Capítulo Único

Aquele era mais um dia que chegava em sua casa exausta. Exausta da faculdade, do trabalho, dos amigos que mal lhe davam atenção, do espaço em que morava, de sua rotina. Estava exausta da sua vida. Fazia alguns anos que ela lutava contra aquele sentimento dentro de si. Nunca sabia se estava fazendo a coisa certa ou não, se deveria fazer o que passava em sua cabeça ou se deveria seguir o caminho típico que todas as pessoas seguem. Mas não era como todas as outras pessoas.
Ela tentava procurar em seu celular uma escapatória de tudo o que sentia, precisava de uma fuga. Mas ao olhar suas redes sociais, ficou mais agoniada, os aplicativos de mensagens também não a deixavam tranquila. Em dias como aquele tudo o que queria era jogar o aparelho para muito longe.
Naquele dia em específico, tinha surtado em seu trabalho e nem ao menos sabia o porquê. Ela não estava mais aguentando toda a agonia que sentia dentro de si, era como se aquele sentimento obscuro sugasse todas as suas energias e não a deixasse fazer mais nada além de ficar deitada em sua cama ouvindo música e chorando. Talvez devesse ter passado num supermercado e comprado alguns doces e algumas bebidas.

Tinha apenas 19 anos quando fora diagnosticada com Ansiedade e Depressão, aquelas duas palavras que tanto a transtornavam, mas, também, tanto a definiam. Começou seu tratamento com essa idade, formou toda uma rotina entre psiquiatra e terapeutas. Tomava remédios que pareciam não terem efeito algum. Às vezes, sentia-se na obrigação de mentir para seus pais que estava melhorando, porém, no fundo no fundo, sabia que algo dentro de si não a permitia melhorar. Ela queria desistir, mas ela simplesmente não podia.
Medo era uma palavra que podia muito bem defini-la. Na verdade, sentia o medo misturado ao seu sangue, percorrendo todo o seu corpo. Tinha medo de tomar decisões, medo de se arrepender, medo de ser feliz, de se apaixonar. Tinha medo até em pequenas ações, como ir para um lugar não tão conhecido somente de transporte público. nunca fora muito segura de si, segura de suas atitudes. Sempre ficava com um pé atrás em cada movimento que fazia.
O medo sempre se apoderava dela, a assombrava até em momentos que deveriam ser tranquilos para qualquer pessoa. tinha medo de ficar sozinha, por isso toda as noites chorava até dormir, aliás, só conseguia dormir se tivesse a televisão ligada, dando a sensação de alguma companhia.
Era estranho todo o misto de sentimento que ela tinha dentro de si. A sua cabeça nunca parava, sempre pensando no seu futuro incerto, pensamento que estava cercado de pessimismo. nunca conseguia olhar o copo meio cheio, para ela, ele sempre se encontraria meio vazio.
As poucas certezas que ela tinha em sua vida era a música. Desde pequena sempre amou ouvir músicas e, conforme ia crescendo, foi se apaixonando por vários artistas que apareceram em sua vida. A música era realmente uma válvula de escape.
já havia pensando em se matar diversas vezes e de diferentes formas. Poderia se matar enforcada com uma corda, com um corte em seu pescoço, ou, então, poderia simplesmente tomar várias doses de seu antidepressivo, que com certeza teria um rápido efeito e ninguém conseguiria a salvá-la.
Mas, ao mesmo tempo em que se sentia um peso para seus pais, ela sabia que sua morte apenas traria mais dor para a família. Não seria justo com eles que ela tirasse sua própria vida a fim de um alivio na dor que sentia e os deixasse sofrendo com a dor do luto.

Três anos depois, ela ainda continuava com os mesmos sentimentos, com o mesmo medo – talvez, até maior do que antes –, com a mesma angústia, com o mesmo desanimo. Os remédios não pareciam fortes o suficiente, a sensação que a bebida trazia era apenas ilusória, e ela sabia disso, por isso evitava beber sozinha.

Aquele era apenas um dos dias que pensava em toda a sua vida, no que tinha feito para chegar até ali. Não era fácil ter que lidar com a dor em seu peito e ter que receber os olhares de pena que sua família lhe dava. Família, a qual, muitas vezes, não sentia encaixar-se.
era assim, um dia estava bem, no outro também. Mas, em outros, sua saúde mental sugava todo o seu ânimo e fazia com que ela só quisesse dormir. Um dia ela ficaria bem, ficaria melhor, todo mundo falava isso, ela só precisava acreditar.




FIM



Nota da autora: Oi gente!!! Espero que vocês tenham gostado deste breve relato.
Minha ideia inicial era fazer uma história que envolveria mais pessoas e como uma pp com essas doenças lida em seu dia a dia. Mas ao sentar para escrever, surgiu este relato que é como eu me sinto e tals. A história é realmente verdadeira, com alguns detalhes acrescidos.
In My Blood é uma música que sempre me acalma e me ajuda quando eu passo por um momento de baixa, assim como diversas outras.
desde que eu terminei de escrever, eu fiquei pensando se era mais ou menos desta forma que o Shawn se sentiu quando escreveu, porque, para mim, fez muito bem colocar esses sentimentos para fora.
Por fim, se você possui estas doenças, saiba que está tudo bem! Você não é covarde se precisar buscar ajuda, todos temos uma fraqueza e a Depressão, bem como a Ansiedade, são como qualquer outra doença, ou seja, se forem tratadas e tiverem acompanhamento médico, elas são curadas.
Obrigada por todo mundo que leu até aqui!





Outras Fanfics:
06. Ruin The Friendship - Ficstape Tell Me You Love Me
Love By Poets - Originais
Destiny Is Fun - Originais


comments powered by Disqus