Fanfic finalizada

Capítulo Único

No fim das contas, não era um trabalho difícil: se infiltrar, conseguir as informações necessárias, e passar para seu chefe. Algo absurdamente simples, e que já estava cansado de fazer, depois de tantos anos naquela carreira. O que ele nunca imagina em hipótese alguma foi se ver fascinado por alguém que vivia em um mundo tão diferente do seu.
era tudo o que se esperava que ela pudesse ser: o sorriso fácil e educado que incentivava seu interlocutor a continuar, a voz calma e doce que cativava sem esforço algum. Mesmo sendo a mais nova da família, em nenhum momento ficava atrás de , tendo a mesma destreza do irmão para lidar com todas as situações que sua posição requisitava. Era algo natural que parecia que toda a família possuía, aquela facilidade e tato para contornar problemas que deixava qualquer político com inveja. Mesmo os membros mais novos da família sequer precisavam buscar instruções com seus pais, não hesitavam em uma resposta sequer, e em nenhum momento decepcionavam, ou a família não estaria na posição que estava.
A família estava envolvida com um bocado de coisas ilícitas, praticamente dividia o controle da cidade com outras famílias poderosas. Todos sabiam disso, o problema era conseguir juntar provas e levá-los ao tribunal, além de alguém idiota o suficiente para tentar se colocar contra eles. Eles eram espertos, estavam sempre um passo à frente, e por isso o departamento sequer se importava mais em investigá-los. Enquanto não fossem um problema real para o funcionamento da cidade, não havia necessidade de fazer algo a respeito. O problema era que não gostava de esperar algo se tornar uma dor de cabeça, ainda mais quando já era.
Ninguém gostara muito da ideia daquela investigação, mas, devido à sua boa fama e prestígio, seus superiores lhe deram a permissão. Seu disfarce não seria muito elaborado, então a pouca verba que requisitava também fora um ponto a favor para conseguir a liberação. Claro que não era uma das formas mais éticas para se conseguir informações, mas era a estratégia mais simples e eficaz. Precisava ir atrás do elo mais fraco.
E o nome daquele elo era .
Durante várias semanas, comparecia em todos os eventos que de alguma forma tinha ligação com a família , mesmo os que eles não tinham organizado. Seu olhar sempre se encontrava com o de em algum momento, mas nunca tentara um contato, pelo menos até hoje. Não podia simplesmente ir até ela sem mais nem menos, precisava aos poucos se tornar um rosto conhecido tanto para ela como para o restante da família, para que sua aproximação não fosse ser considerada suspeita. Era difícil avistá-la sozinha, não importava em que momento do evento. Alguém sempre se aproximava, nem que fosse para lhe oferecer uma taça cheia de champanhe quando a sua já estava no final, emendando uma conversa animada que ela parecia apreciar, seus comentários mesmo a distância parecendo coerentes e adequados para o momento. Era fácil se deixar levar, passar a noite apenas a observando interagir com os outros e se esquecer que tinha um trabalho a fazer. precisava criar vínculos com aquelas pessoas, fazer parte daquele círculo de convívio, e não ia conseguir nada disso se ficasse apenas admirando seu alvo.
Bem, naquela noite ele faria muito mais do que imaginar.
Quando começou seu trajeto até que longo até , pode ter uma visão melhor do vestido que ela escolhera naquela noite: o tecido liso em azul vibrante que descia com graça até seus pés, mas que não marcava demais suas curvas; os cabelos organizados em um penteado que deixava seu pescoço exposto, dando ainda mais destaque para seus ombros que não eram protegidos pelo vestido. Sua maquiagem era simples e elegante, mas não deixava de ser bem marcada, tornando difícil a tarefa de focar em seus olhos ou nos lábios, e ela se portava como se estivesse plenamente ciente disso. Era um contraste curioso, alguém ao mesmo tempo parecer tão convidativa e intimidadora, e isso porque não estava tão visualmente deslocado no ambiente. Aquele já era o terceiro smoking que comparara naquele mês e o mais caro conjunto de roupa que comprara em toda vida, sua barba bem aparada e os cabelos penteados para trás trabalhavam bem com a pele de seu rosto bem descansada já que até então suas noites de sono estavam sendo bem aproveitadas. Alguns olhares acompanhavam sua movimentação pelo salão, alguns apenas admirando sua figura enquanto outros comentavam sobre seu suposto envolvimento naquele meio. Uma pessoa ou outra o cumprimentava durante seu trajeto, perguntando rapidamente como estavam sua família e os negócios, com ele respondendo que logo voltaria para conversar propriamente. Seus superiores já o pressionavam por estar enrolando demais para abordar algum membro da família , e, se não fosse agora, com certeza deixaria para o próximo evento.
