Finalizada em: 07/10/2020

Prólogo

domingo, 1 de julho de 2018, 06:24 a.m., Londres


Domingo. Dia tradicionalmente monótono e tedioso. O tempo que a janela de meu apartamento exibia era cinza e chuvoso, assim como meu humor. Normalmente amava aquele tipo de clima, porém nem mesmo isso faria com que meu estado de total melancolia e inércia se dissipassem. A televisão estava ligada no canal de notícias alemão e não tinha a minha atenção, já que minha mente vagava bem distante dali. Levantei em direção ao pequeno barzinho móvel que mantinha sempre abastecido, e enchi o copo com a primeira bebida que minhas mãos conseguiram tocar.

Vodca. Esse seria o meu café da manhã naquele dia. Com o copo em mãos, decidi ir à varanda acender mais um cigarro. Já era o terceiro, e o relógio ainda nem mesmo tinha marcado 7h da manhã. Lá embaixo, a cidade ainda dormia. Do meu prédio, que ficava numa zona residencial abastada de Londres, nada ainda podia se escutar além do barulho ínfimo da fraca garoa que caía, sem pressa de chegar ao chão. Olhei meu reflexo pelo vidro das portas da pequena sacada: tons suaves que mesclavam roxo, verde e azul se destacavam embaixo de meus olhos, como uma denúncia de que eu não conseguira pregar os olhos durante a última semana; os cabelos jaziam num coque mal feito e desgrenhado, já que não havia me dado o trabalho de penteá-los. As roupas consistiam num moletom e num suéter de lã, confortável e quentinho, porém velho e surrado. Patética. Bem diferente do que a aparência que eu ostentava diariamente. Era pra eu estar feliz, não era? Assim como todas as outras vezes que em que concluíra minhas missões. Contudo, o gosto da vitória desta vez era amargo, e descia como lâminas flamejantes em minha garganta tal qual o líquido transparente que bebia.

Sou uma agente do MI6, cujos agentes tendem a ser enviados em missões especiais problemáticas, geralmente envolvendo agentes traidores ou desonestos da Grã-Bretanha ou de outros países. Em outras palavras, somos agentes treinados para fazer o que nenhum outro policial comum ousaria ou teria a permissão para fazer. Me formei sendo umas das primeiras de minha classe, tendo absorvido todo o conteúdo do treinamento com muito louvor. Com tal reconhecimento, logo fui recrutada para missões, sempre cumprindo-as com excelência. Contudo, nada me preparou para aquela missão. Nada me preparou para ele, nem para a bagunça que ele faria em minha cabeça.

Como se minha mente o tivesse chamado, a tv ainda ligada no canal alemão anunciava:


“BREAKING NEWS: O herdeiro e atual presidente da ’s Enterprises, , foi preso por suposta participação em um grande esquema de narcotráfico com sede em Munique. Seu pai havia sido acusado em 2008 pelos mesmos motivos, porém nunca chegou a ser preso. A...”



Amassei meu cigarro ainda pela metade de qualquer jeito no cinzeiro e fui novamente para a sala para absorver melhor a notícia. A tela plana mostrava usando um terno preto e óculos escuros, saindo do banco detrás de uma de suas Mercedes, indo em direção à delegacia rodeado por repórteres, fotógrafos e equipe de advogados em seu encalço. Não deu uma só declaração à imprensa.

De repente eu sentia falta de ar e meu coração batia minúsculo dentro de seu peito. Ele estava preso, enfim. Porém tudo o que ele o havia confidenciado momentos antes de eu dar minha cartada final em sua captura ainda ecoava em minha cabeça.

“E se ele realmente fosse inocente naquela história?“

“Mas ora, se ele fosse mesmo inocente, que provasse diante da justiça alemã.”

“Apesar de desconfiar que tal ação poderia não dar certo.”


Mas que droga! Desde quando se importava com o destino de um alvo depois de capturá-lo? E por que diabos seu coração afrouxava o aperto quando pensava na mínima possibilidade de ser mesmo inocente?

é acusado de participar em negociações que chegavam a mais de US$ 36 milhões em drogas e entorpecentes, que eram exportados por meio de seus inúmeros containers, juntamente com as tradicionais bebidas que a empresa produz. Inicialmente, ele ficará 20 dias em prisão preventiva.”

Odiava estar naquele estado. Sentia como se tivesse jogado todos os meus anos de treinamento e todas as noites que passei condicionando meu próprio psicológico justamente para não cair em ciladas como aquela no lixo. Nunca uma missão tinha sido tão difícil como aquela. Muito pelo contrário. Meus alvos caíam como um patinho em minhas mãos, sempre funcionava desse jeito. Agora, era eu quem estava nas mãos de .

Fechei os olhos com aquela constatação. Então seria mais um dia daqueles? Sendo assim, precisaria de mais um drink. Levantei-me em direção ao barzinho mais uma vez. Não precisaria mais de um copo. Agarrei a garrafa, cujo conteúdo já se encontrava pela metade e a virei dando goles generosos. Com certeza uma ressaca violenta a esperaria no dia seguinte: dores de cabeça insuportáveis, estômago embrulhado. Mas qualquer coisa seria melhor do que sentir o que estava sentindo no momento. A frustração vinha como ondas. Simplesmente não sabia lidar com aquele sentimento. Me deixei deitar no sofá e com minha garrafa em punho, até que adormeci, para o dia em que tudo começou. E sonhei. Sonhei com .

Sonhei com a noite em que tudo começou.


Flashback ON

quinta-feira, 18 de janeiro de 2018, 2:46 a.m. Canais do Tâmisa, Londres

Bebericava um café fumegante em meu copo térmico enquanto descia do meu carro recém estacionado na orla do rio Tâmisa, perto do local onde uma lancha de médio porte se aproximava para me levar ao mais novo QG de Londres. A neve caía espessa e já passava das 3h da manhã, o que tornava o local, normalmente tomado por turistas, deserto. Perfeito para a ocasião.
A nova instalação da inteligência britânica ficava escondido em um dos canais do rio, cuja entrada carecia da autorização de pelo menos seis pessoas diferentes até que sua porta principal fosse finalmente aberta. Quando finalmente atracaram o pequeno e tecnológico barco, fui recebida por Eve, secretária de M, general e chefe de tudo e todos daquela instituição, inclusive minha. M. Mais nada. Assim era conhecida a atual presidente do MI6. Eu nada sabia sobre ela, e duvidava que saberia algum dia. Tudo o que tinha era uma estimativa de sua idade, que chutava ser por volta de 54 anos. Duvidava também que o nome real de Eve fosse realmente este também, mas não se importava. Não era como se o meu fosse. Sorri para a mulher de beleza incontestável, enquanto ela me guiava para a sala de M, onde receberia o dossiê completo da minha mais nova missão.

— Olá, . Como tem passado? — ela me cumprimentou pelo meu codinome, enquanto caminhávamos pela instalação impecavelmente iluminada para um buraco embaixo da terra.

— Olá, Eve. — eu a respondi. — Muito bem, obrigada por perguntar.

— Como estava a costa mexicana? — mas é claro que sabiam onde passei as férias. Mas que surpresa.

— Estava esplêndida, obrigada. Vocês não conseguem desgrudar de mim nem mesmo durante minhas férias, não é? — alfinetei, brincando com Eve. Ela me olhou sorrindo ladina, confirmando o óbvio.

Continuamos caminhando em linha reta, quando avistei um grande cubo de vidro a frente. O escritório da Senhora M. Paramos em frente a uma escada de ferro composta por poucos degraus, que me levaria para o escritório.

— Ela está a sua espera. É só entrar. — Eve parou no pé da escada.

— Obrigada. — a agradeci, recebendo um aceno de cabeça antes da moça desaparecer por entre as inúmeras escrivaninhas e equipamentos eletrônicos que compunham o lugar.

Subi as escadas, finalmente entrando no cubo de vidro.

— Bom dia, M. — aproximei-me de minha chefe, que se encontrava em pé atrás de sua mesa e a cumprimentei um aperto de mão. — Sentiu minha falta? — disse num tom zombeteiro.

— Olá, . Como tem passado? — a Senhora M. me perguntou séria, porém podia ver uma pitada de divertimento em seus olhos. A vi apertar um botão que eu não havia percebido estar ali até o momento, fazendo com que a sala, antes totalmente translúcida, se tornar opaca, nos dando total privacidade. Olhei ao meu redor. Adorava ver as surpresinhas e tecnologias novas que a MI6 tirava da manga a cada vez que vinha às bases. Sentei-me na cadeira em frente à minha chefe.

— Muito bem, obrigada. — disse, sentando-me em frente à minha chefe. — Não sabe o quanto me sinto lisonjeada em saber que vocês não conseguem se desvencilhar de mim nem mesmo durante meus momentos de descanso.

— Não se vanglorie tanto, foram apenas checagens de rotina. — ela rebateu. — Entretanto, fiquei surpresa em saber quantos litros de marguerita um corpo humano consegue absorver. — ela me repreendeu sutilmente.

M estava longe de ser carinhosa, mas zelava por seus agentes como se fossem filhos. Eram raras as vezes que ela deixava aquele lado aflorar, geralmente de forma rápida e sucinta como aquela, mas ele definitivamente estava ali.

— Espero que tenha aproveitado o descanso. — ela me passou a pasta de papel com os dizeres garrafais “CONFIDENCIAL”. — Aqui está sua próxima missão.

Peguei a pasta de sua mão, abrindo-a. Logo de cara me deparei com a ficha completa da peça principal de minha investigação, como de costume, assim como a de seus familiares e amigos mais próximos.

— Seu alvo é . — ela agora apontava para a “parede” atrás de mim, com um pequeno controle em mãos, que faziam as transições necessárias entre as informações que ela me passaria. Virei-me na cadeira onde estava. A imagem de um homem e uma série de tabloides em alemão, que foram prontamente traduzidas pelo computador, mostravam que sua vida social era bastante agitada. — Há alguns anos foi descoberto que seu pai, Albert , narcotraficante, magnata e líder de vendas no ramo de bebidas alcoólicas da Alemanha para o mundo, exportava mais do que garrafas de gin e whisky em seus inúmeros contêineres. Inclusive aqui, no Porto de Londres. — agora, aparecia na tela a imagem do homem agora em questão. Sua semelhança com o mais novo era indubitável. — Contudo, por conta de sua longa lista de conexões e subornos que abrangiam até mesmo nossa admirável polícia londrina, a Scotland Yard nunca conseguira o pegar em flagrante, nem juntar provas suficientes para que prendessem o velho criminoso. — eu poderia sentir a acidez de sua entonação a quilômetros dali. A rivalidade entre a Scotland Yard e o MI6 era comparada a do FBI e CIA no Reino Unido, e era passada de geração a geração. Nunca a entenderia, entretanto. Afinal, estávamos todos do mesmo lado. — Há seis meses, com a repentina e suspeita morte do milionário, que fora encontrado pelo próprio filho no escritório de sua mansão vítima de ataque cardíaco, abraçou seu novo título com gosto, sendo ele o único herdeiro do império de sujeira que seu pai deixara para si, assumindo tanto a parte legal quanto a ilegal dos negócios da família.

