Capítulo Único
You're still in my head,
Forever stuck.
– Quer saber de uma coisa, cara? Não se pode confiar em mulheres. Elas são todas vagabundas, desesperadas para pegar tudo que temos.
– Você diz isso porque nunca soube lidar com elas, amigo.
empurrou a cerveja para o bêbado que reclamava ao seu lado. Tinha coisas para resolver.
A imagem de apareceu em sua cabeça repetidas vezes, enquanto ele pensava no que iria fazer. Ela era a mulher que mais odiava na face da Terra.
Precisava encontrá-la e matá-la.
E era isso que ele iria fazer.
Aproximou-se de um homem que estava com uma aparência mais sóbria no bar nojento e mal iluminado e se sentou ao lado dele, pegando sua caneca de cerveja para chamar sua atenção.
– O que sabe sobre a localização de ?
– A capitã , você quer dizer? – o homem riu. percebeu que esse também estava bêbado e suspirou. Odiava aquele bar.
– Já trabalhou com ela? – apenas os piratas que já haviam navegado com capitães se referiam a eles como capitães propriamente ditos.
– Deixei-a depois que ela colocou na cabeça que tinha que tomar o Sangue Negro, navio de . Conhece?
Claro que conhecia. Era até irônico.
– Já ouvi falar. Por que desistiu?
– Todos sabem que tipo de monstro é o capitão . foi considerada uma idiota por ir atrás dele e tentar tomar o seu navio.
– Acredito que ela tenha se arrependido.
– Mas é claro. Todos que andam no Sangue Negro estão condenados à maldição. Não há nenhum pirata que não saiba disso.
– Eu não sei. Que maldição? – mentiu. Queria ouvir até onde sua fama era reconhecida.
– O capitão é amaldiçoado. Ele não pode morrer. Quando alguém tenta matá-lo, recebe a mancha negra. É como uma doença incurável que mata aos poucos. Causa alucinações e ninguém sobrevive às loucuras de .
– Nossa. Deve ser mesmo perigos. – comentou, bebendo mais alguns goles de cerveja na caneca. O homem ao seu lado pareceu se dar conta de que algo estava errado. estava com seu chapéu de capitão cobrindo sua cabeça e por isso era difícil que alguém visse o seu rosto. Isso somado ao fato de que o lugar estava realmente mal iluminado e o tornava irreconhecível.
O homem ao lado de pareceu perceber aquilo. Seus olhos se arregalaram.
– Quem é você?
sorriu de lado e tirou o chapéu. Seu sorriso, apesar de parecer amigável, era letal. Aquela maldição não era a única que estava ligada ao seu nome. As suas enormes presas que lembravam as de um tubarão também eram conhecidas. Diziam por aí que ele era um vampiro do mar.
– Você vai descobrir a localização de para mim agora – ele murmurou, ainda sorrindo, vendo o bêbado tremer diante de suas palavras. – E saiba que você não sabe tudo sobre mim. Há coisas bem mais sombrias. Você tem meia hora.
***
entrou em sua cabine e bateu a porta com raiva. Jogou o chapéu de capitã longe, querendo mandar tudo para o inferno.
Os boatos diziam que estava vivo.
Ela pensou que havia o matado. Viu seu corpo cair do navio e bater na água com força, de onde ele não retornou. É claro que, depois que tomaram o navio, foram para uma ilha no Caribe e se embebedaram até alguém morrer em uma briga de bar. Também recrutaram novos marujos, já que precisava de pessoas novas sempre, graças à sua ignorância e à facilidade com que matava aqueles que a tiravam do sério. Era uma mulher explosiva.
era um grande filho da puta. Ela ainda se lembrava de tudo de ruim que ele havia lhe feito, do mesmo jeito que se lembrava de seu corpo coberto com tatuagens mal feitas e cicatrizes.
Ela o odiava por querê-lo tanto.
Alguém bateu na porta da cabine, fazendo com que a mulher ficasse ainda mais irritada. Batendo os pés no chão, abriu-a, encontrando um dos seus homens parado, esperando por permissão para entrar. Permissão que não deu. Ninguém entrava em sua cabine. Pelo menos não quem quisesse continuar vivo.
– Capitã! – o marujo meio que falava e meio que gritava. não conteve o impulso de revirar os olhos. – está a caminho. O que faremos agora?
– Esperaremos. Já o derrotamos uma vez. Faremos de novo.
– Mas, capitã...
– Cale a porra da sua boca! – ela gritou, fazendo com que todos os outros que fingiam trabalhar para ouvir a conversa tremessem e virassem para observá-la melhor. Empurrou o homem na sua frente e falou diante de todos os olhares curiosos e amedrontados – Já matei uma vez e mato quantas mais forem necessárias! Se alguma mulherzinha aqui estiver com medo, que se jogue na porra do mar. Eu estou me fodendo. Não quero piratas medrosos comigo.
– Eu não estou com medo – um dos homens se posicionou. sorriu. Esse era seu marujo mais antigo, Neil – Se a capitã diz que podemos acabar com , então nós podemos. Parem de agir como margaridas.
Os homens começaram a gritar em concordância e sorriu para Neil. Ele sempre a livrava de revoltas e motins. Não que fossem muitos. já tinha o respeito dos piratas. Tomar o barco de foi apenas mais uma façanha em seu enorme currículo.
Currículo que estava prestes a acabar.
retirou as faixas que cobriam a palma de sua mão direita. Lá estava ela. A mancha negra que começava a crescer no centro de sua palma já havia se estendido para seu pulso e caminhava em direção ao cotovelo. Suas roupas escondiam bem a mancha, mas, em qualquer momento, alguém notaria. E então eles iriam matá-la.
