Prólogo
- Que droga! – Reclamei quando a chave caiu no chão e eu precisei apoiar todos os textos e livros que estavam em meus braços no banco da entrada de casa para pegá-la. Segurei os textos novamente e abri a porta de casa, encontrando a sala vazia, mas ouvi barulho vindo do fundo, me fazendo franzir a testa. – Mãe? Pai? Josh? Cheguei! – Gritei, não obtendo resposta.
Passei pelo corredor e segui para o quarto que eu dividia com meu irmão gêmeo e deixei meus materiais lá, inclusive o casaco que me fazia suar, e segui para o banheiro para jogar uma água no rosto. O tempo havia virado de uma hora para outra e vir andando da rodoviária para cá nesse calor não era legal.
Segui para o fundo da casa, me aproximando dos barulhos e parei na cozinha para pegar um copo de água antes de continuar seguindo as vozes que vinham do quintal. Parei na porta que dava para o mesmo e encontrei meu irmão e outros quatro amigos conversando e rindo alto, enquanto faziam algo que me parecia uma maquete.
- Ei, Josh! – Falei, fazendo com que o silêncio reinasse no quintal e observei os meninos um a um, vendo que um deles era bem mais novo que outros, fazendo com que eu franzisse a testa.
- E aí, maninha?! Chegou cedo! – Ele comentou.
- Não tive a última aula, aparentemente nem você. – Comentei.
- Sabe como é, a gente perde aula para fazer trabalhos. – Ponderei com a cabeça, confirmando. – Esses são os meninos da minha sala: Billy, Max, Jorge e o mascotinho .
- Ei! – O mais novo reclamou, fazendo outros rirem. Não discuti, ele realmente parecia muito mais novo que os outros quatro.
- Oi, eu sou a . Prazer em conhecê-los.
- O prazer é nosso! – Eles falaram quase em coro.
- Por acaso tem alguma coisa para comer?
- Não, e a mãe não vai voltar tão cedo, falou para gente pedir alguma coisa.
- Ok, quando vocês decidirem, me avisa, mas não enrolem.
- Que tal parmegiana do seu Leopoldo? – Josh perguntou.
- Não seria mal. – Dei de ombros, vendo os outros meninos reclamarem.
- Eu ligo lá, depois dividimos o valor, pode ser? – Perguntei a todos.
- Fechou! – Eles falaram e eu assenti com a cabeça, seguindo de volta para a cozinha, apoiando meu copo de volta no filtro.
- Ei, maninha! – Josh apareceu atrás de mim e eu olhei para trás. – Pede um de peixe, Billy tem intolerância à carne vermelha. – Franzi a testa.
- Tudo bem... – Falei estranhando, mas não fiz perguntas.
- E não faça essa cara quando o tiver perto. – Ele comentou.
- Que cara? – Perguntei.
- Essa cara de assustada. – Ele comentou.
- Desculpa, é que ele me pareceu bem mais novo para estar no segundo ano de engenharia. – Dei de ombros.
- E ele é, só tem 14 anos, é superdotado, entrou na faculdade com 13.
- Oh! – Falei rapidamente. – O garoto deve ser um gênio.
- Pois é! – Ele comentou e rimos juntos.
- Ok, eu vou tentar.
- Além do mais, ele parece que ficou caidinho por ti. – Revirei os olhos, dando um tapa em seu braço.
- Ah, cala a boca! – Comentei e ele gargalhou.
- Pede duas Cocas também, tá muito calor.
- Vou pedir três, vou salvar uma para mim. – Rimos juntos.
- Eu te amo, maninha!
- Eu sei, eu sei! – Abanei a mão. – Estarei no meu quarto, aviso quando chegar.
- Fechou! – Ele acenou com a mão e saiu da cozinha, voltando aos amigos.
Revirei os olhos, balancei a cabeça e voltei para o mesmo caminho de antes, passando a mão no telefone para ligar na tratoria do seu Leopoldo.
Passei pelo corredor e segui para o quarto que eu dividia com meu irmão gêmeo e deixei meus materiais lá, inclusive o casaco que me fazia suar, e segui para o banheiro para jogar uma água no rosto. O tempo havia virado de uma hora para outra e vir andando da rodoviária para cá nesse calor não era legal.
Segui para o fundo da casa, me aproximando dos barulhos e parei na cozinha para pegar um copo de água antes de continuar seguindo as vozes que vinham do quintal. Parei na porta que dava para o mesmo e encontrei meu irmão e outros quatro amigos conversando e rindo alto, enquanto faziam algo que me parecia uma maquete.
- Ei, Josh! – Falei, fazendo com que o silêncio reinasse no quintal e observei os meninos um a um, vendo que um deles era bem mais novo que outros, fazendo com que eu franzisse a testa.
- E aí, maninha?! Chegou cedo! – Ele comentou.
- Não tive a última aula, aparentemente nem você. – Comentei.
- Sabe como é, a gente perde aula para fazer trabalhos. – Ponderei com a cabeça, confirmando. – Esses são os meninos da minha sala: Billy, Max, Jorge e o mascotinho .
- Ei! – O mais novo reclamou, fazendo outros rirem. Não discuti, ele realmente parecia muito mais novo que os outros quatro.
- Oi, eu sou a . Prazer em conhecê-los.
- O prazer é nosso! – Eles falaram quase em coro.
- Por acaso tem alguma coisa para comer?
- Não, e a mãe não vai voltar tão cedo, falou para gente pedir alguma coisa.
- Ok, quando vocês decidirem, me avisa, mas não enrolem.
- Que tal parmegiana do seu Leopoldo? – Josh perguntou.
- Não seria mal. – Dei de ombros, vendo os outros meninos reclamarem.
- Eu ligo lá, depois dividimos o valor, pode ser? – Perguntei a todos.
- Fechou! – Eles falaram e eu assenti com a cabeça, seguindo de volta para a cozinha, apoiando meu copo de volta no filtro.
- Ei, maninha! – Josh apareceu atrás de mim e eu olhei para trás. – Pede um de peixe, Billy tem intolerância à carne vermelha. – Franzi a testa.
- Tudo bem... – Falei estranhando, mas não fiz perguntas.
- E não faça essa cara quando o tiver perto. – Ele comentou.
- Que cara? – Perguntei.
- Essa cara de assustada. – Ele comentou.
- Desculpa, é que ele me pareceu bem mais novo para estar no segundo ano de engenharia. – Dei de ombros.
- E ele é, só tem 14 anos, é superdotado, entrou na faculdade com 13.
- Oh! – Falei rapidamente. – O garoto deve ser um gênio.
- Pois é! – Ele comentou e rimos juntos.
- Ok, eu vou tentar.
- Além do mais, ele parece que ficou caidinho por ti. – Revirei os olhos, dando um tapa em seu braço.
- Ah, cala a boca! – Comentei e ele gargalhou.
- Pede duas Cocas também, tá muito calor.
- Vou pedir três, vou salvar uma para mim. – Rimos juntos.
- Eu te amo, maninha!
- Eu sei, eu sei! – Abanei a mão. – Estarei no meu quarto, aviso quando chegar.
- Fechou! – Ele acenou com a mão e saiu da cozinha, voltando aos amigos.
Revirei os olhos, balancei a cabeça e voltei para o mesmo caminho de antes, passando a mão no telefone para ligar na tratoria do seu Leopoldo.
Capítulo Único
- Bom dia! – Falei ao passar pelas portas do resort em que eu trabalho.
- Bom dia, senhorita. – Meus atendentes da recepção me cumprimentaram e eu sorri, acenando para eles.
Passei pelos corredores, cumprimentando os poucos hóspedes que passeavam pelo meu hotel naquela época e naquele horário e encontrei Maddie, minha assistente, no meio do caminho, me entregando um grande copo de café.
- Bom dia, senhorita . – Sorri para ela, assentindo com a cabeça.
- Bom dia, Maddie, quais meus compromissos para hoje? Eu sei que hoje o chato do engenheiro vem aqui para começarmos a reforma. – Revirei os olhos.
- Ele já está aqui, senhorita. – Ela falou baixo e eu parei no meio do caminho, virando para ela e fiz uma careta. – Ele está lhe esperando na sua sala.
- Cazzo*! – Xinguei baixo. – Desculpe. – Suspirei. – Pensei que teria alguns minutos antes de ter que encará-lo.
- Acho que ele é realmente pontual, senhorita. – Deixei meus ombros caírem junto com o peso da bolsa. – Mas ele é uma graça, ele...
- Eu sei, eu sei! – Suspirei, entregando a bolsa para Maddie e pegando meu café. – Nos falamos mais tarde.
- Sim, senhorita. – Minha assistente saiu e segui o caminho até minha sala, encontrando sentado em uma das cadeiras da sala de espera, ele levantou rapidamente quando me viu.
- ...
- Oi, ! – O ignorei prontamente, empurrando a porta da minha sala quando me aproximei dela. – Entre. – Falei e dei à volta na mesa, me sentando em meu lugar. – Pensei que tínhamos combinado às nove horas.
- Gosto de chegar um pouco mais cedo para meus compromissos.
- Um pouco cedo demais para meu gosto. – Apontei a cadeira e ele se sentou, confuso com as plantas.
- Parece que você não está muito feliz em me ver, . – Ele disse e eu ergui o olhar para ele, tirando os cabelos do rosto.
- Não é isso, ... – Suspirei. – Eu queria meu irmão para essa obra, ele já sabe tudo sobre o resort, sabe como eu gosto de trabalhar e também sabe que não deve ficar em meu caminho. – Balancei a cabeça. – Mas por políticas da empresa, só podemos contratar servidores de Cagliari, então, só sobrou você.
- Eu sou o melhor engenheiro de Sardenha, ...
- O único que sobrou. – Falei rispidamente.
- O único que entrou na faculdade com 13 anos. – Suspiramos juntos.
- Foda-se. – Falei.
- Eu não preciso estar aqui, você sabe disso. Acho que passamos da fase do meu crush sobre você há, pelo menos, uns oito anos. Minha empresa não faz trabalhos só aqui...
- Tá, tá, vamos cortar o papo aonde você vai me abandonar, pois aonde eu me lembro, temos um contrato bem gordo contigo, quem perderia mais seria você... – Suspirei. – Vamos falar sobre banheiros comuns. Quero saber novamente os prazos, horas de serviços, compra de materiais extras e tudo mais. Estamos em baixa temporada, mas estamos com 30 por cento do nosso resort ocupado, não quero que eles se sintam incomodados.
- Você não precisa se preocupar com isso, como dito, as obras acontecerão de segunda à quinta das seis da manhã, às quatro da tarde. – Assenti com a cabeça. – Os fins de semana ficarão livres e poderemos fazer reuniões esporádicas em meu escritório, caso haja necessidade.
- Sobre gastos extras?
- A conta feita no orçamento que eu te passei é quase 100 por cento certa, caso haja necessidade de mais material, ficará por conta da empresa. – Assenti com a cabeça.
- Então, acho que está tudo certo, senhor .
- Viu?! Sabemos falar civilizadamente. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Até parece! – Me levantei. – Sua equipe vai começar amanhã, ou...
- Eles já estão arrumando o terreno, decidimos começar pela suíte presidencial, já que está vazia, vamos descendo pelos andares e por último os banheiros das piscinas, que precisará de alguns dias de isolamento.
- Perfeito. Se precisar de algo, senhor , só me chamar. – Estendi minha mão e ele a apertou.