Ela desligou o aparelho que formava as imagens, fazendo-me virar novamente para sua figura.

— Sua missão será juntar provas incontestáveis de que tem ligação direta com o esquema de narcotráfico que atua por meio de sua empresa. Para isso, te conseguimos uma vaga na ’s Enterprises. Você assumirá o papel de secretária do alvo.
— Secretária? Sério? — não pude evitar dar um sorriso debochado.

— Foi o único cargo próximo o suficiente do alvo que conseguimos. Aquela empresa é incrivelmente disputada no mercado de trabalho. A secretária antiga teve… imprevistos em sua vida pessoal, e infelizmente precisou largar o emprego. — sabia que aquela não era a história oficial. Honestamente, preferia nem saber. Pobrezinha. — Você terá ajuda de Garrett, um agente que está infiltrado no setor de segurança da empresa. Se precisar de qualquer ajuda, ele a atenderá. No geral, isso é tudo. O resto, cabe a você descobrir. — M terminou sua apresentação do caso. Levantei-me da cadeira, segurando a pasta em minhas mãos. — Leve o tempo necessário. Porém, o quanto antes conseguir essas informações, melhor. — ela me disse enquanto eu apertava sua mão em despedida.

— Ora querida M, por acaso alguma vez te decepcionei? — perguntei arisca. Logo após, pensei nas inúmeras possibilidades de réplica que meu questionamento abriria. Não com relação ao resultado de minhas missões, mas pelo modo como as conduzia. — Pensando melhor, não responda essa pergunta. — recolhi minhas mãos me preparando para ir embora. — Não se preocupe, M. Logo mais logo menos, este projeto de mauricinho estará devidamente numa cela.

— Boa sorte, . — a ouvi me desejar antes de fechar a porta atrás de mim. O motorista da lancha que havia me deixado aqui mais cedo já me esperava no pé da escada. Olhei para os lados procurando por Eve, mas ela já não estava mais por ali.

— Agente , te levarei de volta à superfície. Siga-me, por favor.

Obedeci ao moço, e logo estava de volta ao meu carro, e do meu carro para meu apartamento. Aproveitaria o resto daquela madrugada para descansar, já que no dia seguinte tinha um voo para Munique programado.
Que os jogos comecem.”


Flashback OFF


Capítulo 1 - Nice to meet you, where you’ve been?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2018, 8:39 a.m. Munique, Alemanha

Olhei meu reflexo no pequeno espelho que carregava em minha bolsa, checando minha maquiagem. Tudo deveria estar perfeito, pois a primeira impressão é a que ficava. Saltei no táxi, que fez sua parada em frente ao imponente prédio espelhado que se encontrava na parte financeira da cidade. ajeitando minha saia lápis, que demarcava perfeitamente pontos estratégicos de meu corpo. Meu look se completava com uma blusa de gola alta, um sobretudo para enfrentar o inverno alemão e meu imponente par de scarpins Louboutin pretos, que faziam um barulho característico no chão de mármore carrara perfeitamente polido enquanto eu adentrava o hall da empresa com confiança. Talvez eu tenha exagerado demais no look para uma simples secretária, mas quem ligava? Eu certamente não. Afinal, o salário de uma secretária de CEO não era nada singelo.

Cheguei à recepção me identificando como , nome que me fora dado para essa missão. A recepcionista analisou meus dados e me deu um crachá discreto, que eu coloquei prontamente em minha blusa. Contactou alguém no moderno telefone que jazia na mesa imensa mesa que dividia com mais duas recepcionistas, e logo uma mulher que se identificou como Mildret surgiu perto dos elevadores. Seria ela quem me orientaria naquele primeiro dia. A simpática mulher de meia idade me acompanhou até o elevador, que constatei ser privativo, e me deu instruções sobre quais seriam minhas tarefas diárias e sobre o que deveria esperar de .

— Bem vinda à Enterprises. Gostaria de primeiramente parabenizá-la por ter sido escolhida para este cargo. Algo em você deve ter chamado a atenção de . Ele leva muitas coisas em consideração na hora de contratar alguém, especialmente se essa pessoa trabalhará diretamente com ele. Por ter sido muito rápido, não conseguimos te dar atenção esperada num processo seletivo, e por isso pedimos nossas mais sinceras desculpas. — acenei com a cabeça. — Mas pude dar uma olhada em seu currículo e tenho certeza de que fez a escolha certa. Ele deve ter visto algo em você que o agradou. — mesmo sabendo que tudo aquilo tinha um dedo da MI6, era bom saber que tinha a aprovação de meu chefinho. Estava ansiosa para finalmente conhecê-lo pessoalmente.

Enquanto estávamos no elevador, em direção ao último andar do prédio, onde ficava o escritório de , Mildret me passava tudo o que eu precisava saber sobre o cargo. Minhas tarefas consistiam em basicamente manter a agenda de organizada, não o deixar esquecer de compromissos, atender telefonemas, anotar recados e afins, Deveres típicos de uma secretária. Durante nosso trajeto, Mildret se derretia em elogios para , algo que achei um tanto peculiar. Pelo o que eu sabia, ela sequer trabalhava diretamente com ele. Ou aquilo era um puxa saquismo descontrolado, ou estava fazendo um ótimo trabalho como chefe. Um barulho suave anunciou nossa chegada do elevador no andar desejado.

Ele era enorme e extremamente claro devido a riqueza de luz natural que se podia capturar por aquelas enormes janelas de vidro panorâmicas. Aquele andar era reservado apenas para os presidentes, no caso , e seu vice, Geoffrey Müller. Sua ficha não dava muitas informações sobre ele, porém sabia que era um homem de meia idade casado, que tinha três filhos já jovens e havia conquistado a confiança do patriarca , conseguindo depois de alguns poucos anos na empresa, o tão almejado título de COO.

Sendo assim, o andar era dividido em duas alas: a da ficava a oeste, e a de Geoffrey, leste. Gostou de saber que poderia ver o sol se pôr de maneira privilegiada. Sem mais delongas, Mildret me dirigiu ao meu corredor correspondente do andar, minuciosamente decorado por madeira, tons de prata e mármore carrara. Finalmente conheceria meu chefe, e o alvo de minha missão. Ou pelo menos eu achava que sim.

— Oh, me parece que o Sr. deu uma saída. — Mildret constatou depois de inúmeras chamados sem respostas provindas da sala do então diretor executivo. — Mas não há problema; vamos aproveitar esse tempo para validar suas credenciais e te colocar a par dos programas que utilizamos aqui.

Depois de quase uma hora me dando todos os aparelhos que eu deveria ter para desempenhar minha função, como um celular exclusivo para ser utilizado no trabalho, um tablet e um notebook, todos de última geração, além de todas as explicações sobre coisas que eu já sabia e sobre coisas que eu não fazia ideia, tal como utilizar aquele telefone fixo cheio de botões e os inúmeros ramais para o qual devia acionar em cada área da empresa. Pra que um aparelho com uma função simples precisava ser tão complexo? Torcia para não me perder no meio de toda aquela informação. Mildret se despediu e me deixou sozinha em meu espaço, grande demais para uma só pessoa, devo acrescentar, para explorar meus novos “brinquedos”.

Não sei quanto tempo passou enquanto eu tentava adiantar o que eu podia antes do meu chefe chegar. Queria mostrar que seria útil, De repente, escutei o barulho do elevador anunciando que alguém chegara ao andar. Ao julgar pela voz, era . Também pude notar que ele falava ao telefone com alguém.

Era como se eu pudesse sentir que ele se aproximava; meu corpo começou a dar sinais da característica carga de adrenalina de antecipava o encontro com meus alvos. Me levantei da minha mais nova cadeira para cumprimentá-lo, ajeitando minha roupa, para parecer o mais apresentável possível para conhecê-lo.

— Temos que conseguir isso, Johnny. Para ontem. — ele fez uma breve pausa antes de continuar. — Não me importa como, apenas… — Foi quando ele finalmente cruzou os metros que nos separavam, e finalmente me notou, surpreendendo-se com minha presença de modo comedido.

Uau. Agora entendia o porquê de Mildret se derreter em elogios para .
Ele em nada parecia com aquele playboy que vi nos arquivos da missão. Primeiro: ele era mais alto do que eu imaginava. Segundo: seu rosto, apesar de ser o mesmo, mostrava uma fisionomia que aparentava ser mais velha. Talvez fosse pela barba que ele deixara crescer, ou por conta de algumas linhas de expressão que agora moldavam seu rosto, o que a meu ver, apenas o deixou mais charmoso. Parece que adquirir um pouco de responsabilidade realmente fez bem a ele. Ele parou perto da parede, analisando cuidadosamente cada parte do meu corpo antes de parar nos meus olhos.

— Johnny, eu preciso desligar agora. Mas essa conversa não acabou. Te ligo mais tarde. — ele terminou sua ligação sem desgrudar os olhos de mim.

Sentia meu sangue fluir como faíscas por minhas veias, porém anos de experiência me faziam disfarçar qualquer emoção indesejada com muita maestria. Maldita adrenalina.

— Olá. Você deve ser . — se aproximou de mim, estendendo sua mão em minha direção.

— Olá, Sr. . Muito prazer em conhecê-lo. — respondi cordialmente enquanto aceitava seu cumprimento, sentindo as benditas faíscas novamente, dessa vez mais fortes na região onde nossas peles se encostaram.

— Seja bem-vinda a ’s Enterprises. — gostava da maneira como ele falava olhando nos olhos das pessoas. Sendo sincera, achava que seria o típico playboy que assume o lugar do pai na empresa e age como se fosse um completo babaca com seus subordinados. Mas parecia ser educado e respeitador, o que muito me surpreendeu.

— Muito obrigada, Sr. .

— Acredito que Mildret já te deixou a par das atividades que desempenhará — ele perguntou.

— Oh sim, ela já me inteirou de tudo. Uma mulher muito cativante. Me falou muito bem do senhor. — soltou uma risada comedida, porém sincera. Ele me parecia ser muito sério também. Outra característica diferente da que eu tinha imaginado.

— Não acredite em tudo o que ela fala. Mildret é quase parte da família, então tudo o que ela falar de mim é enviesado. — ele brincou.

Sorri o acompanhando. Depois do que pareceu tempo demais em silêncio, um analisando o outro, decidi quebrar a tensão que se instalou, pigarreando.

— Tomei a liberdade de olhar sua agenda de amanhã e organizá-la. Parecia uma bagunça. — olhou para o chão, com um sorriso sem graça. Que adorável.

— Hm, receio que tenha sido obra minha. Bridget saiu tão depressa que me deixou um pouco desnorteado.

