Alguém me diz, por que garotas crescidas não podem chorar?
Eu posso ser fria e indiferente, mas meu coração também se parte.
Eu já fui o tipo de garota que paga pau pros menininhos bonitinhos, já fui uma Heartbreaker, já fui todo tipo de garota.
Hoje sou só uma mulher de 27 anos, médica, que tem uma vida normal pela frente.
Eu não acho que ter seu coração partido seja uma fraqueza, não acho que chorar seja uma fraqueza.
Meu coração também se parte, eu também choro.
Garotas crescidas choram.

“Tough girl in the fast lane
No time for love, no time for hate
No drama, no time for games
Tough girl whose soul aches"

Eu estava no meu carrinho preto voltando pra casa, mas o trânsito em SP é uma desgraça, então provavelmente isso ia levar algum tempo.
Sou neurologista, trabalho no hospital Sírio Libanês. Quando eu era pequena, estudei muito, muito mesmo, porque queria muito ser alguém na vida. E bom, consegui ser médica e a menina que sofreu bullying por 10 anos! Mas isso não mudou nada na minha vida, tenho amigos, sou confiante e não ligo para o que os outros pensam de mim. Acho que isso me ajudou a ficar forte.
Muito tempo depois eu cheguei à minha humilde residência branquinha e pequena. Eu moro no bairro Jardins, sim, o bairro dos ricos. Mas a minha casa é a única pequena lá. Acho um exagero ter uma casa enorme só porque tenho dinheiro, eu moro sozinha! Coloquei o carro na garagem e destranquei a porta da frente. Entrei na sala e joguei minha bolsa em cima da mesinha junto com as chaves. Na sala havia uma Tv e dois sofás, havia uma entrada para a cozinha, uma porta para o banheiro e uma pro meu quarto, que foi a que eu abri. Joguei minhas roupas no canto do quarto e coloquei um pijama. Uma regata puída e um shorts largo que chegava perto do joelho, branco.
Sentei no sofá da sala e liguei a Tv, estava passando um episódio de House que eu já tinha assistido, mas continuei vendo mesmo assim. Sinceramente, minha vida era um tédio. Fome? Não, sem fome. Mas pedir uma pizza era uma boa ideia. Peguei meu telefone e liguei para a pizzaria mais próxima.

"I'm at home on my own
Check my phone
Nothing, though
Act busy, oder in
Pay Tv, it's agony"

Para melhorar minha vida, a pizzaria estava fechada, tive que ligar em outra que eu teria que pesquisar. Enquanto meu computador ligava, resolvi abrir a garrafa de Tequila que estava no fundo de um armário da cozinha. Tomei uma dose e sentei na cadeira da escrivaninha que ficava no meu quarto. Comecei a pesquisar pizzarias próximas. Achei uma chamada Green's, mania que brasileiro tem de botar nomes em inglês! Esse nome me lembrava de alguma coisa... Peguei o telefone e escolhi uma pizza. Depois que terminei o pedido, fiquei dando uma olhada no site. O dono da pizzaria chamava Joe Green. Eu conhecia um Joe Green. Pai de uma garota que estudou comigo, ele era dono de um restaurante e essa menina, , se achava porque era um dos melhores da cidade e porque seus pais eram gringos. E sim, ela fazia bullying comigo. era uma menina metida, machista e malvada, ela adorava e fazia tudo que ele queria. achava que mandava no mundo e que todos no mundo tinham que servi-lo e fazer suas vontades. Eu costumava chamar os dois de "Casal MMM", porque eram Metidos, Machistas e Malvados. Seria muita coincidência se fosse a pizzaria do pai de .
Mais uma dose e alguns minutos depois eu estava sentada no chão da sala esperando a pizza. Meu anuário da época da escola estava no meu colo, aberto na página da minha classe do 9º ano. Não sei bem como decidi, mas quando dei por mim, já estava procurando o telefone do trabalho de e ligando para pizzaria.
- Pizzaria Green's, boa noite. - a voz do outro lado da linha falou.
- Boa noite, eu gostaria de falar com... ahn... Green, ela está? - perguntei hesitante.
- Sim, vou transferir a ligação.
Esperei que ela atendesse, o que demorou um pouco. Então o pai dela realmente era dono da pizzaria.

