02. champagne problems

Finalizada em: 10/05/2021

Capítulo Único

you had a speech, you’re speechless
love slipped beyond your reaches
I couldn’t give a reason
… champagne problems.


A vilã inescrupulosa, a princesa do castelo, a mãe devoradora, o velho sábio. conhecia uma incontável rede de arquétipos. Tentou se encaixar num deles. Falhou. Nos últimos dias, perguntava-se bastante sobre suas próprias características. Chegou à conclusão de que estava velha demais para encontrar qualquer definição, mas por dentro, ansiava por algo que ela não conseguia trazer nome. É isso, , você chegou até aqui, pensou. Não pode dar pra trás agora. Você não é a vilã.
— Mas também não é nenhuma mocinha — resmungou.
Encarava-se no espelho e questionava-se. Ao descer pelas escadas e atravessar o caminho, oficialmente, não seria mais . Tornaria-se Foster. Fez uma careta que foi refletida pela lente do espelho. Será que nunca tinha parado para reparar que aquela era uma péssima junção?
era uma noiva simples, mas estava muito bonita. Com o rosto iluminado pela maquiagem que tinha tons neutros e leves, os cabelos soltos com uma trança no lado direito e um vestido com mangas que deixava suas costas nuas. Apesar disso, tudo parecia estar fora do lugar, o que acabou deixando todo o resto mais feio aos seus olhos. Sentia-se feia. Havia algo de errado. Perguntou-se quem era aquela a quem olhava no espelho. Perguntou-se, sou eu mesmo? Por que não me reconheço? Eu deveria estar feliz?
Pensou em Travis. Imaginou-o esperando por ela no fim do corredor. Seu coração não bateu mais forte, seu peito não esguichou em ansiedade. Fez uma careta para a imagem que o espelho replicava e a recebeu de volta. Pensou sobre nunca mais transar com ninguém que não fosse Travis e arregalou os olhos. — Para de nóia, . Isso nunca te incomodou antes. Ele fode bem, pelo menos.
Poderia ser melhor, algo surgiu bem no fundo de sua consciência e ela prontamente ignorou. De repente, sentiu-se culpada. Não deveria estar pensando nessas coisas.
Passou, então, a tentar enumerar os motivos pelo qual parecia uma boa escolha casar com o Travis à beira dos vinte e seis anos: em primeiro lugar, bom, ele havia pedido. Em segundo… , nesse momento, tentou se convencer de que continuava apaixonada por ele para poder colocar na lista. Mentiu para si mesma de maneira tão chula que nem mesmo conseguia acreditar. Um pânico assustador paralisou seus membros enquanto seu rosto se montava em uma expressão de completo desespero.
Não estava mais apaixonada por Travis, conseguia conceber esse fato agora. As mangas do vestido passaram a pinicar em seu braço. Quis desfazer a trança em seu cabelo e tirar os sapatos de salto. Sentia-se sufocada.
Eventualmente alguém a procuraria no quarto de hotel onde se arrumou para que pudessem ir para o espaço onde o casamento esperava somente por ela. Levantou-se num brusco movimento que jogou a cadeira em que estava sentada para trás. Seu peito subia e descia com a respiração descompassada e a adrenalina fez seu coração bater rápido de um jeito que Travis jamais havia conseguido. Não poderia fazer aquilo. Não poderia se casar com ele. O que estava pensando, afinal? Quem era ela?
Ela era a porra da .
Num impulso, pegou o celular e as chaves do carro na bancada, saiu cuidadosamente pela porta e desceu os dezessete lances de escada segurando a cauda do vestido até chegar à garagem sem parar nenhuma vez. Ao entrar no carro, sentiu-se aliviada por não esbarrar com ninguém no caminho.
não fazia ideia de para onde estava indo, não tinha para onde ir sem ser encontrada. As mãos no volante eram tensas, a postura reta, Dua Lipa tocava pelo bluetooth e ela não conseguia pensar em trocar, muitas coisas passeavam por sua cabeça. Uma enxurrada de pensamentos supostamente incoerentes faziam submergir em hipóteses paranoicas e teorias rasas, quando, na verdade, uma única frase poderia sintetizar os últimos meses de sua vida e suas escolhas impensadas: você não tinha coragem de dizer pra ele que não o amava mais porque, quando se foi abandonada antes, qualquer pedaço de amor lhe parece irrecusável. Mas, talvez, não estivesse pronta para assumir isso para si mesma ainda.
Ao invés disso, permanecia entravada na cadeira do motorista dando voltas aleatórias pela cidade ao dirigir de maneira descuidada e rápida pelo nervosismo. sentia a raiva preencher seus poros: raiva de Travis por tê-la pedido em casamento, raiva de si mesma por ter aceitado, por ter empurrado com a barriga por tantos anos até ali. Sentia raiva ao lembrar de pequenas coisas sobre o relacionamento que ela deixava passar, sentia raiva de grandes coisas sobre o relacionamento que ela deixava passar. Physical preenchia o ambiente de maneira desconexa, tinha os olhos arregalados e meditava obsessivamente sobre estar fugindo de seu próprio casamento. Olhava para frente com íris fixas e uma expressão de palpável desespero no rosto. Não notou a despersonalização, o momento em que sua mente se desconectou da realidade: flutuou para um lugar escondido de sua consciência em que ela não conseguiu achar a tempo de impedir o carro de bater contra qualquer coisa que estivesse à sua frente. Quando voltou a si, já era tarde demais.
Gritou ao observar o homem abrir bem os olhos ao perceber que se aproximava. Freou com toda sua força, mas o carro bateu contra ele mesmo assim, que caiu para trás com o impacto.



— Sim, eu aceito.
Ele disse antes de fechar os olhos. tentou conter a risada surpresa e nervosa ao ouvir as palavras e deu alguns tapinhas no rosto para ver se ele acordava.
— Você não pode dormir, cara! Acorda, por favor!
Mas não houve sucesso nenhum.


A primeira ligação que fez foi para Olívia. Puta merda, puta merda, puta merda, eu atropelei um cara, Oli, eu atropelei um cara, eu não sei o que fazer, caralho, meu cu.
Xingava em português enquanto Olívia surtava, ansiosa, e perguntava desesperadamente onde estava. Patrick, que estava ao seu lado, pegou o telefone de sua mão e foi pragmático ao dar as instruções: chame uma ambulância, preste um boletim de ocorrência, acompanhe-o ao hospital. Foi exatamente o que ela fez. Você tava fugindo, não tava? suspirou sem conseguir dar um motivo. Não conte a Patrícia sobre o acidente. Respondeu. Olívia assentiu. Não precisou de nenhuma confirmação. Eles já sabiam. Vamos avisar aqui que você não vem.
Estava sentada na poltrona ao lado da cama onde o rapaz, que ela havia descoberto se chamar Harry, continuava descansando. Alguns arranhões, uma concussão e um pé torcido foram o resultado do pequeno acidente, mas ele receberia alta em breve. E esperaria ali até o momento em que ele fosse liberado. >br> Enquanto algumas pessoas se aproximavam para ajudar, prestou as burocracias legais e ligou para uma ambulância o mais rápido que pôde, acompanhando o rapaz semi acordado até o hospital em seus trajes de noiva. Arqueava a sobrancelha de maneira imponente para cada pessoa que a questionava com o olhar. Algumas a reconheciam e cochichavam, outras levantavam o celular indiscretamente e soube naquele momento que deveria ficar longe das redes sociais pelas próximas semanas.
Entraram pelos fundos com a ambulância. Não avisou onde estava. Não queria ser encontrada. Logo depois de uma ligação conturbada com Tessa, a sua assessora de imprensa, desligou o celular — que permaneceu desligado durante as quatro horas que passara no quarto do hospital desejando ansiosamente tirar aquele vestido. Com o celular bloqueado, não conseguiu acessar os contatos do rapaz que dormia ao seu lado. Nada de muito grave havia acontecido. Ele estava bem, descansava, tinha todos os ossos no lugar e alguns cortes no rosto e nos braços. Olhou pra ele e sentiu o peso de sua irresponsabilidade cair sobre os ombros.
Nada aconteceu, tentou se consolar. Poderia ter acontecido, mas não aconteceu. A sua cabeça doía. O seu corpo doía. Sua nuca estava tensa e, ao observar os traços do rapaz desacordado, colocou as mãos no rosto e gritou abafadinho. Sentiu os olhos arderem, mas não se permitiu chorar. Depois de algum tempo distraiu-se assistindo Ruby Sparks que passava na televisão do quarto.


