Capítulo Único
abria a porta do banheiro com a intenção de voltar para festa que acontecia na casa de um dos seus amigos, quando uma voz doce o atingiu fazendo com que o mesmo não deixasse o espaço que ocupava, pois, estava completamente paralisado.
Era .
Tinha certeza de que era ela, jamais poderia esquecer como o amor soou um dia para ele.
— Mãe, eu já falei que está tudo bem! — a garota repetia pela milésima vez.
Não conseguiria sair dali de forma alguma, encarar sua ex namorada nesse momento parecia uma das piores coisas a acontecer, não estava preparado, ao menos sabia que ela voltara para Austrália. Engoliu seco pensando em como parecia uma situação criada por Jason para que eles pudessem consertar as coisas.
— Merda! — praguejou.
Percebeu que ela avançara no corredor, dando espaço para que ele pudesse descer as escadas sem que a mesma notasse a sua presença, pelo motivo de estar distraída com sua parentela no telefone. Antes que perdesse a coragem para sempre, prontificou-se em não fazer algum barulho e conferiu várias vezes para onde a garota olhava antes de tomar a atitude de alcançar os degraus.
Porém, foi em vão.
— ? — o chamou e, imediatamente, ele fechou os seus olhos, desejando que aquilo não estivesse acontecendo. — Você estava tentando fugir? — perguntou incrédula.
— De jeito nenhum! — respondeu nervoso enquanto virava-se com intuito de olhar para garota. — Eu não vi você aí...
— Com certeza não! — ela o interrompeu, cruzando os braços.
O silencio constrangedor predominou o espaço entre eles até que ela ameaçou deixar o local.
— ! — chamou a atenção dela.
— Não me chame assim! — repreendeu o rapaz de imediato.
— Você sabe que eu não quis...
— Não nasci ontem. — ela travou o maxilar.
— Eu não sabia que você tinha voltando, eu...
— E eu gostaria que tivesse permanecido assim por muito tempo, mas, eu não perderia o casamento do meu primo Jason por sua causa. — disse irritada.
— Jesus! Você pode se acalmar? — pediu, um tanto confuso.
— Você é inacreditável! — ela soltou uma risada fraca.
— Quanto tempo faz que você voltou? — questionou.
— Isso não te diz respeito a partir do momento que você terminou comigo, não acha? — franziu o cenho.
— ...
— Não! — levantou o indicador. — Perdi anos da minha vida ao seu lado, eu achei que casaríamos, eu achei... — o fitou com os olhos marejados, buscando o ar para completar a frase. — Eu achei que você era o amor da minha vida.
— É difícil para mim também, não vê? — apontou para si mesmo.
— Porque tudo é sobre você, não é mesmo? — revirou os olhos.
— Não é desse jeito, você...
— Mas, não foi exatamente o que você disse quando me deixou? — ela o interrompeu e dessa vez, não soube o que responder. — Vamos apenas fazer isso pelo Jason! — passou pelo rapaz, indo em direção a sala.
Ela ainda estava magoada e com toda razão. havia dado tudo de si para o relacionamento deles apenas para que em um dia qualquer, seu amor, simplesmente, decidisse que ele precisava seguir sozinho e por mais que a mesma tivesse pedido e lutado por aquilo, não havia mais nada que pudesse fazer. Ele desistira de algo precioso demais e só pode se dar conta agora.
Seis meses atrás
“O frio consumia a barriga de . Não conseguia similar todas as palavras que saiam da boca de , como um relacionamento de mais de dois anos poderia acabar dessa forma com uma justificativa tão simples quanto a certeza que o céu tem estrelas a noite. O nó na garganta dela fazia com que a mesma se fechasse cada vez mais. A tentativa de segurar o choro falharia a qualquer momento.
— Eu não consigo entender !
— Não é algo que você precise entender !
A garota permanecia sentada com a feição descrente.
— Eu achei que estivéssemos bem...
— E estamos! — o rapaz confirmou.
— Então que merda é essa?
— Não é sobre você, é sobre mim.
— Você, realmente, vai vir com isso?
— Eu tenho minhas merdas e não quero que você fique presa a mim de alguma forma. — tentou explicar.
— Eu não estive esse tempo todo? — questionou com voz chorosa.
E de fato, ela esteve. Mas, não de uma maneira ruim. Dizer para qualquer um que eles não se amavam era a maior mentira que alguém poderia inventar, por isso a confusão dominava a mente dela de um jeito excessivo. Por mais que tentasse a ideia de deixar Jones ir tão facilmente a fazia se sentir impotente.
— ! — segurou as mãos dela.
estremeceu, pois, ele sempre a chamava pelo sobrenome quando era carinhoso.
— Eu amo você e isso nunca vai mudar. — disse com firmeza. — Mas, agora eu preciso ficar sozinho.
— E decidiu isso depois de dois anos? — arqueou uma das sobrancelhas.
— Você tem tantos sonhos, não quero que desista deles por mim, tem uma viagem programada por aí...
— Ai meu Deus! Isso é sobre Londres?
— ! — a repreendeu. — Você vai ficar melhor sem mim se quiser fazer isso acontecer, acredite!
— Eu não vou aceitar isso! É ridículo!
— Não há muito o que eu possa fazer em relação a isso. — levantou-se e deu as costas a ela.
— ? ? — o chamou antes que ele abrisse a porta, mas o mesmo não olhou para traz, deixando a garota sozinha no quarto.
não lembrava da última vez que havia se sentido tão impotente e fraca em relação a algo. Não imaginava que o homem que escolheu para passar o resto da sua vida fosse tão covarde, não tinha uma alternativa em que ela pudesse defende-lo ou colocar em palavras como tudo o que estava acontecendo a incomodava.
Sentia como se seu coração tivesse sido partido em pedaços e os cacos do estrago estivessem espelhados pelo chão do quarto que até então era deles dois. Tentou procurar uma justificativa plausível para aquela situação visto que não tinha feito isso. Toda a baboseira sobre ela seguir os sonhos dela... Eles estavam juntos há dois anos, isso nunca havia se quer sido uma pauta entre o casal.
Era difícil acreditar nele.
Sabia que passaria um bom tempo em um país muito distante, mas, eles haviam acertado as coisas muito antes dela se programar para fazer alguma coisa. Um visitaria o outro sempre que conseguisse e segurariam o relacionamento a distância até que definissem, de fato, onde ficariam. Então a ideia de um término, justamente, uma semana antes da garota viajar parecia cruel e egoísta.
Levou alguns dias para que sua viagem chegasse e para que as malas dela estivessem em frente ao apartamento que antes pertencia aos dois e que, agora, só habitava. A garota recostava a cabeça na parede do corredor enquanto seu ex namorado trazia a sua mochila e balbuciava algumas coisas que a mesma preferiu ignorar.
Tudo já estava sendo difícil demais, apenas não desistiu de ir para Londres por que imaginou que seria pior ficar ao lado dele. Basicamente, seria como uma fuga, visto que seria demasiadamente complicado evitar os amigos em comum e principalmente seu primo Jason que em poucos meses se casaria, seria a única razão para que voltasse para Austrália.
não merecia ser um motivo de nada, nem ao menos de um desejo supérfluo, ela pensou.
— , terra chamando! — ele apareceu, a tirando dos seus devaneios.
— Hum?
— Tudo certo?
— Preciso realmente responder isso?
— Espero que me perdoe um dia! — baixou a cabeça.
— Vai sonhando! — ela soltou uma risada sarcástica e pegou a bolsa que estavas nas mãos dele.
— Não me deixar levar ao aeroporto? Não vai querer se despedir ou...?
— Já faz uns cinco dias que você não está mais na minha vida, isso significa que não precisa fingir que se preocupa comigo. — o interrompeu.
— Não é fingimento !
— Como eu disse, você não é mais problema meu! — o encarou de maneira intensa para que ficasse claro o que ela estava sentindo.
havia jogado seu amor fora e ela queria que o mesmo soubesse que ele se arrependeria o resto de sua vida. Mas, se a garota ao menos entendesse o porquê, talvez as coisas fossem diferentes, porém, o rapaz não queria que ela mudasse de ideia em relação a Londres por causa dele. Sempre viu potencial nela de ser uma grande estilista e ela não faria isso se estivesse com um peso, como ele, em suas costas.
Ele assistiu enquanto sumia do corredor, não era dessa forma que o rapaz gostaria que as coisas terminassem, ansiou pelo sentimento de ir atrás dela e desfazer toda bagunça, porém, a ideia da própria odiá-lo parecia confortável desde que ela não desistisse de todas as coisas que a esperavam pelo mundo.”
desceu as escadas seguindo o amor da sua vida, era bizarro como em tão pouco tempo as coisas haviam mudado da água para o vinho e ele havia se conformado, pois, estava fraco demais para ficar lutando contra as coisas que estavam fora do seu controle.
