Finalizada em: 04/05/2021

Prólogo

Era verão de um ano que eu não me importava. Minha família discutia que tipo de massa preparar para o domingo.
Família de italianos por parte de papai...
Mas minha mãe sempre brigava por um bom churrasco...

Era a discussão de sempre. Nada mudava. Tudo era igual. A casa era nova. Pelo menos isso, não é?
A casa ficava no campo, longe de tudo, longe de todos.
Eu sou meio controversa, vocês perceberão.
Gosto da casa e odeio a casa. Amo por ela ser afastada de tudo e todos. Mas a odeio exatamente por isso.
Gosto do som apenas do lago que ficava lá perto e odiava tanto silêncio também.
Amava não ter nada para fazer e odiava ficar entediada.
Já contei que sou controversa, certo? Pois é. Eu sou.
Amo e odeio tudo e todos. Não tenho muitos amigos, queria ser popular ao ponto de ter opções para com quem sair no final de semana, mas adorava estar sozinha.
Gostava de músicas, criava playlists diariamente e as apagava no final do dia por estar sendo repetitiva.
Minha irmã adorava ficar embaixo da macieira comigo, cantávamos algumas músicas antigas, enquanto ela imaginava viver em um musical, onde todos começariam a dançar e cantar exatamente do nada.
Ela também encontraria seu músico em busca da fama, que tem amor e paixão pelo amado jazz. Eu achava uma tremenda besteira. Mas adorava vê-la sonhar.
Normalmente eu não sonhava. Achava que o mundo não era uma fábrica de sonhos. De fato, que não. Então nem me dava ao trabalho de sonhar.
Até dia 25 de junho.
Era um dia extremamente quente, ninguém conseguia aguentar o calor infernal que fazia. Minha irmã teve a brilhante ideia de irmos para o lago.
— Uma péssima ideia! — Mamãe disse.
— Concordo! — Falei prontamente.
— Você mesmo já está com roupa de banho, . — Minha irmã rebateu.
Rolei meus olhos.
— Se concorda comigo, por que está pronta para nadar no lago? — Mamãe me questionou e eu fiz uma careta.
— Estou? Que roupa de banho? Que lago? — Girei pela sala, ouvindo minha irmã rir e minha mãe me acertar com uma almofada.
— Prometemos não demorar. — Mais uma promessa que não iríamos cumprir.
— Estou de olho em vocês. , leva a toalha. — Mamãe mandou e eu acatei.
Pegamos nossas toalhas e então atravessamos o jardim, pegamos a trilha de mais ou menos dez minutos e chegamos no lago. Não fomos os únicos que tinha chegado lá.
Um rapaz moreno, duas moças. Eles nadavam como se fosse o dia mais feliz de suas vidas. Era bonito. Era exagerado também.
Exagerado foi quando o rapaz me olhou, então todos nos notaram.
Querem ouvir uma coisa?
Exagerado foi meu ar ter se perdido, como se eu estivesse acabado de ser jogada no fundo daquele lago e estivesse me afogando, absolutamente sem ar e sem fôlego, sem propósito de vida até. Como se aquele último suspiro fosse exatamente o último. Tudo isso, só porque aquele rapaz de cabelos negros tinha aberto um sorriso para mim, enquanto aprofundava seu olhar misterioso no meu.
Desde aquele dia eu descobri o que era sonhar. E eu sonhei todas as noites da minha vida com aquele rapaz.
Meu doce encanto. Meu doce sonho. Meu doce .