A não ser que aquilo a matasse primeiro.
Fitou a mancha, enquanto sentia a raiva que provocava nela crescer. Ela já havia o conhecido antes, muito antes de qualquer desejo de se tornar pirata. Havia sido em sua infância. Seu pai era um homem rico da Inglaterra que, infelizmente, morava perto do mar. Quando o Sangue Negro atacou no porto de sua cidade, a casa em que morava foi a primeira a ser saqueada. ainda se lembrava do momento em que encontrou com pessoalmente.
“– Olhe só o que temos aqui... – o pirata abriu a porta, encontrando-me perto da lareira. Dorothea havia acabado de me colocar para dormir quando ouvi os barulhos lá fora. – Uma garotinha.
– Vá embora! – murmurei, incapaz de falar mais alto. Eu estava assustada, chorando, e o sorriso psicótico em seus lábios estava me dando arrepios.
– Uma garotinha mandona. Parece que vai ser uma grande mulher quando crescer. Quer dizer, se você fosse crescer.
Suas palavras me fizeram delirar. Comecei a ter espasmos e minha garganta estava seca. Ele me mostrou a espada que estava suja de sangue e, sem conseguir me conter, acabei vomitando.
O pirata doentio apenas me observava.
– Está com tanto medo assim?
– Por favor, não me mate.
Ele se aproximou de mim e eu soube que não queria morrer ali. Não queria ter meu sangue em sua espada. O homem era um maldito pirata e meu sangue era nobre demais para estar ali, assim como o de qualquer um. Um pirata não merecia nada além de apodrecer nas chamas do inferno.
Localizei uma barra de ferro que estava próxima da lareira. Dorothea havia a usado para mexer na madeira com a intenção de que o fogo não se apagasse. Havia a esquecido ali, graças a Deus.
Sem pensar duas vezes e sem ter nada a perder, peguei a barra. Na mesma hora, senti minha mão queimar e entendi o motivo de Dorothea pegar naquilo sempre de luvas. Lutando contra meus próprios instintos, não a soltei. Com rapidez, cravei-a no pirata que se aproximou de mim ao ver que eu me mexia. Acertei sua coxa com a barra quente e ele gritou. Soltou sua espada e, quando tentou tirar a barra da coxa, gritou com a dor que sentiu ao queimar suas mãos.
Olhei para as minhas próprias, que estavam em carne viva. Na hora, eu não havia sentido a dor, mas agora queimava como o inferno. Encarei o maldito pirata jogado no chão e gemendo de dor. Peguei sua espada jogada no chão com a mão esquerda, que não havia sido tão danificada pela barra quente, e a apontei para ele.
– Você vai acabar indo para o inferno.
– E você também, assim que me matar – ele sorriu de um modo irônico, apesar da dor em seus olhos. Parei de sentir medo e a raiva se intensificou.
– Você é tão baixo que não merece morrer nas minhas mãos, seu grande lixo. É isso que você é: um lixo.
– Espero que meus amigos no andar de baixo não a matem. Quando você crescer, vai ficar tão gostosa quanto a vadia da sua mãe que eu acabei de comer e matar.
Chutei seu rosto com toda força que eu tinha no pé. Logo depois, cravei a espada em seu peito, encontrando dificuldade para chegar ao ponto que eu imaginava ser o coração. O pirata gritou com a dor, já que eu demorava para terminar o trabalho.
O sangue escorria em todos os lados do meu quarto, quando outros piratas invadiram o lugar. Arranquei a espada do peito do pirata e a apontei para frente.
Eram dois. Quando percebi, havia matado ambos.
Sangue. Havia sangue para todos os lados. Minha mão direita sangrava por causa da queimadura e meu sangue se misturava com o do pirata. Eu estava chocada com as paredes de minha casa e não procurei por meus pais ou pelos empregados. O silêncio ali dizia tudo que eu precisava saber.
Com lágrimas no rosto, deixei minha casa e fugi. Mais tarde, quando consegui roupas novas e um banho – depois de outra pessoa perder a vida, mas eu não estava mais me importando com nada –, consegui ver um nome cravado na espada.
“Capitão ” estava gravado com letras cursivas de um jeito bem desleixado. Havia sido escrito com brasa quente e estava lá há um bom tempo.
Era a espada dele. era o pirata que havia me destruído e destruído todo o meu futuro.
E eu havia o matado, assim como mataria todos os piratas na face da Terra.”
sorriu para seu reflexo na janela. Naquela época, não sabia muito sobre a vida. Tinha catorze anos e, até hoje – dez anos depois –, não sabia como havia matado aqueles dois homens e sobrevivido à tragédia que acontecera com sua família. Tinha certeza de que havia matado , mas então escutou os boatos sobre ele ser imortal e essas merdas. Não confiava muito na sua mente, principalmente porque estava assustada na hora e não sabia nada sobre matar, porém tinha certeza de que havia acertado seu coração.
Só que estava vivo e tinha um navio. Era o homem mais temido dos mares.
Tomar o Sangue Negro e empurrar para o mar foi uma das suas maiores conquistas.
Mas então o homem havia sobrevivido.
Ela começou a realmente achar que era imortal.
Já era de noite e estava tudo escuro do lado de fora, assim como sua mancha.
odiava aquela mancha e como havia a obtido.
“– Traga mais uma rodada, Neil! – gritei. – Hoje nós vamos comemorar!
– Tudo o que quiser, capitã!
Os trinta piratas gritaram em comemoração. Estávamos em uma ilha, provavelmente na África. Havíamos acabado de roubar e saquear um grande navio português e comemorávamos nele. Os cadáveres já haviam sido jogados no mar e estavam boiando por aí. Pretendíamos ficar bêbados com o estoque de bebida que encontrei no barco e era exatamente isso que estávamos fazendo. Concluí que era melhor atracar antes de ficarmos todos bêbados. Tudo poderia acontecer e eu preferia estar em um lugar deserto na terra a estar no mar aberto.
