Prólogo
- Eu vou fazer um discurso! – Ele falou, se levantando rapidamente do lugar.
- , não! – O chamei, tentando puxá-lo pelo braço, mas a bebida já devia ter subido sua cabeça e ele batia uma faca na sua long neck. – ! – Falei rindo fracamente, me escondendo no sofá do bar no centro de Nova York.
- Gente, eu gostaria de dizer umas palavras aqui. – Ele falou batendo mais forte na cerveja e minhas companheiras de trabalho riam comigo me escondendo de vergonha. – Por favor, gente! – Ele falou novamente e as risadas cessaram. – Obrigado.
- ! – O chamei novamente.
- Xi! – Ele falou, abanando a mão e o pessoal em volta deu risada. – Eu falo, ok?!
- Não me faz pagar mico.
- Você vai se casar comigo, amor, você vai pagar uns micos. – Revirei os olhos. – Eu gostaria de agradecer a presença de todos nessa humilde festa de noivado, nós poderíamos fazer algo melhor, mas foi aqui nesse bar que eu e aquela mulher envergonhada nos conhecemos. – Coloquei as mãos no rosto, vendo-o abrir um largo sorriso. – Eu não sei o que ela viu em mim, mas eu fico feliz em falar que eu conquistei essa mulher maravilhosa e que vamos casar em breve! – Neguei com a cabeça, ouvindo o pessoal gritar animado. – Nós dois somos pessoas totalmente diferentes, trabalhos diferentes, países diferentes, famílias diferentes, mas por algum motivo a vida nos juntou e eu me sinto muito feliz ao seu lado, meu amor. Você é a melhor coisa que aconteceu comigo. – Sorri.
- Obrigada. – Cochichei.
- Nosso amor foi à primeira vista, quando eu a vi aqui, eu sabia que ela era minha alma gêmea. – Suspirei, colocando a mão no peito. – Antes dela, eu não era nada, eu tropeçava de bar em bar, pagava uns micos por aí...
- Dançar no capô do carro em 2015! – Alguém gritou me fazendo gargalhar.
- Valeu por me lembrar disso. – falou envergonhado. – Enfim, hoje ela é a cura para tudo isso, ela me fez tomar rumo na vida, criar responsabilidades, trouxe todo o lado bom da minha vida e eu vou ter o prazer de ser chamado de seu marido. – Sorri, ouvindo o pessoal aplaudir e eu saí do meu lugar, me aproximando do mesmo e ficando na ponta dos pés para alcançar seus lábios.
- Eu te amo, seu aparecido. – Brinquei e ele riu, passando os braços pelas minhas costas e me apertando contra seu corpo.
- Você sabe que eu sou muito otário quando se fala de você. – Neguei com a cabeça, dando mais um beijo.
- Eu sei, e eu adoro isso. – Ele riu fracamente, tirando o cabelo do meu rosto.
- Não abusa, dona . – Neguei com a cabeça. – Eu já mudei todas as minhas regras por causa de você. Eu vou até a lua se for preciso.
- Não precisa, você já me conquistou. – Suspirei.
- Eu gostaria de me apaixonar novamente por você. – Sorri, roçando nossos narizes.
- Provavelmente você não se apaixonaria. – Gargalhei e ele negou com a cabeça.
- Apaixonaria sim, se você me mandar pular da ponte para ter o seu amor, eu pularia. Sem nem perguntar duas vezes – Neguei com a cabeça.
- Eu não preciso desse tipo de prova de você, , você é o amor da minha vida, com todas as nossas diferenças visíveis ou não. Eu brinco, mas também sou otária por você. – Pisquei e ele riu, me abraçando novamente.
- , não! – O chamei, tentando puxá-lo pelo braço, mas a bebida já devia ter subido sua cabeça e ele batia uma faca na sua long neck. – ! – Falei rindo fracamente, me escondendo no sofá do bar no centro de Nova York.
- Gente, eu gostaria de dizer umas palavras aqui. – Ele falou batendo mais forte na cerveja e minhas companheiras de trabalho riam comigo me escondendo de vergonha. – Por favor, gente! – Ele falou novamente e as risadas cessaram. – Obrigado.
- ! – O chamei novamente.
- Xi! – Ele falou, abanando a mão e o pessoal em volta deu risada. – Eu falo, ok?!
- Não me faz pagar mico.
- Você vai se casar comigo, amor, você vai pagar uns micos. – Revirei os olhos. – Eu gostaria de agradecer a presença de todos nessa humilde festa de noivado, nós poderíamos fazer algo melhor, mas foi aqui nesse bar que eu e aquela mulher envergonhada nos conhecemos. – Coloquei as mãos no rosto, vendo-o abrir um largo sorriso. – Eu não sei o que ela viu em mim, mas eu fico feliz em falar que eu conquistei essa mulher maravilhosa e que vamos casar em breve! – Neguei com a cabeça, ouvindo o pessoal gritar animado. – Nós dois somos pessoas totalmente diferentes, trabalhos diferentes, países diferentes, famílias diferentes, mas por algum motivo a vida nos juntou e eu me sinto muito feliz ao seu lado, meu amor. Você é a melhor coisa que aconteceu comigo. – Sorri.
- Obrigada. – Cochichei.
- Nosso amor foi à primeira vista, quando eu a vi aqui, eu sabia que ela era minha alma gêmea. – Suspirei, colocando a mão no peito. – Antes dela, eu não era nada, eu tropeçava de bar em bar, pagava uns micos por aí...
- Dançar no capô do carro em 2015! – Alguém gritou me fazendo gargalhar.
- Valeu por me lembrar disso. – falou envergonhado. – Enfim, hoje ela é a cura para tudo isso, ela me fez tomar rumo na vida, criar responsabilidades, trouxe todo o lado bom da minha vida e eu vou ter o prazer de ser chamado de seu marido. – Sorri, ouvindo o pessoal aplaudir e eu saí do meu lugar, me aproximando do mesmo e ficando na ponta dos pés para alcançar seus lábios.
- Eu te amo, seu aparecido. – Brinquei e ele riu, passando os braços pelas minhas costas e me apertando contra seu corpo.
- Você sabe que eu sou muito otário quando se fala de você. – Neguei com a cabeça, dando mais um beijo.
- Eu sei, e eu adoro isso. – Ele riu fracamente, tirando o cabelo do meu rosto.
- Não abusa, dona . – Neguei com a cabeça. – Eu já mudei todas as minhas regras por causa de você. Eu vou até a lua se for preciso.
- Não precisa, você já me conquistou. – Suspirei.
- Eu gostaria de me apaixonar novamente por você. – Sorri, roçando nossos narizes.
- Provavelmente você não se apaixonaria. – Gargalhei e ele negou com a cabeça.
- Apaixonaria sim, se você me mandar pular da ponte para ter o seu amor, eu pularia. Sem nem perguntar duas vezes – Neguei com a cabeça.
- Eu não preciso desse tipo de prova de você, , você é o amor da minha vida, com todas as nossas diferenças visíveis ou não. Eu brinco, mas também sou otária por você. – Pisquei e ele riu, me abraçando novamente.
Capítulo Único
Chequei o soro da paciente mais uma vez e deixei que ela continuasse seu sono. Acenei para seu acompanhante, sussurrando um “boa noite” e saí do quarto, puxando a porta em seguida. Olhei o relógio na parede do hall do quinto andar e vi que faltavam quatro horas para o fim do meu turno ainda. Suspirei e segui pelos corredores.
Me assustei quando meu pager tocou e eu puxei o mesmo, vendo o código “154” escrito, era o código de ambulância chegando. Coloquei meus pés para andar mais rápido e empurrei a porta da saída de emergência, descendo aqueles cinco andares a pé, encontrando dois residentes seguindo pelo mesmo caminho e empurrei a porta da emergência com força, já ouvindo o som da ambulância chegando.
- O que aconteceu? – Perguntei para a equipe de plantão.
- Acidente entre dois carros e uma bicicleta, quatro feridos. – A residente de plantão falou e eu peguei já um par de luvas e os vesti, vendo a porta da emergência abrir.
- Fale comigo, Andrew. – Falei para o paramédico e meu cunhado.
- Fratura exposta e duas costelas quebradas. – Ele falou sobre a menina que chorava alto imobilizada na maca.
- Anna, Mary, sigam ele. – Falei para as outras enfermeiras.
- Qual seu nome? – Ouvi Mary perguntando para a moça e vi outra ambulância entrando.
- Punhos e dedos quebrados, algumas escoriações. – O outro paramédico falou e eu apontei para Connor seguir o mesmo.
- Vai, gente! Cadê os outros dois?
- Chegando! – Outra paramédica entrou na sala de emergência às pressas.
- Possível fratura nas costelas, não consegue respirar direito. – Joan falou e eu segui a mesma, pegando já o estetoscópio e colocando no peito do garoto de cerca de 12 anos.
- O que você está sentindo? – Perguntei, ouvindo um forte chiado em seu peito.
- Eu... – Ele tossia forte e firmava a mão no peito. – Dor.
- Faça um raio-X para checar perfurações no pulmão. – Falei para o residente e ele afirmou com a cabeça. – E deixe esse garoto no oxigênio.
- Não tem um fisioterapeuta de plantão? – Mary perguntou alto para que eu pudesse ouvir.
- Só residentes e enfermeiras, dá um jeito. – Respondi, vendo as macas andarem por aqui. – E o último? – Perguntei, ouvindo o silêncio. – Fale comigo, Joan. – Falei alto, saindo da sala anterior. – Joan! – A chamei novamente e me aproximei do último paciente.
- , cai fora daqui! – Isaac falou, apontando para fora e eu me aproximei do mesmo.
- Andrew, tire ela daqui. – Connor gritou.
Observei a pessoa em cima da maca e travei ao perceber que era desacordado, com um pedaço de metal enfiado em sua barriga e grandes manchas de sangue em sua cabeça, junto de pedaços pequenos de vidro ao redor de seus olhos.
- ! – Gritei, sentindo alguém me puxar pela cintura de costas.
- Levem-no para SO um agora! – Connor gritou. - Liguem para o doutor Cranston, não me importo se ele estiver no México, tragam-no aqui agora! – Eles começaram a movimentar sua maca.
- , por favor. – Senti as lágrimas começarem a descer pelos meus olhos e o desespero se instalou em meu corpo. Isso não podia ser verdade.
- , amor, olha para mim. – Andrew apareceu em minha frente. – Ele vai ficar bem, ok?! Respira fundo. – Ele segurou meus ombros, me parando de seguir.
- Eu não sei o que fazer sem ele, Andrew. – Falei e ele me abraçou fortemente, me permitindo chorar em seus ombros.
- Ele vai ficar bem, você vai ver. – Suspirei, escondendo os olhos em seus ombros.
Passei as mãos nos olhos, checando o relógio mais uma vez pelas últimas 11 horas e ele simplesmente não passava e ninguém sabia me dar informações. Mesmo sendo enfermeira chefe, eles me baniram das imediações e estavam me tratando exclusivamente como acompanhante.
Afundei as mãos nos olhos, tentando cessar a vontade de chorar mais uma vez e ouvi a cadeira estalar ao meu lado, me fazendo erguer o rosto e encontrei Liz, minha chefe e presidente do hospital. Ela passou a mão em minhas costas e eu ergui meu corpo, sentindo-a me abraçar fortemente.
- Está tudo bem. – Ela disse acariciando minha nuca e eu puxei o ar novamente, sentindo dificuldade ao passar pelas minhas narinas. – Ele vai ficar bem.
- Eu não sei. – Falei honestamente, nos afastando devagar. – Ele estava péssimo quando chegou. – Senti as lágrimas escorrerem de novo e Liz as limpou com a ponta do dedo. – Eu não sei se ele...
- Sai sim! – Ela me cortou. – é seu noivo, um acidente é fichinha para ele. – Ela disse, me fazendo suspirar. – Me diga o que houve.