- Sempre um prazer, senhorita . – Revirei os olhos, puxando a mão.
- Estávamos indo bem. – Falei e ele riu, saindo da sala. – Pode entrar, Maddie. – Falei, vendo-a entrar um pouco embasbacada. – Controle-se, Maddie.
- Ele é lindo, chefe! – Ela falou, fechando a porta atrás de si e eu ri fracamente.
- Já superei essa beleza há uns 10 anos. – Abanei a mão.
- Sério? – Ela se virou.
- Ele estudou com meu irmão na faculdade.
- Mas você e seu irmão não são gêmeos? – Ela franziu a testa.
- Sim, e o é superdotado. Entrou na faculdade com 13 anos.
- Uau, não sabia disso. Tem várias histórias em volta dele, mas não sabia que ele era um gênio. – Rimos fracamente.
- Que histórias? – Franzi a testa.
- Falam que ele guarda um jarro cheio de tecidos no escritório dele, ninguém sabe o que é, mas todas as meninas que já ficaram com ele, contam essa história...
- Ah, meu Deus! – Suspirei. – O não muda nunca.
- Vai ver são roupas das meninas que ele ficou... – Ela deu de ombros. – Ou matou.
- Isso é loucura. – Abanei as mãos.
- Ele parece estar a fim de você.
- Desde que eu o conheci, mas não é meu foco de vida agora.
- Qual é, , talvez seja interessante depois do... – Senti meu corpo arrepiar.
- Pelo amor de Deus, não. Eu tenho coceira só de pensar em entrar em outro relacionamento depois do Ben.
- Você não pode ficar sozinha para sempre, chefe! – Suspirei.
- Eu tenho um hotel para gerenciar, Maddie, por favor, vá fazer seu trabalho também. – Ela suspirou.
- Ok, se precisar de algo, estou no walkie talkie. – Assenti com a cabeça, vendo-a sair.
Apoiei as mãos na cabeça, batendo-a levemente sobre a mesa e tentei esquecer o rosto de Ben. Já fazia dois anos que um acidente de snorkel o tirou de mim e eu não havia conseguido ficar com ninguém desde então.
Trabalhar junto de , mesmo que seja em um grande resort aonde ficávamos em lugares diferentes na maior parte do tempo, tinha suas vantagens e desvantagens. Ele tinha uma queda por mim desde que eu o conheci há mais de 10 anos, mesmo eu tendo negado e afastado ele diversas vezes, começado a namorar Ben enquanto ele continuava frequentando a casa de meus pais, ele ainda me encarava com olhos apaixonados e até soltava alguns comentários inadequados.
E eu tinha em minha mente que ele ainda não tinha superado isso. Enquanto eu passava pelos corredores do resort, sentia seus olhos me penetrando como facas e, o pior de tudo isso, era que os anos haviam sido bem generosos com , então quando aquele homem me olhava, minhas pernas bambeavam, mas faz 10 anos que eu não sucumbi aos desejos de e não seria agora que isso ia acontecer.
Eu acho.
Eu namorei Ben durante seis anos antes da vida tirá-lo de mim, nossas vidas estavam prontas para serem vividas juntos. Já tínhamos nossa casa no alto do morro, empregos de sucesso e uma aliança em nossos dedos. O acidente aconteceu quatro meses antes de falarmos nossos “sim”. Eu fiz tratamento durante muito tempo para tentar entender o motivo para isso acontecer comigo, com ele, mas não importava o quando eu buscasse, a resposta não vinha.
Mas eu também não estava pronta para me abrir para outra pessoa, seja ele , o superdotado novinho que dava em cima de mim descaradamente enquanto mordia a ponta de sua caneta, ou outra pessoa.
- Você poderia parar? – Falei firme, abaixando o volume do walkie-talkie.
- O quê? – Ele perguntou cínico e eu puxei a caneta de sua boca.
- Da próxima vez eu espero que essa caneta estoure. – Comentei irritada.
- Relaxa, eu tenho o estoque cheio. – Ele deu uma piscadela e eu revirei os olhos.
- Pelo amor de Deus ou da força poderosa que rege à Terra, , desiste! – Falei firme.
- Por quê? Não é segredo nenhum que eu gosto de você. – Suspirei.
- E não é segredo nenhum que eu já falei mil vezes que isso não vai rolar. – Bufei.
- Ah, qual é, . Eu entendia lá atrás que você me achava uma criança. Cinco anos é bastante coisa, mas a idade sumiu já, qual é. Eu tenho 24 e você tem quase 30, qual é o grande problema? Mulheres de 24 namoram caras de 30.
- A diferença é que homens de 24 são crianças imaturas ainda e criados dentro de uma caixa, mulheres de 24 já estão precisando ajudar em casa e são responsabilizadas se não ajudarem. – Falei irritada já.
- Eu não sou assim! – Ele falou claramente ofendido. – Você me conhece, sabe de tudo o que eu lutei para montar essa empresa e fazer ela dar certo. Sempre fui julgado por ser muito novo. – Ele suspirou. – Ser superdotado não tem tantas vantagens assim. – Ele falou mais baixo.
- Me desculpe, , mas eu simplesmente não quero sair contigo, namorar contigo, ter relação em nada nesse aspecto. – Tentei falar mais uma vez.
- Qual é, , eu sou um cara legal. Entendo tudo o que houve com... – Ele balançou a cabeça e eu soube que falava do Ben. – Você sabe, mas você não pode se fechar para o mundo para sempre.
- Pode ser, não sei, mas no momento eu não consigo. – Suspirei. – Por favor.
- Por favor, deixa eu tentar fazer você se abrir. – Senti o choro subir à garganta e respirei fundo.
- Vamos fingir, então, que eu sou alérgica a compromisso, que tal? – Dei de ombros. – Vamos falar que eu tenho alguma doença que não tem médico, remédio ou receita que cure, que tal? – Suspirei, sentindo os lábios tremerem.
- Por favor, deixa eu te mostrar que sou uma pessoa boa...
- Gerente, na escuta? – Ouvi do walkie-talkie.
- Salvo pelo congo! – Falei, puxando o aparelho da cintura e saí andando.
De sexta-feira à domingo e alguns dias de sorte, eu tinha meus momentos de liberdade, que era quando não aparecia no resort, mas normalmente ele aparecia sempre para fazer a checagem junto com os pedreiros. Uma reforma no resort seria boa para ambos os lados, era o resort melhor frequentado e mais conceituado de Sardenha e o turismo estava crescendo bastante para esse lado, então era uma forma dele ter uma notória visualização no mercado. Empresários, famosos, pessoas da alta sociedade frequentavam esse resort e isso poderia abrir muitas portas para ele.
Fisicamente, ele havia se tornado profissional e não perguntava mais se eu queria ficar com ele ou algo do tipo, mas ele havia começado a demonstrar isso em mínimas ações que faziam a pequena romântica dentro de mim começar a dar pequenos pulos de alegria.
- Bom dia! – Ele disse animado.
- Bom dia. Como estamos? – Perguntei e ele me estendeu um copo de café. – Obrigada. – Falei, dando um pequeno gole na mesma.
- Estamos bem, dois dias avançados, na verdade.
- Que bom! – Assenti com a cabeça.
- Em partes, isso quer dizer menos tempo contigo. – Ele falou, se retirando, me fazendo suspirar.
Alguns dias depois, por uma grande má sorte, durante uma chuva torrencial que fez com que os hóspedes fossem embora mais cedo e os pedreiros precisarem suspender as reformas por alguns dias, ele ficou tentando me empolgar, me fazendo ver os pontos de vistas de uma boa chuva.
- Pessoalmente eu adoro a chuva, sabe? – Comentei com ele, apertando os braços na manta em volta de meu corpo. – Mas meu trabalho precisa de muito sol para dar certo.
- Talvez seja uma boa procurar opções para ocasiões como essa? – Ele perguntou, me encarando.
- Temos algumas sessões cinematográficas com espaços especiais, mas costumam encher só em casos de chuva, mas no verão... – Dei de ombros. – Talvez seja algo para falar com a administração. – Suspirei.
- Se precisarem de engenheiro. – Ele deu de ombros e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- “Única empresa de engenharia em Cagliari”. – Falei como se imitasse um slogan.
- Oh, esqueci desse detalhe! – Ele brincou rindo.
- Mas está sendo bom trabalhar contigo, os trabalhos estão ficando muito bons. – Sorri.
- Obrigada, vale muito vindo de você. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Você disse que tem sessões de cinema em casos de chuva?
- Sim, fazemos uma votação durante o dia entre alguns temas, hoje é animação.
- Hoje vai ter? – Ele perguntou.
- Vai sim, está chovendo, mas duvido que tenha quórum, estamos com 15 por cento da capacidade, muitos querem só se esconder do vento e da chuva.
- Te encontro lá? – Ele perguntou, se afastando devagar e eu franzi a testa.
- Está falando sério? – Perguntei.
- Você está realmente cogitando? – Ele devolveu um tanto surpreso e eu dei de ombros.
- Por que não? Não vai ser ruim ver Frozen pela milésima vez. – Dei de ombros e ele riu.
- Até lá, então. – Ele disse e eu sorri.
Nem foi tão ruim ver Frozen com ele. Estávamos só nós dois no cinema montado em uma das áreas externas do resort, apesar de ser coberto da chuva, o vento passava muito forte e fazia meu corpo inteiro se arrepiar.
trouxe pipoca, chocolate quente e uma manta para cobrir nossas pernas, não falávamos muito, só trocávamos alguns comentários do filme e ele fazia questão de rir de mim quando eu repetia as falas do filme.
Eu comecei a perceber que, em um momento simples como aqueles, eu estava começando a ficar ansiosa pela presença dele, da mesma forma que eu ficava ansiosa quando comecei um relacionamento com Ben.
Não, não era possível. Ele só estava sendo gentil e eu sabia exatamente aonde ele queria chegar. Não podia cair nas graças de , não depois de 10 anos fugindo... Ou podia?
- Bom, isso foi interessante. – Ele falou quando os créditos do filme começaram a subir.
- Não foi minha primeira vez, mas é fofinha. – Ele riu e me deu as mãos para eu me levantar. Deixei o pote de pipoca de lado e me levantei, me abaixando para pegar o objeto de novo.
- Me avisa quando tiver na próxima vez. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Você sabe que isso só é para hóspedes, certo?
- Me avise mesmo assim, não me importaria em passar uma noite em um de seus quartos. – Ri fracamente.
- Eles são muito bons mesmo. - Sorri. – Mas acho melhor pararmos por aqui.
- Por quê? Nós só vimos um filme, não foi nem um encontro.
- Não me faça de tonta, , sabemos aonde você quer chegar com isso. – Assenti com a cabeça e ele mordeu o lábio inferior. – Você me leva para um filme, me traz café, ocasionalmente almoça comigo... Não.
- Eu não vou parar, . – Ele disse. – Eu realmente posso te mostrar que eu não sou nada do que você imagina, posso te mostrar que sua perda é só um capítulo muito ruim na sua vida, mas ainda não é o fim. Ben não é o seu fim. – Ele suspirou. – Você é nova e merece viver muitos momentos bons.
- Por favor, pare. – Disse.
- Eu estou falando sério, . Você merece a felicidade, simples assim. – Suspirei. – Eu sei que você passou por algo que te magoou muito, mas eu estou aqui e eu gostaria de uma chance para te fazer feliz. – Engoli em seco.
