Finalizada em: 14/09/2018

Capítulo Único

estava sentado e extremamente relaxado na cadeira atrás da mesa do seu escritório, tomando um café quente e sorrindo à toa. Ele conseguira o feito de ser eleito o homem do ano pela revista GQ e essa noite aconteceria a festa onde finalmente receberia seu prêmio. Como se já não bastasse, ainda seria a capa da próxima edição da revista, com direito a uma reportagem sobre toda sua jornada. A propósito, ele estava esperando a jornalista que iria entrevistá-lo e que já tinha sido anunciada pela secretária.
Não conhecia a garota, mas sabia que era uma das mais renomadas da revista, tanto que tinha uma coluna exclusivamente dela, na qual poderia falar de quem e como quisesse. Sua influência era tanta que já tinha destruído duas carreiras apenas com suas palavras e construído outras com o mesmo artifício. Uma coisa que sabia é que ele precisava impressioná-la, e seu charme e beleza poderiam fazer isso sem dúvida alguma.
Três batidas leves na porta o alertaram para a chegada da jornalista, e ele próprio fez questão de levantar e abrir para tentar causar uma boa impressão. Abriu a porta e o seu melhor sorriso para recepcionar a jornalista, que era, sem dúvida alguma, linda. Cabelos longos, olhar decidido e ficava muito bem com suas curvas na saia lápis de couro e blusa social de botões.
– Bom dia – ele a cumprimentou, abrindo espaço para que ela entrasse. – É um prazer recebê-la aqui, Senhorita .
A jornalista sorriu fechado, seus saltos fazendo um barulho leve quando entrou na sala imponente e com uma visão de tirar o fôlego pelas janelas de chão ao teto, que ocupavam uma parede inteira.
– É claro que é – ela falou, virando na direção dele e estendendo a mão. – Pode me chamar de . Não vamos ser tão sérios, por favor.
– Claro que sim, sem formalidades. Pode me chamar de – ofereceu, seguindo na frente até dois sofás de couro. – Sente-se, por favor.
caminhou lentamente ao lado dele, observando tudo ao redor. A falta de aliança dele lhe indicava que era solteiro, assim como a falta de fotos na mesa do escritório, mas esses eram detalhes que ela já sabia por ter pesquisado sobre ele previamente. No entanto, os vários quadros de prêmios, títulos e certificados na parede lhe diziam que ele adorava ter o ego acariciado. Típico.
– Então, , como você está se sentindo com tudo isso? Afinal, é uma honra enorme, e normalmente figuras de Hollywood que ficam com os prêmios. No entanto, você conseguiu – aquela era uma pergunta de praxe que só tinha perguntado para iniciar a conversa enquanto procurava o aplicativo do seu gravador no celular.
Relaxado como antes, sentou-se na cadeira de frente para a dela, apoiando a perna direita no joelho esquerdo e se recostando das costas na poltrona. Manteve o olhar na jornalista.
– Bom, eu estou extremamente feliz. É uma honra, como já disse. Esse ano foi incrível para mim com tudo que eu conquistei e fiz. É ótimo ser reconhecido por um trabalho duro – falou.
– Foi realmente um ano incrível para você, concordou, colocando o gravador na mesa de centro no meio das cadeiras. Embora não precisasse ler as perguntas, pegou o caderninho só para se manter com algo em mãos. – Ao que você deve seu sucesso?
– Meu trabalho duro, claro. Estou no ramo empresarial da música há quase dez anos e dei duro para chegar onde me encontro agora. Não poderia estar mais orgulhoso de minhas conquistas – encheu o peito para falar. – Tive bastante apoio da minha família também e de amigos.
