Capítulo Único
Segunda feira. Início de um verão que eu preferia esquecer, mas cá estava eu, num bar, com álcool o suficiente para chegar ao barman e lhe pedir seu número.
Dizem que nós, mulheres, sofremos pela perda de um amor assistindo filmes de Nicholas Sparks e com sorvete. Uma mentira, pois, depois de quase quatro meses do fim do meu casamento, cá estava eu, num bar, em plena segunda feira.
Sei o que devem pensar: “Será que ela não tem emprego?”; sim, eu tenho um emprego. Sou psicóloga e tenho um consultório numa das ruas mais movimentadas da cidade. Podem dizer que eu sou sortuda e beneficiada, mas gosto de dizer que construí tudo sozinha, do zero.
- Acha que está bem o suficiente para mais uma dose? – o barman indaga e eu sorri. – Acho que a resposta é não.
- Não necessariamente. – falei com uma gargalhada no final, o que o fez sorrir. – Eu sou .
- Eu te conheço. Você é uma conhecida psicóloga. Minha mãe tem um livro seu. – ele falou sorrindo.
- Oh, que honra! – falei fazendo uma falsa reverência, o que o fez rir. – E você não me disse seu nome.
- . – ele diz e sinto um arrepio percorrer minha nuca, junto da única gota de suor que descia pelo mesmo local. – É um prazer conhecê-la.
- Não me trate como se eu tivesse idade o suficiente para uma reverência. – falei e ele rolou os olhos, lançando um sorriso estupidamente bonito.
Ele era estranha e estupidamente atraente. Seja pela roupa preta que usava junto do suspensório, ou pela pequena tatuagem de Star Wars que vi em seu dedo do meio enquanto me entregava um copo de uísque.
Sim, eu notei aquilo. E senti meu coração de Nerd acelerar.
Seus olhos eram tão lindos que deveriam entrar numa paleta de cores para o próximo inverno. A sua barba perfeitamente alinhada e grande parecia ser deliciosamente divertida de acariciar por horas, o que me levava a conclusão de que eu precisava fazer aquilo em algum momento.
- Eu acho que não estou bêbada o suficiente para admitir que você é lindo de morrer, . – falei e sei que no dia seguinte me arrependerei de ter falado aquilo, mas, com a bebida e o calor do momento – misturado com o calor que eu sentia causado pelo rapaz – eu acabei soltando coisas demais.
- Você não está realmente bem. – ele diz e apoia seu cotovelo no balcão de mármore negro, ficando tão próximo de mim que eu poderia jurar que havia bebido algumas doses de tequila.
- Eu vou provar que estou bem. – falei, levantando da banqueta de madeira e subindo naquele balcão.
Minha voz adulta dizia para não fazer aquilo. Dizia que eu pararia em todas as redes sociais existentes, sendo divulgada uma imagem negativa de minha pessoa.
Minha voz adolescente dizia que eu deveria remexer mais meus quadris, pois tinha toda a certeza do universo que me observava.
Conforme a música de J Balvin tocava nas caixas de som daquele estabelecimento, eu sentia meu corpo se mover num ritmo que até então eu desconhecia, mas que adorava desde já.
Virei meu corpo em direção a e seus olhos estavam em meus quadris, prestando atenção a cada movimento preciso dele.
Obrigada, mamãe, por me arrastar para todas as aulas de dança na adolescência.
Quando a música acabou, ouço aplausos e assobios de todas as partes. Agradeço com um aceno e um sorriso, descendo do balcão e encarando , que parecia estupefato e ainda em transe.
- Você só pode ser de outro planeta. – ele diz e eu dei de ombros.
(...)
Acordei com o susto que meu despertador causara naquele exato momento.
Os flashes da noite anterior ainda rondavam minha mente em busca de alguma explicação ou qualquer outra coisa, mas eu estava indisposta o suficiente para não responder.
Quando abro meus olhos, no entanto, a memória da noite anterior estava bem ali, com o cabelo bagunçado, a barba amassada e os olhos me fitando com um sorriso pequeno nos lábios.
Oh, meu Deus!
Ele estava ali. Ele dormiu ali. E eu estava tão nua quanto ele, no entanto, só eu parecia estar em pânico com aquilo.
Pensei em fugir. E por que eu fugiria se esse é o meu apartamento? Ele que deveria ter ido embora.
- Bom dia. – ele diz e pude jurar que sua voz rouca era uma das maiores maravilhas do mundo. – Eu sinto muito por ter te acordado. Você estava tão bonita dormindo.
- Eu preciso trabalhar. – falei e ele assentiu, passando um de seus dedos em minha bochecha, acariciando o local por muito tempo. Tempo o suficiente para sentir falta quando o contato acabasse.
- E eu tenho que ir para meu apartamento. – ele sussurra e eu assenti ainda fitando seus olhos eletromagnéticos. – , eu...
- , não precisa dizer, nem fazer nada. – falei e ele suspirou, assentindo e se levantando.
Eu poderia ainda estar dominada. Eu poderia ainda estar sonhando. Ou eu estava mesmo pensando naquelas costas largas e definidas, onde minhas unhas passearam durante boa parte da noite anterior?
Ele caminhava e mesmo de relance, vejo que ele está nu e procurava pela sua cueca, que deveria ter sido jogada no calor do momento. Ele coloca logo em seguida o restante de sua roupa e me fita por alguns segundos, o suficiente para que meu corpo sentisse falta de seu toque, mesmo que por poucos segundos.
- Acho que tenho que ir embora agora. – ele diz e eu assenti. – Enfim, tenha um bom dia.
- Você também, . – falei e ele sorriu de lado, saindo de meu quarto e fechando a porta logo em seguida.
Em alguns segundos em silêncio, ouço a porta de entrada se fechar e eu suspiro, passando as mãos no rosto, totalmente frustrada.
Ok, só foi um sexo casual. Nada que eu nunca tenha feito antes de conhecer , meu ex marido. Ele era apenas um que passou pela minha cama, não seria o último. Bom, era o que pelo menos eu esperava.
Levantei e tomei um banho rápido e gelado, praguejando aos quatro cantos do planeta pela minha dor de cabeça. Coloquei minha roupa e ajeitei meu cabelo, colocando meus saltos e pegando minha bolsa, logo saindo de meu apartamento e trancando a porta em seguida.
Quando a porta da frente se abriu, mostrando a silhueta de , junto de sua roupa de corrida e um saco de lixo preto em seus ombros, senti o pânico voltar de imediato.
Como assim ele era meu vizinho?
Acho que ele havia percebido minha cara de espanto, pois havia um sorriso um tanto sacana em seus lábios. Suspirei e caminhei até o elevador, apertando o botão de descer. De relance, o vejo parar ao meu lado, encarando a porta de ferro que não abria por nada, o que deixava tudo ainda mais tenso.
- Como você vai? – ele indaga e eu sinto vontade de bater em seu rosto por ele ser tão irônico em momentos como aquele.
- Você não disse que morava no mesmo prédio que eu e no mesmo andar. – falei e ele deu de ombros, sorrindo em seguida. – Eu sou muito idiota.
- Não mesmo. Já vi o suficiente para dizer que você não tem nada de idiota. – ele diz, me fazendo rolar os olhos e bufar em seguida.
Logo a porta do elevador se abre e eu entro primeiro, ignorando qualquer encarada daquele homem por todos os seis andares que restam, o suficiente para que eu pudesse surtar em qualquer momento.
Quando as portas se abrem, eu logo saio, caminhando com pressa para o lado de fora do prédio.
- Nós nos vemos por aí. – ele diz e acena com a cabeça, correndo para longe de mim em seguida.
Chamei por um táxi, dando o endereço do prédio onde era o consultório, permanecendo imersa em meus próprios pensamentos durante todo o caminho, acordando somente quando o taxista pigarreia, me fazendo sorrir envergonhada e lhe pagar o que o taxímetro mostrava.
Quando desço do carro, suspiro profundamente e caminho para dentro do prédio, apertando o botão do meu andar, logo vendo as portas se fecharem.
- Bom dia. – falei assim que cheguei, encontrando somente Molly, minha assistente.
- Não é hoje a audiência, ? – Molly indaga. Ela, em pouco tempo, havia se tornado uma grande amiga e meu braço direito. – Você deveria se preparar para isso.
- Molly, está tudo bem. Não é como se eu quisesse uma vingança ou algo do tipo. Eu já superei que ele foi um babaca e me traiu na primeira oportunidade. – falei e dei de ombros.
- Eu vi que superou. Quem fez essa marca no seu pescoço? – ela indaga, gargalhando em seguida. – Quer dizer que a noite foi animada.
- Ah, isso não interessa. – falei e ela rolou os olhos.
- Claro que interessa. Quem foi que fez essa marca? – ela indaga novamente, apoiando-se na porta e me fitando com os braços cruzados na altura do peito. – Fala logo, .
- Tá, foi um cara. Ele é o barman daquele barzinho lá no centro. Sabe? – indago e ela assente. – Nós tivemos uma noite juntos, e só. O pior aconteceu no dia seguinte, quando descobri que ele era meu vizinho e, pior, de frente pro meu apartamento.
- Puta merda. – ela diz e eu assenti, suspirando em seguida. – Espero que ele seja bonito, pelo menos.
- Ele é. Até demais. – falei, dando de ombros em seguida.
As horas se passaram e quando vi, estava atrasada para minha audiência. Peguei um táxi, dando o endereço do fórum onde seria aquilo tudo.
Quando cheguei, encontrei meu advogado conversando animadamente com um policial, enquanto estava sentado com cara de poucos amigos ao lado de sua advogada.
- Desculpe o atraso. – falei e ele deu de ombros, se levantando e caminhando até um bebedouro que havia ali no andar.
- A juíza do caso não chegou ainda. – a advogada de meu ex marido diz, o que me fez suspirar aliviada, pois sabia que esse atraso levaria a algo ruim.
Fiquei ali sentada por mais ou menos quarenta minutos. O relógio da parede já marcava quatro da tarde, o tempo estava nublado do lado de fora, o que não combinava em nada com o tempo que amanheceu.
- Desculpem pelo meu atraso. – a mais velha diz ao entrar na sala, junto de seus dois seguranças. Ela parecia ser um pouco mais velha que eu. – Podemos começar?
E eu levantei de meu lugar, caminhando ao lado do meu advogado até a sala onde aconteceria a audiência. Sentei do lado esquerdo da mesa, ficando de frente para , que me encarava com a feição séria.
- Boa tarde, senhoras e senhores. – ela diz. – Advogado da Senhorita , por favor, apresente suas propostas.
- Minha cliente quer o apartamento, 5% dos lucros do consultório irá oferecer a ele, e somente isso. – o homem ao meu lado diz.
- Meu cliente quer 10% dos lucros daquele consultório. – a advogada de meu ex marido diz.
O fito rapidamente e vejo um sorriso debochado em seus lábios. Rolei os olhos, endireitando-me na cadeira confortável, encarando-o.
- Protesto! – meu advogado diz. – Segundo o que consta, minha cliente construiu tudo naquele consultório sozinha, pedindo somente dinheiro ao Luigi , seu pai. Ela não mexeu com 1% do dinheiro de seu ex marido, o que possibilita que ela não precise, de fato, dividir o capital financeiro de sua própria empresa.
- Essa é uma boa justificativa. – a juíza diz e ouço bufar, o que fez um sorriso vitorioso surgir em meu rosto. – Damos por encerrada a sessão. Senhorita ficará com o apartamento e não precisará dividir os lucros de seu estabelecimento com o Senhor Simpson.
Dei um suspiro aliviada e logo me levanto, cumprimentando a juíza e em seguida meu advogado, enquanto assinava um papel, que logo parou em minha frente.
- Você tem certeza de que deseja continuar com isso? – ele indaga e eu o fitei, vendo um sorriso surgir em seu rosto. Bufei, pegando a caneta de sua mão e assinando rapidamente todos os papéis, entregando para a juíza. – Acho que é só isso.
- Adeus, . – falei, apertando sua mão e logo saindo da sala.
Saio do fórum, pegando meu celular e discando o número de uma pessoa que certamente iria adorar comemorar.
(...)
Quando o garçom deixou nossos chopes na mesa, agradeci e ele se retirou.
- Um brinde a vida de solteira divorciada de ! – Ally, minha melhor amiga da faculdade, diz, erguendo sua cabeça e fazendo um brinde com nós todas.
- Agora que você está oficialmente divorciada, pode sair para encontrar outros homens sem ser presa por adultério, né? – Olívia, minha irmã mais velha, indaga.
- Isso já aconteceu! – Molly exclama e eu abaixo a cabeça. – Vocês não viram a marca no pescoço?
- Eu achei que fosse coisa da minha imaginação. – Ally diz e eu rolei os olhos. – Como e quando foi isso?
- Ontem, com o vizinho gostoso que, por um acaso, é o barman desse bar aqui. – Molly diz e eu bato em seu ombro. – Desculpe, eu precisava falar isso.
- Tudo bem. Não vai acontecer novamente, de qualquer maneira. – falei, dando de ombros em seguida.
- Você quem pensa, . – Liv diz e eu rolei os olhos.
O restante da noite foi em meio a conversas aleatórias e risadas escandalosas. Sabia que iria trabalhar no dia seguinte, mas eu não me importava. Não tanto quanto queria comemorar aquele momento.
Cheguei em casa sentindo que o álcool havia me atingido por inteiro, mas eu não me sentia bêbada. Eu poderia ter alguma porcentagem em meu sangue, mas não era o suficiente para que eu precisasse de ajuda.
- Boa noite. – ouço a voz de e meu coração dispara com o susto. – Você está bem?
- Você quer parar de me assustar? E me perseguir? – indago.