Assim que chegou na sala, percebeu os olhares direcionados para ele e e tentou disfarçar o quão desconfortável se sentia. Jason tentou o acolher de alguma forma e isso deixou sua prima um tanto enciumada, visto que por mais que eles fossem amigos há anos, ela ainda havia vindo primeiro e era sua família.
Três anos atrás
— ! — seu primo gritava a chamando atenção.
Eles participavam do dia da Austrália, a rua em que se encontravam para assistir ao desfile estava lotada e por um segundo a garota havia se perdido dos amigos, por isso, Jason levantava os braços fazendo com que ela soltasse um sorriso singelo e encaminha-se ao encontro de todos.
— O que você fez com sua cara? — a garota perguntou ao ver o rosto do rapaz repleto de tinta azul.
— Eles disseram que seria patriota da minha parte.
— Eles quem?
— Provavelmente alguém mais idiota que ele! — uma voz surgiu e em seguida Jason foi abraçado por trás.
— ! Sabia que viria! — disse com um sorriso largo.
, ao ouvir o nome "", ficou um pouco confusa, pois, sentira que seu primo o mencionou alguma vez, mas, achou estranho o mesmo não comentar que alguém diferente se juntaria a eles. Enquanto observou Jason e o amigo recém-chegado trocarem cumprimentos calorosos, não pode deixar de notar como ele parecia cativar a atenção de todos ao seu redor, seu sorriso era contagiante, e sua presença era magnética.
se afastou do abraço e finalmente dirigiu sua atenção a , ela estava prestes a dar um passo à frente quando seus olhos encontraram os do rapaz pela primeira vez, no mesmo momento sentiu seu coração saltar e esqueceu como respirava. Algo mágico aconteceu naquele instante, o tempo pareceu desacelerar enquanto eles se olhavam, como se estivessem presos em um mundo só deles.
— , certo? — perguntou, mantendo o sorriso no rosto.
— Sim, sou eu. — respondeu, um pouco sem fala.
— Você estava escondendo o tesouro Jason? Como eu nunca a vi antes? — questionou ao amigo sem deixar de encarar a garota na sua frente.
— Vou ter que concordar! — ela riu.
Jason olhou de um para o outro com um olhar astuto, ele já estava começando a perceber a faísca que parecia ter acendido entre e , sabia que daria certo aproximar os dois, levou até muito tempo para fazer isso porque os dois sempre estavam ocupados com os estudos.
— Bem, pessoal, acho que o desfile está prestes a começar! — Jason anunciou, tentando esconder um sorriso. — Tentem não tirar a roupa um do outro em alguma esquina.
Foi inevitável não corar levemente diante da brincadeira de Jason, mas o clima amigável e descontraído ajudou a dissipar um pouco da tensão inicial.
— Jason tem um jeito engraçado de nos apresentar, não acha? — comentou, tentando quebrar o gelo.
— Sim, definitivamente. — riu fraco e revirou os olhos. — Ele sempre foi assim, adora criar situações inusitadas. — respondeu em tom debochado encarando seu primo.
— E essa é minha deixa para eu ir atrás da minha linda namorada. — Jason gesticulou uma continência com dois dedos e deu as costas para eles.
Enquanto o desfile começava e a multidão ao redor deles se animava com as apresentações, o futuro casal continuou conversando e descobriram que tinham interesses em comum, desde filmes e música até suas paixões por viagens e aventuras quando eram mais novos.
Jason, que estava discretamente observando a interação entre eles, sabia que havia feito a coisa certa ao apresentá-los. O sentimento de realização por ter enfim conseguido reuni-los era ótimo, ele sabia que sua prima era uma pessoa incrível, e era alguém que admirava profundamente. Ver os dois se dando tão bem era como ver duas peças de um quebra-cabeça se encaixando perfeitamente.
— Vocês formam um casal incrível, sabiam disso? — Brooke, a namorada de Jason comentou.
— Não somos um casal! — eles disseram em uníssono e riram em sequência.
— Pelo visto, poderiam ser. — a loira levantou as sobrancelhas, como se tivesse dito algo obvio.
e se entreolharam, sorrindo timidamente.
— Parece que você estava planejando isso o tempo todo, não é? — fitou seu amigo.
Jason deu de ombros com um riso travesso.
— Bem, talvez tenha uma pitada de cupido em mim. — gesticulou com o dedo indicador.
— Então, eu deveria agradecer, não é mesmo? — questionou de forma irônica.
— Poderia agradecer vindo com a gente para praia, os meninos vão surfar e seria ótimo te ter como companhia, talvez eu me afogue e precise de uma respiração boca a boca. — soltou a cantada de cara lavada deixando a garota sem reação.
corou.
— , você não presta! — Jason brincou, dando um tapinha no ombro do amigo.
— Acho que finalmente as aulas de primeiros socorros que aprendi na escola vão servir para alguma coisa. — disse risonha, mordendo o lábio inferior.
— Seria ótimo. — redarguiu sem tirar os olhos do olhar dela.”
Brooke que percebera o clima tenso, tentou quebrar o gelo.
— , fala para gente sobre Londres, como anda a faculdade de moda, conta tudo!
— Ah! — abriu um sorriso. — É tão incrível, devo confessar que sinto falta do calor da Austrália e saudades de vocês, é obvio, mas, moda é minha paixão, é tudo o que eu queria. — afirmou com a cabeça.
— É o que você merece! — comentou e a garota fechou sua cara na mesma hora.
— E o que você sabe sobre isso? — travou o maxilar.
— Foi apenas um comentário.
— Você deveria guardar os comentários apenas para o dia do casamento, já que meu primo vulgo seu amigo decidiu nos colocar como madrinha e padrinho. — forçou um sorriso.
— Ei vai com calma aí! — Jason pediu.
— Está tudo bem! — interviu. — Eu já estava indo de qualquer forma. — levantou-se da poltrona.
— Vai embora mesmo, ser covarde está no seu gene. — a garota debochou.
— ... — Brooke sussurrou incomodada com o comportamento dela.
— , eu sei que não posso mudar o que aconteceu no passado, e eu entendo se você não puder me perdoar. — engoliu seco. — Mas, eu realmente me importo e acho que merece muito mais do que está conquistando, isso é real. — ele disse, com sinceridade.
— Você não entende, . — ela ficou de pé e aproximou-se dele. — Você terminou tudo sem nem mesmo me dar a chance de discutir isso com você.
— Eu sei que agi de forma egoísta, mas...
— Eu estava disposta a enfrentar qualquer coisa de um relacionamento à distância, mas você simplesmente decidiu por nós dois. — ela disse, com a voz tremendo.
— Eu tive medo de te segurar e impedir que você alcançasse seus sonhos. — gesticulou com as mãos.
— Nós já tínhamos discutido isso...
— De verdade, não sei o que quer que eu faça. — a interrompeu. — Não aguento mais me desculpar, o que você quer ?
— Gente, vamos parar, por favor! — Jason suplicou. — Estão todos olhando.
— Me desculpa cara! — o loiro olhou ao redor. — É melhor eu realmente ir. — assentiu com a cabeça e abraçou o amigo.
saiu da casa dos amigos, deixando para trás, sentindo-se frustrado e triste, ele sabia que havia cometido um erro ao terminar o relacionamento com ela daquela forma, mas também estava tentando fazer o que achava ser o melhor para que não houvesse arrependimentos da parte dela mais na frente. E mesmo percebendo que sua atitude havia magoado profundamente a mulher que um dia ele considerara o amor de sua vida, ainda sentia que havia feito o que era certo.
Enquanto caminhava pelas ruas, ele refletiu sobre os acontecimentos daquela noite e sobre como as coisas haviam mudado desde que ele e se conheceram, três anos atrás, por intermédio de Jason. Era impressionante como aquela faísca instantânea de atração que haviam sentido um pelo outro no dia do desfile ainda estava fresca em sua mente, nunca poderia ter previsto que a vida seria tão cruel e os levaria a um ponto em que estariam separados e, agora, enfrentando um reencontro doloroso.
Ao mesmo tempo, também estava lidando com suas próprias emoções, depois que seu ex partiu, ela permaneceu na casa do primo, na pequena reunião que o mesmo havia feito com os amigos mais íntimos, tentando disfarçar a tristeza e a raiva que sentia.
Era difícil admitir que ainda o amava muito, e talvez por isso estivesse tão ressentida com toda situação e o que ele tinha feito a machucara profundamente, então simplesmente esquecer as lágrimas e o coração partido que havia experimentado quando ele a deixou não era uma opção plausível.
Ela precisava de tempo para curar e entender suas próprias emoções antes de decidir qual seria o próximo passo. Definitivamente, discutir com não estava em seus planos ao passar essa semana na Austrália, não deixaria isso acontecer novamente, pois, era o momento do seu primo e ela não seria egoísta a ponto de deixar que seus sentimentos interferissem.
Decidiu ir ao o único lugar que sabia que o encontraria.
A praia.
