02. Cool For The Summer

Última atualização: 19/10/2016

Capítulo Único

Estudar pela manhã era de longe a melhor opção para mim. Eu, que tinha dificuldades para acordar cedo, ainda preferia perder aquele período e ter o restante do dia para aproveitar e fazer o que quer que fosse. Hoje, por exemplo, eu passaria a tarde na praia com a minha galera.

Fazia o forte calor de fevereiro, terceira semana de aula. Eu voltei a ver meus amigos e os professores, eu os adorava, eles eram maravilhosos. Havia muitos alunos novos, naturalmente, e com eles vinham as “paqueras” novas. Tudo bem, paquera é uma palavra meio antiga, hoje em dia é “crush”, mas eu gosto da sonoridade de “paquera”. E a escola estava cheia de pessoas interessantes.

Confesso que uma aluna em especial me chamou a atenção desde o primeiro dia. Ela tinha um sorriso lindo e parecia estar sempre tranquila. Além de que tinha uma caligrafia agradável aos olhos, o uniforme caía bem em seu corpo e seu caminhar era encantador. Tímida como qualquer aluna nova, mas por alguma razão ela se tornava extremamente falante comigo. Conversávamos algumas vezes, além de alguns olhares e sorrisos trocados algumas vezes.

Nossas conversas rápidas sobre amenidades aqui e ali eram também mais uma razão para eu me sentir encantada por ela. Sempre que tínhamos a oportunidade, lá estávamos nós trocando assuntos e rindo de bobagens. Eu acho que já disse que o sorriso dela era lindo, ele poderia dar fim a uma guerra.

Tentei não criar expectativas, pois ela podia apenas ser simpática, mas eu quase jurava que ela estava interessada em mim. A começar por sua timidez que se perdia facilmente ao meu lado.

Pude notar nesse mesmo dia, quando inesperadamente estávamos sentadas lado a lado, conversando animadamente.

Durante as duas primeiras semanas eu meio que a ignorei, queria ver qual era a dela, mas agora, graças à professora de Literatura, eu estava fazendo dupla com ela para um rápido exercício em sala.

— Eu me chamo , sou aluna nova — ela se apresentou, mesmo que já soubéssemos exatamente quem cada uma era, sorrindo ao juntar a carteira à minha. — Você é a , não é?

— Exatamente — respondi, sorrindo torto, como quem não se importava realmente, mas na realidade eu estava com uma ansiedade pulsante dentro de mim. — Por que você mudou de escola?

Ela sorriu simpática, dando de ombros.

— Ah, eu tive uns problemas, é que eu odiava umas pessoas de lá — ela respondeu, ainda com aquele sorriso lindo no rosto.

Uau, ela conseguia dizer algo assim com aquela expressão estonteante! Aquela definitivamente era uma flechada.

Depois começou a contar a história como aconteceu. Assim, do nada. Ela nunca tinha conversado comigo sobre coisas tão pessoais antes, mas ainda assim achou que deveria me contar, que talvez isso a aliviasse de alguma forma, que eu era a pessoa certa para isso. Na realidade, eu nem sabia bem o que dizer, eu nunca sei como responder aos problemas do passado de outras pessoas, mal sei como responder os meus problemas do presente. Ainda assim, tentei ser bastante solidária.

Era uma história sobre uma briga com um ex-namorado no tempo em que eles estavam namorando, então os amigos dela ficaram do lado dele e pararam de falar com ela, então ela arrumou outros amigos e ficou naquela tensão “grupo A versus grupo B”, indiretas, bilhetes, intrigas e tudo o que formaria um belo enredo de novela da tarde. Malhação, talvez. Eu notei que ela era uma boa contadora de histórias, pelo menos, porque nada do que ela me contou me entediou nem por um segundo, e eu queria saber mais, queria ouvir mais.

— É, sei como é... Mas todas essas pessoas eram umas babacas, você não vai precisar vê-las outra vez. Acho que você vai gostar daqui, na verdade. Essa escola é bem legal, as pessoas se aceitam bem e tal, você não vai ter problemas em se adaptar — falei, dando uma leve cotovelada no braço dela e sorrindo.

A professora lançou um olhar para nós duas, talvez porque estivéssemos falando demais e não nos concentrando no trabalho que deveríamos realizar. Nos entreolhamos e demos uma risadinha, continuando a conversar por sussurros.

— E você, há quanto tempo estuda aqui? — ela perguntou.

— Muito tempo, na verdade... Deve ter uns cinco anos, sim, esse é o quinto ano em que estou aqui — respondi com um sorriso.

— E você gosta tanto assim da escola?

— Esse é o meu lugar favorito. Tenho pessoas de quem gosto, pessoas que gostam de mim também. Aqui, todo mundo se entende e se respeita, ou pelo menos se deixa pra lá, então é bem agradável.

Ela balançou afirmativamente a cabeça como quem estava entendendo, sorrindo. Parecia feliz, e eu também fiquei feliz, porque sentia que ela encontraria seu lugar ali.


O último sinal, aquele que indica o fim das aulas, pareceu música nos nossos ouvidos. Alguns professores até liberam os alunos dez ou vinte minutos antes do sinal, mas o professor de Geografia gostava de aproveitar cada minuto da aula, sendo sempre interrompido pelo sinal.

— Não se esqueçam do exercício, é para quinta-feira e vale ponto, hein? — avisou ele, enquanto organizávamos nosso material dentro da mochila. — Até quinta — se despediu enquanto saíamos e nos despedíamos dele também.