Já estava levemente bêbada e gritando com todos, enquanto falavam besteiras, quando tropecei em um tronco jogado no fim da praia, onde começavam as árvores. Não percebi o quão longe estava de todos até olhar para trás e encontrar a floresta escura. Pisquei várias vezes e me levantei, arrumando meu chapéu. Não iria beber mais, prometi a mim mesma.
E então senti uma mão em mim. Alguém tampou minha boca e meu nariz com a mão e prendeu meus braços com a outra. Tentei lutar, mas já estava bêbada demais.
– Quieta, . Capitã agora. Certo?
Quando riu, eu o reconheci. Era ele.
me arrastou até o meio da floresta, longe da praia. Eu não iria gritar por ajuda, se era isso que ele queria, mas, se o fizesse, ninguém ouviria.
– Seu grande filho da puta! Eu devia ter matado você direito.
– Vejo que a criei perfeitamente – o maldito sorriso apareceu em seus lábios, assim como eu me lembrava. Seus olhos nojentos me analisaram desde o rosto e se demoraram no decote da minha blusa branca. Se tinha algo que eu havia aprendido enquanto era pirata, era que não havia muitas mulheres nas minhas condições. Se você era uma mulher e pirata, era bom que deixasse os outros verem o que era e mostrasse que não poderiam tê-la. Minhas roupas coladas e provocantes serviam exatamente para isso. Eu era a vadia com quem eles não podiam brincar. – E acertei quando disse que ficaria gostosa.
Dei-lhe um tapa com toda força em seu rosto.
– Parece que perdeu os olhos nos meus peitos, capitão. Acho bom que tome mais cuidado da próxima vez que resolva olhar para mim.
– Ah, mas eu vou olhar para você. Vou olhar muito.
Antes que eu pudesse retrucar, me jogou contra uma das árvores e me beijou. Beijou com força o bastante para me machucar e provar que ele não desistiria. Cinco anos atrás, eu era apenas uma garotinha assustada de catorze anos. Agora, eu era uma mulher que virou mulher por necessidade, de dezenove. estava louco, se pensava que eu iria permitir que ele me tocasse daquele jeito.
Fingi entrar no clima e deixei que me beijasse, passando as mãos por seus braços, notando o quanto eram musculosos, subindo para sua nuca, onde prendi meus dedos. Esperei por uma brecha em seu comportamento, em algo que fizesse com que ele abrisse mais a guarda. Eu estava sóbria o suficiente para fugir, mas não para lutar e ganhar, principalmente porque p cara deveria estar armado.
Quando percebi, estava o beijando de volta. tinha um modo de se mover que fazia qualquer mulher perder o foco. Que ele era bonito e tinha um charme próprio, eu não negava. Quer dizer, era preciso ter muita força de vontade para mentir para si mesma e dizer “ não é gostoso”.
Mas que merda eu estou falando? Cacete!
Isso só podia ser o álcool. Tinha que ser o álcool. Só minha mente entorpecida deixaria que me tocasse daquele jeito, levando suas mãos para o meu quadril, enquanto me pressionava contra o tronco áspero da árvore com o dele, deixando-me saber o quanto ele realmente me queria. Seus lábios desceram beijos úmidos para meu pescoço e eu tentei evitar os arrepios. Juro que tentei, principalmente quando sua mão apertou minha cintura e senti seus dentes rasparem com um pouco de força contra a pele do meu pescoço. Mas foi só quando olhei em seus olhos.
Os olhos de não estavam negros como sempre. Dessa vez, eles tinham um brilho tão vermelho que, mesmo sob a árvore na floresta, onde estava tudo escuro, eu pude ver. Aquilo me assustou tanto quanto o desejo que aqueles olhos vermelhos continham.
Por causa do susto, puxei seus cabelos com força, afastando-o de mim o máximo possível.
– O que há com você? – perguntei horrorizada.
Os globos vermelhos nublados de desejo me olharam sem realmente me ver. Seus lábios estavam partidos e vermelhos, graças ao beijo intenso que estávamos trocando. Mudei o ângulo em que a cabeça de estava, fazendo com que mais luz lunar refletisse nele, e o brilho em seus dentes me deixou horrorizada. Seus caninos estavam enormes, muito maiores do que qualquer canino humano.
Ele havia passado aqueles dentes em mim.
Com medo, ergui o joelho e acertei o meio de suas pernas com força.
gemeu de dor e caiu jogado aos meus pés. Eu estava desarmada, então corri de volta para a ilha, deixando-o lá.
Na praia, todos estavam bêbados e apenas Neil parecia levemente sóbrio, diferente de mim, que estava completamente sã após o episódio com .
– Seus imbecis! – gritei, chamando a atenção. – Peguem a porra das suas coisas! Agora! Vamos partir!
– Mas, capitã, acabamos de chegar e...
– Não quero saber. Estou partindo. Querem ficar? Fiquem!
Caminhei em direção ao navio, sabendo que todos acabariam por me seguir. A lealdade de um pirata para com seu capitão era maior do que tudo no mundo.
E capitães não eram leais a ninguém, além deles mesmos.
Menos de cinco minutos depois, meu navio – que antes era da marinha portuguesa – estava navegando para longe daquela ilha. Agarrei o timão com força e o movi em direção ao norte, sendo guiada pela minha bússola. Ao dar uma última olhada na ilha, eu o vi.
estava escondido atrás de uma das árvores no começo da praia, vendo-mw ir embora com um sorriso perverso no rosto.