- Green, quem é? - uma voz adulta perguntou.
- Ahn, , oi, é, isso é constrangedor, aqui é White. - respondi gaguejando um pouco.
- White? Da escola?
- Sim. - soltei um riso nervoso.
- Wow! Faz muito tempo! - ela riu.
- Sim, muito muito tempo.
- Mas então, como você está? - ela disse animada.
- Eu to bem, e você? - eu não sabia direito o que estava fazendo, mas respirei fundo e trouxe minha confiança de volta.
- Estou sim! Está ligando por quê? Nostalgia? - disse e gargalhou em seguida.
- Ah, claro! - acompanhei a risada melodiosa dela. - Na verdade, queria saber se você não está afim de vir aqui em casa, tomar uma dose de Tequila comigo e comer a pizza que eu acabei de pedir ai!
- Sério?
- Sim!
- Eu aceito! Se você quiser posso levar a pizza quando for. - ela ofereceu.
- Bom, então já tem meu endereço haha pode vir, estou te esperando.
- Aham, estou indo agora mesmo!
- Tchau!
- Tchau!

Foi fácil.
Levantei da cadeira já com o telefone do escritório de e abri meu guarda roupa procurando algo casual e bonitinho. Optei por um vestido comprido, branco com uns detalhes pretos, nada muito chique, roupa de ficar em casa. Sapatos pra que? Eu tenho tapete em casa, já tá ótimo.

- Boa noite, quem fala? - eu me assustei com o telefone.
- Ahn, boa noite, eu gostaria de falar com . - respondi tranquila.
- É ele mesmo, quem fala?
- Oi , é White, da escola.
- ? - ele travou.
- Eu mesma! - dei uma risada fraquinha.
- Caramba! Eu não te vejo há muito tempo!
- Então vamos resolver isso! Quer vir aqui em casa comer pizza e tomar Tequila? - convidei pronta pra receber um não bem dito.
- Claro! Agora?
- Sim, aproveita que a pizza está chegando.
- Passa o endereço que vou adorar sair desse escritório! - ele riu baixinho.