- Para, ! Toda vez que você começa com esse papo eu começo a ficar nervosa, eu não me sinto confortável. – Suspirei. – Você começa a falar sério e eu... – Cocei por coincidência meu braço. – Começa a me dar coceira. – Suspirei.
- Isso são sintomas, é a prova perfeita que você está fugindo.
- Isso não são si-si... – Gaguejei. – Sintomas, eu só não quero outro compromisso agora.
- Às vezes precisamos aproveitar as oportunidades da vida e nem sempre elas vêm em condições perfeitas. – Suspirei.
- Por favor... – Falei baixo novamente e ele assentiu com a cabeça.
- Tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça. – Posso te acompanhar até seu quarto ou seu carro?
- Pode, eu vou para casa hoje. – Ele assentiu com a cabeça e seguimos em silêncio até o estacionamento dos funcionários.
- Podemos repetir quando você quiser. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem. Eu só... – Ele confirmou com a cabeça antes que eu continuasse.
- A gente se vê amanhã se o tempo melhorar. – Ele comentou e eu sorri.
- Boa noite, . – Falei e ele deu um pequeno sorriso.
- Boa noite, . – Ele me disse antes de seguir pelo caminho de antes.
Entrei no carro e respirei fundo, vendo diversas imagens minhas e de Ben passando em minha cabeça e eu só conseguia me sentir culpada por ao menos cogitar a ideia de realmente tentar com . Não sei. Sabia que era uma forma ridícula de se pensar, mas era a única coisa que se passava em minha cabeça depois de duas horas tão gostosas com .
Sabia que aquela seria mais uma noite daquelas e dessa vez eu nem ficaria trabalhando até tarde.
- Bom dia, maninha! – Ergui o rosto, vendo meu irmão abrindo a porta da sala da gerência.
- Josh? – Perguntei surpresa. – O que está fazendo aqui? – Me levantei apressada, atravessando a sala e abraçando meu irmão.
- Ah, que saudades de ti, maninha! – Ele me apertou e distribuiu beijos em minha cabeça, me fazendo sorrir. – Vim ver o inventário do papai, né?! Não é essa semana que temos a reunião no ministério público ou algo assim?
- Ah, nossa! – Coloquei as mãos na cabeça. – Eu me esqueci completamente.
- O que tanto está ocupando essa cabecinha? – Ele perguntou, e eu apontei para uma das cadeiras, voltando para trás da mesa.
- Ah, essa reforma está me enlouquecendo, além dessa chuva que não para. Estávamos adiantados, agora estamos há nove dias sem reforma.
- E como está o trabalho do ? Dei uma bisbilhotada na maquete lá de fora e está bem bonita.
- Ah, está ótima, estou ficando muito satisfeita, mas ele ainda não desistiu de ficar comigo.
- Qual é, , ele é gamado em você desde...
- Que me conheceu, eu sei, eu sei, mas me irrita que ele não desiste. – Bufei.
- E por que deveria? Qual é, maninha, vocês são solteiros, desimpedidos, fariam um casal maravilhoso e eu posso continuar dando mil motivos do porquê isso seria bom de acontecer.
- Eu não sei, Josh, depois do Ben eu...
- Ah, , não vai me dizer que você não dá abertura por causa do Ben? – Ele segurou minhas mãos. – Entendo tudo o que vocês passaram, era para vocês estarem casados agora, eu entendo tudo isso, mas ele se foi. – Ele falou mais baixo. – Não acredito que ele queria que você ficasse sozinha pelo resto da vida.
- Eu sei que não, mas também não que eu ficasse com . – Suspirei.
- Acredite, irmãzinha, o mudou muito desde que você o conheceu. Ele ainda é persistente e irritante? Sim, provavelmente... – Rimos juntos. – Mas ele é uma pessoa diferente agora. Além de muito bonito, cara! O nerd virou o mais galã da faculdade! Quem diria que isso aconteceria? – Sorri.
- Eu não sei, ele tenta fazer tudo para me agradar, confesso que meu coração até palpita quando estou perto dele, mas eu tenho coceira quando ele chega perto, sério. – Ele gargalhou. – Qual é, Josh, isso é sério.
- Coceira? Ah, vá a merda, . – Suspirei. – Dê uma chance de ser feliz, qual é, o que de mal pode acontecer?
- Hum, não dar certo e ficar cada vez mais intragável? – Perguntei honesta. – Qual é, vocês são amigos há anos, não quero estragar isso.
- E você realmente acha que se vocês não derem certo, minha amizade com ele vai acabar? – Ele perguntou cruzando os braços. – é muito mais insistente do que isso, acredite. – Dei um pequeno sorriso.
- Estou acostumada com a insistência dele, mas é diferente...
- Bom, aqui vai uma opinião de quem viveu contigo todos os momentos de felicidade e de tristeza: seja feliz. E não estou dizendo em ser feliz com o , só seja feliz, ok?! Se você acha que não está pronta para um novo relacionamento, eu respeito, mas talvez se você não forçar, nunca vai estar. – Suspirei.
- falou algo parecido esses dias.
- Somos amigos há 10 anos, devemos pensar de formas parecidas. – Ri fracamente. – Bom, eu preciso ir, não fui para casa da mãe ainda. Nos vemos no jantar?
- Eu tenho que fazer algumas coisas na rua, talvez almoce com a mãe hoje. – Suspirei.
- Bom, nos vemos lá, então. – Ele se levantou e eu fiz o mesmo, abraçando-o por cima da mesa. – Eu te amo, ok?! E só quero seu bem. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. Até mais tarde.
- Até! – Acenei e o vi se retirar da sala.
Soltei um suspiro e voltei a me sentar, vendo os diversos cheques de pagamento, inclusive um para a empreiteira de . Balancei a cabeça e tentei deixar com que esses pensamentos não influenciassem meu trabalho.
Parei o carro em frente à empreiteira de e respirei fundo, colocando a cabeça para fora e observando a placa com sua marca e seu nome. Suspirei, puxei o freio de mão e saí do mesmo, batendo a porta com força. Andei até a entrada e respirei fundo antes de empurrar a mesma, sentindo o ar gelado da cortina de vento bater e bagunçar meus cabelos e ouvi o sininho tocar. Andei alguns passos para dentro, vendo cerca de três mesas longas e pessoas trabalhando.
- Com licença. – Falei, dando uma arranhada com a garganta.
- Oi, boa tarde. – Uma moça se levantou e se aproximou de mim.
- Eu sou do hotel Sant’Elia, tenho um cheque para o senhor . – Falei, sacudindo o cheque em minha mão.
- Ah sim, vou ver se ele quer te atender pessoalmente. – Ela falou.
- Não precisa, eu só... – Ela me deixou falando sozinha e eu respirei fundo, mordendo meu lábio inferior. Ela demorou alguns segundos e logo ela e saíram da sala.
- ! – Ele falou surpreso em me ver. – Obrigado, Emília.
- Eu vim trazer seu cheque. – Falei. – Você não aparece lá na obra faz tempo e faz uns dias que eu preciso te entregar isso.
- Vamos entrar! – Ele disse e eu suspirei mais uma vez naquele dia antes de seguir o caminho de sua sala. – É bom te ver.
- Mesmo? – Perguntei, colocando o cheque em sua mesa. – Tenho uma leve impressão que você fugiu de mim depois da nossa última conversa. – Passei os olhos pela sua sala, vendo os quadros e ornamentos.
- Você pediu para eu parar, então eu parei. – Ele deu de ombros, se sentando à mesa. – Eu não sei te ver e não fazer comentários sobre você, então eu não vou.
- Desculpe, , eu...
- Não, não. – Ele abanou as mãos. – Você não precisa se explicar, eu entendo. É a sua vida e você tem o direito de escolher o que faz com ela. – Ele deu um sorriso de lado e eu deixei os ombros caírem. – Você pode se sentar, sabia?
- É que... – Passei as mãos no rosto. – Você pode pensar que eu sou louca, então me perdoe por isso, mas eu não embarco em um relacionamento, nem ao menos físico, desde que o Ben se foi. Eu estou literalmente contando margaridas, sabe? Bem-me-quer, malmequer e por aí vai...
- Você não precisa se explicar, . – Ele disse.
- Eu sei, eu sei, mas você me deu abertura, ok?!
- Ok, ok! – Ele riu fracamente, erguendo as mãos na defensiva.
- Enfim... – Balancei a cabeça. – É que, eu sou meio louca, sabe? Cuidado para não chegar perto, talvez seja melhor você manter distância, sabe?
- , eu não estou entendendo. – Ele franziu a testa.
- Nem eu, confesso. – Suspirei. – O que eu quero dizer é que eu não quero me afastar das coisas, sabe? Parar de viver, entende? – Bufei. – Mas eu posso te desapontar, eu desapontei o Ben e... Eu tenho fobia a relacionamentos, é difícil eu me abrir... – Suspirei. – Achei melhor eu te avisar para não te dar alguma esperança. – Ele riu fracamente.
- , para! – Ele falou firme e se levantou. – Para que você não está fazendo mais sentido nenhum. – Mordi meu lábio inferior. – Quando eu falo que gosto de você e que quero uma chance é exatamente para mudar essa forma de pensamento sua. Nunca que você desapontou o Ben, vocês eram perfeitos um para o outro e nunca que eu quero tomar o lugar dele, mas você precisa seguir em frente. – Suspirei. – Ele te amou de uma forma muito especial, vocês tiveram uma linda história de amor que infelizmente acabou, mas você pode viver outra com alguém. – Suspirei. – Eu gosto de você e isso não é segredo para ninguém, só não quero que você se sinta obrigada a ficar comigo ou que surte com um possível encontro. – Engoli em seco.
- Eu não sei se eu estou pronta para isso. Você é legal, eu sei, meio irritante sim, mas...
- Obrigado pela parte que me toca... – Rimos juntos.
- Mas você gosta de mim e sei que pode cuidar bem de mim, talvez não seja mal começar por você...
- Começar? Meu amor, depois de mim você não vai querer mais ninguém. – Abri a boca surpresa.
- Mas que metido! – Rimos juntos.
- Vá no seu tempo, . – Ele falou. – Se você acha que está na hora, eu te dou uma chance. – Revirei os olhos. – Mas se não, esperamos. – Ele deu de ombros. - Eu não vou desistir de você tão cedo mesmo.
- Ok, então... – Balancei a cabeça. – Eu te aviso quando for a hora.
- Ok! – Ele disse, rindo fracamente.
- Eu acho que eu vou, então.
- Ok! – Ele falou novamente. Olhei rapidamente pelo escritório dele, passando os olhos pelos ornamentos e encontrei um pequeno jarro com diversas cores coloridas dentro dele.
- O que é isso? – Me aproximei do negócio, vendo que tinha vários pedaços de tecidos dentro dele. – Ah, me falaram disso já.
- Nossa, finalmente alguém perguntou. – Ele falou irônico.
- O quê? – Virei para ele e o mesmo se aproximou até mim.
- Eu coleciono isso há uns oito anos e ninguém nunca me perguntou do que se tratava. – Ele deu de ombros.
- E você nunca pensou em dizer? As mulheres nessa cidade comentam sobre isso. – Virei para ele.
- Queria ver até onde isso ia dar. – Ele deu de ombros.
- Tá e o que é isso? – Olhei os diversos tecidos recortados ali. – Posso tocar?