- Ele estava voltando do trabalho, o outro motorista tentou fazer uma ultrapassagem em , mas ele não tinha espaço para isso, no que ele foi voltar, ele voltou em cima de e o empurrou para faixa de lá, aí ele foi atingido pelo carro que vinha. – Falei fracamente, lembrando da história que os outros feridos haviam contado para a polícia. – Uma bicicleta foi pega no fogo cruzado também.
- Eu não sei o que te dizer, mas ele terá todo cuidado aqui, ok?! E você pode suspender seus plantões imediatamente, se você não estiver ao lado de , esteja descansando. – Suspirei. – Nós vamos pagar qualquer tipo de dano físico e material para vocês.
- Obrigada, Liz. – Falei e ela assentiu com a cabeça, fazendo um carinho em meu ombro.
- ! – Virei o rosto, vendo doutor Cranston saindo da sala de operações e tirando sua máscara da boca e touca da cabeça.
- Me diga que deu tudo certo. – Disse em um gemido e minha chefe se levantou comigo.
- Conseguimos fazer a retirada do objeto da barriga dele, atingiu um pouco o estômago, mas conseguimos retirar a parte danificada sem problemas. – Assenti com a cabeça. – Agora, percebemos que tinha um pouco de massa encefálica nos machucados na sua cabeça. – Arregalei os olhos. – Também fizemos a limpeza e os reparos, mas saberemos a extensão das lesões somente quando ele acordar.
- O que isso pode afetar? – Perguntei.
- Descanse, nos falamos quando ele acordar. – Ele me abraçou fortemente e eu suspirei em seus braços. – Assim que liberar sua entrada na UTI, te avisamos. – Assenti com a cabeça, suspirando alto.
- Porque você não vai pegar um café? – Andrew apareceu e eu respirei fundo.
- Eu estou bem. – Falei.
- Você está sentada aqui faz mais de seis horas, , vá ao banheiro, pegue algo para comer. – Ele segurou minha mão. – Eu fico com ele. – Engoli em seco.
- Eu não quero. – Falei chorosa, vendo ligado em várias máquinas e com a barriga e a cabeça enfaixada.
- Você está aqui há dias, quando foi a última vez que descansou?
- Quando ele chegou. – Engoli em seco.
- Vai dar uma volta, posso te garantir que ele não vai a lugar nenhum. – Ri fracamente, negando com a cabeça e ele me puxou, me fazendo ficar de pé. – Vai sim, pelo menos comer algo. Tem sanduíche na cantina. – O abracei rapidamente, recebendo um beijo em sua bochecha.
- Eu já volto. – Respirei fundo e peguei minha bolsa na cadeira e segui primeiramente ao banheiro.
Fiz questão de lavar meu rosto com bastante água gelada, tentando aliviar as grossas manchas de inchaço embaixo dos olhos criadas nesses 12 dias e aproveitei para ir ao banheiro. Depois, segui em direção à cafeteria, recebendo aquele olhar de todos os meus conhecidos do hospital e peguei rapidamente um lanche e um suco e me sentei em um lugar afastado para comer, não estava pronta para responder perguntas ou afins.
Larguei o lanche pela metade e me forcei a engolir o resto do suco antes de voltar para o quarto de . Quando cheguei na porta do mesmo, vários médicos, residentes e enfermeiros conversaram entre si na porta do quarto.
- O que está acontecendo? – Perguntei fracamente.
- Ele acordou. – Doutor Cranston falou e eu senti minha respiração falhar por alguns segundos.
- Ele está bem? – Perguntei com o mesmo tom de receio de antes.
- Ele perguntou sobre você. – Ele falou e eu senti a respiração falhar por alguns segundos, passando as mãos nos cabelos bagunçados.
Engoli em seco e soltei a respiração pela boca, vendo eles darem abertura para eu entrar no quarto de e suspirei quando vi seu sorriso. Ele falava com Mary, outra enfermeira, que parecia tentar explicar para ele o que estava acontecendo.
- ? – Perguntei fracamente e ele se virou para mim, com um pequeno sorriso no rosto.
- Você é mesmo linda! – Ele falou, me fazendo sorrir.
- Só você para dizer isso depois de tudo o que aconteceu. – Comentei.
- Você é realmente a mulher mais bonita do mundo. – Ri fracamente. – Quem é você? – Arregalei os olhos, olhando para Mary que me deu um sorriso triste.
- Essa é a , que você chamou. – Mary falou delicadamente.
- Me desculpe. – Ele se virou para mim, com aquele largo sorriso. – Você é incrível, mas eu não me lembro de você. – Respirei fundo, sentindo as lágrimas deslizarem silenciosas pela minha bochecha.
- Podemos conversar lá fora? – Mary perguntou e eu não pensei duas vezes antes de sair correndo do quarto, sentindo as lágrimas escorrerem pela bochecha. – ! – Ela me chamou novamente.
- Ele não se lembra de mim. – Falei em um tom alto e choroso.
- Espere! – Ela me puxou pela mão. – Olha para mim! – Ela falou firme. – Ele pode não se lembrar dos momentos juntos, mas ele sabe quem é você. – Ela falou.
- Não! Ele não sabe quem eu sou ou o que passamos juntos! Ele não sabe de nada. – Respirei fundo, levando as mãos à cabeça.
- Ele sabe! – Ela segurou meus ombros. – Ele falou seu nome antes de abrir os olhos. Ele falou que você é a pessoa mais linda do mundo. É como se, de alguma forma, você estivesse cravada no cérebro dele, como uma tatuagem.
- Não é assim que a medicina funciona, Mary. – Respirei fundo. – Ele não tem a mínima ideia de quem eu sou.
- Eu nunca vi um amor como o dele por você. Nem você o ama da forma que ele ama você. – Respirei fundo. – Dê um tempo, deixe que ele se lembre de você, dos seus momentos e de como se apaixonou por você. – Ela me sacudiu. – Vocês são almas gêmeas, nem um acidente pode mudar isso. – Suspirei.
- Não foi uma perna quebrada, Mary, não é assim. – Suspirei.
- ...
- O que é? – Falei brava, virando para Andrew.
- Ele quer falar contigo. – Ele disse e eu respirei fundo.
- Posso ter um pouco de privacidade, pelo menos? – Falei brava para as diversas pessoas amontoadas ali e elas começaram a se dissipar. Soltei uma respiração forte novamente e segui em direção ao quarto.
- Você voltou! – falou sorridente e não consegui evitar um sorriso também.
- Você me chamou. – Falei simplesmente e fechei a porta, deixando os curiosos para fora.
- Você me pareceu decepcionada quando eu disse que não me lembrava de você. – Suspirei, me sentando na cadeira livre ao seu lado.
- Nós tínhamos uma história. – Comentei, apoiando as duas mãos em cima da minha barriga.
- Me conte. – Ele disse e eu respirei fundo, negando com a cabeça.
- Eu não quero afetar suas memórias. – Suspirei.
- Eu quero. – Ele disse, estendendo a mão e eu respirei fundo.
- Nós... – Suspirei, passando as mãos nos olhos. – Nos conhecemos em um bar há alguns quarteirões daqui. Eu estava em um happy hour com minha equipe e você estava triste por ter sido dispensado da marinha por uma queda bem feia de bicicleta. – Ele riu fracamente.
- Parece que eu tenho tendência em me meter em problemas. – Dei um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Um pouco até demais. – Suspirei.
- E o que eu fiz depois disso? – Ele perguntou.
- Você passou em Julliard e se formou em teatro e começou a dirigir grandes peças. – Suspirei.
- E você é uma enfermeira aqui? – Ele perguntou.
- Enfermeira chefe. – Suspirei.
- Ah, eu devo ter feito algo muito certo para uma moça tão bonita quanto você gostar de mim. – Rimos juntos.
- Você tem um jeito diferente, mas você é a melhor pessoa do mundo. – Suspirei. – Você faz com que eu me sinta bem. Faz eu sentir calor em dezembro, faz eu te seguir pela loucura da vida, você sabe como eu gosto do meu peixe, sabe qual marca e modelo de absorvente eu uso e quando eu vou precisar dele. – Suspirei. – Você pediu para se casar comigo há uns dois meses. No terraço da casa dos seus pais, enquanto chovia para caramba. – Ri fracamente. – Eu fiquei doente três semanas direto. – Ri fracamente. – Depois fizemos uma festa para nossos amigos nesse mesmo bar. – Suspirei, soltando o ar devagar. – Três dias depois você se acidentou. – Mordi meu lábio inferior. - Nós somos almas gêmeas. – Mordi meu lábio inferior. – Éramos.
- Se eu fui sua alma gêmea uma vez, posso muito bem me tornar novamente. – Ele falou e eu ri fracamente, rodando minha aliança de noivado no dedo.
- Não complique isso. – Neguei com a cabeça. – Não force algo fadado ao fracasso. Seus ferimentos foram feios, você precisa descansar e vai ficar aqui por muito tempo.
- Você vem me visitar? – Ele perguntou animado e eu suspirei, tirando a aliança.
- Descanse, ok?! – Apoiei a aliança em cima do aparelho e me levantei.
- , eu... – Neguei com a cabeça e saí do quarto novamente.
- Eu não posso fazer isso.
Mais 13 dias se passaram sem que eu quisesse chegar perto da ala em que estava. Eu não podia me dispor a isso. Ele estava com perda de memória e, segundo doutor Cranston, aquilo afetava suas memórias novas, algo cerca de cinco anos para cá. Ele se lembra de entrar na marinha, mas não se lembra do acidente de bicicleta, nem da dispensa, nem de me conhecer, consequentemente não se lembra de oito meses de namoro e nem do pedido de casamento.
Eu me sentia perdida em uma luta, mas também presa em algum lugar sem conseguir sair. Era como se meus pés estivessem presos no chão, sem permitir que eu seguisse em frente ou tentasse algo de diferente. Eu estava quebrada e, apesar da negação de Liz, só o trabalho conseguiu me distrair um pouco.
Segui fazendo plantões de 36 e 48 horas, o máximo que meu corpo me permitia, tudo para evitar a ida para meu apartamento e encontrar todas as nossas coisas lá, mas eu também não passava em seu quarto. Mary havia ficado encarregada disso e eu sempre passava por lá durante a noite, quando ele já estava dormindo, só para ver seu rosto sereno.
Meus amigos do hospital já o conheciam de todas as festas e confraternizações, além das diversas surpresas que ele fazia constantemente para mim no hospital, então os mais próximos haviam criado um vínculo com ele, até os residentes, então eu sabia que ele estava sendo bem cuidado e sabia da evolução de seus ferimentos.
A cabeça foi o ponto mais afetado no acidente, então a preocupação foi muito maior, mas ele respondeu muito bem ao tratamento físico, agora as lembranças... Diversos profissionais fizeram testes para ver se conseguiam tirar pelo menos algo mais recente dele, mas nada, era como se o ponto máximo de lembrança foi o aniversário da sua mãe cinco anos atrás.
- Você deveria vê-lo. Ele pergunta de você. – Anna disse quando sentamos para jantar naquela madrugada.
- Eu não estou pronta para enfrentar isso, Anna. Acho que nunca vou conseguir. – Suspirei.
- Eu só consigo imaginar como você está se sentindo, mas ele quer tentar, isso não é algo bom? – Ela perguntou.
- Ele sempre muito bom, Anna, vocês contaram nossa história para ele, ele deve estar tentando fazer de tudo para não me magoar. – Suspirei.
- Mas porque ele está preocupado em não te magoar sendo que ele nem te conhece? – Respirei fundo.
- Porque ele é bom. – Engoli em seco.
- Você deveria ir vê-lo, lhe dê o benefício da dúvida, ele deve ter um plano. – Neguei com a cabeça.
- Eu não acho que consigo. – Senti as lágrimas brotarem de meus olhos. – Quando eu o conheci, eu pensei “que idiota, ele realmente acha que vai me ganhar com essa cantada de militar que foi desligado?” – Ri fracamente. – Não foi com isso que ele me ganhou, foi por muito mais. – Passei a mão embaixo de meus olhos. – Eu não sei mais viver sem ele, Anna. Ele ganhou meu coração. – Suspirei. - Você já me imaginou falando isso? Eu sempre fui muito decidida, autossuficiente e agora perdi tudo que eu nunca achei que sentiria falta. – Puxei a respiração. – Se for para eu viver uma vida sem o amor dele, eu prefiro não tê-lo nem como amigo.