- Eu não tive a intenção de te assustar, e não estou te perseguindo. Pensei que precisasse de ajuda. – ele diz e dá de ombros em seguida.
- Você pode arrumar o que fazer, garoto. – falei e logo sinto suas mãos em minha cintura, virando meu corpo de frente para o seu. – Você pode me soltar?
- Posso, mas não quero. Do que você me chamou? – ele indaga, passando a ponta de seu nariz pela minha bochecha, fazendo com que minha roupa íntima fique um tanto úmida. – Fala logo, .
- Garoto?! – falei com a voz afetada. Um sorriso surgiu em seu rosto ao notar meu tom de voz e ele beijou minha bochecha. Um beijo úmido, longo e bastante gostoso.
- Não foi isso que você me disse ontem. – ele diz em meu ouvido. – Não enquanto eu deixava essa marca em você.
- , por favor... – falei e espalmei seu peito, empurrando-o em seguida. – Você não devia ter feito isso. Eu estava bêbada.
- Você não estava bêbada, . Eu conheço bêbados tão bem quanto você, e sei que, naquele momento, você estava sóbria. – ele diz e vejo seus olhos mais uma vez me encarando.
Você deveria ter deixado esse moleque ir embora ontem à noite.
Meu subconsciente gritava, mas meu corpo parecia não obedecer meus comandos e lá estava eu, nos braços dele, abrindo a porta de meu apartamento e sentindo seus lábios em meu pescoço, deixando ali beijos ainda melhores do que o na bochecha.
- É a última vez, . – falei e logo deitei no sofá, vendo-o vir para cima de mim.
- Eu sei que não é a última. – e logo ele acaba com nossa distância, beijando-me como se nossa vida dependesse daquilo. E, sim, acho que de alguma maneira eu dependia daquilo.
(...)
- Até que nós dois fazemos uma bela dupla. – diz, antes de jogar o lençol em cima de nossos corpos. – E olha que nos conhecemos há 24 horas.
- Acho que estamos nos precipitando. – falei e ele negou, acariciando meu rosto com o seu polegar, que nem a manhã de hoje.
- Você pode chamar do que quiser, mas, para mim, o que tivemos aqui foi química pura junto de tensão sexual. – ele falou, fazendo meu rosto ruborizar.
- Vou ver se tem algo para comermos. – falei e ele assentiu, soltando-me de seus braços fortes e tatuados, algo que, de certa forma, não queria que acontecesse.
Peguei sua blusa ao meu lado, colocando-a rapidamente e levantando, saindo do quarto logo em seguida. Caminhei pelo corredor até a cozinha, sentindo o perfume do rapaz invadir minhas narinas. Ele era tão cheiroso e, ao mesmo tempo, jogava tão sujo.
Olhei para dentro da geladeira, vendo uma caixa de pizza do fim de semana, o que me fez suspirar aliviada e contente. Peguei e coloquei em cima do balcão, buscando por um prato para colocar alguns pedaços para nós dois.
- Vim ver se você precisava de alguma ajuda. – ele diz ao entrar na cozinha, me fazendo saltar com o susto. – Desculpe.
- Tudo bem. – falei e ele suspirou. Coloquei o prato no micro-ondas, sentando no banquinho da bancada, encarando a chuva caindo pela janela da cozinha.
- Por que ficamos assim de repente? – ele indaga e eu o fitei com a sobrancelha arqueada. – Nós fizemos sexo e parece que somos dois desconhecidos.
- O que não deixa de ser verdade. Eu ao menos sei seu sobrenome. – falei enquanto ele se aproximava.
- . Acho que meu sobrenome não tem tanta importância, afinal, não possui ninguém famoso com esse nome. – ele diz e dá de ombros.
- Você só vive como barman? – indago e logo sinto seus braços ao redor de minha cintura, aproximando ainda mais nossos corpos.
- Sim. Eu poderia estar numa faculdade, que é o grande sonho de minha mãe, mas preferi virar barman. – ele diz, enquanto passa seu nariz por todo meu pescoço. – Mas, de alguma forma isso é bom. Eu convivo com as pessoas, ouço histórias de suas vidas às vezes medíocres e ainda ganho uma viagem a cada férias.
- E ainda por cima pode dormir com quantas mulheres quiser, né? – indago e ele rolou os olhos.
- E por que você acharia isso de mim? – ele indaga e eu suspiro. – Não é como se eu fosse um santo, mas também não sou esse tipo de cara.
- Não foi o que me pareceu. – falei com um sorriso de lado.
- Foi porque me interessei por você. E enquanto você dançava, eu só pensava em como você seria na cama. E, bom, eu acertei em achar que você era incrível. – ele diz e eu sinto meu rosto esquentar. – Agora, vamos comer algo. Estou morrendo de fome e sei que você também.
E, antes que eu pudesse respondê-lo, beijou meus lábios rapidamente, caminhando até o micro-ondas, que apitava mostrando que a pizza já estava quente o suficiente para ser comida.
Quando colocou o prato em cima do balcão junto de uma garrafa de vinho e duas canecas, eu suspirei e ele me fitou confuso.
- Nada. Eu só estou um pouco cansada. E já são duas da manhã. Amanhã eu acordo cedo para o trabalho. – falei e ele bufou.
- Você precisa realmente ir amanhã para o trabalho? – ele indaga e eu assenti, pegando uma fatia de pizza e comendo um pedaço.
- Meus pacientes precisam de mim, . Assim como o pessoal do bar precisava de você hoje. – falei.
- Hoje foi meu dia de folga. – ele diz, dando de ombros em seguida.
Silêncio. Enquanto eu mastigava e virava a caneca de vinho, sentia o olhar de sobre mim. Era indecifrável e desconcertante, levando qualquer uma a loucura e pânico, o que era de fato o que eu sentia toda vez que aquilo acontecia.
- O que houve? – indago e ele negou com a cabeça, colocando seu pedaço de pizza por cima do balcão, aproximando-se de mim rapidamente, puxando minha cintura e me colocando por cima da pedra gélida de mármore.
Ele abriu um pouco minhas pernas, ficando entre elas. Com um de seus dedos, ele acariciava a parte interna de minhas coxas, bem perto de meu íntimo, fazendo um gemido abafado sair de meus lábios.
- ... – comecei, chamando sua atenção. – Acho que, por hoje, chega.
- Você tem certeza? – ele indaga, beijando meu pescoço em seguida. Ah, aquilo ali era um golpe muito baixo e sujo. Assenti com a cabeça, decidida a dar um fim naquilo o mais depressa possível, mesmo que meu corpo diga totalmente o oposto daquilo.
O que eu estava fazendo com a minha vida?
(...)
Abri a porta do apartamento, vendo a TV ligada num jogo de futebol americano, um time que eu não fazia questão de saber qual era, pois sabia exatamente quem estava ali vendo aquilo.
saiu da cozinha com um balde de pipoca em um de seus braços, enquanto no outro havia três garrafas de Heineken, tentando caminhar e equilibrar aquilo tudo sem cair e sujar meu carpete.
- O que você está fazendo aqui? – indago quando coloco minha bolsa em cima do balcão, tirando meus saltos e os jogando num canto qualquer da sala.
Fazia alguns dias, pra dizer quase um mês desde aquela noite. Desde então, eu e engatamos em algo que não fosse além de sexo casual e filmes repetitivos na Netflix, acompanhados na maior parte das vezes de cervejas, vinhos e sorvete.
Era difícil quando tínhamos um tempo para nós. Como eu trabalhava durante todo o dia, chegava em casa quase oito da noite, e teria de sair para trabalhar a noite. Não que eu reclame, longe de mim, pois vê-lo somente de cueca boxer enquanto prepara algum drink especialmente para mim era prazeroso.
Como nem tudo são flores, havia sempre algum espinho e, no nosso caso, era a diferença evidente de idade. Eu estava com 36 anos, mais velha, cheia de cabelos brancos e sem pique para uma noite de bebedeira e dança. Já era o contrário. Ele estava no auge de seus 24 anos, vivia das festas e bebedeiras de outras pessoas e tinha toda uma vida pela frente, inclusive com meninas mais novas. O que isso nos levou? Uma espécie de não relacionamento, por medo de um abandono e de nossa diferença de idade absurda, mesmo que ele diga que nunca me deixaria.
- Você trabalha hoje, já está atrasado. – falei quando ele passou os braços ao redor de minha cintura, me puxando para perto de seu corpo quente e cheiroso.
- Eu sei, mas eu pensei, eu preciso de você. – ele diz, beijando meu pescoço logo em seguida.
- Não sei se vai dar certo, . – falei com a voz baixa e afetada, enquanto seus dedos brincavam em meu íntimo. – Quanto tempo nós temos?
- Quarenta e cinco minutos. – ele diz, olhando o relógio do celular, antes de acabar com toda nossa distância juntando nossos lábios com pressa e vontade.
Eu podia ser louca, afinal, nunca me senti tão necessitada de lábios antes de conhecê-lo, antes de descobrir as coisas maravilhosas que ele fazia com aquela parte de seu corpo e como ele podia me levar ao céu e ao inferno no mesmo minuto.
- Esse foi o sexo mais rápido que já tivemos. – ele diz, beijando meus lábios logo em seguida. – Eu te disse que somos uma bela dupla, .
- Somos, mas você já está atrasado. – falei e ele bufou, se levantando e pegando suas roupas do chão. – Hoje é sexta, quando acabar tudo, pode vir para cá. Você sabe onde está a chave reserva.
- Ah, como eu amo o fim de semana. – ele diz e eu gargalhei, beijando sua boca novamente e me levantando do sofá, pegando sua camiseta do chão e me vestindo com a mesma. – Você não deveria estar com essa roupa. Você não sabe como estou me controlando para te agarrar e levar você para uma cama.
- Quem sabe mais tarde poderemos fazer naquele escritório. – falei, apontando para a porta no fim do corredor. Seus olhos ficaram arregalados e eu sorri.
- Puta que pariu, . Eu já disse o quão louco eu sou quando você faz isso? – ele indaga e eu arqueei a sobrancelha, forçando uma confusão, algo que o fez sorrir. – Você agindo dessa maneira, como se fosse uma moça ingênua. Isso é loucura e eu gosto muito.
- Tá, agora você está muito atrasado, . Corre. – falei e ele assentiu, beijando minha testa e correndo para fora do apartamento, fechando a porta em seguida.
As horas desde que foi para seu trabalho passaram como uma tartaruga. Não sei se era minha ansiedade para que ele voltasse, ou se era os filmes que eu assistia.
Ouço a porta ser aberta e eu sorri, pausando o filme. Ele logo apareceu em meu campo de visão, com um sorriso capaz de rasgar seu rosto.
- Voltou mais cedo. – falei enquanto ele tirava seus sapatos sociais, jogando-os em algum canto da sala.
- Danny me cobriu lá. Eu disse que não estava me sentindo muito bem. – ele falou e eu gargalhei. – Aquela proposta ainda está de pé?
- Ah, não sei. Será que você está merecendo? – indago em seu ouvido, sentando em seu colo em seguida.
Não sabia o que havia acontecido comigo. Não sabia se era os dois copos de uísque ou o desejo ardente que eu sentia, mas eu precisava dele mais do que o normal.
E ele parecia perceber, afinal, estava brincando comigo, pagando na mesma moeda.
- Acho que mereço, né? – ele indaga com a voz rouca e o sotaque britânico mais lindo do mundo. – Sei exatamente o que fazer e como fazer com você, .
- E o que você vai fazer, ? – indago enquanto beijo seu pescoço, que havia se tornado meu local preferido no mundo inteiro.
- Aí você só vai descobrir enquanto eu faço. – ele diz, me levantando em seu colo, fazendo um gemido alto escapar de seus lábios. – Hoje você pode gemer o quanto quiser, . Isso é o que acontece quando me provoca antes mesmo d'eu ir pro trabalho. Acha que eu fiquei como durante aquelas horas?
- Queria saber como você ficaria. – falei e ele rolou os olhos, abrindo a porta do escritório. – Foi bom saber que você estava afetado.
(...)
- Preciso dizer: esse aqui foi o mais incrível da nossa vida. – ele diz, sentando no sofá de couro do canto da sala.
- Eu sempre quis aqui, mas dizia que deveria manter aquilo organizado demais. Ironicamente o encontrei aqui com outra garota. – falei dando de ombros em seguida.
- Ele é um filho da puta babaca. – fala, me puxando para seu colo. – E eu não quero que você se lembre dele. Se lembre de sua primeira vez nesse escritório com o homem mais gostoso do mundo.
- Que modéstia, . – falei rindo e puxando-o para um beijo, ainda mais lento do que todos os outros que demos desde o início de tudo aquilo.
Pude jurar que ali também havia uma pontinha de sentimento. Algo que eu preferia abstrair, me deixando levar pelo momento.
Numa escala de 1 a 10, eu poderia descrever aquele momento como perfeito. Enquanto estávamos na banheira de minha suíte, rindo e conversando, enquanto comíamos morangos com chocolate, fazia as piadas mais sem graça do mundo, me fazendo rir alto demais para as quatro da manhã de um sábado.
Eu gostava de dizer que , em meio a tudo que aconteceu no último ano, foi uma coisa boa. A única. Mesmo que não tivéssemos nada além de química, eu não poderia deixar de agradecer por tê-lo aqui, comigo, me fazendo sorrir e esquecer que a vida acaba após um divórcio conturbado.
- O que acha de assistirmos o nascer do sol? – ele indaga, abraçando-me por trás.
- Eu estou tão cansada. – falei, bocejando em seguida.
- Eu sei disso, mas acho que vai ser legal. – ele diz, dando de ombros em seguida. – Mas, se você quiser, podemos deixar para outro dia.