A brisa gelada balançava seus cabelos de forma que os fios ficassem desgrenhados e a ponta de seu nariz vermelha, mas, em uma certa distância ela já notara a silhueta de se formar no mesmo ponto exato que eles ficavam quando estavam juntos, na barraca de salva vidas.
— Eu estou permitida de subir aí? — a garota perguntou.
— Como me achou?
— Não é obvio? — ela soltou uma risada.
— Justo! — ele assentiu com a cabeça. — Vem! — estendeu a mão.
recebeu a ajuda e escalou para sentar-se do lado dele.
— Me desculpa pelo que aconteceu na casa do Jason! — ela fungou.
— Não precisa se desculpar, está magoada, é compreensível que haja dessa maneira. — a encarou.
— Eu só não consigo entender, eu...
— Não quero que você entenda . — ele a interrompeu.
— Mas, ! — franziu a testa, confusa.
— É para o seu bem! — tentou justificar e a jovem revirou os olhos. — Eu odeio isso também, mas, não quero que se machuque mais do que eu já te machuquei.
— É outra pessoa? — olhou para os pés, com o propósito de esconder sua ansiedade pela resposta.
— Claro que não! — ele respondeu de imediato. — Não há ninguém como você!
— Mentiroso! — o empurrou para o lado com o ombro.
— Eu não mentiria sobre algo assim, sabe disso!
— Então porque acabamos tudo? Havíamos entrado em acordo que resolveríamos a questão do relacionamento depois. — engoliu o choro que insistia em aparecer.
— Porque precisa de uma justificativa idiota quando tudo está dando certo em Londres, não era isso que queria? — sorriu.
— Seria melhor se tivesse ficado comigo. — respondeu.
— Você não iria a lugar algum se estivesse comigo. — o rapaz olhou para ela de forma doce.
— Por que não? O que está escondendo de mim? — questionou angustiada.
— Você fala demais né? — ele estreitou os olhos, sendo um tanto irônico.
Eles se entreolharam por uns segundos e riram.
— Eu só queria que fosse meu! — a garota falou após cessar a risada.
— Vamos para casa, então! — fixou os olhos nos dela.
— O que você quer dizer com isso?
não a respondeu, apenas inclinou-se devagar e aproximou-se dos lábios dela.
— O que acha que quero dizer?
não pensou duas vezes e encostou sua boca na dele, selando um beijo.
— Vamos para casa! — ele repetiu baixinho enquanto ainda sentia a maciez dos lábios da garota.
Enquanto o beijo entre e se intensificava, eles sentiram que as palavras não eram mais necessárias naquele momento, pois seus corações falavam mais alto. O passado e as mágoas começaram a se dissipar enquanto se entregavam, novamente, a faísca da primeira vez que se conheceram.
Eles se afastaram, ainda com os olhos fechados, saboreando a sensação um do outro, o som das ondas quebrando na praia e o cheiro de mar que esteve presente desde o início no relacionamento deles. Por mais que tudo estivesse um tanto bagunçando, aquele instante era a única coisa que parecia real o suficiente para eles guardarem dentro de si.
— Eu senti sua falta! — segurou o rosto dela com as duas mãos.
— O que vamos fazer agora? — ela questionou ao mesmo tempo que sentia o carinho que o rapaz fazia.
— Vamos descansar, amanhã será um grande dia!
— Promete que vamos conversar sobre isso? — a garota levantou o dedo mindinho em sinal de uma promessa.
— Prometo! — ele sorriu encaixando o seu dedo no dela.
— Então, o último a chegar é a mulher do padre!
o empurrou e em seguida pulou da barraca de salva vidas com a areia amortecendo uma possível queda e seguiu sua ação, resultando em uma competição boba de corrida em meio a gargalhadas que ecoavam de maneira suave pela praia.
Enquanto corriam pela areia, o passado parecia se dissipar completamente, substituído pelo calor do momento presente e talvez, fosse possível dizer que eles sentiram uma liberdade que há muito tempo não experimentavam, como se estivessem recomeçando.
Os dois conseguiram chegar em casa seguros e sem muitas sequelas de cansaço, depois de uma intensa disputa, o resto da noite não poderia ser diferente de ambos se entregando um ao outro de corpo inteiro, a necessidade que crescia dentro deles era como se não pudessem viver nunca sem aquilo.
precisava senti-lo em seu interior e isso era tudo o que mais queria. A noite avançou com paixão e entrega mútua, eles se reconectaram de maneira profunda, como se estivessem reacendendo uma chama que nunca deveria ter se apagado.
À medida que a noite se transformava em madrugada, eles encontraram consolo nos braços um do outro, não era apenas o desejo físico que os mantinha juntos, mas a conexão emocional profunda que sempre compartilharam, o sexo era só um detalhe quando tudo que sabiam fazer era amor e por pelo menos umas duas horas os dois mataram a saudade.
Depois de horas de carinho, beijos e conversas silenciosas através do toque, eles finalmente se deitaram lado a lado, exaustos, mas satisfeitos. O quarto estava envolto em uma suave penumbra, com a luz da lua espreitando pelas cortinas entreabertas.
repousou sua cabeça no peito de , ouvindo o som tranquilizador de seu coração batendo, era um som que ela pensou que nunca mais ouviria da mesma maneira, mas ali estava, como uma melodia familiar a reconfortando, foi quando quebrou o silêncio com um suspiro leve.
— Eu não quero que você pense que estou fugindo de tudo isso. — acariciou as costas dela.
— Eu sei... — ela levantou a cabeça para encará-lo e apoiou seu queixo com uma das mãos no peitoral do rapaz.
— Eu só...
— , está tudo bem! — sorriu fraco.
— Eu sei que fui egoísta, eu nunca deveria ter te deixado sem uma explicação adequada...
— Olha, não vamos conversar sobre isso agora, daqui há algumas horas temos um casamento para comparecer e eu não quero estar com olheiras. — ela levantou as sobrancelhas.
— Bem, cansada eu sei que você não vai aparentar! — defendeu-se.
Eles riram.
Não demorou muito para que pegassem no sono e a luz do sol irradiasse o espaço em que se encontravam de um jeito sútil, foi a primeira a acordar com uma fresta de luz batendo em seu rosto e tentou ao máximo não causar muita bagunça ao sair da cama, mas, foi inevitável, pois logo, também acordou.
— Onde pensa que vai? — questionou com apenas um de seus olhos abertos.
— Estou indo ao banheiro e o senhor é bom ir se levantando temos que está no casamento já já! — ela se dirigiu sentido ao lavabo.
— Apenas Brooke e o Jason fariam um casamento pela tarde, é tão a cara deles. — bufou com preguiça.
— Sabe que eles querem pegar o pôr do sol na festa, para isso acontecer a cerimonia precisa começar logo cedo. — apareceu na porta do toalete e depois voltou novamente para dentro do local.
— Com esse inferno de calor na Austrália, é loucura! — ele passou as mãos pelos fios de cabelo bagunçados.
— Manteve minha escova de dente reservas por todo esse tempo aqui? — ela surgiu na porta mais uma vez com o objeto em uma de suas mãos.
— Pensei que se tivesse sorte, você voltaria! — sorriu sem mostrar os dentes, aparentando estar um tanto desconfortável.
— O que quer dizer com sorte?
— Você voltou muito curiosa, é alguma mania de britânicos? — levantou-se e foi em direção a .
— E você muito misterioso, eu não gosto disso. — empinou o nariz.
se aproximou lentamente de , com um sorriso travesso nos lábios. Ele colocou as mãos nos quadris dela e a puxou para mais perto, seus corpos quase se tocando.
— Você acha que sou misterioso, é? — murmurou ele.
— Idiota! — ela deu um peteleco na testa dela. — Nós precisamos nos arrumar, não podemos chegar lá atrasados.
assentiu, de certa forma estava aliviado por ter resolvido uma parte de toda situação com , não gostava de lembrar da parte onde em algum momento teria que ser sincero e contar toda a verdade para ela, que insistia em saber o que acontecera.
Após tomar um banho e vestir, novamente, a roupa da noite passada direcionou-se para casa de seu primo Jason, onde seu vestido se encontrava, fez uma maquiagem leve, colocou o vestido justo no tom de rosa e calçou seus coturnos enquanto a esperava na sala, devidamente vestido.
— Apenas você, , usaria coturnos em um casamento. — riu fraco.
— Você sabe que eu levo eles para onde eu vou. — justificou ao mesmo tempo que descia as escadas.
— Como conseguiu ficar ainda mais linda? — ele segurou a mão dela para ajudá-la a descer os degraus.
— É comprovado cientificamente que pelo menos duas horas de sexo por dia, nos ajuda na regeneração das células da pele. — fez referência à noite passada.
— Com toda certeza! — a agarrou e depositou um beijo em sua testa.
— Melhor irmos, sabe como Brooke é!
— Por falar nisso, ela sabe que está indo de coturno?
— Disse que era para dar sorte. — mordeu o lábio, astuta.
— Sorte?