– , o que aconteceu? – Neil me perguntou, logo após sairmos do alcance da ilha e o navio já estar tranquilo. Alguns homens dormiam. Neil era o único em quem eu confiava o bastante para deixar que me chamasse por algo além de “capitã”.
– Northmen! – chamei. – Venha assumir o controle. Navegue para o norte.
– ! Eu sou o responsável quando você está dormindo! – Neil protestou.
– Sim, capitã !
Nothmen assumiu o timão e eu puxei a mão de Neil até a cabine que seria minha a partir daquele momento. Tranquei a porta e joguei a chave longe, prensando Neil contra ela e beijando seus lábios repentinamente.
Neil se assustou, mas não protestou. Não correspondeu também.
– Fale comigo, . Alguma coisa aconteceu. Percebi que você sumiu durante alguns minutos.
– É porque estava prestando atenção em mim, Neil – sussurrei, beijando seu pescoço e sorrindo ao ver sua mão tremer de vontade de me tocar. – Você sempre presta atenção em mim. Não é, Neil?
– ...
– Eu sou a capitã e estou mandando você calar a boca e me beijar.
Neil bufou, sabendo que não poderia dizer não. Ele não resistia a mim e, se eu não fosse sua capitã, me beijaria do mesmo jeito.
Sua boca se chocou contra a minha e logo vi minhas roupas voarem para longe, enquanto nós transávamos na mesa de escritório da cabine. Tentei me focar em Neil e ignorar a imagem de que insistia em aparecer na minha cabeça a cada toque, mas era impossível. Então eu apenas aproveitei a noite e tentei não me sentir culpada.
Pela manhã, quando eu acordei sem roupas sobre o peito de Neil na cabine, havia um pequeno pontinho preto na palma da minha mão direita.
Eu poderia ter me preocupado na época, mas tudo que fiz foi ignorar e continuar minha vida como se aquilo não fosse nada e se o beijo com nunca houvesse acontecido.”
Alguém bateu em sua porta e se apressou para cobrir a mão com a faixa que havia jogado longe. Depois de alguns segundos – ela já era especialista em amarrar aquilo na mão –, gritou para que entrassem.
– ... – Neil começou, a preocupação óbvia em sua voz. – Há um navio se aproximando. Rápido.
– E isso é importante por...
– Porque é um navio de velas negras.
– Impossível. O Sangue Negro, o nosso navio, é o único com velas negras.
– Não é mais.
se levantou na mesma hora. Saiu da cabine como um furacão e pegou o binóculo que estava na mão de um dos piratas. Escalou um dos mastros que segurava as velas para poder ver melhor, apesar de já poder enxergar o barco de velas negras. Pendurou-se de um modo que só ela sabia fazer, posicionando o objeto na frente dos olhos.
estava se aproximando com um navio.
– Merda – murmurou para si mesma. Desceu do mastro e jogou o binóculo para que um de seus homens pegasse. Estavam todos parados, esperando seu veredito. Neil estava de frente para ela, encostado ao batente da porta de sua cabine, com os braços cruzados.
– Abaixem as velas – ordenou. – Nós vamos lutar. Foda-se quem é ou quão terrível ele é. Nós não tememos nada. Se alguém se sentir incomodado ou quiser ir embora, é só pular. Espero que nenhum tubarão se alimente da carne nojenta e desleal desse homem.
Após suas palavras, entrou em sua cabine, onde passava a maior parte do tempo. Pegou a espada que havia pegado de com catorze anos, na primeira vez que eles se encontraram, e a pendurou no seu cinturão, junto com mais três pistolas carregadas. Do outro lado da porta, ouvia Neil gritar e ordenar para que os canhões fossem carregados e os piratas pegassem espadas na despensa do navio. Eles iriam lutar.
– Hoje, , você morre – murmurou para si mesma, observando da janela o navio de velas pretas ficar mais perto de si a cada rajada do vento. – Não importa quantas vezes eu tenha que matá-lo.
***
– E então, marujo? – perguntou para o homem que voltou ao seu lado no bar mais rápido do que havia saído. Dessa vez, o sorriso em seu rosto era evidente.
– E se eu dissesse que sei exatamente sua localização e tenho um navio e uma tripulação pronta para navegar? Sob seu comando, é claro?
– Você estaria facilitando minha vida – sorriu abertamente, mostrando seus enormes caninos, fazendo o outro ficar contente por não estar contra ele naquela guerra – Qual seu nome, marujo?
– Brad Walst, capitão.
– Ótimo, Brad. Prepare o navio e a tripulação. Sairemos amanhã pela manhã.
– Como quiser, capitão.
– Uma rodada por minha conta! – gritou, batendo sua enorme caneca de cerveja na mesa e a trocando por uma garrafa de rum. – Hoje vamos comemorar e beber pela derrota daquela capitã vadia.
Todos comemoraram e pegaram uma caneca de cerveja. sorriu e tomou vários goles do rum. Em vinte e quatro horas, estaria morta em suas mãos.
não sabia explicar quando havia se apaixonado por ela, mas acreditava que fora no momento em que a mulher cravou uma barra de ferro fervente em sua perna e depois lhe enfiou sua própria espada em seu coração com força.
Ou então foi quando a viu tomar um navio no meio do mar vermelho quando tinha apenas dezessete anos e todos já conheciam o seu nome. Ele havia criado o pior monstro da Terra e tinha orgulho disso.
Mas aí a cria se virou contra o criador e foi atrás dele e tomou seu consagrado navio. Esse era o motivo de precisar matá-la. Sua honra e seu nome estavam em risco desde que ela tomara o Sangue Negro e o jogara no mar para que morresse.
já deveria saber que matar não era assim tão fácil.