- Ah, tudo bem. Eu só não te garanto nada. – falei e ele sorriu, abrindo a porta da sacada e sentando numa cadeira, me puxando para o seu colo. – ?
- Oi? – ele indaga, fitando meus olhos em seguida.
- Você não sente vergonha por estar com uma mulher mais velha que você? – indago, escondendo meu rosto em seu pescoço. – O que seus amigos pensarão disso?
- Deixem que pensem, . Eu não me importo com eles, nunca me importei. Se você se afeta por isso, acho que não devemos ficar juntos. – ele diz e eu o fitei.
- Eu não me importo, . Só te fiz uma pergunta. – falei e ele sorriu, beijando meu queixo.
- Não vamos discutir, ok? Hoje foi perfeito e eu não quero que esse momento se acabe. – ele falou e eu assenti, beijando seu pescoço, antes de apoiar minha cabeça em seu ombro e observar as poucas luzes acesas na cidade.
Silêncio. Não era desconfortável e tampouco tenso, era um silêncio que me fazia pensar como será daqui para frente. Se iremos continuar com isso e até quando.
(...)
- O que acha de irmos almoçar fora? – indaga assim que abro meus olhos. O relógio ao seu lado marcava 12h36min, o que dizia que dormimos menos do que o necessário. – Eu conheço um restaurante ótimo no centro da cidade. Podemos ir para lá.
- Acho que vai ser legal. – falei e ele sorriu, beijando minha testa e se levantando.
- Ótimo, irei tomar um banho e volto aqui para podermos ir. – ele diz e eu assenti, sentando na cama e o observando partir.
Tomei um banho rápido, colocando somente um vestido florido que ganhei de mamãe no natal passado. Calcei minhas sapatilhas e enquanto eu fazia uma trança em meu cabelo, vejo, de relance, aparecer.
Ele estava lindo com aquela blusa até os cotovelos e uma bermuda, além de tênis nos pés.
Por um momento desejei agarrá-lo, para não sairmos dali jamais. Implorei que ele desejasse o mesmo, porém, o sorriso em seu rosto era totalmente diferente do que ele me dava enquanto estávamos na cama, juntos, fazendo aquilo que nós dois fazíamos de melhor.
Peguei minha bolsa e logo saio do quarto, sentindo um de seus braços ao redor de meus ombros, caminhando comigo para fora de meu apartamento, esperando que eu tranque tudo para podermos ir embora.
Um lado de minha mente, enquanto estávamos no elevador, insistia em dizer que aquilo era um encontro. Outra parte dizia que eu deveria ter agarrado e ficado em meu quarto.
Quando chegamos ao lado de fora do prédio, fez sinal para um táxi, que rapidamente parou. Entrei e logo o rapaz entrou, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão, dando o endereço do restaurante.
O caminho levou cerca de trinta minutos. Durante todo esse tempo, fiquei abraçada com , que acariciava meus cabelos e segurava uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos.
Como se fôssemos um casal de namorados.
Chegamos e ele logo pagou, descendo e me ajudando. Entramos no estabelecimento e logo fomos para uma mesa no canto do restaurante, olhando para o cardápio.
fez nossos pedidos assim que o garçom se aproximou. Enquanto os mesmos não chegavam, conversamos sobre coisas aleatórias e engraçadas.
Almoçamos conversando, enquanto contava o acidente da noite anterior no barzinho, que foi basicamente um escândalo feito por um homem que viu a mulher tendo a despedida de solteira no mesmo lugar que ele.
- Que cara babaca! – exclamei e ele assentiu. – Acho que já podemos ir, né?
- Eu estou gostando de estar aqui, com você. – ele diz, acariciando minha mão por cima da mesa.
- Podemos ir para a sorveteria aqui perto, né? – indago e ele assentiu, sorrindo de lado em seguida. Pagamos a conta e logo saímos do estabelecimento, caminhando até uma praça que ficava a poucos quarteirões dali. – Qual foi sua primeira tatuagem? E qual delas você mais gosta?
- Eu certamente não sei. – ele diz e eu ri. – Qual você gosta?
- Essa de Star Wars no seu dedo. – falei e ele me encarou. – O que foi? Eu também gosto da saga.
- E como que eu fui descobrir isso um mês depois? – indaga.
- Não tenho culpa se você estava trabalhando enquanto eu assistia aos filmes. – falei e ele bufou. – O que acha de me levar nesse exato momento até um tatuador?
- , você tem certeza disso? Sabe que para tirar dói mais do que para fazer. – ele falou e eu rolei os olhos. – Tá ok, tá ok, vamos! Só não diga que eu não te avisei.
- Tá ok, mãe. – falei e ele gargalhou.
Caminhamos até um local que era tão bonito por fora quanto por dentro. Havia imagens diversas de tatuagens espalhadas pelos quadros e paredes, o que deixava ainda mais bonito.
- Carter! – exclama, soltando minha mão e indo em direção ao homem barbudo e tatuado. – Quanto tempo que não nos vemos.
- Você praticamente sumiu. O que aconteceu? Amarrou o bode? – Carter indaga e logo gargalha, parando seu olhar sobre mim. – Quem é essa?
- Essa é , minha namorada. – diz, puxando-me pela mão.
Espera! Eu ouvi aquilo mesmo? Ou eu estava louca?
O fitei confusa e ele sorriu, beijando minha bochecha e se virando para frente.
- Tudo bem? – indago após alguns segundos, apertando a mão do tatuador.
- Estou bem. Então quer dizer que você é a dona do novo bode do ? – Carter indaga e eu assenti, sorrindo de lado.
- Ela quer fazer sua primeira tatuagem. – diz e eu senti um arrepio percorrer meu corpo ao imaginar a dor que sentiria, mas eu precisava ter coragem. – E eu também quero fazer outra.
- Ok, senhorita. Qual será sua tatuagem? – ele indaga.
- Eu quero igual a dele de Star Wars. Mas o meu sabre tem que ser vermelho. – falei e ele assentiu.
- Eu preciso de alguns minutos. Já, já te chamo para começarmos. – Carter diz e eu assenti, indo para o lado de , que folheava uma revista qualquer ali da recepção.
Fiquei apenas alguns minutos observando o local. A televisão mostrava o jornal e o tempo que mudaria a partir de hoje à noite.
- Qual vai ser sua tatuagem? – indago.
- É segredo. – ele diz e eu rolei os olhos. – Não adianta fazer aquela carinha, . Eu não vou resistir aos seus encantos.
- Você é um chato. – falei e ele gargalhou, me dando um selinho.
- Olha aqui, amor, você vai gostar. Ou não. – ele diz e eu dei de ombros.
Após alguns minutos, Carter aparece em meu campo de visão. Ele acenou e eu me levantei, caminhando junto de até o tatuador.
Me deito numa maca preta, colocando o braço no local indicado.
Observo todos os procedimentos necessários para aquilo, sentindo meu corpo formigar e meu estômago revirar de tamanha ansiedade e nervosismo.
- Você deve sentir um pouco de dor, o que é normal. Mas, se for uma dor absurda, você fala que eu paro e vou fazendo aos poucos, para você ir se acostumando. – ele falou e eu assenti.
Sinto a mão de sob a minha e eu sorri para ele, que me mandou um beijo no ar.
A tatuagem levou cerca de duas horas. Carter foi cuidadoso e paciente, fazendo com que eu não sentisse muita dor, o que foi ótimo, já que a ideia de me machucar era inexplicavelmente terrível para mim.
- Eu não quero que você veja a tatuagem, amor. – diz e pela segunda vez eu não soube decifrar o que aquelas quatro letrinhas causavam em mim.
- Ah, você viu a minha, isso não vale. – falei e ele sorriu, beijando meus lábios mais uma vez. – Tá ok, tá ok, eu vou ficar ali quieta.
- Obrigado. – ele falou e eu rolei os olhos, caminhando até a cadeira da recepção e pegando uma revista qualquer e começando a folheá-la.
A de durou quase uma hora. Em momento algum ouvi gemidos de dor de sua parte, o que deixava óbvio que ele estava mais acostumado do que eu. Quando ele terminou, pagou as duas tatuagens com a recepcionista, logo caminhando comigo para o lado de fora.
- Qual é a sua? – indago e ele nega.
- Eu vou te mostrar quando chegarmos em casa. – fala e eu bufo.
O caminho de volta foi mais rápido. Não estávamos tão longe de nosso prédio e eu logo avisto o mesmo, caminhando ainda mais depressa para o lado de dentro. Cumprimentei o porteiro e fui para o elevador com em meu encalço, apertando o botão do nosso andar.
Quando as portas se abrem, caminhamos pelo corredor até meu apartamento. Abro a porta e logo me jogo no sofá, enquanto tranca tudo novamente, caminhando até a mim e parando de joelho na minha frente.
- Acho que já está na hora, né, apressadinha?! – fala enquanto tira sua camisa, mostrando seu peito.
Meu coração acelerou de imediato ao ver o que havia ali. V.VII.MMXVII, ou 5 de julho de 2017, o dia exato em que nos conhecemos na boate, onde tivemos nossa primeira noite.
Meu estômago estava revirado. Minhas pernas e mãos tremiam, enquanto meus olhos ardiam por conta das lágrimas que estavam ali, presas.
- ... – comecei, sentindo minha voz falhar logo depois.
- Eu sei, eu sei, você vai dizer que é loucura, mas desde quando alguma coisa entre nós dois é normal? – ele indaga e eu gargalhei, segurando sua cabeça e beijando todo seu rosto, desperdiçando algumas lágrimas.
- Por que você fez isso? – indago enquanto limpo as lágrimas que ainda insistiam em cair.
- Pra mostrar que você é única. E, se algum dia nada der certo, vou lembrar do dia em que uma mulher dançou Reggaeton para mim. – ele diz e eu gargalhei, jogando-me em seus braços. – Eu sou louco por você, . E se eu puder te mostrar isso quantas vezes forem necessárias, eu mostrarei.
E eu o beijei, mostrando que tudo que ele sentia era verdadeiramente recíproco e puro, forte como uma tempestade de verão.
- O que acha de irmos para o quarto? – indago contra seus lábios, vendo um sorriso surgir nos dele, que assentiu prontamente e me pegou no colo, caminhando comigo pelo corredor até o meu quarto, fechando a porta em seguida.
Aquela foi a primeira vez que fizemos amor. Todas as outras era necessidade de satisfação e prazer, mas, aquela, com toda aquela emoção envolvida e todo aquele sentimento, foi diferente.
- Eu acho que podemos pedir uma pizza. – falei enquanto ele se sentava na cama. – O que você acha?
- Podemos pedir depois do banho, o que acha? – ele indaga e eu assenti, levantando da cama e caminhando para o banheiro do meu quarto. Liguei o chuveiro, ficando ali em silêncio, fitando minha tatuagem no dedo mediano.
Se alguém me falasse, há algum tempo, que eu iria me envolver com um rapaz 12 anos mais novo que eu e que ele me levaria para fazer minha primeira tatuagem, eu iria rir. Eu iria rir alto o bastante para a pessoa se sentir envergonhada.
Mas, aqui estava eu, seis meses depois do fim do meu casamento, com um rapaz 12 anos mais novo, com uma tatuagem no dedo mediano e um sentimento que me levava ao pânico
Quando a porta do box se abre, aparece em meu campo de visão. A tatuagem em seu peito parecia gritar comigo, o que me fez sorrir de lado e o puxar pelo braço com pressa.
- Você é demais para mim, . – falei e ele sorriu, acariciando meus cabelos e beijando meus lábios sem pressa. – Eu não sei o que fazer com você.
- Só fica comigo, tudo bem? – ele indaga contra meus lábios. Assenti com a cabeça, puxando-o para outro beijo.
Ficamos ali por alguns minutos. Coloquei meu pijama e o dele, ligando a televisão e colocando num canal qualquer de esportes.
- Você pode ligar para a pizzaria, por favor? – indago e ele assente, pegando seu celular e discando o número.
- Quais os sabores? – ele indaga.
- Pode ser calabresa, mussarela e uma de chocolate. – falei e ele gargalhou. – Você me deixou com fome.
- Desse jeito iremos a falência. – ele diz e eu gargalhei.
Caminhei para a cozinha e logo parei, sentindo minha cabeça girar e tudo ficar confuso. Segurei na geladeira por alguns segundos, até que apareceu, tocando minha cintura.
- Você está bem? – ele indaga e eu assenti forçando um sorriso. – Vem, vamos para a sala.
E logo ele estava ali me guiando para o outro cômodo, me colocando sentada e se sentando ao meu lado.
- Você quer assistir alguma coisa? – ele indaga e eu neguei, apoiando a cabeça em seu ombro.
Após alguns minutos em silêncio e de táticas de como jogar honestamente o Beisebol, a campainha toca e se levanta, indo até a porta e pegando a pizza, dando o dinheiro para o entregador.
colocou as caixas por cima da mesa de centro, indo até a cozinha pegar o refrigerante e a cerveja, voltando pouco tempo depois.
- O que aconteceu? – ele indaga ao ver minha careta encarando o telefone.
- Acabei de receber um e-mail, pedindo que eu confirmasse minha ida para o congresso de psicólogos na semana que vem. E querem que eu leve um acompanhante. – falei, fazendo uma careta novamente. – Eles devem achar que eu ainda estou casada.
- Eu posso ir com você. Posso pedir folga lá no bar. Eu estava precisando de uma mesmo. – diz, pegando um pedaço de pizza e me entregando. – Vai ser nossa viagem.
- Eu tenho que trabalhar e ir a palestras. – falei e ele fez uma careta, me fazendo gargalhar. – Essas coisas eu deixo você ficar de fora.
