Amanheceu E no meu sonho teu sorriso me chamando E eu vou voando, eu vou voando - - Sue, você precisa ver o cara novo! Ele é um gato e vai passar as férias do lado da sua casa!!!! - Paige, eu não tenho tempo pra caras nesse verão e você sabe disso. Bufei revirando o olho pra minha amiga, ela sempre estava tentando arrumar alguém pra mim, mas no momento eu estava focada apenas em trabalhar todo o verão e conseguir algum dinheiro para finalmente sair dessa cidadezinha que só me sufocava. Eu não nasci pra viver aqui, eu nasci para uma cidade grande e com tudo o que estava acontecendo na minha vida, a separação dos meus pais e minha mãe voltando a viver a vida de solteira, tudo o que eu precisava era de um problema a menos e um cara com certeza só iria atrapalhar tudo isso. - E aí… Senti um arrepio na minha espinha assim que aquela voz falou comigo, desviei meu olhar da prateleira que estava arrumando na loja de bugigangas em que trabalhava e encarei Paige que estava com os olhos arregalados em direção a pessoa que havia falado com a gente. - Então… Eu precisava pagar essas coisas, mas não tem ninguém no caixa! O cara falou de novo e dessa vez quando eu olhei pra ele e nossos olhos se encontraram, eu senti que meu verão talvez não iria ser tão planejado do jeito que eu queria. - Oi… Eu falei sem tirar os meus olhos dos dele, na verdade eu nem sabia se estava respirando naquela hora. - Oi... Ele respondeu enquanto dava um sorriso torto, seus olhos também nunca desviando dos meus. Acordei daquele sonho maldito, era incrível como nos últimos meses Axel tinha invadido minha mente, pelo amor de Deus já fazia 5 anos que eu tinha visto ele, não sei por qual motivo ele ainda estava nos meus pensamentos. “Dã, porque você é apaixonada por ele e ele é o amor da sua vida.” Balancei a cabeça e tentei fazer com que a voz na minha cabeça se calasse para que eu pudesse continuar os meus dias deprimentes na cidade que eu sempre quis. New York. Sim, eu consegui e já faziam 5 anos! O mesmo tempo em que eu não o via mais. Foi escolha minha e eu tenho que viver com as consequências, foi o melhor para ambos. Eu estava vivendo o meu sonho e ele havia voltado para San Diego que era sua cidade e onde ele ama viver. Eu não havia feito besteira, certo? Ele só estava na minha cabeça porque ele foi alguém importante e não porque eu sentia saudades dele. Por que você não vem E deita aqui do meu lado? Acende a luz da noite Vamos ficar acordados Eu escutei o som irritante da porta avisando que alguém tinha chegado, meu humor não estava dos melhores no dia de hoje e meu expediente já estava acabando, então a última coisa que eu queria era atender algum cliente nesse momento. - Eu sei que você parece brava, mas eu juro que o que eu preparei pra gente fazer hoje vai melhorar muito o seu humor. Minha carranca se quebrou instantaneamente em um sorriso quando eu escutei a voz do Axel, já fazia um mês que ele estava por aqui e aconteceu tanta coisa nesse meio tempo, a gente virou amigos, mas era óbvio pra todo mundo que o que a gente tinha era muito mais que uma amizade, a gente era muito intenso nos olhares e nos gestos quando estávamos juntos, mas nada havia acontecido entre nós, nada mais que olhares e sorrisos. - E se eu disser que meu humor melhorou no momento em que eu ouvi sua voz? - Falei sorrindo assim que olhei pra ele, Axel tinha os olhos mais lindos que eu já havia visto e eles sempre pareciam mais lindos ainda quando ele estava olhando pra mim, Paige sempre dizia que eles pareciam brilhar ainda mais quando estavam me encarando. ** Eu estava um pouco confusa quando ele estacionou o carro no topo da montanha de uma cidade vizinha que a gente morava, não foi uma