Talvez devesse ter deixado para a próxima oportunidade, já que, menos de um metro de , ele pisara na barra do vestido de alguma outra convidada, seu recuo enquanto se desculpava à mulher resultando em um esbarrão em um dos garçons, a bandeja cheia que ele carregava balançando perigosamente sobre suas costas. O acidente só não foi mais grave porque uma mão ágil deu maior estabilidade para a bandeja, enquanto sua outra mão livre puxava com delicadeza para longe das duas vítimas, impedindo que qualquer movimento mal planejado seu piorasse a situação.
- Tudo bem aí? – perguntou uma voz risonha, interrompendo os mil pedidos de desculpas de para as pessoas que perturbara. Aquele timbre calmo e melodioso que hipnotizava, fazia com que se entrasse em um transe e esquecesse de coisas fundamentais, como respirar.
- Sim, c-claro... – garantiu ele, se deixando levar pelo toque sutil de em seu braço, guindo seu corpo para longe da cena, o sorriso travesso jamais abandonando seu rosto.
- Vem, vamos te tirar de áreas perigosas – comunicou a mulher, voltando a perguntar se estava tudo bem quando já estavam mais distante do aglomerado de pessoas, próximo a uma escada que ele não fazia ideia para onde dava – Quem é você mesmo?
- Sou – respondeu ele, rápido demais para soar natural, emendando em seguida em uma velocidade mais adequada, além de estender a mão para a mulher – .
- .
- É, eu meio que já sabia – seu comentário era para ter saído descontraído, mas tudo que conseguiu foi um tom nervoso, ainda mais pela forma um pouco agitada demais que sacudia a mão dela. por sua vez não deixou aquilo passar despercebido, o brilho divertido em seus olhos combinando com perfeição com o sorriso desafiador.
- Então foi tudo encenação?
- Acredite, se eu tivesse planejado algo, teria sido de uma forma que não fosse passar tanta vergonha.
riu satisfeita com a resposta, permitindo assim que falasse mais sobre seu atual disfarce, acompanhando suas palavras com atenção completa, algumas perguntas curiosas sendo feitas em um momento ou outro. acabou optando por não questionar demais a mulher, mas também sem deixar a conversa seguir um rumo como se ele estivesse interessado em falar apenas sobre si mesmo, sem chegar a ser invasivo demais e fazer com que ela perdesse o interesse em sua companhia. Era algo extremamente difícil de classificar, já que conseguia a proeza de tratar todos exatamente da mesma forma atenciosa.
- Bem, em outro cenário eu deixaria você me trazer outra bebida, mas acho que seja mais seguro você só me acompanhar ir pegar outra – brincou ela em algum momento da noite, tomando a mão de com naturalidade e o puxando em direção ao bar.
- Como desejar, milady – respondeu ele no mesmo tom brincalhão, recebendo logo em seguida aquela risada alta e harmoniosa que passaria a ouvir muito pelos próximos meses.
E o pior era que ele gostava.

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A naturalidade como tudo se desenrolou sempre assustava quando ele parava para pensar em como acabara ali, com o corpo adormecido de sobre o seu, seus braços envolvendo sua figura delicada, o calor agradável que suas peles produziam uma contra a outra. sabia que aquilo era perigoso, que não devia se envolver demais. Só que era difícil não se deixar levar.
Apaixonante. Era a palavra mais adequada para descrever . Ela podia falar sobre qualquer coisa, até sobre como tal espécie de sapo estava ameaçada de extinção. Qualquer que fosse o assunto, seu interlocutor se via domado pelo mesmo entusiasmo que ela emanava. Havia algo naquela mulher que fazia com todos concordarem com seus desejos, e tinha que constantemente se lembrar que aquilo era uma habilidade muito útil para os negócios da família, e que estava ali exatamente para desmascarar aquilo, não brincar de casinha.
Seus pedidos para que ela não fosse embora tão cedo eram mais do que verdadeiros, mas não teve o que fez mudar de ideia. Ela tinha uma longa lista de compromissos que começavam no meio da tarde e, como ainda precisava comer alguma coisa, ela definitivamente não podia ficar curtindo seu novo namorado no sofá. até chegou a se oferecer para cozinhar, algo que a mulher queria muito presenciar, mas preferiu deixar para um momento mais calmo, onde poderiam de fato aproveitar a presença um do outro. Pegaria qualquer coisa rápida para comer na cozinha quando chegasse em casa, e uma carona até a mansão era algo que não iria negar, já que táxis não faziam muito seu gosto.