Ao abrir os olhos e focar na mulher ao seu lado, Harry deu um grito de susto.
Era a ao seu lado. Era a porra da . Mais do que isso.
Era a porra da vestida de noiva.
Só poderia ser um sonho, talvez uma daquelas pegadinhas da MTV, ter sido transportado para uma realidade alternativa, não sabia. Nenhuma das possibilidades parecia minimamente coerente. Não podia ser real. Tinha que estar sonhando.
— Er… Oi.
abriu os olhos e virou-se para ele, que vestia uma expressão confusa no rosto.
— Porra, você acordou, oi, caralho — levantou-se. — Me desculpa. Me desculpa. Toma aqui um pouco d’água.
Harry observava atento enquanto ia até a bancada buscar um copo de água para ele, que aceitou, ainda sem entender muita coisa.
Seu corpo doía inteiro, estava cansado e tinha a mente lenta. Poderia facilmente voltar a dormir se fechasse os olhos.
— Me diz que isso não é uma versão baixo orçamento de Se Beber Não Case — foi a primeira coisa que ele disse ao acordar, trazendo para si a atenção de , que piscou algumas vezes ao respirar aliviada ao ouví-lo dizer.
Não pode deixar de observar. Ela, com certeza, era muito mais bonita pessoalmente. fez uma careta confusa. Harry piscou algumas vezes ao encará-la e, por fim, teve o estalo: não tinha plano de saúde. Tentou se levantar em certo desespero, mas ela não deixou. — Puta merda, que hospital é esse?
— Eu bem queria que fosse — suspirou com uma risada pelo nariz. — Não se preocupe com isso, por favor. Eu já paguei tudo. Eu sinto muito. Eu…
Harry respirou, ainda meio desnorteado, mas em sua atual situação, não tinha muito como negar. Tentou se acomodar melhor na cama. estava na poltrona ao seu lado, totalmente reclinada para ele e olhava em seus olhos com muito cuidado. Sentiu o estômago embrulhar. Era a ali, bem ao seu lado, dando-lhe toda a atenção do mundo.
. Possivelmente uma das mulheres mais fodas da indústria hollywoodiana. Possivelmente uma das mulheres mais bonitas que já havia visto na vida.
— O que aconteceu?
— Eu meio que te atropelei. É, foi isso, eu te atropelei, ok? Me desculpa. Eu estava… — olhou para si mesma e depois voltou os olhos pra ele. — fazendo uma sessão de fotos. E então, Harry riu. arqueou a sobrancelha, levemente irritada.
— Ah. Entendi.
— O que? Você tá sendo irônico?
— Você não é atriz ou algo assim? — perguntou, debochado. — Deveria ser melhor nisso de contar histórias.
Harry se arrependeu do que disse no exato momento em que deixou as palavras saírem de sua boca. A fúria tomou os olhos de de maneira a fazer sua pele arder pelo jeito que o encarava. Apertou as mãos contra os braços da poltrona com os ombros subindo e descendo em um descompassar de sua respiração. Ele engoliu em seco, afastando-se um pouco para o lado.
A primeira vez que viu atuar foi num filme bobo em uma emissora de televisão que não se lembrava o nome. Ela tinha os seus dezessete ou dezoito anos. Era bem mais nova do que era agora e não tinha influência nenhuma na indústria, nunca havia ouvido falar dela antes. Apesar disso, não pode deixar de se encantar.
Era um papel secundário num suspense denso que ela guiou com maestria o suficiente para abrir as portas para os seguintes anos de sua carreira. Contratada pela HBO, havia trabalhado em séries como Big Little Lies. Atualmente, era a apresentadora de um programa que discutia a fundo filmes complexos com convidados relevantes da indústria cinematográfica. Harry a admirava de longe, tanto pelo seu amor por arte, quanto pela curiosidade sobre a brasilidade que a mulher nunca deixava de demonstrar nos comentários e nas redes sociais. Harry gostava de acompanhar o seu Instagram.
Não sabia até que ponto deveria mencionar isso ou não, porém, entendeu que talvez não fosse a melhor abordagem. — Desculpa, eu faço piada quando tô nervoso.
deu de ombros ao respirar fundo.
— Tudo bem, eu te atropelei, acho que compensa um pouco.
— Você… Eu atrapalhei seus planos?
Esparramou-se na cadeira. Teve a sensação de que não queria conversar sobre o ocorrido, mas não se importou, continuou sustentando o olhar.
— Não. Eu atrapalhei meus planos. Você foi um efeito colateral, eu acho. O universo querendo me fazer pagar por ser uma pessoa horrível.
— O atropelado fui eu. Talvez eu seja a pessoa horrível e você só ajudou o universo a me fazer pagar pelo meu karma.
riu, meio mórbida, e recostou a cabeça para trás.
— Pare de ser legal comigo…
— Não posso correr o risco de você me deixar aqui pra pagar a conta do hospital — ele fez piada de novo. riu pelo nariz de novo. Fechou os olhos e expirou pesadamente. Parecia cansada.
— Eu não consegui abrir o seu celular pra entrar em contato com alguém, mas ele tá aqui, tudo em ótimo estado. Vou chamar os enfermeiros e avisar que você acordou pra ver quais são os procedimentos, tudo bem?
— Certo.
— Vou te dar um tempinho sozinho pra você entrar em contato com a sua família também. Assim que alguém chegar aqui eu vou em casa bem rápido, só tomar um banho e trocar de roupa, volto pra acertar tudo. Mas só vou quando alguém chegar.
— Tudo bem.
Ela se levantou e apertou o botão que chamava o enfermeiro. Assentiu com um sorriso fraco. Ele assentiu também.

...


