Capítulo Único
Quando ele ligou naquela tarde, percebeu que algo na voz de estava diferente, mas não soube identificar o quê. Tudo o que fez naquela tarde não foi capaz de tirar seus pensamentos do tom de voz do namorado e as horas pareciam se arrastar vagarosamente nos ponteiros do relógio.
Em três anos de relacionamento, o casal já havia passado por altos e baixos, era de certo que depois de tanto tempo todos esperavam o noivado. Mas ambos estavam bem do jeito que estavam, sabiam que noivar agora seria um passo além da perna.
Mas durante o tempo que estavam juntos, nunca usara aquele tom e aquilo estava quase fazendo-a arrancar os próprios cabelos. Havia sim algo de errado e nada lhe provaria o contrário até encontrá-lo naquele fim de tarde.
O relógio de ponteiro da cozinha marcava seis e 38 da tarde quando recebeu a mensagem que avisava que o homem estava na porta.
_ Oi, amor! - Ela saudou quando abriu a porta da frente.
_ Oi, como você está? – Perguntou, dando um abraço na garota somente com um braço enquanto o outro segurava o capacete.
_ Preocupada! Aconteceu alguma coisa? - Perguntou enquanto dava espaço para o namorado entrar.
_ A gente precisa conversar. - Ele disse sem rodeios e sentiu um calafrio atravessar seu corpo.
O casal se sentou no sofá da sala, naquela semana, os pais de , com os quais ela ainda morava, haviam viajado para comemorar as bodas de casamento e ela se encontrava sozinha. Teriam privacidade em qualquer cômodo da casa.
_ Eu não estive sendo sincero com você nos últimos tempos. - começou e a mulher sentiu o peito se comprimir. - Eu não vou enrolar, porque não tenho como te dar uma explicação plausível para isso. - Ele pausou e deu um suspiro para reunir a coragem necessária para contar. - Eu tive um filho.
_ Você escondeu um filho de mim por três anos? - Ela perguntou chocada.
_ Ele nasceu faz um mês.
_ Você esteve com outra enquanto estava comigo, então. - Ela resumiu com a voz magoada.
_ Me desculpa, eu não queria te magoar…
_ Esse é o seu jeito de não me magoar, ? - Ela perguntou sentindo a voz embargar. - Transando com qualquer uma, tendo um filho, escondendo a porra da gestação?
_ …
_ Vai embora, eu não quero mais olhar na sua cara.
_ Me perdoa.
_ Vai embora, . - As palavras cortavam-lhe a garganta ao saírem. Geladas, sem nenhuma emoção.
_ Vamos conversar, não vamos jogar tudo fora agora…
_ Você não quer jogar tudo fora? - Ela riu incrédula. - Você é realmente um filho da puta, eu devia ter ouvido a Jocelyn.
_ Você está sendo injusta.
_ Injusta? Caralho, . Você. Me. Traiu. O que você quer? Nos faça um favor e vai embora daqui.
_ Por favor, .
_ Vai embora agora. - Pediu se direcionando até a porta.
Sem ter como argumentar, pegou o capacete que estava perto de seus pés no chão e saiu da casa com a cabeça baixa.
_ Pelo menos cuida bem da criança. - Ela pediu antes de fechar a porta e trancá-la.
Correu até seu quarto e se jogou na cama, em poucos segundos os soluços altos preenchiam o quarto. Nunca pensou que estaria nessa situação.
Naquela altura do campeonato pensou que já estivesse imune a dramas adolescentes, mas ali estava jogada no mesmo quarto de sempre, chorando as dores provocadas por alguém que gostava com todo coração.
-
Os dias se passaram e ver nas redes sociais a família do ex-namorado falando sobre o filho do mesmo, ao contrário do que pensou, lhe aquecia o que restara coração. O bebê que nada tinha a ver com a falta de caráter do pai. seria amado por aqueles a quem ela se afeiçoou durante os três anos de convivência e isso lhe acalentava.
Fora machucada por , isso era um fato completamente inegável.
Mas aprenderia a viver sem ele ocupando um espaço em seus dias, assim como havia vivido anos antes.
Agora ele precisaria, como pai, ser tudo o que não foi como namorado, pelo menos era isso que ela desejava. Que o menino que havia lhe causado o pior coração partido de sua vida, pelo menos fosse amado e bem cuidado incondicionalmente pelo responsável de sua existência.
Ainda sentia falta das mensagens e ligações frequentes do rapaz, dos fins de semana com a família dele, das conversas completamente sem noção que tinha com a prima mais nova do rapaz e do tempero da mãe do mesmo. Era óbvio que seria devagar, mas não seria impossível.