Esperei Juliana e Ana Júlia, que eram de outra turma, na porta da sala, encostada à parede. Lá na praia encontraríamos os outros, que não tiveram aula naquele dia por conta do conselho de classe individual, que acontecia no primeiro mês de aula para fazer um planejamento do bimestre, e esse era o dia da turma deles. Peguei meu celular e comecei a ler as mensagens do grupo da galera, que estava agitada e ansiosa, depois de chegar ao final, resolvi abrir o aplicativo e ler pelo menos algumas páginas do livro que eu estava lendo pelo celular. Passaram alguns minutos até eu perceber que se aproximava.

— Oi — ela me cumprimentou outra vez. De pé dava para ver como ela é bem baixinha, devia ter alguns centímetros a menos do que eu, que já sou baixa. — Fazendo o que aqui sozinha?

— Nada de mais, só esperando minhas amigas — respondi em um tom amigável, voltando meus olhos para a tela do celular.

— Ah, entendi... Eu ouvi você comentar antes que vocês vão à praia...

Olhei-a calmamente, tentando não demonstrar minha surpresa. Então, de fato, aquela garota estava prestando a atenção às coisas que eu dizia ou fazia? Fiquei lisonjeada com o interesse dela em mim, pelo menos o interesse que eu acreditava que ela tivesse em mim. Tentei parecer legal e calma.

— Pois é, nós já estávamos planejando há um tempo, nós gostamos muito de praia.

Ela balançou a cabeça afirmativamente.

— E eu queria saber se... Assim — ela engasgou um pouco nas palavras, parecia tímida. — Se eu poderia ir com vocês...

Fiquei surpresa, mas não contive o sorriso de canto que surgiu na minha boca. Então a garotinha queria vir conosco. Eu estava começando a me interessar ainda mais por ela, principalmente porque, além de tudo, ela estava se mostrando bem corajosa, e eu gostava disso. Uma garota falante e corajosa, o que mais eu precisava saber sobre a ?

Deixei que alguns segundos se passassem enquanto eu observava seu rosto atentamente. Aquilo era mais do que inesperado, mas eu precisava fazer um charme, um mistério, ou as coisas seriam fáceis demais para a aluna nova.

— Claro que pode, vai ser legal! — respondi. — Mas você trouxe biquíni?

— Não, mas eu posso comprar um por perto, tem uma lojinha por lá, não tem? E eu preciso comprar um biquíni pra mim, de qualquer modo.

— Tudo bem, então. Você será mais do que bem-vinda, vai ser legal!

— Obrigada... Vai ser legal mesmo!

Eu achei interessante seu pedido, o que me deixou ainda mais animada, como seria ela na praia? Conversamos mais algumas coisas aleatórias até que o assunto morreu por um tempo. Eu voltei a ler no meu celular e ela ficou parada ao meu lado. Ao desbloquear a tela, notei os olhos dela no que eu fazia, mas deixei para lá, era só uma página do livro mesmo, provavelmente foi isso o que atraiu sua atenção. Presumi que gostava de ler.

— É um livro, não é? — ela perguntou como se lesse a minha mente. — É o Play Livros?

— Isso, comprei a versão digital desse livro no Google Play mesmo — respondi, sorrindo de canto. — Você gosta de ler?

— Gosto, gosto bastante! O que você tá lendo?

— O Espadachim de Carvão, do Affonso Solano... Eu ouvi falar bastante sobre, então decidi comprar e ler.

— E você tá gostando? — perguntou, aproximando-se mais, olhando-me profundamente, sorrindo de um modo indecifrável para mim.

— Na verdade, eu comecei a ler hoje antes de vir, então ainda tá bem no começo.

— Entendi...

Ela ainda me olhava do mesmo modo, com o mesmo sorriso, seu rosto bem próximo. Eu não sei o que se passava na cabeça dela, nem na minha, para falar a verdade, eu apenas me perdi por um instante, não sei. Achei que ela fosse me beijar, eu fiquei nervosa. Então a porta da sala se abriu e ela, calmamente, se afastou, o olhar preso ao meu.

! — Ana Júlia me chamou, saindo da sala, seguida por Juliana. — Ei, vamos?

— Claro, claro... — falei, despertando de certo transe. — Ah, gente, essa é a . Ela vem com a gente. A é nova aqui, nós estamos na mesma turma.

As duas abriram um sorriso, cumprimentando-a. Ana Júlia adorava fazer novas amizades, então ela devia estar se sentindo no céu. E era bem bonita, então já rolava um interesse.

— Eu prometo que vou me comportar — brincou, fazendo-as rir. — Valeu por me aceitarem no passeio, meninas.

— Que nada, vai ser legal ter mais gente lá! — Juliana respondeu.

— É verdade, quanto mais gente, melhor! — Ana Júlia concordou. — Então vamos, porque o pessoal já deve estar chegando também. Você tem biquíni, ?

— Eu vou comprar por lá mesmo — ela respondeu.

— Ok, por lá é bem barato, não vai ter problema nenhum.

Continuamos andando até o portão. Bem, acho que dinheiro não era exatamente um problema para a , mas fiquei calada. Ela estava se sentindo bem à vontade com as minhas amigas, isso me aliviou. Não tem nada pior do se sentir deslocada, eu não queria isso para a , então vê-la se encaixar me fez sentir bem. Claro que, durante o caminho, eu mediava algumas coisas e tentava fazê-la sentir-se ainda mais à vontade nos momentos em que ela ficava de fora de algum assunto ou não sabia o que responder.