– Falando em família e amigos, nós pegamos depoimento com algumas pessoas que você conhece para a homenagem que eu mesma, juntamente com outros dois jornalistas, tive o prazer de fazer e que iremos passar essa noite. Alguns tiveram coisas bem interessantes para falar sobre você, especialmente sobre como era no passado, e fiquei bastante intrigada – a jornalista cruzou as pernas, apoiando o cotovelo no braço da cadeira. – Como o seu passado, as pessoas que você afetou no bom e no mau sentido, define o homem que você é hoje e que foi merecedor de um prêmio tão importante?
parou um momento para pensar na pergunta. “Meu passado? Por favor”, pensou e quase bufou com a pergunta estúpida, mas se controlou. Não seria nada bom para sua imagem com a jornalista reclamar com a pergunta insignificante. Os olhos castanhos da mulher o fitavam sem expressão alguma e ela parecia calma, serena e paciente. Ele franziu os lábios, pensando se a conhecia de algum lugar. De repente, ela lhe parecia extremamente familiar.
– Quer que eu repita a pergunta? – ofereceu quando demorou um pouco mais para responder.
– Ah, não – balançou a cabeça, voltando a encará-la. – Bom, eu tenho bastante orgulho do que eu fiz no passado. Sempre fui um ótimo aluno, exemplar até. Capitão do time de futebol, melhor aluno em química, muito social. Fiz amigos incríveis, que trago comigo até hoje, e com certeza inspirei muita gente por onde passei.
assentiu, abrindo um sorriso calmo para o entrevistado. Julgava suas respostas de forma silenciosa, sem deixar transparecer nada do que pensava, e a impassibilidade dela estava prestes a enlouquecer .
– Então, sem arrependimentos sobre nada do seu passado? – ela inclinou-se um pouco para frente.
– Nenhum – respondeu firmemente. – Cresci, porém, sou o mesmo que era anos atrás e não me arrependo de nada. Não tenho tempo para isso, já olhou a minha agenda?
Ele riu da sua própria piada do final, e acompanhou o riso por educação.
– Imagino que não tenha mesmo, mal teve tempo para essa entrevista – lembrou, fazendo um movimento circular com o dedo para indicar a conversa.
– Se eu soubesse que era uma jornalista linda como você, teria arrumado tempo bem antes – soltou, todo charmoso, esperando amaciar a mulher.
– Que galanteador – arqueou uma sobrancelha, erguendo o canto da boca em um sorrisinho nada afetado. – Mas vamos continuar, você tem uma festa para se preparar daqui a pouco, assim como eu.
A entrevista prosseguiu sem muitas emoções. fez todas as perguntas que precisariam para a sua reportagem sobre o homem de apenas trinta e dois anos que havia construído um império e, no fim, o fotógrafo da revista entrou para fazer algumas fotos do homenageado.
– Muito obrigada pelo seu tempo, sorriu, levantando-se da cadeira.
– O prazer foi todo meu, – ele levantou rapidamente também, estendendo a mão para ela. – Irei poder desfrutar da sua companhia mais tarde?
– Acho que você vai estar ocupado demais para desfrutar da minha companhia – retrucou, apertando a mão que ele havia oferecido, mas não se demorando mais que o suficiente.
– Acho que posso arrumar um tempo para você – respondeu, franzindo levemente o cenho quando, novamente, a sensação de reconhecimento lhe invadiu ao olhar para . – Desculpe, já nos conhecemos?
passou a língua pelos lábios coloridos num tom intenso de vinho, deixando um semblante cheio de diversão tomar conta do seu rosto.
– Já estava me perguntando se não iria me reconhecer, – ela terminou de juntar as coisas na bolsa e endireitou a postura, ficando cara a cara com o empresário. – Acho que meu nome não te soou familiar porque você costumava me conhecer por outro. Patinha Feia te lembra de alguma coisa, ?
Os olhos dele se arregalaram e seu queixo caiu. somente a encarou em total choque, mal acreditando que aquela mulher maravilhosa e confiante na sua frente era a Patinha Feia – a baixinha gorda, feia, desengonçada e tímida demais para sequer falar um “oi” – com quem ele adorava zoar na escola.
– Acho que você precisa limpar aqui no canto da sua boca – apontou para o canto da própria boca para indicar o lugar da dele. – Tá babando um pouquinho, .