- Me desculpe, minha amiga. – Ela colocou a mão sobre a minha e eu engoli em seco. – Odeio te ver assim.
- Talvez seja hora de seguirmos por caminhos diferentes. – Suspirei.
- Eu não vou pressionar, mas acho que você deveria tentar. – Fiquei em silêncio com sua resposta e foquei em jantar. Já se passavam da meia noite, então nem era considerado mais um jantar e sim uma ceia.
Meu turno havia começado somente há quatro horas, mas teve um acidente no dia anterior, então os trabalhos com os feridos eram bem frequentes, parávamos quando era possível. Graças a Deus não era nada grave como de .
- Bom, eu vou fazer uma ronda, nos encontramos quinta? – Anna perguntou se levantando e eu fiz o mesmo, levando minha bandeja até o local adequado.
- Eu estarei aqui. – Falei e ela me deu um rápido abraço antes de seguir para o fundo do hospital e eu segui para o elevador, apertando o botão andar dos quartos.
Chequei no computador as últimas informações dos pacientes e imprimi a lista de afazeres, antes de seguir pelos quartos, dei uma passada no banheiro para lavar o rosto para aguentar a madrugada trocando bandagens e outros curativos. Segui para o corredor de recuperação e checava na porta o quarto dos pacientes. Troquei curativos de dois ferimentos de bala, ajustei a morfina de um paciente terminal e perdi alguns minutos conversando com uma dupla de senhoras tagarelas que estavam ali devido à uma hemodiálise.
Olhei para o próximo nome na prancheta e suspirei, sabendo que era , normalmente eu deixava para Anna, mas só tinha eu ali. Parei em frente à porta do seu quarto e conferi o relógio, era quase uma hora da manhã, a maioria dos pacientes estava dormindo, com exceção das tagarelas do quarto do lado. Puxei a respiração, rezando para que ele estivesse dormindo e empurrei a porta do quarto levemente, colocando somente os olhos para dentro, respirando aliviada ao perceber que ele dormia.
Observei uma mecha de seus cabelos caindo no rosto, devido ao curativo colocado na cabeça e me aproximei do mesmo, levando uma mão até o local instintivamente e a coloquei para o lado, suspirando. Olhei para o lado e percebi que ele estava à base de morfina, dose leve, mas significava que ele ainda sentia dor, agora não sabia dizer em que parte.
Chequei um tanto de longe o ferimento em sua cabeça e ele parecia novo, Anna deveria ter passado aqui mais cedo para trocar. Puxei a coberta levemente de seu corpo e percebi que sua camisola não estava totalmente estendida, ela estava levantada no lado do ferimento em sua barriga, provavelmente para facilitar a troca nesses momentos.
Virei para o lado, procurando por materiais para fazer o curativo e apoiei no canto da cama, subindo mais a camisola e foi aí que percebi que ele também estava sem cueca, me fazendo soltar a camisola de volta no lugar, surpresa com o que eu encontrei.
- Não é como se você nunca tivesse visto.
- Ah! – Dei um pulo e ele riu fracamente.
- Desculpe, não queria te assustar. – Ele disse, se sentando, fazendo uma careta com o feito.
- Eu vim trocar seu curativo, não sabia que estava... – Fiz uma careta. – Desprevenido. – Ele riu fracamente, ajeitando a camisola de forma que ficasse fácil para eu ajustar o curativo e que seu amigo ficasse escondido por baixo do pano.
- Sabe, eu não me importo... – Ele disse e eu neguei com a cabeça.
- Não importa quantas vezes eu já tenha visto, você não sabe disso. – Falei firme, começando a puxar o largo curativo na lateral de sua barriga e ele fez uma careta com isso.
- Não, mas diz muito sobre uma pessoa. – Ele riu fracamente e eu neguei com a cabeça.
- Dói? – Perguntei sobre o machucado e encarei o mesmo.
- Um pouco ainda. – O machucado tinha uns oito centímetros de largura e três ramificações, já quase inteiro fechado.
- Eu vou ser rápida, prometo. – Falei.
- Não precisa, eu queria que você viesse mesmo. – Peguei a gaze para fazer a limpeza, tentando evitar contato visual com ele.
- Algum motivo em especial? – Perguntei, vendo sua barriga se contrair com a limpeza.
- Só queria te ver. – Ergui o rosto, encarando seus olhos fixos em mim.
- Bem, estou aqui... – Falei fracamente, desviei novamente.
- Sim, e já é o suficiente. – Suspirei, passando a pomada levemente, vendo o corpo contrair com o toque de minha mão e evitei mantê-la por muito tempo e logo coloquei a gaze limpa e comecei a fechar com o esparadrapo.
- Você deveria vir mais vezes. – Ele falou e eu engoli em seco.
- Eu não consigo. – Fui honesta com ele e virei o corpo para as gavetas, devolvendo os materiais usados.
- Me desculpe... – Ele sussurrou e eu me virei para olhá-lo.
- Você não tem que pedir desculpas. – Falei firme. – Nada disso foi culpa sua, é só a vida acontecendo. – Suspirei.
- É, mas afetou você e não quero te ver triste.
- Você não me conhece. – Falei fracamente.
- Mas eu quero. – Ele disse igualmente fraco.
- Eu tenho que ir. – Ele segurou meu braço.
- Fica! – Ele disse. – Um pouco, pelo menos. – Encarei seu rosto com aquele olhar de cachorro pidão, o mesmo olhar que me conquistou, e derrubei os ombros cansada de lutar e fui até a cadeira a seu lado, me sentando na mesma.
- Você quer saber algo? – Perguntei fracamente.
- Quero saber tudo. – Ele disse rindo fracamente. – Mas agora só quero pegar essa oportunidade e olhar para ti. – Ele deu um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça, retribuindo.
- Por quê?
- Não sei, talvez seus olhos tragam alguma lembrança para mim... – Ele deu de ombros.
- Eu queria que a medicina fosse fácil assim. – Suspirei.
- Eu acredito em milagres.
- Eu sei. – Falei com um pequeno sorriso no rosto.
- Você é linda, sabia? – Ele disse e ri fracamente.
- É, você me falou isso. – Comentei e ele sorriu.
- Acho que eu estou cansado. – Ele bocejou, colocando a mão com o medidor de pressão na frente da boca.
- Eu vou te deixar descansar.
- Só fique mais um pouco, por favor. – Ele disse e eu suspirei.
- O médico te disse quando você vai embora?
- Assim que os ferimentos cicatrizarem por completo, depois vou voltar para fazer tratamentos de memória. – Ele falou.
- Parece que logo, então. – Disse.
- Sim, mais uns 10 dias. – Assenti com a cabeça, dando um sorriso.
- Vai ficar como novo.
- Não tanto quanto, mas... – Ele deu de ombros. – Não tenho o que fazer.
Ficamos em silêncio pelos próximos minutos e percebi que ele evitou fechar os olhos, talvez querendo aproveitar a companhia que ele também sabia que não teria em outra oportunidade. Engoli em seco quando percebi um ronco baixo saindo por seus lábios e passei a mão no rosto, sentindo uma lágrima solitária ali. Limpei-a rapidamente e me levantei, pegando minha prancheta novamente.
Encarei seu rosto sereno enquanto dormia e me lembrei de como tudo era calmo e fácil para ele, quando eu vivia ligava nos 220 volts. Creio que só ele para tratar uma perda de memória com tanta calma e preocupação ao mesmo tempo. Normalmente as pessoas não costumam se preocupar com quem fica, sentem sim certo trauma por se esquecer de pessoas importantes, mas nunca se preocupam a ponto de tentar fazer com que elas não sejam afetadas pelo trauma causado.
Mas eu sempre soube que era diferente de todos, foi o único que conseguiu me conquistar e era o único que fez meu coração bater mais forte, então a possibilidade de perde-lo era assustadora, doía quase como se ele não tivesse saído vivo desse acidente.
Segurei os cabelos para trás e me debrucei sobre o mesmo, depositando um curto beijo em sua testa e suspirei, saindo de seu quarto e fechando a porta, encontrando Connor do lado de fora, me encarando.
- Bisbilhotando? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Rezando por uma evolução. – Ele falou e eu sorri.
- Eu também, meu amigo. – Suspirei.
- Você vai ver, isso não vai passar de uma brincadeira de mal gosto. – Derrubei os ombros frustrada.
- Deus te ouça. – Falei. – A gente se vê depois.
- Vai lá. – Ele falou e eu acenei com a mão, seguindo pelo corredor.
Entrei na sala de descanso, vi que estava sozinha e fechei a porta, sentindo as lágrimas escorrerem fortemente de meus olhos e o soluço ecoar no quarto vazio. Deixei meu corpo escorregar pela porta e sentar no chão gelado. Levei as mãos à boca com a esperança de reduzir o som, mas era em vão.
- Ah, minha amiga. – Ergui o rosto para Mary que saía do banheiro e ela veio correndo em minha direção, se ajoelhando em minha frente. – O que houve?
- Eu falei com . – Puxei a respiração forte, passando a mão no nariz. – Eu não posso fazer isso, Mary, ele quer tentar, mas eu não consigo fingir que nada aconteceu. – Ela se colocou ao meu lado, me abraçando fortemente. – Eu queria nunca ter me apaixonado.
- Xi, não fala isso. – Ela acariciou meu rosto. – Ele é a melhor coisa que já aconteceu contigo, independente da situação. – Ela deu um beijo em minha cabeça. – Você vai ver, tudo vai ficar bem.
- Quando? – Gemi. – Eu não consigo vê-lo com aquele sorriso perdido sem sentir uma dor no peito.
- Eu sei, mas tudo vai ficar bem, dê tempo ao tempo. – Ela me apertou mais. – Estamos aqui contigo.
Os dias se passaram e eu não me atrevi a ir ver novamente. Depois daquele encontro, eu percebi que estava vulnerável demais ainda e sentia que estava prestes a desmoronar. Alguns dias depois, ele começou a melhorar e fazer caminhadas pelo hospital, foi aí que começamos a viver um verdadeiro jogo de esconde-esconde.
Quando eu percebia que precisava ir até seu andar e o encontrava andando de um lado para outro, conversando com algum funcionário ou até com doutor Cranston, eu dava meia volta antes mesmo que ele me visse, mas também tinha casos que ele me via, abria aquele sorriso que acabava com meu coração e eu só conseguia negar, abaixar a cabeça e entrar no primeiro quarto que eu via.
Eu sabia que isso também estava afetando-o, toda vez que Andrew aparecia no hospital para visita-lo ou trazendo alguma emergência, ele pedia para eu ir vê-lo e eu repetia a mesma coisa: que não conseguia. Eu consegui fugir bem de tudo isso, até o dia que eu não consegui mais.
- ? – Virei para o lado, encontrando Andrew com um grande e bonito arranjo de tulipas, minha flor favorita.
- Hum, a Joan vai ganhar um buquê hoje, é? – Comentei e ele riu fracamente.
- Na verdade, é para você! – Ele me estendeu e eu franzi a testa. – Veio do quarto 37. – Ele falou e eu ri fracamente.
- O que ele quer, Andrew? – Perguntei, sabendo de cor o número do quarto de .
- Ele pediu para te ver. – Ele falou. – Ele sabe que você está fugindo dele.
- Eu não posso, Andrew, ainda não.
- Por favor, . – Neguei com a cabeça. – Ele vai ter alta hoje, quer te ver antes de sair...
- Porque ninguém entende meu lado? – Me levantei.
- Nós entendemos, mas por favor... – Ele estendeu o buquê novamente e percebi o envelope preso no mesmo. – Ele também está sofrendo.
Engoli em seco e abri o envelope, encontrando um pequeno pedaço de papel e minha aliança de noivado perdida no fundo do mesmo. Olhei para Andrew e ele assentiu com a cabeça, me dando forças para abrir o mesmo. Suspirei quando abri e vi a letra de meu noivo ou antigo noivo.