No ônibus, passamos por ruas que não conhecia, ou que ela só ouviu falar em algum momento. Ela fazia perguntas sobre os lugares que a interessavam e sobre as lojas bonitas que apareciam. e eu nos sentamos no banco da frente, Juliana e Ana Júlia sentaram-se no banco de trás. Às vezes ouvíamos as risadas delas ou as vozes conversando animadamente sobre algo. Elas chegaram a interagir conosco algumas vezes, e nós fizemos o mesmo. Era como se nos conhecesse há anos.


Ainda havia um pedaço a pé até a praia, alguns metros apenas. As meninas foram na frente, mas e eu paramos na lojinha que havia ali em frente antes para comprar um biquíni. Ela não demorou muito, apenas escolheu um que acreditou que daria, comprou e se trocou no banheiro. Bem rápida, aquela menina. Saiu do banheiro com os shorts cobrindo a parte de baixo, mas sem a blusa na parte de cima, ele tinha uma estampa muito colorida. Tentei disfarçar o fato de eu achar o corpo dela ainda mais bonito do que a peça.

— Então, o que você achou desse? — perguntou.

— A-achei lindo... Bem bonito, gostei das cores dele.

Ela sorriu e continuamos até a praia.

Já estava todo mundo lá, e, ao ver o restante da turma, ela pareceu tímida, então apenas sorria e cumprimentava a todos conforme eu os apresentava. Éramos uns quinze no total, contando com a .

— Então, gente, que molinho, hein? Nem tiveram aula hoje! — brinquei, fazendo-os rir.

— Pois é, mas a gente mereceu, vai? — Marcelo respondeu. — E vocês vão ter o de vocês, pequenos gafanhotos.

Enquanto conversava com os outros, vi que Dinorá se aproximou da minha nova amiga, ela parecia extremamente interessada. Dei um sorriso, se as duas se entendessem seria legal. Dinorá era uma pessoa maravilhosa e com certeza gostaria dela, isso é, caso se interessasse por ela também; acho que as duas dariam super certo. foi simpática e conversou animadamente, acredito que tenham encontrado algo em comum, assim a conversa se iniciou. Não interrompi, claro, mas me lançava olhares de vez em quando, e eu fazia o mesmo. Pensei se eu deveria me aproximar, pois, colocando-me no lugar dela, eu estaria meio sem graça de conversar com uma pessoa totalmente desconhecida sem nenhuma “amiga-ponte” junto de mim.

— Então, vamos dar um mergulho? A galera quer ir até a pedra! — Marcelo chamou.

— Ah... Acho que eu vou ficar por aqui mesmo... — falou com timidez, ajeitando a alça do biquíni. — Eu sou meio medrosa, sabe?

— Mas é tranquilo, cara, não tem perigo, não! — ele respondeu. — E a gente tá lá, se você cair, a gente segura... Ou até cai junto!

Rimos do que ele falou, ele tinha um jeito muito engraçado, era uma figura!

— Acho que eu vou ficar também, pra te dar uma força, — brinquei, mas querendo realmente dizer aquilo.

Minha nova amiga concordou com a cabeça afirmativamente, olhando para mim e alisando o braço direito meio sem graça. Provavelmente ela devia achar que eu queria ir junto com meus amigos. Depois que trocamos mais umas ideias com o Marcelo, ele foi com os outros.

— Você podia ter ido, se quisesse, ... Eu sou bem medrosa, não precisava ficar...

— Acho que vai ser mais divertido ficar aqui, e eu também sou medrosa — falei, dando um sorriso.

Fomos caminhando devagar até onde a água alcançava, naquela parte molhada da areia, vendo outra onda terminar ali, sentindo aquele efeito gostoso que as pessoas associam a estar indo para trás, mas na verdade é a água quem está recuando, uniformemente, como se fosse uma grande entidade que convoca cada parte sua para retornar ao todo. Pura viagem da minha mente, é claro, acho que o mar me levava a essas reflexões.

— Então... Você não me falou sobre você — ela começou, me olhando misteriosamente.

— Eu não tenho muita coisa pra falar sobre mim, sabe, eu sou bem comum.

— Ah, pode parar com isso, todo mundo tem uma história interessante para contar!

Pensei um pouco. Eu queria parecer legal, mas eu não tinha realmente boas histórias, e não queria ficar “chorando problema” para ela de jeito nenhum, isso seria ridículo. Forcei a mente, o que exatamente ela esperava que eu contasse? Fazendo uma pose altiva, joguei de volta para ela, esperando que que guiasse.

— Por que você não faz perguntas para mim, já que quer que eu fale sobre mim? Eu realmente sou péssima para começar qualquer coisa do zero — falei em tom divertido.

ficou em silêncio. Pude ver por sua expressão que ela não estava pensando no que dizer, ela sabia exatamente o que ia perguntar, era como se houvesse planejado desde o começo cada palavra em sua mente, pois parecia bem determinada.

— Ok, vou começar com perguntas leves, mas não me responsabilizo pelo rumo que esse “questionário” possa tomar, tá bom?

Concordei com a cabeça. Era como se nos conhecêssemos há tempos. Avançamos pela água, sentindo as ondas atravessando nossos corpos, como era boa a sensação de estar no mar outra vez. A sensação física era agradável, mas era impressionante como aquele lugar também acalmava minha mente.

prosseguiu.

— Ahn... Você gosta de sair?

Dei um suspiro pensativo.

— Depende... Com quem, para onde, mas, em geral, gosto muito de sair. Gosto de festas também e de praia.

Ela concordou com a cabeça, analisando-me de perto, nadando bem perto de mim, quase me rodeando, agitando a já agitada água do mar ao nosso redor.

— E com quem você geralmente sai?