— Eu estava com eles quando ela e Jason se conheceram. — no mesmo instante, abriu a boca em um “o”, chocado com a esperteza dela.
— Brooke é muito supersticiosa....
— Falei que poderia trazer azar para o casamento deles se não fosse com o mesmo sapato. — completou a frase do rapaz, com um sorriso no rosto.
— Não existe ninguém como você, , eu já disse isso? — estendeu o braço para que ela o acompanhasse.
— Há alguns segundos. — ela riu, o agarrando pelo braço.
Ao chegar no casamento, eles assistiram e participaram de toda cerimonia, era um cenário perfeito para um novo começo. Enquanto os votos de Brooke e Jason eram feitos, e trocaram olhares significativos, reafirmando seu compromisso um com o outro.
Com o sol começando a se pôr no horizonte e o céu tingido de tons dourados e alaranjados, a festa de casamento não poderia estar mais bonita. A música vibrava no ar, convidados riam e dançavam, e observava de longe enquanto se entrava as batidas na pista de dança. O sorriso da garota transparecia a felicidade que ela estava sentindo, o que fez com que ele não evitasse colocar um sorriso no seu rosto.
— Ao que parece conseguiram resolver as pendências? — Jason apareceu de surpresa ao lado dele.
— Espero que sim! — ele riu fraco, respondendo ao amigo.
— A noite deve ter sido boa né? não para de olhar para cá. — disse, tentando colher informações.
— Estávamos com saudades! — umedeceu os lábios. — Você deve saber como é! — levantou as sobrancelhas.
— Falar em saber, você contou para ela? — pareceu sério.
— Ela vai voltar para Londres em alguns dias, não é como se isso importasse. — deu de ombros.
— Em algum momento você vai ter que contar, não acha que vai ser pior se ela estiver em outro país?
— Eu não acho que ela esteja preparada. — soou preocupado.
Jason olhou sério para e suspirou. Ele sabia que seu amigo estava se escondendo atrás de desculpas e evitando a conversa difícil que precisava ter com . No entanto, também entendia a relutância de em magoar ainda mais a mulher que ele amava.
— Apenas não demore! — o rapaz aconselhou e o mesmo assentiu.
O assunto foi cortado quando Brooke chegou para buscar marido para dançar.
— Posso roubá-lo? — ela perguntou olhando para .
— Ai graças a Deus! — o loiro debochou.
Em seguida, ele observava a mulher arrastar seu amigo quando uma forte dor de cabeça o atingiu e o próprio perdeu a consciência caindo ao chão e chamando a atenção de Jason, que olhou para trás e rapidamente foi em direção ao rapaz, e apoiando a cabeça dele em suas mãos.
se debatia fortemente enquanto os lábios e dentes ficavam completamente cerrados e a saliva excessiva escorria de forma involuntária. vendo toda agitação das pessoas que se formavam em círculos correu em sentido a movimentação. Depois de conseguir afastar as pessoas e passar pelas mesmas, chegou ao local e ao ver a cena ficou horrorizada.
— Brooke, ligue para emergência agora! — Jason ordenou.
A garota sentiu quando a esposa do seu primo correu até a mesa para pegar uma celular.
— O que está acontecendo? — questionou confusa vendo ficar com a pele arroxeada e babar cada vez.
— Cadê o Paul? — Jason gritou chamando pelo pai do amigo.
— Eu estou aqui! — o homem apareceu desesperado. — Eu estava no banheiro, quanto tempo?
— Eu acho que uns dois minutos.
— Já está acabando, provavelmente. — Paul ajoelhou-se ao lado de Jason para lhe dar suporte com o filho.
— A emergência está chegando! — Brooke anunciou.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Ele está morrendo? — questionava nervosa com os olhos marejados.
— Ele está em um episódio de convulsão. — Paul levantou o olhar para encará-la.
— O que? — perguntou com a boca entre aberta.
— Ele vai ficar bem! — Brooke colocou as mãos nos ombros da garota e a puxou para um abraço.
O clima na festa estava tenso, mas notou que todos sabiam exatamente o que fazer como se não fosse a primeira vez que aquilo acontecesse, nunca imaginou vê-lo naquela situação, era, de fato, agoniante. Após mais uns segundos, o corpo de se acalmava e ele ia voltando ao normal, aos poucos.
gradualmente recuperava a consciência enquanto as pessoas ao seu redor o observavam com apreensão, estava visivelmente abalada, segurando a mão de Brooke com força. O pai de , Paul, permanecia ao lado dele, monitorando seu estado, conforme os minutos passavam, começou a se acalmar, sua respiração se normalizou e seus olhos se abriram lentamente. Ele estava pálido e suado, mas, aos poucos, sua cor voltava ao normal.
— Você está bem? — Paul colocou a mão no ombro do filho.
— O que aconteceu? — perguntou meio confuso.
— Você teve um episódio de convulsão. — Jason respondeu.
— Eu sinto muito cara! — ele bufou. — Estraguei o casamento de vocês. — direcionou o olhar para o amigo e Brooke.
— Não estragou nada! — a esposa de Jason sorriu sem mostrar os dentes de forma genuína.
Só então os convidados começaram a se dissipar e voltarem para festa.
— De qualquer forma, vamos ao hospital para fazer alguns exames, apenas para ter certeza de que está tudo bem. — Paul sugeriu.
— Eu posso acompanhar vocês. — se prontificou.
Agora ela sabia que algo estava errado. Não havia mais como ele fugir.
assentiu, sentindo-se grato pela preocupação de seu pai e de certa maneira, aliviado por estar ao seu lado, enquanto eles se preparavam para deixar a festa, os convidados se aproximaram, expressando preocupação e oferecendo apoio e minutos após eles já estavam no carro.
segurou a mão de com firmeza enquanto eles se dirigiam para o hospital, determinada a apoiá-lo em qualquer desafio que enfrentassem juntos. sabia que tinha muito a explicar a ela sobre sua condição, mas, naquele momento, o mais importante era que estavam juntos e que ele estava a salvo.
— ...
— Quando? — ela o interrompeu.
— Descobri antes de você ir para Londres. — o rapaz apertou a mão dela mais forte.
— É por isso que terminou tudo?
— Você não iria se soubesse, iria? — ele a encarou.
— Obvio que não ! — respondeu de imediato.
— Eu não queria atrapalhar seus sonhos.
— Eu poderia fazer moda com 60 anos de idade, mas, como acha que eu me sentiria se eu não tivesse a chance de estar ao seu lado caso alguma coisa acontecesse como agora? — o fitou triste.
— Você estava bem sem saber de tudo isso, esse era o plano, eu...
— Que plano mais estúpido! — ela revirou os olhos. — Só de saber que não pude estar presente das outras vezes em que isso aconteceu me deixa pior do que eu poderia ficar caso estivesse aqui desde o início. — disse sem tirar os olhos do dele.
— Eu sinto muito!
Foram essas palavras que saíram da boca de , antes dele cair no choro e agarrar com toda força possível que ele poderia. sentiu a angústia e a tristeza de e o abraçou com carinho, acariciando suas costas enquanto ele desabava em lágrimas.
Paul olhava toda a situação através do retrovisor com o nó na garganta, tentando ser forte a todo custo, pois, sabia que ele estava carregando um fardo pesado e que a decisão do filho de manter seu diagnóstico em segredo havia sido tomada com a intenção de protegê-la.
No hospital, depois de uma série de exames e consultas, o médico explicou que tinha epilepsia, uma condição neurológica que podia causar convulsões, principalmente em situações de estresse. Apesar de tudo o tratamento e as medidas de segurança que vinha tomando havia melhorado muito sua qualidade de vida e que neste momento eles poderiam continuar seguindo em frente.
estava ao lado de o tempo todo, absorvendo todas as informações e se certificando de que ele se sentisse apoiado. Enquanto aguardavam a alta do hospital, finalmente reuniu coragem para compartilhar todos os detalhes com o amor da sua vida, ele explicou como descobriu a doença, os momentos difíceis que enfrentou sozinho e a decisão de terminar o relacionamento para protegê-la, a garota ouviu com atenção, percebendo a profundidade de sua preocupação e amor por ela.
A garota o ouvia com muita atenção, empatia e compreensão, percebendo o quão difícil tinha sido para ele manter sua condição em segredo e tomar a decisão de terminar o relacionamento. À medida que ele falava, ela sentia um misto de emoções: raiva por ele não ter confiado nela, tristeza por tudo o que ele havia passado sozinho e, ao mesmo tempo, um profundo amor por ele por ter feito tudo aquilo pensando no bem dela.
— ! — ela segurou o rosto dele com as mãos. — Eu entendo por que você fez o que fez, mesmo que eu não concorde com a decisão de nos afastarmos. — as lágrimas escorriam sob a pele dela. — Mas você precisa saber que estamos juntos nisso, não importa o que aconteça, você não precisa enfrentar isso sozinho, nunca mais. — ela disse com convicção.
— Isso significa que você me perdoa? — questionou apreensivo.
encostou sua testa na dele.
