Capítulo Único
― Por favor, por favor, . Não me deixe nessa cama até que esqueça quem é você! ― Ele disse com lágrimas nos olhos e eu conseguia sentir o desespero na sua voz.
― Não diga uma coisa dessas, ― Segurei firme sua mão e olhei dentro dos olhos dele. ― Eu disse que nunca vou desistir de você, então, por favor, não desista de si mesmo.
SETE ANOS ATRÁS...
― Psiu, ei, Psiu. ― Ele tentava chamar minha atenção para olhar para a câmara. ― Ei moça bonita, olhe para mim.
― Eu não vou olhar pra você, , meu nome não é Psiu. ― Falei em um tom sério, tentando segurar o riso, enquanto andava a frente no calçadão da praia.
― Sério mesmo ? Você vai começar com esses joguinhos agora? ― Ele perguntou parando no meio do caminho.
― Não é um joguinho , é só o nome que minha mãe me deu. ― Diminui a velocidade dos passos quando notei que ele tinha parado de caminhar. ― Além disso, vamos perder a reserva se o senhor parar assim durante o caminho até o check in. ― Voltei meu corpo para trás, agarrei seu pulso e o puxei em um abraço, depositando um beijo na sua bochecha. ― Eu te amo bebê, agora vamos se não vamos ficar sem lua de Mel.
Ele abriu aquele sorriso lindo pelo qual me apaixonei a primeira vez que eu vi e saiu correndo arrastando nossas malas em direção ao check in. Quando chegamos ao hotel, a vista foi de tirar o fôlego, nunca pensei em passar uma temporada na Grécia, como nunca pensei em me casar até conhecer Yoo, mas aconteceu e eu me sentia a mulher mais feliz do mundo naquele momento. Ver ele com o rosto grudado no vidro que dava acesso a varanda da sala, me fez querer ter aquela visão todos os dias da minha vida, até o final dela.
Peguei em uma das bolsas a câmera que ele segurava mais cedo no caminho.
― Olá, homem da minha vida. ― me aproximei dele com a câmera virada para o seu rosto. ― Você gostou? Ele não conseguia tirar os olhos daquela vista que nunca imaginou estar, diante daquela beleza.
― Foi muito caro, não foi? ― Foram as únicas palavras que ele conseguiu verbalizar naquele momento.
― Não se preocupe com isso meu anjo. Nós merecemos tudo isso, nós economizamos e também ganhamos bastante dinheiro de presente de casamento e agora vamos viver esse momento. Coloquei a câmera no móvel de centro do cômodo. Caminhei lentamente até ele e passei meus braços pelo seu corpo.
Nós sempre tivemos o sonho de viajar para Grécia, desde que nos conhecemos anos atrás, mas nunca conseguimos guardar dinheiro o suficiente para fazer aquilo antes do casamento e depois que alcançamos boas posições em nossos trabalhos resolvemos que faríamos a grande viagem em nossa lua de mel e foi ali que decidimos estar um na vida do outro para sempre. Passariamos duas semanas no país, e aproveitariamos ao máximo, afinal, quando voltássemos para casa, teríamos de voltar à rotina normal e aos nossos trabalhos.
Os dias passaram como um raio, e a felicidade só aumentava, era como estar no paraíso, até que uma tragédia aconteceu, um acidente de carro, tinhamos acabado de sair do restaurante em que jantamos naquela noite e estávamos voltando para o hotel, quando um caminhão atravessou o nosso caminho.
ATUALMENTE (9 meses antes)
― Como assim divorciados? ― perguntou confuso quando entreguei a xícara de chá de camomila para ele, tinha encontrado ele encolhido na portaria do prédio em que um dia moramos juntos.
― Quando sua irmã me disse que você não se lembrava de nada, achei que ela estava se referindo ao acidente que sofreu. ― Disse sentando perto dele na bancada da cozinha com a minha xícara em mãos.
