Última atualização: 20/05/2018

Capítulo 1

suspirou, trocando o olhar entre os dois sabores de sucos em suas mãos. Todo dia, no caminho da escola para casa, ele parava na mesma loja de conveniência e comprava a mesma bebida. Naquele dia, estava com vontade de mudar, mas não se sentia seguro sobre sua decisão.
Ele já estava atrasado, já que havia passado algum tempo na biblioteca tentando resolver alguns exercícios impossíveis para a próxima aula de álgebra, e talvez sua mãe ficasse preocupada. Precisava decidir logo. Mordeu o lábio e girou uma das latas em suas mãos, analisando-a. As cores eram fortes, já que o sabor era cítrico, e ele não soube se o agradava tanto quanto pensou a primeira vista. Gastou mais alguns minutos fingindo que lia a embalagem, mas sua mente continuava pensando em outras coisas. Desistiu e devolveu a lata com conteúdo desconhecido para seu lugar original.
Jogou a mochila para frente, pronto para pegar sua carteira no primeiro bolso quando o sino tocando sobre a porta chamou sua atenção. Por cima das prateleiras, conseguiu enxergar o cabelo da garota que entrou. Reconheceu-a rapidamente, já que sempre a via trabalhando ali. Pegou o dinheiro da carteira, separando a quantia necessária, já que não gostava de atrasar as outras pessoas e foi em direção ao caixa. Aguardou pacientemente na pequena fila e não pôde evitar de retribuir o sorriso simpático que uma senhora lançou em sua direção quando fazia seu caminho para fora. Os dois estudantes em sua frente, que discutiam incessantemente qual seria a melhor maneira de derrotar um Tyranitar no Pokemon Go - obviamente um Machamp, apesar do baixinho de óculos insistir que conseguiria o mesmo efeito com um Hitmonlee - se aproximaram para pagar.


— Sinto muito pelo atraso, Sr. Jung. — a garota murmurou. — A professora demorou um pouco mais na explicação da última aula e acabei perdendo meu ônibus.
— Não se preocupe. — o senhor de meia-idade sorriu. — Vá se trocar para que possa assumir o meu lugar, tenho assuntos para resolver com o fornecedor. — Antes que a menina pudesse se mexer, o celular do homem começou a tocar e ele se levantou, atendendo-o. — Atenda-os, por favor. Estarei de volta num minuto. — murmurou, com a mão na frente do microfone do aparelho.

A garota assentiu e se colocou na frente do monitor, terminando de passar os produtos que os estudantes haviam escolhido. O mais alto interrompeu a discussão sobre Pokémons por um momento e pediu por outro produto, que estava na prateleira atrás da garota e ela assentiu, se virando para pegar a pequena escada escondida atrás do balcão. a observou atentamente, já que algo nela chamava sua atenção. O tom vermelho brilhante chamou sua atenção e ergueu o pescoço, quase ficando na ponta dos pés para confirmar o que via, não conseguiu evitar um sorriso ao ver que ela usava um converse vermelho de cano alto, igual ao seu. Ele não sabia exatamente o motivo, mas simplesmente adorava converses vermelhos. Principalmente em garotas. Talvez fosse pela simplicidade.
encarou timidamente os próprios sapatos, sujos e desgastados, enquanto a menina terminava de atender os outros dois adolescentes. Estava tão compenetrado pensando no que havia acabado de descobrir, que não percebeu quando os dois meninos foram embora, ainda discutindo sobre o jogo.

— Próximo? — a moça chamou baixo, tirando-o de seus devaneios.

Ele se desculpou e deu um passo à frente, envergonhado, colocando a lata de suco em cima do balcão cinza. Não conseguiu tirar os olhos da menina enquanto ela trabalhava. Mal podia acreditar que ela era uma delas. Mordeu o lábio para evitar outro sorriso indesejado e estendeu o troco quando ela anunciou o valor. Enquanto a menina procurava o troco na gaveta de moedas, leu o nome de sua escola estampado no uniforme, que infelizmente não era a mesma que a sua, para que pudesse pesquisar sobre quando chegasse em casa, já que era a única informação que conseguiria sem conversar com ela.
Agradeceu ao pegar o troco, sorrindo um pouco e pegou a lata de suco, se afastando. Antes que saísse da loja, ouviu que o senhor havia encerrado a ligação a estava de volta ao caixa. Fingiu estar distraído com outro produto e esperou a menina sair de trás do balcão e dar uma última olhada nos sapatos escarlate.