- Nem pensar, . Eu vou com você pra essas coisas, mesmo que eu durma. – ele diz e eu rolei os olhos, dando um selinho nele.
- Você pode ganhar uma recompensa por isso. – falei em seu ouvido.
- Você sabe mesmo como me seduzir e me levar para o lado negro da força. – ele diz, me fazendo sorrir em seguida. – Então nós temos um acordo.
- Isso aí. – falei, fazendo um high five.
E foi assim o resto de nossa noite, comendo pizza e assistindo jogos idiotas de futebol americano.
Será que um dia isso infelizmente chegará ao fim?
(...)
Os dias se passaram e logo chegou sexta, o dia em que iríamos para o Congresso na Califórnia. Eu e havíamos decidido tudo nos dias anteriores a viagem, o que fez com que saíssemos cedo para o aeroporto.
- Deveria ser crime acordar tão cedo assim. – ele diz enquanto coloca as malas no porta-malas do táxi.
- Fica aí, então. – falei e ele negou, fechando o compartimento e entrando comigo no carro. – Para o aeroporto, por favor.
O caminho foi rápido, ainda mais que não havia nenhum trânsito. Paguei ao taxista, enquanto pegava as malas na parte de trás do carro. Quando ele colocou a última no carrinho de bagagem, caminhamos para o lado de dentro.
- Você quer tomar café? – ele indaga. Assenti. – Vou ali comprar para nós dois. Não sai daqui, por favor.
Assenti novamente, o observando sumir de meu campo de visão. Fiquei ali parada olhando a tela gigante que mostrava o horário de saída e chegada de voos, sejam internacionais ou nacionais.
- Prontinho. – ele diz, entregando o copo de café para mim. – Acho que irei fazer o check-in. Você quer se sentar?
Assenti, sentindo novamente a sensação de tontura me atingir em cheio. Caminhei sem pressa até a área com cadeiras, me sentando em uma e vendo caminhar para longe de mim, sumindo do meu campo de visão mais uma vez.
Fiquei sozinha por mais ou menos quinze minutos. A fila do check-in estava pequena, o que levava a não demorar muito.
- Você está bem? – ele indaga ao sentar do meu lado. Assenti, sorrindo forçadamente. – Tem certeza?
- Tenho, . Deve ser cansaço. – falei e ele assentiu, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos.
Ficamos ali por mais ou menos uma hora. As pessoas passavam, imersas em seus próprios mundos e problemas, não observando o sol quente e brilhante do lado de fora daquele enorme prédio.
- Já chamaram para o voo. – diz, se levantando e segurando minha mão para que eu também me levantasse. – Você tem certeza de que está bem?
- Tenho, . – falei e ele rolou os olhos, passando o braço ao redor de minha cintura e caminhando comigo até o portão de embarque, entregando nossas passagens e passaportes.
Caminhamos e logo entramos no avião, sentando em nossos lugares.
- Quer que eu fique na janela? – indaga. – Você está pálida, . Vou chamar uma comissária de bordo.
- Não precisa, , ok? É só um enjoo de viagem. É normal. – falei e beijei sua bochecha. – Só fica aqui comigo que eu melhoro, tá?
Era óbvio que era mentira. Durante as horas de voo, os enjoos só pioraram, o que deixava ainda mais nervoso.
- É a segunda vez que você vomita. Tem certeza que está tudo bem? – ele indaga, segurando meu cabelo enquanto eu coloco tudo para fora no vaso sanitário do avião.
- Eu tenho, . Já te disse que é um enjoo de viagem. – falei e ele bufou.
- Você estragou todos os meus planos de transarmos no banheiro do avião. – ele diz, me fazendo gargalhar.
- Me perdoe, Britney Spears. – falei e ele rolou os olhos. Levantei meu corpo, lavando meu rosto e minha boca logo em seguida.
Voltamos para nosso lugar e eu apoiei minha cabeça no ombro de , que via um filme qualquer de ação no Tablet. Beijei seu pescoço, fechando os olhos e pegando no sono pouco tempo depois.
Acordei com me sacudindo, avisando que o avião havia pousado. Segurei em sua mão e logo levantamos, saindo do avião em seguida, caminhando para dentro do aeroporto.
O sol de L.A. não tinha nada de parecido com o de NY. Pegamos nossas malas, colocando-as no carrinho e indo para o lado de fora para esperar por um táxi.
Depois de muito tempo na fila e de muito tempo no trânsito, o táxi para na porta do hotel. paga ao motorista, que nos ajuda a tirar as coisas de seu porta-malas, saindo dali rapidamente.
- Boa tarde. – falei e a recepcionista me fitou e sorriu. – Eu sou , vim para o Congresso.
- Ah sim! Seu quarto é uma suíte presidencial, cortesia dos organizadores do evento. É uma cama de casal, tem algum problema? – ela indaga, apontando para atrás de mim.
- Nenhum. – ele fala e beija minha bochecha. – Não é, amor?
Os olhos da recepcionista ficam arregalados e eu tento não rir, mesmo sendo impossível. Ela logo entregou as chaves de nosso quarto, explicando cada uma das três.
Fomos para o elevador, apertando o botão do andar de nosso quarto.
- Você viu a cara dela, ? – indago e ele riu, assentindo. – Não, . As pessoas não acham normal isso.
- O que, ? Um casal? – ele indaga. – Eles terão que começar a aceitar.
- , eu sempre disse que a nossa diferença de...
- Idade é de 12 anos, mas eu também disse que não me importava, . Nunca me importei. Você se importa? – ele indaga, me fazendo suspirar. – É, você realmente se importa com isso. Só bastou um olhar torto para confirmar isso, né?
- Não é assim, . – falei.
- Claro que é, . Eu sempre te disse que não me importava desde que eu tivesse você, mas achava que era recíproco. Me enganei profundamente. – ele diz e logo a porta se abre e ele sai rapidamente, me fazendo correr ao seu encalço.
- , você pode, por favor, me escutar? – indago segurando sua mão. – Eu me importo um pouco, mas porque eu quero seu bem. Somente isso.
- Meu bem é ficar com você, . Parece que você não entende o quão louco eu sou por você que chega a ser estranho. – ele falou. – Agora, se não é recíproco, não tem motivo para ficarmos assim.
- O que você está querendo dizer? – indago e ele deu de ombros. – Você quer terminar?
- Eu não quero, você que está fazendo tudo isso. Tudo isso por que uma pessoa nos olhou torto. Uma única pessoa, . E estamos juntos há mais de um mês, quase dois. Mas pra você isso não importa. Você só se importa com o que o pessoal diz e pensa, mas não com os meus sentimentos e tampouco com os seus. – ele diz.
- Não foi só uma, . Desde que estamos juntos, VÁRIAS pessoas nos olharam assim. E você quer saber? Eu relevei, sabe o motivo? Você. Por que você me fazia feliz o suficiente para ignorar. – falei e segurei em seus braços, sacudindo-os.
- E eu não faço mais? – ele indaga com a voz mais baixa, quase como um sussurro. Segurei seu rosto, beijando sua bochecha. – Me responde, .
- Você sempre me fará feliz, . – falei e ele suspirou, soltando-se de mim e indo até a porta.
- Eu vou dar uma volta. – ele diz e eu assenti, vendo-o sumir de minha vista.
E lá estava eu, sentada no chão, aos prantos, tentando entender o que havia acontecido. Sei que uma parcela da culpa é minha, quase que inteira, mas eu não queria que tomassem aquele rumo.
As horas se passaram e eu olhei no relógio do celular. 23h46min e nada de aparecer, o que me deixava ainda mais nervosa. Será que aconteceu alguma coisa?
Então, enquanto eu fechava meus olhos para pegar no sono, ouço dois toques na porta. Bufei, levantando da cama e calçando meus chinelos, indo abrir a porta.
E lá estava ele. Bêbado, fedendo a cerveja e uísque. Ele caminhou com dificuldade para dentro do quarto, trazendo consigo o cheiro asqueroso de bebida, fazendo meu estômago embrulhar.
- Onde você estava? – indago e ele deu de ombros. – Você pode me responder, ?
- Eu estava no bar, isso é meio óbvio. Mas eu acho que bebi um pouco além da conta. Mas, para sua informação, eu não dancei Reggaeton para ninguém. – ele diz e eu acabo rindo fraco.
- E você dizendo que conhece bêbados, . – falei, ajudando-o a tirar a camisa.
- Eu não conheço bêbados, conheço você. – ele diz, dando de ombros em seguida.
- Vem, vou te ajudar a tomar banho. – falei e ele sorriu, se levantando e caminhando comigo até o banheiro.
Girei o registro colocando na água mais gelada e o empurrando para dentro do box, ouvindo seu grito de susto.
- Porra, essa água tá um gelo. – ele diz e eu dei de ombros.
- Ninguém mandou beber tanto, . – falei e dei de ombros, saindo do banheiro em seguida.
Sei que aquele banho levou menos de dez minutos, quando ele apareceu com a toalha enrolada ao redor de sua cintura e o corpo todo molhado, o que me fez suspirar profundamente e desejar que ele viesse até aqui.
Ele colocou a calça de moletom e desligou a luz, vindo para a cama. Logo sinto seus braços ao redor de meu corpo, puxando-me para perto do dele, beijando meu pescoço em seguida.
- Boa noite. – ele sussurra e eu sorri, sentindo meu coração disparado.
(...)
- Você não deveria ter ficado tanto tempo naquele lugar, . – diz assim que entramos em nosso quarto. Sentei na ponta da cama, tirando meus tênis e os jogando num canto qualquer do quarto.
Ele se aproximou, agachando na minha frente e acariciando minhas coxas.
- Você precisa descansar. – ele falou e eu sorri, assentindo em seguida.
- Eu tenho que te recompensar de alguma maneira, . Que tal uma massagem? – indago e ele arregala os olhos. – Eu sou boa nisso.
- Quero só ver. – ele diz e tira a camisa, deitando-se na cama. Subi nas suas costas com um óleo em minhas mãos, espalmando suas costas largas e definidas.
Fiquei ali por quase meia hora, vendo que ele parecia mais relaxado. Saio de suas costas, deitando ao seu lado e fitando seu rosto.
- Você não tem noção de como continua bonita até passando mal. – ele diz e eu gargalhei, negando. – Será que nossos filhos serão assim?
- Filhos? – indago, sentando na cama em seguida. Ele assente, sentando-se ao meu lado. – Está muito cedo para pensarmos nisso.
- É, mas eu só estava pensando como nossos filhos sairão se puxarem a mãe deles. – diz, segurando uma de minhas mãos e entrelaçando nossos dedos.
- Eu acho que você é um pouco apressado, . Vamos deixar tudo acontecer naturalmente. – falei e ele assentiu, beijando minha testa em seguida.
- Acho que deveríamos pedir o jantar aqui no quarto. – ele diz, levantando-se e caminhando até o telefone.
- Enquanto assistimos Star Wars? – indago e ele assente, sorrindo em seguida.
- Você sabe mesmo como me levar pro lado negro da força. – ele diz, antes de se jogar na cama, ao meu lado, me fazendo rir.
(...)
Quando cheguei à farmácia próximo ao hotel, caminhei para a sessão de testes de gravidez, pegando cinco de marcas diferentes e levando ao caixa, pagando por eles e caminhando para o lado de fora.
Hoje, enquanto dormia em nossa cama no hotel, eu senti mais um enjoo, parecido com o que eu sentia antes de viajar. Enquanto eu caminhava, o pânico me dominava. E se eu estivesse realmente grávida? Como ficaria minha relação com após esse resultado?
Cheguei ao hotel e fui direto para o quarto, entrando depressa no banheiro e abrindo as caixas, lendo as instruções.
O resultado levava de 3 a 5 minutos, o que me dava uma apreensão maior. E se aparecesse a qualquer momento?
Enquanto os resultados saiam, eu fiquei sentada no vaso, apoiando minha cabeça em minhas mãos e ficando ali pelo tempo necessário.
- ? É você? – indaga, me tirando de meus devaneios. Levantei depressa, encarando os cinco testes na pia do banheiro.
Os cinco positivos.
O ar começou a fazer falta em meus pulmões e eu toquei na maçaneta, ficando ali por um longo período de tempo.
- Tá tudo bem? – ele indaga.
Eu estou grávida. Eu estou grávida!
Eu sorri, destrancando a porta, que logo foi aberta pelo rapaz.
- O que houve? – ele indaga e eu me afasto da pia, dando espaço o suficiente para que ele passe. – O que significa isso?
- Testes de gravidez. – falei e dei um sorriso. Ele não me fitava, concentrado o bastante nos dois riscos que estavam em cada um ali.
- Você está grávida? – ele indaga, virando-se para mim após alguns minutos.
- Eu estou grávida. – falei e um sorriso surge em seu rosto, e logo ele me abraça, levantando-me em seus braços e beijando todo meu rosto.
- Você está grávida! – ele exclama e vejo lágrimas em seus olhos.
- Eu estou grávida! – exclamei rindo. Ele me colocou no chão, ficando agachado na altura de minha barriga.
- Ei, bebezão, não sei quem é você, não sei quem você vai ser, mas saiba que eu estou ansioso para te conhecer. – diz e eu sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha. – Você pode ser pequeno, pode nem respirar e nem ter os olhos lindos da mamãe, mas é meu filho. Me agradeça por ter transado com a sua mãe sem camisinha.
- ! – exclamei, puxando levemente seu cabelo, fazendo com que ele se levante.
- Eu amo você. – ele sussurra contra meus lábios, antes de me beijar.
Meu coração acelera descompensado. Minhas pernas tremiam, além de minhas mãos.
Eu não sabia se era pânico. Não sabia se era paixão, mas eu sabia que eu o amava ali, naquele exato instante, enquanto ele me abraçava, enquanto eu me sentia em casa nos seus braços.