Passei o endereço e desliguei. Talvez fosse bom e constrangedor. Talvez fosse ruim e constrangedor. Talvez só fosse constrangedor. Mas e daí? Todo mundo muda. Coloquei uma música da Sia baixinho e me joguei no sofá.
Cerca de 30 minutos depois a campainha tocou e eu fui abrir a porta.
- Hello! Sua pizza "chego"! [N/A: pra ficar bonitinho, é sem o "u" mesmo] Obrigada por pedir no Green's, tenha uma boa noite! - enfiou a pizza na minha frente rindo.
- Oi ! Bonita como sempre, que humilhação!
era loira de olhos verdes (irônico? Magiiiiina!), seus traços eram bem femininos, ela era alta e tinha um corpo de modelo. Estava vestindo jeans claros e uma blusinha frente única amarela, nos pés tamancos verde claro.
- Obrigada, você está linda também! - ela passou a mão que conseguiu deixar livre no meu cabelo castanho enrolado. - Que macio!
- Obrigada! - eu dei uma risadinha - Pode entrar!
Ela passou por mim sorrindo e perguntou onde era a cozinha. Sinalizei e a segui. Ela colocou a caixa em cima da mesa e virou para me dar um abraço.
- Que casa bonita!
- Obrigada!
- Quer beber alguma coisa? Tem de tudo!
- Ah, eu aceito um pouco de vodka com energético.
- Pode pegar um copo ali no armário que vou pegar a garrafa na dispensa.
A campainha tocou.
- Convidou mais alguém?
- Ah! Fica tranquila que você conhece essa pessoa! - dei uma piscadinha - Pode fazer seu copo ai, o energético tá na geladeira! - gritei da sala.
Abri a porta e dei de cara com um homem de terno e sapato social, olhos azuis, cabelo castanho curto e barba rala.
- Meu Deus! ? É você? Caramba! Você está ótima! - ele me olhou de cima a baixo e deu um sorriso lindo.
- Obrigada! Você também está ótimo! - respondi um pouco envergonhada.
Ele me deu um abraço meio desajeitado.
- ? - ouvi a voz de na sala - Posso por alguns no congelador? - ela surgiu atrás de mim.
- ? - se assustou.
- ! Nossa, eu nunca mais te vi!
- Ahn, pois é! - ele sorriu um pouco envergonhado.
- Vamos entrando, quer beber o que?
Com o rabo do olho vi que ele apertou a mão dela e depois deu um abraço curto. Ambos me seguiram pela sala e fomos todos parar na mesa da cozinha. sentou em uma das quatro cadeiras e começou a tomar seu drink. Peguei uma cerveja pra na geladeira e coloquei uns energéticos no congelador como pediu e sentei ao lado dela.
- Por que nos convidou ? - sentou ao meu lado. - Ah, nem eu sei. - respondi rindo. - Eu estava aqui, jogada no sofá assistindo Tv e resolvi pedir uma pizza. Mas descobri que a minha pizzaria favorita fechou, então procurei uma na internet e achei a pizzaria Green's que me lembrou de você, , que me lembrou do , que me lembrou do anuário da escola que me deu vontade de ver como estava a vida de vocês.
- , desculpa por aquela época, eu era uma idiota total! Juro que se pudesse voltar no tempo eu faria diferente!
- Digo o mesmo que a , me desculpe por tudo! Na verdade, eu morria de inveja de você! - corou e abaixou a cabeça.
- Sério? Por quê? - eu apoiei minha cabeça na mão direita.
-Porque você era inteligente, se dava bem com tudo mundo, seus pais apoiavam tudo que você fazia, porque tu não fazia tudo errado como eu!
- Mas pelo menos a escola inteira gostava de vocês dois! - respondi sorrindo.
- Ah, eles só fingiam, sabe, quem faz bullying com todo mundo ganha um monte de seguidores falsos. - comentou.
- Bom, vendo sua casa, o bairro que você mora e o fato de ter nos chamado aqui hoje, acho que não afetamos muito sua vida! - disse encabulado.
- Não mesmo, eu passei na faculdade, tenho amigos, estou de bem com a vida, não sou traumatizada nem nada... - respondi me levantado para buscar a garrafa de Tequila que tinha ficado na sala.
- Passou na faculdade do que? - se interessou.
- Medicina, sou neurologista. - respondi da sala.
- Caramba!
- Você faz o que ? - perguntei já de volta na cozinha.
- Eu trabalho na pizzaria dos meus pais, fui obrigada, como sempre...
Ela disse o "como sempre" meio desanimada, fiquei curiosa é claro, mas eu não preciso saber de tudo na vida dela né...
- E você ? Eu sei que trabalha num escritório, advogado? Não lembro, diz aí! - mudei o foco da conversa para "desconstranger" .
- Sim, advogado, uma droga de um advogado fracassado!
Ok, estava ficando cada vez pior! Tirei a tampa da caixa da pizza e inspirei o cheirinho de queijo.
- Alguém está afim de comer? - coloquei a tampa na frente da cadeira que estava vazia.
- Eu topo! Conheço minhas pizzas melhor que ninguém! - riu.
- Bom, se continuarem gostosas como eram na época da escola... - deu um sorrisinho.
Levantei e peguei os pratos no armário e os talheres que estavam no escorredor. Coloquei cada coisa em seu lugar e cortei os pedaços da pizza.
Comemos em silêncio, eu até tentei puxar assunto, mas sempre ficava estranho. Logo seguimos para a sala com nossas bebidas e sentamos no tapete apoiados no sofá. A Tv estava desligada e só ouvíamos os carros passando do lado de fora. O rádio que eu tinha ligado antes continuava tocando Sia ainda, a primeira música de 1000 Forms to Fear, Chandelier.
- Devíamos jogar Verdade ou Desafio. - comentou.
- Uma boa ideia, topa ? - me encarou.
- Claro!
- Eu começo, , verdade ou desafio? - perguntou.
- Hm... Verdade.
- É verdade que você não falou com seus pais durante aquele último ano que você passou fora?
- Sim.
- Por quê? - escapou da minha boca antes que eu pudesse me deter. - Desculpe! É pessoal.
- Não, tudo bem. Sabe por que eu tinha tanta inveja de você? Seus pais não te criticavam em público, eles apoiavam suas decisões, te elogiavam se você tirava um oito, isso e muitas outras coisas. Meus pais queriam eu fosse do jeito deles e bom, eu sou. Só fui embora para fugir deles, não conseguia mais aguentar.
- Ah...
- , verdade ou desafio? - ele perguntou.
- Verdade.
- É verdade que sua vida é boa? – ele deu uma risadinha.
Nesse exato momento começou a tocar Big Girls Cry, a segunda música do CD.
- Sim. Não. Não sei. Acho que sim.
Ambos ficaram me encarando com aquela cara de “ahn?”. Nem eu tinha certeza do que estava falando, mas resolvi ser sincera.
- Nem tanto. Eu sou meio solitária. – por algum motivo desconhecido uma lágrima escapou dos meus olhos. – Perdi minha melhor amiga num acidente de avião, nunca encontraram o corpo. Ela era a única pessoa que conversava comigo. Depois disso, fazer amigos virou um trabalho muito difícil, tenho medo que aconteça de novo. Eu não saio com pessoas fora do trabalho há mais ou menos dois ou três anos.
- Eu sinto muito. – afagou minhas costas.
Meu choro aumentou. Sequei as lágrimas com a barra do vestido.
- Big girls don’t cry. – sorriu.
- Fergie, sempre falando besteiras! Correção, big girls cry when their hearts are breaking. – citei.

