Enviada em Março de 2021

Capítulo Único

- São exatamente meio dia e meio, de clima frio com um céu limpo e claro, com cheirinho de café que vem direto do Jinni’s no fim da rua, parece que todos estamos ocupados hoje, não é - fiz questão de soltar uma risada fraca e abafada no microfone. - Mas nós sempre temos tempo para uma história e isso significa que nesse momento a transmissão favorita do seu dia está começando com chave de ouro, vocês estão prontos para mais um “WAW”? Mesmo que não estejam - ri mais uma vez com intuito de descontrair. - Meu nome é e “Good Day, está começando nesse exato momento.
Good Day, ! - a intro tocou de forma animada, ouvi-la sempre me trazia um bom sentimento.

- Ah, nossa intro sempre me anima - comentei rindo mais uma vez e agarrando o script grosso que deixei descansando na mesa. - Hoje, começamos o dia com o quadro “Who Are We?”, vocês se lembram dele não é mesmo? Para aqueles que estão se sintonizando pela primeira vez, “WAW” apelidado carinhosamente pelos nossos ouvintes, sempre conta uma história à espera de um conselho especial, não sou guru, mas consigo dar conselho, pelo menos é isso que dizem - me acomodei na cadeira confortavelmente. - A história do programa de hoje, é uma história anônima. Uh, essas sempre me intrigam, será algum de nossos ouvintes se declarando para alguém que gosta há muito tempo? Ou será alguma exposição repentina? - eu ri com a cara que todos fizeram do outro lado do vidro. - Estou apenas brincando, não posso dar uma de justiceira - abaixei o tom de voz e disse. – Isso pode custar o meu trabalho, sabe? - fiz com que todos do outro lado do vidro dessem risada. - Mas não se preocupem, vocês escutarão minha voz por muito tempo ainda, não se livrarão de mim tão cedo.

Mexi nos papéis em minha mão e vi que naquele dia teríamos apenas uma história para contar, provavelmente pelas propagandas políticas que naquela época tomavam 10min de nosso programa.

— Sabe, eu ainda não sei o conteúdo da história, provavelmente estou tão curiosa quanto vocês pois dessa vez é uma surpresa já que a foi escolhida especialmente pelo meu chefe . Obrigada , eu te devo essa.

Ele riu mandando um joia do outro lado do vidro me fazendo rir.

— Vocês estão prontos? - perguntei ajeitando minha postura. - Aqui vamos nós.



“Olá, ! Não me Identificarei, mas você pode me chamar de de .”


– Olá, ! - respondi animada. - Obrigada por agraciar com sua história hoje.

“Gostaria de começar essa história que tem grande importância para mim recitando um poema, sei que em sua voz ficará perfeito.”


— Agradeço o elogio! - eu ri baixo.

“It Only Rained After You Left
(Só choveu depois que você se foi)
by Yeo Rim

It only rained after you left.
(Só choveu depois que você se foi)
The rain turned into heavy rain
(A garoa se tornou uma tempestade)
and i pictured you sitting in the bus
(E eu pude te imaginar sentado no ônibus)
with an upset expression on your face.
(com uma expressão triste no rosto)

I felt my heart becoming sore.
(Senti meu coração adoecer)
There are times when people can't be comforted by words.
(Às vezes as palavras não podem confortar)

I sit blankly while looking out the window.
(Olho vagamente pela janela)
And even when i close my eyes as if i'm tired,
(e quando fecho meus olhos, como se estivesse cansado)
a part of my consciousness becomes that much clearer.
(parte da minha mente pensa com mais clareza)

It only rained after you left.
(Só choveu depois que você se foi)
In every street corner where i send you off.
(em cada esquina em que te disse adeus)”


Quem diria, eu sei de poucas pessoas que conhecem esse poema, é um dos meus favoritos, boa, ! - eu disse animada, olhar para aquele papel e ler aquele poema que me remetia tantas experiências era incrivelmente bizarro.

“Esse poema que acabou de ler, é um dos favoritos dela.”


Hm, então existe um “ela” na história - comentei.