“Não consigo me lembrar de todas as noites, e nem de quando você esteve comigo, mas sinto que você me afeta de um jeito diferente, posso te levar para sair?
PS: Se eu sou sua alma gêmea, é o mínimo que você pode fazer”.
Respirei fracamente, negando com a cabeça.
- Isso só pode ser brincadeira. – Ri fracamente e virei para Anna ao meu lado que sorria para mim, desviando o olhar logo em seguida.
- Grande encontro essa noite? – Ela perguntou.
- O que vocês estão aprontando? – Perguntei e nenhum dos dois respondeu. – Eu odeio vocês! – Segui em direção ao elevador, batendo os pés pesadamente no chão e apertei o botão.
Subi até a ala dos quartos e pedi licença para algumas pessoas quando saí do elevador. Andei pelo corredor e dei dois toques na sua porta, antes de abrir a mesma, encontrando-o se vestindo com doutor Cranston ao seu lado.
- Opa! – Falei, vendo-o abotoar sua blusa social, já fora das roupas do hospital.
- Ei! – Ele falou animado. – Você veio.
- O que é isso? – Joguei o arranjo em cima da maca.
- Você não gostou? Acho que eu errei a flor, então.
- Não, você não errou, mas porque está fazendo isso?
- Eu vou deixar vocês a sós. – Doutor Cranston falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair da sala.
- E então? – Perguntei novamente.
- Você sumiu. – Ele falou como se fosse óbvio e eu franzi a testa.
- O que você queria que eu fizesse? Não estamos mais juntos.
- Por quê? – Ele perguntou inocentemente e eu franzi a testa. – Me diga, porque não podemos mais ficar juntos?
- Você está brincando, não é?! Como você quer fizer junto de uma pessoa que você não tem a mínima ideia de quem seja? – Falei entre risadas.
- Porque é minha alma gêmea. – Ele suspirou.
- Você não sabe disso. – Puxei a respiração, sentindo que já estava com vontade de chorar novamente.
- Mas você sabe. – Ele disse.
- Não faz sentido. – Suspirei.
- Andrew está me contando histórias nossas todo esse tempo, você é incrível. – Ele falou rindo. – Deixa eu te levar para sair, te conhecer novamente. – Neguei com a cabeça. – Provavelmente vai ser um saco para você, mas me dê um encontro, eu sou bom com piadas. – Ri fracamente.
- Eu sei. – Suspirei. – Eu adoro a da maçã voadora. – Suspirei.
- Eu sei disso. – Franzi a testa e ele deu de ombros.
- Então, o que me diz? Somos noivos, certo? Não deve ter sido tão mal.
Soltei um longo suspiro.
- Sei que é a sua chance de achar um cara melhor do que eu, mas...
- Cala a boca. – Falei rapidamente, vendo-o se calar. – Meu plantão acaba as seis, te espero as sete na entrada.
- Se importa se formos de Uber? Sabe, meu carro deu perda total. – Revirei os olhos.
- Eu te pego. – Abanei a mão.
- Eu estarei no Andrew. – Ele falou e eu puxei o buquê novamente da mesa.
- Te vejo as sete. – Falei.
- Então, você gostou do buquê? – Ele perguntou e eu puxei a porta.
- Hum, problemas no paraíso? – Liz apareceu ao meu lado.
- Ele consegue me enlouquecer sem nem se lembrar de mim. – Suspirei.
- É o amor da sua vida, agora aguenta. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
Buzinei quando parei na frente da casa de Andrew, vendo sair pela porta com seu conhecido suéter vermelho, calça e sapato social, além dos cabelos jogados para trás. Destravei as portas e ele entrou na mesma, com um sorriso no rosto.
- Oi. – Ele sorriu e eu retribuí, assentindo com a cabeça.
- Se comportem! – Ouvi Andrew gritar e acenei com a cabeça, seguindo com o carro.
- Aonde você quer ir? – Perguntei.
- Em algum lugar importante para nós. – Ele falou e eu suspirei.
- Ok. – Falei, respirando fundo e segui o caminho em silêncio.
Pensei em levá-lo para o bar aonde nos conhecemos, mas teria muita gente conhecida e ninguém que ele realmente reconheceria, talvez não tivesse a privacidade necessária, pensei em leva-lo aonde ele me pediu em casamento, mas minha mãe encheria nós dois com perguntas nem tão discretas sobre seu estado, então segui até a ponta do Brooklyn, aonde ele me pediu em namoro.
- Vem. – Falei, parando o carro nas laterais da ponte e coloquei meu casaco, enfiando minhas mãos nos bolsos.
- A ponte do Brooklyn? – Ele perguntou, ficando ao meu lado e eu travei o carro, assentindo com a cabeça.
- Você me pediu em namoro aqui. – Disse, começando a andar lado a lado com ele. – Durante uma corrida beneficente para o hospital. – Segui andando ao seu lado. – Você já estava cansado demais, quase desistindo, quando praticamente se jogou no chão. – Ri fracamente ao lembrar da cena. – Aí eu te levei para lateral, para você respirar um pouco e você riu. Falou que precisaria de mim para cuidar de você e que sugeria tratamento vitalício em troca de namorar você. – Neguei com a cabeça.
- Eu sou muito idiota. – Ri fracamente.
- Eu já estava apaixonada por você, então aceitei. – Apoiei a cintura no parapeito da ponte e cruzei os braços.
- Entre você me conhecer e a gente começar a namorar demorou muito tempo? – Ele perguntou, se sentando em uma das baixas barreiras de metal de proteção entre a rua e a calçada, ficando de frente para mim.
- Cinco meses. – Sorri. – Eu me fiz de difícil um pouco. – Ele sorriu.
- Deve ser por isso que eu te pedi em casamento rápido demais. – Dei de ombros.
- Talvez. – Suspirei. – Eu era muito séria quando te conheci, mas percebi que contigo a vida era mais divertida e tinha um efeito melhor do que a que eu vivia. – Suspirei. – Sozinha eu era a gerente das enfermeiras, com você eu me tornei a enfermeira chefe. – Suspirei. – Sozinha eu era fechada e tinha dois ou três amigos, com você eu me abri para todo mundo e me permiti errar.
- Eu te fiz bem. – Assenti com a cabeça.
- Até demais. – Suspirei, olhando para o chão.
- E o que você melhorou em mim? – Ele perguntou e eu o encarei.
- Eu não sei. – Fui honesta. – Você já era perfeito. – Dei de ombros.
- Andrew diz que eu era mais irritado antes de você, mimado talvez. Que não aceitava as batalhas que a vida me dava. – Ele começou a falar. – Ele disse que eu não sorria tanto, que com você parece que eu dormia com um cabide na boca todos os dias. – Mordi meu lábio inferior.
- O que mais? – Perguntei.
- Que a vida é imperfeita, incerta, inconstante, incontrolável. – Ele disse. – Ela não acontece quando a gente quer, acontece quando a gente precisa. – Puxei a respiração forte.
- Nunca pensei em como podemos afetar as pessoas. – Suspirei.
- Agora você entende? – Ele se levantou da barreira e se encostou ao meu lado, apoiando o braço no parapeito.
- O quê? – Perguntei, me virando igual a ele.
- O porquê eu quero tentar novamente? Você é minha alma gêmea, minha cara metade, quem me faz bem e quem me apoia todos os dias.
- Você sabe que vai ser difícil, não é? – Ergui os olhos para ele.
- Eu estou disposto a tentar. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Como você pode ter tanta certeza de que vai dar certo? – Perguntei.
- Eu não sei, mas já deu certo uma vez. E sim, raios caem duas vezes no mesmo lugar. – Ele estendeu sua mão. – O que me diz?
- Eu te amo, . – Falei fracamente. – E não te ter parece o fim do mundo, mas... – Suspirei. - Eu também não quero que você fique comigo só por isso. Amor é feito a dois, é mútuo, companheiro, parceiro, compartilhado, é...
- Me deixe compartilhar com você, então. – Ele encarou fundo em meus olhos, tirando uma mecha de meu rosto.
- Não posso fazer isso com você. – Sorri fracamente.
- Eu quero. – Ele fez um carinho em meu rosto e eu percebi sua aproximação, me fazendo dar um suspiro involuntário.
- Não faça isso. – Falei quase em um sussurro, mas ele ignorou meu pedido e colou nossos lábios delicadamente.
Apoiei a mão no parapeito em uma tentativa de não apertá-lo contra meu corpo mais uma vez, mas deixei com que ele conhecesse minha boca como uma primeira vez, tocando os lábios levemente com os seus, e movimentando os lábios da mesma forma que antes. Levei meu corpo para trás, nos afastando e encontrei seus olhos cheios de dúvidas me encarando.
- Desculpe. – Ele sussurrou. – Eu não deveria ter feito isso. – Ele abaixou a mão em meu rosto e se virou para o lado de fora da ponte.
- Eu disse...
- Eu precisava saber como era. – Ele me olhou de canto de olho. – É bom! – Revirei os olhos.
- Você não desiste. – Apoiei os braços igual a ele, sentindo o vendo bater forte em meu rosto.
- Você quer que eu desista? – Ele revidou e eu o encarei sem palavras. – Não quero te perder, mas também não quero te fazer sofrer, então, se estiver te machucando, me avise que eu paro. – Ele foi honesto. – Eu posso esperar o tempo que for.
- Não. – Falei honesta. – Eu não quero que você desista de nós, mas eu também não consigo não desistir. – Suspirei.
- Eu tenho a consciência de que isso não vai acontecer de um dia para outro, mas ter a liberdade para tentar, já me dá uma grande esperança. – Ri fracamente, apoiando o queixo na mão.
Fiquei em silêncio, tentando digerir suas palavras naquele lugar tão significante para nós... Quer dizer, para mim. Eu lembro de pensar que ele estava tendo um ataque cardíaco naquela tarde e que eu havia sido tão difícil com ele, demorando para aceitar um primeiro beijo, um primeiro encontro e que nem tínhamos tido nossa primeira vez, e estaria perdendo-o ali, sem nem ter dado uma chance real para ele.
Quando ele olhou pra mim e perguntou “quer namorar comigo?” eu quis enfiar a mão na cara dele de raiva, mas eu só lhe tasquei um beijo, sabendo eu gostaria de tê-lo me irritando e fazendo piadas para sempre. E, de certa forma, eu estava na mesma situação ali, lá estava eu me fazendo de difícil de novo, mesmo sabendo que tudo o que eu mais queria era que ele me escolhesse novamente, que se apaixonasse por mim de novo.
Eu não podia perdê-lo, nunca. Meu maior desejo era que ele se lembrasse, mas e se ele nunca se lembrar? Eu o esqueceria e fingiria que nada aconteceu? Eu conseguiria fazer isso e viver como se ele nunca tivesse passado na minha vida? Eu sabia que não.
- E então... – Foquei meus olhos nas águas lá embaixo novamente e virei o rosto para que me encarava. – O que me diz? – Ele empurrou algo para mim pelo parapeito e afastou a mão para trás, com receio que caísse e vi minha aliança de noivado e percebi que ele usava a dele.
- Eu digo que você está louco. – Suspirei.
- Acho que isso nunca mudou. – Ele brincou e eu ri fracamente.
- Isso não é uma brincadeira. – Falei firme.
- Não mesmo, é a minha vida e eu quero que faça parte dela. De todas as formas possíveis. – Suspirei, encarando a pequena aliança de ouro e engoli em seco.
- Eu já aprendi a não dizer não para você. – Peguei a aliança e a coloquei em meu dedo novamente. – E não vai ser agora que eu vou começar. – Suspirei, vendo um largo sorriso se formar em seu rosto.
- Prazer, . – Ele estendeu a mão. – Eu acabei de ser dispensado da marinha e você? – Abri um pequeno sorriso.
- , enfermeira do hospital Bells Park. – Sorri, segurando sua mão e sacudindo levemente ambas.
- É um prazer incrível te conhecer. – Ele falou segurando a risada e eu gargalhei junto dele, passando os braços ao redor de sua barriga e apoiando minha cabeça em seu peitoral.