Um amigo de Harry havia chegado ao hospital. Mitch. Ele parecia assustado, os olhos esbugalhados, o cabelo longo e liso. Era bem tímido e não gostava muito de sustentar o olhar, ao contrário de , que observava bastante. Perguntou-se sobre a família de Harry, mas não achou de bom tom expressar tal dúvida em voz alta, por isso, deixou-os à sós.
Oli também havia aparecido para buscá-la já que o carro continuava estacionado numa rua aleatória. Agradeceu a amiga que lhe trouxe um vestido de malha para não ter que sair por aí em trajes de noiva e levou-a em casa, esperando na rua enquanto ela pegava suas coisas. Não conversaram. Olívia conhecia a amiga bem o suficiente para saber que ela não iria querer dizer nada sobre naquele momento. Apesar disso, o combinado foi estabelecido: você fica lá comigo no apartamento. Esperou no carro enquanto pegava algumas de suas coisas.
Ele estava lá, como esperado, na sala da casa que dividiam, a sala que nunca pareceu sua. Todo o ambiente parecia ter saído de uma revista da Pottery Barn, elitista, meio cafona, amarronzado demais e escuro. Esparramado no sofá, usando o terno mesmo depois de tantas horas, os olhos inchados e o cabelo desgrenhado. Ele não se moveu ao vê-la abrir a porta, só os olhos. Alguns segundos se passaram. Molhou os lábios. engoliu em seco, ele voltou a olhar pra frente. Sorriu, bêbado, fantasmático.
— E eu nem cheguei a te ver vestida de noiva. — suspirou pesadamente. — Eu… esperei tanto.
document.write(Isabella) sentiu seu coração apertar. Estranhou o discurso e colocou as coisas na mesa. Precisava ser firme.
— Eu sinto muito, Trav. Eu não sei nem o que dizer...
— Sente muito… — ele bebeu mais um gole e ajustou a postura. Olhava pra frente. Entrelaçou os dedos das mãos ao dizer e pigarreou ao inclinar-se para frente. — Todos os meus amigos estavam lá. Minha família. Gente que eu nem conhecia direito.
respirou fundo. O tom dele era contido como uma bexiga muito mais cheia que o necessário, prestes a estourar.
— Eu não sei o que te dizer. Eu só… não… — expirou — consegui. Não consegui.
— Você não conseguiu? Você não conseguiu? — Travis se levantou. O seu tom também. — Você teve seis meses pra me dizer. Seis meses, ! Tinha que me deixar na porra do altar? Tinha que me abandonar lá pra todo mundo ver que você não queria casar comigo?
Ela deu um passo para trás. A culpa, evitada por toda a tarde em que se concentrava no desconhecido ao seu lado, corroía por suas entranhas. Havia um peso grande sobre seus ombros e ela sentiu vontade de chorar de cansaço, mas não se permitiu.
— Eu não sei o que dizer... Eu não consigo te dar um motivo. Eu só… Eu não… Meu Deus, Travis, eu tô tão cansada… A gente não pode…
Quis explicá-lo. Contar tudo que havia acontecido nas suas últimas horas. Só conseguia pensar no quão exausta se sentia, nas dores no corpo, no impacto contra o carro. Mas um movimento estranho se apossou de : ela não necessariamente queria contar para Travis.
Ela queria contar para alguém. Queria contar para alguém que a compreendesse. Ali, ela notou que não era ele, mas o encarava com olhos exaustos.
— Você tá cansada? Você tá cansada? — ele deu uma risada sarcástica pelo nariz. — Tenta esperar no altar por três horas por alguém que não vai chegar — deu mais um gole do whisky em mãos. — Tenta explicar pra toda a sua família o que aconteceu quando nem mesmo você sabe! Hoje era pra ser o dia mais feliz da minha vida, ! Era o dia que a gente ia ficar juntos pra sempre!
E quebrou o copo em sua própria mão. arregalou os olhos, assustada. Aplanou as mãos. Os cacos caíram no chão e ele não pareceu se importar com o corte em seus dedos. Deu um passo à frente.
— Calma, Travis… Vai tomar um banho, por favor. Depois a gente conversa. Eu vou ficar aqui te esperando, eu…
Era mentira.
— O que você estava pensando?
— Travis.
— O que você estava pensando, porra?
Ela respirou fundo. O caos daquele dia infernal parecia não ter fim. queria tomar banho, uma garrafa inteira de vinho e chorar sozinha enquanto não precisaria voltar para o hospital.
— Em mim. Eu estava pensando em mim.
Travis franziu o cenho.
— Você disse que me amava, .
Ela ficou em silêncio. — Você me ama, né?
sustentou o olhar.
Ele se aproximou um passo. As pálpebras esbugalhadas e vermelhas, a camisa social entreaberta e a gravata quase solta. o achou desprezível naquele momento. Fungou, com as sobrancelhas arqueadas. , você me ama?, repetiu. O tom de voz mais baixo, quase fúnebre.
Não havia lágrimas nos seus olhos. Não havia remorso. Ela não se arrependia.
Travis deu mais um passo à frente. , ele repetiu.
Com uma frieza quase cortante, ela respondeu:
— Não.
Silêncio. Os olhos dele marejaram diante da distância que proporcionava, enquanto ela engolia em seco e dava passos irrisórios para trás.
— Mentira.
— Eu vou pegar as minhas coisas, Travis.
— Não, ! Para!
Ele segurou o seu rosto com a mão. — , você não pode fazer isso com a gente… A gente consegue passar por isso...
Afastou-se. havia perdido completamente o respeito por ele naquele momento. Não queria que a tocasse.
— Olha o que você tá dizendo, Travis! Presta atenção! Olha o que eu te fiz! Não dá pra gente continuar!
— Você tá desistindo da gente!
— Não, Travis, eu já desisti há muito tempo! Você que não me escuta!
Ela gritou, finalmente. Travis ficou em silêncio por alguns segundos antes de respirar fundo e, de repente, soou aliviado. Abraçou-a. Colocou a mão entre os cabelos macios e cheirosos que tanto gostava.
— Não, , calma. Tá tudo bem, eu te perdoo… Você só tá cansada… Eu amo você. Eu amo tudo sobre você e eu sei que você me ama também.
fechou os olhos com força sentindo no peito um aperto que sufocava. Havia algo sobre o modo com que Travis a abraçava que fazia com que ela se sentisse completamente presa. A verdade estava pronta para sair por sua garganta, mas ela não tinha coragem, seu peito gritava por ar. Até quando empurraria com a barriga um relacionamento falido pelo medo inconsciente de rejeitar o amor que lhe era entregue, mesmo que não o quisesse mais, mesmo que não o retribuísse mais? Mesmo que não fosse o suficiente?
Resolveu, então, juntar toda a sua força de vontade numa inspirada só ao finalmente dizer:
— Travis, a gente não vai voltar. Eu não quero me casar com você.
Ele se distanciou. Olharam-se nos olhos, mas não se encontraram.
— Você não pode fazer isso comigo. Não quando eu estou disposto a te perdoar. Não depois de me deixar na porra do altar!
O tom de voz aumentava a cada palavra. As veias saltavam no pescoço e apareciam na testa pressionada. Você não pode fazer isso comigo, !
— Eu não vou conversar com você enquanto você estiver gritando.
Passou a andar até o quarto. Enquanto cruzava o corredor, Travis puxou seu braço com muita força. Pararam bem no meio, um pouco antes da porta do quarto, entre quadros e alguns porta retratos pendurados na parede. Uma mesinha com um vaso recostado à parede. levantou os olhos até ele com toda a raiva que conseguia sentir e demonstrar. Seus olhos queimavam. — Travis. Solte o meu braço.
— Eu não vou soltar até que você me dê uma explicação.
— O que mais você quer ouvir? — Usou uma voz que rasgava e um tom mais alto do que esperava. Ele apertou ainda mais. Doeu, mas ela não reclamaria. Seus olhos marejaram. Tentou puxar uma vez, mas não obteve sucesso. — Eu não te amo mais, porra! É isso que você quer ouvir? Eu não te amo mais! Eu não tô mais apaixonada por você!
Ele a empurrou contra a parede em um impulso que a fez bater a cabeça que latejou instantaneamente. A força que ele propunha era petrificante, mas jamais demonstraria.
— Você não pode fazer isso comigo. Você é apaixonada por mim.
— Eu. Não. Te quero. Mais. — rosnou, pausadamente, e cuspiu contra o seu rosto.
Não sabia de onde havia tirado a coragem para fazer aquilo, mas o ódio que pulsava em sua veia era tão venenoso que parecia corromper todas as suas células e se espalhar. Ele tirou a mão de um de seus braços para limpar o rosto, e ao aproveitar-se da situação, pegou o vaso com uma mão e afastou-o com a outra. — Se você não sair desse apartamento agora, Travis, eu juro, eu vou quebrar esse vaso na sua cabeça. Você sabe que eu sou louca a esse ponto.
Ele a encarou. De cima a baixo. O desprezo saltava de seus olhos, o canto de seu lábio pendido em asco. Negou. Enquanto andava para a porta com o seu terno no braço, virou-se com um sorriso perverso ao gritar em alto e bom tom:
— Só pra você saber, eu tenho um caso. Fazem três meses. Eu não preciso de você. Você não passa de um saco de merda, .
— Toda felicidade do mundo! Espero que ao menos você aprenda a fazer ela gozar, já que comigo nunca conseguiu!
E ao ouvir a porta bater forte, jogou o vaso na parede da sala, encolheu-se no chão do corredor e chorou.