O PRIMEIRO DIÁLOGO

Minha irmã estava nadando feliz da vida naquele lago, como se fosse algo que ela queria fazer por sua vida toda. Achava totalmente exagerado também, mas diriam que eu era apenas mais uma garota amargurada. Talvez eu fosse. Talvez não. Talvez a vida que era amargurada e eu apenas a vivia da minha melhor forma. Quem éramos nós para saber o que é e viver e como fazer isso da forma correta, certo? Não existia forma correta. Existia apenas o viver.
A água estava gelada demais para mim, mas parecia estar tão quente e gostosa na pele morena daquele rapaz, ele sorria e jogava água nas outras pessoas, e então seus olhos vinham até os meus e seu sorriso se estendia para o lado. Era como se ele me contemplasse, mas a verdade era que quem o contemplava era eu. Impossível não, quando ele era mesmo a personificação de sonho. Se alguém me perguntasse o que era de fato sonhar, eu diria que era como aquele sorriso que ele tinha em seus lábios, o seu tom de pele que me lembrava o verão, seus olhos que me faziam querer morar dentro deles e nunca mais sair.
Quem ele, de fato, era?
— A água fica ainda melhor de dentro do lago. — Ouvi sua voz gostosa falar perto de mim, então olhei para cima, vendo o mesmo se secando rapidamente e sorrindo abertamente para mim. — Eu sou o . — Estendeu sua mão para mim.
— Não duvido. Mas daqui onde estou está realmente bom. — Poderia ficar olhando para ele de onde estava mesmo. — ! — Respondi, segurando sua mão e sentindo um arrepio forte quando ele a apertou.
— Por quê? Agora quero que me convença porque está melhor daí... — pediu, rindo nasalado e me fazendo soltar um suspiro baixo. — Muito prazer, . — Piscou seus olhos lindos.
— Não consigo convencer nem a mim mesma das coisas, quem dirá outras pessoas. Não se deixe convencer por outra pessoa tão fácil assim, pessoas são manipuladoras. — Estalei a língua no céu da boca. — É mesmo um prazer? — Ergui as sobrancelhas, torcendo os lábios.
— Gostei da sua sinceridade. — Comentou, lambendo seus lábios e se sentando ao meu lado. — E por que não seria um prazer? — Virou seu rosto e deixou seus olhos se aprofundarem nos meus, como um lago profundo sem voltas para a superfície.
era um lago sem retorno.
— Ninguém gosta da minha sinceridade. — Falei, torcendo novamente meus lábios para o lado esquerdo. — Porque não sou uma companhia prazerosa. — Dei de ombros, mas adoraria ser para ele.
— Mas o meu nome é e não ninguém. — Riu baixinho, empurrando meu ombro de leve com o dele, tirando-me um sorriso levinho. — Há controvérsias nisso. Aposto.
— Há controvérsias em tudo, . — Disse, olhando para cima e sentindo a brisa gostosa do lago lamber toda a minha pele.
— Se você pudesse ressuscitar alguém para ter uma conversa, quem seria?
Uni minhas sobrancelhas com aquela pergunta e soltei uma risadinha.
— Ninguém nunca me perguntou isso antes... — comentei, ainda rindo baixo.
— Para de me chamar de “ninguém”. — Ele brincou, rindo também.