- Só você mesmo. – Sorri, sentindo o vendo bagunçar meus cabelos e seus braços quentes me protegerem ao redor de seu corpo.
Me assustei quando meu pager tocou e eu puxei o mesmo, vendo o código “154” escrito, era o código de ambulância chegando. Coloquei meus pés para andar mais rápido e empurrei a porta da saída de emergência, descendo aqueles cinco andares a pé, encontrando dois residentes seguindo pelo mesmo caminho e empurrei a porta da emergência com força, já ouvindo o som da ambulância chegando.
- O que aconteceu? – Perguntei para a equipe de plantão.
- Acidente entre dois carros e uma bicicleta, quatro feridos. – A residente de plantão falou e eu peguei já um par de luvas e os vesti, vendo a porta da emergência abrir.
- Fale comigo, Andrew. – Falei para o paramédico e meu cunhado.
- Fratura exposta e duas costelas quebradas. – Ele falou sobre a menina que chorava alto imobilizada na maca.
- Anna, Mary, sigam ele. – Falei para as outras enfermeiras.
- Qual seu nome? – Ouvi Mary perguntando para a moça e vi outra ambulância entrando.
- Punhos e dedos quebrados, algumas escoriações. – O outro paramédico falou e eu apontei para Connor seguir o mesmo.
- Vai, gente! Cadê os outros dois?
- Chegando! – Outra paramédica entrou na sala de emergência às pressas.
- Possível fratura nas costelas, não consegue respirar direito. – Joan falou e eu segui a mesma, pegando já o estetoscópio e colocando no peito do garoto de cerca de 12 anos.
- O que você está sentindo? – Perguntei, ouvindo um forte chiado em seu peito.
- Eu... – Ele tossia forte e firmava a mão no peito. – Dor.
- Faça um raio-X para checar perfurações no pulmão. – Falei para o residente e ele afirmou com a cabeça. – E deixe esse garoto no oxigênio.
- Não tem um fisioterapeuta de plantão? – Mary perguntou alto para que eu pudesse ouvir.
- Só residentes e enfermeiras, dá um jeito. – Respondi, vendo as macas andarem por aqui. – E o último? – Perguntei, ouvindo o silêncio. – Fale comigo, Joan. – Falei alto, saindo da sala anterior. – Joan! – A chamei novamente e me aproximei do último paciente.
- , cai fora daqui! – Isaac falou, apontando para fora e eu me aproximei do mesmo.
- Andrew, tire ela daqui. – Connor gritou.
Observei a pessoa em cima da maca e travei ao perceber que era desacordado, com um pedaço de metal enfiado em sua barriga e grandes manchas de sangue em sua cabeça, junto de pedaços pequenos de vidro ao redor de seus olhos.
- ! – Gritei, sentindo alguém me puxar pela cintura de costas.
- Levem-no para SO um agora! – Connor gritou. - Liguem para o doutor Cranston, não me importo se ele estiver no México, tragam-no aqui agora! – Eles começaram a movimentar sua maca.
- , por favor. – Senti as lágrimas começarem a descer pelos meus olhos e o desespero se instalou em meu corpo. Isso não podia ser verdade.
- , amor, olha para mim. – Andrew apareceu em minha frente. – Ele vai ficar bem, ok?! Respira fundo. – Ele segurou meus ombros, me parando de seguir.
- Eu não sei o que fazer sem ele, Andrew. – Falei e ele me abraçou fortemente, me permitindo chorar em seus ombros.
- Ele vai ficar bem, você vai ver. – Suspirei, escondendo os olhos em seus ombros.
Passei as mãos nos olhos, checando o relógio mais uma vez pelas últimas 11 horas e ele simplesmente não passava e ninguém sabia me dar informações. Mesmo sendo enfermeira chefe, eles me baniram das imediações e estavam me tratando exclusivamente como acompanhante.
Afundei as mãos nos olhos, tentando cessar a vontade de chorar mais uma vez e ouvi a cadeira estalar ao meu lado, me fazendo erguer o rosto e encontrei Liz, minha chefe e presidente do hospital. Ela passou a mão em minhas costas e eu ergui meu corpo, sentindo-a me abraçar fortemente.
- Está tudo bem. – Ela disse acariciando minha nuca e eu puxei o ar novamente, sentindo dificuldade ao passar pelas minhas narinas. – Ele vai ficar bem.
- Eu não sei. – Falei honestamente, nos afastando devagar. – Ele estava péssimo quando chegou. – Senti as lágrimas escorrerem de novo e Liz as limpou com a ponta do dedo. – Eu não sei se ele...
- Sai sim! – Ela me cortou. – é seu noivo, um acidente é fichinha para ele. – Ela disse, me fazendo suspirar. – Me diga o que houve.
- Ele estava voltando do trabalho, o outro motorista tentou fazer uma ultrapassagem em , mas ele não tinha espaço para isso, no que ele foi voltar, ele voltou em cima de e o empurrou para faixa de lá, aí ele foi atingido pelo carro que vinha. – Falei fracamente, lembrando da história que os outros feridos haviam contado para a polícia. – Uma bicicleta foi pega no fogo cruzado também.
- Eu não sei o que te dizer, mas ele terá todo cuidado aqui, ok?! E você pode suspender seus plantões imediatamente, se você não estiver ao lado de , esteja descansando. – Suspirei. – Nós vamos pagar qualquer tipo de dano físico e material para vocês.
- Obrigada, Liz. – Falei e ela assentiu com a cabeça, fazendo um carinho em meu ombro.
- ! – Virei o rosto, vendo doutor Cranston saindo da sala de operações e tirando sua máscara da boca e touca da cabeça.
- Me diga que deu tudo certo. – Disse em um gemido e minha chefe se levantou comigo.
- Conseguimos fazer a retirada do objeto da barriga dele, atingiu um pouco o estômago, mas conseguimos retirar a parte danificada sem problemas. – Assenti com a cabeça. – Agora, percebemos que tinha um pouco de massa encefálica nos machucados na sua cabeça. – Arregalei os olhos. – Também fizemos a limpeza e os reparos, mas saberemos a extensão das lesões somente quando ele acordar.
- O que isso pode afetar? – Perguntei.
- Descanse, nos falamos quando ele acordar. – Ele me abraçou fortemente e eu suspirei em seus braços. – Assim que liberar sua entrada na UTI, te avisamos. – Assenti com a cabeça, suspirando alto.
- Porque você não vai pegar um café? – Andrew apareceu e eu respirei fundo.
- Eu estou bem. – Falei.
- Você está sentada aqui faz mais de seis horas, , vá ao banheiro, pegue algo para comer. – Ele segurou minha mão. – Eu fico com ele. – Engoli em seco.
- Eu não quero. – Falei chorosa, vendo ligado em várias máquinas e com a barriga e a cabeça enfaixada.
- Você está aqui há dias, quando foi a última vez que descansou?
- Quando ele chegou. – Engoli em seco.
- Vai dar uma volta, posso te garantir que ele não vai a lugar nenhum. – Ri fracamente, negando com a cabeça e ele me puxou, me fazendo ficar de pé. – Vai sim, pelo menos comer algo. Tem sanduíche na cantina. – O abracei rapidamente, recebendo um beijo em sua bochecha.
- Eu já volto. – Respirei fundo e peguei minha bolsa na cadeira e segui primeiramente ao banheiro.
Fiz questão de lavar meu rosto com bastante água gelada, tentando aliviar as grossas manchas de inchaço embaixo dos olhos criadas nesses 12 dias e aproveitei para ir ao banheiro. Depois, segui em direção à cafeteria, recebendo aquele olhar de todos os meus conhecidos do hospital e peguei rapidamente um lanche e um suco e me sentei em um lugar afastado para comer, não estava pronta para responder perguntas ou afins.
Larguei o lanche pela metade e me forcei a engolir o resto do suco antes de voltar para o quarto de . Quando cheguei na porta do mesmo, vários médicos, residentes e enfermeiros conversaram entre si na porta do quarto.
- O que está acontecendo? – Perguntei fracamente.
- Ele acordou. – Doutor Cranston falou e eu senti minha respiração falhar por alguns segundos.
- Ele está bem? – Perguntei com o mesmo tom de receio de antes.
- Ele perguntou sobre você. – Ele falou e eu senti a respiração falhar por alguns segundos, passando as mãos nos cabelos bagunçados.
Engoli em seco e soltei a respiração pela boca, vendo eles darem abertura para eu entrar no quarto de e suspirei quando vi seu sorriso. Ele falava com Mary, outra enfermeira, que parecia tentar explicar para ele o que estava acontecendo.
- ? – Perguntei fracamente e ele se virou para mim, com um pequeno sorriso no rosto.
- Você é mesmo linda! – Ele falou, me fazendo sorrir.
- Só você para dizer isso depois de tudo o que aconteceu. – Comentei.
- Você é realmente a mulher mais bonita do mundo. – Ri fracamente. – Quem é você? – Arregalei os olhos, olhando para Mary que me deu um sorriso triste.
- Essa é a , que você chamou. – Mary falou delicadamente.
- Me desculpe. – Ele se virou para mim, com aquele largo sorriso. – Você é incrível, mas eu não me lembro de você. – Respirei fundo, sentindo as lágrimas deslizarem silenciosas pela minha bochecha.
- Podemos conversar lá fora? – Mary perguntou e eu não pensei duas vezes antes de sair correndo do quarto, sentindo as lágrimas escorrerem pela bochecha. – ! – Ela me chamou novamente.
- Ele não se lembra de mim. – Falei em um tom alto e choroso.
- Espere! – Ela me puxou pela mão. – Olha para mim! – Ela falou firme. – Ele pode não se lembrar dos momentos juntos, mas ele sabe quem é você. – Ela falou.
- Não! Ele não sabe quem eu sou ou o que passamos juntos! Ele não sabe de nada. – Respirei fundo, levando as mãos à cabeça.
- Ele sabe! – Ela segurou meus ombros. – Ele falou seu nome antes de abrir os olhos. Ele falou que você é a pessoa mais linda do mundo. É como se, de alguma forma, você estivesse cravada no cérebro dele, como uma tatuagem.
- Não é assim que a medicina funciona, Mary. – Respirei fundo. – Ele não tem a mínima ideia de quem eu sou.
- Eu nunca vi um amor como o dele por você. Nem você o ama da forma que ele ama você. – Respirei fundo. – Dê um tempo, deixe que ele se lembre de você, dos seus momentos e de como se apaixonou por você. – Ela me sacudiu. – Vocês são almas gêmeas, nem um acidente pode mudar isso. – Suspirei.
- Não foi uma perna quebrada, Mary, não é assim. – Suspirei.
- ...
- O que é? – Falei brava, virando para Andrew.
- Ele quer falar contigo. – Ele disse e eu respirei fundo.
- Posso ter um pouco de privacidade, pelo menos? – Falei brava para as diversas pessoas amontoadas ali e elas começaram a se dissipar. Soltei uma respiração forte novamente e segui em direção ao quarto.
- Você voltou! – falou sorridente e não consegui evitar um sorriso também.
- Você me chamou. – Falei simplesmente e fechei a porta, deixando os curiosos para fora.
- Você me pareceu decepcionada quando eu disse que não me lembrava de você. – Suspirei, me sentando na cadeira livre ao seu lado.
- Nós tínhamos uma história. – Comentei, apoiando as duas mãos em cima da minha barriga.
- Me conte. – Ele disse e eu respirei fundo, negando com a cabeça.
- Eu não quero afetar suas memórias. – Suspirei.
- Eu quero. – Ele disse, estendendo a mão e eu respirei fundo.
- Nós... – Suspirei, passando as mãos nos olhos. – Nos conhecemos em um bar há alguns quarteirões daqui. Eu estava em um happy hour com minha equipe e você estava triste por ter sido dispensado da marinha por uma queda bem feia de bicicleta. – Ele riu fracamente.
- Parece que eu tenho tendência em me meter em problemas. – Dei um pequeno sorriso, assentindo com a cabeça.
- Um pouco até demais. – Suspirei.
- E o que eu fiz depois disso? – Ele perguntou.
