Prólogo
Charles disse que eu deveria aproveitar aquela noite, mas me sentia tão cansado daquilo.
Estava saturado, distraído em meio a falsidade ao me redor, aos sugadores que extraiam confiança por fama. Podia ver meu empresário conversando com Adam Levins, outro cara que gerenciava a carreira de uma pequena banda feminina de rock em ascensão, podia ver os lábios de Charles moldados em um grande sorriso audacioso, e eu sabia que ele estava aprontando alguma. Porém, já não queria saber, não me importava — não mais.
Estava fora dos trilhos, moldando minha vida segundo os padrões que Los Angeles ditava.
Ao meu lado, Caterina Evans tentava me incluir em uma conversa desinteressante, sem perceber que eu não queria aquilo, não queria estar ali. Havia máscaras demais sobre os rostos daquelas pessoas, cobertas por mentiras convenientes. Eram todas uma fraude.
Eu era uma fraude.
Não suportava esses eventos, aquelas pessoas, a situação. Queria estar em casa jogando meu vídeo game com Henry e Freddy, os guitarristas da Red Champions of Tomorrow, comendo uma pizza, enquanto entornávamos cervejas geladas que eu tinha comprado desde o início da semana. Queria estar vestindo a minha camisa do Harry Potter, na qual a banda tanto implicava comigo, invés daquele terno desconfortável.
Não pertencia aquele lugar, não daquela forma, ao menos.
Não era eu.
Sentia meus músculos rígidos e a pressão sanguínea parecia estar subindo, estava incomodado, minha cabeça latejava em meio a todo aquele burburinho, entretanto, sorri quando todo mundo fez isso também, durante um assunto que eu não havia prestado atenção o suficiente para saber do que se tratava.
Estava sufocando, o ar parecia ter se tornado rarefeito e a gravata estava me apertava ao ponto de achar que não conseguia respirar.
Eu precisava sair dali.
Foi então que, em meu bolso, senti o celular vibrar, sinalizando uma nova notificação, o que me fez pesca-lo rapidamente. Na tela, anunciava uma nova mensagem, na qual eu abri sem se quer prestar tanta atenção em quem era o remetente:
Hey, bro, espero que ainda esteja tudo certo para a semana que vem!
Meus lábios se moldaram em um sorriso ao ver a mensagem que logo identifiquei como sendo de Johnny, meu vizinho e amigo desde que eu tinha 5 anos de idade. O cara estava morando em uma pequena cidade da zona rural de Londres, Wester Bonsk — que, segundo o Google, era realmente muito pequena — e era a primeira vez desde a última turnê com a banda que eu conseguiria visitá-lo.
Estava animado com isso, e aparentemente ele também.
Voltei-me a monótona festa antes de responder o John, vendo quando Charles acenou para mim com uma sobrancelha arqueada, parecendo me convidar a se juntar a ele. Foi então que uma ideia surgiu na minha cabeça, algo que eu já tinha pensado, mesmo nunca tendo coragem para colocar em pratica.
Mas agora seria diferente.
Eu precisava sair daqui, daquela cidade que ditava como eu deveria ser para merecer estar ali. Precisava de mais, estava cansado daquela merda, e definitivamente precisava de umas férias.
Estava saturado, distraído em meio a falsidade ao me redor, aos sugadores que extraiam confiança por fama. Podia ver meu empresário conversando com Adam Levins, outro cara que gerenciava a carreira de uma pequena banda feminina de rock em ascensão, podia ver os lábios de Charles moldados em um grande sorriso audacioso, e eu sabia que ele estava aprontando alguma. Porém, já não queria saber, não me importava — não mais.
Estava fora dos trilhos, moldando minha vida segundo os padrões que Los Angeles ditava.
Ao meu lado, Caterina Evans tentava me incluir em uma conversa desinteressante, sem perceber que eu não queria aquilo, não queria estar ali. Havia máscaras demais sobre os rostos daquelas pessoas, cobertas por mentiras convenientes. Eram todas uma fraude.