- Pode. – Ele falou rindo. – Isso é tecido de gravata. – Ele comentou.
- Hum? – Virei para ele, franzindo a testa.
- Sabe em casamentos que eles vendem pedaços da gravata do noivo para a “noite de núpcias”? – Ele fez aspas com as mãos e eu assenti com a cabeça. – Então! – Ele disse. – São todas de gravatas que eu comprei nos casamentos dos meus amigos.
- E por que você tem tantas? – Passei as mãos nelas, percebendo que eram tecidos de gravatas mesmo.
- Qual é, eu entrei na faculdade com 13 anos, todos casaram ou vão se casar antes de mim, teve um ano que 12 caras se casaram. Eu comecei a colecionar. – Ri fracamente. – Ainda mais meu curso que era 90 por cento homens.
- Essa ideia é genial. – Falei rindo. – Você deveria falar para as pessoas, sabe? Muita gente acha que são pedaços de roupas que você tira de mulheres que você mata.
- Ah, que horror. – Ele falou realmente surpreso.
- Seria tipo “mais um crime do Colecionador de Gravatas”. – Gargalhei, vendo-o negar com a cabeça.
- , por acaso você bebeu algo? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Não, eu só fico ansiosa e começo a falar demais. – Ri fracamente, vendo-o sorrir. – Bom, melhor eu ir.
- Vai lá. – Ele falou ainda com um sorrisinho no rosto.
- Nos vemos no hotel. – Sorri. – Não suma, ok?! – Falei com a voz mais baixa.
- Vou tentar. – Ele sorriu e eu ri fracamente antes de praticamente sair correndo da sala dele.
- Tchau. – Falei para os outros funcionários da empresa e saí pela porta, ouvindo o sininho novamente.
Os dias foram passando e eu me comprometi a melhorar, a tentar me abrir ao mundo, então eu voltei na minha psicóloga. Ela gostou muito de me ver lá novamente e aberta para mudanças na minha vida. A cada sessão, ela me fazia pensar de forma diferente, obviamente que a mudança não seria de um dia para o outro, mas parece que, quando eu conversava com ela, eu estava mais disposta a colocar essas ações em prática na minha vida.
Na quinta sessão, quinta semana seguida, ela me fez pensar sobre . Deixar de lado todos os meus pré-conceitos sobre ele e realmente pensar: “seria tão ruim se eu ficasse com ele?” Eu fiquei pensando e pensando e realmente não me veio nenhum motivo plausível para que eu não o fizesse.
- Bom, então acho que você sabe o que deve fazer. – Ela disse e eu franzi a testa.
- O quê? – Perguntei.
- Tentar. – Ela disse simplesmente.
- O quê? – Perguntei novamente.
- Encontrar um jeito de ser feliz com ele. – Ela deu de ombros. – Talvez ele possa ser um amante, talvez ele possa ser somente um amigo. – Ela se ajeitou na poltrona. – A única coisa que eu sei, baseada na forma que você falou dele em todas as sessões, é que ele realmente se importa com você. – Suspirei.
- Todo mundo está falando para eu dar uma chance para ele.
- E por que você não dá? – Suspirei.
- Eu não sei.
- Não tenha medo de ser feliz, . Todos merecem e, quando você a encontra, você corre atrás dela, não deixa ela esperando para sempre.
- Ele disse... – Ela negou com a cabeça.
- Mesmo se ele realmente te esperar para sempre, não deixe que ele te espere. Ele também merece ser feliz. – Suspirei.
- Ok. – Ela sorriu.
- Uma hora você vai estar pronta e quando perceber, já aconteceu. – Confirmei.
- Eu sei, quando Ben se foi, você me disse que uma hora simplesmente ia doer menos, uma hora eu entendi o que você queria dizer...
- Esse caso é exatamente igual. Você está com medo de dar esse salto no escuro, uma hora você simplesmente vai dar. E vai gostar. – Ela sorriu.
- Mal posso esperar por esse momento, então. – Suspirei.
As visitas de pelas obras começaram a ficar cada vez menos frequentes desde o papo no cinema e desde o papo no escritório dele, mas, pelo menos, uma vez por semana ele aparecia para fazer checagens e dar instruções para os pedreiros. Nós não nos falávamos muito. Ele acenava, fazia seu trabalho e logo ia embora. Não fazia piadinhas, nem comentários sobre mim.
Foi nesse momento que eu comecei a entender as palavras de minha psicóloga e começar aos poucos a me permitir. Primeiro eu me permiti para mim, depois eu comecei a me abrir para os outros e por último para .
Quando eu finalmente decidi que queria dar uma chance a ele, estava na semana final da obra, parece que eu esperei o timing perfeito para não tê-lo comigo quase todos os dias. Eu passava o que eu falaria com ele em meu quarto de manhã, na sala da gerência antes dele chegar, enfim, todos os momentos livres que eu tinha. Eu queria ter coragem, queria dar o pulo de fé, mas não sabia como seria.
Quando era por volta de 11 da manhã, Maddie veio me dizer que ele havia chegado e estava checando os últimos detalhes antes de dar a reforma como finalizada. Agradeci, repassei as palavras que eu falaria novamente e elas só sabiam fugir de minha mente. Eu pensava que talvez esse não fosse o momento exato, mas também não queria fugir mais.
- Ah, chega! – Balancei a cabeça e saí a passos firmes da sala da gerência, seguindo para a área das piscinas.
Quando cheguei na mesma, travei os pés no chão, encontrando-o com o olhar. Ele estava conversando com os funcionários dele, parecia que dava algumas instruções ou agradecia pelo serviço. Eles o cumprimentavam um a um e seguiam seu caminho para terminar de organizar as coisas.
Suspirei, observando de longe e pensei mil vezes se fugiria ou não. Minha mente dizia que não, meu corpo dizia que sim. As vezes era o contrário, então eu estava totalmente dividida de minhas decisões, a real é que nem eu sabia o que queria.
- ! – Assustei ao ouvi-lo me chamar e ergui a cabeça.
- Oi, . – Falei, abraçando os braços. - Veio acompanhar o fim?
- Ah, eu gosto de agradecer ao pessoal pelo trabalho e peço para eles deixarem limpinho.
- Agradeço, mas a piscina vai passar por uma bela limpeza antes de repor a água. – Ele assentiu com a cabeça.
- Espero que tenha gostado do serviço.
- Gostei muito e a administração também. – Sorri. – Nem reclamaram dessa vez. – Rimos juntos.
- Bom, acho melhor eu ir, preciso checar outras duas obras ainda...
- Podemos conversar? – Perguntei rapidamente. – Se você tiver tempo, é claro.
- Eu sempre tenho tempo para você, . – Dei um pequeno sorriso e acenei com a cabeça para andar comigo.
- Eu queria te pedir desculpas. – Falei, suspirando e ele se virou para mim.
- Pelo o que exatamente? – Ele perguntou.
- Por tudo, na verdade. – Ri fracamente. – Por todas as piadas, rejeições, enfim, tudo que eu possa ter feito para te magoar. – Ele riu.
- Qual é, , não esperava que você ficasse comigo lá atrás, com o tempo eu achei até que daríamos certo em um momento, mas é a vida, nem sempre acontece da forma que queremos. – Ele suspirou.
- E você ainda quer? – Perguntei, erguendo o rosto para ele.
- O quê? – Ele parou de andar.
- Ficar comigo? – Perguntei, sentindo meu lábio tremer. – Ir em um encontro? Bater um papo? Ver o que pode acontecer? – Ele riu debochado.
- Você está falando sério? Você sabe que eu sempre te amei.
- Talvez eu esteja louca e estou realmente cogitando me prender em um sanatório, talvez seja melhor e explique o que está acontecendo, mas você sempre foi bom para mim e eu nunca te valorizei. – Suspirei. – Mas ultimamente eu estou pensando sobre você de outra forma e pensando “e se?” Toda vez que eu olho para o seu rosto, parece que tem um buraco no lugar do meu estômago e eu estou indecisa se quero saber o que é isso ou não. – Engoli seco.
- Você sabe que eu nunca te machucaria, não é mesmo? – Ele segurou uma mão.
- Eu sei, mas as vezes nem a gente consegue controlar isso. – Ele assentiu com a cabeça.
- Ben te amou muito, . Aposto que ele olha e cuida de ti todos os dias e vai cuidar para sempre. – Ele sorriu. – Não quero prometer que vou te amar mais do que ele, pois não sei como era o amor de vocês, mas eu vou te amar do meu jeito e posso te garantir que cuidarei de você.
- Quando ele foi tirado de mim, eu nunca me senti mais perdida. – Mordi meu lábio inferior. – Criamos algo que parecia vindo de um conto de fadas. Era perfeito. – Ri fracamente. – Eu nunca fiquei triste com Ben, a gente brigava e tal, mas não era para valer. – Neguei com a cabeça. – E isso realmente morreu de um dia para o outro. – Suspirei.
- Eu não posso garantir que eu faça você se sentir melhor do que ele te fez, mas eu posso prometer que eu vou fazer você se sentir bem. E estarei contigo para sempre, como você precisar.
- Como amigo? Como amante? – Perguntei e ele riu.
- Gostei da parte do amante! – Ri fracamente e passei os braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente.
- Ah, . Como faremos isso?
- No seu tempo. – Ele sussurrou contra meu ouvido.
- Eu não sei quando é meu tempo e posso nunca saber. – Ele riu fracamente.
- Você sabe, uma hora vai saber. – Assenti com a cabeça, me afastando dele, mantendo as mãos apoiadas em seus ombros.
- Posso fazer uma pergunta, ?
- Claro. – Falei.
- Você quer ser minha garota? – Meu corpo se arrepiou e eu respirei fundo, encarando os olhos escuros dele.
- Só pelo arrepio do meu corpo com essa pergunta, acho que eu devo aceitar.
- Você não deve fazer nada que não queira.
- Mas eu quero. – Falei. – Do meu jeitinho ansioso e surtado, mas quero. – Suspirei.
- Se não se importar, senhorita , eu vou te beijar. – Assenti com a cabeça, fechando os olhos quando percebi sua aproximação.
Ele tocou os lábios nos meus de leve, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo e entreabri os lábios, permitindo que ele alongasse o mesmo. Senti um pequeno sorriso se formar em meus lábios e percebi que eu estava feliz. Não em dar uma chance para , mas por dar uma chance para mim.
- Deve ter sido o pior beijo da sua vida. – Brinquei quando nos separamos e ele riu.
- Aí que você se engana. – Rimos juntos. – E dizem que sonhos não se realizem.
- Ah, ! – Falei rindo, abraçando-o novamente, sentindo-o me apertar junto de si.
*Cazzo: significa “caralho” em italiano.
- Bom dia, senhorita. – Meus atendentes da recepção me cumprimentaram e eu sorri, acenando para eles.
Passei pelos corredores, cumprimentando os poucos hóspedes que passeavam pelo meu hotel naquela época e naquele horário e encontrei Maddie, minha assistente, no meio do caminho, me entregando um grande copo de café.
- Bom dia, senhorita . – Sorri para ela, assentindo com a cabeça.
- Bom dia, Maddie, quais meus compromissos para hoje? Eu sei que hoje o chato do engenheiro vem aqui para começarmos a reforma. – Revirei os olhos.
- Ele já está aqui, senhorita. – Ela falou baixo e eu parei no meio do caminho, virando para ela e fiz uma careta. – Ele está lhe esperando na sua sala.