— Tudo bem, está tudo sob controle agora. — eu afirmei. me olhava com um olhar indecifrável.

— Muito obrigada, .

— Por nada, chefe. É o meu trabalho. — ele sorriu com a menção da palavra. Então ele gostava de ser chamado assim?

— Estarei na minha sala. Se precisar de mim, é só bater.

— Ou eu posso simplesmente fazer uso desse telefone ultra tecnológico que acredito que não tenha sido barato para anunciar minha entrada.

Ele riu.

— É claro. Como pude me esquecer do telefone ultra tecnológico? — senti pelo seu tom de voz que ele estava me zoando.

— Não sei, chefe. Mas é minha função lembrá-lo, não é? — decidir alfinetá-lo de volta. Ele me olhou ainda com um sorriso nos lábios. Balançou a cabeça antes de abrir a imponente porta de seu escritório.

— Boa tarde, .

— Boa tarde, chefe.


Não sei o que me esperava daquela missão, mas podia imaginar que seria no mínimo… interessante.


Capítulo 2 - I could show you incredible things

sexta-feira, 30 de março de 2018, 7:42 p.m. Munique, Alemanha


Eu estava exausta. Era o período de fechamento de trimestre na ’s Enterprises. Pilhas e pilhas de relatórios de todos os departamentos da empresa chegavam à minha mesa, e eu seria responsável por organizá-los, além de ter que organizar toda a agenda de , que se encontrava num completo caos por conta de todas as inúmeras reuniões, presenciais e online que surgiam em forma de súplicas na caixa de e-mails do meu chefe. Se todo fechamento trimestral fosse assim, eu não queria nem ver o anual.

Durante aquele tempo, do andamento da investigação progrediu muito pouco ou quase nada. Descobri que , além de usar o computador de seu escritório, carregava um notebook pessoal para cima e para baixo. Havia tido a oportunidade de invadir o aparelho de seu escritório, com a ajuda de Garrett, que vigiava as câmeras e um dispositivo disponibilizado por hackers do MI6, que havia me ajudado a decodificar a senha de acesso, porém ele não mantinha nada de interessante para a missão ali. Ele também continuava a manter contatos telefônicos muito suspeitos com um tal de Johnny, o mesmo que ele falava no meu primeiro dia, e sempre desligava a ligação quando tinha alguém perto.

Muitas suposições, pouco progresso. Já estava ficando impaciente, precisava me mexer. Desliguei todos os aparelhos de minha mesa, já me preparando para ir embora. ainda estava em seu escritório. Ao invés de acioná-lo pelo telefone, decidi passar diretamente em sua sala. Parei em frente à sua porta e bati. Escutei liberar minha entrada. Abri a porta, colocando apenas metade de meu corpo para dentro do recinto.

— Boa noite, Sr. . Já estou de saída, o senhor precisa de mais alguma c…

O cenário do escritório de só podia ser definido como caótico. Ele se encontrava jogado num dos sofás que compunham o ambiente, rodeado pilhas e mais pilhas de papel que se espalhavam entre a moderna mesinha de centro. Acreditava que seu cujo conteúdo se diversificava entre relatórios de desempenho, finanças e contratos. Ele parecia exausto, assim como eu. Se meu trabalho, que era apenas organizar os relatórios era cansativo, imagine o dele que teria de ler todas aquelas informações?

Senti pena ao vê-lo naquela situação. O vi esfregar suas têmporas antes de me responder:

— Olá, . Está tudo bem, pode ir. Boa noite.

Ele voltou sua atenção para os papéis em sua mão. Eu, como secretária, não poderia deixá-lo daquele jeito. Além do mais, precisava me aproximar mais dele. Não poderia deixar passar aquela oportunidade, mesmo que minhas costas estivessem suplicando por minha cama.

Dei um suspiro, entrando completamente no lugar, o que o fez levantar seu olhar para minha ação. acompanhou com os olhos cada movimento do meu corpo com atenção, porém um tanto confuso com minha atitude. Caminhei em sua direção, deixando minha bolsa em cima da confortável poltrona que ficava de frente para .

— O que você está fazendo? — ele me perguntou, confuso.

— Não está claro? Estou te ajudando. — ele tirou seus óculos, que eu descobri hoje que usava (e ficava mais sexy ainda), e me respondeu:

— Não há necessidade, . Você já fez um ótimo trabalho hoje. Vá para casa e descanse.

Suspirei, tirando meus sapatos de salto e deixando-os na lateral do sofá, indo em direção ao frigobar que ficava ali. Já que descobrira que gostava de me olhar caminhando, eu abusaria desse meu poder, tendo sucesso quando senti seu olhar queimando em minhas costas, mais especificamente, um pouco inferior a elas. Abaixei provocadoramente, levando alguns segundos a mais para decidir qual bebida eu sacaria da pequena geladeira, dando tempo o suficiente para analisar-me. Decidi pegar duas garrafinhas de cerveja, e voltei-me para ele, entregando-lhe uma.

— Você prefere ficar até a madrugada aqui ou vai aceitar minha ajuda e assim poder ir pra casa mais cedo? — riu, incrédulo com meu atrevimento, mas aceitou a bebida de bom grado.

— Você é inacreditável. — ele afirmou, sem tirar seus olhos de mim. Senti meu interior estremecer com o contato daquelas írises sobre mim.

— Vou tomar isso como um elogio. — o respondi, voltando para meu lugar no sofá a sua frente. — Então, por onde começo?

— Apenas tente colocar esses contratos em ordem. Eu soltei umas folhas de alguns, então fique atenta.

— Mas você é um bagunceiro mesmo, não é Sr. ? — eu o alfinetei enquanto me abaixava para pegar algumas folhas, dando a uma visão privilegiada do meu decote. Preferia não seguir por esse caminho, mas me dei conta de que sendo apenas sua secretária, nunca conseguiria mais pistas. Ele era muito reservado no trabalho, então precisava infiltrar na sua vida pessoal. E eu não mentiria: o clichê marcava presença na minha lista de fetiches.

Além do mais, havia se mostrado completamente diferente do que imaginara. Se um dia ele já foi um playboy irresponsável que os tabloides alemães mostravam, ninguém se lembrava. Sua mudança depois da morte de seu pai era admirável. E bem, eu não seria hipócrita: aquela nova faceta de o deixara muito mais atraente. Não faria mal tirar uma casquinha.

Ele riu da minha provocação.

— Eu juro que tento não ser. É mais uma das áreas de minha personalidade que preciso melhorar — ele me confidenciou. Apesar do tom jocoso, podia sentir a sinceridade em suas palavras. Ele realmente estava se empenhando em mudar.

Eu sorri de volta, e comecei a arrumar as pilhas de papel que jaziam na mesinha. Ficamos em silêncio durante todo o tempo. De vez em quando, sentia me encarando por entre os relatórios em suas mãos. Era bom saber que despertava interesse em meu chefe. Meu trabalho seria mais fácil do que imaginei.
Enquanto organizava um maço de papéis em minhas mãos, pude notar algo diferente nos contratos. Um novo produto.

— Sr. ? — eu chamei sua atenção para mim. — Sobre o que se trata o “The Albert - 20 Years”? Receio que ainda não tenha visto em nosso catálogo.

parou por alguns segundos, como se analisasse o que poderia me falar ou não. Quando decidiu que poderia prosseguir, soltou:

— O “The Albert” é um novo produto que lançaremos em mais ou menos dois meses. O mais refinado de todos os whiskeys que já fabricamos. O nome é em homenagem a meu pai. — ele transparecia orgulho por entre suas feições comedidas. Porém, como se tivesse visto seu pior inimigo, seu rosto fechou instantaneamente. — Só é uma pena que… — ele cortou sua frase, e ficou em silêncio por alguns instantes.

— É uma pena que…? — tentei fazê-lo continuar.

— Nada. Me desculpe. O produto fará muito sucesso, eu espero. — e voltou sua atenção para os papéis. Deduzi que sua repentina mudança de humor estaria ligada a morte de seu pai. Depois de uns minutos, olhou para mim como se lembrasse de algo e me chamou:

?

— Sim, sr. ? — eu respondi.

— Como disse, daqui a uns meses ocorrerá o lançamento do Albert. Como de costume, haverá uma festa. — Gostaria de deixá-la a cargo de organizá-la. Será um lançamento importante não só para empresa, mas também para mim. Você tem se mostrado incrivelmente eficiente e prestativa, por isso sei que será a pessoa certa para me ajudar com os preparativos. — aquela confissão me pegou de surpresa.

— Oh. Fico lisonjeada, sr. . — sorri para ele, que me correspondeu. — Amanhã mesmo agendarei um encontro com uma organizadora para me auxiliar. Pode ter certeza de que será a melhor festa que essa empresa já teve.

— Tenho certeza que sim. — afirmou, sorrindo antes de dar o último gole de sua cerveja e ficamos mais alguns longos minutos em um silêncio confortável antes de eu terminar minha tarefa.

— Bom, acho que terminei por aqui. — eu disse colocando o último bolo de papel em seu devido monte.

Peguei meus sapatos, dobrando minhas pernas de modo sensual, sentindo o olhar de em cada um de meus movimentos, e calcei-os delicadamente em meus pés. Levantei meu olhar, o flagrando no ato. Ele pigarreou, olhando o relógio em seu pulso, constatando ser mais de onze horas da noite.

— Acho que também já fiz o bastante por hoje. — ele constatou. Juntou os papéis que estavam em seu redor e me direcionou seu olhar. — Onde devo colocar esse aqui? — ele me perguntou.

— Depende. Do que se trata? — eu sustentei seu olhar. Não sabia o que tinha naqueles olhos, mas era viciante olhar para eles.

— É um relatório. — ele me respondeu. Inclinei-me sobre a mesa, provocando-o novamente com meu decote.

— Ele pode ficar bem... aqui. — apontei para um dos montinhos de papel em cima da mesinha, dando um sorriso inocente para ele. Levantei-me do sofá, peguei minha bolsa e já me dirigia para a porta do escritório. — Boa noite, sr. Henrick.

— Aonde você vai? — ouvi sua voz chamar minha atenção, levantando-se do sofá.

— Vou para casa. Ou o senhor precisa de mais alguma coisa? — fiz aquela frase soar como um duplo sentido. Ele percebeu, dando um sorrisinho e balançando sua cabeça.

— Eu te levo para casa. — ele estava em pé, com suas mãos no bolso. Lindo. — É o mínimo que posso fazer depois de ter ficado até tarde me ajudando.

— Não é necessário, sr. . Eu posso pegar um táxi.

— Eu insisto. Quão indelicado de minha parte seria deixá-la arriscar-se a essa hora da noite pelas ruas desertas de Munique? — ri internamente. Se ele apenas soubesse que a coisa mais perigosa que poderia andar nas ruas de Munique àquela hora da noite era eu mesma…

— Não é problema algum pra mim, senhor… — fui interrompida por .