— Você está bem longe de ser “ninguém”. — Falei mais sério, engolindo a seco e encarando seus olhos mais de perto agora, vendo-o entreabrir seus lábios e soltar o ar de forma pesada.
— E você não respondeu minha pergunta. — Assisti a ponta de sua língua deslizar por todo seu lábio superior.
— Hitler. — Respondi prontamente e seus olhos se arregalaram.
— Para matá-lo de novo, certo? — Perguntou meio horrorizado.
— Talvez. Queria conversar com ele para ver toda a sua manipulação ao vivo, como te disse, as pessoas são manipuladoras. Mas ele era meio que a personificação disso. Por que não conhecer isso pessoalmente? — Divaguei, cutucando minha bochecha internamente.
— Faz sentido e ao mesmo tempo é meio doentio. Você sabe, não é? — Riu um pouquinho e eu concordei.
— E você? — Devolvi a pergunta.
— Ninguém. — Respondeu, sorrindo de lado.
— Oras… — ergui as sobrancelhas e o olhei confusa.
— Acredito que todos que se foram tiveram suas missões cumpridas, por mais que alguns possam ter ido cedo demais. — Mordeu seu lábio inferior e voltou a me encarar.
— Faz sentido e ao mesmo tempo é meio doentio. Você sabe, não é? — Repeti o que ele mesmo havia dito, fazendo-o jogar sua cabeça para trás e rir de um jeito gostoso.
Na verdade, ele riu de um jeito que me fez finalmente acreditar que a vida poderia sim ser realmente bela em todos os níveis de perfeição.
— Hmm… O que você faria se você soubesse que não pode falhar? Tipo, nunca!
Abri um pouco mais o sorriso com suas perguntas.
Somente aquele rapaz fazia aqueles tipos de perguntas, nunca tinha conhecido outra pessoa que costumava fazer coisas assim do nada. Isso mostrava o quanto ele era único. O quanto não se importava em ser daquela forma, se iria agradar ou não. Mas ele me agradava. Ele costumava me agradar mais do que qualquer outra coisa.
— Não acredito em perfeição. Acredito que todos nós devemos falhar, porque faz parte do nosso próprio amadurecimento. Faz parte da vida. Isso deve ser viver. Errar, corrigir, as consequências, errar de novo e aprender conforme os tropeços. Qual seria a graça, se não houvesse falhas?
Seus olhos castanhos estavam absurdamente fixos e presos nos meus conforme eu ia falando, até perdi um pouco o ar pela forma intensa como ele me encarava.
Céus!
— Você não tem falhas. — Ele disse extremamente baixo, quase como um sussurro.
— Tenho inúmeras. — Respondi, engolindo a seco.
— Não aos meus olhos. — Seus olhos desceram por todo meu rosto de forma bem lenta, fazendo o ar entrar cada vez mais devagar, não sabia que era possível respirar em câmera lenta, mas, naquele instante, foi provado que sim.
— Eles são perfeitos... — comentei rapidamente, suspirando baixo e vendo ele sorrir abertamente.
— Nada comigo? — Estendeu a mão para mim.
— Prefiro olhar apenas. — Fiz um biquinho.
— Então olha. — Sussurrou no meu ouvido e se levantou, voltando para a água.
Poderia olhar para ele pelo resto da minha vida.