Seria complicado também, ainda mais se as ligações de continuassem a deixá-la tentada em ouvir explicações e quem sabe perdoá-lo. Essas ligações eram frequentes, mais de uma vez por dia, todos os dias desde que ele saiu de sua casa pela última vez. Mas ela não atendeu nenhuma. Nem mesmo as mensagens de texto foram lidas. Sua curiosidade ainda não era maior que a mágoa.
E a mágoa é um sentimento complicado de lidar, mágoa é ressentimento guardado. Mas afinal, de que adiantaria gritá-lo a plenos pulmões se de nada serviria os gritos para reconstruir seu coração em frangalhos?
-
“Eu sei que você deve estar puta comigo, mas eu sinto sua falta.” - A voz de dizia mansa na gravação.
A mansidão era rotineira depois de fazer alguma besteira, mas daquela vez havia sido em outro nível. Uma criança. Nem se fosse a própria Imaculada Virgem Maria seria capaz de perdoar essa traição. Ou talvez se fosse um pouquinho mais trouxa.
_ Não, sem chance. Eu tenho uma mínima dignidade. - disse em voz alta, jogando o aparelho na cama e se virando para encarar o teto.
_ Filha?
_ Eu estava mandando um áudio, mãe. - Explicou para a mulher que colocou a cabeça para dentro do quarto.
_ Você está bem?
_ Sim, tomando coragem para ir pra academia.
_ Pois vá!
_ Estou com preguiça. - Falou com um tom desanimado e viu a mãe entrar que caminhar até a cama se sentando na beirada.
_ , eu imagino que deve estar sendo uma barra passar por isso, mas você tem que tocar sua vida adiante, minha filha. Ele fez uma cagada? Ele que arque com as consequências disso, o erro não é seu, não se martirize por isso, ok? Agora levanta daí e vai malhar que você não está pagando academia atoa.
E ela ouviu a mãe.
-
_ Ah, oi ! - Ela cumprimentou de volta, virando para o rapaz que tinha um garotinho no colo. - Quanto tempo, né?
_ Sim! - Ele dizia quase como se não acreditasse que ela estava bem ali, na frente dele naquele corredor de supermercado. - Como você está? Esse aqui é o Ethan.
_ Eu estou bem! E vocês?
_ Bem. - Respondeu ainda inseguro se puxava ou não algum assunto. Resolveu que ao menos tentaria. - Eu sei que já se passou muito tempo, mas me desculpa por tudo.
_ Isso já passou, eu segui em frente, você seguiu em frente. Somos outras pessoas agora.
_ Eu estraguei uma coisa muito importante pra mim.
_ É, você estragou uma coisa muito importante pra nós dois. Mas a merda já foi feita, as coisas não podem ser mudadas agora, você escolheu assim. - Ela respondeu de uma vez e suspirou, olhando ao redor no corredor de biscoitos do supermercado, rezando para que alguém lhe puxasse daquela situação antes que jogasse mais alguma coisa na cara dele.
_ Espero que você consiga me perdoar.
_ Já se foram dois anos, né? Eu segui em frente, pode ficar tranquilo. O buraco que você fez já está tampado.
_ É bom ver que você está bem.
_ Nunca pensei que eu fosse ficar, mas eu coloquei tudo no lugar. Espero que faça o mesmo.
_ Eu estou… - Ele começou a falar, mas foi interrompido pelo celular dela que tocou.
Um momento muito propício para lhe ligar, e ela quase atendeu já agradecendo ao namorado por lhe salvar daquele momento desastroso, mas apenas atendeu e se despediu rapidamente do rapaz a sua frente, continuando suas compras.
-
vez ou outra se lembra de , e pensa em como ele deve estar agora com o filho, se ainda estava com a mãe do menino. Lembrou-se dele quando foi pedida em namoro por , e vez ou outra comparava o comportamento do atual com o ex em sua cabeça. Lembrou dele no noivado, e horas antes da cerimônia de casamento. Pensou em como não abriu mão de nada que sonhara desde antes de se relacionar com . A faculdade, o emprego como delegada, a casa com quintal para os cachorros correrem sem medo de ser feliz, os almoços com os pais nos fins de semana, as viagens de casal.
Quando descobriu a gravidez e discutiu nomes com o marido, um dos primeiros que ele sugeriu foi , pensando no Skywalker, mas foi rapidamente refutado.
_ Vai sair de mim, eu escolho o nome. - Ela disse, acabando a conversa fazendo o marido rir e abraçá-la.
_ Até se a gente fosse cavalos marinhos, amor. Você quem manda, Delegada . - Beijou a bochecha da mulher que abriu um sorriso que quase lhe alcançou as orelhas.