“Lembro de seus olhos brilhando quando o lia, ou melhor, quando o leu pela primeira vez em voz alta. Quem diria que se tornaria tão verídico em nossa história, afinal, a chuva apenas veio depois que a deixei partir.”

, não se preocupe, estamos aqui para ouvir seus lamentos e não julga-lo - comentei realmente sentindo a dor em suas palavras.


“Eram exatas Sete da noite quando eu pude ver seu rosto vermelho de tanto correr, eu há esperava a alguns minutos. Havíamos marcado de jantar juntos pois era seu aniversário e queríamos passar juntos, já que sua família não estava na cidade…”

Flashback on


— Desculpa, amor! - ela disse entre a respiração ofegante que me fez rir balançando a cabeça negativamente. - Tivemos uma reunião com a equipe sem aviso.
— Tudo bem! - respondeu ele, a segurando pelos ombros de forma carinhosa. - Vamos?
— Sim, mas antes, eu tenho duas coisas para contar - ela disse animada. - A primeira é que eu comprei nosso presente.
— Nosso presente? - respondeu confuso.
— Não haja como se seu aniversário não fosse daqui dois dias, Senhor - ela disse tirando uma caixinha de dentro da bolsa.
— Você vai me pedir em casamento? - ele disse brincando. - Porque minha resposta está pronta.
— Nos seus sonhos! - ela debochou. - Eu poderia fazer isso, afinal, três anos não são três meses, mas vou deixar alguém tomar essa iniciativa por si mesmo - brincou.
— Não me desafie ou eu faço isso hoje mesmo - ele respondeu deixando um beijo nos lábios da garota.
— Talvez eu devesse fazer isso mais vezes - ela disse rindo e retornando o beijo de forma tranquila. - Aqui, você lembra daquele sonho que eu tive com dois braceletes um com pingente de lua e outro de sol?
— Lembro! Você ficou falando deles por meses - ele disse rindo.
— Ta-da! - ela mostra a caixinha com dois braceletes pratas. - Eu encontrei eles hoje pela manhã, por acaso, em uma loja perto de casa. Não são lindos? - ela disse admirada.
— É lindo! - ele disse na realidade se referindo a garota, ele a observava, cada expressão em seu rosto, como o cantinho de seus olhos fechavam quando ela sorria. Ele só conseguia pensar o quanto era feliz de poder tê-la.
— Qual você quer? - ela perguntou e ele deu de ombros. - Eu acho que a lua combina com você, ela as vezes tem esse jeito todo solitário, mas é cercada de estrelas, ela é romântica e tem suas fases.
— Você tem certeza que não está falando de si mesma? - ele comentou rindo.
— Droga! Eu deveria ter comprado duas luas - ela respondeu rindo.
— Pois eu não me importo de ficar com o sol - ele disse abraçando-a. – Afinal, ele dá seu espaço e sua luz para que a lua possa se destacar, não é? - ele disse deixando um beijinho na ponta do nariz da garota. – A minha função é essa, fazer você brilhar sempre.
— Isso foi totalmente, clichê! - ela disse fazendo careta. - Mas digamos, apenas digamos, que eu gostei.
— Vamos jantar? - ele perguntou. - Estou morrendo de fome.
— Ainda tenho algo para contar, mas pode ser durante o jantar, vamos? - ela disse segurando sua mão.

Flashback off

“Eu estava feliz por estar com ela, admito que não sabia muito bem o que queria, mas eu estava pronto para pedi-la em casamento a qualquer momento, eu já tinha os anéis e até mesmo a permissão de sua família, eu só precisava do momento perfeito.
Mas, foi quando ela me contou.