“– Cem almas inocentes, . Preciso de cem almas em três dias.
– Três dias?! Isso é impossível! E almas inocentes? Nem deve mais existir esse número de pessoas inocentes no mundo, Zenya. Você está louca.
– Louco está você que pensa que a imortalidade é assim tão fácil – ela riu de sua cara. – Uma vida por outra, . Viva por mais cem anos, mate cem inocentes. Depois disso, a cada inocente que você matar, é um ano a mais.
– Como sei que isso vai funcionar?
– Não vai, mas quando foi que falhei com você?
suspirou.
Estava em uma caverna submarina, conversando com uma sereia feiticeira, Zenya. Ela era sua amiga de longa data. Salvava-o de suas encrencas mais sérias e curava suas feridas e doenças mais letais. Agora, ele queria ser imortal. Queria parar de correr para Zenya todas as vezes que tinha um problema.
– Tudo bem – respondeu, depois de pensar por alguns segundos. – Vou aceitar. É só eu trazer os corpos para cá?
– Não! – Zenya fez uma careta. – A última coisa que eu quero são cem mortos na minha casa! Vou preparar algo para você beber. Quando matar o último, será imortal. Se você matar apenas noventa e nove, a poção o matará.
– Isso é bem extremo.
– Viver para sempre é bem extremo. E eu estou ficando velha. Preciso da essência dessas cem pessoas.
– A essência deles vai para mim!
– Não vai, não. Eu quero as cem pessoas como pagamento, mas sua imortalidade está na poção. Eu tenho controle sobre ela e como funciona, então quero as cem pessoas em dois dias ou vou matar você. É mais simples do que parece.
– Você é uma vadia. Zenya.
– Uma vadia que vai continuar jovem e linda para sempre! – ela piscou os enormes cílios e ergueu a mão escamosa para . – Temos um acordo?
– Temos. Dê-me logo essa merda de poção.
Zenya sorriu e começou a preparar o elixir que daria imortalidade para .
– Sabe que haverá consequências, não é?
– Claro, mas não me importo. Só quero ser imortal.
– Ótimo. Quando cansar de viver, procure-me e acabo com isso.
– Não vou procurá-la. Tenha certeza disso.
– Oh, . A imortalidade pode ser cansativa e solitária.
– Pagarei para ver.”
As consequências foram seus dentes. Ele foi à Inglaterra matar. Era um dos lugares mais cheios e, provavelmente, havia muitas almas puras por ali. Contou noventa e nove mortes, quando entrou em uma casa de família burguesa e encontrou uma garotinha escondida em um dos quartos. Estava assustada e ele riu dela. Não fazia ideia de que a garotinha cravaria uma espada em seu coração.
Por sorte, não sabia contar direito.
quase o matou quando tinha apenas catorze anos. Ele tinha medo do que ela era capaz de fazer aos vinte e quatro.
Pior ainda: queria ver o pior que a mulher podia.
era capaz de mexer com sua cabeça. Ele perseguia a garota desde que ela completara vinte e um anos. Havia acompanhado seus feitos e conquistas de longe, vendo-a se transformar de uma garotinha medrosa em uma mulher com força e autoridade suficiente para colocar medo em idiotas com chapéus que se autointitulavam capitães. era incrível.
E era possível que estivesse completamente viciado nela.
Ninguém podia mexer com ele daquele jeito. Tinha que parar com a obsessão e matar . Era o único modo de se livrar do instinto animal que tinha de possuí-la para si que estava o consumindo aos poucos.
E faria isso, a qualquer preço.
***
viu o navio negro se aproximar o bastante para começar a se preocupar. Suspirando, pegou uma garrafa de rum e quebrou o gargalo na parede para abri-la. Cacos de vidro voaram pela cabine, mas ela não se importou. Estavam prestes a lutar. Vidro e madeira quebrada estariam presentes por todo lado em pouco tempo. A lateral da garrafa não cortava mais sua boca, já que fazia aquilo com uma frequência considerável para saber manusear a garrafa quebrada sem se cortar. Bebeu alguns goles e colocou a bebida em sua mesa.
Era hora de lutar.
Andou até a porta fechada da cabine, tendo uma surpresa.
Alguém havia a trancado pelo lado de fora.
Chacoalhou a porta com força, tentando abri-la, mas em vão. Franziu o cenho e se afastou da porta para chutá-la. Chutou mais três vezes e, ao não conseguir abrir, sacou uma de suas pistolas e atirou na maçaneta.
Nada nem ninguém resistia a um tiro de .
A porta se abriu e então quase soltou um grito.
Sua tripulação estava morta. Todos mortos.
Os corpos estavam espalhados pelo navio, todos mortos por espadas. Alguns corpos estavam sem cabeças e outro, decepados. Como há dez anos, ela via sangue em todos os cantos. Neil estava perto dela, de sua cabine. Seus olhos ainda estavam abertos, enquanto o sangue escoria de seu pescoço que fora profundamente cortado.
estava parado na frente do mastro, onde ela havia subido mais cedo naquele dia e que, infelizmente, ficava de frente para a cabine de .
– Olá, capitã.
– O QUE VOCÊ FEZ, SEU GRANDE FILHO DA PUTA?!
– Eu peguei de volta o que era meu. “Capitã” já não é mais um termo que se pode usar a você, .
– Não me rendi com catorze anos. Não vou me render com vinte e quatro.
– Você não ganha de mim sem uma barra de ferro quente ou uma tripulação. E é apenas o que estou tentando defender aqui.
tirou uma das armas da cintura e mirou em , errando os dois tiros que disparou.
riu.
– Parece que sua mão está tremendo um pouco...