Ela continuava calma e sorrindo gentilmente, porém ele via a malícia transbordando no olhar escuro da jornalista.
– Já que você parece não ter mais o que falar, nos vemos na festa, Sr. – se despediu, dando as costas e parando por um momento para olhar por cima do ombro. – Mal posso esperar para que você veja a surpresa que eu preparei.
! – chamou assim que saiu do seu transe, mas era tarde demais.
A mulher já tinha saído da sala.
Simplesmente maravilhoso. Sua reputação inteira estava nas mãos da jornalista que ele passara boa parte da vida zoando.
Ferrado, era o que ele estava.

...


sorria e cumprimentava várias pessoas que estavam por onde ela passava. Nos seus quase dez anos exercendo a profissão, havia feito uma porção de conhecidos, inclusive entre famosos. Não precisava de esforços para conversar com muitos deles e o seu jeito meigo e, vez ou outra, até tímido tinha conquistado várias pessoas no mundo artístico.
Como seu papel ali hoje era focado na homenagem e no discurso que havia feito para , ela apenas observava enquanto seus amigos da revista exerciam o seu trabalho de conversar com todos que passavam pelo red carpet. , sua melhor amiga dentro da revista, era tão carismática que bastava abrir um sorriso para desmanchar todos com quem falava. Esse era um dom que sempre quisera ter, mas sua timidez nunca tinha ido embora de verdade, mesmo que agora fosse bem pouca.
Nos anos de colégio, ela era uma garota quieta de baixa autoestima e com vergonha até de abrir a boca para responder algo na sala de aula. Desengonçada, gordinha e considerada feia, foi um alvo fácil para os idiotas da escola e algumas garotas que gostavam de diminuir os outros para se sentirem melhor. Foram tempos difíceis, mas que moldaram completamente quem ela era hoje.
Quando trocou de colégio no último ano do ensino médio e começou um tratamento psicológico para lidar com seus traumas, tudo mudou. Foi se abrindo aos poucos e conheceu muita gente legal, fazendo amizades que mantinha até hoje. Óbvio que ainda existiam idiotas, só que ela aprendeu a não se intimidar com eles. No fim das contas, resolveu que não ia ser mais uma vítima e só parou até se tornar a mulher que era hoje e da qual se orgulhava muito.
Costumava dizer que tinha luz e trevas dentro de si, que andavam de mãos dadas em um equilíbrio perfeito para torná-la quem era hoje. No entanto, desde que soubera que o prêmio de Homem do Ano iria acabar nas mãos imundas de , as “trevas” dentro de si falaram mais alto, e então fez questão de se oferecer para cuidar de tudo, alegando que conhecia o homem desde a infância e que conseguiria fazer algo inesquecível.
De fato, o que ela pretendia fazer definitivamente não seria nem um pouco fácil de esquecer.
– Você está pensativa, gatinha – falou, aproximando-se da amiga. – Querendo desistir do seu plano do mal?
riu, negando com um movimento de cabeça.
– Não mesmo – falou com firmeza. – Só espero não ser demitida.
– Linda, o Stevan é o nosso redator-chefe, esqueceu? Ele te idolatra e ama um bafafá, vai beijar seus pés depois da sua coragem para fazer isso – a loira revirou os olhos com a ideia da amiga. – Eu mal posso esperar! Aliás, o ainda não veio com rabinho entre as pernas falar com você?
– Nope – respondeu, levando sua taça de champanhe até os lábios. – Acho que ele é orgulhoso demais para implorar por desculpas.
– Ou talvez não... Olha lá quem está vindo – sorriu, apontando para , que ia determinado na direção delas. – Ele provavelmente já ouviu falar no estrago que você consegue fazer com poucas palavras.
sorriu também ao olhar na direção do homem, que era muito bonito, por sinal, mas estragado demais por dentro e que, no momento, ela só sentia uma repulsa enorme e muita raiva. Não gostava da palavra “ódio”, então usava raiva para classificar o pior sentimento que sentia por alguém.