- Você passou em Julliard e se formou em teatro e começou a dirigir grandes peças. – Suspirei.
- E você é uma enfermeira aqui? – Ele perguntou.
- Enfermeira chefe. – Suspirei.
- Ah, eu devo ter feito algo muito certo para uma moça tão bonita quanto você gostar de mim. – Rimos juntos.
- Você tem um jeito diferente, mas você é a melhor pessoa do mundo. – Suspirei. – Você faz com que eu me sinta bem. Faz eu sentir calor em dezembro, faz eu te seguir pela loucura da vida, você sabe como eu gosto do meu peixe, sabe qual marca e modelo de absorvente eu uso e quando eu vou precisar dele. – Suspirei. – Você pediu para se casar comigo há uns dois meses. No terraço da casa dos seus pais, enquanto chovia para caramba. – Ri fracamente. – Eu fiquei doente três semanas direto. – Ri fracamente. – Depois fizemos uma festa para nossos amigos nesse mesmo bar. – Suspirei, soltando o ar devagar. – Três dias depois você se acidentou. – Mordi meu lábio inferior. - Nós somos almas gêmeas. – Mordi meu lábio inferior. – Éramos.
- Se eu fui sua alma gêmea uma vez, posso muito bem me tornar novamente. – Ele falou e eu ri fracamente, rodando minha aliança de noivado no dedo.
- Não complique isso. – Neguei com a cabeça. – Não force algo fadado ao fracasso. Seus ferimentos foram feios, você precisa descansar e vai ficar aqui por muito tempo.
- Você vem me visitar? – Ele perguntou animado e eu suspirei, tirando a aliança.
- Descanse, ok?! – Apoiei a aliança em cima do aparelho e me levantei.
- , eu... – Neguei com a cabeça e saí do quarto novamente.
- Eu não posso fazer isso.
Mais 13 dias se passaram sem que eu quisesse chegar perto da ala em que estava. Eu não podia me dispor a isso. Ele estava com perda de memória e, segundo doutor Cranston, aquilo afetava suas memórias novas, algo cerca de cinco anos para cá. Ele se lembra de entrar na marinha, mas não se lembra do acidente de bicicleta, nem da dispensa, nem de me conhecer, consequentemente não se lembra de oito meses de namoro e nem do pedido de casamento.
Eu me sentia perdida em uma luta, mas também presa em algum lugar sem conseguir sair. Era como se meus pés estivessem presos no chão, sem permitir que eu seguisse em frente ou tentasse algo de diferente. Eu estava quebrada e, apesar da negação de Liz, só o trabalho conseguiu me distrair um pouco.
Segui fazendo plantões de 36 e 48 horas, o máximo que meu corpo me permitia, tudo para evitar a ida para meu apartamento e encontrar todas as nossas coisas lá, mas eu também não passava em seu quarto. Mary havia ficado encarregada disso e eu sempre passava por lá durante a noite, quando ele já estava dormindo, só para ver seu rosto sereno.
Meus amigos do hospital já o conheciam de todas as festas e confraternizações, além das diversas surpresas que ele fazia constantemente para mim no hospital, então os mais próximos haviam criado um vínculo com ele, até os residentes, então eu sabia que ele estava sendo bem cuidado e sabia da evolução de seus ferimentos.
A cabeça foi o ponto mais afetado no acidente, então a preocupação foi muito maior, mas ele respondeu muito bem ao tratamento físico, agora as lembranças... Diversos profissionais fizeram testes para ver se conseguiam tirar pelo menos algo mais recente dele, mas nada, era como se o ponto máximo de lembrança foi o aniversário da sua mãe cinco anos atrás.
- Você deveria vê-lo. Ele pergunta de você. – Anna disse quando sentamos para jantar naquela madrugada.
- Eu não estou pronta para enfrentar isso, Anna. Acho que nunca vou conseguir. – Suspirei.
- Eu só consigo imaginar como você está se sentindo, mas ele quer tentar, isso não é algo bom? – Ela perguntou.
- Ele sempre muito bom, Anna, vocês contaram nossa história para ele, ele deve estar tentando fazer de tudo para não me magoar. – Suspirei.
- Mas porque ele está preocupado em não te magoar sendo que ele nem te conhece? – Respirei fundo.
- Porque ele é bom. – Engoli em seco.
- Você deveria ir vê-lo, lhe dê o benefício da dúvida, ele deve ter um plano. – Neguei com a cabeça.
- Eu não acho que consigo. – Senti as lágrimas brotarem de meus olhos. – Quando eu o conheci, eu pensei “que idiota, ele realmente acha que vai me ganhar com essa cantada de militar que foi desligado?” – Ri fracamente. – Não foi com isso que ele me ganhou, foi por muito mais. – Passei a mão embaixo de meus olhos. – Eu não sei mais viver sem ele, Anna. Ele ganhou meu coração. – Suspirei. - Você já me imaginou falando isso? Eu sempre fui muito decidida, autossuficiente e agora perdi tudo que eu nunca achei que sentiria falta. – Puxei a respiração. – Se for para eu viver uma vida sem o amor dele, eu prefiro não tê-lo nem como amigo.
- Me desculpe, minha amiga. – Ela colocou a mão sobre a minha e eu engoli em seco. – Odeio te ver assim.
- Talvez seja hora de seguirmos por caminhos diferentes. – Suspirei.
- Eu não vou pressionar, mas acho que você deveria tentar. – Fiquei em silêncio com sua resposta e foquei em jantar. Já se passavam da meia noite, então nem era considerado mais um jantar e sim uma ceia.
Meu turno havia começado somente há quatro horas, mas teve um acidente no dia anterior, então os trabalhos com os feridos eram bem frequentes, parávamos quando era possível. Graças a Deus não era nada grave como de .
- Bom, eu vou fazer uma ronda, nos encontramos quinta? – Anna perguntou se levantando e eu fiz o mesmo, levando minha bandeja até o local adequado.
- Eu estarei aqui. – Falei e ela me deu um rápido abraço antes de seguir para o fundo do hospital e eu segui para o elevador, apertando o botão andar dos quartos.
Chequei no computador as últimas informações dos pacientes e imprimi a lista de afazeres, antes de seguir pelos quartos, dei uma passada no banheiro para lavar o rosto para aguentar a madrugada trocando bandagens e outros curativos. Segui para o corredor de recuperação e checava na porta o quarto dos pacientes. Troquei curativos de dois ferimentos de bala, ajustei a morfina de um paciente terminal e perdi alguns minutos conversando com uma dupla de senhoras tagarelas que estavam ali devido à uma hemodiálise.
Olhei para o próximo nome na prancheta e suspirei, sabendo que era , normalmente eu deixava para Anna, mas só tinha eu ali. Parei em frente à porta do seu quarto e conferi o relógio, era quase uma hora da manhã, a maioria dos pacientes estava dormindo, com exceção das tagarelas do quarto do lado. Puxei a respiração, rezando para que ele estivesse dormindo e empurrei a porta do quarto levemente, colocando somente os olhos para dentro, respirando aliviada ao perceber que ele dormia.
Observei uma mecha de seus cabelos caindo no rosto, devido ao curativo colocado na cabeça e me aproximei do mesmo, levando uma mão até o local instintivamente e a coloquei para o lado, suspirando. Olhei para o lado e percebi que ele estava à base de morfina, dose leve, mas significava que ele ainda sentia dor, agora não sabia dizer em que parte.
Chequei um tanto de longe o ferimento em sua cabeça e ele parecia novo, Anna deveria ter passado aqui mais cedo para trocar. Puxei a coberta levemente de seu corpo e percebi que sua camisola não estava totalmente estendida, ela estava levantada no lado do ferimento em sua barriga, provavelmente para facilitar a troca nesses momentos.
Virei para o lado, procurando por materiais para fazer o curativo e apoiei no canto da cama, subindo mais a camisola e foi aí que percebi que ele também estava sem cueca, me fazendo soltar a camisola de volta no lugar, surpresa com o que eu encontrei.
- Não é como se você nunca tivesse visto.
- Ah! – Dei um pulo e ele riu fracamente.
- Desculpe, não queria te assustar. – Ele disse, se sentando, fazendo uma careta com o feito.
- Eu vim trocar seu curativo, não sabia que estava... – Fiz uma careta. – Desprevenido. – Ele riu fracamente, ajeitando a camisola de forma que ficasse fácil para eu ajustar o curativo e que seu amigo ficasse escondido por baixo do pano.
- Sabe, eu não me importo... – Ele disse e eu neguei com a cabeça.
- Não importa quantas vezes eu já tenha visto, você não sabe disso. – Falei firme, começando a puxar o largo curativo na lateral de sua barriga e ele fez uma careta com isso.
- Não, mas diz muito sobre uma pessoa. – Ele riu fracamente e eu neguei com a cabeça.
- Dói? – Perguntei sobre o machucado e encarei o mesmo.
- Um pouco ainda. – O machucado tinha uns oito centímetros de largura e três ramificações, já quase inteiro fechado.
- Eu vou ser rápida, prometo. – Falei.
- Não precisa, eu queria que você viesse mesmo. – Peguei a gaze para fazer a limpeza, tentando evitar contato visual com ele.
- Algum motivo em especial? – Perguntei, vendo sua barriga se contrair com a limpeza.
- Só queria te ver. – Ergui o rosto, encarando seus olhos fixos em mim.
- Bem, estou aqui... – Falei fracamente, desviei novamente.
- Sim, e já é o suficiente. – Suspirei, passando a pomada levemente, vendo o corpo contrair com o toque de minha mão e evitei mantê-la por muito tempo e logo coloquei a gaze limpa e comecei a fechar com o esparadrapo.
- Você deveria vir mais vezes. – Ele falou e eu engoli em seco.
- Eu não consigo. – Fui honesta com ele e virei o corpo para as gavetas, devolvendo os materiais usados.
- Me desculpe... – Ele sussurrou e eu me virei para olhá-lo.
- Você não tem que pedir desculpas. – Falei firme. – Nada disso foi culpa sua, é só a vida acontecendo. – Suspirei.
- É, mas afetou você e não quero te ver triste.
- Você não me conhece. – Falei fracamente.
- Mas eu quero. – Ele disse igualmente fraco.
- Eu tenho que ir. – Ele segurou meu braço.
- Fica! – Ele disse. – Um pouco, pelo menos. – Encarei seu rosto com aquele olhar de cachorro pidão, o mesmo olhar que me conquistou, e derrubei os ombros cansada de lutar e fui até a cadeira a seu lado, me sentando na mesma.
- Você quer saber algo? – Perguntei fracamente.
- Quero saber tudo. – Ele disse rindo fracamente. – Mas agora só quero pegar essa oportunidade e olhar para ti. – Ele deu um pequeno sorriso e eu assenti com a cabeça, retribuindo.
- Por quê?
- Não sei, talvez seus olhos tragam alguma lembrança para mim... – Ele deu de ombros.
- Eu queria que a medicina fosse fácil assim. – Suspirei.
- Eu acredito em milagres.
- Eu sei. – Falei com um pequeno sorriso no rosto.
- Você é linda, sabia? – Ele disse e ri fracamente.
- É, você me falou isso. – Comentei e ele sorriu.
- Acho que eu estou cansado. – Ele bocejou, colocando a mão com o medidor de pressão na frente da boca.
- Eu vou te deixar descansar.
- Só fique mais um pouco, por favor. – Ele disse e eu suspirei.
- O médico te disse quando você vai embora?
- Assim que os ferimentos cicatrizarem por completo, depois vou voltar para fazer tratamentos de memória. – Ele falou.
- Parece que logo, então. – Disse.
- Sim, mais uns 10 dias. – Assenti com a cabeça, dando um sorriso.
- Vai ficar como novo.
- Não tanto quanto, mas... – Ele deu de ombros. – Não tenho o que fazer.
Ficamos em silêncio pelos próximos minutos e percebi que ele evitou fechar os olhos, talvez querendo aproveitar a companhia que ele também sabia que não teria em outra oportunidade. Engoli em seco quando percebi um ronco baixo saindo por seus lábios e passei a mão no rosto, sentindo uma lágrima solitária ali. Limpei-a rapidamente e me levantei, pegando minha prancheta novamente.