Até aquele dia, nunca tinha estado na mansão . Já conhecia toda a família, inclusive conversara bastante com e , apenas o patriarca da família parecia um tanto inalcançável. nunca lhe fizera aquele pedido, e até explicara que haviam bastantes medidas para manter a privacidade de todos, por isso a residência era pouco visitada, e ele teria que ser paciente se um dia pretendia conhecer seu quarto. Aquela forma tentadora de desconversar sempre era eficiente, e toda vez se via apenas assentindo, ansioso para tal dia. Por isso a surpresa do homem ao ser convidado a descer do carro quando estacionou em frente à entrada da casa, o sorriso encorajador de dizendo que ninguém ali mordia sendo o suficiente para esquecer de todos os seus temores. duvidava se eles não mordiam mesmo, era difícil não tentar imaginar os tipos de atrocidades que poderia acontecer naquela construção ou sob o mando dos .
Um dos empregados da casa abriu a porta assim que notou que eles se aproximavam, recebendo o casal com um largo sorriso. segurou a mão de com mais empenho contra a sua, a mulher rindo baixo ao seu lado ao notar como a palma dele suava. Era até que uma sensação boa aquilo, algo que ela nunca tinha experimentado. Seus namorados anteriores não se comportavam daquela forma – na verdade, nem tinha como usar aquele termo para eles. Em meio a toda loucura que era sua vida e sua rotina, aparecia como um ponto de foco, quase como um refúgio quando as coisas começavam a sair do controle. Era perigoso pensar daquela forma, sabia muito bem disso – e se não soubesse, já tinha todo sua família lhe dizendo isso –, mas parecia algo inevitável. Quando ele estava ali, seus dedos entrelaçados com os dela, sentia ser outra pessoa, as preocupações em seu peito pareciam mais leves, os problemas mais fáceis de lidar. Ela se sentia como uma adolescente de algum filme bobo e até essa imagem a fazia sorrir.
estava com problemas, bem sérios.
Seus devaneios foram interrompidos quando o casal se aproximou da sala principal, onde um tumulto parecia acontecer. se colocou em frente a ela, um instinto protetor que nenhum deles chegou a questionar, mesmo com já tendo uma boa noção do que acontecia. Havia dois homens que ela não conhecia pelo nome no ambiente, mas que tinha certeza que já tinha visto em algum momento, e aquilo não era um bom sinal. Um deles estava mais perto de seu pai, que também estava de pé. A mão de estava perigosamente perto do colarinho da camisa do homem, suas palavras ecoando com potência pelo ambiente. Ao notar a companhia, respirou fundo, dispensando a dupla que não ousou demorar para se retirar, mal gastando mais que dois segundos para cumprimentar a caçula da família e seu acompanhante.
- Quem é esse? – perguntou o patriarca, sua voz não se preocupando em soar mais amigável antes de se adiantar para os dois.
- ? – a mulher disse com o tom de obviedade na voz, revirando os olhos discretamente – Eu te falei dele, lembra?
- Ah, sim. Claro. – o homem disse rápido, esticando a mão para como se fosse a primeira vez que se conheciam – Oi, garoto.
- Olá, senhor.
- Gostei dele – comentou rindo, sua risada não parecendo mais amigável que seus gritos de minutos antes – Vá se aprontar, filha. Sua mãe já está se preparando também. Saímos em uma hora.
Sem mais delongas, também deixou a sala, o casal – principalmente – respirando mais aliviado.
- Me desculpe por isso. Nem sempre eles são tão sociáveis como nas festas – pediu , tomando as mãos do namorado em um gesto quase natural – As coisas por trás das cortinas são bem diferentes…
Um arrepio ruim percorreu o corpo de com aquela constatação, algo que não pode ignorar nem quando os lábios macios e carnudos da mulher cobriram os seus em um beijo calmo. Fazia tanto tempo que não tinha aquelas deixas para adquirir informações que às vezes até se esquecia do real motivo de estar ali. era apenas uma forma de adentrar no círculo íntimo da família, e precisava se lembrar disso.
- Mesmo? – perguntou , tentando deixar o interesse o mais distante possível de sua voz - Como?
- Bem, não andamos com vestidos e smokings caros o tempo todo, isso já diminuiu bastante o glamour – devolveu a mulher em um tom brincalhão, se afastando lentamente com aquele sorriso travesso desenhado nos lábios tentadores – Te vejo amanhã?