– VÁ SE FODER!
jogou duas de suas armas fora para provar que não precisava delas e voou na direção de , a espada em punho. Ele já esperava por isso, então jogou a arma fora e se preparou também. tentou cravar a espada em seu rosto, mas acabou sendo bloqueada. Acertou um murro para compensar.
– Suas mãos são fortes, capitã – comentou, sorrindo pervertido. – Quero ver o que mais elas podem fazer.
– Você é doente!
– Tão doente quanto você!
voltou a atacá-lo com a espada. bloqueava todos os seus golpes. Os corpos de sua tripulação espalhados pelo navio se tornaram apenas obstáculos e tudo que ela via era sangue. Sua visão era tomada pela cor vermelha, tamanha era a sua raiva.
Queria ver morto quase tanto quanto queria vê-lo jogado na cama em sua cabine.
– Por que está usando essa faixa na mão, ? – perguntou, quando acabou abrindo a guarda. Percebeu que ele não a atacava abertamente. Apenas esperava seus golpes para poder contra-atacar.
– Não sabe lutar em silêncio, ?
– É a mancha negra, não é? – riu. – Está aí há quanto tempo? Seis anos? Desde aquela vez na floresta? Ainda se lembra daquilo?
atacou com mais força porque, sim, Deus, ela se lembrava! Havia pensado naquele beijo durante seis malditos anos!
Eles dançavam de forma sincronizada pelo navio, desviando dos corpos, em uma luta em que estavam empatados. Um atacava, o outro defendia. Um ou outro soco quando o barulho de espadas ficava maçante demais.
não percebeu que estava sendo conduzida para sua cabine.
– Eu posso curar a mancha negra, – compartilhou o segredo quando os dois ficaram cara a cara, separados apenas por duas espadas que estavam cruzadas na frente de seus rostos.
– Não há nada que você possa fazer, seu mentiroso. Eu vou acabar morrendo quando a mancha alcançar meu coração, de qualquer jeito.
– Está crescendo mais rápido, não está? – ele sorriu, vendo certo pânico em seu olhar. não o desapontava nunca. Mesmo tendo duas espadas em seu rosto, estava temendo morrer de uma doença e não pelas mãos de alguém. A confiança que tinha sobre si mesma nunca era abalada. – Vai ficar pior. Você acha que tem mais seis anos, mas não tem seis semanas.
empurrou sua espada para frente, fazendo com que balançasse. A mancha a preocupava bastante, porém não pediria ajuda para .
– Eu posso realmente salvá-la, – insistiu ao conduzi-la para dentro da cabine, enquanto ainda fazia aquela dança de luta de espadas.
– Não há cura.
– Eu sou a cura.
– Isso é um pouco soberbo. Não acha? Você é apenas um pirata sujo e nojento.
jogou longe sua espada, não vendo onde o objeto caiu, mas ouvindo quando atingiu o chão. Seus olhos estavam focados na mulher à sua frente.
– O que está fazendo?
– Deixe-me ver.
– Por que quer tanto me curar?
– Deixe-me ver – ele repetiu.
Ainda com a espada em punho, ergueu a mão, deixando que tirasse a faixa branca. Sua mão estava quase toda tomada e apenas as pontas de seus dedos estavam da cor natural.
– Meu sangue é a cura – confidenciou, falando baixo. – Eu sou imortal, . Você nunca me matará.
– Como que seu sangue pode me curar?
Sua espada estava se abaixando aos poucos.
levou o pulso à boca, mordendo-o com força até sentir o sangue começar a escorrer. franziu o cenho, mas não parou de observar toda a cena.
– Beba – ordenou, levando o braço à boca da mulher que fez uma careta.
– Eu...
Antes que pudesse dizer algo, pressionou o pulso contra a sua boca. A primeira gota de sangue escorreu e foi parar em sua língua, e então o gosto explodiu em sua boca. A primeira gota puxou a segunda, que puxou a terceira. Antes que percebesse, estava segurando o braço de por conta própria e emitindo sons de prazer ao sentir o gosto indecifrável na boca. Sentia-se ficando mais forte a cada gole, enquanto um enorme prazer crescia em seu corpo. deixou que ela bebesse até se sentir satisfeita e então afastou o pulso.
Os lábios de vermelhos, sujos de sangue, eram mais do que podia aguentar. Sem controle, segurou os lados de sua cabeça e a puxou para um beijo. Quando suas bocas se chocaram, foi como se mil explosões acontecessem ao redor deles.
E eles não se importavam com nenhuma delas.
As mãos de envolveram sua cintura. Desceram para o seu quadril e então mais um pouco para as suas coxas. Puxou-a para cima e, em um impulso, estava no colo de . A espada já estava jogada no chão havia alguns minutos.
a pressionou com o quadril contra a janela de vidro, por onde havia observado o navio dele se aproximar mais cedo naquele dia. As mãos de estavam em seu peito, rasgando sua camisa branca como se fosse um tipo de animal faminto. Sentiu gemer contra seus lábios, mandando vibrações para todo o seu corpo, assim como quando ele investia contra ela, mesmo eles estando de roupas. Suas línguas brigavam tanto quanto suas espadas para verem quem tinha mais lugar na boca do outro e uma névoa de desejo envolvia os dois. mordeu o lábio inferior da mulher, puxando-o com ele, fazendo com que soltasse uma exclamação de prazer. Podia sentir a umidade no meio das pernas e seus mamilos já duros, graças à quantidade de vezes que haviam roçado no peito definido de .