Encarei seu rosto sereno enquanto dormia e me lembrei de como tudo era calmo e fácil para ele, quando eu vivia ligava nos 220 volts. Creio que só ele para tratar uma perda de memória com tanta calma e preocupação ao mesmo tempo. Normalmente as pessoas não costumam se preocupar com quem fica, sentem sim certo trauma por se esquecer de pessoas importantes, mas nunca se preocupam a ponto de tentar fazer com que elas não sejam afetadas pelo trauma causado.
Mas eu sempre soube que era diferente de todos, foi o único que conseguiu me conquistar e era o único que fez meu coração bater mais forte, então a possibilidade de perde-lo era assustadora, doía quase como se ele não tivesse saído vivo desse acidente.
Segurei os cabelos para trás e me debrucei sobre o mesmo, depositando um curto beijo em sua testa e suspirei, saindo de seu quarto e fechando a porta, encontrando Connor do lado de fora, me encarando.
- Bisbilhotando? – Perguntei e ele riu fracamente.
- Rezando por uma evolução. – Ele falou e eu sorri.
- Eu também, meu amigo. – Suspirei.
- Você vai ver, isso não vai passar de uma brincadeira de mal gosto. – Derrubei os ombros frustrada.
- Deus te ouça. – Falei. – A gente se vê depois.
- Vai lá. – Ele falou e eu acenei com a mão, seguindo pelo corredor.
Entrei na sala de descanso, vi que estava sozinha e fechei a porta, sentindo as lágrimas escorrerem fortemente de meus olhos e o soluço ecoar no quarto vazio. Deixei meu corpo escorregar pela porta e sentar no chão gelado. Levei as mãos à boca com a esperança de reduzir o som, mas era em vão.
- Ah, minha amiga. – Ergui o rosto para Mary que saía do banheiro e ela veio correndo em minha direção, se ajoelhando em minha frente. – O que houve?
- Eu falei com . – Puxei a respiração forte, passando a mão no nariz. – Eu não posso fazer isso, Mary, ele quer tentar, mas eu não consigo fingir que nada aconteceu. – Ela se colocou ao meu lado, me abraçando fortemente. – Eu queria nunca ter me apaixonado.
- Xi, não fala isso. – Ela acariciou meu rosto. – Ele é a melhor coisa que já aconteceu contigo, independente da situação. – Ela deu um beijo em minha cabeça. – Você vai ver, tudo vai ficar bem.
- Quando? – Gemi. – Eu não consigo vê-lo com aquele sorriso perdido sem sentir uma dor no peito.
- Eu sei, mas tudo vai ficar bem, dê tempo ao tempo. – Ela me apertou mais. – Estamos aqui contigo.
Os dias se passaram e eu não me atrevi a ir ver novamente. Depois daquele encontro, eu percebi que estava vulnerável demais ainda e sentia que estava prestes a desmoronar. Alguns dias depois, ele começou a melhorar e fazer caminhadas pelo hospital, foi aí que começamos a viver um verdadeiro jogo de esconde-esconde.
Quando eu percebia que precisava ir até seu andar e o encontrava andando de um lado para outro, conversando com algum funcionário ou até com doutor Cranston, eu dava meia volta antes mesmo que ele me visse, mas também tinha casos que ele me via, abria aquele sorriso que acabava com meu coração e eu só conseguia negar, abaixar a cabeça e entrar no primeiro quarto que eu via.
Eu sabia que isso também estava afetando-o, toda vez que Andrew aparecia no hospital para visita-lo ou trazendo alguma emergência, ele pedia para eu ir vê-lo e eu repetia a mesma coisa: que não conseguia. Eu consegui fugir bem de tudo isso, até o dia que eu não consegui mais.
- ? – Virei para o lado, encontrando Andrew com um grande e bonito arranjo de tulipas, minha flor favorita.
- Hum, a Joan vai ganhar um buquê hoje, é? – Comentei e ele riu fracamente.
- Na verdade, é para você! – Ele me estendeu e eu franzi a testa. – Veio do quarto 37. – Ele falou e eu ri fracamente.
- O que ele quer, Andrew? – Perguntei, sabendo de cor o número do quarto de .
- Ele pediu para te ver. – Ele falou. – Ele sabe que você está fugindo dele.
- Eu não posso, Andrew, ainda não.
- Por favor, . – Neguei com a cabeça. – Ele vai ter alta hoje, quer te ver antes de sair...
- Porque ninguém entende meu lado? – Me levantei.
- Nós entendemos, mas por favor... – Ele estendeu o buquê novamente e percebi o envelope preso no mesmo. – Ele também está sofrendo.
Engoli em seco e abri o envelope, encontrando um pequeno pedaço de papel e minha aliança de noivado perdida no fundo do mesmo. Olhei para Andrew e ele assentiu com a cabeça, me dando forças para abrir o mesmo. Suspirei quando abri e vi a letra de meu noivo ou antigo noivo.
“Não consigo me lembrar de todas as noites, e nem de quando você esteve comigo, mas sinto que você me afeta de um jeito diferente, posso te levar para sair?
PS: Se eu sou sua alma gêmea, é o mínimo que você pode fazer”.
Respirei fracamente, negando com a cabeça.
- Isso só pode ser brincadeira. – Ri fracamente e virei para Anna ao meu lado que sorria para mim, desviando o olhar logo em seguida.
- Grande encontro essa noite? – Ela perguntou.
- O que vocês estão aprontando? – Perguntei e nenhum dos dois respondeu. – Eu odeio vocês! – Segui em direção ao elevador, batendo os pés pesadamente no chão e apertei o botão.
Subi até a ala dos quartos e pedi licença para algumas pessoas quando saí do elevador. Andei pelo corredor e dei dois toques na sua porta, antes de abrir a mesma, encontrando-o se vestindo com doutor Cranston ao seu lado.
- Opa! – Falei, vendo-o abotoar sua blusa social, já fora das roupas do hospital.
- Ei! – Ele falou animado. – Você veio.
- O que é isso? – Joguei o arranjo em cima da maca.
- Você não gostou? Acho que eu errei a flor, então.
- Não, você não errou, mas porque está fazendo isso?
- Eu vou deixar vocês a sós. – Doutor Cranston falou e eu assenti com a cabeça, vendo-o sair da sala.
- E então? – Perguntei novamente.
- Você sumiu. – Ele falou como se fosse óbvio e eu franzi a testa.
- O que você queria que eu fizesse? Não estamos mais juntos.
- Por quê? – Ele perguntou inocentemente e eu franzi a testa. – Me diga, porque não podemos mais ficar juntos?
- Você está brincando, não é?! Como você quer fizer junto de uma pessoa que você não tem a mínima ideia de quem seja? – Falei entre risadas.
- Porque é minha alma gêmea. – Ele suspirou.
- Você não sabe disso. – Puxei a respiração, sentindo que já estava com vontade de chorar novamente.
- Mas você sabe. – Ele disse.
- Não faz sentido. – Suspirei.
- Andrew está me contando histórias nossas todo esse tempo, você é incrível. – Ele falou rindo. – Deixa eu te levar para sair, te conhecer novamente. – Neguei com a cabeça. – Provavelmente vai ser um saco para você, mas me dê um encontro, eu sou bom com piadas. – Ri fracamente.
- Eu sei. – Suspirei. – Eu adoro a da maçã voadora. – Suspirei.
- Eu sei disso. – Franzi a testa e ele deu de ombros.
- Então, o que me diz? Somos noivos, certo? Não deve ter sido tão mal.
Soltei um longo suspiro.
- Sei que é a sua chance de achar um cara melhor do que eu, mas...
- Cala a boca. – Falei rapidamente, vendo-o se calar. – Meu plantão acaba as seis, te espero as sete na entrada.
- Se importa se formos de Uber? Sabe, meu carro deu perda total. – Revirei os olhos.
- Eu te pego. – Abanei a mão.
- Eu estarei no Andrew. – Ele falou e eu puxei o buquê novamente da mesa.
- Te vejo as sete. – Falei.
- Então, você gostou do buquê? – Ele perguntou e eu puxei a porta.
- Hum, problemas no paraíso? – Liz apareceu ao meu lado.
- Ele consegue me enlouquecer sem nem se lembrar de mim. – Suspirei.
- É o amor da sua vida, agora aguenta. – Ri fracamente, negando com a cabeça.
Buzinei quando parei na frente da casa de Andrew, vendo sair pela porta com seu conhecido suéter vermelho, calça e sapato social, além dos cabelos jogados para trás. Destravei as portas e ele entrou na mesma, com um sorriso no rosto.
- Oi. – Ele sorriu e eu retribuí, assentindo com a cabeça.
- Se comportem! – Ouvi Andrew gritar e acenei com a cabeça, seguindo com o carro.
- Aonde você quer ir? – Perguntei.
- Em algum lugar importante para nós. – Ele falou e eu suspirei.
- Ok. – Falei, respirando fundo e segui o caminho em silêncio.
Pensei em levá-lo para o bar aonde nos conhecemos, mas teria muita gente conhecida e ninguém que ele realmente reconheceria, talvez não tivesse a privacidade necessária, pensei em leva-lo aonde ele me pediu em casamento, mas minha mãe encheria nós dois com perguntas nem tão discretas sobre seu estado, então segui até a ponta do Brooklyn, aonde ele me pediu em namoro.
- Vem. – Falei, parando o carro nas laterais da ponte e coloquei meu casaco, enfiando minhas mãos nos bolsos.
- A ponte do Brooklyn? – Ele perguntou, ficando ao meu lado e eu travei o carro, assentindo com a cabeça.
- Você me pediu em namoro aqui. – Disse, começando a andar lado a lado com ele. – Durante uma corrida beneficente para o hospital. – Segui andando ao seu lado. – Você já estava cansado demais, quase desistindo, quando praticamente se jogou no chão. – Ri fracamente ao lembrar da cena. – Aí eu te levei para lateral, para você respirar um pouco e você riu. Falou que precisaria de mim para cuidar de você e que sugeria tratamento vitalício em troca de namorar você. – Neguei com a cabeça.
- Eu sou muito idiota. – Ri fracamente.
- Eu já estava apaixonada por você, então aceitei. – Apoiei a cintura no parapeito da ponte e cruzei os braços.
- Entre você me conhecer e a gente começar a namorar demorou muito tempo? – Ele perguntou, se sentando em uma das baixas barreiras de metal de proteção entre a rua e a calçada, ficando de frente para mim.
- Cinco meses. – Sorri. – Eu me fiz de difícil um pouco. – Ele sorriu.
- Deve ser por isso que eu te pedi em casamento rápido demais. – Dei de ombros.
- Talvez. – Suspirei. – Eu era muito séria quando te conheci, mas percebi que contigo a vida era mais divertida e tinha um efeito melhor do que a que eu vivia. – Suspirei. – Sozinha eu era a gerente das enfermeiras, com você eu me tornei a enfermeira chefe. – Suspirei. – Sozinha eu era fechada e tinha dois ou três amigos, com você eu me abri para todo mundo e me permiti errar.
- Eu te fiz bem. – Assenti com a cabeça.
- Até demais. – Suspirei, olhando para o chão.
- E o que você melhorou em mim? – Ele perguntou e eu o encarei.
- Eu não sei. – Fui honesta. – Você já era perfeito. – Dei de ombros.
- Andrew diz que eu era mais irritado antes de você, mimado talvez. Que não aceitava as batalhas que a vida me dava. – Ele começou a falar. – Ele disse que eu não sorria tanto, que com você parece que eu dormia com um cabide na boca todos os dias. – Mordi meu lábio inferior.
- O que mais? – Perguntei.
- Que a vida é imperfeita, incerta, inconstante, incontrolável. – Ele disse. – Ela não acontece quando a gente quer, acontece quando a gente precisa. – Puxei a respiração forte.
- Nunca pensei em como podemos afetar as pessoas. – Suspirei.