Tá, aquelas perguntas eram pouco convencionais, mas preferi acreditar que era porque ela começara a nutrir um grande e súbito interesse em mim.

— Com o grupo que está aqui hoje, mas eu saio mais com a Ana Júlia, a Juliana, o Marcelo e o Thales. Somos um grupão mesmo quando reduzidos pela metade.

— Eu admiro a amizade de vocês, seu grupo é muito fofo, sabia?

— Obrigada, eles são minha família e essas coisas — cocei a nuca, sem graça, afastando-me para um pouco mais longe, fazendo uma expressão brincalhona.

— E dentro do seu grupo, quem é mais próximo ou próxima a você? De quem você gosta mais?

— Gosto de todos... Somos todos grandes amigos.

— E você já se apaixonou por alguém dos seus amigos? — perguntou sem rodeios, certeira.

Fitei-a impressionada, rindo sem graça.

— Como assim? — me fiz de desentendida.

Ela salpicou água em mim, me fazendo rir ainda mais e devolver a brincadeira. Ela fez o mesmo, é claro, ainda mais forte e mais alto. Então alguém ao lado começou a fazer o mesmo, e mais outra pessoa, então eram várias pessoas brincando disso. Quando nos demos conta, era um grupo enorme salpicando água uns nos outros às gargalhadas, jovens, velhos, conhecidos, desconhecidos. Todo mundo resolveu brincar, tudo isso por conta de uma provocação da . A água estava bem agitada, e, junto às ondas, todos pareciam crianças jogando água para o alto, como se fosse um chafariz.

Ela me pegou pela mão e me afastou da brincadeira, que continuou durante alguns minutos e mais pessoas começaram a participar, durando ainda mais, até que, aos poucos, foi perdendo a força e logo todos voltavam a nadar e a se divertir de outras formas.

— Você ainda não respondeu — ela sorriu provocativamente.

— Diga logo onde você quer chegar com tudo isso, doçura — respondi, mergulhando por uns segundos e voltando logo em seguida para ver a reação dela.

Seu rosto parecia deslumbrado, curioso e excitado com nosso jogo de perguntas e respostas, mas então ela começou a se aproximar da parte mais rasa, e então saiu de dentro da água. Acompanhei-a, eu queria saber o que ela me perguntaria.

— Então? — insisti.

— Eu vou fazer mais uma pergunta, mas não hoje.

— Quando, então?

— Essa pergunta eu só vou fazer nesse fim de semana, na minha casa. Espero que você possa ir. Na verdade, são três perguntas, mas não quero fazer nenhuma delas agora, é melhor esperar.

Meu coração acelerou. Ela falava tudo como se explicasse algo simples, mas eu me sentia ferver por dentro de ansiedade com o que ela tinha para me dizer. Criei um milhão de teorias e expectativas, todas elas terminavam com os lábios daquela garota colados aos meus. E na casa dela, quem sabe o que faríamos?

— Okay, tudo bem, se é assim que você prefere — falei, fingindo calma e tranquilidade, como se não me importasse, mas talvez um leve tremor na minha voz tenha denunciado o que eu realmente sentia.

— Você vai estar lá?

Fiz certo suspense antes de responder finalmente, com um meio-sorriso de canto.

— Claro.


A semana correu tranquila. Nós falávamos de outros assuntos, e eu tentava não me lembrar das tais três perguntas que queria me fazer. Meus amigos gostavam dela, então eu me senti ainda mais animada ao trazê-la para nosso grupo na maior parte do tempo, principalmente no intervalo.

Contudo, na quinta-feira, eu não a vi sair da sala, então não pude chamá-la para ficar conosco. Ela disse para mim durante a aula que precisava entregar uns documentos na secretaria e que talvez não pudesse ficar com a galera.

Estávamos em uma das salas de aula, pois as salas ficavam abertas durante o intervalo. Meus amigos e eu, reunidos em uma roda, alguns sentados em cadeiras mesmo, outros nas mesas quadradas, pois as carteiras não eram coladas, eram cadeiras e mesas independentes.

— Então, hoje ela vai ficar aqui para assistir às tais gincanas que vão rolar aí no pátio? — Marcelo perguntou. — Você só não vai esquecer a gente, hein? — brincou, empurrando fraco o meu ombro.

Dei um sorriso sem graça, brincando com a fita que eu havia amarrado no meu braço. Juliana deu uma gargalhada, me abraçando de lado.

— Claro que não, Marcelo, a tal é diferente! — me provocou. — Você não vê o jeito que se olham, as conversinhas...

— Vai, conta, , você tá a fim dela, não tá? — Dinorá entrou na conversa.

— Tá mais pra ela tá a fim de você, viu? — Ana Júlia falou, me cutucando com o cotovelo. — Ela só quer ficar do seu lado toda hora, tudo é “”, “ isso”, “ aquilo”...

— Sei lá — dei uma risada sem graça. — Se for verdade, eu não me incomodaria...

Todos deram risadas provocativas durante alguns segundos, me zoando. Eles sabiam que era totalmente o meu tipo. E eu nem mencionara para eles as nossas conversas que avançavam pela madrugada no WhatsApp. Eles certamente me zoariam ainda mais.

era o tipo de pessoa que poderia ficar junto dos meus amigos, junto de desconhecidos e apenas comigo e seria sempre agradável, talvez fosse isso o que eu mais gostava nela. Essa personalidade adaptável era fascinante para mim.

Depois, começaram tranquilamente um jogo de cartas aleatório do qual fiquei de fora por não saber jogar. Enquanto eu observava os movimentos de cada um, eu ouvi o toque de mensagem do meu celular. Era uma mensagem de .