. Não tomarei não como resposta. — ele me respondeu, decidido.
Firme. Sexy. Não seria eu que ousaria desobedecê-lo quando ele estava sendo tão solícito e mandão. Ou talvez sim. Será que ele me puniria por isso? Parei quando minha mente começou a divagar por lugares perigosos.

— Ahn… Ok. — foi tudo o que eu consegui responder devido às imagens que começaram a se desenrolar na minha cabeça fértil.

Vi arrumar suas coisas, colocar seu bendito e inalcançável laptop dentro da bolsa de couro que deveria valer mais euros do que minha casa, e logo estávamos prontos para ir. Ao fechar a porta, senti colocar sua mão na base de minha coluna, e não a tirou dali até que chegássemos até o elevador. Dei um sorriso ladino. Significava que minhas investidas estavam dando certo e que eu não seria demitida por justa causa por assédio ao meu chefe, complicando toda a missão. M iria me matar se aquilo acontecesse. O trajeto até a garagem foi silencioso, com checando seu celular e eu arrumando meu reflexo no espelho.

— Você está ótima, senhorita . Não há com o que se preocupar. — ele deu ênfase no seu elogio, agora me encarando com seus olhos faiscantes e um sorriso de canto. Eu já não estava sozinha naquele jogo. Devolvi seu sorriso igualmente. As portas do elevador se abriram, e ele abriu passagem para que eu saísse primeiro.

— Obrigada, sr. .— Aproveitei a oportunidade para passar bem perto de seu corpo despretensiosamente sentindo-o prender a respiração no processo, e parei encarando-o enquanto o esperava apontar a direção para qual devia seguir.

Ele balançou sua cabeça, sorrindo da mesma maneira sacana de antes, e novamente colocou a mão em minhas costas, dessa vez um pouco mais baixo do que anteriormente. Chegamos até seu carro, que identifiquei ser um Bugatti Chiron. “Nossa. Parece que o tráfico de drogas estava dando bons lucros”, eu pensei. abriu a porta do carro esportivo, e entrei. Indiquei onde morava, e seguimos a viagem em silêncio. Não demorou mais de dez minutos, devido a velocidade do carro e as ruas vazias. Passei todo o trajeto pensando em como seu cheiro era bom e quão sexy ficava dirigindo, segurando aquelas mãos fortes e repletas de veias, que saltavam conforme ele apertava o volante. Quando chegamos em meu prédio, ouvi me chamar.

… Obrigado pela ajuda. Se não fosse por você, provavelmente nem sairia daquele escritório hoje.

— Não precisa agradecer, chefinho. Estarei ao seu dispor, para qualquer coisa que precise. É só me ligar. — deixei a frase com duplo sentido reverberar no ar, e me inclinei, deixando um beijo em sua bochecha. Sorri e saí do carro, caminhando em direção à entrada do meu prédio.

Sentia seu olhar queimando em minhas costas novamente, e abri o portão do prédio. Ao fechá-lo, lhe direcionei um “tchau” para por entre as grades. Pude ver rindo no interior do veículo, e arrancar silenciosamente com o carro logo depois.

Subi para meu apartamento, me sentindo exausta. Corri para um banho, pensando sobre a festa que teria que organizar e no andamento da missão. Precisava arrumar um jeito de invadir o computador de . Provavelmente ele também estaria repleto de senhas, talvez até mais complicadas que as do trabalho. Era hora de colocar os técnicos e hackers do MI6 para trabalhar mais uma vez.
Também seria bom que eu conseguisse ter acesso a sua casa. Havia passado em frente à rua, que era repleta de mansões parecidas, e constatei ser impossível de invadir o lugar, que parecia ser repleto de alarmes e câmeras a cada metro quadrado. Além do mais, depois da morte de seu pai, havia contratado um batalhão de homens para aumentar a segurança.

Foi aí que tive uma brilhante ideia: fazer a festa de lançamento na mansão de . Ali teria a oportunidade de explorar seus cômodos, seus aparelhos, e tudo mais que conseguisse. Terminei meu banho sentindo-me satisfeita com os planos que começara a fazer. Não via a hora de poder pô-los em prática. Coloquei um pijama, e me deitei em minha cama, adormecendo logo em seguida devido ao cansaço pelo dia cheio que tive.



Capítulo 3 - Magic, madness, heaven, sin

sexta-feira, 11 de maio de 2018, 6:50 p.m. Munique, Alemanha


Os preparativos para a festa de lançamento estavam a todo vapor, pois faltava apenas uma semana para que ela acontecesse. havia aceitado minha ideia com muita facilidade, depois de ouvir meus argumentos sobre como o produto era especial por se tratar de seu pai, que havia pensado numa comemoração mais intimista e blá, blá, blá. Ele havia caído direitinho no meu jogo.

Faltavam apenas dez minutos para o fim do expediente, e decidi acertar os últimos detalhes da festa com . Devido à loucura do escritório com o lançamento do novo produto e com os preparativos da festa, passamos mais tempo juntos do que o costume. A noite em que passei ajudando-o no escritório se repetiu por várias vezes, e acabamos criando um vínculo menos formal, com direito até mesmo a piadinhas internas. Descobri que por baixo daquela postura responsável e melancólica, havia um sensível e brincalhão que aparecia vez em quando. Era bom vê-lo baixar sua guarda. Pelo bem da missão, é claro.

Além de tudo estávamos cada vez mais… próximos, uma vez que só nos provocávamos o tempo inteiro. Por vezes achava que iria explodir e agarrá-lo a qualquer momento, porém seguia firme com aqueles joguinhos. Não seria eu a primeira a ceder.

Bati na porta de meu chefe, recebendo sua confirmação para que eu entrasse logo em seguida.

— Boa noite, sr. . Gostaria de saber se o senhor estaria disponível para decidir os últimos detalhes da festa.

— É claro. — ele fez um sinal para eu me aproximasse de sua mesa.

Contudo, ao invés de sentar-se nas cadeiras que ficavam em frente à sua mesa, decidi contorná-la ficando ao seu lado, e colocar os papéis que precisava mostrá-lo bem a sua frente. Joguei meus cabelos para trás do meu pescoço e me abaixei, apoiando uma mão no encosto da cadeira de e a outra assinalando com uma caneta o que eu estava falando. surpreendeu-se com minha ousadia, mas era óbvio que não me repreenderia. Muito pelo contrário. Estava adorando aquilo.

— Então, sr. , tudo está programado para chegar a sua casa às sete da manhã para começarmos os preparativos. — eu aproveitaria aquele tempo para investigar o máximo possível.
tentava manter sua atenção no papel a sua frente e em meus olhos, mas não podia evitar dar rápidas olhadas em meus seios, já que estavam praticamente na sua cara. Eu podia ser bem cruel às vezes.

— Uhum. Está perfeito para mim. — ele respondeu, desta vez deixando claro que se referia não somente aos preparativos da festa, conforme a olhada demorada que lançou ao meu busto, e o olhar penetrante que me lançou logo depois. Senti minha nuca arrepiar com aquele gesto, mas segui como se não tivesse me abalado com o ato.

— Oh, e mais um detalhe importante. O senhor pediu-me para guardar um lugar ao seu lado na mesa de jantar, porém não me mandou o nome do convidado. Ou convidada. — me inclinei ainda mais sobre a mesa, mostrando o lugar que a pessoa deveria ocupar. — Seria indelicado fazer o convite para a pessoa tão em cima da hora. E além do mais, preciso do nome para que seja feita as especificações corretas dos lugares na mesa.

Ele olhou profundamente em meus olhos.

— Achei que com tudo o que vêm acontecendo nesses últimos meses, achei que estaria claro quem me acompanharia nesse jantar. — logo senti sua mão, que antes repousava sobre o encosto de braço ao lado de meu corpo, deslizar para minha cintura.

Respirei fundo, tentando manter uma postura desentendida.

— Ahn, me desculpe sr. . Não entendi o que quis dizer... — ele soltou um sorriso incrédulo.

— Então deixe-me ser mais claro…

De repente senti sua mão, antes na minha cintura, deslizar para a base das minhas costas...

— O que quis dizer, srta.

Sentia seu hálito mentolado aproximar-se de meu rosto. Suas mãos continuaram seu caminho perigoso, e pararam em cima da minha bunda.

— É que você será minha acompanhante para o jantar de lançamento.

E terminou sua frase, deixando um generoso apertão no local. Inevitavelmente, fechei meus olhos e mordi meus lábios. Meu corpo me traía descaradamente, num protesto claro de que sentia falta de atenção daquele tipo. sorriu satisfeito com minha reação. Ele finalmente havia cruzado aquela linha. E eu não ficaria para trás.

— Me desculpe, srta. . Eu fui indelicado?

Abri meus olhos, encarando de volta aquelas írises pecaminosas com a mesma intensidade e desejo que elas me transmitiam.

— Oh, nem um pouco, chefe… — respondi delineando sua mandíbula com as unhas. Aproximei-me de seu ouvido e sussurrei:

— Só espero que eu não seja, enquanto estiver fazendo isso.

Me aproximei de lentamente, sentindo meu coração bater tão forte que quase conseguia escutá-lo. Fechei meus olhos, finalmente encontrando seus lábios num selinho, e descobri que eles eram tão macios como aparentavam ser. capturou vagarosamente meu lábio inferior com seus dentes, apertando-os na medida certa para fazer arrepiar todos os pelos de minha nuca.

Iniciamos um beijo lento, porém repleto de lascívia, e logo senti suas mãos, que ainda dava generosos apertões em minhas nádegas, me guiarem até que eu ficasse frente a frente a ele. Entendendo seu recado, coloquei uma perna em cada lado de seu corpo, sentando-se em seu colo. Minha saia subiu com o movimento, fazendo com que minhas coxas ficassem exageradamente expostas, e não perdeu a oportunidade de passear suas mãos sobre elas, acariciando-as e apertando-as, numa eterna indecisão entre elas. Já as minhas mãos alternavam-se entre seus ombros largos, que percebia ser trabalhado de músculos por debaixo daquele paletó perfeitamente alinhado. Sem parar de beijá-lo, já começava a perceber minha intimidade pulsar devido às intensas provocações extremamente vagarosas, porém deliciosas.

resolveu voltar sua atenção para meu pescoço e colo, desviando seus beijos para aquela região. Eu usava uma blusa em decote ’v”, o que facilitou o trabalho de , que apenas empurrou o tecido para o lado vislumbrando meu seio coberto por um sutiã de tecido preto fino e transparente. Ele deu um sorriso nada casto para a peça aprovando-a, e começou a depositar beijos e dar leves mordiscadas sobre aquela região. Seu hálito quente em meus mamilos fazia todos os pelos do meu corpo se eriçarem, e eu já não conseguia evitar que gemidos, apesar de contidos, saíssem por entre meus lábios. finalmente resolveu afastar meu sutiã para o lado, cansado de provocar-me, e tomou um de meus mamilos em seus lábios, ao mesmo tempo que suas mãos seguravam e apertavam meu outro seio com desejo. Sua língua contornava meu mamilo de uma maneira deliciosa, e não pude evitar que um gemido mais audível escapasse por entre meus lábios.