- Agora você entende? – Ele se levantou da barreira e se encostou ao meu lado, apoiando o braço no parapeito.
- O quê? – Perguntei, me virando igual a ele.
- O porquê eu quero tentar novamente? Você é minha alma gêmea, minha cara metade, quem me faz bem e quem me apoia todos os dias.
- Você sabe que vai ser difícil, não é? – Ergui os olhos para ele.
- Eu estou disposto a tentar. – Ele falou e eu ri fracamente.
- Como você pode ter tanta certeza de que vai dar certo? – Perguntei.
- Eu não sei, mas já deu certo uma vez. E sim, raios caem duas vezes no mesmo lugar. – Ele estendeu sua mão. – O que me diz?
- Eu te amo, . – Falei fracamente. – E não te ter parece o fim do mundo, mas... – Suspirei. - Eu também não quero que você fique comigo só por isso. Amor é feito a dois, é mútuo, companheiro, parceiro, compartilhado, é...
- Me deixe compartilhar com você, então. – Ele encarou fundo em meus olhos, tirando uma mecha de meu rosto.
- Não posso fazer isso com você. – Sorri fracamente.
- Eu quero. – Ele fez um carinho em meu rosto e eu percebi sua aproximação, me fazendo dar um suspiro involuntário.
- Não faça isso. – Falei quase em um sussurro, mas ele ignorou meu pedido e colou nossos lábios delicadamente.
Apoiei a mão no parapeito em uma tentativa de não apertá-lo contra meu corpo mais uma vez, mas deixei com que ele conhecesse minha boca como uma primeira vez, tocando os lábios levemente com os seus, e movimentando os lábios da mesma forma que antes. Levei meu corpo para trás, nos afastando e encontrei seus olhos cheios de dúvidas me encarando.
- Desculpe. – Ele sussurrou. – Eu não deveria ter feito isso. – Ele abaixou a mão em meu rosto e se virou para o lado de fora da ponte.
- Eu disse...
- Eu precisava saber como era. – Ele me olhou de canto de olho. – É bom! – Revirei os olhos.
- Você não desiste. – Apoiei os braços igual a ele, sentindo o vendo bater forte em meu rosto.
- Você quer que eu desista? – Ele revidou e eu o encarei sem palavras. – Não quero te perder, mas também não quero te fazer sofrer, então, se estiver te machucando, me avise que eu paro. – Ele foi honesto. – Eu posso esperar o tempo que for.
- Não. – Falei honesta. – Eu não quero que você desista de nós, mas eu também não consigo não desistir. – Suspirei.
- Eu tenho a consciência de que isso não vai acontecer de um dia para outro, mas ter a liberdade para tentar, já me dá uma grande esperança. – Ri fracamente, apoiando o queixo na mão.
Fiquei em silêncio, tentando digerir suas palavras naquele lugar tão significante para nós... Quer dizer, para mim. Eu lembro de pensar que ele estava tendo um ataque cardíaco naquela tarde e que eu havia sido tão difícil com ele, demorando para aceitar um primeiro beijo, um primeiro encontro e que nem tínhamos tido nossa primeira vez, e estaria perdendo-o ali, sem nem ter dado uma chance real para ele.
Quando ele olhou pra mim e perguntou “quer namorar comigo?” eu quis enfiar a mão na cara dele de raiva, mas eu só lhe tasquei um beijo, sabendo eu gostaria de tê-lo me irritando e fazendo piadas para sempre. E, de certa forma, eu estava na mesma situação ali, lá estava eu me fazendo de difícil de novo, mesmo sabendo que tudo o que eu mais queria era que ele me escolhesse novamente, que se apaixonasse por mim de novo.
Eu não podia perdê-lo, nunca. Meu maior desejo era que ele se lembrasse, mas e se ele nunca se lembrar? Eu o esqueceria e fingiria que nada aconteceu? Eu conseguiria fazer isso e viver como se ele nunca tivesse passado na minha vida? Eu sabia que não.
- E então... – Foquei meus olhos nas águas lá embaixo novamente e virei o rosto para que me encarava. – O que me diz? – Ele empurrou algo para mim pelo parapeito e afastou a mão para trás, com receio que caísse e vi minha aliança de noivado e percebi que ele usava a dele.
- Eu digo que você está louco. – Suspirei.
- Acho que isso nunca mudou. – Ele brincou e eu ri fracamente.
- Isso não é uma brincadeira. – Falei firme.
- Não mesmo, é a minha vida e eu quero que faça parte dela. De todas as formas possíveis. – Suspirei, encarando a pequena aliança de ouro e engoli em seco.
- Eu já aprendi a não dizer não para você. – Peguei a aliança e a coloquei em meu dedo novamente. – E não vai ser agora que eu vou começar. – Suspirei, vendo um largo sorriso se formar em seu rosto.
- Prazer, . – Ele estendeu a mão. – Eu acabei de ser dispensado da marinha e você? – Abri um pequeno sorriso.
- , enfermeira do hospital Bells Park. – Sorri, segurando sua mão e sacudindo levemente ambas.
- É um prazer incrível te conhecer. – Ele falou segurando a risada e eu gargalhei junto dele, passando os braços ao redor de sua barriga e apoiando minha cabeça em seu peitoral.
- Só você mesmo. – Sorri, sentindo o vendo bagunçar meus cabelos e seus braços quentes me protegerem ao redor de seu corpo.
Epílogo
- Eu vou fazer um discurso. – Ele falou me dando um rápido beijo em meus lábios e se levantou comigo em seu colo, quase me derrubando junto.
- De novo não, . – Falei, vendo-o gargalhar.
- “De novo”? – Ele perguntou. – Eu já fiz isso antes?
- Já! – Falei brava, vendo-o bater levemente no copo que eu estava bebendo, chamando a atenção do pessoal.
- Oi, gente! – Ele falou animado. – Falam que eu já fiz isso antes, mas vamos lá, não é mesmo? A segunda vez é sempre melhor. – O pessoal riu.
- Ah, meu Deus! – Abaixei a cabeça na mesa.
- Eu queria agradecer vocês por estarem aqui mais uma vez. – Ele se virou para mim. – Todos estão aqui?
- Quase. – Falei baixo, vendo o pessoal rir.
- Já fazem três anos desde o meu acidente e eu estou muito feliz em estar aqui mais uma vez, mesmo que eu não me lembre, celebrando meu noivado com aquela moça maravilhosa ali. – Ele falou e o pessoal assoviou animado. – Eu tive a oportunidade de me apaixonar por ela pela segunda vez e o prazer maior ainda dela aceitar viver comigo pela segunda vez. – Dei um pequeno sorriso.
- Não entendo como ela aceitou uma vez, ainda mais duas. – Seu irmão gritou e eu ri fracamente.
- Eu não recuperei minhas memórias, então cada dia ainda é uma descoberta para nós dois, para os meus amigos, mas uma coisa que eu soube desde que eu acordei naquele fatídico dia é que essa mulher ia fazer estrago na minha vida. – Gargalhei, escondendo o rosto nas mãos. – E ela fez, mas estamos andando juntos nessa caminhada pela segunda vez e eu sei que independente de que estrada eu pegar, eu sei que você vai me encontrar e ficará comigo. – Assenti com a cabeça.
- Eu te amo. – Cochichei.
- Eu queria que pudéssemos continuar de antes do acidente, mas como isso não foi possível, estamos criando memórias novas, descobrindo o que gostamos mais um do outro e vamos passar o resto da vida descobrindo. – Ele falou sorrindo. – Obrigado por virem. – Ele falou e eu suspirei, aplaudindo junto com o pessoal.
Ele pegou outra cerveja no bar e se sentou ao meu lado, me fazendo passar os braços ao redor de seu corpo.
- Eu não sei se é possível, mas eu te amo mais do que antes.
- Não é justo, você tem duas memórias comigo, não só uma. – Revirei os olhos.
- Temos a vida toda para recuperar as antigas, só não se meter em mais nenhuma encrenca, pode ser?
- Eu agradeço, porque dói demais. – Ele roçou seu nariz contra o meu, me fazendo rir.
- Eu tomo conta de você. – Cochichei.
- Hum, enfermeira particular. – Ele brincou.
- Ah, mas é bobo mesmo. – Neguei com a cabeça.
- Sim, bobo por você! – Ele disse, colando os lábios nos meus delicadamente.
- De novo não, . – Falei, vendo-o gargalhar.
- “De novo”? – Ele perguntou. – Eu já fiz isso antes?
- Já! – Falei brava, vendo-o bater levemente no copo que eu estava bebendo, chamando a atenção do pessoal.
- Oi, gente! – Ele falou animado. – Falam que eu já fiz isso antes, mas vamos lá, não é mesmo? A segunda vez é sempre melhor. – O pessoal riu.
- Ah, meu Deus! – Abaixei a cabeça na mesa.
- Eu queria agradecer vocês por estarem aqui mais uma vez. – Ele se virou para mim. – Todos estão aqui?
- Quase. – Falei baixo, vendo o pessoal rir.
- Já fazem três anos desde o meu acidente e eu estou muito feliz em estar aqui mais uma vez, mesmo que eu não me lembre, celebrando meu noivado com aquela moça maravilhosa ali. – Ele falou e o pessoal assoviou animado. – Eu tive a oportunidade de me apaixonar por ela pela segunda vez e o prazer maior ainda dela aceitar viver comigo pela segunda vez. – Dei um pequeno sorriso.
- Não entendo como ela aceitou uma vez, ainda mais duas. – Seu irmão gritou e eu ri fracamente.
- Eu não recuperei minhas memórias, então cada dia ainda é uma descoberta para nós dois, para os meus amigos, mas uma coisa que eu soube desde que eu acordei naquele fatídico dia é que essa mulher ia fazer estrago na minha vida. – Gargalhei, escondendo o rosto nas mãos. – E ela fez, mas estamos andando juntos nessa caminhada pela segunda vez e eu sei que independente de que estrada eu pegar, eu sei que você vai me encontrar e ficará comigo. – Assenti com a cabeça.
- Eu te amo. – Cochichei.
- Eu queria que pudéssemos continuar de antes do acidente, mas como isso não foi possível, estamos criando memórias novas, descobrindo o que gostamos mais um do outro e vamos passar o resto da vida descobrindo. – Ele falou sorrindo. – Obrigado por virem. – Ele falou e eu suspirei, aplaudindo junto com o pessoal.
Ele pegou outra cerveja no bar e se sentou ao meu lado, me fazendo passar os braços ao redor de seu corpo.
- Eu não sei se é possível, mas eu te amo mais do que antes.
- Não é justo, você tem duas memórias comigo, não só uma. – Revirei os olhos.
- Temos a vida toda para recuperar as antigas, só não se meter em mais nenhuma encrenca, pode ser?
- Eu agradeço, porque dói demais. – Ele roçou seu nariz contra o meu, me fazendo rir.
- Eu tomo conta de você. – Cochichei.
- Hum, enfermeira particular. – Ele brincou.
- Ah, mas é bobo mesmo. – Neguei com a cabeça.
- Sim, bobo por você! – Ele disse, colando os lábios nos meus delicadamente.
Fim.
Nota da autora: Eu não acredito que essa história saiu! Achei que estava folgada com 04. I Believe, mas quando percebi que essa música não tinha sido entregue e faltavam três dias para o ficstape entrar, eu precisei fazer algo, não podia deixar com que ele entrasse sem a música principal, não é mesmo?
Aí surgiu essa ideia, pode não ser a mais ideal para a música, mas eu gostei muito do resultado, foi escrita nos 45 do segundo tempo, mas foi escrita com amor.
Depois que a ideia foi se formando, percebi que ela poderia ser mais alongada, mas preferi deixar o futuro incerto, então espero que vocês gostem e não se esqueçam de comentar.
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Aí surgiu essa ideia, pode não ser a mais ideal para a música, mas eu gostei muito do resultado, foi escrita nos 45 do segundo tempo, mas foi escrita com amor.
Depois que a ideia foi se formando, percebi que ela poderia ser mais alongada, mas preferi deixar o futuro incerto, então espero que vocês gostem e não se esqueçam de comentar.