Eu não precisava do . Nunca precisei do . Eu só precisava de , o rapaz de 24 anos, barman, vizinho da casa da frente e o grande amor da minha vida. O primeiro que me fez realmente feliz, que me fez fazer loucuras, que me faz ir do céu até o inferno em cinco segundos.
O homem que eu, mesmo sem pedir, apareceu de paraquedas na minha vida, causando uma bagunça que eu não queria arrumar de maneira alguma.
- Eu também amo você, . – sussurrei assim que apoiei minha cabeça em seu ombro.
Dizem que nós, mulheres, sofremos pela perda de um amor assistindo filmes de Nicholas Sparks e com sorvete. Uma mentira, pois, depois de quase quatro meses do fim do meu casamento, cá estava eu, num bar, em plena segunda feira.
Sei o que devem pensar: “Será que ela não tem emprego?”; sim, eu tenho um emprego. Sou psicóloga e tenho um consultório numa das ruas mais movimentadas da cidade. Podem dizer que eu sou sortuda e beneficiada, mas gosto de dizer que construí tudo sozinha, do zero.
- Acha que está bem o suficiente para mais uma dose? – o barman indaga e eu sorri. – Acho que a resposta é não.
- Não necessariamente. – falei com uma gargalhada no final, o que o fez sorrir. – Eu sou .
- Eu te conheço. Você é uma conhecida psicóloga. Minha mãe tem um livro seu. – ele falou sorrindo.
- Oh, que honra! – falei fazendo uma falsa reverência, o que o fez rir. – E você não me disse seu nome.
- . – ele diz e sinto um arrepio percorrer minha nuca, junto da única gota de suor que descia pelo mesmo local. – É um prazer conhecê-la.
- Não me trate como se eu tivesse idade o suficiente para uma reverência. – falei e ele rolou os olhos, lançando um sorriso estupidamente bonito.
Ele era estranha e estupidamente atraente. Seja pela roupa preta que usava junto do suspensório, ou pela pequena tatuagem de Star Wars que vi em seu dedo do meio enquanto me entregava um copo de uísque.
Sim, eu notei aquilo. E senti meu coração de Nerd acelerar.
Seus olhos eram tão lindos que deveriam entrar numa paleta de cores para o próximo inverno. A sua barba perfeitamente alinhada e grande parecia ser deliciosamente divertida de acariciar por horas, o que me levava a conclusão de que eu precisava fazer aquilo em algum momento.
- Eu acho que não estou bêbada o suficiente para admitir que você é lindo de morrer, . – falei e sei que no dia seguinte me arrependerei de ter falado aquilo, mas, com a bebida e o calor do momento – misturado com o calor que eu sentia causado pelo rapaz – eu acabei soltando coisas demais.
- Você não está realmente bem. – ele diz e apoia seu cotovelo no balcão de mármore negro, ficando tão próximo de mim que eu poderia jurar que havia bebido algumas doses de tequila.
- Eu vou provar que estou bem. – falei, levantando da banqueta de madeira e subindo naquele balcão.
Minha voz adulta dizia para não fazer aquilo. Dizia que eu pararia em todas as redes sociais existentes, sendo divulgada uma imagem negativa de minha pessoa.
Minha voz adolescente dizia que eu deveria remexer mais meus quadris, pois tinha toda a certeza do universo que me observava.
Conforme a música de J Balvin tocava nas caixas de som daquele estabelecimento, eu sentia meu corpo se mover num ritmo que até então eu desconhecia, mas que adorava desde já.
Virei meu corpo em direção a e seus olhos estavam em meus quadris, prestando atenção a cada movimento preciso dele.
Obrigada, mamãe, por me arrastar para todas as aulas de dança na adolescência.
Quando a música acabou, ouço aplausos e assobios de todas as partes. Agradeço com um aceno e um sorriso, descendo do balcão e encarando , que parecia estupefato e ainda em transe.
- Você só pode ser de outro planeta. – ele diz e eu dei de ombros.
Os flashes da noite anterior ainda rondavam minha mente em busca de alguma explicação ou qualquer outra coisa, mas eu estava indisposta o suficiente para não responder.
Quando abro meus olhos, no entanto, a memória da noite anterior estava bem ali, com o cabelo bagunçado, a barba amassada e os olhos me fitando com um sorriso pequeno nos lábios.
Oh, meu Deus!
Ele estava ali. Ele dormiu ali. E eu estava tão nua quanto ele, no entanto, só eu parecia estar em pânico com aquilo.
Pensei em fugir. E por que eu fugiria se esse é o meu apartamento? Ele que deveria ter ido embora.
- Bom dia. – ele diz e pude jurar que sua voz rouca era uma das maiores maravilhas do mundo. – Eu sinto muito por ter te acordado. Você estava tão bonita dormindo.
- Eu preciso trabalhar. – falei e ele assentiu, passando um de seus dedos em minha bochecha, acariciando o local por muito tempo. Tempo o suficiente para sentir falta quando o contato acabasse.
- E eu tenho que ir para meu apartamento. – ele sussurra e eu assenti ainda fitando seus olhos eletromagnéticos. – , eu...
- , não precisa dizer, nem fazer nada. – falei e ele suspirou, assentindo e se levantando.
Eu poderia ainda estar dominada. Eu poderia ainda estar sonhando. Ou eu estava mesmo pensando naquelas costas largas e definidas, onde minhas unhas passearam durante boa parte da noite anterior?
Ele caminhava e mesmo de relance, vejo que ele está nu e procurava pela sua cueca, que deveria ter sido jogada no calor do momento. Ele coloca logo em seguida o restante de sua roupa e me fita por alguns segundos, o suficiente para que meu corpo sentisse falta de seu toque, mesmo que por poucos segundos.
- Acho que tenho que ir embora agora. – ele diz e eu assenti. – Enfim, tenha um bom dia.
- Você também, . – falei e ele sorriu de lado, saindo de meu quarto e fechando a porta logo em seguida.
Em alguns segundos em silêncio, ouço a porta de entrada se fechar e eu suspiro, passando as mãos no rosto, totalmente frustrada.
Ok, só foi um sexo casual. Nada que eu nunca tenha feito antes de conhecer , meu ex marido. Ele era apenas um que passou pela minha cama, não seria o último. Bom, era o que pelo menos eu esperava.
Levantei e tomei um banho rápido e gelado, praguejando aos quatro cantos do planeta pela minha dor de cabeça. Coloquei minha roupa e ajeitei meu cabelo, colocando meus saltos e pegando minha bolsa, logo saindo de meu apartamento e trancando a porta em seguida.
Quando a porta da frente se abriu, mostrando a silhueta de , junto de sua roupa de corrida e um saco de lixo preto em seus ombros, senti o pânico voltar de imediato.
Como assim ele era meu vizinho?
Acho que ele havia percebido minha cara de espanto, pois havia um sorriso um tanto sacana em seus lábios. Suspirei e caminhei até o elevador, apertando o botão de descer. De relance, o vejo parar ao meu lado, encarando a porta de ferro que não abria por nada, o que deixava tudo ainda mais tenso.
- Como você vai? – ele indaga e eu sinto vontade de bater em seu rosto por ele ser tão irônico em momentos como aquele.
- Você não disse que morava no mesmo prédio que eu e no mesmo andar. – falei e ele deu de ombros, sorrindo em seguida. – Eu sou muito idiota.
- Não mesmo. Já vi o suficiente para dizer que você não tem nada de idiota. – ele diz, me fazendo rolar os olhos e bufar em seguida.
Logo a porta do elevador se abre e eu entro primeiro, ignorando qualquer encarada daquele homem por todos os seis andares que restam, o suficiente para que eu pudesse surtar em qualquer momento.
Quando as portas se abrem, eu logo saio, caminhando com pressa para o lado de fora do prédio.
- Nós nos vemos por aí. – ele diz e acena com a cabeça, correndo para longe de mim em seguida.
Chamei por um táxi, dando o endereço do prédio onde era o consultório, permanecendo imersa em meus próprios pensamentos durante todo o caminho, acordando somente quando o taxista pigarreia, me fazendo sorrir envergonhada e lhe pagar o que o taxímetro mostrava.
Quando desço do carro, suspiro profundamente e caminho para dentro do prédio, apertando o botão do meu andar, logo vendo as portas se fecharem.
- Bom dia. – falei assim que cheguei, encontrando somente Molly, minha assistente.
- Não é hoje a audiência, ? – Molly indaga. Ela, em pouco tempo, havia se tornado uma grande amiga e meu braço direito. – Você deveria se preparar para isso.
- Molly, está tudo bem. Não é como se eu quisesse uma vingança ou algo do tipo. Eu já superei que ele foi um babaca e me traiu na primeira oportunidade. – falei e dei de ombros.
- Eu vi que superou. Quem fez essa marca no seu pescoço? – ela indaga, gargalhando em seguida. – Quer dizer que a noite foi animada.
- Ah, isso não interessa. – falei e ela rolou os olhos.
- Claro que interessa. Quem foi que fez essa marca? – ela indaga novamente, apoiando-se na porta e me fitando com os braços cruzados na altura do peito. – Fala logo, .
- Tá, foi um cara. Ele é o barman daquele barzinho lá no centro. Sabe? – indago e ela assente. – Nós tivemos uma noite juntos, e só. O pior aconteceu no dia seguinte, quando descobri que ele era meu vizinho e, pior, de frente pro meu apartamento.
- Puta merda. – ela diz e eu assenti, suspirando em seguida. – Espero que ele seja bonito, pelo menos.
- Ele é. Até demais. – falei, dando de ombros em seguida.
As horas se passaram e quando vi, estava atrasada para minha audiência. Peguei um táxi, dando o endereço do fórum onde seria aquilo tudo.
Quando cheguei, encontrei meu advogado conversando animadamente com um policial, enquanto estava sentado com cara de poucos amigos ao lado de sua advogada.
- Desculpe o atraso. – falei e ele deu de ombros, se levantando e caminhando até um bebedouro que havia ali no andar.
- A juíza do caso não chegou ainda. – a advogada de meu ex marido diz, o que me fez suspirar aliviada, pois sabia que esse atraso levaria a algo ruim.
Fiquei ali sentada por mais ou menos quarenta minutos. O relógio da parede já marcava quatro da tarde, o tempo estava nublado do lado de fora, o que não combinava em nada com o tempo que amanheceu.
- Desculpem pelo meu atraso. – a mais velha diz ao entrar na sala, junto de seus dois seguranças. Ela parecia ser um pouco mais velha que eu. – Podemos começar?
E eu levantei de meu lugar, caminhando ao lado do meu advogado até a sala onde aconteceria a audiência. Sentei do lado esquerdo da mesa, ficando de frente para , que me encarava com a feição séria.
- Boa tarde, senhoras e senhores. – ela diz. – Advogado da Senhorita , por favor, apresente suas propostas.
- Minha cliente quer o apartamento, 5% dos lucros do consultório irá oferecer a ele, e somente isso. – o homem ao meu lado diz.
- Meu cliente quer 10% dos lucros daquele consultório. – a advogada de meu ex marido diz.
O fito rapidamente e vejo um sorriso debochado em seus lábios. Rolei os olhos, endireitando-me na cadeira confortável, encarando-o.
- Protesto! – meu advogado diz. – Segundo o que consta, minha cliente construiu tudo naquele consultório sozinha, pedindo somente dinheiro ao Luigi , seu pai. Ela não mexeu com 1% do dinheiro de seu ex marido, o que possibilita que ela não precise, de fato, dividir o capital financeiro de sua própria empresa.
- Essa é uma boa justificativa. – a juíza diz e ouço bufar, o que fez um sorriso vitorioso surgir em meu rosto. – Damos por encerrada a sessão. Senhorita ficará com o apartamento e não precisará dividir os lucros de seu estabelecimento com o Senhor Simpson.
Dei um suspiro aliviada e logo me levanto, cumprimentando a juíza e em seguida meu advogado, enquanto assinava um papel, que logo parou em minha frente.
- Você tem certeza de que deseja continuar com isso? – ele indaga e eu o fitei, vendo um sorriso surgir em seu rosto. Bufei, pegando a caneta de sua mão e assinando rapidamente todos os papéis, entregando para a juíza. – Acho que é só isso.
- Adeus, . – falei, apertando sua mão e logo saindo da sala.
Saio do fórum, pegando meu celular e discando o número de uma pessoa que certamente iria adorar comemorar.
- Um brinde a vida de solteira divorciada de ! – Ally, minha melhor amiga da faculdade, diz, erguendo sua cabeça e fazendo um brinde com nós todas.
- Agora que você está oficialmente divorciada, pode sair para encontrar outros homens sem ser presa por adultério, né? – Olívia, minha irmã mais velha, indaga.
- Isso já aconteceu! – Molly exclama e eu abaixo a cabeça. – Vocês não viram a marca no pescoço?
- Eu achei que fosse coisa da minha imaginação. – Ally diz e eu rolei os olhos. – Como e quando foi isso?
- Ontem, com o vizinho gostoso que, por um acaso, é o barman desse bar aqui. – Molly diz e eu bato em seu ombro. – Desculpe, eu precisava falar isso.
- Tudo bem. Não vai acontecer novamente, de qualquer maneira. – falei, dando de ombros em seguida.
- Você quem pensa, . – Liv diz e eu rolei os olhos.
O restante da noite foi em meio a conversas aleatórias e risadas escandalosas. Sabia que iria trabalhar no dia seguinte, mas eu não me importava. Não tanto quanto queria comemorar aquele momento.
Cheguei em casa sentindo que o álcool havia me atingido por inteiro, mas eu não me sentia bêbada. Eu poderia ter alguma porcentagem em meu sangue, mas não era o suficiente para que eu precisasse de ajuda.