...



Alguns dias haviam se passado desde que visitou Harry pela última vez. Ele parecia ser tranquilo e articularam as coisas de maneira muito prática e sem muitos desentendimentos. Comentou sobre a família que morava em Londres e sobre o desejo de trabalhar com música, o motivo de ter se mudado para Los Angeles. Descobriu que trabalhava como padeiro durante o dia, o que a surpreendeu, mas a conversa não fugiu muito do convencional. Ele parecia bem, alguns cortes no rosto, não precisaria de fisioterapia, só de uma semana de repouso e uma faixa no pé. se colocou à disposição para qualquer coisa e ele agradeceu com carinho.
Harry era uma daquelas pessoas que sempre olha nos olhos com atenção ao falar. Tinha um sorriso que iluminaria a cidade inteira e não fazia questão de guardá-lo para si — pelo contrário, o expunha em cada mínima oportunidade, junto com uma piadinha corriqueira e provavelmente sem graça, da qual não conseguia segurar a risada. O cabelo curto, o colar de cruz e algumas tatuagens. Ela pensava que talvez estivesse canalizando a atenção para outro lugar diante de todas as últimas coisas que lhe haviam acontecido, mas não se importou muito, afinal, estava solteira novamente depois de uns bons cinco anos. E enquanto a apatia do luto não se tornava em uma tristeza profunda por perceber que nem ao menos conhecia a pessoa com quem havia compartilhado tanto de sua vida, deveria aproveitar.
— Foi um prazer ser atropelado por você, .
Ele disse ao sair do carro quando ela o deixou em frente ao seu apartamento no centro. Apoiou-se na janela aberta e sorriu de lado.
— Pare de ser legal comigo!
Ele riu. Ela também. A aparente paz selada entre os dois, no entanto, não foi capaz de conter o furdúncio que as redes sociais se tornaram com as fotos vazadas de atropelando o tal rapaz.
Via as notícias, as fotos, as piadas — nesse momento ser brasileira era um martírio, o país era basicamente uma fábrica de memes — e só conseguia pensar que a sua vida era uma completa bagunça e que jamais teria credibilidade o suficiente para alcançar seu sonho: dirigir uma produção cinematográfica. Mesmo assim, tentava levar na esportiva. Por enquanto, com seu contrato assinado com a Hulu, estava segura. Não é nada demais, pensava. Quem nunca passou vergonha na internet?
Nas suas férias compulsórias dentro do apartamento que voltou a dividir com Olívia, deitava a cabeça no colo da amiga e mexia no celular de maneira fantasmagórica: não postava nada, não respondia ninguém, não curtia, não aparecia. As pessoas comentavam sobre o seu término de namoro com o tal ex namorado que quase ninguém se importava quem era porque ele não era famoso. Estava tudo estampado nos tabloides, a Deus dará, para todos que quisessem ver. Mas ela não precisava ficar pensando naquilo. Alguma hora, eventualmente, as pessoas esqueceriam.
Tentava se convencer de que esqueceria também.
— Eu queria rir menos dos seus memes — Patrick gargalhava ao lado de Olívia no sofá. Como sempre, barulhento, espaçoso e pouco sensível. apresentou-lhe um dedo em específico enquanto Olívia ria ao voltar seus olhos para o celular. — Olha esse aqui, mô. Você seria uma noiva muito bonita, , uma pena ser tão fodida da cabeça.
— Cala a boca, inútil.
— Olha só os comentários. As pessoas estão falando que o rapaz é um gato no twitter. deu de ombros.
— Ah, eu achei ele ok.
— Você tem o Instagram dele? — perguntou. — Eu quero ver!
— Não, Oli, não tenho. Aquietem o cu vocês dois.
— Para de graça, , eu também quero ver!
— É, para de graça, ! Você sabe o nome dele? Vai dizer que não tá curiosa pra saber como é o perfil? Se ele namora… Você o atropelou, por Deus. Tem que estar no mínimo curiosa sobre quem era a pessoa que você quase matou.
— Eu não quase matei ele. Foi tipo… Só um sustinho pra acordar.
deu um sorrisinho amarelo em culpa, mas ponderou. Estava mesmo curiosa. Ajeitou-se no sofá de maneira que os três pudessem ver o celular e digitou o nome dele na busca: Harry Styles.
O Instagram era uma bagunça só, foi a primeira coisa que notou. Nada de muito cool ou feed muito organizado. Aparentemente se dividia em fases: fases em que ele só postava fotos em preto e branco, de várias pessoas diferentes, fotos com bandeiras, fotos de quadros, muitas selfies aleatórias com gente aleatória, vídeos tocando violão com um milhão de garotas apaixonadas pelos comentários. Ele parecia ter muitos amigos. Não postava com muita frequência; talvez uma ou duas vezes no mês. Fotos dele com um saco na cabeça e óculos. Foto dele raspando a cabeça de um amigo. Foto dele andando de bicicleta de madrugada no meio da rua. Foto dele bêbado, deitado sobre uma grande placa e segurando uma garrafa de bebida. Ainda assim, parecia encantada com o quão despreocupado e livre ele soava. Completamente livre, desinibido. Como se o instagram não fosse um portfólio de julgamento alheio.
Ouviu Patrick enunciar depois de alguns momentos em silêncio em que só observavam com atenção.
— Uh, ele toca violão. Achei gostoso.
— Não vai me trocar por ele, né?
Patrick riu e deu-lhe um beijo.
— Parem de fazer isso perto de mim, por favor. Nunca vai deixar de ser estranho.
— Já faz um ano, — Pat atiçou em deboche. — Supera que eu sou o preferido da Oli agora.
— Você nunca vai ser o preferido da Oli.
— Pshhh! Eu quero ver se ele canta bem!
Então, Olívia clicou num IGTV que tinha umas boas três mil visualizações, postado uns meses atrás. Ele não disse nada para a câmera. Olhava para o amigo, o que o acompanhou no hospital, que ajustava o celular no possível tripé. O amigo, que segurava um ukulele, disse alguma coisa bem baixo; ele riu e começou a tocar o violão com a música. As cordas se harmonizaram instantaneamente. O toque, que era muito conhecido por , a fez abrir um pouco mais os olhos em surpresa. Foi quase mágico o que aconteceu a seguir.
Elephant Gun ressoava por entre seus lábios como se tivesse sido escrita para que ele cantasse. Com a voz rouca que rasgava no momento certo, se deixou encantar por cada detalhe que se esboçava no vídeo simples e cru.
— Puta merda — foi Olívia quem disse. E ela não era daquelas que falavam palavrão com frequência.
Assistiram, atentos, ao vídeo que tinha seus três minutos e pouco, enquanto sentia algo mexer dentro de sua barriga. Estava impressionada, definitivamente.
Sentiu vontade de conhecê-lo.
— Eu quero ver outro.
Patrick soava sério. Com as sobrancelhas franzidas e um olhar fixo, desceu rapidamente pelo feed e encontrou outro vídeo.
— Por que ele tá bravo? É por que o cara é melhor que ele?
— Shhhhh.
E foi assim que os três passaram uma hora inteira assistindo e reassistindo os vídeos de Harry com seu amigo, atentos, quase hipnotizados. Entre eles haviam outros covers, como The Chain de Fletwood Mac e até mesmo músicas autorais — uma em especial que havia conquistado o coração de chamada From The Dining Table.
— Você sabe se ele tem interesse em trabalhar com música, ? O que você sabe sobre ele, na real?
— Aham. Ele veio pra cá por isso, parece, algo assim. Mas acho que agora ele trabalha de padeiro? Não lembro muito bem.
Pareceu pensar por alguns segundos. Mandou algumas mensagens no celular, no mais completo silêncio, enquanto Olívia e o encaravam com uma enorme curiosidade e uma leve confusão. Assistiu mais alguns vídeos. Mandou áudios falando sobre extensão vocal, e então, levantou-se.
Patrick era um dos produtores musicais da Columbia faziam alguns anos, foi encontrado na faculdade enquanto participava de um festival. Seus avós, sua verdadeira família, lhe deixaram uma dor intrínseca e contínua ao partirem, e mais do que isso, um amor efervescente pela música. Violinistas de orquestra, pouco a pouco, enquanto crescia, Patrick recebeu como legado o dom de harmonizar e conceber sons, e vivia para fazer jus ao privilégio de conviver com duas almas tão melódicas por tanto tempo. Ao encontrar outra alma tão apaixonada, no entanto, não pode deixá-la passar. Esses encontros eram raros.
— Eu vou resolver umas paradas com o Jeff. Tudo bem? — deu um selinho em Olívia. — , arrume uma casa.
— Vai se foder.
Mas disse sorrindo. Queria dizer que admirava o fato de que Patrick tinha um instinto natural em procurar formas de dar oportunidades para novas pessoas na indústria, mas ele sabia. Olívia também sabia, e ficou claro que elas concordavam pelo jeito que se olharam.