Eu era uma fraude.
Não suportava esses eventos, aquelas pessoas, a situação. Queria estar em casa jogando meu vídeo game com Henry e Freddy, os guitarristas da Red Champions of Tomorrow, comendo uma pizza, enquanto entornávamos cervejas geladas que eu tinha comprado desde o início da semana. Queria estar vestindo a minha camisa do Harry Potter, na qual a banda tanto implicava comigo, invés daquele terno desconfortável.
Não pertencia aquele lugar, não daquela forma, ao menos.
Não era eu.
Sentia meus músculos rígidos e a pressão sanguínea parecia estar subindo, estava incomodado, minha cabeça latejava em meio a todo aquele burburinho, entretanto, sorri quando todo mundo fez isso também, durante um assunto que eu não havia prestado atenção o suficiente para saber do que se tratava.
Estava sufocando, o ar parecia ter se tornado rarefeito e a gravata estava me apertava ao ponto de achar que não conseguia respirar.
Eu precisava sair dali.
Foi então que, em meu bolso, senti o celular vibrar, sinalizando uma nova notificação, o que me fez pesca-lo rapidamente. Na tela, anunciava uma nova mensagem, na qual eu abri sem se quer prestar tanta atenção em quem era o remetente:
Hey, bro, espero que ainda esteja tudo certo para a semana que vem!
Meus lábios se moldaram em um sorriso ao ver a mensagem que logo identifiquei como sendo de Johnny, meu vizinho e amigo desde que eu tinha 5 anos de idade. O cara estava morando em uma pequena cidade da zona rural de Londres, Wester Bonsk — que, segundo o Google, era realmente muito pequena — e era a primeira vez desde a última turnê com a banda que eu conseguiria visitá-lo.
Estava animado com isso, e aparentemente ele também.
Voltei-me a monótona festa antes de responder o John, vendo quando Charles acenou para mim com uma sobrancelha arqueada, parecendo me convidar a se juntar a ele. Foi então que uma ideia surgiu na minha cabeça, algo que eu já tinha pensado, mesmo nunca tendo coragem para colocar em pratica.
Mas agora seria diferente.
Eu precisava sair daqui, daquela cidade que ditava como eu deveria ser para merecer estar ali. Precisava de mais, estava cansado daquela merda, e definitivamente precisava de umas férias.
Capítulo Único
Era estranho ser eu depois de tanto tempo vestindo um personagem. As peças se encaixavam mais uma vez, e conseguia respirar.
Charles estava me mandando mensagens desde a semana passada, quando cheguei em Wester Bonsk, porém ignorei todas elas, assim como as suas ligações.
Aquela era minha maldita férias! Que se dane Los Angeles e todo o resto durante esse meio tempo.
Estava sentado com Johnny no Queen's, um pequeno bar que havia perto da sua casa. O barman — suspeitava que fosse o único também — havia trazido uma cerveja para a gente, enquanto assistíamos a um jogo qualquer na TV. Queríamos jogar bilhar, contudo, a mesa já estava ocupada quando chegamos e agora esperávamos a nossa vez.
Ademais, o bar estava mais cheio do que os outros dias em que vim, já que aparentemente era noite de karaokê, uma das poucas diversões naquela zona bucólica.
Suspirei, um pouco incomodado com o crescente número de pessoas a nossa volta, levando o copo em minhas mãos até os lábios e ingerindo um pouco da cerveja ainda gelada, melando a grande barba — que agora ostentava — no processo. À minha frente, Johnny riu de uma coisa na televisão, roubando minha atenção para o jogo novamente.
Na tela, um jogador de um time local comemorava em meio a um gol, depois de uma falha do goleiro. As maças do rosto de meu amigo estavam vermelhas e o cabelo cobre bagunçado, os olhos tinham um brilho divertido, embora também estivessem um pouco distante, denunciando que ele já estava meio bêbado.