- Boa noite. – ouço a voz de e meu coração dispara com o susto. – Você está bem?
- Você quer parar de me assustar? E me perseguir? – indago.
- Eu não tive a intenção de te assustar, e não estou te perseguindo. Pensei que precisasse de ajuda. – ele diz e dá de ombros em seguida.
- Você pode arrumar o que fazer, garoto. – falei e logo sinto suas mãos em minha cintura, virando meu corpo de frente para o seu. – Você pode me soltar?
- Posso, mas não quero. Do que você me chamou? – ele indaga, passando a ponta de seu nariz pela minha bochecha, fazendo com que minha roupa íntima fique um tanto úmida. – Fala logo, .
- Garoto?! – falei com a voz afetada. Um sorriso surgiu em seu rosto ao notar meu tom de voz e ele beijou minha bochecha. Um beijo úmido, longo e bastante gostoso.
- Não foi isso que você me disse ontem. – ele diz em meu ouvido. – Não enquanto eu deixava essa marca em você.
- , por favor... – falei e espalmei seu peito, empurrando-o em seguida. – Você não devia ter feito isso. Eu estava bêbada.
- Você não estava bêbada, . Eu conheço bêbados tão bem quanto você, e sei que, naquele momento, você estava sóbria. – ele diz e vejo seus olhos mais uma vez me encarando.
Você deveria ter deixado esse moleque ir embora ontem à noite.
Meu subconsciente gritava, mas meu corpo parecia não obedecer meus comandos e lá estava eu, nos braços dele, abrindo a porta de meu apartamento e sentindo seus lábios em meu pescoço, deixando ali beijos ainda melhores do que o na bochecha.
- É a última vez, . – falei e logo deitei no sofá, vendo-o vir para cima de mim.
- Eu sei que não é a última. – e logo ele acaba com nossa distância, beijando-me como se nossa vida dependesse daquilo. E, sim, acho que de alguma maneira eu dependia daquilo.
- Acho que estamos nos precipitando. – falei e ele negou, acariciando meu rosto com o seu polegar, que nem a manhã de hoje.
- Você pode chamar do que quiser, mas, para mim, o que tivemos aqui foi química pura junto de tensão sexual. – ele falou, fazendo meu rosto ruborizar.
- Vou ver se tem algo para comermos. – falei e ele assentiu, soltando-me de seus braços fortes e tatuados, algo que, de certa forma, não queria que acontecesse.
Peguei sua blusa ao meu lado, colocando-a rapidamente e levantando, saindo do quarto logo em seguida. Caminhei pelo corredor até a cozinha, sentindo o perfume do rapaz invadir minhas narinas. Ele era tão cheiroso e, ao mesmo tempo, jogava tão sujo.
Olhei para dentro da geladeira, vendo uma caixa de pizza do fim de semana, o que me fez suspirar aliviada e contente. Peguei e coloquei em cima do balcão, buscando por um prato para colocar alguns pedaços para nós dois.
- Vim ver se você precisava de alguma ajuda. – ele diz ao entrar na cozinha, me fazendo saltar com o susto. – Desculpe.
- Tudo bem. – falei e ele suspirou. Coloquei o prato no micro-ondas, sentando no banquinho da bancada, encarando a chuva caindo pela janela da cozinha.
- Por que ficamos assim de repente? – ele indaga e eu o fitei com a sobrancelha arqueada. – Nós fizemos sexo e parece que somos dois desconhecidos.
- O que não deixa de ser verdade. Eu ao menos sei seu sobrenome. – falei enquanto ele se aproximava.
- . Acho que meu sobrenome não tem tanta importância, afinal, não possui ninguém famoso com esse nome. – ele diz e dá de ombros.
- Você só vive como barman? – indago e logo sinto seus braços ao redor de minha cintura, aproximando ainda mais nossos corpos.
- Sim. Eu poderia estar numa faculdade, que é o grande sonho de minha mãe, mas preferi virar barman. – ele diz, enquanto passa seu nariz por todo meu pescoço. – Mas, de alguma forma isso é bom. Eu convivo com as pessoas, ouço histórias de suas vidas às vezes medíocres e ainda ganho uma viagem a cada férias.
- E ainda por cima pode dormir com quantas mulheres quiser, né? – indago e ele rolou os olhos.
- E por que você acharia isso de mim? – ele indaga e eu suspiro. – Não é como se eu fosse um santo, mas também não sou esse tipo de cara.
- Não foi o que me pareceu. – falei com um sorriso de lado.
- Foi porque me interessei por você. E enquanto você dançava, eu só pensava em como você seria na cama. E, bom, eu acertei em achar que você era incrível. – ele diz e eu sinto meu rosto esquentar. – Agora, vamos comer algo. Estou morrendo de fome e sei que você também.
E, antes que eu pudesse respondê-lo, beijou meus lábios rapidamente, caminhando até o micro-ondas, que apitava mostrando que a pizza já estava quente o suficiente para ser comida.
Quando colocou o prato em cima do balcão junto de uma garrafa de vinho e duas canecas, eu suspirei e ele me fitou confuso.
- Nada. Eu só estou um pouco cansada. E já são duas da manhã. Amanhã eu acordo cedo para o trabalho. – falei e ele bufou.
- Você precisa realmente ir amanhã para o trabalho? – ele indaga e eu assenti, pegando uma fatia de pizza e comendo um pedaço.
- Meus pacientes precisam de mim, . Assim como o pessoal do bar precisava de você hoje. – falei.
- Hoje foi meu dia de folga. – ele diz, dando de ombros em seguida.
Silêncio. Enquanto eu mastigava e virava a caneca de vinho, sentia o olhar de sobre mim. Era indecifrável e desconcertante, levando qualquer uma a loucura e pânico, o que era de fato o que eu sentia toda vez que aquilo acontecia.
- O que houve? – indago e ele negou com a cabeça, colocando seu pedaço de pizza por cima do balcão, aproximando-se de mim rapidamente, puxando minha cintura e me colocando por cima da pedra gélida de mármore.
Ele abriu um pouco minhas pernas, ficando entre elas. Com um de seus dedos, ele acariciava a parte interna de minhas coxas, bem perto de meu íntimo, fazendo um gemido abafado sair de meus lábios.
- ... – comecei, chamando sua atenção. – Acho que, por hoje, chega.
- Você tem certeza? – ele indaga, beijando meu pescoço em seguida. Ah, aquilo ali era um golpe muito baixo e sujo. Assenti com a cabeça, decidida a dar um fim naquilo o mais depressa possível, mesmo que meu corpo diga totalmente o oposto daquilo.
O que eu estava fazendo com a minha vida?
Abri a porta do apartamento, vendo a TV ligada num jogo de futebol americano, um time que eu não fazia questão de saber qual era, pois sabia exatamente quem estava ali vendo aquilo.
saiu da cozinha com um balde de pipoca em um de seus braços, enquanto no outro havia três garrafas de Heineken, tentando caminhar e equilibrar aquilo tudo sem cair e sujar meu carpete.
- O que você está fazendo aqui? – indago quando coloco minha bolsa em cima do balcão, tirando meus saltos e os jogando num canto qualquer da sala.
Fazia alguns dias, pra dizer quase um mês desde aquela noite. Desde então, eu e engatamos em algo que não fosse além de sexo casual e filmes repetitivos na Netflix, acompanhados na maior parte das vezes de cervejas, vinhos e sorvete.
Era difícil quando tínhamos um tempo para nós. Como eu trabalhava durante todo o dia, chegava em casa quase oito da noite, e teria de sair para trabalhar a noite. Não que eu reclame, longe de mim, pois vê-lo somente de cueca boxer enquanto prepara algum drink especialmente para mim era prazeroso.
Como nem tudo são flores, havia sempre algum espinho e, no nosso caso, era a diferença evidente de idade. Eu estava com 36 anos, mais velha, cheia de cabelos brancos e sem pique para uma noite de bebedeira e dança. Já era o contrário. Ele estava no auge de seus 24 anos, vivia das festas e bebedeiras de outras pessoas e tinha toda uma vida pela frente, inclusive com meninas mais novas. O que isso nos levou? Uma espécie de não relacionamento, por medo de um abandono e de nossa diferença de idade absurda, mesmo que ele diga que nunca me deixaria.
- Você trabalha hoje, já está atrasado. – falei quando ele passou os braços ao redor de minha cintura, me puxando para perto de seu corpo quente e cheiroso.
- Eu sei, mas eu pensei, eu preciso de você. – ele diz, beijando meu pescoço logo em seguida.
- Não sei se vai dar certo, . – falei com a voz baixa e afetada, enquanto seus dedos brincavam em meu íntimo. – Quanto tempo nós temos?
- Quarenta e cinco minutos. – ele diz, olhando o relógio do celular, antes de acabar com toda nossa distância juntando nossos lábios com pressa e vontade.
Eu podia ser louca, afinal, nunca me senti tão necessitada de lábios antes de conhecê-lo, antes de descobrir as coisas maravilhosas que ele fazia com aquela parte de seu corpo e como ele podia me levar ao céu e ao inferno no mesmo minuto.
- Esse foi o sexo mais rápido que já tivemos. – ele diz, beijando meus lábios logo em seguida. – Eu te disse que somos uma bela dupla, .
- Somos, mas você já está atrasado. – falei e ele bufou, se levantando e pegando suas roupas do chão. – Hoje é sexta, quando acabar tudo, pode vir para cá. Você sabe onde está a chave reserva.
- Ah, como eu amo o fim de semana. – ele diz e eu gargalhei, beijando sua boca novamente e me levantando do sofá, pegando sua camiseta do chão e me vestindo com a mesma. – Você não deveria estar com essa roupa. Você não sabe como estou me controlando para te agarrar e levar você para uma cama.
- Quem sabe mais tarde poderemos fazer naquele escritório. – falei, apontando para a porta no fim do corredor. Seus olhos ficaram arregalados e eu sorri.
- Puta que pariu, . Eu já disse o quão louco eu sou quando você faz isso? – ele indaga e eu arqueei a sobrancelha, forçando uma confusão, algo que o fez sorrir. – Você agindo dessa maneira, como se fosse uma moça ingênua. Isso é loucura e eu gosto muito.
- Tá, agora você está muito atrasado, . Corre. – falei e ele assentiu, beijando minha testa e correndo para fora do apartamento, fechando a porta em seguida.
As horas desde que foi para seu trabalho passaram como uma tartaruga. Não sei se era minha ansiedade para que ele voltasse, ou se era os filmes que eu assistia.
Ouço a porta ser aberta e eu sorri, pausando o filme. Ele logo apareceu em meu campo de visão, com um sorriso capaz de rasgar seu rosto.
- Voltou mais cedo. – falei enquanto ele tirava seus sapatos sociais, jogando-os em algum canto da sala.
- Danny me cobriu lá. Eu disse que não estava me sentindo muito bem. – ele falou e eu gargalhei. – Aquela proposta ainda está de pé?
- Ah, não sei. Será que você está merecendo? – indago em seu ouvido, sentando em seu colo em seguida.
Não sabia o que havia acontecido comigo. Não sabia se era os dois copos de uísque ou o desejo ardente que eu sentia, mas eu precisava dele mais do que o normal.
E ele parecia perceber, afinal, estava brincando comigo, pagando na mesma moeda.
- Acho que mereço, né? – ele indaga com a voz rouca e o sotaque britânico mais lindo do mundo. – Sei exatamente o que fazer e como fazer com você, .
- E o que você vai fazer, ? – indago enquanto beijo seu pescoço, que havia se tornado meu local preferido no mundo inteiro.
- Aí você só vai descobrir enquanto eu faço. – ele diz, me levantando em seu colo, fazendo um gemido alto escapar de seus lábios. – Hoje você pode gemer o quanto quiser, . Isso é o que acontece quando me provoca antes mesmo d'eu ir pro trabalho. Acha que eu fiquei como durante aquelas horas?
- Queria saber como você ficaria. – falei e ele rolou os olhos, abrindo a porta do escritório. – Foi bom saber que você estava afetado.
- Eu sempre quis aqui, mas dizia que deveria manter aquilo organizado demais. Ironicamente o encontrei aqui com outra garota. – falei dando de ombros em seguida.
- Ele é um filho da puta babaca. – fala, me puxando para seu colo. – E eu não quero que você se lembre dele. Se lembre de sua primeira vez nesse escritório com o homem mais gostoso do mundo.
- Que modéstia, . – falei rindo e puxando-o para um beijo, ainda mais lento do que todos os outros que demos desde o início de tudo aquilo.
Pude jurar que ali também havia uma pontinha de sentimento. Algo que eu preferia abstrair, me deixando levar pelo momento.
Numa escala de 1 a 10, eu poderia descrever aquele momento como perfeito. Enquanto estávamos na banheira de minha suíte, rindo e conversando, enquanto comíamos morangos com chocolate, fazia as piadas mais sem graça do mundo, me fazendo rir alto demais para as quatro da manhã de um sábado.
Eu gostava de dizer que , em meio a tudo que aconteceu no último ano, foi uma coisa boa. A única. Mesmo que não tivéssemos nada além de química, eu não poderia deixar de agradecer por tê-lo aqui, comigo, me fazendo sorrir e esquecer que a vida acaba após um divórcio conturbado.
- O que acha de assistirmos o nascer do sol? – ele indaga, abraçando-me por trás.
- Eu estou tão cansada. – falei, bocejando em seguida.
- Eu sei disso, mas acho que vai ser legal. – ele diz, dando de ombros em seguida. – Mas, se você quiser, podemos deixar para outro dia.