~*~



No dia seguinte, os minutos pareciam se arrastar cruelmente. Cada pequeno movimento os ponteiros do relógio acima da lousa pareciam um tremendo esforço para as engrenagens. Na sua opinião, o tempo chegava a ser uma piada do universo para os homens. Para piorar toda a situação, ele tinha uma aula extra naquele dia, que parecia especialmente longa. Quando o professor encerrou a aula, ele foi o primeiro aluno a sair pela porta, já que havia guardado o pouco material que fingiu usar com antecedência.
Pelo que havia pesquisado na noite anterior, a garota da loja não estudava muito longe dali. Eram apenas quinze minutos de ônibus até a loja de conveniência e, pelos seus cálculos, ela já estaria trabalhando. Diminuiu o ritmo da caminhada ao avistar a pequena loja e suspirou, sentindo como se finalmente pudesse respirar outra vez. Com sorte, conseguiria algum contato melhor naquele dia.
Pela grande janela, viu que só haviam duas pessoas dentro da loja e uma delas se dirigia para o caixa. Se ele fosse paciente, talvez conseguiria ficar a sós com ela. Não tinha nenhum outro plano em mente e aquela lhe pareceu ser uma boa estratégia. Encostou-se na parede e tirou a edição surrada de seu livro favorito da mochila, abrindo na página marcada e continuando a leitura, enquanto esperavam os clientes que estavam na loja saírem.
Após seis páginas e meia, que o acalmaram mais do que qualquer outra coisa conseguiria, o último cliente saiu e respirou fundo, guardando o livro que relia pela sétima vez. Conferiu seu reflexo na tela do celular e entrou na loja. Fez o caminho mais longo que pode, ziguezagueando pelos corredores até chegar aos sucos. Pegou o de sempre, já que precisava da segurança de algo conhecido naquele momento. Ao contrário do dia anterior, não pegou o dinheiro até que estivesse na frente da garota, para demorar mais. Ao estender a cédula, percebeu o livro azul aberto com as páginas para baixo. Mal podia acreditar no que estava vendo. Era uma versão muito mais nova e conservada do livro que estava em sua mochila. Um grande sorriso cresceu em seus lábios ao mesmo tempo em que sentia seu coração bater mais forte.


— O que está achando? — ele perguntou, indicando no livro com a cabeça.

Ela pareceu surpresa por alguns segundos e provavelmente estava, já que ficar atrás daquele balcão a tornava invisível para todas as pessoas.

— Eu gosto da escrita. — ela murmurou, encolhendo os ombros. — Mas ainda não formei uma opinião sobre o Holden. — completou. — Gosto de ter todas as informações antes de julgar algum personagem.

riu, concordando.

— Boa sorte com isso. Eu já li sete vezes e ainda não consegui formar uma boa opinião.
— Uau! Sério? — ela parecia genuinamente surpresa e isso quase o fez rir. — Eu não consigo reler livros, não sei se felizmente ou infelizmente. — ela encolheu os ombros enquanto contava o troco.
— Me dá uma nova perspectiva das coisas. — contou.
— Vou tentar qualquer dia. — ela garantiu, sorrindo antes de estender a mão com o dinheiro e a nota fiscal.
— Muito obrigado,… — ele espremeu os olhos para conseguir ler o nome na pequena placa com fundo preto e letras brancas presa na camiseta listrada que ela usava. — . — pronunciou com cuidado, repetindo diversas vezes mentalmente para garantir que não esqueceria. — Bom trabalho.
— Volte sempre. — as palavras clichê pareciam um pouco mais vivas pelo modo como ela falou e isso o deixou um pouco mais feliz. O rapaz sorriu torto e se afastou, sentindo seu coração afundar e pesar mais a cada passo. Rápido demais, ele pensou enquanto abria a porta e saia da loja de conveniência.


~*~



— Ela parece bem normal pra mim, cara. — deu de ombros ao ver a menina atrás do caixa pela grande janela do estabelecimento.
— Olha de novo. — insistiu, inquieto.
— Você realmente me fez perder o ensaio para vir aqui olhar uma garota?
!