_ Que bom que você sabe, e se não me obedecer, vai parar atrás das grandes. - Ela segurou o marido pelo colarinho.
_ Minha única razão de viver é lhe agradar.
Em três anos de relacionamento, o casal já havia passado por altos e baixos, era de certo que depois de tanto tempo todos esperavam o noivado. Mas ambos estavam bem do jeito que estavam, sabiam que noivar agora seria um passo além da perna.
Mas durante o tempo que estavam juntos, nunca usara aquele tom e aquilo estava quase fazendo-a arrancar os próprios cabelos. Havia sim algo de errado e nada lhe provaria o contrário até encontrá-lo naquele fim de tarde.
O relógio de ponteiro da cozinha marcava seis e 38 da tarde quando recebeu a mensagem que avisava que o homem estava na porta.
_ Oi, amor! - Ela saudou quando abriu a porta da frente.
_ Oi, como você está? – Perguntou, dando um abraço na garota somente com um braço enquanto o outro segurava o capacete.
_ Preocupada! Aconteceu alguma coisa? - Perguntou enquanto dava espaço para o namorado entrar.
_ A gente precisa conversar. - Ele disse sem rodeios e sentiu um calafrio atravessar seu corpo.
O casal se sentou no sofá da sala, naquela semana, os pais de , com os quais ela ainda morava, haviam viajado para comemorar as bodas de casamento e ela se encontrava sozinha. Teriam privacidade em qualquer cômodo da casa.
_ Eu não estive sendo sincero com você nos últimos tempos. - começou e a mulher sentiu o peito se comprimir. - Eu não vou enrolar, porque não tenho como te dar uma explicação plausível para isso. - Ele pausou e deu um suspiro para reunir a coragem necessária para contar. - Eu tive um filho.
_ Você escondeu um filho de mim por três anos? - Ela perguntou chocada.
_ Ele nasceu faz um mês.
_ Você esteve com outra enquanto estava comigo, então. - Ela resumiu com a voz magoada.
_ Me desculpa, eu não queria te magoar…
_ Esse é o seu jeito de não me magoar, ? - Ela perguntou sentindo a voz embargar. - Transando com qualquer uma, tendo um filho, escondendo a porra da gestação?
_ …
_ Vai embora, eu não quero mais olhar na sua cara.
_ Me perdoa.
_ Vai embora, . - As palavras cortavam-lhe a garganta ao saírem. Geladas, sem nenhuma emoção.
_ Vamos conversar, não vamos jogar tudo fora agora…
_ Você não quer jogar tudo fora? - Ela riu incrédula. - Você é realmente um filho da puta, eu devia ter ouvido a Jocelyn.
_ Você está sendo injusta.
_ Injusta? Caralho, . Você. Me. Traiu. O que você quer? Nos faça um favor e vai embora daqui.
_ Por favor, .
_ Vai embora agora. - Pediu se direcionando até a porta.
Sem ter como argumentar, pegou o capacete que estava perto de seus pés no chão e saiu da casa com a cabeça baixa.
_ Pelo menos cuida bem da criança. - Ela pediu antes de fechar a porta e trancá-la.
Correu até seu quarto e se jogou na cama, em poucos segundos os soluços altos preenchiam o quarto. Nunca pensou que estaria nessa situação.
Naquela altura do campeonato pensou que já estivesse imune a dramas adolescentes, mas ali estava jogada no mesmo quarto de sempre, chorando as dores provocadas por alguém que gostava com todo coração.
Os dias se passaram e ver nas redes sociais a família do ex-namorado falando sobre o filho do mesmo, ao contrário do que pensou, lhe aquecia o que restara coração. O bebê que nada tinha a ver com a falta de caráter do pai. seria amado por aqueles a quem ela se afeiçoou durante os três anos de convivência e isso lhe acalentava.
Fora machucada por , isso era um fato completamente inegável.
Mas aprenderia a viver sem ele ocupando um espaço em seus dias, assim como havia vivido anos antes.
Agora ele precisaria, como pai, ser tudo o que não foi como namorado, pelo menos era isso que ela desejava. Que o menino que havia lhe causado o pior coração partido de sua vida, pelo menos fosse amado e bem cuidado incondicionalmente pelo responsável de sua existência.
Ainda sentia falta das mensagens e ligações frequentes do rapaz, dos fins de semana com a família dele, das conversas completamente sem noção que tinha com a prima mais nova do rapaz e do tempero da mãe do mesmo. Era óbvio que seria devagar, mas não seria impossível.
Seria complicado também, ainda mais se as ligações de continuassem a deixá-la tentada em ouvir explicações e quem sabe perdoá-lo. Essas ligações eram frequentes, mais de uma vez por dia, todos os dias desde que ele saiu de sua casa pela última vez. Mas ela não atendeu nenhuma. Nem mesmo as mensagens de texto foram lidas. Sua curiosidade ainda não era maior que a mágoa.