A DANÇA NA CHUVA

e eu continuamos nos vendo todos os dias depois daquela primeira vez, eu adorava demais ir até o lago para conversar com ele até escurecer e ficarmos com fome. Ele era tão intenso, engraçado, conversava sobre tudo e ao mesmo tempo conversava sobre nada. Sentia que estava o conhecendo e ao mesmo tempo não estava.
Sentia que estava me viciando nele, era a verdade verdadeira. Estava absurdamente viciada em cada detalhe dele, nos seus lábios, no seu cheiro, no seu sorriso, em todo mistério que o envolvia.
Percebi que estava totalmente na dele, quando me peguei olhando para ele, enquanto o mesmo cochilava na minha perna depois de ter nadado quase o lago todo. Meus olhos não queriam olhar para mais nada além dos seus traços leves, enquanto ele parecia realmente relaxado.
Era aquilo estar apaixonada?
Mas aquilo me apavorava demais, porque eu só conhecia aquele do lago — e se ele não fosse aquele ? E se ele fosse outra pessoa fora dele? E se ele não me quisesse fora desse lago? Aquelas perguntas tiravam meu ar e faziam meu coração doer, deveria perguntar a ele todas essas coisas, mas eu sentia que tinha muito receio das respostas que ele poderia me dar.
— Para de me olhar! — Pediu sonolento e eu ergui levemente as sobrancelhas.
— Por quê? — Indaguei, sem parar de olhá-lo.
— Porque ninguém é bonito quando acorda... — respondeu prontamente, tampando seu rosto com as mãos.
— Você é excepcionalmente lindo. — Falei logo em seguida, sem sombras de dúvidas no meu tom de voz, isso o fez tirar suas mãos de seu rosto e me olhar com aqueles lindos olhos. — O que foi? Estou falando a verdade. Você é lindo. — Abri um sorriso pequeno.
— Acho que você consegue ver mais de mim do que eu mesmo ou qualquer outra pessoa. O que você enxerga quando me vê? — Perguntou, olhando-me extremamente sério, mantendo seus olhos intensos dentro dos meus olhos.
— Enxergo exatamente tudo que eu nunca tinha entendido antes, mas ainda continuo sem entender. Enxergo o que eu acredito ser beleza e perfeição, tudo que há de bonito para os meus olhos usado em cada parte sua. Não digo somente a beleza externa, mas tudo que você me mostra ser por dentro. — Respondi com a voz branda e calma, apesar de estar com o coração extremamente acelerado.
— Tem vezes que eu penso que você nem existe, sabia? — Comentou, soltando o ar de forma pesada e levantou seu tronco, ficando extremamente próximo de mim, tão perto, que sentia seu ar sendo solto e batendo no meu rosto. — Eu também te acho a pessoa mais incrível que já conheci, nunca vou me esquecer dos seus olhos e de tudo que conversamos. — Disse com a voz baixa e rouca.
— Só dos meus olhos? — Uni levemente as sobrancelhas, sentindo meu olhar me trair e descer até seus lábios, que estavam tão perto.
Quando os umedeceu, soltando seu ar de forma pesada, senti até mesmo minha boca secar.
— Não… Nem só dos seus olhos. — Sua voz saiu mais rouca ainda, mais baixa e eu suspirei fraco. — , você já beijou alguém?
Meus olhos subiram imediatamente para seus olhos com aquela pergunta.
— Nos lábios? — Retraí de leve meus lábios e ele assentiu. — Só um selinho uma vez, um tempo atrás, mas foi horrível. — Contei, sentindo minhas bochechas corarem.
— Você sente vontade de beijar de novo? — Perguntou com a voz mais baixa ainda e senti ele passar seu nariz pela lateral do meu.
Aquilo me causou arrepios intensos.
— Não sei se sou boa nisso... — disse de forma tímida e soltei o ar como um suspiro, quando ele alisou meu nariz de novo com o seu. — Isso é bom! — Comentei com a voz rouca e vi ele sorrir de leve.
— Eu… — ele se afastou, quando nós dois nos assustamos com um trovão e então nos levantamos imediatamente.
— Céus, precisamos voltar! — Disse, olhando como o céu tinha ficado escuro e formava uma tempestade forte, mas segurou minha mão.
— Fica comigo. — Pediu, entrelaçando nossos dedos.
— Aqui? — Olhei novamente para o céu e então a chuva caiu de repente, forte e intensa, molhando-nos por inteiro.
— Sim. Fica comigo na chuva? — Sua mão apertou a minha e ele me puxou contra seu corpo, fazendo-me prender o ar e segurar seu ombro com a outra mão.