“I may cry, ruining my makeup
Wash away all the things you’ve taken
And I don’t care if I don’t look pretty
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking”

- Eu ia pra faculdade, queria ser arquiteta. Mas não importa quantos anos eu tenho, só posso fazer o que eu quero se meus pais aprovarem. Eles me obrigaram a trabalhar na pizzaria, assim como me obrigaram a fazer tudo que eu já fiz na vida.
estava com uma cara meio... Triste. Nós três trocamos olhares e chegamos mais perto.
- Abraço grupal! – riu e nos agarrou.
Nós começamos a rir e implorar pra ele para de nos sufocar. A noite seguiu com conversas normais, confissões, comentários engraçados, coisas do gênero. Nós olhamos minha coleção de anuários, minha caixa de coisas do colégio, tudo que eu tinha da época da escola. Foi uma noite divertida e acabamos todos dançado Sia abraçados e tropeçando. Então caímos no sofá, onde desmaiou do jeito que estava. Tirei seus saltos e coloquei do lado do sofá. sentou no chão e conversou mais um pouquinho comigo, depois encostou a cabeça na perna de que estava quase pra fora do sofá e dormiu. Eu dormi com os pés no colo de e a cabeça em uma almofada que eu peguei um segundo antes de cair no sono.
Quando acordei no dia seguinte estava de pijama e na minha cama. Minha cabeça doía e minhas costas mais ainda. Segui para a sala, estava vazia, nem um sinal de que haviam dormido lá. Será que eu tinha sonhado? Não, eu não conseguiria inventar tanta coisa.
A cozinha estava limpa. Estava tudo onde devia, mas em cima da mesa havia um papel com dois números de celular anotados, com os nomes de e . Acho que finalmente consegui tocar minha vida.

“Tough girl in the fast lane
No time for love, no time for hate
No drama, no time for games
Tough girl whose soul aches
I'm at home on my own
Check my phone
Nothing, though
Act busy, order in
Pay TV, it's agony
I may cry, ruining my makeup
Wash away all the things you've taken
And I don't care if I don't look pretty
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their heart is breaking
Tough girl, I'm in pain
It's lonely at the dark
Black outs and airplanes
I still pour you a glass of champagne
A tough girl
Whose soul aches
I'm at home on my own
Check my phone
Nothing, though
Act busy, order in
Pay TV, it's agony
I may cry, ruining my makeup
Wash away all the things you've taken
And I don't care if I don't look pretty
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking
I wake up, I wake up, I wake up
I wake up, I wake up, I wake up
I wake up, I wake up, I wake up
I wake up, I wake up, I wake up
I wake up alone
I may cry, ruining my makeup
Wash away all the things you've taken
And I don't care if I don't look pretty
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their hearts are breaking
Big girls cry
When their heart is breaking”

Nota da autora: Hey! Eu estou de volta queridas! Agora são três fanfics aqui no site (que eu não tirei ainda haha)! Bom, eu amo amo amo essa música e foi muito legal participar de outro Ficstape! Conheci umas garotas nesse Ficstape e fiquei muito amiga delas, foi bom tirar dúvidas e ajudá-las um pouco. Uma “jornada” interessante e muuuuuito engraçada com a Vih Gaute, a Rafhaela Torelli, a Esther Pagani e a Lorrayne Silva do Vale! Valeu meninas! Uma fanfic meio diferente né? Sem casais e tal, mas eu acho que estão faltando fanfics sobre A-M-I-Z-A-D-E. Queria agradecer todas as meninas da equipe do FFOBS por trabalharem tanto nesse site e também implorar para vocês nunca acabarem com ele porque é muito importante pra mim e aposto que para outras garotas e garotos também! Beijos! Lah.

O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer.
Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.