Flashback on


— O que você queria contar mais cedo? - o rapaz perguntou enquanto terminava de comer sua sobremesa.
— Ah, é mesmo! - ela abriu um sorriso e colocou o talher de volta no prato. - Você lembra que há um ano atrás eu mandei aquela carta para a universidade de jornalismo na Europa?
— Sim! - ele respondeu prontamente. - Antes de você começar no seu emprego, certo?
— Isso! - ela respondeu sorrindo, levando sua mão até a bolsa e tirando de lá um papel. - Eu milagrosamente recebi uma resposta deles, me oferecendo uma bolsa em jornalismo.
— Que incrível! - ele respondeu normalmente, deixando a garota intrigada, afinal achou que ele ficaria tão feliz quanto ela. - Não me olha assim.
— Achei que você ficaria tão feliz quanto eu fiquei, a ideia foi sua na época - ela disse arqueando as sobrancelhas em sinal de estranheza.
— Não é isso! - ele disse. - Eu estou feliz é só que - sua frase morreu aí.
— É só que, o que ? - ela perguntou.
— É só que isso já tem um ano, você está estável no seu trabalho, tem destaque. Aqui você tem a mim, a sua família e seus amigos - ele temperou seus pensamentos antes de continuar. - Para que mexer no que já está bom e estável?
— Eu já falei com meu chefe sobre isso, ele disse que será bom para o meu futuro e que não seria algo que me atrapalharia, ele até mesmo me ofereceu continuar trabalhando para ele a distância, mesmo que fosse com os roteiros - ela respirou profundo. - E sobre a minha família, eles ficaram felizes, ao contrário de você.
— Então você já resolveu por si mesma, Huh? - ele disse em um tom um pouco mais arrogante.
— Bom, eu não achei que fosse um problema para você - ela respondeu de forma clara e lenta para que ele compreendesse. - Eu realmente achei que você ficaria feliz por mim.
— Eu já disse que não é isso, eu só - ele respirou fundo e disse baixo, quase para si mesmo. - Não achei que daria certo.
— O que? - ela perguntou, já que não o entendeu.
— Eu achei que não daria certo, tá bom? - ele respondeu um pouco mais alto. - Qual é , você acha que eu realmente pensei que isso daria certo? Eu sou egoísta o suficiente, para que você percebesse que eu não ficaria longe de você. Eu apenas te incentivei na época porque você estava triste com as coisas que andavam acontecendo - mentiu, aquele tinha sido o único momento em sua relação que realmente estava sendo egoísta, tentando mantê-la a seu lado.
— Parabéns, ! - ela disse se levantando da mesa com suas coisas. - Você acabou de mostrar quem realmente é.

pode ver a garota sair pela porta trombando ainda em algumas pessoas que passavam por ali, como se não visse nenhuma delas.

— Droga! - aquilo era tão estupido, ele sabia disso, não podia prendê-la. Haviam feito um pacto quando se conheceram, um pacto onde ambos não prenderiam um ao outro se uma oportunidade aparecesse, um pacto onde esperariam um pelo outro o tempo que achassem necessário ou que ainda estivessem apaixonados, mas que se vissem que a outra pessoa estaria feliz sem eles, fariam o máximo para serem felizes também.

viu o sol da grande janela refletir em algo sobre a mesa, olhou por um instante vendo ali o bracelete que a garota havia acabado de mostrar com tanta alegria há uma hora atrás. Se levantou bruscamente agarrando suas coisas de uma vez e foi atrás dela.

Flashback off

“Eu ainda uso os dois braceletes, estabilizei a regra de que apenas deixaria de usá-los quando já não sentisse nada por ela. O que seria apenas a minha persona mentindo para mim mesmo, já que isso seria impossível porque a cada dia que passa eu vejo mais o quanto eu sinto falta dela.”


— Você deveria ter ido atrás dela mesmo depois dela ter subido naquele ônibus, ! - comentei de forma um pouco mais fraca do que gostaria.

“Agora, ela está de volta”


— Eu aposto que sim! - disse.

“Posso ouvir sua voz todos os dias, mas não é como se ela falasse comigo, afinal foram 2 anos que se transformaram em 4 anos”


— Talvez ela tenha tido seus motivos, talvez fosse difícil para ela também - disse sorrindo sabendo que aquela reação seria totalmente e ironicamente amarga.