Me encontra na biblioteca, por favor.

“Nossa, que formal”, pensei, sorrindo. Coloquei a mão na mochila disfarçadamente e tirei um gloss de lá, guardando no bolso sem ser vista. Levantei-me da cadeira e respondi a mensagem rapidamente, então me virei para os meus amigos.

— Gente, eu já volto, vou lá na biblioteca.

— Tá bom, vai lá... — respondeu Juliana, concentrada no jogo, sem dar tanta importância, porque eu fazia isso às vezes, uma vez que eu pegava muitos livros na biblioteca da escola.

Saí rapidamente da sala, guardando o celular no bolso da calça e segui meu caminho até a biblioteca. Antes, passei no banheiro. Olhei minha imagem no espelho e fiz alguns ajustes, eu queria que ela me achasse legal e bonita. Tirei o gloss do bolso e passei cuidadosamente nos meus lábios, ajeitando para que não ficasse borrado.

Por um lado eu sabia que era besteira, mas por outro eu não podia deixar de criar histórias na minha cabeça. Durante a semana, minha nova amiga passou a me jogar indiretas como se estivesse dando em cima de mim. Não vou negar que gostava e muito disso, principalmente porque ela tinha um jeito sutil de fazer isso que me fisgava ainda mais. Eu respondia sempre mostrando que o interesse era recíproco, eu queria que soubesse que ela me interessava e muito, e não quis deixar passar nenhuma chance que eu tivesse para deixar isso bem claro.

Pelo caminho, encontrei alguns colegas que falavam comigo uma coisa ou outra, eu conversei poucos segundos, mas queria chegar logo, eu não queria deixar esperando. Então eu admiti para mim mesma que ela mexia comigo e que ia além de um simples interesse físico. Se bem que eu já havia dito que adorava a personalidade dela.

A biblioteca estava extremamente silenciosa, como sempre, mesmo o som dos meus passos mais leves podia ser ouvido. Eu gostava dali, era um lugar amplo e abarrotado de estantes e livros, além de ser muito limpo e iluminado, dava uma sensação agradável de lugar mágico, como as bibliotecas dos livros de fantasia. Havia pessoas espalhadas pelas mesas lendo ou estudando. A bibliotecária ergueu os olhos para ver quem entrara, notando minha presença e sorrindo para mim antes de abaixar os olhos para o livro que lia, sorri de volta e entrei em uma seção qualquer.

Eu não sabia em que parte daquela biblioteca enorme estava, então fiquei buscando lentamente entre as estantes, tentando não fazer barulho de passos. Eu estava na seção de clássicos, então virei a esquina da estante, entrando em outra seção, uma ainda maior, a de livros de fantasia. Eu precisei parar para olhar os títulos e até algumas capas, pois aquela seção me interessava e muito. Sorri, pegando um livro que havia lido no mês passado nas mãos e me lembrando das boas histórias contadas por ele.

Então prossegui, virando novamente em outra seção, quando senti meu braço ser puxado delicadamente. Quando me dei conta, eu estava com as costas sobre uma estante na seção de romance, estava diante de mim e sorria divertida, foi impossível não fazer o mesmo. Um brilho gracioso cruzou seus olhos.

— Oi — ela sussurrou bem baixinho.

— Oi — respondi no mesmo tom e começamos uma conversa em sussurros quase inaudíveis, restando a nós a leitura labial.

— Eu estava te esperando, te vi entrar... Procurando algum livro? — provocou ela.

— Não, procurando você.

Ela sorriu. Aquele modo de conversar me fazia manter o olhar nos lábios dela, e eles eram ainda mais atraentes vistos tão de perto, seu brilho labial provavelmente tinha sabor de morango ou cereja, pois era bem avermelhado. Seus olhos também estavam nos meus lábios, então ela levou o polegar até o meu lábio inferior e tirou um pouco do meu gloss, levando o dedo até a própria boca e lambendo discretamente.

— Não me lembrava desse — falou naquele sussurro baixíssimo. — Tutti Frutti?

Dei um sorriso torto, assentindo com a cabeça.

— Me agrada bastante.

Ela se aproximou mais, colocando a mão na minha cintura, olhando-me fixamente. Senti minhas costas encostarem totalmente na estante que estava atrás de mim. Eu não conseguia desviar meus olhos dos castanhos profundos diante de mim. Seu corpo estava ainda mais próximo e eu podia sentir seus seios encostados aos meus, tomei coragem e corri minhas mãos pela cintura dela até que a direita a segurasse firme, enquanto a esquerda acariciava suas costas. Ela se inclinou e colocou o rosto no meu pescoço, sentindo meu perfume. Então voltou a me encarar novamente e sua expressão era sexy.

— As três perguntas... — ela começou. — Acho que não preciso mais fazer nenhuma delas...

Eu a olhei curiosa, então senti seus lábios sobre os meus. era quente, meus sentidos estavam como que anestesiados, seus lábios, sua língua quente e devassa, ela sabia exatamente o que estava fazendo, e o fazia muito bem. Eu queria mais, cada beijo, cada toque, cada gemido baixo que escapava dos beijos. A mão dela entrou sob minha camisa do uniforme, eu me senti ainda mais excitada, comecei a acariciar os seios dela, pois minha mente estava neles desde que os sentira tão próximos, e distribuir carícias, inclinando-me e distribuindo beijos em seu pescoço.

Suas mãos deslizavam pelos meus seios, então seus dedos se concentraram em causar sensações ainda mais prazerosas. Gemi baixo contra sua pele, descendo minhas mãos por seu abdome e segurando sua cintura firmemente outra vez. Minha mão direita traçou um delicado caminho até o ventre dela, e deslizando mais para baixo...