- Cazzo*! – Xinguei baixo. – Desculpe. – Suspirei. – Pensei que teria alguns minutos antes de ter que encará-lo.
- Acho que ele é realmente pontual, senhorita. – Deixei meus ombros caírem junto com o peso da bolsa. – Mas ele é uma graça, ele...
- Eu sei, eu sei! – Suspirei, entregando a bolsa para Maddie e pegando meu café. – Nos falamos mais tarde.
- Sim, senhorita. – Minha assistente saiu e segui o caminho até minha sala, encontrando sentado em uma das cadeiras da sala de espera, ele levantou rapidamente quando me viu.
- ...
- Oi, ! – O ignorei prontamente, empurrando a porta da minha sala quando me aproximei dela. – Entre. – Falei e dei à volta na mesa, me sentando em meu lugar. – Pensei que tínhamos combinado às nove horas.
- Gosto de chegar um pouco mais cedo para meus compromissos.
- Um pouco cedo demais para meu gosto. – Apontei a cadeira e ele se sentou, confuso com as plantas.
- Parece que você não está muito feliz em me ver, . – Ele disse e eu ergui o olhar para ele, tirando os cabelos do rosto.
- Não é isso, ... – Suspirei. – Eu queria meu irmão para essa obra, ele já sabe tudo sobre o resort, sabe como eu gosto de trabalhar e também sabe que não deve ficar em meu caminho. – Balancei a cabeça. – Mas por políticas da empresa, só podemos contratar servidores de Cagliari, então, só sobrou você.
- Eu sou o melhor engenheiro de Sardenha, ...
- O único que sobrou. – Falei rispidamente.
- O único que entrou na faculdade com 13 anos. – Suspiramos juntos.
- Foda-se. – Falei.
- Eu não preciso estar aqui, você sabe disso. Acho que passamos da fase do meu crush sobre você há, pelo menos, uns oito anos. Minha empresa não faz trabalhos só aqui...
- Tá, tá, vamos cortar o papo aonde você vai me abandonar, pois aonde eu me lembro, temos um contrato bem gordo contigo, quem perderia mais seria você... – Suspirei. – Vamos falar sobre banheiros comuns. Quero saber novamente os prazos, horas de serviços, compra de materiais extras e tudo mais. Estamos em baixa temporada, mas estamos com 30 por cento do nosso resort ocupado, não quero que eles se sintam incomodados.
- Você não precisa se preocupar com isso, como dito, as obras acontecerão de segunda à quinta das seis da manhã, às quatro da tarde. – Assenti com a cabeça. – Os fins de semana ficarão livres e poderemos fazer reuniões esporádicas em meu escritório, caso haja necessidade.
- Sobre gastos extras?
- A conta feita no orçamento que eu te passei é quase 100 por cento certa, caso haja necessidade de mais material, ficará por conta da empresa. – Assenti com a cabeça.
- Então, acho que está tudo certo, senhor .
- Viu?! Sabemos falar civilizadamente. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Até parece! – Me levantei. – Sua equipe vai começar amanhã, ou...
- Eles já estão arrumando o terreno, decidimos começar pela suíte presidencial, já que está vazia, vamos descendo pelos andares e por último os banheiros das piscinas, que precisará de alguns dias de isolamento.
- Perfeito. Se precisar de algo, senhor , só me chamar. – Estendi minha mão e ele a apertou.
- Sempre um prazer, senhorita . – Revirei os olhos, puxando a mão.
- Estávamos indo bem. – Falei e ele riu, saindo da sala. – Pode entrar, Maddie. – Falei, vendo-a entrar um pouco embasbacada. – Controle-se, Maddie.
- Ele é lindo, chefe! – Ela falou, fechando a porta atrás de si e eu ri fracamente.
- Já superei essa beleza há uns 10 anos. – Abanei a mão.
- Sério? – Ela se virou.
- Ele estudou com meu irmão na faculdade.
- Mas você e seu irmão não são gêmeos? – Ela franziu a testa.
- Sim, e o é superdotado. Entrou na faculdade com 13 anos.
- Uau, não sabia disso. Tem várias histórias em volta dele, mas não sabia que ele era um gênio. – Rimos fracamente.
- Que histórias? – Franzi a testa.
- Falam que ele guarda um jarro cheio de tecidos no escritório dele, ninguém sabe o que é, mas todas as meninas que já ficaram com ele, contam essa história...
- Ah, meu Deus! – Suspirei. – O não muda nunca.
- Vai ver são roupas das meninas que ele ficou... – Ela deu de ombros. – Ou matou.
- Isso é loucura. – Abanei as mãos.
- Ele parece estar a fim de você.
- Desde que eu o conheci, mas não é meu foco de vida agora.
- Qual é, , talvez seja interessante depois do... – Senti meu corpo arrepiar.
- Pelo amor de Deus, não. Eu tenho coceira só de pensar em entrar em outro relacionamento depois do Ben.
- Você não pode ficar sozinha para sempre, chefe! – Suspirei.
- Eu tenho um hotel para gerenciar, Maddie, por favor, vá fazer seu trabalho também. – Ela suspirou.
- Ok, se precisar de algo, estou no walkie talkie. – Assenti com a cabeça, vendo-a sair.
Apoiei as mãos na cabeça, batendo-a levemente sobre a mesa e tentei esquecer o rosto de Ben. Já fazia dois anos que um acidente de snorkel o tirou de mim e eu não havia conseguido ficar com ninguém desde então.
Trabalhar junto de , mesmo que seja em um grande resort aonde ficávamos em lugares diferentes na maior parte do tempo, tinha suas vantagens e desvantagens. Ele tinha uma queda por mim desde que eu o conheci há mais de 10 anos, mesmo eu tendo negado e afastado ele diversas vezes, começado a namorar Ben enquanto ele continuava frequentando a casa de meus pais, ele ainda me encarava com olhos apaixonados e até soltava alguns comentários inadequados.
E eu tinha em minha mente que ele ainda não tinha superado isso. Enquanto eu passava pelos corredores do resort, sentia seus olhos me penetrando como facas e, o pior de tudo isso, era que os anos haviam sido bem generosos com , então quando aquele homem me olhava, minhas pernas bambeavam, mas faz 10 anos que eu não sucumbi aos desejos de e não seria agora que isso ia acontecer.
Eu acho.
Eu namorei Ben durante seis anos antes da vida tirá-lo de mim, nossas vidas estavam prontas para serem vividas juntos. Já tínhamos nossa casa no alto do morro, empregos de sucesso e uma aliança em nossos dedos. O acidente aconteceu quatro meses antes de falarmos nossos “sim”. Eu fiz tratamento durante muito tempo para tentar entender o motivo para isso acontecer comigo, com ele, mas não importava o quando eu buscasse, a resposta não vinha.
Mas eu também não estava pronta para me abrir para outra pessoa, seja ele , o superdotado novinho que dava em cima de mim descaradamente enquanto mordia a ponta de sua caneta, ou outra pessoa.
- Você poderia parar? – Falei firme, abaixando o volume do walkie-talkie.
- O quê? – Ele perguntou cínico e eu puxei a caneta de sua boca.
- Da próxima vez eu espero que essa caneta estoure. – Comentei irritada.
- Relaxa, eu tenho o estoque cheio. – Ele deu uma piscadela e eu revirei os olhos.
- Pelo amor de Deus ou da força poderosa que rege à Terra, , desiste! – Falei firme.
- Por quê? Não é segredo nenhum que eu gosto de você. – Suspirei.
- E não é segredo nenhum que eu já falei mil vezes que isso não vai rolar. – Bufei.
- Ah, qual é, . Eu entendia lá atrás que você me achava uma criança. Cinco anos é bastante coisa, mas a idade sumiu já, qual é. Eu tenho 24 e você tem quase 30, qual é o grande problema? Mulheres de 24 namoram caras de 30.
- A diferença é que homens de 24 são crianças imaturas ainda e criados dentro de uma caixa, mulheres de 24 já estão precisando ajudar em casa e são responsabilizadas se não ajudarem. – Falei irritada já.
- Eu não sou assim! – Ele falou claramente ofendido. – Você me conhece, sabe de tudo o que eu lutei para montar essa empresa e fazer ela dar certo. Sempre fui julgado por ser muito novo. – Ele suspirou. – Ser superdotado não tem tantas vantagens assim. – Ele falou mais baixo.
- Me desculpe, , mas eu simplesmente não quero sair contigo, namorar contigo, ter relação em nada nesse aspecto. – Tentei falar mais uma vez.
- Qual é, , eu sou um cara legal. Entendo tudo o que houve com... – Ele balançou a cabeça e eu soube que falava do Ben. – Você sabe, mas você não pode se fechar para o mundo para sempre.
- Pode ser, não sei, mas no momento eu não consigo. – Suspirei. – Por favor.
- Por favor, deixa eu tentar fazer você se abrir. – Senti o choro subir à garganta e respirei fundo.
- Vamos fingir, então, que eu sou alérgica a compromisso, que tal? – Dei de ombros. – Vamos falar que eu tenho alguma doença que não tem médico, remédio ou receita que cure, que tal? – Suspirei, sentindo os lábios tremerem.
- Por favor, deixa eu te mostrar que sou uma pessoa boa...
- Gerente, na escuta? – Ouvi do walkie-talkie.
- Salvo pelo congo! – Falei, puxando o aparelho da cintura e saí andando.
De sexta-feira à domingo e alguns dias de sorte, eu tinha meus momentos de liberdade, que era quando não aparecia no resort, mas normalmente ele aparecia sempre para fazer a checagem junto com os pedreiros. Uma reforma no resort seria boa para ambos os lados, era o resort melhor frequentado e mais conceituado de Sardenha e o turismo estava crescendo bastante para esse lado, então era uma forma dele ter uma notória visualização no mercado. Empresários, famosos, pessoas da alta sociedade frequentavam esse resort e isso poderia abrir muitas portas para ele.
Fisicamente, ele havia se tornado profissional e não perguntava mais se eu queria ficar com ele ou algo do tipo, mas ele havia começado a demonstrar isso em mínimas ações que faziam a pequena romântica dentro de mim começar a dar pequenos pulos de alegria.
- Bom dia! – Ele disse animado.
- Bom dia. Como estamos? – Perguntei e ele me estendeu um copo de café. – Obrigada. – Falei, dando um pequeno gole na mesma.
- Estamos bem, dois dias avançados, na verdade.
- Que bom! – Assenti com a cabeça.
- Em partes, isso quer dizer menos tempo contigo. – Ele falou, se retirando, me fazendo suspirar.
Alguns dias depois, por uma grande má sorte, durante uma chuva torrencial que fez com que os hóspedes fossem embora mais cedo e os pedreiros precisarem suspender as reformas por alguns dias, ele ficou tentando me empolgar, me fazendo ver os pontos de vistas de uma boa chuva.
- Pessoalmente eu adoro a chuva, sabe? – Comentei com ele, apertando os braços na manta em volta de meu corpo. – Mas meu trabalho precisa de muito sol para dar certo.
- Talvez seja uma boa procurar opções para ocasiões como essa? – Ele perguntou, me encarando.
- Temos algumas sessões cinematográficas com espaços especiais, mas costumam encher só em casos de chuva, mas no verão... – Dei de ombros. – Talvez seja algo para falar com a administração. – Suspirei.
- Se precisarem de engenheiro. – Ele deu de ombros e eu ri fracamente, negando com a cabeça.