— Fico contigo aonde você quiser. — Deixei meus olhos dizer as mesmas palavras para os dele com toda a sinceridade que existia em mim.
segurou minha mão com mais firmeza e me rodou ali mesmo, tirando-me uma risada espontânea. Então me puxou contra seu corpo e começou simplesmente dançar comigo no meio daquele temporal. Os trovões ficando cada vez mais barulhentos e os raios fazendo clarões no céu, que estava um cinza escuro. Tudo estava lindo. conseguia deixar tudo excepcionalmente belo.
Ele tinha um sorriso incrivelmente perfeito em seus lábios, que eu adoraria sentir nos meus algum dia. Então senti ele soltar minha mão e levou suas duas até minha cintura, onde ele segurou com firmeza ao deixar meu corpo completamente colado ao dele. Encostei minha testa na dele, sentindo o mesmo passar a ponta do seu nariz pela lateral do meu, causando-me tantos arrepios, que nem aquela chuva gelada conseguiria.
Sua respiração quente batia contra meu rosto e se embolava com a minha.
Fechei meus olhos de forma automática, apenas para sentir o quanto ele estava perto naquele momento. Minha mão esquerda subiu até sua nuca, meus dedos pegaram seus fios escuros e eu os puxei levemente, ouvindo suspirar pesado, conseguindo sentir o quão perto ele estava apenas por sentir seu hálito delicioso vindo contra meus lábios.
Ele ainda não parava de nos movimentar, era mesmo uma dança e era como se eu ouvisse a mesma canção que tocava em sua mente, porque estávamos em total sintonia.
Tudo estava perfeito. Tudo com ele seria perfeito.
— Quero ter meu primeiro beijo com você... — pedi baixinho, abrindo meus olhos e encarando seus lábios.
— Tem certeza? Porque será algo que você irá se lembrar para todo sempre. — Respondeu com a voz baixa e sussurrante.
— Quero me lembrar de você para sempre, . — Disse sem delongas, sem hesitar, sem nem pestanejar.
Seus olhos desceram até meus lábios também e assisti ele umedecer os dele, que já estavam molhados devido à chuva. Levei meu indicador e dedo médio até o contorno do seu inferior e o desenhei com sutileza, vendo-o abrir um pouco mais de seus lábios e soltar seu ar quente contra meus dedos. Continuei contornando sua boca perfeita com meus dedos, até sentir colocando a ponta de sua língua para fora e lambendo de leve somente as pontas dos meus dedos.
Sorri fraco com a sensação inebriante que me deu.
Então, puxei levemente seu lábio inferior para baixo e me aproximei, deixando meus dentes pegarem com sutileza, puxando-o com meus incisivos, fazendo minha cabeça até ir um pouquinho para trás e ouvindo gemer baixinho.
— Já vou me lembrar de você para todo sempre, . — Sussurrou, enquanto olhava em meus olhos.
Então seus lábios apertaram os meus e meus olhos se fecharam automaticamente ao sentir a maciez de seus lábios passando sobre os meus, então os abri levemente e suspirei forte, quando a língua dele deslizou no meio da minha boca até entrar por completo, escorregando de forma pressionada pela lateral da minha.
Puxei o ar pelo nariz e o prendi, podendo sentir meu coração bater aceleradamente como jamais tinha batido antes. Minha mão subiu de sua nuca e meus dedos pegaram mais seus fios, enroscando-os em meus dedos ao passo que ele rodeava minha língua e a chuva nos molhava ainda mais, caindo com fervor sobre nossos corpos.
No entanto, sentia seu corpo quente e o meu se esquentando cada vez mais, mesmo que a chuva estivesse extremamente congelante.
Suas mãos fortes apertavam minha cintura e me puxava contra seu corpo, sentia que o beijo tinha aumentado o ritmo e era algo inexplicável. Nunca havia beijado antes, mas parecia que eu sabia o que fazer exatamente a cada movimento dele, quando sua cabeça tombou para a esquerda, a minha tombou para a direita. Seus lábios se encaixavam nos meus com tamanha perfeição e quanto mais ele me puxava contra seu corpo quente, mais eu conseguia sentir como seu coração também batia muito forte.
E aquele foi o melhor primeiro beijo que eu poderia ter em toda minha vida.
Só não o melhor de todos.
me impressionava todas as vezes que nos beijávamos. Ah, foram tantas!