- Ah, tudo bem. Eu só não te garanto nada. – falei e ele sorriu, abrindo a porta da sacada e sentando numa cadeira, me puxando para o seu colo. – ?
- Oi? – ele indaga, fitando meus olhos em seguida.
- Você não sente vergonha por estar com uma mulher mais velha que você? – indago, escondendo meu rosto em seu pescoço. – O que seus amigos pensarão disso?
- Deixem que pensem, . Eu não me importo com eles, nunca me importei. Se você se afeta por isso, acho que não devemos ficar juntos. – ele diz e eu o fitei.
- Eu não me importo, . Só te fiz uma pergunta. – falei e ele sorriu, beijando meu queixo.
- Não vamos discutir, ok? Hoje foi perfeito e eu não quero que esse momento se acabe. – ele falou e eu assenti, beijando seu pescoço, antes de apoiar minha cabeça em seu ombro e observar as poucas luzes acesas na cidade.
Silêncio. Não era desconfortável e tampouco tenso, era um silêncio que me fazia pensar como será daqui para frente. Se iremos continuar com isso e até quando.
- O que acha de irmos almoçar fora? – indaga assim que abro meus olhos. O relógio ao seu lado marcava 12h36min, o que dizia que dormimos menos do que o necessário. – Eu conheço um restaurante ótimo no centro da cidade. Podemos ir para lá.
- Acho que vai ser legal. – falei e ele sorriu, beijando minha testa e se levantando.
- Ótimo, irei tomar um banho e volto aqui para podermos ir. – ele diz e eu assenti, sentando na cama e o observando partir.
Tomei um banho rápido, colocando somente um vestido florido que ganhei de mamãe no natal passado. Calcei minhas sapatilhas e enquanto eu fazia uma trança em meu cabelo, vejo, de relance, aparecer.
Ele estava lindo com aquela blusa até os cotovelos e uma bermuda, além de tênis nos pés.
Por um momento desejei agarrá-lo, para não sairmos dali jamais. Implorei que ele desejasse o mesmo, porém, o sorriso em seu rosto era totalmente diferente do que ele me dava enquanto estávamos na cama, juntos, fazendo aquilo que nós dois fazíamos de melhor.
Peguei minha bolsa e logo saio do quarto, sentindo um de seus braços ao redor de meus ombros, caminhando comigo para fora de meu apartamento, esperando que eu tranque tudo para podermos ir embora.
Um lado de minha mente, enquanto estávamos no elevador, insistia em dizer que aquilo era um encontro. Outra parte dizia que eu deveria ter agarrado e ficado em meu quarto.
Quando chegamos ao lado de fora do prédio, fez sinal para um táxi, que rapidamente parou. Entrei e logo o rapaz entrou, sentando-se ao meu lado e segurando minha mão, dando o endereço do restaurante.
O caminho levou cerca de trinta minutos. Durante todo esse tempo, fiquei abraçada com , que acariciava meus cabelos e segurava uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos.
Como se fôssemos um casal de namorados.
Chegamos e ele logo pagou, descendo e me ajudando. Entramos no estabelecimento e logo fomos para uma mesa no canto do restaurante, olhando para o cardápio.
fez nossos pedidos assim que o garçom se aproximou. Enquanto os mesmos não chegavam, conversamos sobre coisas aleatórias e engraçadas.
Almoçamos conversando, enquanto contava o acidente da noite anterior no barzinho, que foi basicamente um escândalo feito por um homem que viu a mulher tendo a despedida de solteira no mesmo lugar que ele.
- Que cara babaca! – exclamei e ele assentiu. – Acho que já podemos ir, né?
- Eu estou gostando de estar aqui, com você. – ele diz, acariciando minha mão por cima da mesa.
- Podemos ir para a sorveteria aqui perto, né? – indago e ele assentiu, sorrindo de lado em seguida. Pagamos a conta e logo saímos do estabelecimento, caminhando até uma praça que ficava a poucos quarteirões dali. – Qual foi sua primeira tatuagem? E qual delas você mais gosta?
- Eu certamente não sei. – ele diz e eu ri. – Qual você gosta?
- Essa de Star Wars no seu dedo. – falei e ele me encarou. – O que foi? Eu também gosto da saga.
- E como que eu fui descobrir isso um mês depois? – indaga.
- Não tenho culpa se você estava trabalhando enquanto eu assistia aos filmes. – falei e ele bufou. – O que acha de me levar nesse exato momento até um tatuador?
- , você tem certeza disso? Sabe que para tirar dói mais do que para fazer. – ele falou e eu rolei os olhos. – Tá ok, tá ok, vamos! Só não diga que eu não te avisei.
- Tá ok, mãe. – falei e ele gargalhou.
Caminhamos até um local que era tão bonito por fora quanto por dentro. Havia imagens diversas de tatuagens espalhadas pelos quadros e paredes, o que deixava ainda mais bonito.
- Carter! – exclama, soltando minha mão e indo em direção ao homem barbudo e tatuado. – Quanto tempo que não nos vemos.
- Você praticamente sumiu. O que aconteceu? Amarrou o bode? – Carter indaga e logo gargalha, parando seu olhar sobre mim. – Quem é essa?
- Essa é , minha namorada. – diz, puxando-me pela mão.
Espera! Eu ouvi aquilo mesmo? Ou eu estava louca?
O fitei confusa e ele sorriu, beijando minha bochecha e se virando para frente.
- Tudo bem? – indago após alguns segundos, apertando a mão do tatuador.
- Estou bem. Então quer dizer que você é a dona do novo bode do ? – Carter indaga e eu assenti, sorrindo de lado.
- Ela quer fazer sua primeira tatuagem. – diz e eu senti um arrepio percorrer meu corpo ao imaginar a dor que sentiria, mas eu precisava ter coragem. – E eu também quero fazer outra.
- Ok, senhorita. Qual será sua tatuagem? – ele indaga.
- Eu quero igual a dele de Star Wars. Mas o meu sabre tem que ser vermelho. – falei e ele assentiu.
- Eu preciso de alguns minutos. Já, já te chamo para começarmos. – Carter diz e eu assenti, indo para o lado de , que folheava uma revista qualquer ali da recepção.
Fiquei apenas alguns minutos observando o local. A televisão mostrava o jornal e o tempo que mudaria a partir de hoje à noite.
- Qual vai ser sua tatuagem? – indago.
- É segredo. – ele diz e eu rolei os olhos. – Não adianta fazer aquela carinha, . Eu não vou resistir aos seus encantos.
- Você é um chato. – falei e ele gargalhou, me dando um selinho.
- Olha aqui, amor, você vai gostar. Ou não. – ele diz e eu dei de ombros.
Após alguns minutos, Carter aparece em meu campo de visão. Ele acenou e eu me levantei, caminhando junto de até o tatuador.
Me deito numa maca preta, colocando o braço no local indicado.
Observo todos os procedimentos necessários para aquilo, sentindo meu corpo formigar e meu estômago revirar de tamanha ansiedade e nervosismo.
- Você deve sentir um pouco de dor, o que é normal. Mas, se for uma dor absurda, você fala que eu paro e vou fazendo aos poucos, para você ir se acostumando. – ele falou e eu assenti.
Sinto a mão de sob a minha e eu sorri para ele, que me mandou um beijo no ar.
A tatuagem levou cerca de duas horas. Carter foi cuidadoso e paciente, fazendo com que eu não sentisse muita dor, o que foi ótimo, já que a ideia de me machucar era inexplicavelmente terrível para mim.
- Eu não quero que você veja a tatuagem, amor. – diz e pela segunda vez eu não soube decifrar o que aquelas quatro letrinhas causavam em mim.
- Ah, você viu a minha, isso não vale. – falei e ele sorriu, beijando meus lábios mais uma vez. – Tá ok, tá ok, eu vou ficar ali quieta.
- Obrigado. – ele falou e eu rolei os olhos, caminhando até a cadeira da recepção e pegando uma revista qualquer e começando a folheá-la.
A de durou quase uma hora. Em momento algum ouvi gemidos de dor de sua parte, o que deixava óbvio que ele estava mais acostumado do que eu. Quando ele terminou, pagou as duas tatuagens com a recepcionista, logo caminhando comigo para o lado de fora.
- Qual é a sua? – indago e ele nega.
- Eu vou te mostrar quando chegarmos em casa. – fala e eu bufo.
O caminho de volta foi mais rápido. Não estávamos tão longe de nosso prédio e eu logo avisto o mesmo, caminhando ainda mais depressa para o lado de dentro. Cumprimentei o porteiro e fui para o elevador com em meu encalço, apertando o botão do nosso andar.
Quando as portas se abrem, caminhamos pelo corredor até meu apartamento. Abro a porta e logo me jogo no sofá, enquanto tranca tudo novamente, caminhando até a mim e parando de joelho na minha frente.
- Acho que já está na hora, né, apressadinha?! – fala enquanto tira sua camisa, mostrando seu peito.
Meu coração acelerou de imediato ao ver o que havia ali. V.VII.MMXVII, ou 5 de julho de 2017, o dia exato em que nos conhecemos na boate, onde tivemos nossa primeira noite.
Meu estômago estava revirado. Minhas pernas e mãos tremiam, enquanto meus olhos ardiam por conta das lágrimas que estavam ali, presas.
- ... – comecei, sentindo minha voz falhar logo depois.
- Eu sei, eu sei, você vai dizer que é loucura, mas desde quando alguma coisa entre nós dois é normal? – ele indaga e eu gargalhei, segurando sua cabeça e beijando todo seu rosto, desperdiçando algumas lágrimas.
- Por que você fez isso? – indago enquanto limpo as lágrimas que ainda insistiam em cair.
- Pra mostrar que você é única. E, se algum dia nada der certo, vou lembrar do dia em que uma mulher dançou Reggaeton para mim. – ele diz e eu gargalhei, jogando-me em seus braços. – Eu sou louco por você, . E se eu puder te mostrar isso quantas vezes forem necessárias, eu mostrarei.
E eu o beijei, mostrando que tudo que ele sentia era verdadeiramente recíproco e puro, forte como uma tempestade de verão.
- O que acha de irmos para o quarto? – indago contra seus lábios, vendo um sorriso surgir nos dele, que assentiu prontamente e me pegou no colo, caminhando comigo pelo corredor até o meu quarto, fechando a porta em seguida.
Aquela foi a primeira vez que fizemos amor. Todas as outras era necessidade de satisfação e prazer, mas, aquela, com toda aquela emoção envolvida e todo aquele sentimento, foi diferente.
- Eu acho que podemos pedir uma pizza. – falei enquanto ele se sentava na cama. – O que você acha?
- Podemos pedir depois do banho, o que acha? – ele indaga e eu assenti, levantando da cama e caminhando para o banheiro do meu quarto. Liguei o chuveiro, ficando ali em silêncio, fitando minha tatuagem no dedo mediano.
Se alguém me falasse, há algum tempo, que eu iria me envolver com um rapaz 12 anos mais novo que eu e que ele me levaria para fazer minha primeira tatuagem, eu iria rir. Eu iria rir alto o bastante para a pessoa se sentir envergonhada.
Mas, aqui estava eu, seis meses depois do fim do meu casamento, com um rapaz 12 anos mais novo, com uma tatuagem no dedo mediano e um sentimento que me levava ao pânico
Quando a porta do box se abre, aparece em meu campo de visão. A tatuagem em seu peito parecia gritar comigo, o que me fez sorrir de lado e o puxar pelo braço com pressa.
- Você é demais para mim, . – falei e ele sorriu, acariciando meus cabelos e beijando meus lábios sem pressa. – Eu não sei o que fazer com você.
- Só fica comigo, tudo bem? – ele indaga contra meus lábios. Assenti com a cabeça, puxando-o para outro beijo.
Ficamos ali por alguns minutos. Coloquei meu pijama e o dele, ligando a televisão e colocando num canal qualquer de esportes.
- Você pode ligar para a pizzaria, por favor? – indago e ele assente, pegando seu celular e discando o número.
- Quais os sabores? – ele indaga.
- Pode ser calabresa, mussarela e uma de chocolate. – falei e ele gargalhou. – Você me deixou com fome.
- Desse jeito iremos a falência. – ele diz e eu gargalhei.
Caminhei para a cozinha e logo parei, sentindo minha cabeça girar e tudo ficar confuso. Segurei na geladeira por alguns segundos, até que apareceu, tocando minha cintura.
- Você está bem? – ele indaga e eu assenti forçando um sorriso. – Vem, vamos para a sala.
E logo ele estava ali me guiando para o outro cômodo, me colocando sentada e se sentando ao meu lado.
- Você quer assistir alguma coisa? – ele indaga e eu neguei, apoiando a cabeça em seu ombro.
Após alguns minutos em silêncio e de táticas de como jogar honestamente o Beisebol, a campainha toca e se levanta, indo até a porta e pegando a pizza, dando o dinheiro para o entregador.
colocou as caixas por cima da mesa de centro, indo até a cozinha pegar o refrigerante e a cerveja, voltando pouco tempo depois.
- O que aconteceu? – ele indaga ao ver minha careta encarando o telefone.
- Acabei de receber um e-mail, pedindo que eu confirmasse minha ida para o congresso de psicólogos na semana que vem. E querem que eu leve um acompanhante. – falei, fazendo uma careta novamente. – Eles devem achar que eu ainda estou casada.
- Eu posso ir com você. Posso pedir folga lá no bar. Eu estava precisando de uma mesmo. – diz, pegando um pedaço de pizza e me entregando. – Vai ser nossa viagem.
- Eu tenho que trabalhar e ir a palestras. – falei e ele fez uma careta, me fazendo gargalhar. – Essas coisas eu deixo você ficar de fora.
- Nem pensar, . Eu vou com você pra essas coisas, mesmo que eu durma. – ele diz e eu rolei os olhos, dando um selinho nele.