― Mas como isso aconteceu, ? Eu estou perdido, eu acordei e não é mais 2015, não acabamos de voltar da nossa lua de mel? Eu não reconheço minha própria casa, eu tenho um gato, um gato , quando a gente pensou na possibilidade de adotar um gato? ― Ele estava desesperado, eu conhecia aquele tom de voz e aquela expressão.
— Muita coisa aconteceu . Nunca pensamos nessa possibilidade, e exatamente por constatarmos que éramos tão diferentes que o nosso casamento não deu certo e tudo bem! — Parecia mais grave do que Yoona havia me contado, não parecia uma amnésia momentânea, mas aquilo também eram os diagnósticos dos médicos, então eu faria de tudo para ajudar naquele momento.
— Eu posso passar um tempo aqui? Eu não conheço meu bairro novo, e não conheço aquelas coisas todas que estão lá. Eu… — Ele largou a xícara de chá em cima do móvel e colocou as mãos na cabeça, estava atordoado ou só exausto mesmo de tudo aquilo, eu também estaria, afinal, na memória dele era tudo diferente.
— Claro, quer dizer, por mim tudo bem. — Abracei firme seu corpo, mostrando que estava realmente tudo bem. Não que nosso relacionamento tivesse terminado de maneira amigável, mas eu não o odiava, e parecia que ele não me odiava também, pelo menos não naquele momento e se ele quisesse me odeia quando sua memória voltasse, tudo bem, mas eu sentia que tinha que fazer aquilo por ele. — Mas não sei se a sua namorada vai concordar. — O soltei e sorri. É, ainda tinha aquilo, ele estava namorando outra vez e bem, ela me detestava por algum motivo que eu não sabia o que era, nós nunca nos encontramos na realidade, mas já houve episódios que ela demonstrou aquilo, e não era um sentimento recíproco, eu não a conhecia e nem sentia vontade de.
— Ainda tem isso, eu namoro uma desconhecida. Como eu… porque a gente… Meu Deus, eu vou enlouquecer. — Parecia que ele ia ter uma crise de choro a qualquer momento e todas aquelas perguntas e pressão só iam prejudicar ele ainda mais.
— Vamos fazer assim, você fica aqui agora, descansa um pouco, eu preciso ir ao escritório rapidinho resolver uns assuntos, quando eu voltar, a gente almoça, você conversa com ela e aí passamos no seu apartamento para pegar algumas coisas e o seu gato né, o bichinho não pode ficar sozinho e aí a gente vê como fica, tá bem? Só não precisa de estressar com isso, todos estamos fazendo nosso melhor para a sua recuperação. — Fui sincera e o mais sensível possível. Não queria que ele ficasse mais nervoso e eu não queria entrar naquela onda, alguém precisava ser a mente pensante de nós dois e eu sabia que essa essa sempre, até mesmo antes de nos separamos, era eu.
E assim o fiz, ele ficou lá, e percebeu mais animado, mesmo sentindo falta de algumas coisas, como nossas fotos espalhadas por todos os cantos ou a sua coleção incrível de vinil, que aparentemente, ele leiloou quando nos separamos. Passei pouco tempo mesmo no escritório, estávamos em fase de fechar um grande negócio para o marketing de uma das maiores empresas do país e precisavam de mim, tanto para batermos o martelo e fecharmos aquele negócio, quanto para a aprovação e verificação de planos no pacote de acordo com a solicitação e diretrizes da empresa. Mas como estava tudo encaminhado, não foi algo que tomou minha tarde toda. Deu tempo de chegar para que fossemos almoçar e fomos ao nosso restaurante favorito. Quando eu cheguei já tinha feito as reservas e estava com uma aparência melhor. Depois do almoço e de relembrarmos nossos melhores momentos ali, em uma tarde agradabilíssima, seguimos até o apartamento dele, onde seu gato e sua namorada o esperavam. Fiquei sentada na sala, vendo como ele ainda era muito limpo e organizado e reparando também que ele tinha decorado o lugar de forma clean, sem muitos objetos, os tons em preto e cinza também faziam parte da personalidade dele de quando ainda éramos parte importante na vida um do outro. Pelo jeito em que a mulher saiu batendo a porta do quarto, os pés do caminho até a porta e nem olhou na minha casa, eu sabia que a conversa não tinha sido nada legal, não que eu não tivesse ouvido também ela gritando coisas como "ela está fazendo isso de propósito para te reconquistar" e também "você vai se arrepender quando lembrar o que ela fez com você" e essas coisas de gente estranha, que eu imaginei que ela fosse. Mas ele saiu com um sorriso enorme do quarto, fiquei um pouco assustada, não sabia se ele estava em choque, se estava tendo alguma crise, ou se a contusão em sua cabeça estava deixando ele doido, mas ele estava com uma vibe incrível.