UM ANO DEPOIS

Já fazia mais de um ano e meio que conhecia , mais de um ano e meio que o encontrava todos os dias naquele lago. Onde conversávamos sobre tudo e ao mesmo tempo sobre nada. Um ano e meio que o conhecia, mas ao mesmo tempo sentia que não conhecia nada sobre ele. Mas também um ano e meio sem cicatrizes e hematomas. Mamãe dizia que eu tinha melhorado. O fato era que eu tinha encontrado minha cura no sorriso daquele rapaz de belos olhos, que encontrava no lago todo santo dia, praticamente.
Hoje estava fazendo um ano do nosso primeiro beijo, eu tinha preparado um piquenique para nós dois, nunca tinha visto ele sorrir tanto quanto hoje, assim que chegou e me viu toda arrumada, esperando-o com flores no cabelo. Ele beijou meu rosto inteiro e disse que eu era o melhor presente que a vida poderia ter lhe dado, mesmo que ele não acreditasse que a vida realmente desse presentes sem nada em troca.
— Eu te amo, ! — Sussurrei, enquanto ele passava seus lábios em meu queixo, mas isso o fez se afastar para me encarar nos olhos.
— Ah, … — vi lágrimas em seus olhos e isso me fez unir as sobrancelhas. — Eu te amei antes mesmo de te conhecer.
Abri um sorriso com aquilo e colei nossos lábios, beijando-o de forma intensa e profunda.
Senti seu corpo me deitar no pano xadrez e subir em cima de mim, ao passo que sua língua entrava em minha boca com mais avidez, mais afinco. Era como se ele mostrasse o quanto ele me amava naquele beijo, então retribuí o beijo com imenso prazer, demonstrando que era completamente recíproco.
Meus dedos alisavam seu belo rosto, sem deixar de deslizar minha língua em seus lábios extremamente macios.
fez meu corpo todo se arrepiar com suas mãos puxando minha blusa e a tirando no instante seguinte, aquilo me fez ficar ofegante e meus olhos encararem os seus com mais intensidade, mas ele me olhava da mesma forma, até que seu olhar caiu por todo meu corpo e mesmo que estivesse com vergonha, seus olhos pareciam brilhar ainda mais por cada centímetro que eles pareciam decorar. Então vi um sorriso lindo se abrir em seus lábios, até que ele voltou a encarar meus olhos.
— Nunca vi tamanha perfeição em toda minha vida... — sussurrou roucamente.
— Você que é perfeito. Você é perfeito. Extremamente perfeito! — Disse de forma desesperada até. — , você é perfeito.
Isso fez eu puxá-lo para outro beijo ainda mais rápido e mais profundo que os outros, nossas respirações estavam completamente ofegantes. Beijamo-nos sem parar, até que tivemos que nos separar apenas por alguns segundos para tirar nossas roupas, sem pensarmos em mais nada, a não ser em sentir nossos corpos sem nada para atrapalhar. Apenas nossas peles raspando uma na outra, esquentando aos poucos de forma gradual, somente fazendo nossas respirações ficarem ainda piores.
Seus lábios percorreram por todo meu corpo de forma apaixonada e carinhosa, sons descompassados e ofegantes escapavam de meus lábios, conforme beijava cada parte do meu corpo com um prazer intenso e era como se até o mundo tivesse parado para que a gente fizesse amor.
Sim, nós fizemos amor naquela tarde ensolarada em frente ao lago que nos conhecemos.
Fizemos amor no nosso lugar.
Nós nos amamos ainda mais naquele momento.
E para sempre eu o amaria, como se todos os dias de minha vida eu fizesse amor com ele em frente àquele lago, no nosso lugarzinho.



A BRIGA

Mais de dois anos e meio que eu pertencia ao . O do lago. Mas também dois anos e meio que eu apenas conhecia o do lago. Aquilo me incomodava demais, estava incomodando tanto quanto antes. Era sempre os beijos naquele lugar. O sexo naquele lugar. Palavras que somente o lago e as árvores ouviam. Estava de saco cheio daquilo, essa era a verdade.
— Quero ir ao cinema com você e segurar sua mão, enquanto estamos caminhando na frente de todos. Quero te levar para conhecer minha família. Quero namorar você como todos namoram. — Soltei com extrema decepção, enquanto ele me encarava assustado.
— Você não está feliz comigo no nosso lugar? , esse é nosso lugar! — Respondeu, parecendo cansado e até mesmo respirou bem fundo.
— Sabe o que acho? Que você é um mentiroso que tem vergonha de mim, isso que eu acho. — Joguei em sua cara, mesmo que ver lágrimas escorrerem de seus olhos tenha me machucado.
Soube que tinha o magoado.
— Você tem outra pessoa fora daqui, não é mesmo?
— É isso mesmo que você pensa de mim? — Perguntou com a voz trêmula, seus dedos trêmulos também secavam seu belo rosto.
— É sim. Vamos sair daqui, então, prova pra mim. — Cruzei meus braços, sendo bem firme com ele.
— O seu problema sempre foi a falta de confiança em mim mesmo. Você não me merece mesmo! — Respondeu chorando mais e então me deu as costas.
! Volta aqui! — Berrei, tentando ir atrás dele, mas ele simplesmente tinha ido embora.
Aquilo só me fez desmoronar, porque ele tinha comprovado todas as minhas paranoias. Ele não queria sair comigo em público. Era somente naquele lugar escondido de todos, sem ninguém ficar sabendo. O pior de tudo, era que eu o amava.
Oh, meu Deus, como eu precisava dele ao meu lado!