— Isso significa que eu nunca mais vou deixar você ficar ou eu vou estar distante de novo.
Era .
Tinha certeza de que era ela, jamais poderia esquecer como o amor soou um dia para ele.
— Mãe, eu já falei que está tudo bem! — a garota repetia pela milésima vez.
Não conseguiria sair dali de forma alguma, encarar sua ex namorada nesse momento parecia uma das piores coisas a acontecer, não estava preparado, ao menos sabia que ela voltara para Austrália. Engoliu seco pensando em como parecia uma situação criada por Jason para que eles pudessem consertar as coisas.
— Merda! — praguejou.
Percebeu que ela avançara no corredor, dando espaço para que ele pudesse descer as escadas sem que a mesma notasse a sua presença, pelo motivo de estar distraída com sua parentela no telefone. Antes que perdesse a coragem para sempre, prontificou-se em não fazer algum barulho e conferiu várias vezes para onde a garota olhava antes de tomar a atitude de alcançar os degraus.
Porém, foi em vão.
— ? — o chamou e, imediatamente, ele fechou os seus olhos, desejando que aquilo não estivesse acontecendo. — Você estava tentando fugir? — perguntou incrédula.
— De jeito nenhum! — respondeu nervoso enquanto virava-se com intuito de olhar para garota. — Eu não vi você aí...
— Com certeza não! — ela o interrompeu, cruzando os braços.
O silencio constrangedor predominou o espaço entre eles até que ela ameaçou deixar o local.
— ! — chamou a atenção dela.
— Não me chame assim! — repreendeu o rapaz de imediato.
— Você sabe que eu não quis...
— Não nasci ontem. — ela travou o maxilar.
— Eu não sabia que você tinha voltando, eu...
— E eu gostaria que tivesse permanecido assim por muito tempo, mas, eu não perderia o casamento do meu primo Jason por sua causa. — disse irritada.
— Jesus! Você pode se acalmar? — pediu, um tanto confuso.
— Você é inacreditável! — ela soltou uma risada fraca.
— Quanto tempo faz que você voltou? — questionou.
— Isso não te diz respeito a partir do momento que você terminou comigo, não acha? — franziu o cenho.
— ...
— Não! — levantou o indicador. — Perdi anos da minha vida ao seu lado, eu achei que casaríamos, eu achei... — o fitou com os olhos marejados, buscando o ar para completar a frase. — Eu achei que você era o amor da minha vida.
— É difícil para mim também, não vê? — apontou para si mesmo.
— Porque tudo é sobre você, não é mesmo? — revirou os olhos.
— Não é desse jeito, você...
— Mas, não foi exatamente o que você disse quando me deixou? — ela o interrompeu e dessa vez, não soube o que responder. — Vamos apenas fazer isso pelo Jason! — passou pelo rapaz, indo em direção a sala.
Ela ainda estava magoada e com toda razão. havia dado tudo de si para o relacionamento deles apenas para que em um dia qualquer, seu amor, simplesmente, decidisse que ele precisava seguir sozinho e por mais que a mesma tivesse pedido e lutado por aquilo, não havia mais nada que pudesse fazer. Ele desistira de algo precioso demais e só pode se dar conta agora.
“O frio consumia a barriga de . Não conseguia similar todas as palavras que saiam da boca de , como um relacionamento de mais de dois anos poderia acabar dessa forma com uma justificativa tão simples quanto a certeza que o céu tem estrelas a noite. O nó na garganta dela fazia com que a mesma se fechasse cada vez mais. A tentativa de segurar o choro falharia a qualquer momento.
— Eu não consigo entender !
— Não é algo que você precise entender !
A garota permanecia sentada com a feição descrente.
— Eu achei que estivéssemos bem...
— E estamos! — o rapaz confirmou.
— Então que merda é essa?
— Não é sobre você, é sobre mim.
— Você, realmente, vai vir com isso?
— Eu tenho minhas merdas e não quero que você fique presa a mim de alguma forma. — tentou explicar.
— Eu não estive esse tempo todo? — questionou com voz chorosa.
E de fato, ela esteve. Mas, não de uma maneira ruim. Dizer para qualquer um que eles não se amavam era a maior mentira que alguém poderia inventar, por isso a confusão dominava a mente dela de um jeito excessivo. Por mais que tentasse a ideia de deixar Jones ir tão facilmente a fazia se sentir impotente.
— ! — segurou as mãos dela.
estremeceu, pois, ele sempre a chamava pelo sobrenome quando era carinhoso.
— Eu amo você e isso nunca vai mudar. — disse com firmeza. — Mas, agora eu preciso ficar sozinho.
— E decidiu isso depois de dois anos? — arqueou uma das sobrancelhas.
— Você tem tantos sonhos, não quero que desista deles por mim, tem uma viagem programada por aí...
— Ai meu Deus! Isso é sobre Londres?
— ! — a repreendeu. — Você vai ficar melhor sem mim se quiser fazer isso acontecer, acredite!
— Eu não vou aceitar isso! É ridículo!
— Não há muito o que eu possa fazer em relação a isso. — levantou-se e deu as costas a ela.
— ? ? — o chamou antes que ele abrisse a porta, mas o mesmo não olhou para traz, deixando a garota sozinha no quarto.
não lembrava da última vez que havia se sentido tão impotente e fraca em relação a algo. Não imaginava que o homem que escolheu para passar o resto da sua vida fosse tão covarde, não tinha uma alternativa em que ela pudesse defende-lo ou colocar em palavras como tudo o que estava acontecendo a incomodava.
Sentia como se seu coração tivesse sido partido em pedaços e os cacos do estrago estivessem espelhados pelo chão do quarto que até então era deles dois. Tentou procurar uma justificativa plausível para aquela situação visto que não tinha feito isso. Toda a baboseira sobre ela seguir os sonhos dela... Eles estavam juntos há dois anos, isso nunca havia se quer sido uma pauta entre o casal.
Era difícil acreditar nele.
Sabia que passaria um bom tempo em um país muito distante, mas, eles haviam acertado as coisas muito antes dela se programar para fazer alguma coisa. Um visitaria o outro sempre que conseguisse e segurariam o relacionamento a distância até que definissem, de fato, onde ficariam. Então a ideia de um término, justamente, uma semana antes da garota viajar parecia cruel e egoísta.
Levou alguns dias para que sua viagem chegasse e para que as malas dela estivessem em frente ao apartamento que antes pertencia aos dois e que, agora, só habitava. A garota recostava a cabeça na parede do corredor enquanto seu ex namorado trazia a sua mochila e balbuciava algumas coisas que a mesma preferiu ignorar.
Tudo já estava sendo difícil demais, apenas não desistiu de ir para Londres por que imaginou que seria pior ficar ao lado dele. Basicamente, seria como uma fuga, visto que seria demasiadamente complicado evitar os amigos em comum e principalmente seu primo Jason que em poucos meses se casaria, seria a única razão para que voltasse para Austrália.
não merecia ser um motivo de nada, nem ao menos de um desejo supérfluo, ela pensou.
— , terra chamando! — ele apareceu, a tirando dos seus devaneios.
— Hum?
— Tudo certo?
— Preciso realmente responder isso?
— Espero que me perdoe um dia! — baixou a cabeça.
— Vai sonhando! — ela soltou uma risada sarcástica e pegou a bolsa que estavas nas mãos dele.
— Não me deixar levar ao aeroporto? Não vai querer se despedir ou...?
— Já faz uns cinco dias que você não está mais na minha vida, isso significa que não precisa fingir que se preocupa comigo. — o interrompeu.
— Não é fingimento !
— Como eu disse, você não é mais problema meu! — o encarou de maneira intensa para que ficasse claro o que ela estava sentindo.
havia jogado seu amor fora e ela queria que o mesmo soubesse que ele se arrependeria o resto de sua vida. Mas, se a garota ao menos entendesse o porquê, talvez as coisas fossem diferentes, porém, o rapaz não queria que ela mudasse de ideia em relação a Londres por causa dele. Sempre viu potencial nela de ser uma grande estilista e ela não faria isso se estivesse com um peso, como ele, em suas costas.
Ele assistiu enquanto sumia do corredor, não era dessa forma que o rapaz gostaria que as coisas terminassem, ansiou pelo sentimento de ir atrás dela e desfazer toda bagunça, porém, a ideia da própria odiá-lo parecia confortável desde que ela não desistisse de todas as coisas que a esperavam pelo mundo.”
desceu as escadas seguindo o amor da sua vida, era bizarro como em tão pouco tempo as coisas haviam mudado da água para o vinho e ele havia se conformado, pois, estava fraco demais para ficar lutando contra as coisas que estavam fora do seu controle.
Assim que chegou na sala, percebeu os olhares direcionados para ele e e tentou disfarçar o quão desconfortável se sentia. Jason tentou o acolher de alguma forma e isso deixou sua prima um tanto enciumada, visto que por mais que eles fossem amigos há anos, ela ainda havia vindo primeiro e era sua família.