Coloquei minha mão em seus cabelos, puxando-os, dessa vez com certo empenho, enquanto rebolava lentamente em seu colo, sentindo seu membro já dar sinais embaixo de mim. Foi quando ouvimos batidas na porta.

? Você está aí? — escutamos a voz do vice-presidente chamá-lo. Rapidamente saí de seu colo ajeitando minhas roupas, e fazia o mesmo. Fiquei parada ao seu lado, esperando que confirmasse a inconveniente entrada de Geoffrey Müller na sala.

— Sim, Müller. Pode entrar. — liberou sua entrada e eu permaneci parada ao seu lado.

Geoffrey pareceu não perceber o que acontecia segundos antes de sua chegada. virou-se para mim.

— Está tudo certo então? — perguntou-me, e eu percebi em seu olhar que ele se referia tanto aos preparativos quanto ao nosso… momento. Geoffrey checava algo em seu celular.

— Sim, sr. . Era só isso. — respondi sua pergunta, dando um discreto sorriso ao final de minha frase. — Bom, vou indo então. Até amanhã. Boa noite sr. Henrick. Sr. Müller. — cumprimentei o vice-presidente, recebendo apenas um aceno de cabeça.

— Boa noite, . — ouvi despedir-se.

Saí do escritório, passando no banheiro antes para checar meu estado. Olhei-me no espelho, colocando alguns fios de cabelo no lugar. Agradeci por Geoffrey não se importar com sua existência, caso contrário teria notado suas bochechas intensamente coradas e sua blusa desalinhada. Pensei no que havia acontecido minutos antes da interrupção do COO. Caso ele não tivesse aparecido, tinha certeza de que estaria transando com agora. Senti um arrepio cortar minha pele. Por incrível que pareça eu não me sentia culpada, como acontecera em outras missões em que precisei apelar para a sedução do meu alvo. Muito pelo contrário. Poderia arriscar que até estaria gostando demais daquela situação.

Um sentimento de pânico apossou-se de meu rosto. Precisava lembrar com quem estava lidando. Um narcotraficante. Um homem respeitoso, educado e incrivelmente gostoso, porém ainda um criminoso. Meu alvo. Estava prestes a sair do banheiro do andar, tendo me recomposto quando notei a gritaria que vinha do escritório de . Geoffrey e ele discutiam feio dentro daquele ambiente, e eu precisava saber o motivo daquele desentendimento. Escondi-me atrás da porta do banheiro feminino, quando ouvi o que parecia ser a porta de sendo aberta abruptamente por um Geoffrey nada calmo, falando um tom mais baixo, porém irritado:

— Se isso não for feito, não só você, mas como toda a empresa sofrerá grandes consequências, . É melhor tomar a decisão correta. — e bateu a porta, causando um estrondo. Pude ouvir seus passos se afastarem em direção à outra ala do andar, e o barulho de quebrando alguma coisa soou em seu escritório.

Esperei uns segundos antes de pegar minha bolsa e me dirigir silenciosamente ao elevador. Não podia arriscar que nem Geoffrey me vissem. Consegui chegar ao térreo sem ser descoberta e peguei um táxi, pensando nas palavras de Geoffrey.


Ele estava ameaçando ?


Capítulo 4 - New money, suit and tie

sábado, 19 de maio de 2018, 7:06 a.m. Munique, Alemanha


Finalmente o dia da festa de lançamento havia chegado, e com ele o dia mais arriscado (e talvez mais produtivo) desde o início da missão, há cinco meses atrás. M já se encontrava inquieta esperando que as coisas já estivessem mais adiantadas, mas não havia muito o que fazer na empresa. Precisava ter acesso a casa de . Com aquela questão já resolvida, tudo estava se encaminhando para que eu conseguisse as informações necessárias e assim concluir minha missão.

Felizmente, devido à nossa produtiva reunião na semana passada, consegui que ele me desse mais liberdade para questionar assuntos referentes à empresa, e até mesmo sobre seus assuntos pessoais, quando ele se pegava compartilhando informações esporádicas sobre sua vida e sua família. Era incrível o que provocações sexuais bem feitas conseguiam fazer. Nossa relação, que antes era estritamente profissional, agora havia evoluído para algo que eu não sabia rotular, mas que agora me dava muito mais recursos para investigar e seguir com a missão. Ele havia me liberado para chegar a sua casa mais cedo para que eu “acompanhasse os preparativos da festa”, e sugeriu que eu me arrumasse por lá. Ótimo. Quanto mais tempo conseguisse dentro daquela mansão, melhor.

Ouvi o porteiro dar permissão para que o táxi pudesse adentrar a fortaleza pelo imponente portão de ferro preto, que ostentava um enorme “H” em tons dourados, me surpreendendo com cada detalhe enquanto passávamos pelo caminho que nos levaria até a entrada. Durante o trajeto, choquei-me em como aquele lugar gritava riqueza em cada canto em que olhasse: a pequena estrada era decorada por arbustos e árvores impecavelmente podadas e bem alocadas, além de mini lagos que me lembravam o castelo de Versailles, na França.

Logo estávamos parados em frente a suntuosa porta de entrada da mansão. Desci do táxi um pouco atrapalhada com minhas bolsas e meu vestido, que estava coberto por uma capa, e logo percebi um homem de terno vindo em minha direção, acompanhado de mais dois seguranças, que estavam parados atrás dele.

— Bom dia. Você deve ser a senhorita . — ele me cumprimentou, abrindo um sorriso educado.

— Bom dia. Sou eu mesma. — o respondi, devolvendo o sorriso.

— Eu sou Harrison. Posso ajudá-la com seus pertences?

— É um prazer, Harrison. Pode sim, por favor — Harrison deu permissão para que os outros homens pegassem minhas bolsas e meu vestido.

— O prazer é todo meu. O sr. precisou sair para resolver pendências essa manhã, mas me deu ordens para que a senhorita seja alocada no quarto de hóspedes.

Adentramos a mansão. Sua entrada enorme ostentava um majestoso lustre, num dos maiores pé direitos que já havia visto na vida, e o chão era feito de mármore de tom claro, assim como todo o resto da mansão. Ali também tinha duas escadas, uma em cada canto das paredes, formando um “c” que nos levaria ao segundo andar. Harrison indicou-a para que eu subisse.

— Você terá um maquiador e um cabeleireiro à sua disposição. Quando decidir que é a hora de arrumar-se para a festa, avise-me, e eles irão ao seu encontro.

— Oh… — exclamei, surpresa. — Não há necessidade, Harrison. Eu posso me arrumar sozinha.

— Estou apenas seguindo as ordens do sr. , senhorita. Posso cancelar, se a senhorita quiser. Mas se aceita minha opinião, são ótimos profissionais. — Assenti, sem graça. Não esperava por aqueles mimos.

Chegamos ao segundo andar da residência, e me deparei com um corredor enorme, repleto de portas. Harrison me dirigiu para a segunda porta dupla do corredor, abrindo-a para que eu passasse, seguida dos seguranças.

— Fique à vontade para se instalar. Me chame quando tiver acabado, te mostrarei a casa e a levarei até a organizadora.

— Ok, Harrison. Muito obrigada. — ele sorriu, fechando a porta atrás de si.

Assim que constatei que estavam longe, abri a pequena mala de viagem que havia trazido comigo, tirando de dentro uma ainda menor, de cor prateada, checando seu conteúdo mais uma vez. Ali continha os equipamentos solicitados por mim ao MI6: um dispositivo, que eu teria de instalar na parte elétrica da casa, para que os hackers do MI6 pudessem desabilitar todas as câmeras e alarmes necessários fazendo com que fosse possível que eu finalmente tivesse acesso ao escritório de , já que aquela casa havia se tornado praticamente um cenário de reality show devido a quantidade de câmeras por metro quadrado, e um pendrive, que assim que fosse plugado ao computador, acionaria um malware imperceptível que me permitiria acessar todos os dados do computador quando eu bem entendesse.

Peguei o pequeno dispositivo, colocando-o no meu bolso, e guardei o pendrive de volta na pequena maleta, cuidando para que ficasse bem escondida no fundo de minha mala. Desci e encontrei Harrison, que me mostrou toda a residência, levando alguns longos minutos para que completasse todo o tour. Ao passarmos pela adega no subsolo, me atentei ao imenso painel de energia que eu teria de sabotar mais tarde. Tentei guardar em minha memória onde ficava o escritório de e seu quarto, que eram os lugares que mais me interessavam, torcendo para que eu não me confundisse entre as inúmeras portas que aquele lugar tinha, quando ele finalmente me indicou onde a festa aconteceria. Não consegui segurar minha exclamação quando descobri que seu “jardim” e sua propriedade contavam quase um hectare quadrado.

Assim que consegui que Harrison me deixasse, fingi me importar com a decoração da festa enquanto discutia detalhes irrelevantes com a organizadora, logo depois dando a desculpa de que precisava checar as bebidas do evento. Me dirigi à entrada da adega sem levantar suspeitas, e adentrei o lugar rapidamente quando percebi que o corredor ficara vazio. Liguei o flash de meu celular para enxergar as escadas: não ligaria a luz para que não levantassem suspeitas de que eu estava ali. Quando finalmente cheguei ao subsolo, fui direto ao ponto que havia avistado mais cedo, abrindo a porta que protegia todo aquele amontoado de cabos.

Saquei o dispositivo do meu bolso. Pelo o que eu havia visto nas instruções que vieram juntamente com a maleta prateada, bastava que eu conectasse o artefato em uma daquelas entradas, e meu trabalho ali estaria feito. Operá-lo seria trabalho do MI6, e estariam à minha disposição enquanto aquela festa durasse. Desbloqueei meu celular, enviando uma mensagem codificada para avisá-los que o dispositivo já estava pronto para ser ativado. Depois de alguns segundos, vi pequenas luzes começarem a piscar. Sorri satisfeita fechando a portinha do painel. Refiz meu caminho e logo após me certificar de que não havia ninguém, surgi novamente no corredor como se nada tivesse acontecido.


-------- sábado, 19 de maio de 2018, 5:17 p.m. Munique, Alemanha ---------



Já passava das cinco da tarde, e logo os convidados começariam a aparecer. não havia aparecido até o momento, então eu decidi subir para o quarto de hóspedes e começar com minha arrumação. Não dispensei o cabeleireiro, muito menos a maquiadora: havia passado toda a manhã e parte da tarde correndo pelo infindável gramado que a parte detrás da casa de ostentava, confirmando se as coisas estavam em seu devido lugar. Já estava exausta. Tomei um demorado banho quente no luxuoso banheiro de hóspedes, e saí trajada apenas de minha lingerie e um roupão. Peguei minha escova de cabelo e comecei a penteá-los, quando escutei batidinhas na porta.