Por mais determinado que parecesse, quando se aproximou de e de , o carão de aliviou e seu olhar percorreu as duas mulheres estonteantes na sua frente. não ficou surpresa com seu olhar. Ela estava incrível e se sentia incrível no vestido sereia verde escuro de decote generoso. No pescoço, uma gargantilha de diamantes que herdara da avó fechava o look simples, porém magnífico. , em um vestido vermelho de fenda, estava igualmente de tirar o fôlego.
– Eu vou voltar para o meu trabalho, arrasa no palco mais tarde, gata – piscou um olho para a morena e sorriu, aproximando a boca do ouvido dela para falar algo antes de se afastar. – Você está a cara da vingança, delícia. Pisa nele, Emily Thorne.
riu alto, soltando um beijo estalado antes que a loira saísse correndo, então voltou a olhar para frente quando ocupou o lugar onde estava antes.
– ele a cumprimentou.
– respondeu.
– Eu falei que arrumaria um tempinho para você essa noite – abriu um sorrisinho.
– Falou – concordou, bebericando mais um gole do champanhe.
– Olha, eu fiquei muito chocado em saber quem você era – umedeceu os lábios. – Faz muito tempo desde o colégio e você está completamente diferente.
– O que uma academia, um psicólogo e convívio com pessoas decentes não fazem em alguém, né? – arqueou as sobrancelhas, sorrindo friamente.
– É, está linda – elogiou, e ela conseguiu sentir a sinceridade na voz dele. Não ligou para isso, no entanto. – E como você está? Afinal, mais de dez anos que nos vimos.
– Eu tô ótima. O melhor que eu já estive durante minha vida toda – suspirou satisfeita, afastando o cabelo para trás do seu ombro.
– Sim, sim, sei que você é uma jornalista muito famosa, fiquei bem lisonjeado em ser entrevistado por você – comentou, cruzando os braços. – Já vi o seu trabalho também.
– Eu sou mesmo e me orgulho bastante disso, obrigada. – Quando se tratava do seu trabalho, não tinha modéstias. Sabia de como era boa naquilo e se esforçava para só continuar melhorando.
Ela o respondia com educação e frieza, embora não fizesse questão de puxar assunto. Preferia que ele fosse logo ao ponto que ele queria chegar com aquele papo furado para que não gastasse um tempo precioso que ela poderia estar passando com pessoas realmente interessantes e que desejasse a companhia.
abriu e fechou a boca algumas vezes, parecendo não saber o que falar. podia notar que ele estava um tanto apreensivo e desviou o olhar diversas vezes para os lados. Quando por fim resolveu encará-la com firmeza, seu rosto tinha sido tomado por uma expressão de arrependimento que ela não comprou muito.
, eu acho que nunca te pedi desculpas pelo que eu fiz contigo na escola. Eu era um babaca, imaturo e que só tava em busca de atenção. Você não sabe o quanto eu me arrependo por todas as brincadeiras e por ter causado tanto sofrimento. Sinto muito mesmo – desembestou a falar, a encarando nos olhos. – Não posso ser o homem do ano sem o seu perdão.
A jornalista escutou suas desculpas, assentindo lentamente como se compreendesse e se apegasse a cada palavra que saía da boca dele. No fim, apenas a olhou em expectativa, e isso quase a fez rir.
– É, você era um babaca, imaturo e em busca de atenção. Fico feliz que agora note isso – começou, pousando a taça de champanhe na banqueta ao seu lado. – No entanto, , você disse poucas horas atrás que ainda era o mesmo de antes e que não estava arrependido de nada do seu passado. Está se contradizendo?
Ele quase rosnou de frustração, mas se manteve impassível. O que custava ela aceitar as desculpas e deixar sua noite de glória em paz?
– É claro que isso não estava incluído, . Eu nem lembrava dessas coisas, abomino meu comportamento – tratou de se explicar.