Quando finalmente conseguiu rasgar toda sua camiseta e jogá-la longe, parou para analisar seu peitoral. As placas de músculos bem trabalhados estavam espalhadas por seu tronco, fazendo-a salivar. aproveitou para beijar o seu pescoço. Deixou uma trilha de beijos pelo caminho, mordiscando a pele quente e arrepiada até chegar à sua orelha. Brincou com o lóbulo, enquanto levava as mãos às suas costas, onde pretendia desamarrar a camisa que ela usava. Seus lábios atacaram a parte exposta de seus seios, enquanto suas mãos trabalhavam com os laços. Logo, também não estava mais usando algo na parte de cima de seu corpo.
capturou um de seus mamilos com a boca, fazendo com que gemesse alto e seu tronco se erguesse para que seu seio se encaixasse perfeitamente na boca dele, enquanto sua mão cobria o outro com posse. Ele sentia que estava perdendo o próprio controle a ouvindo gemer. A ereção estava explodindo em suas calças. O atrito que havia criado com o roçar de suas intimidades por baixo das roupas era dolorido, mas não o bastante para fazê-lo parar. Apenas para fazer com que quisesse arrancar as roupas da capitã com mais rapidez.
ergueu a cabeça de , incapaz de aguentar mais um segundo de sua língua em seu seio. Puxou-o para um beijo, enfiando a língua na boca dele sem nenhum tipo de aviso, sentindo um gemido que ele tentou reprimir reverberar em seu peito que estava pressionado contra o dela. Encontrou uma brecha no meio dos dois e desceu a mão pelas placas de músculos, apertando em todos os lugares certos até chegar ao cinto de sua calça. Jogou-o para longe, abrindo sua calça com maestria. Tocou seu membro pulsante e descolou a boca da de para gemer em alívio.
A mulher o envolveu com a mão, notando seu grande tamanho e não podendo esperar para tê-lo dentro de si. Os sons descontrolados e animalescos de faziam com que se sentisse poderosa e no comando, como se nada no mundo fosse capaz de derrotá-la.
Com a intenção de fazê-lo gemer ainda mais, se jogou contra , atacando seu pescoço com os lábios, enquanto descia sua mão pelo pênis dele. A combinação dos dois movimentos foi demais para .
– Porra – ele murmurou, completamente perdido nos movimentos dela.
Sentia que estava ficando perigosamente perto de um orgasmo e andou com até a cama de casal no outro extremo da cabine. Ela era a única que dormia em uma cama, enquanto os outros piratas dormiam em redes. Jogou-a no colchão e parou durante alguns segundos para olhá-la.
havia se transformado na mulher mais atraente do mundo todo.
Ele não acreditava que estava naquele quarto, realizando uma de suas maiores fantasias nos últimos seis anos: transar com .
– O que foi, ? – provocou, sorrindo maliciosamente e se apoiando nos cotovelos. – Nunca esteve com uma mulher de verdade?
– Você sabe que já. E com muitas.
riu, ficando de joelhos na cama. Estava mais baixa que ele, mas ainda assim enlaçou seu pescoço com os braços e o puxou para perto, ouvindo sua respiração descompassada. Sua cabeça havia parado de reclamar e de lembrá-la sobre quem era e o quanto ele havia fodido com sua vida. estava limpa.
– A melhor é sempre inesquecível, capitão.
soltou um gemido estrangulado, não se aguentando mais. Jogou novamente na cama, puxando as calças da mulher pela perna, jogando a peça em algum lugar da cabine.
Roupas e lençóis voando, gemidos altos, beijos, mordidas... Estavam por toda a parte. Eles transaram na cabine de que, um dia, fora de . Eram ambos capitães de respeito e o amor que compartilharam naquele quarto era difícil de distinguir do ódio que também sentiam um pelo outro, tendo os sentimentos separados pela fina linha do desejo.
Era algo doentio. Eles estavam dentro de uma cabine, no meio do oceano, enquanto havia uma tripulação morta do lado de fora.
Eles eram doentios.
***
e acordaram depois de sentirem um forte impacto. Algo havia batido no navio. Perceberam o quanto foram irresponsáveis por deixar o navio sem ninguém comandando.
– Pensei que você traria uma tripulação com você – comentou de um modo rude e grosseiro, deixando claro que seu ódio pelo homem continuava o mesmo. Ele havia destruído toda sua vida. Uma noite de sexo não podia consertar aquilo.
– Eu trouxe. Matei todos no caminho.
não sabia qual o motivo para matar tanto, mas não se importava. Sua raiva estava concentrada no fato de que ele havia matado sua tripulação.
Os dois, após estarem devidamente vestidos e armados, abriram a porta da cabine que havia se fechado com o vento. Encontraram vinte piratas com espadas apontadas para eles, esperando-os do lado de fora.
– Mas que porra...?
– Ninguém vai mais temer vocês dois. São perigosos demais separados. Juntos irão acabar com todos nós – um dos piratas que empunhava a espada em direção ao rosto de explicou em um tom ameaçador.
– Espero que vocês saiam vivos para contar como somos “perigosos” – debochou.
Logo depois, tirou a pistola da cintura e acertou um tiro na cabeça do pirata mais próximo.
Depois desse tiro inicial, ficou tudo uma grande loucura. Os piratas avançavam para cima de e , que lutavam de volta, vendo sangue voar para todos os lados, enquanto suas espadas cortavam gargantas. estava com uma pistola na mão, então ficou em vantagem bem mais rápido. Estava de costas para , protegendo-a, enquanto ela fazia o mesmo por ele.
Homens caíam no mar e outros simplesmente caíam no chão, tropeçando nos homens que já estavam mortos ali. nunca havia visto tantos corpos sem vida juntos.
enfiou a espada no estômago do último pirata, ignorando o som de dor que o homem proferiu ao ter seus órgãos internos cortados pela arma de . Ele ficou preso nela, então o empurrou com o pé ao mesmo tempo que puxou a espada de sua barriga.