— ! — seu primo gritava a chamando atenção.
Eles participavam do dia da Austrália, a rua em que se encontravam para assistir ao desfile estava lotada e por um segundo a garota havia se perdido dos amigos, por isso, Jason levantava os braços fazendo com que ela soltasse um sorriso singelo e encaminha-se ao encontro de todos.
— O que você fez com sua cara? — a garota perguntou ao ver o rosto do rapaz repleto de tinta azul.
— Eles disseram que seria patriota da minha parte.
— Eles quem?
— Provavelmente alguém mais idiota que ele! — uma voz surgiu e em seguida Jason foi abraçado por trás.
— ! Sabia que viria! — disse com um sorriso largo.
, ao ouvir o nome "", ficou um pouco confusa, pois, sentira que seu primo o mencionou alguma vez, mas, achou estranho o mesmo não comentar que alguém diferente se juntaria a eles. Enquanto observou Jason e o amigo recém-chegado trocarem cumprimentos calorosos, não pode deixar de notar como ele parecia cativar a atenção de todos ao seu redor, seu sorriso era contagiante, e sua presença era magnética.
se afastou do abraço e finalmente dirigiu sua atenção a , ela estava prestes a dar um passo à frente quando seus olhos encontraram os do rapaz pela primeira vez, no mesmo momento sentiu seu coração saltar e esqueceu como respirava. Algo mágico aconteceu naquele instante, o tempo pareceu desacelerar enquanto eles se olhavam, como se estivessem presos em um mundo só deles.
— , certo? — perguntou, mantendo o sorriso no rosto.
— Sim, sou eu. — respondeu, um pouco sem fala.
— Você estava escondendo o tesouro Jason? Como eu nunca a vi antes? — questionou ao amigo sem deixar de encarar a garota na sua frente.
— Vou ter que concordar! — ela riu.
Jason olhou de um para o outro com um olhar astuto, ele já estava começando a perceber a faísca que parecia ter acendido entre e , sabia que daria certo aproximar os dois, levou até muito tempo para fazer isso porque os dois sempre estavam ocupados com os estudos.
— Bem, pessoal, acho que o desfile está prestes a começar! — Jason anunciou, tentando esconder um sorriso. — Tentem não tirar a roupa um do outro em alguma esquina.
Foi inevitável não corar levemente diante da brincadeira de Jason, mas o clima amigável e descontraído ajudou a dissipar um pouco da tensão inicial.
— Jason tem um jeito engraçado de nos apresentar, não acha? — comentou, tentando quebrar o gelo.
— Sim, definitivamente. — riu fraco e revirou os olhos. — Ele sempre foi assim, adora criar situações inusitadas. — respondeu em tom debochado encarando seu primo.
— E essa é minha deixa para eu ir atrás da minha linda namorada. — Jason gesticulou uma continência com dois dedos e deu as costas para eles.
Enquanto o desfile começava e a multidão ao redor deles se animava com as apresentações, o futuro casal continuou conversando e descobriram que tinham interesses em comum, desde filmes e música até suas paixões por viagens e aventuras quando eram mais novos.
Jason, que estava discretamente observando a interação entre eles, sabia que havia feito a coisa certa ao apresentá-los. O sentimento de realização por ter enfim conseguido reuni-los era ótimo, ele sabia que sua prima era uma pessoa incrível, e era alguém que admirava profundamente. Ver os dois se dando tão bem era como ver duas peças de um quebra-cabeça se encaixando perfeitamente.
— Vocês formam um casal incrível, sabiam disso? — Brooke, a namorada de Jason comentou.
— Não somos um casal! — eles disseram em uníssono e riram em sequência.
— Pelo visto, poderiam ser. — a loira levantou as sobrancelhas, como se tivesse dito algo obvio.
e se entreolharam, sorrindo timidamente.
— Parece que você estava planejando isso o tempo todo, não é? — fitou seu amigo.
Jason deu de ombros com um riso travesso.
— Bem, talvez tenha uma pitada de cupido em mim. — gesticulou com o dedo indicador.
— Então, eu deveria agradecer, não é mesmo? — questionou de forma irônica.
— Poderia agradecer vindo com a gente para praia, os meninos vão surfar e seria ótimo te ter como companhia, talvez eu me afogue e precise de uma respiração boca a boca. — soltou a cantada de cara lavada deixando a garota sem reação.
corou.
— , você não presta! — Jason brincou, dando um tapinha no ombro do amigo.
— Acho que finalmente as aulas de primeiros socorros que aprendi na escola vão servir para alguma coisa. — disse risonha, mordendo o lábio inferior.
— Seria ótimo. — redarguiu sem tirar os olhos do olhar dela.”
Brooke que percebera o clima tenso, tentou quebrar o gelo.
— , fala para gente sobre Londres, como anda a faculdade de moda, conta tudo!
— Ah! — abriu um sorriso. — É tão incrível, devo confessar que sinto falta do calor da Austrália e saudades de vocês, é obvio, mas, moda é minha paixão, é tudo o que eu queria. — afirmou com a cabeça.
— É o que você merece! — comentou e a garota fechou sua cara na mesma hora.
— E o que você sabe sobre isso? — travou o maxilar.
— Foi apenas um comentário.
— Você deveria guardar os comentários apenas para o dia do casamento, já que meu primo vulgo seu amigo decidiu nos colocar como madrinha e padrinho. — forçou um sorriso.
— Ei vai com calma aí! — Jason pediu.
— Está tudo bem! — interviu. — Eu já estava indo de qualquer forma. — levantou-se da poltrona.
— Vai embora mesmo, ser covarde está no seu gene. — a garota debochou.
— ... — Brooke sussurrou incomodada com o comportamento dela.
— , eu sei que não posso mudar o que aconteceu no passado, e eu entendo se você não puder me perdoar. — engoliu seco. — Mas, eu realmente me importo e acho que merece muito mais do que está conquistando, isso é real. — ele disse, com sinceridade.
— Você não entende, . — ela ficou de pé e aproximou-se dele. — Você terminou tudo sem nem mesmo me dar a chance de discutir isso com você.
— Eu sei que agi de forma egoísta, mas...
— Eu estava disposta a enfrentar qualquer coisa de um relacionamento à distância, mas você simplesmente decidiu por nós dois. — ela disse, com a voz tremendo.
— Eu tive medo de te segurar e impedir que você alcançasse seus sonhos. — gesticulou com as mãos.
— Nós já tínhamos discutido isso...
— De verdade, não sei o que quer que eu faça. — a interrompeu. — Não aguento mais me desculpar, o que você quer ?
— Gente, vamos parar, por favor! — Jason suplicou. — Estão todos olhando.
— Me desculpa cara! — o loiro olhou ao redor. — É melhor eu realmente ir. — assentiu com a cabeça e abraçou o amigo.
saiu da casa dos amigos, deixando para trás, sentindo-se frustrado e triste, ele sabia que havia cometido um erro ao terminar o relacionamento com ela daquela forma, mas também estava tentando fazer o que achava ser o melhor para que não houvesse arrependimentos da parte dela mais na frente. E mesmo percebendo que sua atitude havia magoado profundamente a mulher que um dia ele considerara o amor de sua vida, ainda sentia que havia feito o que era certo.
Enquanto caminhava pelas ruas, ele refletiu sobre os acontecimentos daquela noite e sobre como as coisas haviam mudado desde que ele e se conheceram, três anos atrás, por intermédio de Jason. Era impressionante como aquela faísca instantânea de atração que haviam sentido um pelo outro no dia do desfile ainda estava fresca em sua mente, nunca poderia ter previsto que a vida seria tão cruel e os levaria a um ponto em que estariam separados e, agora, enfrentando um reencontro doloroso.
Ao mesmo tempo, também estava lidando com suas próprias emoções, depois que seu ex partiu, ela permaneceu na casa do primo, na pequena reunião que o mesmo havia feito com os amigos mais íntimos, tentando disfarçar a tristeza e a raiva que sentia.
Era difícil admitir que ainda o amava muito, e talvez por isso estivesse tão ressentida com toda situação e o que ele tinha feito a machucara profundamente, então simplesmente esquecer as lágrimas e o coração partido que havia experimentado quando ele a deixou não era uma opção plausível.
Ela precisava de tempo para curar e entender suas próprias emoções antes de decidir qual seria o próximo passo. Definitivamente, discutir com não estava em seus planos ao passar essa semana na Austrália, não deixaria isso acontecer novamente, pois, era o momento do seu primo e ela não seria egoísta a ponto de deixar que seus sentimentos interferissem.
Decidiu ir ao o único lugar que sabia que o encontraria.
A praia.
A brisa gelada balançava seus cabelos de forma que os fios ficassem desgrenhados e a ponta de seu nariz vermelha, mas, em uma certa distância ela já notara a silhueta de se formar no mesmo ponto exato que eles ficavam quando estavam juntos, na barraca de salva vidas.