...


E você, ?

Era uma pergunta que as pessoas do programa faziam com frequência, por mais que de maneiras diferentes, com palavras diferentes, em momentos diferentes. A presença dela, claramente, dominava o ambiente e, de um jeito muito intrigante, a atenção de Harry. O cenário, que tinha tons levemente amarelados, uma decoração elegante e um telão gigantesco, podia até mesmo ser todo branco. Sem nada. E ainda sim pareceria impossível não estar interessado no que ela estava falando.
A sensação parecia perfumar o palco e também a plateia, que a observava comentando pontos específicos sobre a construção de cenas marcantes de Adoráveis Mulheres. Sentada numa poltrona um pouco separada dos convidados, que alternavam a cada programa, falava sobre características peculiares de todo tipo de filme, seja o desenvolvimento da narrativa ou relações despercebidas. O programa, licenciado pela Amazon, era um dos que Harry gostava de assistir eventualmente enquanto cozinhava. Observou a postura intacta da mulher, com os cabelos jogados pro lado e um terninho vermelho, as sacadas ácidas e sagazes combinadas com o sorrisinho de lado que conquistou o seu público — mesmo que não fosse das mais simpáticas.
Ouviu a risada da plateia logo após o seu comentário. Quis não ter focado tanto assim no modo que seus lábios se moviam e no olhar esperto que direcionou ao público ao interagir com ela.
Era magnífico o que ela fazia. Sendo mulher, brasileira e que não tinha mais que seus vinte e cinco anos, as estatísticas não estavam muito ao seu favor quando se tratava de relevância em Hollywood. Mas o programa já estava até renovado para a terceira temporada.
Ao mesmo tempo, soava estranho agora que eles tinham essa situação bizarra de atropelamento. Quer dizer, não que ele não tivesse gostado de conhecê-la, mas talvez de uma forma menos brusca? Uma em que ele pudesse se sentir menos inibido em chamá-la para sair sem sentir-se patético? Era a porra da .
Distraído pelo jeito em que o terninho parecia cobrir a melhor parte do cropped que usava por debaixo, sentiu seu telefone vibrar com um número desconhecido e estranhou, mas atendeu mesmo assim.


...


A primeira coisa que fez ao pisar o pé fora da sede da Columbia Records em LA foi olhar para Mitch ao seu lado e rir. Eles riam muito. Gargalhavam no meio de uma calçada de Downtown, com a mão na barriga e tudo. Harry se curvou e apoiou os braços nos joelhos enquanto riam.
Eles haviam conseguido. Finalmente conseguido.
A proposta era quase boa demais para ser verdade. Aparentemente o tal Patrick, um produtor musical da Columbia, encontrou um de seus vídeos no Instagram, ficou interessado e conversou com Jeffrey, que também pareceu gostar da ideia de convidá-lo para um teste. Tiveram uma semana para preparar um repertório de três músicas autorais para, a depender da resposta, conversar sobre as possibilidades. A primeira música que apresentaram foi Sweet Creature, depois From The Dining Table e por último, a mais recente criação — e aparentemente decisiva —, Sign Of The Times. Deu certo. A resposta de Jeffrey foi clara depois de alguns segundos com um sorriso no rosto. “Essa aí, cara. Essa música vai ser o seu primeiro single”. Mitchell até mesmo deixou o violão cair ao ouvir.
Conversaram bastante. Conversaram com muitas pessoas. Conversaram incansavelmente. Conversaram sobre a possibilidade de se tornar uma pessoa pública, sobre a responsabilidade desse investimento, sobre o acordo que eles selariam, sobre o tipo de música que gostariam de fazer. O contrato era de um álbum por enquanto, mas pareciam ter pressa em fazê-lo acontecer. Começariam a trabalhar juntos nas audições para os outros integrantes já na semana seguinte.
— O que porra acabou de acontecer?
— A gente tem um emprego!




— A gente assinou com o Harry.
Patrick disse, fechando a porta atrás de si e indo até a cozinha. As duas o seguiram. Olívia, empolgada, empurrou de lado.
— Manda uma mensagem pra ele, boba!
— Tá doida? Pra que? Eu atropelei ele!
— E daí? O Universo trabalha de maneiras misteriosas — Olívia abraçou Patrick por trás enquanto ele pegava uma taça e preenchia com a garrafa de vinho em sua mão. — Você é gostosa, ele é bem gostoso, você tá precisando dar uma sarradinha, ele aparentemente tá solteiro… Só benefícios.
revirou levemente os olhos, mas tinha um sorrisinho no canto do lábio ao colocar a garrafa na bancada novamente. Deu um gole. Estava genuinamente feliz por ele, afinal, Patrick parecia empolgado em trabalhar nesse álbum em específico, e ele poderia seguir com o seu sonho.
— Não sei, acho que tô bêbada demais pra isso.
— Esse é o momento ideal, . Vai por mim. Só manda!
Olívia riu da intenção por trás.
deu de ombros. O que tinha a perder, afinal? Apertou o botão de seguir ao notar que ele já a seguia no Instagram. Clicou na setinha das mensagens privadas.
Alguns segundos se passaram. não fazia ideia do que dizer. Os outros dois esperavam pelo próximo passo com os olhos atentos ao telefone em suas mãos.
— O que foi?
olhou para cada um deles com o rosto apertado.
— Eu não lembro como é que se flerta. Tô com saudade do Nathan e de só mandar uma mensagem tipo “E aí, vamo transar?”.
— Cadê ele, por falar nisso?
— Ele tá com a Mona desde que voltou de Praga. Quem diria que eles finalmente iriam se acertar?
— Ah, por favor — Patrick negou com a cabeça ao pegar o celular de suas mãos. — Me dá isso aqui.
— NÃO! — gritou. Ele se levantou. Ela se levantou junto e correu atrás dele, que levantava o celular para que ela não alcançasse. — Olívia, faz alguma coisa!
— Ué, eu não. Tava doida que você pulasse fora do Travis há um tempão.
— O Patrick vai estragar tudo!
, você atropelou um cara vestida de noiva fugida — Pat deu de ombros. — Acho que não tem como piorar muito.
— O que você tá digitando, porra?
— Eu já enviei.
arregalou os olhos e suplicou socorro para Olívia em uma expressão desesperada.