— Acho que não deu muito certo, não foi? — Me levantei indo até a cozinha que era separada da sala apenas por um balcão, me servindo de um copo de água.
— Ela não gostou muito do fato de eu passar um tempo na nos… Sua casa, mas tudo bem, nós terminamos e ela não precisa mais ficar chateada com isso. — Ele abriu a geladeira e pegou uma travessa de bolo e colocou sobre a mesa.
— VOCÊ O QUE? — Cuspi a água no meio da cozinha.
— Eca! Você continua nojenta. — Ele riu e nós dois fomos para a lavanderia para procurar algo para limpar aquela sujeira.
— Não , você não pode terminar com ela, você não sabe se quer isso, quer dizer, você quer agora, mas você não é você do futuro, você é você do passado e eu não acho que esteja pronto para decidir esse tipo de coisa, você pode se arrepender amargamente, semana que vem, ou mês que vem, quando sua memória voltar. Essa não é uma reação que os médicos indicam para o tratamento, meu Deus, estragamos tudo, vai atrás dela, conversa direito. — Fiquei nervosa, enquanto procurava um pano de chão, que nem eu e nem ele sabíamos onde estava.
— Foi uma decisão dela, não que eu quisesse continuar namorando uma pessoa que eu nem conheço atualmente, sabe… — Deu uma pausa constatando que não conhecia mais ninguém do seu ciclo social atual e era um pouco triste, afinal, sete anos não são sete dias, definitivamente! — Se ela fosse uma boa namorada me apoiaria na recuperação, você não acha? — Não que tivesse errado, eu tinha pensado a mesma coisa quando ele disse que ela quem terminou e pelo medo como foi inflexível durante toda aquela conversa.
— Eu não posso e não vou opinar sobre isso, não quero te influenciar em nada. — Não queria mesmo que uma das únicas figuras que ele confiava no momento, influenciasse em nada. — ACHEI! — Disse animada primeiro por ter achado o pano e segundo por terminar aquela conversa.
— Agora falta o rodo. — Ele disse olhando ao redor e eu fiz o mesmo e caímos na risada.
Achamos o rodo mais rápido que o pano, e depois que eu limpei a sujeira que eu fiz, comemos bolo e arrumamos as coisas dele para levar para a minha casa, bem como o gato, eu não era fã de bichos de estimação, mas não deixaria o bichinho indefeso sozinho. E eu precisava concordar que ele era uma bolinha de pelos muito fofa.
A memória dele não voltou, passaram alguns meses e parecia que as coisas estavam piorando, ele não lembrava onde colocava as chaves, ou o que iria fazer a seguir e eu fiquei preocupada, claro que o estresse do dia dia fazia nossa mente entrar em parafuso, mas os episódios com ele estavam cada vez mais constantes. Três meses tentando o tratamento de recuperação e tivemos de voltar ao médico, depois que ele saiu para ir ao mercado e esqueceu como andava, ele simplesmente travou, parecia que não sabia mais como fazer aquela coisa básica. Claro que depois do choque ele se lembrou como fazia, mas resolvemos que ele devia voltar ao hospital para tentarmos pelo menos um novo tratamento.