– Então quer dizer que o dano que você causou na vida das pessoas foi tão insignificante a ponto de você esquecer do que fez, ? – questionou, sem perder a pose delicada que fazia. – Bom, acho que você vai relembrar um pouquinho disso na sua homenagem mais tarde.
Ela fez menção de se afastar, mas segurou seu pulso, a puxando com firmeza. encarou a mão dele ao redor do seu pulso e depois ergueu o olhar para o dele com uma frieza que ele ignorou.
– Eu tô te implorando para não fazer nada que possa se arrepender depois, falou, sua voz saindo mais gentil quando ele soltou a mão dela. – Por favor, vamos deixar o passado no passado e seguir em frente. Não prejudica minha reputação por uma besteirinha como essa.
Ela soltou um riso seco e fez questão de parar na frente dele, próxima o suficiente para que eles ficassem cara a cara.
– Você não tem direito de me implorar por nada, , não quando você ignorou tanta gente que te implorou para parar com suas... Como foi que você chamou mesmo? “Besteirinhas”, né? – a voz dela, assim como seus olhos, era pura repulsa. – Ah, eu não vou fazer nada além do meu papel como jornalista. Se você não sabe, a linguagem jornalística é referencial, o que significa que precisamos procurar fontes, e foi isso que eu fiz. Não sou eu que vou falar nada sozinha, são várias pessoas que passaram por sua vida. As que gostavam de vocês, assim como as que você fez sofrer. Não tô aqui para acabar com a reputação de ninguém. Você fez isso sozinho anos atrás quando resolveu se meter comigo.
Ele a fuzilava com o olhar, mas, inabalável, ela continuou.
– Você fez da minha vida um inferno – ela sorriu. – E agora eu vou fazer isso da sua.
– Eu tô pedindo desculpas, ! – parou na frente dela para impedir que ela fosse embora.
– E por isso eu até poderia pegar mais leve – comentou, retorcendo os lábios como se ponderasse. – Mas não quero.
– Isso não te faz tão ruim quanto eu? – resolveu apelar.
– Se faz ou não – deu de ombros. – Eu não dou a mínima.
Fulminando de raiva, correu para impedir que aquela mulher subisse ao palco para prestar homenagem a ele, mas, naquele momento, a assessora do evento correu para puxá-lo, porque as coisas estavam prestes a começar.
Do outro lado do salão, foi até os bastidores se preparar para entrar no palco junto com as pessoas que entrariam antes dela. Apesar da calma que aparentava, sentia seu coração desenfreado no peito ao repassar a parte do discurso que tinha feito. Ela ficou com o final e sentia suas mãos tremerem ao imaginar a reação das pessoas.
– Você está nervosa.
Ela olhou para trás, dando de cara com Stevan, seu redator-chefe.
– Eu não lido bem com palcos, Stevan – enrolou.
– Não, não lida, mas eu sei que você está tramando alguma coisa – cruzou os braços, a olhando como quem sabia das coisas. – Eu sei como você pretende encerrar o discurso, meu amor.
– Vou ficar encrencada? – mordiscou o lábio.
Ele riu.
– Se eu não te despedi quando você me apareceu com uma reportagem sobre o mau funcionamento da polícia nos bairros mais pobres de New York, quando eu tinha apenas te pedido para fazer uma matéria simples sobre o policiamento no trânsito, e que nos rendeu a New York PD no nosso pé por uns meses, não despeço mais nunca, meu bem – ele riu, a deixando aliviada. – Fico feliz por sermos nós a derrubar a imagem desse cara em grande estilo.
sorriu abertamente.
– Já te disse que te amo, Stev? – ela o abraçou pela cintura.
– Hoje não, mas eu sei – riu, dando um tapinha na bunda dela. – Agora se ajeita aí e arrasa naquele palco.
assentiu e correu para o camarim só para pentearem seu cabelo, que tinha ficado com um pouco de frizz por causa da movimentação lá na festa. Alguém gritou “cinco minutos” lá fora, e ela correu de volta para perto do palco. Outras duas pessoas, e Layla Montgomery, estavam a postos para entrar no palco também. , assim que a viu, foi lá aproveitar os minutinhos que faltavam.