Ele caiu sem vida ao lado dos outros homens.
Ofegando, ela se virou para fitar .
– Parece que você é a última entre meu navio e eu – ele comentou, apontando a pistola para a sua cabeça.
– Não é como se eu estivesse com medo disso.
– Claro que não está. Eu a transformei na mulher sem coração que você é hoje.
– E um criador mata suas crias? Deveria amá-las, não?
– Não venha me falar de amor.
– Não posso falar de amor com você. Você me tirou o único amor que eu tinha, .
– Você precisa superar o que aconteceu. Eu a deixei me matar. Não deixei?
riu. Uma risada zombeteira, de escárnio.
– Você acha mesmo que “deixou” que eu fizesse algo? Também deixou que eu tomasse o seu navio?
– Você não tomou nada, . Estou pegando de volta.
– Então me mate – ela se arriscou, andando para frente e ficando ainda mais perto do cano da pistola, até que estivesse encostada à sua testa. – Você precisa me matar para ter esse navio só para si. E então terá um navio, uma arma e vários corpos para jogar ao mar.
não conseguiria atirar e sabia disso. O homem estava completamente envolvido. O ódio em seus olhos era tão grande quanto o amor, mesmo que os dois sentimentos estivessem mascarados pelo desejo.
O capitão olhou para o corpo de que havia acabado de possuir. Olhou para os olhos preenchidos com ódio que ele ajudara a colocar ali. Na verdade, o homem era o grande responsável. não seria nada como era naqueles dias, se não fosse por ele.
aceitava a culpa de bom grado.
– Você não vai atirar, – murmurou, erguendo a mão para afastar a arma lentamente. não fez nenhuma objeção e deixou que ela tomasse conta da situação, mais uma vez.
tomou a arma e então puxou para um beijo. Moldou seus lábios aos dele, deixando que sua língua procurasse espaço dentro da boca do capitão. Automaticamente, ele levou as mãos à cintura da mulher, puxando-a para mais perto. Sentia que ia explodir todas as vezes que deixava que ela o tocasse. era uma droga. A única droga que era capaz de continuar a levá-lo para morte, apesar de ele sempre sobreviver.
Mesmo assim, a mulher ainda o matava.
Foi uma surpresa sentir o cano de sua própria pistola apontada para a sua cabeça.
– Isso não pode me matar, .
– Pode até não matar, mas quero ver se consegue andar com uma bala enfiada no cérebro.
E então ela atirou.
O barulho ensurdecedor ecoou pelo mar, fazendo com que o silêncio da manhã fosse quebrado. O corpo de caiu inerte aos pés de . Ela sabia que era apenas uma questão de tempo até que ele acordasse, então tratou de se apressar.
Sangue Negro havia se afastado de tudo e de todos e estava perdida no oceano. Começou a jogar os corpos dos mortos no mar. Primeiro os piratas que haviam invadido o seu navio e depois, com mais dor no coração, sua tripulação. Deixou Neil por último. Seus olhos ainda estavam abertos e seu corpo estava ficando branco. Ela queria chorar ou sentir alguma coisa, mas não conseguia. A dor era a única coisa que a fazia se sentir viva, porque, além dela, não havia mais nada.
Jogou o corpo de Neil no mar, junto com os outros. Eles afundaram aos poucos apenas para voltarem a boiar horas depois.
Somente estava jogado no convés ensanguentado do Sangue Negro.
tinha algo diferente preparado para ele.
Pegou algumas cordas e amarrou seus braços e pernas, antes de jogá-lo no meio do oceano. Se fosse mesmo imortal, sobreviveria àquilo. Se não fosse, teria se vingado.
Eram duas formas de sair ganhando.
Apesar de odiá-lo, ela não queria que ele morresse. fora a razão pela qual se tornara pirata. Queria caçá-lo e matá-lo e, agora que estava feito, sentiu a mesma sensação de vazio que teve quando pensou que havia o matado após tomar o seu navio.
O que acontece depois que concluímos todos os nossos objetivos?
não sabia.
Ao jogar do navio, pediu para alguém no céu que pudesse ouvi-la para ajudá-lo a sair. Não havia facilitado as cordas, mas esperava que ele fosse atrás dela.
No final, eles eram como caça e caçador. Um não existe sem o outro e a caçada e a jornada que deixavam tudo interessante.
Ela sabia que escaparia.
E, dessa vez, quando isso acontecesse, estaria esperando em uma ilha no Caribe.
Pegou o timão do navio e, com a bússola na mão, navegou para o Caribe, onde esperaria por .
E ele foi encontrá-la.
You can find another fish in the sea,
You can pretend it's meant to be,
But you can't stay away from me.
FIM
Nota da autora: Olá para você que leu essa fanfic! Foi uma ideia meio arriscada fazer uma fic com piratas, porque eu nunca tinha visto nada do gênero e sei que todo mundo estava esperando algo sobre perseguição em Animals, mas não sei! Tive que fazer algo diferente! Acabei me enrolando com os prazos, então ficou um pouco mais curta do que eu pensei que ficaria, até porque cortei algumas cenas. Também tive que colocar cenas restritas porque, gente... É ANIMALS! Talvez eu faça outra fic com piratas, porque gostei muito de escrever sobre o tema e estou com outras ideias sobre. Espero que tenham gostado!
É isso. Deixem um comentário para eu saber o que vocês acharam e leiam as outras fics do Especial, que está tão lindo quanto esse álbum ‘MALAVILOSO’ do M5!
Outras Fanfics:
→ 12. I Know Places [Ficstape 1989 - Finalizadas]
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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