— A lesão do acidente foi mais grave do que imaginávamos. — O médico começou a falar e meu olho encheu de lágrimas. Depois que o médico que o atendeu desde começo disse que podia ser algo normal devido a lesão, procuramos outro profissional e definitivamente não era aquele tom que queríamos ouvir. — Uma parte grande da sua cabeça, bem como seu cérebro foi atingida e então alcançou a parte que desenvolve o mal de Alzheimer. A área comprometida com essa doença começa no tronco cerebral, mais especificamente numa área denominada núcleo dorsal da rafe. — Ele apontou para nós nas imagens do cérebro de para que entendêssemos melhor. — E como foi um acidente grave, a lesão também foi bastante severa, podemos tentar um tratamento, mas pela forma que as células estão danificadas, pode ser complicado estabilizar, mas temos de ser otimistas.
Infelizmente ele já estava no estádio 3, o mais grave se todos. O médico me chamou em particular, porque, mesmo querendo saber de tudo, o médico pensou que poderia ser perigoso se ele soubesse o estágio da doença, muitos pacientes se entregavam e agravavam o quadro clínico quando descobriam.
Foram meses difíceis, mas eu quis passar todos da melhor maneira possível ao lado dele. Mesmo depois de tudo que passamos no passado, nossa conexão tinha se restabelecido e eu ainda o amava e aprendi a gostar dele outra vez. Não poderia deixar que ele passasse por tudo aquilo sozinho. Claro que com o tempo passando e a condição se agravando cada vez mais, deixaram as coisas mais difíceis, especialmente para ele, que passou a nem lembrar mais como se mastigava uma refeição.
A internação foi inevitável, porque ele passou a precisar de sondas para se alimentar e fazer as necessidades básicas. E mesmo com todo o trabalho e as coisas do dia a dia eu sempre arrumava um tempo para ficar com ele lá e cuidar do que ele precisasse.
Quando eu saí do quarto depois que ele me fez aquele pedido, eu não sabia o que fazer ou pensar. Ele ter me colocado como responsável e guardiã já havia sido esmagador para mim, agora ter de tomar aquela decisão, onde a doença não tinha mais como reverter e ele só ia se esquecendo das coisas, até esquecer de respirar e morrer em consequência, eu só queria passar mais algum tempo ao seu lado e ele não queria esquecer de tudo a ponto de morrer daquilo, sozinho e mais perturbado do que ele merecia. Encostei a cabeça da parede da sala de espera e fiquei pensando nas palavras dele pedindo para que eu não o deixasse me esquecer e eu só conseguia chorar e chorar.
— Senhorita ? — Ouvi a voz do médico ao longe, provavelmente tinha pego no sono sentada ali, vira e mexe eu adormecia pelos cantos naquele hospital. Pelo semblante dele e o tom de voz, eu já comecei a tremer e sabia que algo ruim tinha acontecido. — Ele? — Não tive forças para terminar de perguntar. — Eu sinto muito mesmo! — Ele disse com uma voz solidária. — Se quiser se despedir.
Todos naquele sabiam como éramos próximos, quase ninguém mais ia o visitar, até porque, ele dificilmente se lembrava das pessoas, mas de mim não, ele nunca me esqueceu e eu nunca vou esquecer o que ele significou em minha vida, mesmo com tudo e apesar de tudo, a vida dele sempre fará parte da minha e a nossa conexão sempre existirá. Ele foi o amor da minha vida, minha terra, minha água e meu oxigênio.
― Não diga uma coisa dessas, ― Segurei firme sua mão e olhei dentro dos olhos dele. ― Eu disse que nunca vou desistir de você, então, por favor, não desista de si mesmo.