A DOR

Depois daquela briga, eu não apareci mais no lago, apenas senti as feridas que tinha deixado no meu coração. Os hematomas que o amor dele tinha deixado para trás. As lágrimas não cessavam nunca. A dor nunca ia embora. A falta dele só aumentava cada vez mais. Ele era o único que podia me manter são, porque agora nada mais fazia sentido. Tinha voltado a ser aquela pessoa descrente de tudo. Cega para o mundo e aleijada para viver.
Voltei ao lago depois de um tempo, mas ele não estava mais lá. Contava os dias desde que nunca mais o vi. não estava mais no nosso lugar. Tinha feito ele ir embora e agora eu só tinha as feridas que ele havia deixado para trás. Com certeza, tinha algo na água, porque parecia que estava cada vez mais gelada. Pois até mesmo a água sentia falta dele. O lago não era mais tão belo sem ele dentro dele, sorrindo e jogando água para cima.
A cada dia que passava, a única coisa que me segurava era aquela esperança de que ele um dia voltaria para que eu finalmente encontrasse um pouco de paz. Minha mãe mandava eu tirá-lo de minha mente todo santo dia, mas não tinha como tirar machucados que nunca iriam se cicatrizar. Porém, eu não queria perder nem os machucados que ele havia deixado em mim, porque eram as únicas coisas que me levavam para perto dele. A dor que eu sentia era me sentir perto de . Ela fazia a saudade ficar menor, porque a dor era mais forte.
No entanto, houve um dia que me acharam perto do lago depois de ter desaparecido por um dia inteiro, meu corpo estava gelado pelo que minha irmã dizia, eu não dizia coisas com coisas e agora eu fui obrigada a ver alguém. Um especialista, porque mamãe dizia que eu estava com depressão. Talvez estivesse mesmo, mas talvez eu sempre estive e os únicos anos bons foram quando eu realmente amei e fui amada de volta.
Não adiantou. O lago sempre me chamava de volta. Os machucados sempre estavam cravados em meu corpo. sempre faria parte de mim e eu precisava encontrá-lo.
Por que ele não voltava para mim?
Eu estava me sentindo completamente perdida sem ele.
Até que minha irmã entrou no quarto com uma caixa na mão.
— O nunca irá voltar... — ela disse bem baixinho, com pesar na voz, e eu a olhei com o cenho franzido no mesmo instante.
— Por que não? — Indaguei com certo desespero.
— Você realmente não se lembra, não é? — Suspirou de forma pesada.
— O que eu não lembro? — Um ponto de interrogação apareceu na minha testa.
— Nós não nos mudamos para cá, nós apenas voltamos para cá. — Contou, aquilo me fez arregalar mais os olhos. — Ficamos um bom tempo sem vir aqui, devido ao seu primeiro melhor amigo… . — Torceu de leve seus lábios, aquilo fez meu coração doer.
— Do que você está falando? — Minha voz mal saiu, de tão rasgada que estava.
foi seu melhor amigo e seu primeiro amor. Mas ele morreu afogado naquele lago, você estava junto com ele. Parece que ele foi te salvar, conseguiu salvar sua vida, mas a dele… — então abaixou a cabeça e eu neguei rapidamente.
— Mentira! Mas eu estava o vendo! Ele estava vivo! — Comecei a falar extremamente alto, enquanto lágrimas molhavam todo meu rosto e aquela dor parecia rasgar todo meu corpo de dentro para fora.
— Por isso o psiquiatra, . Por isso os remédios, por isso a preocupação de nossa mãe. Você nunca aceitou a morte dele. — Respondeu com calma, mas chorando também. — Se não quer acreditar em mim, aqui está. Tudo dentro dessa caixa irá responder qualquer dúvida que tiver. — Então apontou para a caixa.
Meus olhos extremamente cheios d’água encararam aquela caixa. Mesmo trêmula, levei minhas mãos até ela, abrindo-a e tudo que vi lá me afogou mais uma vez. Minha irmã estava certa. Havia fotos do comigo crianças, ele em todos meus aniversários, viagens juntas. Bilhetinhos fofos que trocávamos na escola... Naquela caixa estava toda minha vida com ele.
“Sempre que precisar de mim estarei no lago. O nosso lugarzinho.”