— Pode entrar. — liberei a entrada, esperando os profissionais entrassem, mas me surpreendi quando passou pela porta. Usava uma blusa de manga longa e uma calça jeans, e parecia bem mais confortável e a vontade sem suas roupas formais.

— Olá, srta. Benn… Oh. — ele exclamou e parou de caminhar quando viu o que eu vestia. Ou melhor, o que eu não vestia.

— Olá, sr. . — fingi a maior naturalidade do mundo enquanto encarava meu chefe, seminua.

— Você…— ele fitava minha figura, incerto sobre o que fazer. — Quer que eu volte mais tarde?

— Hm… não vejo necessidade. Não é como se o senhor nunca visto pelo menos um pouco do que está embaixo desse roupão. — nos encaramos, sorrindo maldosamente. Ele adentrou mais o quarto. — Estava se escondendo de mim?

— Eu nunca seria capaz de me esconder de você. — Senti minhas bochechas queimarem, e voltei minha atenção para meu próprio reflexo no espelho a minha frente. — Apenas tive um imprevisto que acabou durando horas. Mas pelo o que pude perceber, fez um ótimo trabalho com a decoração. Parabéns, senhorita .

— Obrigada, sr. .

Podia sentir a tensão sexual nos rodeando como uma névoa densa. Eu voltei a pentear meu cabelo em frente ao espelho, quando vi o reflexo de lentamente pôr-se atrás de mim com as mãos em seus bolsos, porém ainda mantendo certa distância. Nos encaramos através do espelho pelo o que pareceram longos segundos, e eu senti minha pele arrepiar-se com o olhar repleto de desejo que ele me lançava. Mas eu notei que tinha algo a mais ali. Algo diferente. Admiração, talvez? Eu nunca saberia. Aquelas perigosas íris guardavam mais segredos do que eu jamais poderia imaginar.

Mas a possibilidade de poder desvendar alguns fazia com que meu corpo borbulhasse em excitação.

Você só vai ficar aí parado olhando? — Eu o provoquei, olhando-o através de seu reflexo.

Aproveitando minha deixa, se desfez de todo o seu cavalheirismo e auto controle e avançou em minha direção, tomando-me num beijo que, diferente do primeiro, era feroz e cheio de necessidade. Virei-me de frente para ele largando a escova de cabelo no chão, e senti uma de suas mãos em meus cabelos, puxando-os com vontade, enquanto a outra segurava minha cintura com uma firmeza que fez minhas pernas bambearem.

Minhas mãos espalmavam seu peitoral forte, seus braços rígidos e seu pescoço numa eterna indecisão, e, com todo aquele movimento, senti o aperto do nó de meu roupão afrouxar-se, fazendo com que a peça se abrisse completamente. Balancei calmamente meus ombros para trás, afastando minhas mãos de por meros segundos, porém sem cortar o beijo, e deixei com que a peça se esparramasse no chão, ficando apenas com minha roupa íntima. não perdeu tempo, tomando minha bunda em suas mãos na primeira oportunidade que encontrou.

Com o placar desigual, já que ele estava completamente vestido e eu apenas de calcinha e sutiã, decidi puxar sua blusa para cima finalmente revelando seu tórax, que descobri ser perfeitamente esculpido. Larguei a peça no chão, espalmando minhas mãos em seu tórax perfeitamente esculpido. Senti forçar meu corpo para cima fazendo com que minhas pernas se entrelaçassem ao redor de seu tronco e ele caminhou até a parede mais próxima, apoiando meu corpo nela, fazendo com que minha intimidade, apenas protegida pelo fino pano da calcinha, entrasse em contato com a sua já rígida.

Suas mãos passeavam sem nenhum pudor por cada pedaço de pele que conseguia tocar, assim como as minhas. Estava me perdendo naquele homem, e sinceramente, não queria saber o caminho e volta. Pelo menos não tão cedo. Foi quando, pela segunda vez, ouvimos leves batidas na porta, seguidas pela voz de Harrison.

— Srta. ? A cabeleireira e o maquiador já estão prontos para atendê-la.

Não podia acreditar na nossa má sorte. Parecia o destino me avisando de que uma vez que eu cruzasse aquela linha com , eu estaria perdida. Antes eu tivesse escutado. O ouvi soltar um grunhido baixo, também decepcionado com mais uma interrupção. Desci de seu colo, obviamente desapontada.

— Tudo bem, Harrison. Aguarde só um minutinho, por favor — respondi ao mordomo da mansão .

Virei-me para ainda com a mão em seu pescoço, e lhe dei um demorado selinho, que foi prontamente retribuído e devidamente finalizado com uma mordida em meus lábios, dada por ele. Desgrudamos nossas bocas, dando um sorrisinho frustrado, e começamos a buscar nossas roupas: ele colocou de volta sua blusa e eu acabava de amarrar meu roupão. Olhava meu reflexo no espelho numa tentativa falha de parecer mais apresentável para os profissionais que me aguardavam do outro lado da porta, quando senti colocar a mão em meu pescoço virando-me delicadamente para ele, que me encarava daquele jeito que fazia com que meus neurônios pifassem por alguns milissegundos.

— Isso ainda não acabou. — ouvi sussurrar em meu ouvido. Senti o já familiar arrepio correr por minha pele, sorrindo para ele em resposta.

O vi abrir a porta e deparar-se com Harrison, que se desculpou com o patrão por qualquer inconveniente que tenha causado. Não pude ouvir a resposta de , já que o cabeleireiro e a maquiadora já haviam entrado no ambiente, fechando a porta para iniciar seus respectivos trabalhos. Me encaravam com aprovação, como se soubessem de tudo o que havia acontecido naquele quarto minutos antes de aparecerem, porém nada comentaram.

— Boa noite, srta. , — o homem começou — eu sou Martin e essa aqui — disse ele apontando para a moça que agora me acenava — é Hailey. Nós seremos os responsáveis por deixá-la deslumbrante esta noite.

— É um prazer para mim ser cuidada por vocês por vocês hoje. — os respondi, recebendo sorrisos contentes de volta.

— E então, — ele continuou enquanto revirava sua enorme maleta — o que tem em mente para sua produção?



Capítulo 5 - Darling, I’m a nightmare dressed like a daydream

sábado, 19 de maio de 2018, 7:49 p.m. Munique, Alemanha


Olhei minha imagem no espelho. Estava mais que satisfeita com o resultado final de minha produção. Hailey e Martin já haviam saído a alguns minutos, deslumbrados com o trabalho que haviam feito aquela tarde, e eu fui deixada a sós para arrumar últimos detalhes para finalmente estar pronta para descer para a festa. Coloquei as joias que havia escolhido para aquela ocasião, passei um perfume especial e saquei a pequena bolsa-carteira preta, deixando-a aberta na cama enquanto pegava os objetos que comporiam o seu interior naquela noite: um batom, meu celular, e o pendrive, o mais importante entre todo o resto de meus pertences.

Chequei meu reflexo mais uma vez antes de abrir a porta e passar pelo corredor, fazendo o trajeto que me levaria ao piso térreo. Quando parei no topo da escada, foi como se parte da festa, que já se encontrava moderadamente cheia, tivesse parado para me ver, com direito a cochichos e burburinhos; pude vislumbrar algumas faces analisando-me. Umas conhecidas e outras nem tanto; uns com desdém, outros admiração, outros pareciam ser um misto dos dois. Naquele momento, me senti a própria Cinderela chegando ao baile do príncipe encantado. Porém com algumas ressalvas:

Primeiro, meu vestido, apesar de ser lindo, em nada parecia com o de uma princesa: as saias cheias, rodadas e esvoaçantes foram substituídas por um vestido de mangas longas de tecido preto, bordado com pedras que brilhavam a cada movimento que eu fazia. A peça havia sido feita sob medida para se ajustar perfeitamente ao meu corpo: contava com uma fenda lateral que cortava até o meio de minhas coxas, e ainda um generoso decote em minhas costas, que não eram cobertas até a base de minha coluna. Era proporcionalmente elegante e sexy, perfeito para o que eu buscava. Minha maquiagem consistia em tons terrosos que destacavam meu olhar, e meus cabelos caíam soltos em ondas bem feitas pelo babyliss de Martin.

E segundo… Bem, meu príncipe encantado estava na verdade mais chegado para o papel de vilão da história. O vi desvencilhar-se do pequeno grupo com quem socializava e vir em minha direção, alcançando-me enquanto eu descia os últimos degraus da escada. Pegou minha mão direita e depositou um beijo em seu dorso, num gesto exageradamente cavalheiresco e antiquado para o nosso século.

— Srta..

— Sr. . — ele estendeu o braço para que eu o acompanhasse pela festa. O recinto já estava cheio, e os convidados pareciam satisfeitos.

— Se me permite o elogio, está absolutamente deslumbrante essa noite.

— Obrigada, sr. . Também não está nada mal — provoquei-o brincalhona, enquanto pegava uma taça de champagne na bandeja de um dos garçons que passava por ali

— Nada mal? — ele sorriu com meu ultraje proposital, acompanhando-me no drink.

A verdade era que ele estava encantador com seu smoking preto e sua barba recém-feita. Mas não daria a ele o gostinho de dizê-lo isso com todas as palavras: ele já sabia.

— Sim. Nada mal. — lancei-lhe um olhar provocante enquanto dava um gole de minha taça, sendo retribuída.

Passamos praticamente toda a festa juntos, com me guiando por entre a multidão, com uma das mãos sempre pousadas no lugar que ele mais gostava: a base de minhas costas. Não era à toa que havia escolhido aquele modelo de vestido. Com o decote, podia sentir melhor seu toque.

me fazia cumprimentar alguns convidados importantes, me apresentava como sua “amiga”, e fazia questão de enaltecer meu trabalho como organizadora da festa para todos com quem mantínhamos uma conversa de mais de cinco minutos.

Quando o coquetel foi encerrado, os convidados foram instruídos a dirigirem-se à aos jardins, onde o jantar seria servido. Durante a sobremesa, o tão esperado The Albert foi servido aos convidados. levantou-se e se dirigiu ao pequeno palco antes ocupado pela banda para discursar sobre o produto, que foi desenvolvido em homenagem ao seu pai. Foi veementemente aplaudido pelos convidados, alguns chegando a emocionar-se com suas palavras. Logo em seguida Geoffrey também discursou, com acompanhando-o com os punhos fortemente cerrados. Não sabia o que havia acontecido de tão grave entre os dois para que houvesse tamanha inimizade, e pelo visto, nem descobriria. Assim que tivesse acesso ao computador de , minha missão estaria terminada, assim como o meu vínculo com todas aquelas pessoas.