― Psiu, ei, Psiu. ― Ele tentava chamar minha atenção para olhar para a câmara. ― Ei moça bonita, olhe para mim.
― Eu não vou olhar pra você, , meu nome não é Psiu. ― Falei em um tom sério, tentando segurar o riso, enquanto andava a frente no calçadão da praia.
― Sério mesmo ? Você vai começar com esses joguinhos agora? ― Ele perguntou parando no meio do caminho.
― Não é um joguinho , é só o nome que minha mãe me deu. ― Diminui a velocidade dos passos quando notei que ele tinha parado de caminhar. ― Além disso, vamos perder a reserva se o senhor parar assim durante o caminho até o check in. ― Voltei meu corpo para trás, agarrei seu pulso e o puxei em um abraço, depositando um beijo na sua bochecha. ― Eu te amo bebê, agora vamos se não vamos ficar sem lua de Mel.
Ele abriu aquele sorriso lindo pelo qual me apaixonei a primeira vez que eu vi e saiu correndo arrastando nossas malas em direção ao check in. Quando chegamos ao hotel, a vista foi de tirar o fôlego, nunca pensei em passar uma temporada na Grécia, como nunca pensei em me casar até conhecer Yoo, mas aconteceu e eu me sentia a mulher mais feliz do mundo naquele momento. Ver ele com o rosto grudado no vidro que dava acesso a varanda da sala, me fez querer ter aquela visão todos os dias da minha vida, até o final dela.
Peguei em uma das bolsas a câmera que ele segurava mais cedo no caminho.
― Olá, homem da minha vida. ― me aproximei dele com a câmera virada para o seu rosto. ― Você gostou? Ele não conseguia tirar os olhos daquela vista que nunca imaginou estar, diante daquela beleza.
― Foi muito caro, não foi? ― Foram as únicas palavras que ele conseguiu verbalizar naquele momento.
― Não se preocupe com isso meu anjo. Nós merecemos tudo isso, nós economizamos e também ganhamos bastante dinheiro de presente de casamento e agora vamos viver esse momento. Coloquei a câmera no móvel de centro do cômodo. Caminhei lentamente até ele e passei meus braços pelo seu corpo.
Nós sempre tivemos o sonho de viajar para Grécia, desde que nos conhecemos anos atrás, mas nunca conseguimos guardar dinheiro o suficiente para fazer aquilo antes do casamento e depois que alcançamos boas posições em nossos trabalhos resolvemos que faríamos a grande viagem em nossa lua de mel e foi ali que decidimos estar um na vida do outro para sempre. Passariamos duas semanas no país, e aproveitariamos ao máximo, afinal, quando voltássemos para casa, teríamos de voltar à rotina normal e aos nossos trabalhos.
Os dias passaram como um raio, e a felicidade só aumentava, era como estar no paraíso, até que uma tragédia aconteceu, um acidente de carro, tinhamos acabado de sair do restaurante em que jantamos naquela noite e estávamos voltando para o hotel, quando um caminhão atravessou o nosso caminho.
― Como assim divorciados? ― perguntou confuso quando entreguei a xícara de chá de camomila para ele, tinha encontrado ele encolhido na portaria do prédio em que um dia moramos juntos.
― Quando sua irmã me disse que você não se lembrava de nada, achei que ela estava se referindo ao acidente que sofreu. ― Disse sentando perto dele na bancada da cozinha com a minha xícara em mãos.
― Mas como isso aconteceu, ? Eu estou perdido, eu acordei e não é mais 2015, não acabamos de voltar da nossa lua de mel? Eu não reconheço minha própria casa, eu tenho um gato, um gato , quando a gente pensou na possibilidade de adotar um gato? ― Ele estava desesperado, eu conhecia aquele tom de voz e aquela expressão.