viagem longa até porque tudo ali era muito perto e pequeno. Axel desceu do carro e começou a tirar um monte de coisas do porta mala, eu o sigui e comecei a prestar atenção no que ele fazia, primeiro ele tirou um cobertor grosso e uma sacola cheia do que parecia vários petiscos como salgadinho e uma garrafa de vinho. - O que é tudo isso? - Perguntei quando ele sentou no cobertor estendido e deu um tapinha pra eu sentar do seu lado. - O começo da melhor noite da sua vida, baby. - Ele falou fazendo uma cara sexy e eu não pude deixar de gargalhar. Então ele sorriu pra mim e eu me derreti mais uma vez. *** - Sue, você viu aquele pontilhado de estrelas todos juntos? - Sim. - Eu não estava vendo, mas não iria acabar com a alegria dele. - Aquilo ali é a ursa maior, um conjunto de estrelas que... Ah foda-se eu não consegui decifrar o livro de astrologia muito bem! - Ele falou bufando, parecia até um pouco chateado com ele mesmo. - Axel, eu não preciso que você aprenda essas coisas pra me conquistar. - Eu espero que seja isso que ele está tentando fazer porque se não seria bem embaraçoso. - Só o fato de estar aqui deitada com você e olhando a luz da noite já é tudo pra mim! Tudo o que eu poderia querer. - Fico feliz que não precise trabalhar muito pra te conquistar. - Ele deu um sorrisinho e deitou de lado olhando pra mim, eu podia sentir sua respiração bem próxima da minha bochecha. - Sue? - Axel. - Olha pra mim. -Ele sussurrou no meu ouvido. - Por favor. Assim que deitei de frente pra ele, eu não tive muito tempo de entender o que estava acontecendo porque os seus lábios estavam encostando no meu, primeiro levemente como se estivesse apenas sentindo a sensação, mas então tudo ficou mais intenso e quando finalmente eu senti o gosto quente da sua língua junto a minha eu soube que estava ferrada. Talvez até pra sempre. Dias que não voltam mais Tempo que ficou pra trás Fotos e recordações Primaveras e verões Juras de amor sem fim Sem você tá tão ruim Sempre tem um momento da sua vida que você para e pensa "Será que todas as escolhas que eu fiz valeram a pena? Será que eu sou feliz?" e parecia que isso estava acontecendo comigo. Haviam completado cinco anos que eu não tinha nenhuma notícia dele e eu sabia que foi escolha minha, mas sempre que essa data chegava ficava cada vez mais complicado pensar nele. Ele havia sido meu primeiro amor, se não o último e único. - Sue? - Sim, Charlie. - Respondi balançando a cabeça e tentando me desfazer dos meus pensamentos. - Você está bem? Parece que ultimamente você anda meio perdida. - Charlie era meu chefe e ex namorado, seria estranho se ele não tivesse se tornado um bom amigo com quem eu podia conversar. - Na verdade, eu ando meio perdida, tem uma pessoa que não sai da minha cabeça e eu não entendo o porquê sendo que faz tanto tempo. - Bati os punhos na mesa frustrada. - Por acaso é aquele cara que você sempre trás a tona? - Ele perguntou com uma careta, eu sabia que nós éramos amigos agora, mas eu havia o magoado e eu sabia disso. - Porque até mesmo quando a gente namorava você sempre dava um jeito de trazer ele pro assunto, eu não sei se você percebe isso, mas não é só agora que ele não sai da sua cabeça, eu acho que foi só agora que você se deu conta disso. - Droga, e o que eu deveria fazer a respeito? Ir atrás dele? - Bufei. - Bem.. sim! - Você tá louco? Eu não vou fazer isso! Nosso tempo juntos estava acabando, Axel estava aqui desde a primavera, mas com o fim do verão ele voltaria para sua cidade. - Eu sei que pode parecer um pouco cedo pra isso, mas... - Ele parecia um pouco nervoso, continuava mexendo as mãos enquanto tentava me dizer algo durante os últimos dez minutos. - Mas o quê? Você tá me