O sinal tocou, era o fim do intervalo.


Depois que o sinal tocou, ficamos mais alguns minutos na biblioteca, em silêncio, sentadas no chão da seção de romance antes de retornarmos. Ao sairmos da biblioteca juntas, ficamos em silêncio. Ela foi na frente, eu a seguia, sem graça. Não entendi o clima estranho, mas não perguntei mais nada. As pessoas voltavam às salas de aula, mas o pátio já estava bem vazio, bem como o corredor. Paramos em frente à porta da sala, quando ela se virou para mim, beijou o meu rosto e sorriu.

— Amanhã eu te espero na minha casa esteja lá.

Então ela entrou na sala. Segundos depois, ainda surpresa, eu fiz o mesmo. Todos já estavam lá, inclusive a professora. Por alguma razão, eu não fiquei constrangida. Eu me sentia ainda mais confiante.


Aquela sexta-feira era o dia do conselho de classe individual da minha turma, então nós não teríamos aula. Minha felicidade foi poder dormir até mais tarde sem me preocupar com horário. O ar-condicionado estava ligado e eu estava coberta com um edredom confortável, não havia sensação melhor do que esse equilíbrio para mim.

Olhei as horas no celular e vi que havia uma mensagem de . Ela me lembrou de que, às duas horas, ela estaria me esperando na casa dela. Eu quase havia me esquecido disso, por um momento acreditei, mas depois comecei a pensar que era provocação da parte dela, como ela parecia gostar de fazer. Então eu realmente iria.

Liguei para minha mãe para avisar que ficaria na casa de uma amiga da escola e que estava tudo bem, ela concordou, pedindo que eu ligasse quando chegasse lá.

Como já era quase uma hora da tarde e eu precisava estar lá às duas, eu comecei a me arrumar. Como ela havia dito para eu não almoçar, eu só comi um pedaço de bolo de chocolate que tinha na geladeira porque eu não sei sair de casa com fome, mesmo que eu esteja indo comer no lugar.

Estava calor, então eu fui de shorts, camiseta e uma sandália fechada rasteira cano curto que eu gostava. Era da minha mãe, mas ela não usou mais do que duas vezes e parou de gostar. Coloquei meu batom favorito, que era bem forte e eu adorava, e uma sombra fraca nos olhos. Eu queria causar boa impressão, ainda mais se os pais dela estivessem lá. O pensamento me deixou nervosa, o que eles pensariam de mim?

Saí de casa. Eu não estava levando nada além do celular, fones de ouvido e o dinheiro da passagem no bolso, porque eu só estava indo até a casa dela para passar uma tarde conversando e tudo mais.

Claro que eu não pensava que nossas bocas estivessem ocupadas apenas conversando, mas eu tentei não pensar nisso, do contrário meu estômago apertava em ansiedade. Essas eram as tais borboletas no estômago? Pareciam mais um soco.

Quando o ônibus estava mais ou menos próximo ao ponto em que eu deveria descer, eu mandei uma mensagem para , avisando que eu estava chegando. Ao descer, ela estava no ponto do ônibus me esperando. Ela usava um vestidinho rodado bege bem claro e coturnos delicados. Aquilo era realmente visual de gente rica, não é mesmo? Também pudera, ela morava na parte rica da cidade.

— E aí, gatinha — cumprimentei-a com um abraço, por que não?

— Você está linda, sabia? — ela sussurrou no meu ouvido.

Sorri sem graça e devolvi o elogio timidamente, ela sabia que ela mesma estava deslumbrante. Segurando meu braço, ela me guiou até a casa dela naquela rua saída de filme americano cujas casas eram todas lindas e enormes. Paramos em frente a uma casa com um telhado incrivelmente lindo. Eu deveria tentar fazer uma casa assim no The Sims um dia desses. E eu definitivamente tentaria. E nem vou mencionar quem seriam as moradoras da casa. Ops...

abriu a porta e me deixou entrar primeiro, fiz menção de tirar os calçados, mas ela me impediu, dizendo que não precisava. Fechando a porta atrás de si, ela me guiou até a cozinha. Minha fome havia diminuído um bocado por causa do nervosismo. Era a primeira vez que eu entrava em uma casa daquelas, o que será que eles comiam? Será que eu precisaria ter etiqueta? Definitivamente eu pagaria muitos micos.

— Que foi, , você parece tensa — perguntou.

— N-nada, não...

Eu não gostava de ficar em situações como essas, isso me constrangia um pouco, mas tentei ficar numa boa. Notei que não havia ninguém em casa além de nós duas, isso me acalmou consideravelmente. Com a não precisaria de etiquetas, então estava tudo bem, certo?

— Olha, se você ficar de cerimônia na minha casa... — ameaçou ela, parecendo entender o motivo para eu estar tão parada e quieta, então eu percebi que estava visivelmente tensa. — Aqui, você gosta de lasanha?

Impressionei-me com a pergunta dela totalmente fora do esperado por mim. Bem, então ela não me serviria nada de estranho, ainda bem, isso era extremamente reconfortante. Dei uma risada, sentindo-me bem mais à vontade.

— Se eu gosto? Eu poderia mudar o meu nome para Lasanha Pizza da Silva! — respondi repentinamente, quebrando o clima de formalidade que eu criara, fazendo-a rir.

— Ah, então tá ótimo, mas vamos comer lá em cima, quero te mostrar o meu quarto.