— Muita coisa aconteceu . Nunca pensamos nessa possibilidade, e exatamente por constatarmos que éramos tão diferentes que o nosso casamento não deu certo e tudo bem! — Parecia mais grave do que Yoona havia me contado, não parecia uma amnésia momentânea, mas aquilo também eram os diagnósticos dos médicos, então eu faria de tudo para ajudar naquele momento.
— Eu posso passar um tempo aqui? Eu não conheço meu bairro novo, e não conheço aquelas coisas todas que estão lá. Eu… — Ele largou a xícara de chá em cima do móvel e colocou as mãos na cabeça, estava atordoado ou só exausto mesmo de tudo aquilo, eu também estaria, afinal, na memória dele era tudo diferente.
— Claro, quer dizer, por mim tudo bem. — Abracei firme seu corpo, mostrando que estava realmente tudo bem. Não que nosso relacionamento tivesse terminado de maneira amigável, mas eu não o odiava, e parecia que ele não me odiava também, pelo menos não naquele momento e se ele quisesse me odeia quando sua memória voltasse, tudo bem, mas eu sentia que tinha que fazer aquilo por ele. — Mas não sei se a sua namorada vai concordar. — O soltei e sorri. É, ainda tinha aquilo, ele estava namorando outra vez e bem, ela me detestava por algum motivo que eu não sabia o que era, nós nunca nos encontramos na realidade, mas já houve episódios que ela demonstrou aquilo, e não era um sentimento recíproco, eu não a conhecia e nem sentia vontade de.
— Ainda tem isso, eu namoro uma desconhecida. Como eu… porque a gente… Meu Deus, eu vou enlouquecer. — Parecia que ele ia ter uma crise de choro a qualquer momento e todas aquelas perguntas e pressão só iam prejudicar ele ainda mais.
— Vamos fazer assim, você fica aqui agora, descansa um pouco, eu preciso ir ao escritório rapidinho resolver uns assuntos, quando eu voltar, a gente almoça, você conversa com ela e aí passamos no seu apartamento para pegar algumas coisas e o seu gato né, o bichinho não pode ficar sozinho e aí a gente vê como fica, tá bem? Só não precisa de estressar com isso, todos estamos fazendo nosso melhor para a sua recuperação. — Fui sincera e o mais sensível possível. Não queria que ele ficasse mais nervoso e eu não queria entrar naquela onda, alguém precisava ser a mente pensante de nós dois e eu sabia que essa essa sempre, até mesmo antes de nos separamos, era eu.
E assim o fiz, ele ficou lá, e percebeu mais animado, mesmo sentindo falta de algumas coisas, como nossas fotos espalhadas por todos os cantos ou a sua coleção incrível de vinil, que aparentemente, ele leiloou quando nos separamos. Passei pouco tempo mesmo no escritório, estávamos em fase de fechar um grande negócio para o marketing de uma das maiores empresas do país e precisavam de mim, tanto para batermos o martelo e fecharmos aquele negócio, quanto para a aprovação e verificação de planos no pacote de acordo com a solicitação e diretrizes da empresa. Mas como estava tudo encaminhado, não foi algo que tomou minha tarde toda. Deu tempo de chegar para que fossemos almoçar e fomos ao nosso restaurante favorito. Quando eu cheguei já tinha feito as reservas e estava com uma aparência melhor. Depois do almoço e de relembrarmos nossos melhores momentos ali, em uma tarde agradabilíssima, seguimos até o apartamento dele, onde seu gato e sua namorada o esperavam. Fiquei sentada na sala, vendo como ele ainda era muito limpo e organizado e reparando também que ele tinha decorado o lugar de forma clean, sem muitos objetos, os tons em preto e cinza também faziam parte da personalidade dele de quando ainda éramos parte importante na vida um do outro. Pelo jeito em que a mulher saiu batendo a porta do quarto, os pés do caminho até a porta e nem olhou na minha casa, eu sabia que a conversa não tinha sido nada legal, não que eu não tivesse ouvido também ela gritando coisas como "ela está fazendo isso de propósito para te reconquistar" e também "você vai se arrepender quando lembrar o que ela fez com você" e essas coisas de gente estranha, que eu imaginei que ela fosse. Mas ele saiu com um sorriso enorme do quarto, fiquei um pouco assustada, não sabia se ele estava em choque, se estava tendo alguma crise, ou se a contusão em sua cabeça estava deixando ele doido, mas ele estava com uma vibe incrível.