- “Única empresa de engenharia em Cagliari”. – Falei como se imitasse um slogan.
- Oh, esqueci desse detalhe! – Ele brincou rindo.
- Mas está sendo bom trabalhar contigo, os trabalhos estão ficando muito bons. – Sorri.
- Obrigada, vale muito vindo de você. – Assenti com a cabeça, sorrindo. – Você disse que tem sessões de cinema em casos de chuva?
- Sim, fazemos uma votação durante o dia entre alguns temas, hoje é animação.
- Hoje vai ter? – Ele perguntou.
- Vai sim, está chovendo, mas duvido que tenha quórum, estamos com 15 por cento da capacidade, muitos querem só se esconder do vento e da chuva.
- Te encontro lá? – Ele perguntou, se afastando devagar e eu franzi a testa.
- Está falando sério? – Perguntei.
- Você está realmente cogitando? – Ele devolveu um tanto surpreso e eu dei de ombros.
- Por que não? Não vai ser ruim ver Frozen pela milésima vez. – Dei de ombros e ele riu.
- Até lá, então. – Ele disse e eu sorri.
Nem foi tão ruim ver Frozen com ele. Estávamos só nós dois no cinema montado em uma das áreas externas do resort, apesar de ser coberto da chuva, o vento passava muito forte e fazia meu corpo inteiro se arrepiar.
trouxe pipoca, chocolate quente e uma manta para cobrir nossas pernas, não falávamos muito, só trocávamos alguns comentários do filme e ele fazia questão de rir de mim quando eu repetia as falas do filme.
Eu comecei a perceber que, em um momento simples como aqueles, eu estava começando a ficar ansiosa pela presença dele, da mesma forma que eu ficava ansiosa quando comecei um relacionamento com Ben.
Não, não era possível. Ele só estava sendo gentil e eu sabia exatamente aonde ele queria chegar. Não podia cair nas graças de , não depois de 10 anos fugindo... Ou podia?
- Bom, isso foi interessante. – Ele falou quando os créditos do filme começaram a subir.
- Não foi minha primeira vez, mas é fofinha. – Ele riu e me deu as mãos para eu me levantar. Deixei o pote de pipoca de lado e me levantei, me abaixando para pegar o objeto de novo.
- Me avisa quando tiver na próxima vez. – Ele disse e eu ri fracamente.
- Você sabe que isso só é para hóspedes, certo?
- Me avise mesmo assim, não me importaria em passar uma noite em um de seus quartos. – Ri fracamente.
- Eles são muito bons mesmo. - Sorri. – Mas acho melhor pararmos por aqui.
- Por quê? Nós só vimos um filme, não foi nem um encontro.
- Não me faça de tonta, , sabemos aonde você quer chegar com isso. – Assenti com a cabeça e ele mordeu o lábio inferior. – Você me leva para um filme, me traz café, ocasionalmente almoça comigo... Não.
- Eu não vou parar, . – Ele disse. – Eu realmente posso te mostrar que eu não sou nada do que você imagina, posso te mostrar que sua perda é só um capítulo muito ruim na sua vida, mas ainda não é o fim. Ben não é o seu fim. – Ele suspirou. – Você é nova e merece viver muitos momentos bons.
- Por favor, pare. – Disse.
- Eu estou falando sério, . Você merece a felicidade, simples assim. – Suspirei. – Eu sei que você passou por algo que te magoou muito, mas eu estou aqui e eu gostaria de uma chance para te fazer feliz. – Engoli em seco.
- Para, ! Toda vez que você começa com esse papo eu começo a ficar nervosa, eu não me sinto confortável. – Suspirei. – Você começa a falar sério e eu... – Cocei por coincidência meu braço. – Começa a me dar coceira. – Suspirei.
- Isso são sintomas, é a prova perfeita que você está fugindo.
- Isso não são si-si... – Gaguejei. – Sintomas, eu só não quero outro compromisso agora.
- Às vezes precisamos aproveitar as oportunidades da vida e nem sempre elas vêm em condições perfeitas. – Suspirei.
- Por favor... – Falei baixo novamente e ele assentiu com a cabeça.
- Tudo bem. – Ele assentiu com a cabeça. – Posso te acompanhar até seu quarto ou seu carro?
- Pode, eu vou para casa hoje. – Ele assentiu com a cabeça e seguimos em silêncio até o estacionamento dos funcionários.
- Podemos repetir quando você quiser. – Assenti com a cabeça.
- Tudo bem. Eu só... – Ele confirmou com a cabeça antes que eu continuasse.
- A gente se vê amanhã se o tempo melhorar. – Ele comentou e eu sorri.
- Boa noite, . – Falei e ele deu um pequeno sorriso.
- Boa noite, . – Ele me disse antes de seguir pelo caminho de antes.
Entrei no carro e respirei fundo, vendo diversas imagens minhas e de Ben passando em minha cabeça e eu só conseguia me sentir culpada por ao menos cogitar a ideia de realmente tentar com . Não sei. Sabia que era uma forma ridícula de se pensar, mas era a única coisa que se passava em minha cabeça depois de duas horas tão gostosas com .
Sabia que aquela seria mais uma noite daquelas e dessa vez eu nem ficaria trabalhando até tarde.
- Bom dia, maninha! – Ergui o rosto, vendo meu irmão abrindo a porta da sala da gerência.
- Josh? – Perguntei surpresa. – O que está fazendo aqui? – Me levantei apressada, atravessando a sala e abraçando meu irmão.
- Ah, que saudades de ti, maninha! – Ele me apertou e distribuiu beijos em minha cabeça, me fazendo sorrir. – Vim ver o inventário do papai, né?! Não é essa semana que temos a reunião no ministério público ou algo assim?
- Ah, nossa! – Coloquei as mãos na cabeça. – Eu me esqueci completamente.
- O que tanto está ocupando essa cabecinha? – Ele perguntou, e eu apontei para uma das cadeiras, voltando para trás da mesa.
- Ah, essa reforma está me enlouquecendo, além dessa chuva que não para. Estávamos adiantados, agora estamos há nove dias sem reforma.
- E como está o trabalho do ? Dei uma bisbilhotada na maquete lá de fora e está bem bonita.
- Ah, está ótima, estou ficando muito satisfeita, mas ele ainda não desistiu de ficar comigo.
- Qual é, , ele é gamado em você desde...
- Que me conheceu, eu sei, eu sei, mas me irrita que ele não desiste. – Bufei.
- E por que deveria? Qual é, maninha, vocês são solteiros, desimpedidos, fariam um casal maravilhoso e eu posso continuar dando mil motivos do porquê isso seria bom de acontecer.
- Eu não sei, Josh, depois do Ben eu...
- Ah, , não vai me dizer que você não dá abertura por causa do Ben? – Ele segurou minhas mãos. – Entendo tudo o que vocês passaram, era para vocês estarem casados agora, eu entendo tudo isso, mas ele se foi. – Ele falou mais baixo. – Não acredito que ele queria que você ficasse sozinha pelo resto da vida.
- Eu sei que não, mas também não que eu ficasse com . – Suspirei.
- Acredite, irmãzinha, o mudou muito desde que você o conheceu. Ele ainda é persistente e irritante? Sim, provavelmente... – Rimos juntos. – Mas ele é uma pessoa diferente agora. Além de muito bonito, cara! O nerd virou o mais galã da faculdade! Quem diria que isso aconteceria? – Sorri.
- Eu não sei, ele tenta fazer tudo para me agradar, confesso que meu coração até palpita quando estou perto dele, mas eu tenho coceira quando ele chega perto, sério. – Ele gargalhou. – Qual é, Josh, isso é sério.
- Coceira? Ah, vá a merda, . – Suspirei. – Dê uma chance de ser feliz, qual é, o que de mal pode acontecer?
- Hum, não dar certo e ficar cada vez mais intragável? – Perguntei honesta. – Qual é, vocês são amigos há anos, não quero estragar isso.
- E você realmente acha que se vocês não derem certo, minha amizade com ele vai acabar? – Ele perguntou cruzando os braços. – é muito mais insistente do que isso, acredite. – Dei um pequeno sorriso.
- Estou acostumada com a insistência dele, mas é diferente...
- Bom, aqui vai uma opinião de quem viveu contigo todos os momentos de felicidade e de tristeza: seja feliz. E não estou dizendo em ser feliz com o , só seja feliz, ok?! Se você acha que não está pronta para um novo relacionamento, eu respeito, mas talvez se você não forçar, nunca vai estar. – Suspirei.
- falou algo parecido esses dias.
- Somos amigos há 10 anos, devemos pensar de formas parecidas. – Ri fracamente. – Bom, eu preciso ir, não fui para casa da mãe ainda. Nos vemos no jantar?
- Eu tenho que fazer algumas coisas na rua, talvez almoce com a mãe hoje. – Suspirei.
- Bom, nos vemos lá, então. – Ele se levantou e eu fiz o mesmo, abraçando-o por cima da mesa. – Eu te amo, ok?! E só quero seu bem. – Assenti com a cabeça.
- Eu sei. Até mais tarde.
- Até! – Acenei e o vi se retirar da sala.
Soltei um suspiro e voltei a me sentar, vendo os diversos cheques de pagamento, inclusive um para a empreiteira de . Balancei a cabeça e tentei deixar com que esses pensamentos não influenciassem meu trabalho.
Parei o carro em frente à empreiteira de e respirei fundo, colocando a cabeça para fora e observando a placa com sua marca e seu nome. Suspirei, puxei o freio de mão e saí do mesmo, batendo a porta com força. Andei até a entrada e respirei fundo antes de empurrar a mesma, sentindo o ar gelado da cortina de vento bater e bagunçar meus cabelos e ouvi o sininho tocar. Andei alguns passos para dentro, vendo cerca de três mesas longas e pessoas trabalhando.
- Com licença. – Falei, dando uma arranhada com a garganta.
- Oi, boa tarde. – Uma moça se levantou e se aproximou de mim.
- Eu sou do hotel Sant’Elia, tenho um cheque para o senhor . – Falei, sacudindo o cheque em minha mão.
- Ah sim, vou ver se ele quer te atender pessoalmente. – Ela falou.
- Não precisa, eu só... – Ela me deixou falando sozinha e eu respirei fundo, mordendo meu lábio inferior. Ela demorou alguns segundos e logo ela e saíram da sala.
- ! – Ele falou surpreso em me ver. – Obrigado, Emília.
- Eu vim trazer seu cheque. – Falei. – Você não aparece lá na obra faz tempo e faz uns dias que eu preciso te entregar isso.
- Vamos entrar! – Ele disse e eu suspirei mais uma vez naquele dia antes de seguir o caminho de sua sala. – É bom te ver.
- Mesmo? – Perguntei, colocando o cheque em sua mesa. – Tenho uma leve impressão que você fugiu de mim depois da nossa última conversa. – Passei os olhos pela sua sala, vendo os quadros e ornamentos.
- Você pediu para eu parar, então eu parei. – Ele deu de ombros, se sentando à mesa. – Eu não sei te ver e não fazer comentários sobre você, então eu não vou.
- Desculpe, , eu...
- Não, não. – Ele abanou as mãos. – Você não precisa se explicar, eu entendo. É a sua vida e você tem o direito de escolher o que faz com ela. – Ele deu um sorriso de lado e eu deixei os ombros caírem. – Você pode se sentar, sabia?