Era o mesmo de sempre: um pouco idiota e ainda com problemas com bebidas.
Então, de repente, sua atenção voltou-se a mim, seus olhos se estreitaram e ele falou, ainda em meio a risadas:
— Você precisa fazer essa barba, cara. — Revirei os olhos. Eu sabia que estava ruim, mas não podia me importar menos. A barba era simbólica, era bom finalmente fazer algo que eu quisesse.
— E você deveria parar de beber tanto assim — apontei. Por um momento, ele pareceu indignado, contudo, nada que realmente me preocupasse.
Afinal, aquele era Johnny.
De qualquer forma, um som ressoou no meio do bar, um atendente havia ligado o karaokê e parecia que a diversão finalmente iria começar.
— Bem-vindos a mais uma sexta-feira musical — saudou, parecendo animado, embora eu duvidasse disso. Então, pegou um papel que estava guardado no bolso e continuou. — Para iniciamos a noite, teremos Domino, da Jessie J!
Um grupo perto do pequeno palco começou, então, a bater palmas e assobiar após o atendente anunciar a primeira musica.
Duas meninas se levantaram. Vi as bochechas vermelhas de uma delas, de cabelos morenos, parecendo estar contrariada ao ser arrastada pela amiga até a frente. Ela era linda mesmo um pouco distante. Parecia perdida em meio aqueles jovens no Queen's, vestia um vestido longo e simples, completado apenas por algumas bijuterias que a adornava, o cabelo preso de lado em uma trança diferente. Mas era os olhos, tão inocentes e confusos, que me encantou, e o pequeno sorriso torto que ela ostentava que não me deixava olhar para nada além dela.
Então, a música começou.
A amiga do lado dela parecia ser divertir nos primeiros acordes, balançando o corpo de um lado a outro no ritmo que saía das caixas de sons, os amigos na mesa assobiavam, e pude ouvi alguns comentários sexistas direcionados a si assim que ela começou a cantar os primeiros versos, revelando não ser tão ruim.
Porém, eu ainda estava focado na morena tímida, seus olhos estavam voltados para baixo e as maçãs do rosto pareciam ainda mais vermelhas enquanto a amiga avançava na música. Estava claramente desconfortável.
De qualquer maneira, em meio a forma como elas haviam dividido a música, ela começou a cantar.
E não poderia ter sido pior.
Ela tinha um timbre doce, todavia, era muito desafinada, estava perdida em meio ao ritmo da melodia e as palavras estavam sendo atropeladas ao saírem de sua boca. A amiga rapidamente começou a cantar junto com ela, lhe lançando um olhar divertido.
— Eu disse que não conhecia essa música — sussurrou para a amiga em uma justificativa, porém perto demais do microfone para que sua voz ressoasse por todo o ambiente.
Sorri, virando-me para Johnny.
— Quem é ela? — perguntei, vendo que ele também prestava atenção na apresentação das garotas.
Uma de suas sobrancelhas arqueou ao se virar em minha direção. Tinha a testa franzida, e não entendi a sua reação.
— Quem? A Day? — questionou.
Ergui meu lábio superior em diversão. Eu não sabia quem era Day! Não conhecia ninguém ali além dele!
— Qual delas é a Day?
Seus olhos se estreitaram, e o vi apontando para a garota em que eu observava desde o início da apresentação. Apenas assenti, confirmando. Entretanto, vi quando Johnny maneou a cabeça, a mão apertando-se em volta do copo com mais força do que o necessário.
— Ela não é para o seu bico, cara — disse, bebendo um pouco da sua cerveja em seguida
Oras, mas quem era ele para decidir isso, afinal? Eu estava encantado e apenas gostaria de saber um pouco mais sobre ela. Todavia, deixei pra lá, ele parecia incomodado com o assunto, e por isso não o perguntei mais nada, apenas fiquei observando-a durante o resto da noite, me sentia um covarde, porém não conseguiria falar com ela, mesmo querendo, estava travado.