— Acho que não deu muito certo, não foi? — Me levantei indo até a cozinha que era separada da sala apenas por um balcão, me servindo de um copo de água.
— Ela não gostou muito do fato de eu passar um tempo na nos… Sua casa, mas tudo bem, nós terminamos e ela não precisa mais ficar chateada com isso. — Ele abriu a geladeira e pegou uma travessa de bolo e colocou sobre a mesa.
— VOCÊ O QUE? — Cuspi a água no meio da cozinha.
— Eca! Você continua nojenta. — Ele riu e nós dois fomos para a lavanderia para procurar algo para limpar aquela sujeira.
— Não , você não pode terminar com ela, você não sabe se quer isso, quer dizer, você quer agora, mas você não é você do futuro, você é você do passado e eu não acho que esteja pronto para decidir esse tipo de coisa, você pode se arrepender amargamente, semana que vem, ou mês que vem, quando sua memória voltar. Essa não é uma reação que os médicos indicam para o tratamento, meu Deus, estragamos tudo, vai atrás dela, conversa direito. — Fiquei nervosa, enquanto procurava um pano de chão, que nem eu e nem ele sabíamos onde estava.
— Foi uma decisão dela, não que eu quisesse continuar namorando uma pessoa que eu nem conheço atualmente, sabe… — Deu uma pausa constatando que não conhecia mais ninguém do seu ciclo social atual e era um pouco triste, afinal, sete anos não são sete dias, definitivamente! — Se ela fosse uma boa namorada me apoiaria na recuperação, você não acha? — Não que tivesse errado, eu tinha pensado a mesma coisa quando ele disse que ela quem terminou e pelo medo como foi inflexível durante toda aquela conversa.
— Eu não posso e não vou opinar sobre isso, não quero te influenciar em nada. — Não queria mesmo que uma das únicas figuras que ele confiava no momento, influenciasse em nada. — ACHEI! — Disse animada primeiro por ter achado o pano e segundo por terminar aquela conversa.
— Agora falta o rodo. — Ele disse olhando ao redor e eu fiz o mesmo e caímos na risada.
Achamos o rodo mais rápido que o pano, e depois que eu limpei a sujeira que eu fiz, comemos bolo e arrumamos as coisas dele para levar para a minha casa, bem como o gato, eu não era fã de bichos de estimação, mas não deixaria o bichinho indefeso sozinho. E eu precisava concordar que ele era uma bolinha de pelos muito fofa.
A memória dele não voltou, passaram alguns meses e parecia que as coisas estavam piorando, ele não lembrava onde colocava as chaves, ou o que iria fazer a seguir e eu fiquei preocupada, claro que o estresse do dia dia fazia nossa mente entrar em parafuso, mas os episódios com ele estavam cada vez mais constantes. Três meses tentando o tratamento de recuperação e tivemos de voltar ao médico, depois que ele saiu para ir ao mercado e esqueceu como andava, ele simplesmente travou, parecia que não sabia mais como fazer aquela coisa básica. Claro que depois do choque ele se lembrou como fazia, mas resolvemos que ele devia voltar ao hospital para tentarmos pelo menos um novo tratamento.