— Eu estou permitida de subir aí? — a garota perguntou.
— Como me achou?
— Não é obvio? — ela soltou uma risada.
— Justo! — ele assentiu com a cabeça. — Vem! — estendeu a mão.
recebeu a ajuda e escalou para sentar-se do lado dele.
— Me desculpa pelo que aconteceu na casa do Jason! — ela fungou.
— Não precisa se desculpar, está magoada, é compreensível que haja dessa maneira. — a encarou.
— Eu só não consigo entender, eu...
— Não quero que você entenda . — ele a interrompeu.
— Mas, ! — franziu a testa, confusa.
— É para o seu bem! — tentou justificar e a jovem revirou os olhos. — Eu odeio isso também, mas, não quero que se machuque mais do que eu já te machuquei.
— É outra pessoa? — olhou para os pés, com o propósito de esconder sua ansiedade pela resposta.
— Claro que não! — ele respondeu de imediato. — Não há ninguém como você!
— Mentiroso! — o empurrou para o lado com o ombro.
— Eu não mentiria sobre algo assim, sabe disso!
— Então porque acabamos tudo? Havíamos entrado em acordo que resolveríamos a questão do relacionamento depois. — engoliu o choro que insistia em aparecer.
— Porque precisa de uma justificativa idiota quando tudo está dando certo em Londres, não era isso que queria? — sorriu.
— Seria melhor se tivesse ficado comigo. — respondeu.
— Você não iria a lugar algum se estivesse comigo. — o rapaz olhou para ela de forma doce.
— Por que não? O que está escondendo de mim? — questionou angustiada.
— Você fala demais né? — ele estreitou os olhos, sendo um tanto irônico.
Eles se entreolharam por uns segundos e riram.
— Eu só queria que fosse meu! — a garota falou após cessar a risada.
— Vamos para casa, então! — fixou os olhos nos dela.
— O que você quer dizer com isso?
não a respondeu, apenas inclinou-se devagar e aproximou-se dos lábios dela.
— O que acha que quero dizer?
não pensou duas vezes e encostou sua boca na dele, selando um beijo.
— Vamos para casa! — ele repetiu baixinho enquanto ainda sentia a maciez dos lábios da garota.
Enquanto o beijo entre e se intensificava, eles sentiram que as palavras não eram mais necessárias naquele momento, pois seus corações falavam mais alto. O passado e as mágoas começaram a se dissipar enquanto se entregavam, novamente, a faísca da primeira vez que se conheceram.
Eles se afastaram, ainda com os olhos fechados, saboreando a sensação um do outro, o som das ondas quebrando na praia e o cheiro de mar que esteve presente desde o início no relacionamento deles. Por mais que tudo estivesse um tanto bagunçando, aquele instante era a única coisa que parecia real o suficiente para eles guardarem dentro de si.
— Eu senti sua falta! — segurou o rosto dela com as duas mãos.
— O que vamos fazer agora? — ela questionou ao mesmo tempo que sentia o carinho que o rapaz fazia.
— Vamos descansar, amanhã será um grande dia!
— Promete que vamos conversar sobre isso? — a garota levantou o dedo mindinho em sinal de uma promessa.
— Prometo! — ele sorriu encaixando o seu dedo no dela.
— Então, o último a chegar é a mulher do padre!
o empurrou e em seguida pulou da barraca de salva vidas com a areia amortecendo uma possível queda e seguiu sua ação, resultando em uma competição boba de corrida em meio a gargalhadas que ecoavam de maneira suave pela praia.
Enquanto corriam pela areia, o passado parecia se dissipar completamente, substituído pelo calor do momento presente e talvez, fosse possível dizer que eles sentiram uma liberdade que há muito tempo não experimentavam, como se estivessem recomeçando.
Os dois conseguiram chegar em casa seguros e sem muitas sequelas de cansaço, depois de uma intensa disputa, o resto da noite não poderia ser diferente de ambos se entregando um ao outro de corpo inteiro, a necessidade que crescia dentro deles era como se não pudessem viver nunca sem aquilo.
precisava senti-lo em seu interior e isso era tudo o que mais queria. A noite avançou com paixão e entrega mútua, eles se reconectaram de maneira profunda, como se estivessem reacendendo uma chama que nunca deveria ter se apagado.
À medida que a noite se transformava em madrugada, eles encontraram consolo nos braços um do outro, não era apenas o desejo físico que os mantinha juntos, mas a conexão emocional profunda que sempre compartilharam, o sexo era só um detalhe quando tudo que sabiam fazer era amor e por pelo menos umas duas horas os dois mataram a saudade.
Depois de horas de carinho, beijos e conversas silenciosas através do toque, eles finalmente se deitaram lado a lado, exaustos, mas satisfeitos. O quarto estava envolto em uma suave penumbra, com a luz da lua espreitando pelas cortinas entreabertas.
repousou sua cabeça no peito de , ouvindo o som tranquilizador de seu coração batendo, era um som que ela pensou que nunca mais ouviria da mesma maneira, mas ali estava, como uma melodia familiar a reconfortando, foi quando quebrou o silêncio com um suspiro leve.
— Eu não quero que você pense que estou fugindo de tudo isso. — acariciou as costas dela.
— Eu sei... — ela levantou a cabeça para encará-lo e apoiou seu queixo com uma das mãos no peitoral do rapaz.
— Eu só...
— , está tudo bem! — sorriu fraco.
— Eu sei que fui egoísta, eu nunca deveria ter te deixado sem uma explicação adequada...
— Olha, não vamos conversar sobre isso agora, daqui há algumas horas temos um casamento para comparecer e eu não quero estar com olheiras. — ela levantou as sobrancelhas.
— Bem, cansada eu sei que você não vai aparentar! — defendeu-se.
Eles riram.
Não demorou muito para que pegassem no sono e a luz do sol irradiasse o espaço em que se encontravam de um jeito sútil, foi a primeira a acordar com uma fresta de luz batendo em seu rosto e tentou ao máximo não causar muita bagunça ao sair da cama, mas, foi inevitável, pois logo, também acordou.
— Onde pensa que vai? — questionou com apenas um de seus olhos abertos.
— Estou indo ao banheiro e o senhor é bom ir se levantando temos que está no casamento já já! — ela se dirigiu sentido ao lavabo.
— Apenas Brooke e o Jason fariam um casamento pela tarde, é tão a cara deles. — bufou com preguiça.
— Sabe que eles querem pegar o pôr do sol na festa, para isso acontecer a cerimonia precisa começar logo cedo. — apareceu na porta do toalete e depois voltou novamente para dentro do local.
— Com esse inferno de calor na Austrália, é loucura! — ele passou as mãos pelos fios de cabelo bagunçados.
— Manteve minha escova de dente reservas por todo esse tempo aqui? — ela surgiu na porta mais uma vez com o objeto em uma de suas mãos.
— Pensei que se tivesse sorte, você voltaria! — sorriu sem mostrar os dentes, aparentando estar um tanto desconfortável.
— O que quer dizer com sorte?
— Você voltou muito curiosa, é alguma mania de britânicos? — levantou-se e foi em direção a .
— E você muito misterioso, eu não gosto disso. — empinou o nariz.
se aproximou lentamente de , com um sorriso travesso nos lábios. Ele colocou as mãos nos quadris dela e a puxou para mais perto, seus corpos quase se tocando.
— Você acha que sou misterioso, é? — murmurou ele.
— Idiota! — ela deu um peteleco na testa dela. — Nós precisamos nos arrumar, não podemos chegar lá atrasados.
assentiu, de certa forma estava aliviado por ter resolvido uma parte de toda situação com , não gostava de lembrar da parte onde em algum momento teria que ser sincero e contar toda a verdade para ela, que insistia em saber o que acontecera.
Após tomar um banho e vestir, novamente, a roupa da noite passada direcionou-se para casa de seu primo Jason, onde seu vestido se encontrava, fez uma maquiagem leve, colocou o vestido justo no tom de rosa e calçou seus coturnos enquanto a esperava na sala, devidamente vestido.
— Apenas você, , usaria coturnos em um casamento. — riu fraco.
— Você sabe que eu levo eles para onde eu vou. — justificou ao mesmo tempo que descia as escadas.
— Como conseguiu ficar ainda mais linda? — ele segurou a mão dela para ajudá-la a descer os degraus.
— É comprovado cientificamente que pelo menos duas horas de sexo por dia, nos ajuda na regeneração das células da pele. — fez referência à noite passada.
— Com toda certeza! — a agarrou e depositou um beijo em sua testa.
— Melhor irmos, sabe como Brooke é!
— Por falar nisso, ela sabe que está indo de coturno?
— Disse que era para dar sorte. — mordeu o lábio, astuta.
— Sorte?
— Eu estava com eles quando ela e Jason se conheceram. — no mesmo instante, abriu a boca em um “o”, chocado com a esperteza dela.
— Brooke é muito supersticiosa....