“E eu não tenho dúvidas de que para ela foi tão difícil quanto para mim. Mas ainda sim, espero que ela perdoe a pessoa egotista que a fez ir embora naquela época, soube tempos depois que ela ponderou muito antes de ir, de que sua família sabia que meu apoio estaria certo, fazendo então com que ela aceitasse sem falar comigo.”


— Ela confiou na pessoa que você era! - comentei baixo.

“Espero que essa história chegue a ela de forma que ela possa querer um dos braceletes de volta e quem sabe possamos começar de novo?”


— Muitas coisas mudam durante tanto tempo, você não acha, ? - eu disse atraindo os olhares do outro lado do vidro.

“Muitas coisas mudaram, eu sei disso”


Eu não sei porque me surpreendo ainda sobre como ele sabe exatamente as coisas que eu falaria, ele me conhece.

“Mas ainda sim, isso impede que ela me perdoe ou me ame?
Por favor,


Aquilo parecia uma súplica.

“Me aconselhe, você acha que ela poderia me perdoar um dia por não ter apoiado sua decisão? Por não ter ido atrás dela naquele ônibus ou até mesmo no avião? Por não ter insistido?”

Eu tive que respirar fundo antes de terminar de ler aquela carta.

“Por não ter mantido meu trabalho como sol em nossa relação? Você acha que seria possível?”


Ele sempre foi bom com as palavras, suas inspirações para escrever letras de músicas eram incríveis e nesse meio tempo que eu estive fora, ele cresceu com elas, ele se tornou alguém que realmente deveria ser.

“Eu costumava tê-la
E agora só tenho esses braceletes”


— Fim! - eu disse ainda um pouco abalada e olhando para que estava do outro lado do vidro se sentindo um pouco culpado por ter escolhido justo aquela história de propósito. - Eu acho que nosso querido está em um dilema que nunca terminará se ele não perguntar a nossa garota misteriosa a respeito de seus pensamentos e sentimentos. Não adianta tentar adivinhar - respirei fundo antes de continuar. - , você deve pensar que talvez isso fosse necessário, a partida dela te trouxe coisas que provavelmente no conforto de um relacionamento não fossem acontecer é vice-versa, talvez esses quatro anos que tenham passado, passaram por alguma razão. Na minha opinião, ambos precisavam disso e eu não acho que ela tenha ressentimentos sobre você, talvez ela tenha sobre si mesma, mas não sobre você.

e todos se entre olharam e respiraram fundo, ali todos conheciam há muito tempo, então tecnicamente sempre tentavam conversar sobre o assunto sem parecerem intrometidos porque se importavam com ambos.

— Parece que é tudo que temos por hoje - eu ri para descontrair um pouco, já que realmente havia uma tensão no ar. - Nossa programação hoje é mais curta e de tema sensível, mas antes de que eu diga o meu adeus, o que vocês acham de duas músicas especiais? Aqui vai, Bracelet de Lauv e Bette de Jeremy Passion, para uma pessoa que também continua sendo especial para mim.

***


— Pura coincidência você escolher justo essa história hoje, não é? - abrindo a porta da cabine e me direcionando a .
— Ele parecia outra pessoa , entenda! - me respondeu se sentando na cadeira a seu lado. - Ele conseguiu coisas que se vocês tivessem se casado naquela época, não conseguiria hoje e você também - vi ele passar as mãos de forma nervosa em seu cabelo. - E isso ainda não preenche nenhum dos dois, vocês sentem falta um do outro, você mesma disse uma vez que são como a lua e o sol, vocês se complementam.
— Nos complementávamos! - respondi tomando um copo de água em seguida.
— Você entra em 1 minuto, - o operador avisou.
— Fazem quatro anos! - disse antes de entrar na cabine.
— Exatamente! - disse antes que eu entrasse por completo e fechasse a porta. - Fazem quatro anos e nenhum dos dois seguiu em frente, você não acha que isso significa alguma coisa?
— 10 segundos! - avisou o operador mais uma vez.
— Vocês sempre vão ser assim, conhecem um ao outro melhor do que ninguém - disse - e…
— 5 - o operador começou a contar me fazendo fechar a porta da cabine.