Ela tirou a lasanha do forno e separamos os pratos, bandejas, copos, garrafas de refrigerante, pizzas e várias outras comidas surgiram ali. Eu fiquei impressionada com a quantidade de alimentos, mas não vou mentir, comer é minha especialidade. Levamos tudo para o quarto dela, ajudando uma à outra, porque estávamos levando muita coisa.

Finalmente entramos e eu pude olhar o quarto dela propriamente. Era enorme e cheio de coisas que eram a cara dela. Diversos CDs em uma estante que também estava abarrotada de livros, estes tomavam conta, ainda, de vários outros móveis, uma cama de casal com lençóis e edredons com estampas de cartas de baralho, um aparelho de som moderno azul e preto, pôsteres de grupos de música espalhados pela parede que eu parei para analisar.

— Você nunca me disse que era fã do SHINee! — exclamei surpresa.

— Eu via os bottoms deles na sua mochila, mas não quis falar, preferi que você visse pessoalmente, achei que seria mais divertido ver sua reação. Isso é bom, significa que temos mais uma coisa em comum.

Aquela garota era inacreditável mesmo. Fiquei babando nos pôsteres dela por alguns minutos e conversamos sobre o grupo durante um tempo.

Enfim sentamos nas almofadas no chão, que era coberto por um tapete, pois havíamos forrado uma toalha na parte em que iríamos comer. Ela colocou um filme de comédia que ambas gostavam, mas na verdade era só para não ficar tudo silencioso, porque nós queríamos era ficar conversando.

— Então — comecei, dando uma garfada na lasanha que estava no meu prato. — E as três perguntas?

— Nossa, você não se esqueceu ainda delas? — brincou, gargalhando.

— E como eu poderia? — falei, fingindo irritação, também rindo.

— Não era nada de mais, uma delas era se você estava ficando com a Dinorá, por causa do jeito que ela te olha e porque ela é muito bonita.

— Não, não mesmo! A Dinorá... Cara, eu nem imagino nós duas juntas, ela é uma amiga muito boa, nem rola — respondi.

— Certeza? Eu super ficaria com ela.

Não consegui conter a expressão de desapontamento, mas dei um sorriso amarelo.

— Peraí, você tá com ciúmes? — ela perguntou, me olhando mais de perto.

— Quê? Não, eu não! Ciúmes de quem?

— Como de quem? De mim, ué! Você não se incomodaria se eu ficasse com a Dinorá? Ou com outras garotas?

Revirei os olhos, continuando a comer, então bebi um pouco de refrigerante. Ela sorriu, mordendo o lábio inferior.

— Então, seus pais não estão em casa?

— Não, só voltam semana que vem.

Arregalei os olhos, fazendo uma expressão surpresa.

— E você está sozinha aqui?

— É claro! Eu sei me cuidar, gata — respondeu, acariciando meu ombro. — A menos que você queira ficar aqui cuidando de mim...

Dei um sorriso torto. Eu queria conseguir ser desinibida como ela, mas eu travava e não conseguia iniciar minhas investidas, então ficava feliz e nervosa ao mesmo tempo com as investidas de . Ainda tínhamos tempo, eu sabia que eu não era assim, eu sempre conseguia tomar a iniciativa com as garotas com quem ficava, mas me tirava o fôlego, eu não sabia o que fazer.

Continuamos comendo e terminamos de assistir ao filme de comédia. Claro que não conseguimos comer tudo o que havia ali, sobrando os chocolates e refrigerantes, então guardamos no frigobar e nos sentamos na cama dela, que era bem espaçosa. tirou os sapatos, eu fiz o mesmo.

O telefone da casa tocou e saímos da atmosfera em que estávamos absortas. Ela se levantou e avisou que voltaria em um minuto, pedindo que eu trocasse para um filme de terror. Sozinha no quarto dela, eu ainda processava o que acontecera e o que poderia acontecer. Peguei o controle remoto e escolhi um filme de terror que eu gostava, provavelmente ela já havia assistido também.

retornou ao quarto, sorrindo.

— Foi mal, era a minha mãe, ela queria saber se estava tudo bem, porque ela sabe que você está aqui e queria saber se eu estou te tratando bem — ela riu.

— Então você não tem boa fama como anfitriã? — brinquei. — Ah, eu preciso ligar para avisar a minha mãe que eu cheguei...

Ela assentiu com a cabeça e eu liguei ali mesmo, rapidamente. Minha mãe quis saber algumas coisas, como eram os pais dela, eu disse que só a mãe dela estaria lá durante esse tempo, ou do contrário ela ficaria preocupada por saber que estávamos sozinhas ali. No fim da ligação, me olhou de modo engraçado.

— Então a minha mãe está aqui? — provocou. — Tudo bem, se não sua mãe pode descobrir o que estamos fazendo — disse, mordendo o lábio, então gargalhou. — Zoeira.

Fitei seus lábios, alternando com seus olhos, sentindo-a ainda mais de perto.

Eu a beijei. E foi como se eu precisasse de cada parte dela para respirar, mas a grande contradição foi que perdemos o ar diversas vezes. Eu queria estar ali como jamais quis estar em lugar algum, ela era exatamente o meu tipo, seu corpo, sua mente, seu sorriso, seus olhos... Tudo.

Às vezes, eu confesso, era assustador estar com alguém como ela. Contudo, ao mesmo tempo, me fazia esquecer os receios, porque seus lábios eram macios e suas mãos eram habilidosas; e porque o verão estava perfeito, porque ela não se importava com mais nada. Então eu não me importava também.