— A lesão do acidente foi mais grave do que imaginávamos. — O médico começou a falar e meu olho encheu de lágrimas. Depois que o médico que o atendeu desde começo disse que podia ser algo normal devido a lesão, procuramos outro profissional e definitivamente não era aquele tom que queríamos ouvir. — Uma parte grande da sua cabeça, bem como seu cérebro foi atingida e então alcançou a parte que desenvolve o mal de Alzheimer. A área comprometida com essa doença começa no tronco cerebral, mais especificamente numa área denominada núcleo dorsal da rafe. — Ele apontou para nós nas imagens do cérebro de para que entendêssemos melhor. — E como foi um acidente grave, a lesão também foi bastante severa, podemos tentar um tratamento, mas pela forma que as células estão danificadas, pode ser complicado estabilizar, mas temos de ser otimistas.
Infelizmente ele já estava no estádio 3, o mais grave se todos. O médico me chamou em particular, porque, mesmo querendo saber de tudo, o médico pensou que poderia ser perigoso se ele soubesse o estágio da doença, muitos pacientes se entregavam e agravavam o quadro clínico quando descobriam.
Foram meses difíceis, mas eu quis passar todos da melhor maneira possível ao lado dele. Mesmo depois de tudo que passamos no passado, nossa conexão tinha se restabelecido e eu ainda o amava e aprendi a gostar dele outra vez. Não poderia deixar que ele passasse por tudo aquilo sozinho. Claro que com o tempo passando e a condição se agravando cada vez mais, deixaram as coisas mais difíceis, especialmente para ele, que passou a nem lembrar mais como se mastigava uma refeição.
A internação foi inevitável, porque ele passou a precisar de sondas para se alimentar e fazer as necessidades básicas. E mesmo com todo o trabalho e as coisas do dia a dia eu sempre arrumava um tempo para ficar com ele lá e cuidar do que ele precisasse.
Quando eu saí do quarto depois que ele me fez aquele pedido, eu não sabia o que fazer ou pensar. Ele ter me colocado como responsável e guardiã já havia sido esmagador para mim, agora ter de tomar aquela decisão, onde a doença não tinha mais como reverter e ele só ia se esquecendo das coisas, até esquecer de respirar e morrer em consequência, eu só queria passar mais algum tempo ao seu lado e ele não queria esquecer de tudo a ponto de morrer daquilo, sozinho e mais perturbado do que ele merecia. Encostei a cabeça da parede da sala de espera e fiquei pensando nas palavras dele pedindo para que eu não o deixasse me esquecer e eu só conseguia chorar e chorar.
— Senhorita ? — Ouvi a voz do médico ao longe, provavelmente tinha pego no sono sentada ali, vira e mexe eu adormecia pelos cantos naquele hospital. Pelo semblante dele e o tom de voz, eu já comecei a tremer e sabia que algo ruim tinha acontecido. — Ele? — Não tive forças para terminar de perguntar. — Eu sinto muito mesmo! — Ele disse com uma voz solidária. — Se quiser se despedir.
Todos naquele sabiam como éramos próximos, quase ninguém mais ia o visitar, até porque, ele dificilmente se lembrava das pessoas, mas de mim não, ele nunca me esqueceu e eu nunca vou esquecer o que ele significou em minha vida, mesmo com tudo e apesar de tudo, a vida dele sempre fará parte da minha e a nossa conexão sempre existirá. Ele foi o amor da minha vida, minha terra, minha água e meu oxigênio.
FIM.
Nota da autora: Olá Jiniers, como estamos? Tem um olho nas lágrimas de vocês também, ou eu que sou muito sensível? E sim, eu sou culpada por matar mais um personagem, então, me proíbam de pegar mais ficstape com musicas assim, grande beijo! hahahahahhha espero que tenham gostado
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AH NÃO DEIXEM DE COMENTAR, ISSO É MUITO IMPORTANTE PARA SABERMOS SE ESTAMOS INDO PELO CAMINHO CERTO NESSA ESTRADA, AFINAL O PÚBLICO É NOSSO MAIOR INCENTIVO. MAIS UMA VEZ OBRIGADA POR LEREM, EU AMO VOCÊS. BEIJOS DA TIA JINIE.
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