Oi, te achei
É a aqui, a que te atropelou
Queria saber como você tá
Dá notícias

— Por que você tinha que lembrar que eu atropelei ele, idiota?
— Eu não acho que ele esqueceu — Patrick respondeu. Respirou fundo e sentou na cadeira, rendida. Olívia cobriu a boca ao rir de , que tomou o resto do vinho numa golada só.
— Puta merda, que vergonha.

Oiiii, quemeatropelou
Eu tô bem até, e você?
100% livre dos remédios que me deixavam meio grogue
(uma pena)
(brincadeira)
(ou não)

conteve o canto do lábio que quis pender pela simpatia e arqueou as sobrancelhas. Olívia a encarava com um sorrisinho esperto.
— Você gostou que eu sei!
— Vocês e o vinho entraram na minha cabeça.
— Só uma fodinha, , vai! — ele disse, rindo. — Pra ver se você mete o pé desse apartamento!
— Vai tomar no cu, Patrick, eu cheguei primeiro! — reclamou. Encheu mais a taça. — Acho melhor não continuar o papo. Eu atropelei ele.
— Nem todo mundo é rancoroso que nem você, . Com todo respeito.
— Caralho, ele claramente não tá ligando — Pat encolheu os ombros. — Vai ver ele é daqueles caras que gostam de um rolê mais agressivo. Uns tapas na cara, uma batidinha com chicote…
o encarou, surpresa, com um sorriso debochado no rosto.
— O que porra você anda fazendo com ele naquele quarto, Oli?
A amiga deu um selinho no namorado em resposta.
— Para de julgar o fetiche alheio, . Estamos sexualmente satisfeitos e é isso que importa.
— Ugh. Chega. Nunca vou me acostumar.
— Responde ele logo, marca pra sair!
tomou o celular de volta.
— Tá. Tá bom de bisbilhotar minha conversa. É comigo agora.

...


— A te atropelou e agora tá te mandando mensagens no Instagram?
— É! É isso que você não tá entendendo! Tá realmente acontecendo, ó!
— A que apresenta aquele programa da Amazon? Essa ?
— Você não a viu no hospital?
— Eu vi, mas é que eu queria confirmar.
Falava sentado na cadeira da cozinha enquanto Mitch lavava a louça. Conheceram-se num grupo de Facebook para aspirantes de músicos em LA alguns anos antes, o que lhe calhou bem, pois precisava de um lugar para morar e não conhecia muita gente na cidade. Mitchell acabou por se tornar o seu melhor amigo, além de colega de apartamento, um parceiro de música. Gostavam de compor juntos e planejavam ensaiar com uma banda, eventualmente, mas acabaram se dispersando um pouco por precisar pagar as contas. Ainda assim, tocavam para os amigos sempre que se reuniam.
— E o que ela disse, H?
— Perguntou como eu tô. Isso é estranho pra porra, né?
Mitch inclinou a cabeça como quem não soa surpreso.
— Não.
— Como assim “não”?
— Não — deu uma risada pelo nariz. — Não sei, acho legal ela te perguntar como você tá.
— É legal mesmo. Pera, outra mensagem. Porra. Tô nervoso, Mitch.

Eu tô bem, também
Quer fazer alguma coisa?

Ele leu. Parecia mentira.
— Mentira.
— Juro, ó! Olha aqui!
Mitchell riu.
— Toma banho antes de ir.



Era tarde da noite, bem tarde, lá pras onze quando se encontraram num pub que ficava em Santa Monica, não tão longe assim de onde ele morava. Puzzle, o nome. Não tinha muita gente, era coberto por um ambiente meio róseo e música latina tocava no fundo. Ele estava sentado numa mesinha para duas pessoas na área aberta quando ela chegou, descendo do prédio da frente.
Ela estava simples, mas ainda sim, bonita demais pra parecer real. A maquiagem leve, os cabelos presos num coque frouxo com algumas mechas que caíam pelos lados, olhos baixinhos de quem já estava no brilho e uma leve simpatia que ele ainda não havia conhecido.
Não conseguiu tirar os olhos dela enquanto caminhava por entre as luzes da cidade. Ela o encarou de volta, a sobrancelha arqueada e um olhar que lhe propunha um desafio que estava disposto a aceitar.
— Olha só, você tá mesmo vivo.
Ele se levantou para cumprimentá-la e riu.
— Que bom que agora a gente tá fazendo piada com isso.
Soou irônico, mas riu também, sem se importar. Enquanto andavam até uma mesinha dentro, perguntou:
— Demorei muito?
— Que nada, acabei de chegar. Você mora logo ali na frente?
— Eu morei aqui na frente desde que cheguei em LA — disse. — Passei os últimos dois anos fora e agora voltei de novo pra cá.
— Ah, entendi. Aquilo.
— É — ela deu de ombros. — Esse bar aqui sempre foi minha segunda casa. É bom estar perto dele de novo.
Harry sorriu.
— Meus pais tem um bar, sabia? — ele comentou. — Lá em Manchester. Bar realmente tem um ar de casa.
— Seus pais tem um barrrrr? — ela perguntou, animada. — Zeraram a vida. Tenho certeza! Cerveja de graça! Inclusive, vou pedir uma cervejinha.
Harry riu pelo nariz, meio encantado, meio assustado. Ela parecia fazer parte dali; ao se levantar e ir até o balcão, batia um papo com uma das garçonetes. Harry a seguiu.
— … Mas e aí, notícia de quando o Carlito vem visitar? Cê falou que eu tô com saudade dele, Paola?
A mulher riu.
— Sim, eu disse, eu juro! Ele não tem muitos planos de voltar da Argentina ainda.
Entregou as cervejas para eles que conversaram ao voltar aos seus lugares.
— O Carlito trabalhava aqui?
— Sim, o melhor barman de todos. Ele é costa riquenho e galanteador — riu pelo nariz. — Faz falta por aqui. Acho que tem uns três anos que não o vejo, mas eventualmente recebo um áudio bêbado no whatsapp quando ele vê alguma coisa referente ao Brasil.
Harry bebeu um gole da sua cerveja, assentindo. E então deu uma risada. Balançou o rosto.
— Desculpa. É só… estranho te ver assim. Tão da galera .
— Deixa eu adivinhar. Você me achou metida?
— Ah, sim, você definitivamente é metida — Ele confirmou. Ela pareceu surpresa, mas tinha um sorrisinho no canto da boca e o queixo levantado. — Mas de um jeito da galera .
, então, riu genuinamente, enquanto ele gesticulava com uma mão ao dizer a última frase. Levantou a cerveja para um brinde.
— À galera, então!
— À galera!
E beberam. De repente, Harry teve uma lembrança.
— Posso te perguntar uma coisa?
assentiu.
— Você conhece um cara chamado Patrick Rivers?
Ela mordeu o lábio, quase envergonhada, mas deu de ombros e assumiu a culpa.
— Sim. A gente é bem amigo.
— Você fez a conexão, então?
— Quase. Foi ele quem te achou, na verdade. Ele queria saber quem foi o cara que eu atropelei — ela fez uma leve careta nesse momento, mas Harry não se importou. Ele ainda estava tentando processar a informação. O gatilho apareceu quando, ao ver que ela o havia seguido no Instagram, tinha Patrick como amigo em comum, mas abandonou a ideia eventualmente porque gente famosa sempre se conhece. Sentiu vontade de perguntar, no entanto. Era um bom jeito de puxar o assunto do disco, que era basicamente o principal tópico de suas últimas conversas com quem quer que fosse. — A gente pesquisou seu nome no instagram e ele viu seus vídeos. Foi ele quem se interessou, eu nem disse nada.
— Porra, que loucura. — foi o que ele conseguiu responder. Mas logo depois, teve outro estalo. — Vocês estavam me stalkeando, então?
Deu um risinho convencido.
— Sim, nós estávamos, que que tem?
Levantou os braços em rendição.
— Nada. Eu até agradeço, na verdade. Me garantiu um emprego e tudo.
deu uma risada.
— Ele tá lá em cima. Posso chamar o seu chefe ou é demais pra um dia só?
E ele concordou, feliz, meio nervoso, mas feliz. Venham aqui pro Puzzle, o Harry descobriu tudo, disse ao ligar. Eventualmente, Patrick e a sua namorada, Olívia, chegaram, e conversaram muito durante a noite toda. Comemoraram o início da produção do primeiro álbum de Harry Styles e riram das trocas de farpas entre e Patrick, que pareciam muito como pessoas comuns aos olhos de Harry naquele momento.