Apoiei minhas mãos sobre as coxas dela, arranhando levemente, enquanto ela descia seus lábios sobre meu pescoço, subindo até meu queixo, então nossas bocas se encontraram novamente. Senti sua mão descer até os meus shorts, adentrando a peça e me acariciando ainda mais intimamente. Senti-me incendiar com seus dedos por cima do tecido.

— Verdade ou consequência? — ela sussurrou entre os beijos.

— Ahn? — gemi, sem compreender.

— Só responda, docinho — disse, me beijando novamente.

— Verdade — arfei.

— É verdade... — ela interrompeu o que fazíamos, retirando sua mão e me encarando. — Que você está usando uma camiseta fina por baixo dessa? — ela perguntou, sorrindo enviesado.

Me custou uns segundos antes de entender e sorrir também, ainda recuperando o ar. Retirei a blusa que vestia para mostrar que não usava nada além do meu sutiã por baixo, sem permitir que nossos olhos se desencontrassem.

— Não, não é verdade — respondi. — Verdade ou consequência?

— Verdade...

— É verdade que você está usando um sutiã amarelo?

se levantou da cama e desfez o laço do vestido que usava, então retirou lentamente a peça, que deslizou por sua pele.

— Mentira, é azul — respondeu ela, se aproximando.

Nos beijamos novamente. Eu explorava sua boca e suas curvas, assim como ela, que fazia o mesmo. Não era a primeira vez que eu chegava tão longe com alguém, mas era a mais intensa. Ela se deixou deitar de costas na cama, eu estava sobre ela e desci meus lábios pela pele dela, então deslizei a alça de seu sutiã azul, deixando que descobrisse seus seios rijos, que ansiavam por minhas carícias, passando a língua pela auréola, sentindo-a contorcer-se sob mim. Seus gemidos eram ainda mais deliciosos de ouvir.

Eu a quis para mim. E não apenas naquele momento. Então corrigi meus pensamentos, eu a queria ao meu lado por quanto tempo ela pudesse estar.

E era bonito, era poético, era estranho, indescritível. Cada sensação, cada vez que nossos lábios e nossas peles se encontravam, cada pensamento que cruzou minha mente, enquanto meu corpo estava entregue ao prazer.

Era sexo, mas havia algo mais. Descobrimos nossos corpos, nos fizemos e desfizemos em segredo. Descobrimos a nós mesmas.


Dei um sorriso, aproximando meu rosto do dela. Estávamos deitadas na cama, respirando fundo, em silêncio. estava sonolenta.

Eu jamais deixaria de notar quão angelical seu rosto era. A fraca luz que entrava pela janela refletia em seus olhos calmos e brilhantes.

— Quando eu entrei na escola, você... Ficava me olhando... Por quê? — ela perguntou.

Dei uma risada baixa, desviando o olhar rapidamente, então a encarei novamente.

— Porque achei você linda... — respondi, juntando toda a coragem que eu tinha dentro de mim para dizer isso. — Olha, eu sei que a gente se conhece há muito pouco tempo, mas eu me lembro das nossas conversas no bebedouro todos os dias antes de dormir, e penso nas vezes em que você me pediu uma caneta emprestada com um sorriso e eu emprestei também sorrindo, mesmo sabendo que você tinha várias canetas no estojo. E sempre que você se senta ao meu lado e tenta puxar algum assunto...

Acariciei o rosto de , que segurou minha mão, fazendo carinhos nela.

— É muito raro encontrar garotas como você... Sabe, garotas que valham a pena e que... Sejam como nós somos... Lésbicas ou bissexuais...

Mordi o lábio. Eu constantemente tinha aquela conversa comigo mesma.

— Eu entendo, é sempre imprevisível. É um tiro no escuro.

— Talvez... Acho que o amor é um tiro no escuro — falou repentinamente, me surpreendendo. — A gente pensa que só está ficando, até sentir que algo mudou... Só precisamos esperar.

— Esperar?

— É, precisamos esperar e ver e acertou a gente.

Dei um sorriso. estava certa. Eu sabia poucas coisas sobre ela, se fosse comparar tudo o que eu ainda poderia descobrir. Havia algo nela que me instigava a querer ir mais profundamente, entrar de uma só vez na vida dela. E ela deixava bem claro que queria o mesmo. Então talvez só precisássemos esperar. Caso o tal Amor nos tivesse acertado, seríamos sortudas, caso não, tudo bem se fosse apenas um caso de verão.

Ela já estava dormindo. Era ainda mais linda em momentos como esse. Então, depois de alguns minutos, eu também dormi.

Aquele era o paraíso dela, e foi divertido estar nele. era alguém que sabia exatamente como mexer com os pensamentos de alguém, e ela simplesmente não saía dos meus. Era como um fruto proibido do qual é impossível se afastar. Mas ela não era um fruto proibido, e por isso eu me senti confiante.

Se não era certo, então era o melhor dos erros. E não existe maneira melhor para se estar errada, e era mais divertido dessa forma.


Got my mind on your body
And your body on my mind
Got a taste for the cherry
I just need to take a bite
Don't tell your mother
Kiss one another
Die for each other
We're cool for the summer


Fim.



Nota da autora: Oi, gentem! Eu devo dizer que A-M-E-I escrever essa fic, de verdade. Essa fic teve um significado para mim muito grande, além do que foi o maior perrengue com o meu notebook e com o arquivo para conseguir enviá-la. Depois de tudo, eu sinto falta de continuar escrevendo, mesmo tendo sido curtinha. Espero de verdade que tenham gostado e se divertido tanto quanto eu. Nos vemos por aí! Beijo!



Outras Fanfics:
Bad Romance (Femslash)
Red (Femslash)



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