Até que em um determinado momento, quando já havia perdido para Johnny no bilhar — mesmo ele já estando claramente embriagado pela cerveja —, eu a vi se levantar da mesa dos amigos com o celular em mãos, a tela brilhando parecendo tocar e, antes mesmo de sair do recinto, ela já havia o atendido, confirmando minhas suspeitas.
Deixei que a partida terminasse, e assim, quando ela não voltou, segui o caminho que ela fizera, sentindo-me pronto para conhecê-la.
A avistei encostada contra um dos carros estacionados em frente ao bar. Tinha a cabeça baixa e a celular em uma das mãos.
— Hey — disse ao me aproximar, as mãos no bolso e o olhar firme nela. Estava corado e não sabia muito bem o que dizer ou fazer.
A minha frente, vi quando sua postura endureceu, e então, lentamente, sua cabeça se ergueu, fazendo-a me fitar. Seus olhos se arregalaram e ela recuou, entretanto acabou pisando na barra do seu vestido, perdendo o equilíbrio.
Corri, tentando apará-la antes de sua queda. Meus braços rapidamente envolveram sua cintura, aparando-a.
— Você estar bem? — perguntei.
Seus olhos se desviaram até meus braços a sua volta, suas mãos foram ao meu peito e ela disse:
— Eu... Eu tenho um spray de pimenta.
Meus olhos, então, foram até o discreto bolso na lateral do vestido, onde uma havia uma pequena protuberância arredondada no local. Meus lábios se moldaram em um sorriso, talvez eu estivesse bêbado como Johnny também, mas eu achei aquela situação cômica. Nunca havia sido ameaçado, ao menos não tão diretamente, e muito menos por uma mulher.
Eu estava cercado por seguranças de mais para algo assim.
— Oras, aparentemente, você tem mesmo — eu disse, soltando uma risada anasalada no fim.
Todavia, minhas mãos a soltaram, mesmo que tudo em mim estivesse implorando para fazer algo diferente daquilo.
Ela era tão quente, mesmo quanto o clima na Inglaterra estava tão frio.
Afastei-me, colocando minhas mãos novamente em meus bolsos, sem saber o que fazer a seguir. Então, os olhos dela encontraram os meus pela primeira vez. Eram tão escuros como a noite e me puxavam para si como um gigante buraco negro no meio do universo.
Estava preso e não queria ser solto.
Day tinha a testa franzida, os lábios pintados por um gloss labial rosa estavam entreabertos. Por um momento, além de linda, ela estava confusa.
— Nos conhecemos? — sussurrou.
Manei a cabeça, negando.
Sentindo-me frustrado pela primeira vez naquela semana por ela aparentemente quase me reconhecer. As roupas e a barba haviam sido um disfarce muito bem sucedido naqueles dias. Quem diria, ser eu mesmo era uma ótima forma de me esconder em meio a multidão.
De qualquer forma, tentei mudar aquela situação.
— Ainda não, mas adoraria que sim.
Vi quando ela corou e era mais bonito de perto quando ela ficava sem jeito. Senti meu coração acelerar e aquilo não era algo bom.
Eu precisava voltar para Los Angeles em poucos dias, voltar para a ser o mesmo cara de quem eu estava fugindo em Wester Bonsk. Não deveria me apegar a nada ali, muito menos sabendo do que me esperava, do que Charles havia armado.
Porém, ali, embalados por uma música do One Direction, cantada por um grupo de jovens no Karaokê em meio a noite fria da Inglaterra, eu sabia que estava meio ferrado. Via seu sorriso tímido e as bochechas vermelhas constatando contra a sua pele de oliva e já sentia que algo me prendia a ela. Deveria fugir enquanto ainda era seguro, porém eu não estava nem um pouco a fim de fazer isso.
Aquilo era eu afinal, e ali, em Wester Bonsk, não seria nada diferente do que aquilo.