deixando nervosa. - Olha a gente tá junto durante todo o tempo que eu estou aqui, e eu sei que assim que o verão acabar eu vou voltar pra casa e você pretende se mudar, mas isso não precisa acabar. Certo? - Ele perguntou parecendo esperançoso com a minha resposta. - Certo, Sue? - Olha, Axel, eu jurei que não iria me envolver com ninguém, que não iria deixar nada atrapalhar os meus objetivos, mas eu acabei deixando você entrar e eu tenho medo de continuar com isso e não ir pelo caminho que eu quero. - Falei enquanto tentava não o encarar, eu sei que se o olhasse nos olhos eu estaria perdida. - Então o que? Eu vou embora e isso tudo acabou, é isso? - Axel, eu não quero entrar nessa discussão com você, sempre foi tudo muito esclarecido entre nós, eu só quero fazer tudo o que tenho vontade sem chegar um dia e eu cada um jogar na cara do outro que o que fizemos não foi o certo, você não acha que a gente precisa estar pelo menos um pouco mais crescidos para viver o que ambos queremos? - Sue, vamos combinar uma coisa então. Ok? Voar no mar de estrelas E desvendar o infinito Se embriagar de amor Dizer o que nunca foi dito Eu acho que o fato de ele estar presente na minha mente tão constantemente nesse momento, foi por causa daquela promessa que a gente fez. Ela foi sincera e por mais que eu quisesse mentir pra minha mesma, eu acho que estava na hora de ver se aquilo realmente é algo pelo o que vale a pena lutar. Naquele tempo, naquele verão a gente havia jurado um pro outro que se realmente fosse verdadeiro eu perceberia e que quando isso acontecesse era pra eu voltar voando pra ele. Axel então havia pegado na minha mão, me levado até a próxima banquinha e então ele comprou um chip com um número que seria apenas meu quando eu estivesse pronta para procurá-lo. E é por esse motivo que eu estou sentada em um estúpido bar, bebendo um drink qualquer enquanto tento achar alguma razão ou motivo para eu não fazer o que eu mais quero fazer. - Sue? É você? - Oh, meu Deus, Paige!! Faz tempo que não te vejo. - Fique completamente de boca aberta quando vi minha melhor amiga daquela época. - Sim! Me mudei recentemente para Nova York. - Ela falou me dando um abraço apertado. - Você não vai acreditar quem eu encontrei semana passada! Meu coração ficou acelerado porque eu já sabia qual seria sua próxima frase antes mesmo de perguntar. - Quem? - Axel. Ele está passando um tempo por aqui a trabalho! E se você quer saber ele perguntou se eu tinha notícias suas e quando eu falei que a gente não se falava há anos ele pareceu até um pouco desapontado. Aquilo foi o último empurrão que eu precisava para tomar a decisão que estava com tanto medo. Paige e eu conversamos por um tempo, trocamos números e combinamos de nos encontrar para um café agora que morávamos próximas, me despedi dela e assim que saí pela porta e o vento gelado atingiu meu rosto, meu celular já estava nas minhas mãos. “Por que você não vem pra mim voando?” Meu coração estava acelerado depois que eu mandei a mensagem, eu não sabia se ele ainda tinha aquele número, se ainda valeria a pena, se ele estava namorando ou vendo alguém, ou até mesmo se aquilo iria ou não significar algo pra ele. Mas eu havia escolhido não ter mais medo e se ele me quisesse ainda, se ele quisesse conhecer a nova eu assim como eu queria conhecer o novo eu dele, então eu estava disposta a isso. Quando cheguei em casa tinha certeza de que ele não tinha mais aquele número e que nossa história havia acabado, mas então o meu celular tremeu na minha mão e não haveria sorriso maior do que o meu quando eu li mensagem “Que horas e onde eu posso te buscar amanhã?”

Nota da autora:

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