– Olha aí, se não é a encrenca em pessoa – zombou, sorrindo com diversão para .
– E olha aí se não é o cara que eu meto em encrenca – entrou na onda, rindo também. – Oi, .
– Olá, . Está bonita, gostei do vestido.
– Quer emprestado? Acho que ficaria um tanto curto nos tornozelos porque sou mais baixa, mas de resto ia ficar perfeito – o encarou de cima a baixo como se tentasse ver como o vestido ficaria nele.
– Ficaria ótimo em mim mesmo, verde combina muito com os meus cachos dourados – olhou para si mesmo, depois voltou a encarar com um sorriso malicioso nos lábios. – Mas sabe onde ele ficaria ainda melhor?
– Não sei, onde? – ela questionou com um “quê” de inocência, que ambos sabiam que não era dela.
ficou mais perto dela, aproximando a boca ao seu ouvido e deixando os lábios roçarem na pele dela, assim como a respiração quente e calma.
– No chão do meu quarto – murmurou, plantando um beijo leve atrás da orelha da mulher.
lutou contra o desejo de fechar os olhos e apenas sorriu, se afastando dele como se nada tivesse acontecido. Os dois eram bons com provocações, tinham se conhecido um ano atrás naquele mesmo evento e, desde então, seus encontros se resumiam em provocações e muita pegação.
, olha o foco! – ouviu Stevan gritar lá no fundo e caiu na risada. – Você também, . Vou te dedurar para a Times.
– Olha o foco, – a mulher piscou para ele e fez até questão de se afastar.
A equipe de som veio para perto entregar microfones já testados e, assim que todos estavam em seus postos, o show começou. Alguém entrou para discursar sobre o intuito da premiação, depois a verdadeira entrega de prêmios começou. Tudo seguiu como o esperado e, quando chegou a hora, seguiu Layla e até o palco.
Na audiência, várias pessoas importantes de diversas áreas estavam atentas a tudo. Layla e começaram falando sobre a vida de , o que não era nada de mais. Filho mais velho, dois irmãos mais novos, pais ricos e que sempre lhe deram tudo. Teve todas as oportunidades do mundo até conseguir o que de fato queria. Isso foi a parte de Layla. então falou sobre todos os sucessos que conquistara durante os anos, especialmente daquele ano e de tudo que ele havia feito para merecer o título de homem do ano. E, então, chegou a vez de .
Ela sentia o olhar de pesando sobre ela, mas não estava nem aí. Calmamente, se colocou à frente do palco e começou a falar.
– Como e Layla mencionaram momentos atrás, é, seguramente, uma das pessoas mais influentes dos últimos tempos e seus feitos esse ano foram, sem dúvida alguma, imensos. Porém, quem era antes de construir tanta coisa? Layla contou muito sobre ele, mas acho que esse passado merece um pouco mais de destaque – começou, sua voz saindo com firmeza e determinação. – Provavelmente ninguém sabe, mas eu estudei com ele anos atrás e por isso fiquei com essa parte da belíssima homenagem que resolveram fazer para o nosso homem do ano. Como já falamos, exerceu um papel fundamental na vida de algumas pessoas, inclusive na minha. Vamos passar agora um vídeo com algumas das pessoas que prestaram depoimento e que tiverem suas vidas influenciadas pelo prestigiado .
afastou-se para o canto do palco junto com os outros jornalistas e seu olhar encontrou o de por um momento breve, antes que ela voltasse sua atenção para a compilação de vídeos dos sete depoimentos que havia conseguido de uma parte das pessoas com quem ele havia mexido.