Aquele bilhetinho me tirou lágrimas grossas e quentes, soluços também vieram com força e machucaram minha garganta até de tão fortes que vieram. Peguei a última foto que tiramos juntos, ele estava tão lindo com aquele sorriso perfeito, a língua entre os dentes, enquanto sorria e eu ao seu lado, olhando para ele com a cara emburrada por algum motivo que ele estivesse me zoando. Mas meu olhar para ele era sempre o mesmo: admiração. Paixão. Afeto e amor.
Os machucados que ele havia feito em mim durariam para sempre, assim como meu amor por ele também existiria em todos os dias da minha vida. Sempre o amaria e sempre me sentiria perdida sem o seu amor.
Então, quando não estava mais aguentando de dor, eu voltei.
Voltei para nosso lugarzinho.
Voltei para o lago, o nosso lugar.
Fechei meus olhos e senti a brisa bater em meu rosto. Era quase como sentir o abraço dele, então forcei mais as minhas pálpebras e senti lágrimas escorrerem de meus olhos, até eu dar um passo à frente, sentindo a água do lago molhar meus pés. Cada dia mais fria. Mas não parei, continuei dando passos para frente, entrando naquele lago depois de muitos anos.
Precisava encontrá-lo de novo. Precisava senti-lo mais uma vez.
Então senti alguém segurar minha mão, abri meus olhos e olhei para trás, vendo-o ali.
— Você não precisa entrar aí para me ver, . — Disse com um sorriso lindo em seus lábios.
— Preciso sim. — Sequei minhas lágrimas e tentei entrar, mas ele não deixou.
— Não precisa. Sempre vou estar com você, em seu coração. Esse será o nosso lugar para sempre, o meu lugar favorito de se estar. No seu coração, assim como você sempre esteve no meu. — Seu sorriso se abriu um pouco mais e senti ele levar minha mão até seus lábios macios.
— Não vou aguentar ficar mais sem você. Não consigo… não consigo ficar sem seu sorriso, sem seu toque, seu cheiro. — Chorei mais, começando a soluçar.
— Mas você sempre terá tudo que quiser de mim. Sempre serei seu, estarei sempre ao seu lado, meu amor. Não precisa entrar aí para me sentir, apenas feche seus olhos e pensa em mim, que estarei ao seu lado. — Sua voz era tão branda e calma, acabei saindo da água e o abraçando com força, chorando sem parar. — Eu te amo tanto.
— Eu te amo demais, . Sempre vou me lembrar de você, nunca vou me esquecer de você. — Solucei mais em seus braços. — Lembra quando você me perguntou, se eu pudesse ressuscitar alguém para ter uma conversa, quem seria? Minha resposta mudou, seria você. Queria você de volta. — O apertei ainda mais nos meus braços.
— Não precisa de nada disso. Estou aqui para sempre. Lembra da minha resposta? — Ele se afastou, apenas para me olhar e então secou minhas lágrimas. — Acredito que todos que se foram tiveram suas missões cumpridas, por mais que alguns possam ter ido cedo demais. — Repetiu o que disse naquele diálogo, então solucei mais baixinho, balançando a cabeça em entendimento.
— Você foi cedo demais, te levaram embora de mim. — Murmurei, ainda chorando demais.
— Não me levaram embora. Impossível fazer você se esquecer de mim e enquanto existir alguém que me ame e se lembre de mim, então eu nunca realmente fui. — Sorriu um pouco mais e alisou minha bochecha.
— Jamais vou me esquecer de você! — Disse com mais firmeza, olhando diretamente em seus olhos.
— Então eu sempre viverei em você.
Sorri fraquinho e senti ele encostar sua testa na minha.
Jamais me esqueceria do garoto do lago. Do nosso lugarzinho. E da pessoa que eu sempre daria tudo para poder abraçar de novo.


“Deve haver algo na água;
Porque a cada dia, fica mais frio;
E se eu pudesse te abraçar;
Você impediria que minha cabeça ficasse pior.”

Bruises - Lewis Capaldi



FIM!



Nota da autora: Olá, olá! Confesso que desceu umas lágrimas sim no final, mas, infelizmente, não saiu do jeito que esperava por algo chamado: BLOQUEIO CRIATIVO. Céus, que doença terrível! Queria que tivesse saído melhor pelo meu amor a essa música, mas fico feliz que eu consegui terminar sem desistir também.
Espero que tenham gostado, comentem comigo o que acharam. Críticas construtivas serão sempre bem-vindas!

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