Peguei o fone de ouvido com rapidez e me sentei de frente ao microfone mais uma vez.

— Vocês gostaram das músicas? As duas contam mais ou menos a mesma história que citamos aqui hoje, de um casal que acaba se separando mas nunca perdendo um ao outro. O programa Good Day, fica por aqui hoje, mas não se esqueçam que todo dia estamos aqui esperando por vocês, suas histórias, seus pedidos de músicas e declarações especiais - ri lembrando de alguns episódios do passado. - Mais uma vez quero dizer que é bom estar de volta e que espero que nós demos bem cada dia mais. Tenham um bom dia, aproveitem e tomem um café no Jinni’s, eu mesma farei isso agora mesmo - tirei os fones e sorri para o microfone. - Adieu mon chéries, vejo vocês amanhã!

***


Saí da cabine assim que revisei todas as coisas dentro dela, abri a porta e fui diretamente até as minhas coisas com um único pensamento: chocolate quente e um pedaço de bolo de chocolate do Jinni’s. Então, sem dizer nada ou olhar para ninguém, peguei minhas coisas, dizendo um “bom trabalho” para todos ali presentes e me dirigi a porta.

— Ele tentou! - disse antes de sair. - Ele tentou te esquecer, tentou com várias formas possíveis, trabalho, amigos e até mesmo namoradas e nunca funcionou. Você sabe que eu vi vocês dois crescerem juntos e continuamos amigos depois que você se foi, eu dava informações sobre você para ele porque não aguentava ver o estado em que ele ficava quando você não atendia as ligações dele.
— Quais ligações? - perguntei confusa. - Ele nunca ligou, nenhuma vez sequer e eu esperei, na realidade não achei que fôssemos ficar brigados por muito tempo, com o tempo eu já nem sentia mais raiva dele não ter ido atrás de mim em nenhuma das ocasiões, eu só queria que ele ligasse, mandasse uma mensagem sei lá, desse um sinal e nunca, nunca recebi nenhuma dessas coisas. Eu achei por muito tempo que quem estava com raiva de mim era ele.
— Impossível, eu vi ele te ligar e mandar mensagens - ele comentou mais confuso que eu.
— Eu não teria porque mentir, - eu disse cansada daquela conversa. – Por que você está tomando um lado em uma situação que já se passou há tanto tempo? Foi uma briga boba, apenas diga a ele que não tenho ressentimentos e que viva em paz e sem remorso.
- Você acha mesmo que o que ele sente é apenas remorso? - perguntou. - Quando foi que você mudou tanto, ?
— No momento em que as pessoas pararam de se importar com o que eu pensava - respondi rápido. - A vilã da história sou eu, tudo bem! Eu já entendi isso, você não é o primeiro a me situar sobre isso desde que voltei.

Sai pela porta sem esperar que mais palavras viessem ao meu encontro, “cansaço” era a palavra que pairava sobre minha cabeça.

***

— Um Classic… - fui interrompida por uma voz reconhecível mesmo de longe.
— Dois Classic Chocolate e 2 chocolates quentes, por favor - disse estendendo o cartão a atendente que abriu um sorriso enorme ao vê-lo.
— Pedido diferente hoje? - ela disse atraindo minha atenção em seu tom de voz. - É sua irmã? Que gracinha.
— Como? - perguntei incrédula. - Não sou irmã de ninguém não, sou a nam... amiga de longa data e você?
— Ela é a pessoa com quem eu ia me casar uns anos atrás - disse apertando meus ombros com cuidado, com um olhar indecifrável nos olhos, a mulher se assustou a minha frente me olhando com os olhos arregalados, enquanto eu revirava os olhos.
— Você realmente fica me pintando de má para todos, até mesmo para os atendentes do meu café favorito desde criança? Bem maduro da sua parte, com licença - disse me retirando de onde estávamos.

Definitivamente aquele parecia o dia mais frio do ano e chegar em casa nunca pareceu tão distante, eu havia caminhado até o parque do outro lado da rua e foi o suficiente para me cansar. Sentei em um dos bancos pintados da cor vermelha e fechei os olhos, sentir aquela brisa gelada no rosto justo com o sol daquele dia.