Sentia-me estranha. Algo dentro de mim não conseguia aceitar que comandava aquele esquema sujo. Ele parecia se importar genuinamente com a empresa, havia mudado seus hábitos e se tornado um ótimo gestor. Por que jogar tudo fora? Não acreditava que seria por conta de dinheiro. A empresa faturava bem sem o tráfico de drogas, eu havia constatado nos inúmeros balanços que havia lido em uma de minhas escapadas para o escritório de . Então pra quê? Por quê?

Logo após os discursos, a banda voltou para o palco e os convidados, já altos pelos inúmeros copos de bebidas que haviam ingerido, se divertiam na pista. De repente, os músicos começaram a tocar uma melodia lenta, e me chamou para dançar. Sussurramos provocações, ríamos discretamente dos convidados já ligeiramente bêbados, trocávamos olhares cheios de significados que não sabíamos o que significavam, mas simplesmente não conseguíamos evitar. Eu estava com a cabeça apoiada em seu ombro enquanto nos balançávamos em silêncio no ritmo da música, enquanto eu pensava que seria o homem perfeito se não estivesse envolvido naquele monte de merda. Logo lembrei que estava na vida real, e como já havia constatado antes, príncipes encantados não existiam, e eu não era uma princesa. Muito pelo contrário. Era uma agente. E precisava finalizar minha missão.

A música ia anunciando seus últimos acordes. Desvencilhei-me do abraço de , dando um pretexto para finalmente pôr meu plano em prática:

— Esses sapatos estão me matando. Acho que vou trocá-lo.

— Você trouxe outro? — perguntou-me.

— Sim, estão no quarto.

— Deixe que Harrison pegue para você.

— Não é necessário, deixe o homem descansar. Eu posso pegá-los sozinha. — tentei convencer , suplicando para que ele aceitasse aquelas desculpas e me deixasse ir.

Comemorei internamente quando o vi assentir com a cabeça. Dei-lhe um beijo na bochecha antes de ir em direção ao interior da mansão. Peguei minha bolsa, que jazia em cima da mesa que estávamos antes e segui meu caminho, não sem antes avistar dançando divertidamente com Mildret, a moça que me recebera em meu primeiro dia na empresa. Sorri involuntariamente com a cena.

Quando já estava afastada o suficiente da multidão, mandei uma mensagem codificada que desativaria todas as câmeras que eu aparecesse, para que não fosse pega enquanto invadisse o escritório de . Adentrei a mansão, cujo movimento agora se dava apenas pelo entra e sai esporádico de garçons, e subi as escadas tomando cuidado para que ninguém me visse.

Já no segundo andar, direcionei-me para a porta que me levaria até o escritório de , cuja porta encontrava-se trancada. Já prevendo tal situação, usei minhas habilidades aprendidas na academia e destranquei-as, liberando meu acesso ao recinto. Em cima da luxuosa mesa, pude observar o computador de . Suspirei aliviada por não ter que procurá-lo nos outros cômodos da casa.

Contornei a mesa, ligando o aparelho. Saquei o pendrive em minha bolsa, que rapidamente decodificou a senha de , e o malware começou a ser instalado. A adrenalina corria em minhas veias. Como eu sentia falta de momentos como aquele! Depois de minutos, que pareceram horas devido à minha ansiedade, uma luzinha verde piscando no pendrive finalmente indicou que o programa havia sido instalado com sucesso.

Puxei o dispositivo, desligando o computador e deixando-o do jeito que eu o encontrei. Tratei de sair rapidamente do recinto, tomando cuidado de fechar a porta da mesma maneira que havia aberto, e segui para o quarto de hóspedes. Arranquei meus sapatos, guardando prontamente o pendrive na maleta que jazia no fundo da minha mala, fechando-a. Estava terminado, enfim. Assim que eu chegasse em casa e tivesse acesso aos segredos de , estaria acabado.


Eu não poderia deixar de me despedir apropriadamente.



Saí do quarto, ainda tomada pela adrenalina que corria em minhas veias e com o agravante do álcool que havia tomado mais cedo, determinada a encontrar . Não precisei ir muito longe: ele já procurava por mim no corredor. Eu nada falei. Apenas joguei-me em seus braços, sendo prontamente recebida com um beijo envolvente. Fomos cambaleando até seu quarto, abrindo a porta com dificuldade. Decidimos pular as preliminares, já que estávamos experts nelas.

Arrancamos nossas roupas e tornamos a nos beijar, completamente nus, e eu empurrei para a cama king size que compunha seu quarto, subindo em seu colo em seguida. Nossas mãos não tinham mais pudores. massageava meu clitóris de uma maneira deliciosa, enquanto eu brincava com seu membro em minhas mãos. Ele sugou meus lábios enquanto eu soltava um gemido audível, sentindo meu interior molhado implorar por atenção. Coloquei-me de joelhos em seu colo, pincelando seu membro em minha entrada. O vi fechar os olhos jogando a cabeça para trás, apreciando a provocação.

Cansada de fazer-nos esperar ainda mais, sentei-me lentamente no membro ereto de , soltando um gemido arrastado em seu ouvido assim que o senti me preenchendo completamente. Vi os pelos de sua nuca arrepiarem, e ele colocou suas mãos firmes sobre minha cintura, que rebolava lentamente sentindo em cada canto do meu interior pulsante e sedento por mais. Apoiei minhas mãos em seus ombros e comecei os movimentos de vai e vem em seu colo.

dividia suas mãos, que ora apertavam minha cintura, fazendo com que eu me sentasse com mais força, ora estavam em minha bunda, apertando-as sem dó. Com certeza ficariam marcadas no dia seguinte. Depois de longos minutos naquela posição, decidimos mudar de posição. Fiquei de quatro, e prontamente se colocou atrás de mim. Ele me invadia com uma maestria que nunca antes eu havia experimentado, se certificando que atingia pontos que faziam minha cabeça girar de prazer.

Colocou suas mãos embaixo de mim, direcionando-as para meu clitóris, estimulando-o num ritmo delicioso. Logo comecei a sentir espasmos em meu ventre, anunciando que meu orgasmo estava próximo. Não demorou para que eu sentisse meu prazer escorrendo por minhas pernas, e eu deixei que um gemido absurdamente erótico saísse por minha garganta. A visão fez com que explodisse logo em seguida, lambuzando toda a minha entrada. Deitamos exaustos na cama para recuperar nosso fôlego, até que me levantei para me limpar. Quando voltei do banheiro da suíte, se encontrava adormecido, e eu decidi me juntar a ele. Estava exausta, mas apesar do cansaço, tinha feitos grandes avanços. Deixei minha cabeça repousar no travesseiro incrivelmente macio, e cochilei.

Acordei algumas horas depois, encontrando ainda inconsciente ao meu lado, Decidi que era a hora de ir. Desvencilhei-me da cama vagarosamente, sem fazer movimentos que poderiam acordá-lo, e saí do quarto, me dirigindo ao quarto de hóspedes. Guardei minhas coisas e pedi que Harrison, que já estava de pé, chamasse um táxi para mim.

Tinha tarefas a fazer.


Capítulo 6 - Rose garden filled with thorns

sábado, 19 de maio de 2018, 23:12 p.m. Munique, Alemanha

Já era noite em Munique. Ali, no coração da cidade, ficava um prédio que, embora em seu exterior conservasse a arquitetura histórica característica do lugar, esbanjava modernidade em seu interior. Seus cinco andares, que teoricamente abrigavam a sede de uma firma de contabilidade, eram apenas uma fachada. Na verdade, o local servia como uma base de operações do MI6 na Alemanha, onde agentes alocados em missões nas redondezas vinham fazer contato com seus superiores, reportar o andamento de suas missões em segurança, assim como abastecerem-se de armamentos, requisitar recursos, ou qualquer outra coisa que os agentes do serviço secreto britânico precisassem.

Àquela hora, só o que podia escutar, além da chuva torrencial que caía do lado de fora, eram as batidas frenéticas dos meus dedos contra o teclado do computador. Sentada em uma das inúmeras e caras escrivaninhas, fiquei horas tentando pôr em palavras o que eu vivi nos últimos seis meses. Em todos esses anos em que estive na ativa, nada se comparou a essa missão. O alvo? . Queridinho da Alemanha. Milionário. Narcotraficante.

Depois que consegui acesso ao seu computador, pude ver toda sujeira em que estava metido. Ler tudo aquilo fez meu coração afundar em meu peito. No fundo, tinha esperanças de que tudo aquilo fosse um mal entendido, e que aquele doce, sensível, atencioso e respeitoso homem com quem havia tido contato nos últimos meses não fosse o mesmo monstro que havia descoberto ser. Tinha essa mania ingênua de sempre acreditar no melhor das pessoas, mesmo trabalhando no ramo que trabalhava.

Quando terminei meu relatório, decidi que estava cansada da Alemanha. Eu precisava sair dali. Precisava chegar o mais rápido possível da Embaixada Britânica, e dali ir para casa. Ela ficava em Berlim, a seis horas de distância de Munique. Entrei no apartamento que tinha sido meu lar durante toda a missão, sem saco para me despedir. Estava cansada de decepções, cansada de despedidas. Coloquei minhas roupas e alguns sapatos de qualquer jeito dentro da primeira mala que encontrei, e desci o rápido que pude, jogando-a de qualquer jeito no banco detrás do carro que estava à minha disposição durante todo o meu tempo de missão ali. Porém, eu não havia sentido necessidade de usar até o dado momento. Dei partida. O relógio mostrava que ainda eram onze horas da noite em Munique, o que significava que eu dirigiria durante toda a madrugada, e chegaria na embaixada por volta das cinco da madrugada.

Agora, seria apenas eu e a estrada pelas próximas horas. Aproveitei aquele tempo para colocar minha cabeça no lugar. Como havia deixado aquilo acontecer? Onde foi que se deixou relaxar quando sabia o tempo todo que estava lidando com um criminoso? Quando finalmente consegui chegar até a rodovia, percebi um carro em minha cola.

Um Bugatti Chiron. .


Acelerei o máximo que consegui, mesmo sabendo que seria inútil competir com um carro daqueles. Vi meu telefone tocar no banco carona.

— Por que está me seguindo? — perguntei, sacando uma arma de meu porta-luvas.

— Porque você não me atende há dois dias. Não apareceu para trabalhar hoje… Quer que eu continue?

— Não tenho nada para falar com você. Dê meia volta e vá embora, se não quiser ter seu xodozinho cravejado por balas.

, eu realmente preciso falar com você. Eu não estou armado, não estou tentando te matar, apenas preciso conversar com você.

— Eu não tenho nada para falar com um criminoso, . Vá embora. é meu último aviso.

— Um voto de confiança. É tudo o que eu peço.

— Tchau, .

— Espere… — desliguei o telefone.