- Você pode ganhar uma recompensa por isso. – falei em seu ouvido.
- Você sabe mesmo como me seduzir e me levar para o lado negro da força. – ele diz, me fazendo sorrir em seguida. – Então nós temos um acordo.
- Isso aí. – falei, fazendo um high five.
E foi assim o resto de nossa noite, comendo pizza e assistindo jogos idiotas de futebol americano.
Será que um dia isso infelizmente chegará ao fim?
- Deveria ser crime acordar tão cedo assim. – ele diz enquanto coloca as malas no porta-malas do táxi.
- Fica aí, então. – falei e ele negou, fechando o compartimento e entrando comigo no carro. – Para o aeroporto, por favor.
O caminho foi rápido, ainda mais que não havia nenhum trânsito. Paguei ao taxista, enquanto pegava as malas na parte de trás do carro. Quando ele colocou a última no carrinho de bagagem, caminhamos para o lado de dentro.
- Você quer tomar café? – ele indaga. Assenti. – Vou ali comprar para nós dois. Não sai daqui, por favor.
Assenti novamente, o observando sumir de meu campo de visão. Fiquei ali parada olhando a tela gigante que mostrava o horário de saída e chegada de voos, sejam internacionais ou nacionais.
- Prontinho. – ele diz, entregando o copo de café para mim. – Acho que irei fazer o check-in. Você quer se sentar?
Assenti, sentindo novamente a sensação de tontura me atingir em cheio. Caminhei sem pressa até a área com cadeiras, me sentando em uma e vendo caminhar para longe de mim, sumindo do meu campo de visão mais uma vez.
Fiquei sozinha por mais ou menos quinze minutos. A fila do check-in estava pequena, o que levava a não demorar muito.
- Você está bem? – ele indaga ao sentar do meu lado. Assenti, sorrindo forçadamente. – Tem certeza?
- Tenho, . Deve ser cansaço. – falei e ele assentiu, segurando minha mão e entrelaçando nossos dedos.
Ficamos ali por mais ou menos uma hora. As pessoas passavam, imersas em seus próprios mundos e problemas, não observando o sol quente e brilhante do lado de fora daquele enorme prédio.
- Já chamaram para o voo. – diz, se levantando e segurando minha mão para que eu também me levantasse. – Você tem certeza de que está bem?
- Tenho, . – falei e ele rolou os olhos, passando o braço ao redor de minha cintura e caminhando comigo até o portão de embarque, entregando nossas passagens e passaportes.
Caminhamos e logo entramos no avião, sentando em nossos lugares.
- Quer que eu fique na janela? – indaga. – Você está pálida, . Vou chamar uma comissária de bordo.
- Não precisa, , ok? É só um enjoo de viagem. É normal. – falei e beijei sua bochecha. – Só fica aqui comigo que eu melhoro, tá?
Era óbvio que era mentira. Durante as horas de voo, os enjoos só pioraram, o que deixava ainda mais nervoso.
- É a segunda vez que você vomita. Tem certeza que está tudo bem? – ele indaga, segurando meu cabelo enquanto eu coloco tudo para fora no vaso sanitário do avião.
- Eu tenho, . Já te disse que é um enjoo de viagem. – falei e ele bufou.
- Você estragou todos os meus planos de transarmos no banheiro do avião. – ele diz, me fazendo gargalhar.
- Me perdoe, Britney Spears. – falei e ele rolou os olhos. Levantei meu corpo, lavando meu rosto e minha boca logo em seguida.
Voltamos para nosso lugar e eu apoiei minha cabeça no ombro de , que via um filme qualquer de ação no Tablet. Beijei seu pescoço, fechando os olhos e pegando no sono pouco tempo depois.
Acordei com me sacudindo, avisando que o avião havia pousado. Segurei em sua mão e logo levantamos, saindo do avião em seguida, caminhando para dentro do aeroporto.
O sol de L.A. não tinha nada de parecido com o de NY. Pegamos nossas malas, colocando-as no carrinho e indo para o lado de fora para esperar por um táxi.
Depois de muito tempo na fila e de muito tempo no trânsito, o táxi para na porta do hotel. paga ao motorista, que nos ajuda a tirar as coisas de seu porta-malas, saindo dali rapidamente.
- Boa tarde. – falei e a recepcionista me fitou e sorriu. – Eu sou , vim para o Congresso.
- Ah sim! Seu quarto é uma suíte presidencial, cortesia dos organizadores do evento. É uma cama de casal, tem algum problema? – ela indaga, apontando para atrás de mim.
- Nenhum. – ele fala e beija minha bochecha. – Não é, amor?
Os olhos da recepcionista ficam arregalados e eu tento não rir, mesmo sendo impossível. Ela logo entregou as chaves de nosso quarto, explicando cada uma das três.
Fomos para o elevador, apertando o botão do andar de nosso quarto.
- Você viu a cara dela, ? – indago e ele riu, assentindo. – Não, . As pessoas não acham normal isso.
- O que, ? Um casal? – ele indaga. – Eles terão que começar a aceitar.
- , eu sempre disse que a nossa diferença de...
- Idade é de 12 anos, mas eu também disse que não me importava, . Nunca me importei. Você se importa? – ele indaga, me fazendo suspirar. – É, você realmente se importa com isso. Só bastou um olhar torto para confirmar isso, né?
- Não é assim, . – falei.
- Claro que é, . Eu sempre te disse que não me importava desde que eu tivesse você, mas achava que era recíproco. Me enganei profundamente. – ele diz e logo a porta se abre e ele sai rapidamente, me fazendo correr ao seu encalço.
- , você pode, por favor, me escutar? – indago segurando sua mão. – Eu me importo um pouco, mas porque eu quero seu bem. Somente isso.
- Meu bem é ficar com você, . Parece que você não entende o quão louco eu sou por você que chega a ser estranho. – ele falou. – Agora, se não é recíproco, não tem motivo para ficarmos assim.
- O que você está querendo dizer? – indago e ele deu de ombros. – Você quer terminar?
- Eu não quero, você que está fazendo tudo isso. Tudo isso por que uma pessoa nos olhou torto. Uma única pessoa, . E estamos juntos há mais de um mês, quase dois. Mas pra você isso não importa. Você só se importa com o que o pessoal diz e pensa, mas não com os meus sentimentos e tampouco com os seus. – ele diz.
- Não foi só uma, . Desde que estamos juntos, VÁRIAS pessoas nos olharam assim. E você quer saber? Eu relevei, sabe o motivo? Você. Por que você me fazia feliz o suficiente para ignorar. – falei e segurei em seus braços, sacudindo-os.
- E eu não faço mais? – ele indaga com a voz mais baixa, quase como um sussurro. Segurei seu rosto, beijando sua bochecha. – Me responde, .
- Você sempre me fará feliz, . – falei e ele suspirou, soltando-se de mim e indo até a porta.
- Eu vou dar uma volta. – ele diz e eu assenti, vendo-o sumir de minha vista.
E lá estava eu, sentada no chão, aos prantos, tentando entender o que havia acontecido. Sei que uma parcela da culpa é minha, quase que inteira, mas eu não queria que tomassem aquele rumo.
As horas se passaram e eu olhei no relógio do celular. 23h46min e nada de aparecer, o que me deixava ainda mais nervosa. Será que aconteceu alguma coisa?
Então, enquanto eu fechava meus olhos para pegar no sono, ouço dois toques na porta. Bufei, levantando da cama e calçando meus chinelos, indo abrir a porta.
E lá estava ele. Bêbado, fedendo a cerveja e uísque. Ele caminhou com dificuldade para dentro do quarto, trazendo consigo o cheiro asqueroso de bebida, fazendo meu estômago embrulhar.
- Onde você estava? – indago e ele deu de ombros. – Você pode me responder, ?
- Eu estava no bar, isso é meio óbvio. Mas eu acho que bebi um pouco além da conta. Mas, para sua informação, eu não dancei Reggaeton para ninguém. – ele diz e eu acabo rindo fraco.
- E você dizendo que conhece bêbados, . – falei, ajudando-o a tirar a camisa.
- Eu não conheço bêbados, conheço você. – ele diz, dando de ombros em seguida.
- Vem, vou te ajudar a tomar banho. – falei e ele sorriu, se levantando e caminhando comigo até o banheiro.
Girei o registro colocando na água mais gelada e o empurrando para dentro do box, ouvindo seu grito de susto.
- Porra, essa água tá um gelo. – ele diz e eu dei de ombros.
- Ninguém mandou beber tanto, . – falei e dei de ombros, saindo do banheiro em seguida.
Sei que aquele banho levou menos de dez minutos, quando ele apareceu com a toalha enrolada ao redor de sua cintura e o corpo todo molhado, o que me fez suspirar profundamente e desejar que ele viesse até aqui.
Ele colocou a calça de moletom e desligou a luz, vindo para a cama. Logo sinto seus braços ao redor de meu corpo, puxando-me para perto do dele, beijando meu pescoço em seguida.
- Boa noite. – ele sussurra e eu sorri, sentindo meu coração disparado.
Ele se aproximou, agachando na minha frente e acariciando minhas coxas.
- Você precisa descansar. – ele falou e eu sorri, assentindo em seguida.
- Eu tenho que te recompensar de alguma maneira, . Que tal uma massagem? – indago e ele arregala os olhos. – Eu sou boa nisso.
- Quero só ver. – ele diz e tira a camisa, deitando-se na cama. Subi nas suas costas com um óleo em minhas mãos, espalmando suas costas largas e definidas.
Fiquei ali por quase meia hora, vendo que ele parecia mais relaxado. Saio de suas costas, deitando ao seu lado e fitando seu rosto.
- Você não tem noção de como continua bonita até passando mal. – ele diz e eu gargalhei, negando. – Será que nossos filhos serão assim?
- Filhos? – indago, sentando na cama em seguida. Ele assente, sentando-se ao meu lado. – Está muito cedo para pensarmos nisso.
- É, mas eu só estava pensando como nossos filhos sairão se puxarem a mãe deles. – diz, segurando uma de minhas mãos e entrelaçando nossos dedos.
- Eu acho que você é um pouco apressado, . Vamos deixar tudo acontecer naturalmente. – falei e ele assentiu, beijando minha testa em seguida.
- Acho que deveríamos pedir o jantar aqui no quarto. – ele diz, levantando-se e caminhando até o telefone.
- Enquanto assistimos Star Wars? – indago e ele assente, sorrindo em seguida.
- Você sabe mesmo como me levar pro lado negro da força. – ele diz, antes de se jogar na cama, ao meu lado, me fazendo rir.
Hoje, enquanto dormia em nossa cama no hotel, eu senti mais um enjoo, parecido com o que eu sentia antes de viajar. Enquanto eu caminhava, o pânico me dominava. E se eu estivesse realmente grávida? Como ficaria minha relação com após esse resultado?
Cheguei ao hotel e fui direto para o quarto, entrando depressa no banheiro e abrindo as caixas, lendo as instruções.
O resultado levava de 3 a 5 minutos, o que me dava uma apreensão maior. E se aparecesse a qualquer momento?
Enquanto os resultados saiam, eu fiquei sentada no vaso, apoiando minha cabeça em minhas mãos e ficando ali pelo tempo necessário.
- ? É você? – indaga, me tirando de meus devaneios. Levantei depressa, encarando os cinco testes na pia do banheiro.
Os cinco positivos.
O ar começou a fazer falta em meus pulmões e eu toquei na maçaneta, ficando ali por um longo período de tempo.
- Tá tudo bem? – ele indaga.
Eu estou grávida. Eu estou grávida!
Eu sorri, destrancando a porta, que logo foi aberta pelo rapaz.
- O que houve? – ele indaga e eu me afasto da pia, dando espaço o suficiente para que ele passe. – O que significa isso?
- Testes de gravidez. – falei e dei um sorriso. Ele não me fitava, concentrado o bastante nos dois riscos que estavam em cada um ali.
- Você está grávida? – ele indaga, virando-se para mim após alguns minutos.
- Eu estou grávida. – falei e um sorriso surge em seu rosto, e logo ele me abraça, levantando-me em seus braços e beijando todo meu rosto.
- Você está grávida! – ele exclama e vejo lágrimas em seus olhos.
- Eu estou grávida! – exclamei rindo. Ele me colocou no chão, ficando agachado na altura de minha barriga.
- Ei, bebezão, não sei quem é você, não sei quem você vai ser, mas saiba que eu estou ansioso para te conhecer. – diz e eu sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha. – Você pode ser pequeno, pode nem respirar e nem ter os olhos lindos da mamãe, mas é meu filho. Me agradeça por ter transado com a sua mãe sem camisinha.
- ! – exclamei, puxando levemente seu cabelo, fazendo com que ele se levante.
- Eu amo você. – ele sussurra contra meus lábios, antes de me beijar.
Meu coração acelera descompensado. Minhas pernas tremiam, além de minhas mãos.
Eu não sabia se era pânico. Não sabia se era paixão, mas eu sabia que eu o amava ali, naquele exato instante, enquanto ele me abraçava, enquanto eu me sentia em casa nos seus braços.
Eu não precisava do . Nunca precisei do . Eu só precisava de , o rapaz de 24 anos, barman, vizinho da casa da frente e o grande amor da minha vida. O primeiro que me fez realmente feliz, que me fez fazer loucuras, que me faz ir do céu até o inferno em cinco segundos.
O homem que eu, mesmo sem pedir, apareceu de paraquedas na minha vida, causando uma bagunça que eu não queria arrumar de maneira alguma.
- Eu também amo você, . – sussurrei assim que apoiei minha cabeça em seu ombro.
Fim!
Nota da autora: Sem nota.
Nota da beta:
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