Eles eram melhores amigos desde que conseguia se lembrar e não lhe contar sobre a paixão pela menina que visitava quase que religiosamente depois da aula durante uma semana foi uma das coisas mais difíceis que já havia feito. Após ser encurralado no dia anterior enquanto tentava sair da escola, tinha decidido que era hora de contar sobre seus sentimentos por .

— Ok, ok… — o mais velho suspirou, olhando-a novamente. — O cabelo dela é legal. E os olhos são bonitinhos. — murmurou com indiferença. — Hmm… Ela tem um sorriso matador ou algo do tipo? Parece um bom sorriso, mas não tenho certeza sem ver. É isso? Por que não entra lá e conta uma piada para que eu possa conferir?
— Não é o sorriso. — respondeu impaciente, trocando o peso do corpo para a outra perna.
— Corpo? Não dá pra ver muita coisa daqui. — arriscou, incerto.
— Olhe os pés.
— Pés?! Eu sempre achei que você gostasse de umas coisas diferentes, mas pés são demais para mim, . — fez uma careta e só então direcionou o olhar para o baixo. O balcão não era da altura do chão e ele riu ao vislumbrar os sapatos vermelhos que a menina usava. — Ah, isso faz muito mais sentido.
— O que você acha agora? — o outro perguntou, ansioso.
— Bem, ela parece ser o seu tipo. — encolheu os ombros.
— Você não está entendendo, Hobi, ela é, tipo, o amor da minha vida. — resmungou, frustrado. — Ela está lendo O Apanhador no Campo de Centeio. E ela usa converse. é perfeita.
— A boa e velha história do converse. — suspirou. — Tem algum plano? — o mais velho arqueou a sobrancelha.
— Pedi-la em casamento, talvez?
— Ok, garanhão, vamos com calma, você não quer assustá-la, certo? — riu, segurando o amigo pelos ombros. — Que tal pedir o número dela? Assim vocês podem conversar sobre qualquer outra coisa que não seja o preço do suco de uva ou troco errado.
— Ela nunca errou meu troco. — rebateu.
— Aposto que fica tão idiota depois de falar com ela que não lembra nem o próprio nome, você não conseguiria fazer contas. — o mais velho provocou e riu novamente ao ver o amigo revirar os olhos. — Você pode convidá-la para ir a algum lugar? Tomar um café? Ver um filme?
— Eu pensei em algo. Mas é idiota.
— Compartilhe comigo.
— Pensei em lhe dar um marca páginas. — encolheu os ombros. — Percebi que ela não tem um. E eu posso escrever algo nele, talvez?
— Isso, chame-a para sair. — sorriu orgulhoso.

concordou, receoso, e abriu sua mochila, pegando o marca página bege que havia encontrado em seu quarto e uma caneta preta. Se esforçou para fazer a melhor letra possível, sorrindo satisfeito com o resultado. O outro rapaz aprovou e praticamente o empurrou para dentro da loja. O olhar atento de logo estava em e ele se sentiu envergonhado ao caminhar até o caixa.

— Nenhum suco hoje? — ela perguntou, sorrindo de lado.
— Eu tenho algo para você. — ele murmurou, rapidamente deslizando o marcador pelo balcão.

Ela parecia surpresa com a objetividade do garoto, puxando o marcador para mais perto e o analisando. Só então percebeu que ela usava menos maquiagem naquele dia e vestia apenas uma camiseta branca e calça jeans. Simplesmente maravilhosa, pensou.

— Então… — ela murmurou calmamente após ler o bilhete. — você quer tomar um café comigo?
— Sim. — precisou se esforçar para conseguir olhá-la nos olhos naquele momento.
— Depende.
— Do quê?
— Pretende usar seu converse vermelho? — ela questionou, ligeiramente envergonhada. — Por que eu tenho um fraco por ele.

Ele riu, sem acreditar em suas palavras e assentiu. O universo tinha uma maneira de fazer as coisas darem certo, afinal.





Fim



Nota da autora: Sem nota.





Outras Fanfics:
Afire
01. Intro: Serendipity
11. High Hopes

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