- É que... – Passei as mãos no rosto. – Você pode pensar que eu sou louca, então me perdoe por isso, mas eu não embarco em um relacionamento, nem ao menos físico, desde que o Ben se foi. Eu estou literalmente contando margaridas, sabe? Bem-me-quer, malmequer e por aí vai...
- Você não precisa se explicar, . – Ele disse.
- Eu sei, eu sei, mas você me deu abertura, ok?!
- Ok, ok! – Ele riu fracamente, erguendo as mãos na defensiva.
- Enfim... – Balancei a cabeça. – É que, eu sou meio louca, sabe? Cuidado para não chegar perto, talvez seja melhor você manter distância, sabe?
- , eu não estou entendendo. – Ele franziu a testa.
- Nem eu, confesso. – Suspirei. – O que eu quero dizer é que eu não quero me afastar das coisas, sabe? Parar de viver, entende? – Bufei. – Mas eu posso te desapontar, eu desapontei o Ben e... Eu tenho fobia a relacionamentos, é difícil eu me abrir... – Suspirei. – Achei melhor eu te avisar para não te dar alguma esperança. – Ele riu fracamente.
- , para! – Ele falou firme e se levantou. – Para que você não está fazendo mais sentido nenhum. – Mordi meu lábio inferior. – Quando eu falo que gosto de você e que quero uma chance é exatamente para mudar essa forma de pensamento sua. Nunca que você desapontou o Ben, vocês eram perfeitos um para o outro e nunca que eu quero tomar o lugar dele, mas você precisa seguir em frente. – Suspirei. – Ele te amou de uma forma muito especial, vocês tiveram uma linda história de amor que infelizmente acabou, mas você pode viver outra com alguém. – Suspirei. – Eu gosto de você e isso não é segredo para ninguém, só não quero que você se sinta obrigada a ficar comigo ou que surte com um possível encontro. – Engoli em seco.
- Eu não sei se eu estou pronta para isso. Você é legal, eu sei, meio irritante sim, mas...
- Obrigado pela parte que me toca... – Rimos juntos.
- Mas você gosta de mim e sei que pode cuidar bem de mim, talvez não seja mal começar por você...
- Começar? Meu amor, depois de mim você não vai querer mais ninguém. – Abri a boca surpresa.
- Mas que metido! – Rimos juntos.
- Vá no seu tempo, . – Ele falou. – Se você acha que está na hora, eu te dou uma chance. – Revirei os olhos. – Mas se não, esperamos. – Ele deu de ombros. - Eu não vou desistir de você tão cedo mesmo.
- Ok, então... – Balancei a cabeça. – Eu te aviso quando for a hora.
- Ok! – Ele disse, rindo fracamente.
- Eu acho que eu vou, então.
- Ok! – Ele falou novamente. Olhei rapidamente pelo escritório dele, passando os olhos pelos ornamentos e encontrei um pequeno jarro com diversas cores coloridas dentro dele.
- O que é isso? – Me aproximei do negócio, vendo que tinha vários pedaços de tecidos dentro dele. – Ah, me falaram disso já.
- Nossa, finalmente alguém perguntou. – Ele falou irônico.
- O quê? – Virei para ele e o mesmo se aproximou até mim.
- Eu coleciono isso há uns oito anos e ninguém nunca me perguntou do que se tratava. – Ele deu de ombros.
- E você nunca pensou em dizer? As mulheres nessa cidade comentam sobre isso. – Virei para ele.
- Queria ver até onde isso ia dar. – Ele deu de ombros.
- Tá e o que é isso? – Olhei os diversos tecidos recortados ali. – Posso tocar?
- Pode. – Ele falou rindo. – Isso é tecido de gravata. – Ele comentou.
- Hum? – Virei para ele, franzindo a testa.
- Sabe em casamentos que eles vendem pedaços da gravata do noivo para a “noite de núpcias”? – Ele fez aspas com as mãos e eu assenti com a cabeça. – Então! – Ele disse. – São todas de gravatas que eu comprei nos casamentos dos meus amigos.
- E por que você tem tantas? – Passei as mãos nelas, percebendo que eram tecidos de gravatas mesmo.
- Qual é, eu entrei na faculdade com 13 anos, todos casaram ou vão se casar antes de mim, teve um ano que 12 caras se casaram. Eu comecei a colecionar. – Ri fracamente. – Ainda mais meu curso que era 90 por cento homens.
- Essa ideia é genial. – Falei rindo. – Você deveria falar para as pessoas, sabe? Muita gente acha que são pedaços de roupas que você tira de mulheres que você mata.
- Ah, que horror. – Ele falou realmente surpreso.
- Seria tipo “mais um crime do Colecionador de Gravatas”. – Gargalhei, vendo-o negar com a cabeça.
- , por acaso você bebeu algo? – Ele perguntou e eu ri fracamente.
- Não, eu só fico ansiosa e começo a falar demais. – Ri fracamente, vendo-o sorrir. – Bom, melhor eu ir.
- Vai lá. – Ele falou ainda com um sorrisinho no rosto.
- Nos vemos no hotel. – Sorri. – Não suma, ok?! – Falei com a voz mais baixa.
- Vou tentar. – Ele sorriu e eu ri fracamente antes de praticamente sair correndo da sala dele.
- Tchau. – Falei para os outros funcionários da empresa e saí pela porta, ouvindo o sininho novamente.
Os dias foram passando e eu me comprometi a melhorar, a tentar me abrir ao mundo, então eu voltei na minha psicóloga. Ela gostou muito de me ver lá novamente e aberta para mudanças na minha vida. A cada sessão, ela me fazia pensar de forma diferente, obviamente que a mudança não seria de um dia para o outro, mas parece que, quando eu conversava com ela, eu estava mais disposta a colocar essas ações em prática na minha vida.
Na quinta sessão, quinta semana seguida, ela me fez pensar sobre . Deixar de lado todos os meus pré-conceitos sobre ele e realmente pensar: “seria tão ruim se eu ficasse com ele?” Eu fiquei pensando e pensando e realmente não me veio nenhum motivo plausível para que eu não o fizesse.
- Bom, então acho que você sabe o que deve fazer. – Ela disse e eu franzi a testa.
- O quê? – Perguntei.
- Tentar. – Ela disse simplesmente.
- O quê? – Perguntei novamente.
- Encontrar um jeito de ser feliz com ele. – Ela deu de ombros. – Talvez ele possa ser um amante, talvez ele possa ser somente um amigo. – Ela se ajeitou na poltrona. – A única coisa que eu sei, baseada na forma que você falou dele em todas as sessões, é que ele realmente se importa com você. – Suspirei.
- Todo mundo está falando para eu dar uma chance para ele.
- E por que você não dá? – Suspirei.
- Eu não sei.
- Não tenha medo de ser feliz, . Todos merecem e, quando você a encontra, você corre atrás dela, não deixa ela esperando para sempre.
- Ele disse... – Ela negou com a cabeça.
- Mesmo se ele realmente te esperar para sempre, não deixe que ele te espere. Ele também merece ser feliz. – Suspirei.
- Ok. – Ela sorriu.
- Uma hora você vai estar pronta e quando perceber, já aconteceu. – Confirmei.
- Eu sei, quando Ben se foi, você me disse que uma hora simplesmente ia doer menos, uma hora eu entendi o que você queria dizer...
- Esse caso é exatamente igual. Você está com medo de dar esse salto no escuro, uma hora você simplesmente vai dar. E vai gostar. – Ela sorriu.
- Mal posso esperar por esse momento, então. – Suspirei.
As visitas de pelas obras começaram a ficar cada vez menos frequentes desde o papo no cinema e desde o papo no escritório dele, mas, pelo menos, uma vez por semana ele aparecia para fazer checagens e dar instruções para os pedreiros. Nós não nos falávamos muito. Ele acenava, fazia seu trabalho e logo ia embora. Não fazia piadinhas, nem comentários sobre mim.
Foi nesse momento que eu comecei a entender as palavras de minha psicóloga e começar aos poucos a me permitir. Primeiro eu me permiti para mim, depois eu comecei a me abrir para os outros e por último para .
Quando eu finalmente decidi que queria dar uma chance a ele, estava na semana final da obra, parece que eu esperei o timing perfeito para não tê-lo comigo quase todos os dias. Eu passava o que eu falaria com ele em meu quarto de manhã, na sala da gerência antes dele chegar, enfim, todos os momentos livres que eu tinha. Eu queria ter coragem, queria dar o pulo de fé, mas não sabia como seria.
Quando era por volta de 11 da manhã, Maddie veio me dizer que ele havia chegado e estava checando os últimos detalhes antes de dar a reforma como finalizada. Agradeci, repassei as palavras que eu falaria novamente e elas só sabiam fugir de minha mente. Eu pensava que talvez esse não fosse o momento exato, mas também não queria fugir mais.
- Ah, chega! – Balancei a cabeça e saí a passos firmes da sala da gerência, seguindo para a área das piscinas.
Quando cheguei na mesma, travei os pés no chão, encontrando-o com o olhar. Ele estava conversando com os funcionários dele, parecia que dava algumas instruções ou agradecia pelo serviço. Eles o cumprimentavam um a um e seguiam seu caminho para terminar de organizar as coisas.
Suspirei, observando de longe e pensei mil vezes se fugiria ou não. Minha mente dizia que não, meu corpo dizia que sim. As vezes era o contrário, então eu estava totalmente dividida de minhas decisões, a real é que nem eu sabia o que queria.
- ! – Assustei ao ouvi-lo me chamar e ergui a cabeça.
- Oi, . – Falei, abraçando os braços. - Veio acompanhar o fim?
- Ah, eu gosto de agradecer ao pessoal pelo trabalho e peço para eles deixarem limpinho.
- Agradeço, mas a piscina vai passar por uma bela limpeza antes de repor a água. – Ele assentiu com a cabeça.
- Espero que tenha gostado do serviço.
- Gostei muito e a administração também. – Sorri. – Nem reclamaram dessa vez. – Rimos juntos.
- Bom, acho melhor eu ir, preciso checar outras duas obras ainda...
- Podemos conversar? – Perguntei rapidamente. – Se você tiver tempo, é claro.
- Eu sempre tenho tempo para você, . – Dei um pequeno sorriso e acenei com a cabeça para andar comigo.
- Eu queria te pedir desculpas. – Falei, suspirando e ele se virou para mim.
- Pelo o que exatamente? – Ele perguntou.
- Por tudo, na verdade. – Ri fracamente. – Por todas as piadas, rejeições, enfim, tudo que eu possa ter feito para te magoar. – Ele riu.
- Qual é, , não esperava que você ficasse comigo lá atrás, com o tempo eu achei até que daríamos certo em um momento, mas é a vida, nem sempre acontece da forma que queremos. – Ele suspirou.
- E você ainda quer? – Perguntei, erguendo o rosto para ele.
- O quê? – Ele parou de andar.
- Ficar comigo? – Perguntei, sentindo meu lábio tremer. – Ir em um encontro? Bater um papo? Ver o que pode acontecer? – Ele riu debochado.
- Você está falando sério? Você sabe que eu sempre te amei.
- Talvez eu esteja louca e estou realmente cogitando me prender em um sanatório, talvez seja melhor e explique o que está acontecendo, mas você sempre foi bom para mim e eu nunca te valorizei. – Suspirei. – Mas ultimamente eu estou pensando sobre você de outra forma e pensando “e se?” Toda vez que eu olho para o seu rosto, parece que tem um buraco no lugar do meu estômago e eu estou indecisa se quero saber o que é isso ou não. – Engoli seco.