Owen explicou calmamente como as vezes que o prendeu no armário resultaram em uma claustrofobia severa, que o impedia até de usar um carro com mais de quatro pessoas sem se sentir sufocado. Ulysses contou da mandíbula fraturada, e que até hoje era meio torta, depois de ter sido empurrado no pátio e batido numa pedra, aproveitando também para mostrar outras cicatrizes. Ophelia relatou como foi traumatizante quando ela, que se vestia de mascote na escola, foi sequestrada por e seu grupinho, que a deixaram em um bosque bem longe da escola. No outro dia, alegaram que era só uma brincadeira tradicional com o mascote. Outros relataram também outros abusos cometidos por e, então, após o depoimento de Matilde Prescott, o vídeo encerrou.
Quando o vídeo acabou, olhou para todos ao redor, que, no momento, se encontravam boquiabertos e não davam um pio. Seu olhar se demorou em e este, pelo que ela conseguia ver, estava vermelho de tanta raiva. Com a graça adquirida nos últimos anos, a jornalista voltou ao centro do palco.
também teve um papel enorme na minha vida. Provavelmente não seria quem eu sou hoje se não fosse pela mãozinha que ele me deu quando me assediou sexualmente, apenas pelo prazer de intimidar uma garota tímida e retraída, como todas as outras vítimas dele – não se abalou ao contar isso, mas murmúrios começaram por todos os lados. – É fácil assustar e intimidar quando se mexe com pessoas indefesas que têm medo de revidar, não é? Será que mexer e machucar crianças o fizeram se sentir mais homem?
Com um sorrisinho, se preparou para encerrar.
– E, para finalizar a homenagem, gostaria, em nome de todos que tiveram suas vidas marcadas por , falar que esse homem supostamente incrível, que recebe o prestígio hoje, é um covarde – respirou fundo, dessa vez voltando a encará-lo nos olhos. – E quem discursou essa noite foi aquela garota tola e amedrontada que não tinha fôlego para se defender. Assim como todos os outros, eu cresci. Mas aquela menina ainda sou eu, assim como todas aquelas crianças assustadas, que foram vítimas da imensa influência de e que sofrem até hoje, se tornaram adultos. Como ele mesmo disse na entrevista essa manhã: “Cresci, mas ainda sou o mesmo de anos atrás e não me arrependo de nada”. Uma salva de palmas, por favor, para o Homem do Ano 2018! , vem cá discursar.
Carregada de deboche, fez menção de iniciar as palmas, mas não foi seguida por ninguém. O silêncio reinou no imenso salão e só foi quebrado quando alguém da equipe de som colocou uma música animada e outra pessoa correu para tomar as rédeas da situação. Então, ela desceu do palco e, não para sua surpresa, foi interceptada por um furioso.
– Sua vagabunda! – rosnou, fechando as mãos em punho. – Eu não acredito que você fez isso. Vou acabar com sua carreira.
Ela apenas riu.
– Acho que você deveria se preocupar com a sua, meu bem – apontou para os lados. – Você provavelmente deveria subir para falar alguma coisa, as pessoas estão curiosas para saber o que você tem em sua defesa.
– Eu vou te arruinar, vadia, escreve o que eu digo! – ameaçou, possesso de tanta raiva.
não conseguia fazer mais nada que não fosse sorrir e se deleitar com o ódio dele.
– Boa sorte com isso – falou, nem um pouco abalada.
Então, como a dona da noite, voltou até o bar para pegar mais champanhe enquanto observava ser cercado de jornalistas como um animal morto era cercado de abutres. Enfurecido e sem ajuda da assessora, ele trataria de acabar com sua carreira ao falar merda.
Com um sorriso satisfeito, suspirou, pensando: A vingança é uma vadia má, mas eu sou bem pior.


Fim



Nota da autora: Hello! E aí? Essa é provavelmente a primeira fic que eu escrevo sem romance algum e até achei difícil de enfiar ela em um gênero, mas enfim hahaha o que acharam? Espero realmente que gostem! Como a bela piscina com ascendente em libra que eu sou, mudei o plot umas mil vezes até chegar nesse. Não deixem de me contar o que acharam. Beijos!

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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