me livrar das roupas.
_ Se importa de ter companhia? Estou numa furada e não posso ficar dando sopa por aí.
_ A casa é sua, Sr. . - Ela gesticulou no ar. - Vou me trocar para algo mais apresentável.
_ Não precisa se incomodar, Srta…?
_ Não é muito inteligente te contar meu nome, Sr. .
_ Vamos dividir o teto por algum tempo, eu preciso saber como te chamar.
_ Não se preocupe comigo. - Ela disse e foi até o quarto que ocupava, procurando por roupas menos reveladoras que os tecidos finos de seu pijama.

Minutos depois, apropriadamente vestida, voltou para a cozinha onde se pôs a recolher as roupas para lavar. vigiou os passos da mulher até a área de serviço, agora com o vestido florido ela parecia uma jovem qualquer, passaria facilmente despercebida numa multidão. Ou talvez chamasse atenção pela beleza estranha que tinha, havia algo na tensão de suas sobrancelhas finas que ele provavelmente só tinha notado por saber o que ela fazia da vida que o fazia achá-la diferente.

_ Você não precisa me fazer companhia, Sr. . - Ela disse de costas enquanto enchia o tanque onde havia depositado as roupas.
_ Não estou fazendo por obrigação. Você me intriga.
_ E você deveria se manter longe de problemas, não acha?
_ Você não parece tão perigosa assim.
_ Diga isso pro homem que eu matei ontem. - O tom dela tinha um falso divertimento.
_ Falaram de você no jornal. Quer dizer, não exatamente de você, mas do que você fez. Dizem que foi um crime brutal.
_ Seu pai pediu uma cena.
_ Ah, ele teve uma cena e tanto. Agora faz sentido o uso da amônia. Eles disseram que até as paredes tinham sangue.
_ Ele tentou ligar pra polícia enquanto sangrava.
_ Você o matou acordado?
_ Acha que eu deveria ter esperado ele dormir? - Ela desviou sua atenção das roupas para ele.
_ Deve ser mais fácil, menos barulhento.
_ Não sou covarde assim. Ele merecia ao menos saber porque morreu. E se eu o matasse enquanto dormia facilitaria o trabalho da policia em traçar um perfil feminino.
_ Você pensa em tudo?
_ Não posso ter falhas, nem deixar nada escondido. A polícia gosta do jogo de gato e rato, a mídia adora cobrir tragédias, eu preciso de dinheiro… Tão simples como um mais um é igual a dois.
_ Você é tem uma mente e tanto.
_ É tudo muito simples, depois que você pega o ritmo da coisa.
_ Existem regras?
_ Claro.
_ De que tipo?
_ Você sabe... O básico que te mantenha vivo e fora das grades.
_ Não, não sei. Dê um exemplo.
_ O que ninguém vê, ninguém conta.
_ Testemunhas?
_ Testemunhas, álibis, chame como quiser. - Deu de ombros.
_ E se a testemunha for cega?
_ Ela também é surda? Se sim, não tem como dedurar. Talvez ela saia com vida.
_ Dois podem guardar um segredo se um estiver morto?
_ Exatamente.
_ Você sempre trabalha sozinha?
_ Você sempre pergunta demais? - Ela retrucou e ele riu, havia gostado dela.
_ Estou testando até onde posso perguntar para um assassino.
_ Num lugar onde se você morrer vão passar dias até descobrirem e vai dar tempo de eu sair pela porta da frente sem nenhuma preocupação? - Ela secou as mãos na saia do vestido e falou mais baixo quando passou por ele na porta. - Não me parece uma boa ideia.

E com isso ela voltou para o quarto.

Durante os dias em que ele esteve lá, ela só saia do quarto para comer e eles quase não interagiam. mentiria se dissesse que não dormia de porta trancada com medo que ela cumprisse sua ameaça velada. Ainda assim, ela o intrigava.
No dia em que ele deixou o apartamento, um bilhete deslizou por debaixo da porta dela. Um pedido.

“Sei que você não gosta muito da ideia, mas se ver meu pai antes de mim, pode dizer que estive aqui? Preciso de uma testemunha.”

Ela achou graça do uso de palavras, se um dia voltasse a ver Áron, atenderia ao pedido. E por algum motivo, quando o funcionário apareceu avisando-a que ela já poderia sair, o bilhete foi junto dela na mala.


Fim



Nota da autora: Esse ficstape veio a calhar pois eu precisava me redimir com esses personagens injustiçados. Espero que gostem! Eu amo demais essa energia caótica que uma história sobre crimes nos anos 40 passam.
O fim dessa história você pode ler no primeiro link na lista de Shortfics.
BRB.



Outras Fanfics:
Longfics:
- Hunting the Hunter
- Hunting the Corrupt
- Someone to Take the Blame
- Abstinência
- Parliamentarian

Shortfics:
- 14. Hope Is A Dangerous Thing For A Woman Like Me To Have - But I Have It
- Olhar 43
- 01.For a pessimist, I'm pretty optimistic
- Outra Dimensão
- Four-in-hand
- 02. Let it Whip
- 06. Bellas Regionals
- 14. Bad Medicine
- 04. Just Give Me A Reason
- 12. Only the Brave

- (Not) A Killer Machine - Series


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