- Você sabe que eu nunca te machucaria, não é mesmo? – Ele segurou uma mão.
- Eu sei, mas as vezes nem a gente consegue controlar isso. – Ele assentiu com a cabeça.
- Ben te amou muito, . Aposto que ele olha e cuida de ti todos os dias e vai cuidar para sempre. – Ele sorriu. – Não quero prometer que vou te amar mais do que ele, pois não sei como era o amor de vocês, mas eu vou te amar do meu jeito e posso te garantir que cuidarei de você.
- Quando ele foi tirado de mim, eu nunca me senti mais perdida. – Mordi meu lábio inferior. – Criamos algo que parecia vindo de um conto de fadas. Era perfeito. – Ri fracamente. – Eu nunca fiquei triste com Ben, a gente brigava e tal, mas não era para valer. – Neguei com a cabeça. – E isso realmente morreu de um dia para o outro. – Suspirei.
- Eu não posso garantir que eu faça você se sentir melhor do que ele te fez, mas eu posso prometer que eu vou fazer você se sentir bem. E estarei contigo para sempre, como você precisar.
- Como amigo? Como amante? – Perguntei e ele riu.
- Gostei da parte do amante! – Ri fracamente e passei os braços pelos seus ombros, abraçando-o fortemente.
- Ah, . Como faremos isso?
- No seu tempo. – Ele sussurrou contra meu ouvido.
- Eu não sei quando é meu tempo e posso nunca saber. – Ele riu fracamente.
- Você sabe, uma hora vai saber. – Assenti com a cabeça, me afastando dele, mantendo as mãos apoiadas em seus ombros.
- Posso fazer uma pergunta, ?
- Claro. – Falei.
- Você quer ser minha garota? – Meu corpo se arrepiou e eu respirei fundo, encarando os olhos escuros dele.
- Só pelo arrepio do meu corpo com essa pergunta, acho que eu devo aceitar.
- Você não deve fazer nada que não queira.
- Mas eu quero. – Falei. – Do meu jeitinho ansioso e surtado, mas quero. – Suspirei.
- Se não se importar, senhorita , eu vou te beijar. – Assenti com a cabeça, fechando os olhos quando percebi sua aproximação.
Ele tocou os lábios nos meus de leve, fazendo um arrepio passar pelo meu corpo e entreabri os lábios, permitindo que ele alongasse o mesmo. Senti um pequeno sorriso se formar em meus lábios e percebi que eu estava feliz. Não em dar uma chance para , mas por dar uma chance para mim.
- Deve ter sido o pior beijo da sua vida. – Brinquei quando nos separamos e ele riu.
- Aí que você se engana. – Rimos juntos. – E dizem que sonhos não se realizem.
- Ah, ! – Falei rindo, abraçando-o novamente, sentindo-o me apertar junto de si.
*Cazzo: significa “caralho” em italiano.
Epílogo
- Melhor você se preparar. – Cochichei para enquanto dançávamos abraçados na pista de dança.
- Por quê? – Ele perguntou, virando o rosto para onde eu olhava.
- Seus amigos estão vindo. – Falei, vendo meu irmão e outros amigos da faculdade começarem a se aproximar com uma tesoura.
- Ah, qual é, nós já temos nosso hotel de noite de núpcias. – Ri fracamente, me afastando dele lentamente.
- Graças aos meus superiores. – Falei rindo.
- Vamos lá, senhor , hora de vender essa gravata aí! – Meu irmão falou, puxando pela gravata e eu gargalhei, colocando a mão em frente à boca.
- Ah, qual é, galera, eu já tenho quarto de núpcias e lua de mel.
- Você não vai fugir dessa não. – Eles começaram a falar. – Você cortou de todos nós, agora vamos cortar a sua. – Neguei com a cabeça.
- Qual é, , fala para eles.
- Eu não vou falar nada, vou até fazer minha colaboração para colocar na sua coleção.
- Ê! – Eles gritaram comemorando.
- A gente pode dar um desconto para noiva, o que acha? – Josh virou para os amigos e eles ponderaram antes de confirmar. – O primeiro pedaço então vai para minha irmãzinha. – Ele falou, puxando meu agora marido pela gravata, fazendo-o tentar afrouxá-la cada vez mais. – Assim está bom? – Ele colocou a tesoura na ponta da gravata.
- Mereço um pedaço maiorzinho, não? – Comentei.
- Um pedaço maior vai sair mais caro.
- Que decadência! – Comentei e ele cortou a ponta da gravata, me entregando. – Cuidem bem dele, ok?!
- Não prometemos nada. – Eles falaram em coro e eu ri fracamente, sentindo me abraçar rapidamente, antes de ser puxado pelo meu irmão.
- Eles são loucos! – Jodi, irmãzinha de , falou, se aproximando de mim. – Talvez você não tenha um marido até o fim da noite. – Ri fracamente, abraçando-a de lado.
- Bom, ele sempre fez isso com os amigos dele, agora ele vai ter que aguentar. – Rimos juntas. – Não duvido nada que eles achem outra gravata para judiar mais ainda dele.
- Ah, com certeza, George estava falando algo assim com o seu irmão, eles vão abusar dele um pouco.
- Bom, contanto que eu realmente possa aproveitar minha noite de núpcias, está tudo certo. – Ela riu fracamente, escondendo o rosto com as mãos.
- Você não deve me contar isso.
- Você tem a idade do seu irmão quando eu o conheci, naquela época ele já sabia muito mais. – Rimos juntas.
- ! – Minha sogra apareceu.
- Senhora . – Falei.
- Venha aproveitar com as meninas um pouco, queremos tirar foto com a noiva. – Ela me puxou e eu gargalhei, seguindo para o grupo de mulheres.
- Quer que eu traga algo para você? – Jodi perguntou e eu ri fracamente.
- Me traga o de volta em 20 minutos, ok?! – Cochichei, procurando formas de fugir das mulheres loucas da família de .
- Pode deixar! – Ela falou e eu segui com as mulheres, vendo a pequena Jodi rir.
- Vai, judia de mim para você ver o que acontece! – cochichou quando passou por mim e eu neguei com a cabeça, revirando os olhos em seguida.
- Eu vou começar outro boato sobre você, hein?! – Brinquei e ele riu.
- Quero ver você tentar! – Ele cochichou e fomos puxados para direção oposta.
- Eu te amo! – Gritei, feliz por fugir dessa briguinha e ouvi sua voz em resposta.
- Para sempre!
- Por quê? – Ele perguntou, virando o rosto para onde eu olhava.
- Seus amigos estão vindo. – Falei, vendo meu irmão e outros amigos da faculdade começarem a se aproximar com uma tesoura.
- Ah, qual é, nós já temos nosso hotel de noite de núpcias. – Ri fracamente, me afastando dele lentamente.
- Graças aos meus superiores. – Falei rindo.
- Vamos lá, senhor , hora de vender essa gravata aí! – Meu irmão falou, puxando pela gravata e eu gargalhei, colocando a mão em frente à boca.
- Ah, qual é, galera, eu já tenho quarto de núpcias e lua de mel.
- Você não vai fugir dessa não. – Eles começaram a falar. – Você cortou de todos nós, agora vamos cortar a sua. – Neguei com a cabeça.
- Qual é, , fala para eles.
- Eu não vou falar nada, vou até fazer minha colaboração para colocar na sua coleção.
- Ê! – Eles gritaram comemorando.
- A gente pode dar um desconto para noiva, o que acha? – Josh virou para os amigos e eles ponderaram antes de confirmar. – O primeiro pedaço então vai para minha irmãzinha. – Ele falou, puxando meu agora marido pela gravata, fazendo-o tentar afrouxá-la cada vez mais. – Assim está bom? – Ele colocou a tesoura na ponta da gravata.
- Mereço um pedaço maiorzinho, não? – Comentei.
- Um pedaço maior vai sair mais caro.
- Que decadência! – Comentei e ele cortou a ponta da gravata, me entregando. – Cuidem bem dele, ok?!
- Não prometemos nada. – Eles falaram em coro e eu ri fracamente, sentindo me abraçar rapidamente, antes de ser puxado pelo meu irmão.
- Eles são loucos! – Jodi, irmãzinha de , falou, se aproximando de mim. – Talvez você não tenha um marido até o fim da noite. – Ri fracamente, abraçando-a de lado.
- Bom, ele sempre fez isso com os amigos dele, agora ele vai ter que aguentar. – Rimos juntas. – Não duvido nada que eles achem outra gravata para judiar mais ainda dele.
- Ah, com certeza, George estava falando algo assim com o seu irmão, eles vão abusar dele um pouco.
- Bom, contanto que eu realmente possa aproveitar minha noite de núpcias, está tudo certo. – Ela riu fracamente, escondendo o rosto com as mãos.
- Você não deve me contar isso.
- Você tem a idade do seu irmão quando eu o conheci, naquela época ele já sabia muito mais. – Rimos juntas.
- ! – Minha sogra apareceu.
- Senhora . – Falei.
- Venha aproveitar com as meninas um pouco, queremos tirar foto com a noiva. – Ela me puxou e eu gargalhei, seguindo para o grupo de mulheres.
- Quer que eu traga algo para você? – Jodi perguntou e eu ri fracamente.
- Me traga o de volta em 20 minutos, ok?! – Cochichei, procurando formas de fugir das mulheres loucas da família de .
- Pode deixar! – Ela falou e eu segui com as mulheres, vendo a pequena Jodi rir.
- Vai, judia de mim para você ver o que acontece! – cochichou quando passou por mim e eu neguei com a cabeça, revirando os olhos em seguida.
- Eu vou começar outro boato sobre você, hein?! – Brinquei e ele riu.
- Quero ver você tentar! – Ele cochichou e fomos puxados para direção oposta.
- Eu te amo! – Gritei, feliz por fugir dessa briguinha e ouvi sua voz em resposta.
- Para sempre!
Fim.
Nota da autora: Quando a Ashley lançou esse novo CD depois de 10 anos, eu não podia deixar de organizar esse ficstape e fico muito feliz por ele sair! Essa short acabou sendo inspirada por uma antiga ideia que seria mais relacionada ao "Colecionador de Gravatas", mas consegui fazer ela encaixar nessa short simples e fofinha!
Eu amo demais todas as músicas desse álbum, amo o trabalho da Ashley há anos, mas como tenho planos para usar outras música, precisei escrever Symptons que é a minha favorita de todas! Gostaria de deixar meu agradecimento especial às autoras que participaram e tornaram possível esse ficstape! <3
Espero que vocês tenham gostado e não se esqueçam de deixar aquele comentário básico aqui embaixo, ele é muito importante para todas as autoras. E para sabere mais novidades de outras fanfic, só entrar no meu grupo do Face!
Beijos! <3
Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Eu amo demais todas as músicas desse álbum, amo o trabalho da Ashley há anos, mas como tenho planos para usar outras música, precisei escrever Symptons que é a minha favorita de todas! Gostaria de deixar meu agradecimento especial às autoras que participaram e tornaram possível esse ficstape! <3
Espero que vocês tenham gostado e não se esqueçam de deixar aquele comentário básico aqui embaixo, ele é muito importante para todas as autoras. E para sabere mais novidades de outras fanfic, só entrar no meu grupo do Face!
Beijos! <3