...


— Eu conheci o Pat aqui em cima. O que é estranho, porque é meio que proibido vir pra cá. Ele morava no apartamento da frente.
De alguma forma, e Harry terminaram sozinhos no topo do prédio que e Olívia moraram por tanto tempo. Estavam sentados numa coberta, lado a lado, mas inclinados um para o outro. Estavam meio altos, sim, e continuavam conversando, porque havia algo na conversa deles que os faziam querer permanecer.
A vista era muito bonita. Dava pra ver o píer de Santa Mônica, o parque, e o topo de alguns prédios, com a maior parte das luzes desligadas. Eles levaram o resto do vinho e dividiam a garrafa.
— Vocês parecem ser bem próximos.
— É, a gente é sim. A gente se conhece há muito tempo. Eu pegava carona com o Pat pra UCLA e a gente conheceu a Oli lá.
— Porra, eles namoram há um tempão então, né?
fez uma careta, mas respondeu mesmo assim.
— Não. Faz pouco mais de um ano. Éramos todos só amigos até eles estragarem tudo com um monte de romantiquês.
Harry deu uma risada.
— Você não tinha muita cara de amiga ciumenta.
— Você não tinha muita cara de padeiro.
Os dois riram juntos. — Você gostava de fazer pão?
— Ah, eu sei mexer em massa. O bar que meus pais tem lá em Manchester também tem pizza, eu quebrei o galho por uns tempos.
— Cerveja e pizza. Acho que lá é o céu.
— Eu era legalmente proibido de beber, mas lá pros meus dezesseis anos a minha mãe me passava uma ou outra escondida.
Conversavam com os rostos bem próximos, reclinados na parede, não desviavam o olhar, sorriam com certa frequência a qualquer coisa que o outro falava. Harry, às vezes, notava que passava mais tempo que o necessário num ponto abaixo de seu rosto. — Ela toca lá. Foi ela quem me ensinou a tocar violão.
— Lá foi sua primeira experiência musical? — perguntou. Harry negou, riu sozinho e colocou a mão no rosto.
— Eu provavelmente vou me arrepender de te contar isso — expirou fundo ao fazer uma pausa dramática. esperava, ansiosa, e inclinou o rosto ao pedir que ele falasse logo. — Preparada?
— Fala!
— Eu participei do X Factor.
— Que? — ela perguntou, espichando a coluna, surpresa. — Como assim? Cadê sua audição?
— Ah, não, eu não quero que você veja.
— Ué, mas eu sou esperta — sorriu, sarcástica. — É só pesquisar.... — abriu o Safari no celular. — Harry Styles, X Factor UK. Porra, aqui a internet é péssima.
— Ahhhh! — Harry com a mão na própria cabeça. — Por que você tá fazendo isso comigo? — perguntou, ao pegá-la pelos ombros, dramático, mas ainda rindo. ria também ao tentar afastá-lo quando um Harry mais novo e de cachecol entrava no palco. Ela esticou o braço para que os dois pudessem ver.
Ela se espichou no sofá, animada, e virava o rosto da televisão pro rapaz ao seu lado, tentando captar cada detalhe de cada um e comparar.
O Harry da telinha cantava Isn’t She Lovely adoravelmente, mas o outro, o que estava ao seu lado, balançava a cabeça em negação e vergonha. virou os olhos.
— Nem foi tão ruim assim, vai. Podia ter sido pior. Você até foi aceito, ó! O Simon Cowell te queria!
— .... E depois esmagou os meus sonhos me chamando pra uma boyband, o que eu neguei.
— Caralho! — arregalou os olhos. — Eu lembro disso! Como é mesmo o nome?
— One Direction.
E então, nesse momento, depois de piscar algumas vezes, riu. Gargalhou, até mesmo bateu o pé. — Eu não tô acreditando! Você podia ter feito parte da One Direction!
Voltaram-se um pro outro novamente, estavam completamente inclinados. Harry sorriu, encolhendo os ombros.
— Pode rir à vontade. Foi foda ver o sucesso que eles fizeram lá na Inglaterra, daí vieram os anos de arrependimento... Às vezes acho que podia ter sido legal, mas nunca foi o que eu queria. E o contrato era meio absurdo, também. Sei lá. Não foi muito pra frente.
— E você decidiu vir pra Los Angeles tentar alguma coisa?
— Logo que fiz vinte. Terminei administração e vim pra cá.
— E agora você tem um contrato de um álbum seu!
Assentiu teatralmente, gesticulando com a mão em absoluto desacreditar.
— Isso não é doido? — ele perguntou. — Tudo que aconteceu nas últimas semanas… É meio doido te conhecer. Desculpa falar assim, mas é que eu era meio que seu fã um pouco, e agora que eu tô meio bêbado me parece um bom momento pra falar. Inclusive, você não vai me contar?
o achava muito engraçado. Desviou o olhar para frente.
— Contar o que?
— Aquilo.
até recobrou a postura, negando com a cabeça em uma expressão exagerada. Aquela era a melhor noite que estava tendo em meses. Não queria estragar tudo lembrando da existência do patife.
— Não faço ideia do que você está falando.
— Ah, qual é, eu mereço saber, .
Não estava mais tão bêbada assim, quase ficando sóbria. Mas aquele resquiciozinho de embriaguez ainda dava seus sinais e a deixavam mais aberta. Negou um pouco, meio manhosa, e ele insistiu um pouco, meio manhoso também, mas por fim, ela gostou do fato de que ele a havia chamado pelo apelido e do jeito que encontrava desculpas para tocá-la sempre que podia e disse: eu queria me sentir livre.
— Você não se sentia assim com ele?
— Não.
— Você ainda — pigarreou. — gosta dele?
— Não. E eu acho que já sabia disso antes — deu uma golada do vinho quente. — Às vezes a gente não sabe a resposta até alguém estar de joelhos e te pedir.
— E aí você dá a resposta errada — ele brincou. Ficaram em silêncio ao se encarar por um momento. O que você quer fazer, então?, perguntou. Seus rostos estavam próximos. A alça do vestido que ela usava caía pelo ombro. O seu trapézio deixava a clavícula exposta e o seu perfume subia toda vez que ele inspirava.
— O que quer dizer?
— Você falou que queria ser livre — ele recordou. — Você está livre agora. O que você quer fazer com isso?
Ela aproximou o rosto suavemente e molhou os lábios. Tudo que fazia o deixava em expectativa. O ar no ambiente era espesso e nada os tirava a atenção um do outro.
— Você realmente quer que eu faça?
Harry nem mesmo pensou antes de dizer:
— Você pode fazer o que quiser.
E o beijou. O beijo que se iniciou lento tinha gosto de vinho e era molhado, mas foi ganhando intensidade com o tempo. Sentiu seu corpo despertar, quase como se estivesse acordando, como se as partes do seu corpo que estivessem apáticas por tanto tempo voltassem a ter sentido. sentia-se excitada, e não só no sentido sexual da coisa. sentia-se viva. Sentia-se livre ao beijá-lo.
Deveria admitir, estava esperando por aquele momento durante toda a noite. Quando Harry puxou o seu pescoço com força e se aproximou ainda mais, ela levantou o vestido e passou uma perna por cada um de seus lados. As mãos dele pararam logo ali e passearam, aquecendo a sua coxa por dentro e fazendo com que as suas costas arqueassem em excitação. Roçava para frente e para trás ao tentar friccionar seus corpos um contra o outro por mais contato e fechou os olhos ao sentir tudo girar mais devagar ao seu redor.
Harry, em sua admiração devota a mulher que sentava em seu colo, desceu a boca do maxilar ao pescoço, sentindo seu cheiro, querendo guardar cada minúcia. Observava com atenção os detalhes de sua pele e passeava as mãos espertas ao notar o movimento de intensificar. Estava surpreso, explodia em sorte e euforia. Nem em seus sonhos mais profundos imaginaria que, algum dia, teria aquela mulher para si, mesmo que por um momento; e aproveitaria aquele momento como se fosse a última vez. Mas , para o seu martírio, levantou-se repentinamente e o chamou pela mão. Ele estava quase envergonhado de seu próprio estado.
Desceram pela escada de incêndio, rindo e tropeçando, dizendo coisas engraçadas e safadas um pro outro. Paravam para se beijar eventualmente enquanto desciam as escadas até o apartamento e, logo ao entrar, foi só o tempo de fechar a porta.
o colocou contra a parede e desceu as unhas por sua nuca e braços, enquanto ele a puxava com as duas mãos na bunda. Disposto a tirar o seu vestido, Harry pegou-o pela barra e o ajudou, sem muita paciência.
Se olhavam e riam. Ela gostava do jeito que Harry a observava com certo fascínio, Harry só estava feliz por estar ali. Ele passou a mão por entre o vale e desenhou a linha acima do seu umbigo, memorizando cada centímetro, fechou os olhos ao sentir o toque e ele beijou a pele de seu abdômen. Com cuidado, ele a pegou pelas pernas e a deitou sobre o sofá, mas em nenhum momento desviaram o olhar um do outro. Os cabelos dela se espalharam pela almofada e ela esperava apoiada nos cotovelos enquanto ele tirava a blusa e desabotoava a calça. mordeu o lábio.
— Você até que é gostoso.
Harry deu uma risada pelo nariz e pegou a sua perna. Arranhou por sua coxa e deu um tapa estalado. só gemeu e se curvou para trás, sentindo seu coração acelerar e sorrindo debochada. Um mundo inteiro de sensações novas se espalharam pelo corpo deles enquanto estavam juntos. — Quem mandou ser tão safada?