— Falei que poderia trazer azar para o casamento deles se não fosse com o mesmo sapato. — completou a frase do rapaz, com um sorriso no rosto.
— Não existe ninguém como você, , eu já disse isso? — estendeu o braço para que ela o acompanhasse.
— Há alguns segundos. — ela riu, o agarrando pelo braço.
Ao chegar no casamento, eles assistiram e participaram de toda cerimonia, era um cenário perfeito para um novo começo. Enquanto os votos de Brooke e Jason eram feitos, e trocaram olhares significativos, reafirmando seu compromisso um com o outro.
Com o sol começando a se pôr no horizonte e o céu tingido de tons dourados e alaranjados, a festa de casamento não poderia estar mais bonita. A música vibrava no ar, convidados riam e dançavam, e observava de longe enquanto se entrava as batidas na pista de dança. O sorriso da garota transparecia a felicidade que ela estava sentindo, o que fez com que ele não evitasse colocar um sorriso no seu rosto.
— Ao que parece conseguiram resolver as pendências? — Jason apareceu de surpresa ao lado dele.
— Espero que sim! — ele riu fraco, respondendo ao amigo.
— A noite deve ter sido boa né? não para de olhar para cá. — disse, tentando colher informações.
— Estávamos com saudades! — umedeceu os lábios. — Você deve saber como é! — levantou as sobrancelhas.
— Falar em saber, você contou para ela? — pareceu sério.
— Ela vai voltar para Londres em alguns dias, não é como se isso importasse. — deu de ombros.
— Em algum momento você vai ter que contar, não acha que vai ser pior se ela estiver em outro país?
— Eu não acho que ela esteja preparada. — soou preocupado.
Jason olhou sério para e suspirou. Ele sabia que seu amigo estava se escondendo atrás de desculpas e evitando a conversa difícil que precisava ter com . No entanto, também entendia a relutância de em magoar ainda mais a mulher que ele amava.
— Apenas não demore! — o rapaz aconselhou e o mesmo assentiu.
O assunto foi cortado quando Brooke chegou para buscar marido para dançar.
— Posso roubá-lo? — ela perguntou olhando para .
— Ai graças a Deus! — o loiro debochou.
Em seguida, ele observava a mulher arrastar seu amigo quando uma forte dor de cabeça o atingiu e o próprio perdeu a consciência caindo ao chão e chamando a atenção de Jason, que olhou para trás e rapidamente foi em direção ao rapaz, e apoiando a cabeça dele em suas mãos.
se debatia fortemente enquanto os lábios e dentes ficavam completamente cerrados e a saliva excessiva escorria de forma involuntária. vendo toda agitação das pessoas que se formavam em círculos correu em sentido a movimentação. Depois de conseguir afastar as pessoas e passar pelas mesmas, chegou ao local e ao ver a cena ficou horrorizada.
— Brooke, ligue para emergência agora! — Jason ordenou.
A garota sentiu quando a esposa do seu primo correu até a mesa para pegar uma celular.
— O que está acontecendo? — questionou confusa vendo ficar com a pele arroxeada e babar cada vez.
— Cadê o Paul? — Jason gritou chamando pelo pai do amigo.
— Eu estou aqui! — o homem apareceu desesperado. — Eu estava no banheiro, quanto tempo?
— Eu acho que uns dois minutos.
— Já está acabando, provavelmente. — Paul ajoelhou-se ao lado de Jason para lhe dar suporte com o filho.
— A emergência está chegando! — Brooke anunciou.
— Alguém pode me dizer o que está acontecendo? Ele está morrendo? — questionava nervosa com os olhos marejados.
— Ele está em um episódio de convulsão. — Paul levantou o olhar para encará-la.
— O que? — perguntou com a boca entre aberta.
— Ele vai ficar bem! — Brooke colocou as mãos nos ombros da garota e a puxou para um abraço.
O clima na festa estava tenso, mas notou que todos sabiam exatamente o que fazer como se não fosse a primeira vez que aquilo acontecesse, nunca imaginou vê-lo naquela situação, era, de fato, agoniante. Após mais uns segundos, o corpo de se acalmava e ele ia voltando ao normal, aos poucos.
gradualmente recuperava a consciência enquanto as pessoas ao seu redor o observavam com apreensão, estava visivelmente abalada, segurando a mão de Brooke com força. O pai de , Paul, permanecia ao lado dele, monitorando seu estado, conforme os minutos passavam, começou a se acalmar, sua respiração se normalizou e seus olhos se abriram lentamente. Ele estava pálido e suado, mas, aos poucos, sua cor voltava ao normal.
— Você está bem? — Paul colocou a mão no ombro do filho.
— O que aconteceu? — perguntou meio confuso.
— Você teve um episódio de convulsão. — Jason respondeu.
— Eu sinto muito cara! — ele bufou. — Estraguei o casamento de vocês. — direcionou o olhar para o amigo e Brooke.
— Não estragou nada! — a esposa de Jason sorriu sem mostrar os dentes de forma genuína.
Só então os convidados começaram a se dissipar e voltarem para festa.
— De qualquer forma, vamos ao hospital para fazer alguns exames, apenas para ter certeza de que está tudo bem. — Paul sugeriu.
— Eu posso acompanhar vocês. — se prontificou.
Agora ela sabia que algo estava errado. Não havia mais como ele fugir.
assentiu, sentindo-se grato pela preocupação de seu pai e de certa maneira, aliviado por estar ao seu lado, enquanto eles se preparavam para deixar a festa, os convidados se aproximaram, expressando preocupação e oferecendo apoio e minutos após eles já estavam no carro.
segurou a mão de com firmeza enquanto eles se dirigiam para o hospital, determinada a apoiá-lo em qualquer desafio que enfrentassem juntos. sabia que tinha muito a explicar a ela sobre sua condição, mas, naquele momento, o mais importante era que estavam juntos e que ele estava a salvo.
— ...
— Quando? — ela o interrompeu.
— Descobri antes de você ir para Londres. — o rapaz apertou a mão dela mais forte.
— É por isso que terminou tudo?
— Você não iria se soubesse, iria? — ele a encarou.
— Obvio que não ! — respondeu de imediato.
— Eu não queria atrapalhar seus sonhos.
— Eu poderia fazer moda com 60 anos de idade, mas, como acha que eu me sentiria se eu não tivesse a chance de estar ao seu lado caso alguma coisa acontecesse como agora? — o fitou triste.
— Você estava bem sem saber de tudo isso, esse era o plano, eu...
— Que plano mais estúpido! — ela revirou os olhos. — Só de saber que não pude estar presente das outras vezes em que isso aconteceu me deixa pior do que eu poderia ficar caso estivesse aqui desde o início. — disse sem tirar os olhos do dele.
— Eu sinto muito!
Foram essas palavras que saíram da boca de , antes dele cair no choro e agarrar com toda força possível que ele poderia. sentiu a angústia e a tristeza de e o abraçou com carinho, acariciando suas costas enquanto ele desabava em lágrimas.
Paul olhava toda a situação através do retrovisor com o nó na garganta, tentando ser forte a todo custo, pois, sabia que ele estava carregando um fardo pesado e que a decisão do filho de manter seu diagnóstico em segredo havia sido tomada com a intenção de protegê-la.
No hospital, depois de uma série de exames e consultas, o médico explicou que tinha epilepsia, uma condição neurológica que podia causar convulsões, principalmente em situações de estresse. Apesar de tudo o tratamento e as medidas de segurança que vinha tomando havia melhorado muito sua qualidade de vida e que neste momento eles poderiam continuar seguindo em frente.
estava ao lado de o tempo todo, absorvendo todas as informações e se certificando de que ele se sentisse apoiado. Enquanto aguardavam a alta do hospital, finalmente reuniu coragem para compartilhar todos os detalhes com o amor da sua vida, ele explicou como descobriu a doença, os momentos difíceis que enfrentou sozinho e a decisão de terminar o relacionamento para protegê-la, a garota ouviu com atenção, percebendo a profundidade de sua preocupação e amor por ela.
A garota o ouvia com muita atenção, empatia e compreensão, percebendo o quão difícil tinha sido para ele manter sua condição em segredo e tomar a decisão de terminar o relacionamento. À medida que ele falava, ela sentia um misto de emoções: raiva por ele não ter confiado nela, tristeza por tudo o que ele havia passado sozinho e, ao mesmo tempo, um profundo amor por ele por ter feito tudo aquilo pensando no bem dela.
— ! — ela segurou o rosto dele com as mãos. — Eu entendo por que você fez o que fez, mesmo que eu não concorde com a decisão de nos afastarmos. — as lágrimas escorriam sob a pele dela. — Mas você precisa saber que estamos juntos nisso, não importa o que aconteça, você não precisa enfrentar isso sozinho, nunca mais. — ela disse com convicção.
— Isso significa que você me perdoa? — questionou apreensivo.
encostou sua testa na dele.
— Isso significa que eu nunca mais vou deixar você ficar ou eu vou estar distante de novo.