— É fácil te encontrar, sabia? - ele disse surgindo do nada, colocando um saco de papel do meu lado junto com um copo do Jinni’s - mesmo pedido, mesmo lugar quando está chateada, você não mudou.
— É aí que você se engana - respondi dando de ombros, abri os olhos e procurei por meu celular para ver o horário, eu tinha um compromisso marcado com a minha série favorita, junto com os doces e pipoca que estavam simplesmente dando sopa pela minha casa, graças a minha mãe.
, eu… - ele começou dizer.
— Olha só o horário, uf! - eu disse me fazendo de sonsa, me levantando rapidamente.

A verdade era que aquela história toda ainda me deixava incomodada, eu não queria falar sobre aquilo porque eu sabia que acabaria sendo conversa de horas onde eu realmente diria tudo que me magoou por todos esses anos e ele nem sequer precisa ouvir isso tudo, não temos mais nada para que isso aconteça, eu não sei se saberia lidar com mais um “abandono” vindo dele. Prefiro não resolver as coisas e deixar como estão do que tê-lo me seguindo por aí só porque se sente culpado.

— Eu - o olhei, pela primeira vez ali naquele lugar, onde costumavam ir juntos e senti falta mais uma vez. - Eu tenho um compromisso, preciso ir.

***


Antes de ir para casa, eu tinha um lugar para passar e sabia muito bem meus hábitos, que dificilmente mudaram durante esses anos. Ele sabia que eu passaria no mercado, compraria coisas que poderia levar, mas ainda sim, insistiria em ajudar.
Obviamente, aquilo só aconteceu porque eu dei abertura a ele, antes de tudo éramos amigos e quando eu fui embora, recebi notícias de que ele cuidou bem da minha família, como sempre fez.
Eu era grata.

— Será que pode não ser hoje, ? - eu pedi, mamãe me ligou dizendo que estava em casa deixando algumas coisas que faltavam de meu quarto na outra casa e quando escutou a voz de ficou extremamente feliz, o que resultou com ela dizendo que o esperava, que faria o jantar.
— Eu conheço você, , você nunca vai querer falar de nós se eu não fizer isso - ele suspirou entrando no elevador junto comigo. - Era a mesma coisa quando namorávamos, você nunca expressava o que sentia totalmente, a única vez que eu te vi fazer isso foi da última vez que nos vimos, no jantar de aniversário.
— Você esperava o que? - eu disse fechando meus olhos em demonstração de cansaço. - Que eu desse batidinhas nas suas costas e dissesse que você estava certo? Que eu não deveria ir? Por favor, hoje não.

Acompanhado de um susto, as luzes do elevador se apagaram e ele parou por completo.

— Ótima hora para ficar presa em um elevador - eu disse tentando fazendo com que o interfone de emergência funcionasse, mas, sem sucesso.
— Talvez isso seja um sinal - ele disse rindo da minha cara assim que acendeu a luz de seu celular. - Ué, nunca se sabe.
— Você não era muito ligado nessas coisas de destino e sinais do universo quando estávamos juntos – comentei, baixo mas o suficiente alto para que ele escutasse. - Quem será que te ensinou a acreditar, Huh?!
— Foi você - ele disse se sentando no chão do elevador e eu fiz o mesmo, sem dizer nada. - Perder você foi algo tão insuportável, que eu aprendi acreditar nessas coisas, definitivamente parecia que parte de mim tinha ido embora junto.
— Provavelmente você sentiu falta daquele moletom caríssimo que eu peguei do seu armário - eu disse tentando desconversar.
, eu estou falando a verdade! - ele disse. - Não estou aqui apenas para me redimir ou me sentir melhor fazendo com que você me perdoe, eu realmente senti sua falta. Quatro anos, quatro longos anos se passaram e nem por um instante você deixou os meus pensamentos e acredite, eu tentei te tirar de lá com os melhores métodos possíveis - pude vê-lo arrumando o capuz sobre sua cabeça um pouco impaciente e nervoso, eu sabia que para ele, por mais que fosse a pessoa mais aberta do mundo, falar sobre seus sentimentos acumulados era tão difícil quanto falar outro idioma. - Eu sonho com você, eu chamo o seu nome quando tento conhecer outras pessoas, eu me pego automaticamente indo a lugares em que íamos juntos, eu sou perdidamente apaixonado por você por sete anos - ele riu descrente. - E quatro desses sete anos nós nem mesmo nos falamos.