Pude ver o carro de aproximando-se rapidamente do me. Abri a janela e comecei a efetuar disparos, mas sem sucesso. Foi quando, acabada minhas balas, encostou lado a lado no meu carro, jogando-nos para fora da pista. Nossos carros capotaram, um, duas, três, quatro, cinco vezes seguidas, até que parou. Graças ao cinto de segurança e os air bags, consegui sair com apenas alguns arranhões do acidente. Vi uma movimentação na direção do carro de , então presumi que ele estaria vivo também. Aquele trecho da autoestrada passava rente às margens de um rio, e exatamente naquele ponto havia um píer, com uma velha casinha de madeira ao seu final. Saí cambaleando do meu carro, e corri para aquela casinha. Podia sentir atrás de mim também, porém chegar na frente me daria vantagens.

O vi entrando no ambiente pela fresta da porta em que me escondia, e o golpeei, fazendo batê-la em sua cabeça. bambeou, mas permaneceu de pé. Iniciamos uma luta, e apesar de ter quase o dobro de meu peso, meu treinamento me colocava a sua frente nos golpes. Ele sabia se defender bem, provavelmente havia treinado alguma luta num momento de sua vida. Depois de certo tempo consegui jogá-lo no chão o surpreendendo com um golpe, onde apertava seu pescoço com os braços enquanto se sentava em cima dele.

, por favor, me escuta — tentava falar.

— Como você me descobriu? — eu apertava mais pescoço.

— Eu… Sei de você… Há muito tempo. — ele revelou com dificuldade. A informação me pegou de surpresa, mas não a deixei transparecer por meu rosto.

— Ah, é mesmo? E por que não tentou me matar antes?

— Eu nunca tentaria te matar, . Eu preciso de você. Não só da sua investigação, como também… De você. — mais uma vez, fingi apatia. Mas aquelas palavras me atingiram como um soco na cara. — Por favor, acredite em mim quando eu digo que não sou o culpado por essas acusações.

— Eu tive acesso ao seu computador, . Suas mensagens, seus e-mails, tudo. Eu vi você negociando a exportação de drogas. Não se faça de inocente, não adianta tentar negar. Eu tenho provas de que você está envolvido naquela sujeira!

— Eu fui forçado a fazer aquilo, ! — tentou gritar, porém sua voz se encontrava um pouco comprometida, já que eu dificultando sua passagem de ar. — Ou eu teria o mesmo destino de meu pai!

— Do que você está falando?

— Se você... Me soltar... Eu juro que falo tudo.

Ponderei por uns instantes. Precisava saber o que deixara escapar.

— Se você fizer qualquer gracinha, eu te mato. Eu juro por Deus, .

Afrouxei meu aperto em seu pescoço e saí de cima de dele, que se levantou com dificuldade, e sentou-se numa cadeira que estava jogada por ali.

— O culpado de tudo é Geoffrey. Quando meu pai comandava a empresa, ele o ameaçava também. — ele começou, depois de se recompor. — Enquanto eu estava preocupado demais com qual festa estaria no final de semana, meu pai estava sendo coagido por aquele filho da puta.

Vi esfregar seus cabelos em frustração. Não é como se aquela informação tivesse me surpreendido. Havia percebido desentendimentos entre Geoffrey e , porém não imaginei que estivesse ligado ao caso.

— Tudo começou quando meu pai descobriu alterações nos balancetes, que eram gerenciados por Geoffrey. Ele estava desviando dinheiro da empresa para interesses próprios, entre outras merdas. — ele me confidenciou. — Quando meu pai o confrontou, ele negou tudo, é claro, porém, vendo-se sem saída, confessou. Entretanto, ele esquematizou tudo para fazer parecer com que fosse meu pai o responsável por toda aquela podridão, e ainda atreveu-se a coagi-lo a aceitar fazer parte dos esquemas nojentos de narcotráfico no qual estava metido, fazendo seus pacotes de drogas serem distribuídos para mundo por meio dos contêineres de nossa empresa. — ele suspirou, derrotado. — Caso contrário, ele iria expor meu pai e destruir sua reputação, levando nosso nome para lama, assim como tudo o que havia conquistado.

Eu escutava sua declaração, um pouco atônita. Não gostava de Geoffrey, mas aquilo? Parecia absurdo demais até pra mim.

— Não duvido que ele tenha mandado matar meu pai também, numa tentativa de tomar a presidência da empresa. Quando descobriu que eu seria o substituto, ficou furioso, e me fez as mesmas ameaças. — ele levantou-se. — Foi então que decidi contratar detetives para unir todas as pontas que ligavam Geoffrey a todas esses crimes, mas sempre acabamos num beco sem saída.

começou a se aproximar de mim.

— Foi então que Johnny descobriu que você não era apenas uma secretária. Pedi para ele te investigasse depois… Bem, depois do que aconteceu no meu escritório. Não esperava encontrar nada, era só uma checagem de rotina — deu um riso sem humor, colocando as mãos nos bolsos. — Que surpresa foi descobrir que nunca existiu uma na Universidade de Oxford, muito menos nas empresas que você trabalhou.

Senti um arrepio correr em minha espinha. Ele voltou seus olhos para os meus. Neles, consegui ver um misto de sentimentos que eu não consegui decifrar. Continuou:

— Logo pensei que foi algum esquema de Geoffrey para manter um olho em mim, mas ele não seria tão esperto para tramar algo assim. Tinha de ser algo vindo da polícia. Por isso te deixei trabalhar, mas pelo visto, você seguiu as pistas erradas.

— Eu segui o que estava na minha frente, . Se sabia que eu era uma policial, por que não me contou nada? Por que não me pediu ajuda?

— Porque eu não queria te assustar... — bufei.

— Me assustar? Faça-me o favor.

— Eu não queria te assustar e destruir a única chance e esperança que tenho. — ele continuou. Ficamos em silêncio por alguns instantes.

— Eu te ajudaria, . Você sairia dessa, nós resolveríamos isso juntos.

Meus olhos ameaçaram deixar escorrer uma lágrima, mas eu a segurei firme.

— Agora não há mais nada que eu possa fazer.

— O que quer dizer com isso?

— Quero dizer que as provas contra você já estão catalogadas. Eles estão vindo atrás de você. — havia acionado a polícia local, que o levaria até a sede do MI6 para prestar esclarecimentos. Já podíamos ouvir os barulhos da sirene se aproximando.

Ele suspirou derrotado. Sabia que aquele dia chegaria. Só queria estar mais preparado.

— Bom, acho que devo apenas aceitar. — sentou-se novamente na cadeira com as mãos nos cabelos, apoiando os cotovelos nos joelhos. Eu fui em sua direção.

— Não. Você não deve aceitar. Se você é mesmo inocente como me diz, junte todas as provas que você tiver contra Geoffrey e não hesite em expô-las — levantei sua cabeça com as mãos. — Eu vou tentar te ajudar. Mesmo de longe,

olhou para mim, me lançando um sorriso triste. As sirenes já estavam mais próximas, e já podíamos escutar os sons das botas pesadas contra a madeira instável do chão.

— Posso ao menos saber seu nome?

A pergunta me pegou de surpresa. Num momento de sensibilidade e fraqueza, acabei revelando-o:

. Meu nome é .

Meu nome foi a última coisa que escutou antes que o golpeasse em suas têmporas, fazendo com que ele caísse desacordado no chão. A polícia não podia saber que estávamos conversando minutos atrás, ou eu também seria uma suspeita.

Depois de dar todas as informações necessárias aos policiais, peguei meu carro e segui para o mesmo caminho que estava fazendo antes.

O assisti sendo levado para o hospital, e descobri mais tarde que não parou de chamar meu nome, meu verdadeiro nome, enquanto estava desacordado.


Capítulo 7 - It’ll leave you breathless, or with a nasty scar

quarta-feira, 04 de julho de 2018, 03:48 p.m., Londres

As ruas da cidade já se encontravam desertas, não só devido ao horário, mas como também ao tempo. O outono fazia com que as temperaturas caíssem drasticamente naquela época do ano. Aquele fim de semana havia sido regado por generosas pancadas de chuva, resultando numa drástica queda de movimento na cidade, algo completamente atípico em Londres.
Enquanto pensava sobre isso, ouvi meu celular tocar em cima do sofá. Número desconhecido. Atendi prontamente.

— Alô.

— Olá, .

— Olá sra. M.

— Pelo o que sei, já está de volta a Londres, certo? — era mais uma afirmação que uma pergunta.

— Será? Posso ter arrumado um jeito arrancar meu rastreador e tê-lo deixado em Londres. Agora posso ter voltado para a costa mexicana e estar saboreando uma daquelas deliciosas margueritas…

— Sim, claro. Sempre há a possibilidade. Contudo, tenho certeza de que agora você deve estar de pijama com um copo de vodca na mão, lamentando-se pela prisão de . — Ouch. M sabia ser cruel às vezes. — Espero que tenha aproveitado seu descanso, pois temos mais trabalho para fazer. — ela esperou uma resposta que não veio. Eu não aproveitei nada. Sentindo que eu não falaria mais, ela continuou:

— Reunião hoje, na mesma hora e no mesmo local. Não se atrase.
Desliguei o telefone.

A frieza de M a fazia pensar em certas coisas. A possibilidade de estar mandando um inocente para cadeia fazia seu corpo estremecer. Mas não é como se fosse alguém que não tivesse recursos para se defender-se. Ele estava respaldado pelos melhores advogados da Alemanha, e poderia contratar quantos investigadores quisesse para ajudá-lo a provar sua inocência. ficaria bem. Eu deveria seguir em frente, e deveria aprender a confiar mais nos meus instintos. Agradecia mentalmente a , que havia uma peça importante naquela minha jornada de autoconhecimento. Tirei minhas roupas tomando um poderoso banho quente. Foi como lavar minha alma. Deixei que a água levasse toda a preocupação e me recarregasse novamente. Eu era a porra de uma agente do MI6. Estava aonde sempre sonhara estar, já havia passado por coisas muito piores, e estava de pé.

Terminei meu banho, escolhendo minha roupa mais bonita para a reunião com M, Sentia-me confiante. Sentia-me eu mesma novamente. Com tudo pronto para sair, lembrei de um velho hábito meu. Saquei a pequena caderneta de couro velha que ficava dentro da gaveta de seu criado mudo, abrindo suas páginas. Sacou uma caneta, e escreveu o nome de embaixo de seus antigos alvos. Porém, diferentes do resto, o nome de não seria rabiscado da lista. Permaneceria lá como uma eterna lembrança de tinham negócios a terminar. Olhei as linhas em branco abaixo, e imaginei o que a esperaria na sala de M hoje. Mal podia esperar para descobrir o que viria a seguir. Senti minha tão adorada onda de adrenalina que antecedia uma nova aventura.

Logo, se sentia nova em folha novamente. Não somente teria uma nova história, um novo nome, uma nova cidade. Um novo país.

Uma nova .





Fim.



Nota da autora: Sem nota.

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