E a mágoa é um sentimento complicado de lidar, mágoa é ressentimento guardado. Mas afinal, de que adiantaria gritá-lo a plenos pulmões se de nada serviria os gritos para reconstruir seu coração em frangalhos?
“Eu sei que você deve estar puta comigo, mas eu sinto sua falta.” - A voz de dizia mansa na gravação.
A mansidão era rotineira depois de fazer alguma besteira, mas daquela vez havia sido em outro nível. Uma criança. Nem se fosse a própria Imaculada Virgem Maria seria capaz de perdoar essa traição. Ou talvez se fosse um pouquinho mais trouxa.
_ Não, sem chance. Eu tenho uma mínima dignidade. - disse em voz alta, jogando o aparelho na cama e se virando para encarar o teto.
_ Filha?
_ Eu estava mandando um áudio, mãe. - Explicou para a mulher que colocou a cabeça para dentro do quarto.
_ Você está bem?
_ Sim, tomando coragem para ir pra academia.
_ Pois vá!
_ Estou com preguiça. - Falou com um tom desanimado e viu a mãe entrar que caminhar até a cama se sentando na beirada.
_ , eu imagino que deve estar sendo uma barra passar por isso, mas você tem que tocar sua vida adiante, minha filha. Ele fez uma cagada? Ele que arque com as consequências disso, o erro não é seu, não se martirize por isso, ok? Agora levanta daí e vai malhar que você não está pagando academia atoa.
E ela ouviu a mãe.
_ Ah, oi ! - Ela cumprimentou de volta, virando para o rapaz que tinha um garotinho no colo. - Quanto tempo, né?
_ Sim! - Ele dizia quase como se não acreditasse que ela estava bem ali, na frente dele naquele corredor de supermercado. - Como você está? Esse aqui é o Ethan.
_ Eu estou bem! E vocês?
_ Bem. - Respondeu ainda inseguro se puxava ou não algum assunto. Resolveu que ao menos tentaria. - Eu sei que já se passou muito tempo, mas me desculpa por tudo.
_ Isso já passou, eu segui em frente, você seguiu em frente. Somos outras pessoas agora.
_ Eu estraguei uma coisa muito importante pra mim.
_ É, você estragou uma coisa muito importante pra nós dois. Mas a merda já foi feita, as coisas não podem ser mudadas agora, você escolheu assim. - Ela respondeu de uma vez e suspirou, olhando ao redor no corredor de biscoitos do supermercado, rezando para que alguém lhe puxasse daquela situação antes que jogasse mais alguma coisa na cara dele.
_ Espero que você consiga me perdoar.
_ Já se foram dois anos, né? Eu segui em frente, pode ficar tranquilo. O buraco que você fez já está tampado.
_ É bom ver que você está bem.
_ Nunca pensei que eu fosse ficar, mas eu coloquei tudo no lugar. Espero que faça o mesmo.
_ Eu estou… - Ele começou a falar, mas foi interrompido pelo celular dela que tocou.
Um momento muito propício para lhe ligar, e ela quase atendeu já agradecendo ao namorado por lhe salvar daquele momento desastroso, mas apenas atendeu e se despediu rapidamente do rapaz a sua frente, continuando suas compras.
vez ou outra se lembra de , e pensa em como ele deve estar agora com o filho, se ainda estava com a mãe do menino. Lembrou-se dele quando foi pedida em namoro por , e vez ou outra comparava o comportamento do atual com o ex em sua cabeça. Lembrou dele no noivado, e horas antes da cerimônia de casamento. Pensou em como não abriu mão de nada que sonhara desde antes de se relacionar com . A faculdade, o emprego como delegada, a casa com quintal para os cachorros correrem sem medo de ser feliz, os almoços com os pais nos fins de semana, as viagens de casal.
Quando descobriu a gravidez e discutiu nomes com o marido, um dos primeiros que ele sugeriu foi , pensando no Skywalker, mas foi rapidamente refutado.
_ Vai sair de mim, eu escolho o nome. - Ela disse, acabando a conversa fazendo o marido rir e abraçá-la.
_ Até se a gente fosse cavalos marinhos, amor. Você quem manda, Delegada . - Beijou a bochecha da mulher que abriu um sorriso que quase lhe alcançou as orelhas.
_ Que bom que você sabe, e se não me obedecer, vai parar atrás das grandes. - Ela segurou o marido pelo colarinho.
_ Minha única razão de viver é lhe agradar.
Fim.
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta: Ah, adoro ver histórias de superação! Muito lindinha, Carou! <3
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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