Eu realmente estava sem reação, parecia uma adolescente de quinze anos recebendo uma declaração de alguém que gostava - coisa que nunca aconteceu comigo, mas ok.

— Eu não posso presumir seus sentimentos - ele continuou vendo que não obteve nenhuma resposta. - Definitivamente eu não esperava isso quando ensaiei essa conversa em minha cabeça, mas eu posso tentar fazer com que eles voltem a ser meus, se você me permitir.

Um silêncio se instalou por um tempo, eu não sabia o que dizer.

— Você não precisa - foi o que minha boca conseguiu pronunciar antes de engolir seco e continuar. - Eles nunca deixaram de ser seus, mesmo quando eu ficava com raiva de nunca sequer receber uma mensagem ou ligação sua.

Eu que antes estava do lado oposto de onde ele estava sentado me movi para seu lado e ele logo procurou pela minha mão a segurando com força. Aquilo era algo dele, ele sabia que eu me sentia segura quando ele fazia tal gesto, afinal foi como eu descobri que sentia algo por ele anos atrás.
Confuso, mas esclarecedor.

— Eu liguei e mandei mensagens - ele disse encostando sua testa na minha, enquanto sua mão direita subiu até minha cabeça deixando ali um carinho aconchegante. - Pelo menos tentei, assim como fui atrás de você no aeroporto também - ele respirou fundo. - Mas vendo você olhar por todos os lados, procurando por mim me fez perceber o quanto eu não a deixaria ir se aparecesse e eu precisava deixar com que você fosse - ele entrelaçou nossos dedos. - Nós prometemos um ao outro que nunca perderíamos oportunidades como aquela e esperaríamos o quanto fosse, eu decidi esperar por você, mesmo decidindo te esquecer por um tempo.
— Acho que essa última parte não fez muito sentido, não - brinquei.
— Quem liga? - ele disse. - Você está aqui agora, é isso que importa.
— Você continua clichê - eu disse.
— Droga, eu senti tanto a sua falta! - ele disse segurando meu rosto.
— Eu também! - respondi.

Não precisou de muito para que ele me beijasse, faziam tantos anos e a única coisa que era possível explicar no momento era o quanto sentimos falta um do outro.

— Aqui! - ele mexeu no bracelete de lua em seu pulso e antes de dizer mais alguma coisa, sentimos o elevador fazer um barulho absurdamente alto. - Calma aí universo, eu não arrumei minha vida aqui e agora só para morrer de repente, não.

Soltei uma gargalhada alta fazendo com que ele desse risada junto.

— Aqui - disse outra vez, só que colocando o bracelete sobre meu pulso. - É seu e sempre vai ser.

Assim que ele colocou o bracelete no lugar e o elevador voltou a funcionar, pareceu mágica.

— Você tramou isso? - eu disse desconfiada. - Olha só, você sabe que eu sou claustrofó…
— Eu não fiz nada - ele disse rindo. - Meu amor, você passou muito tempo como o centro das atenções fora, acho que subiu a cabeça - ele disse recebendo um tapa. - Calma - ele riu me dando um abraço rápido em seguida. - É brincadeira!
— Vamos? - eu disse assim que a porta do elevador abriu.
— Por favor, eu estou morrendo de fome! - ele disse me fazendo rir.




Fim.



Nota da autora: ficou curtinha mas entrou em uma das minhas favoritas. Claramente esse pp não me deixou ficar com raiva dele nem por um segundo e vocês? Espero que tenham gostado, de verdade! Deixa seu comentário me dizendo o que achou, agradeço desde já xoxo Lay



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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