Quando terminaram, pareciam exaustos e deitaram um ao lado do outro no sofá. Harry respirava fundo e tentava assimilar o que tinha acontecido enquanto tentava se recuperar. Foi despertado do seu transe quando, do nada, ela começou a rir. Ele virou um pouco o rosto para olhá-la.
— O quê? Foi tão ruim assim?
— Não, não — foi o que conseguiu responder. Harry a encarava enquanto ela ria com o lábio pendendo para um lado só. — Desculpa, é que…
Ele se acomodou de lado, ficando completamente virado pra ela. — Você… — e riu mais um pouco. — me pediu em casamento. Foi a primeira coisa que você falou quando me viu. “Sim, eu aceito”.
— Eu não tô acreditando — ele deu uma risada e bateu no próprio rosto. — Você tá mentindo.
— Eu juro que não!
— E você mesmo assim transou comigo?
Harry e continuaram a conversar por horas, até que resolveram transar no banho, conversar mais um pouco e então, caíram no sono no sofá mesmo, encolhidos, entrelaçados. O rosto de Harry pendia na curvatura do pescoço de e a mão adormeceu na sua cintura. Tinha um sorrisinho inconsciente no rosto ao fechar os olhos.


...


As semanas foram se passando e Harry e se viam com frequência. As gravações de Normal People finalmente começaram e ela estava empolgada com o fato de que estava participando da adaptação do livro e dos personagens ao formato de série, e principalmente, com a ideia de dirigir alguns de seus episódios. Já Harry, virava noites sem dormir com Mitchell, que era sua pessoa favorita para compor com.
Eventualmente, os horários se desencontravam, eventualmente, se encontravam, e apesar da teórica falta de compromisso, desde a noite do bar, conversavam todos os dias. Havia algo de muito bonito no jeito em que conversavam. gostava da liberdade que tinha com Harry, em que o carinho não se perdia, e havia se encontrado também com várias outras pessoas nesse meio tempo. Harry, no entanto, parecia fascinado por cada mínima característica que passava a conhecer de .
No apartamento que ele dividia com Mitchell — este que estava em um de seus primeiros encontros com Sarah, sua nova baterista, vestindo apenas uma de suas camisas, o abraçou por trás para mostrar o celular enquanto ele cozinhava.
— Foi aqui, ó. Exatamente nesse momento aqui que você me pediu em casamento.
— Eu aceitei, é diferente — ele disse, fazendo-a rir, enquanto ainda prestava atenção nas panquecas. Ela aumentou a foto, em que ela se inclinava para baixo, e ele a olhava dizendo alguma coisa momentos antes de apagar. Ele sorriu para a foto. — A primeira foto em casal a gente nunca esquece, né?
arqueou a sobrancelha com um sorriso controverso. Seu tom era divertido, mas ele a segurou por trás. — Tô brincando, , não vai embora, por favor!
E ela realmente não foi.



FIM



Nota da autora: Caceta, nem eu acredito que saiu HAHAHAHHAHA aqui está <3 gostaram desse universo paralelo em que a Isabella é quem é famosa e o Harry nunca fez parte da 1D? Meio difícil de imaginar, né? Eu tentei deixar a ESSÊNCIA deles, mas obviamente eles não são exatamente a mesma pessoa que são em Real Stuff porque algumas experiências foram diferentes. O Harry de Real Stuff é bem mais seguro, por exemplo, e a Isabella bem mais problemática HAHAHHAHA algumas coisas acontecem parecido com RS, outras coisas precisam ser diferentes. Gostaram do Pat e da Oli juntos? Eu queria muito desenvolver como foi que isso aconteceu, mas não deu tempo. Uma coisa que eu amo sobre esse rolê de realidade alternativa é que: em um o Pat ajuda o Harry, no outro o Harry ajuda o Pat. No fim de tudo, todo mundo que foi feito pra se encontrar, realmente se encontra. E é isso! Me digam o que vocês acharam, se vocês gostaram, se não gostaram, o que fariam diferente, QUALQUER COISA! Mas me digam, por favor <3 beijo!
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