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Mesmo bem perto de cair na inconsciência, os dedos de continuavam a passear pela pele exposta das costas de , que já dormia calmamente sobre seu peito desnudo. Alguns fios de seus cabelos ainda estavam grudados em sua testa, em razão das atividades de instantes mais cedo, os ombros do homem ainda carregando as marcas de suas unhas fortes e compridas. Talvez fosse a agitação ainda correndo em suas veias ou o ambiente novo, mas o fato incontestável era que não conseguia dormir.
Nas últimas semanas, ele se tornara um visitante recorrente da mansão . Não apenas os empregados da casa estavam acostumados com sua presença e a apreciavam, como a própria família parecia tê-lo aceitado. Até mesmo vez e outra parava para conversarem, perguntar sobre sua vida e família, e como andavam os negócios. Seu acesso à maior parte da casa ainda era bastante restrito, mas as coisas estavam definitivamente se desenrolando com muito mais facilidade e rapidez do que o agente esperava, especialmente porque aquilo na maior parte do tempo não chegava a ser sua prioridade.
Se seus chefes sonhassem a suspeitar disso, ele perderia seu distintivo num piscar de olhos.
E, por em alguns minutos parecer não se importar com aquilo, realmente assustava . Ainda mais que o repentino estalo de um disparo ecoando em algum lugar da casa no meio da noite.
- Que barulho foi esse? – soltou ele instintivamente, se desvinculando de , que também se colocava de pé, bem menos assustada do que deveria – Fica aqui, eu vou checar.
- Relaxa, não deve ter sido nada – retrucou a mulher, que vestia um robe qualquer que encontrara no caminho. Quando não lhe deu ouvidos e rumou para a porta depois de vestir suas calças, adotou uma postura mais urgente - , volta aqui!
o seguiu para o corredor, a atenção da dupla sendo redirecionada para outro foco ao ouvirem uma voz a algumas portas de distância, o morador daquele quarto parecendo bem menos confuso que eles.
- O que ele tá fazendo aqui, ? - indagou , errando o batente da porta que pretendia se escorar e cambaleando para frente, mesmo sem chegar a ir ao chão de fato. Seu olhar disperso demorou para se direcionar para a dupla, que, mesmo com a pouca iluminação do corredor, não conseguiu deixar de notar como seus olhos estava avermelhados e as pupilas bastante dilatadas.
- Preciso devolver a pergunta para você? Olha seu estado! – grunhiu , se afastando do namorado para empurrar o irmão para fora do corredor – Volta para o quarto.
- Quem você ach...?! – o rapaz tentou lutar, meus seus músculos relaxados demais não pareciam estar acatando seus comandos, e assim sua irmã conseguiu facilmente imobilizá-lo, mesmo que isso não tivesse facilitado a tarefa de tirá-lo de cena.
- Volta para o quarto agora, !
Mais um disparo foi ouvido, e os três hesitaram por um breve segundo.
- Eu vou checar lá embaixo – anunciou , já se direcionando para as escadas.
- Não! – gritou , tentando com um empurrão mais potente fazer seu irmão entrar no quarto. O tom agressivo pegou de surpresa, que se flagrou se virando para a mulher, tentando entender o que acontecia. Ela, por sua vez, continuou como se nada tivesse acontecido – Você fica aqui também. Provavelmente não é nada. Algum desentendimento com os empregados da casa, acontece.
Dito isso, voltou sua atenção ao irmão, que ainda lutava para se livrar de seu aperto. Apenas quando conseguiu fechar a porta com um estrondo e trancar a porta com do outro lado que a mulher deu por falta do namorado, se vendo sozinha no corredor.
Aquilo não podia ser bom.
Não foi difícil para conseguir localizar o epicentro de toda confusão, em uma das salas do térreo da casa, onde se mantinha uma grande movimentação de pessoas. Ele não conseguira ver muita coisa, mas tinha tido a impressão de ter visualizado alguém sendo carregado, e a pessoa não parecia estar exatamente se mexendo. Seu olhar caiu sob um corredor que o agente até já conhecia, mas que não tivera muito tempo de estudar, já que era a área de trabalho de , e, como o patriarca estava de viagem no momento, parecia uma boa oportunidade para verificar algumas coisas, já que todas as pessoas acordadas estavam ocupadas demais em outras tarefas para notar sua movimentação por uma área que não deveria.
A sala, como de costume, estava trancada, mas conseguira arrumar uma cópia da chave semanas atrás. Seu interior era iluminado apenas pela luz da lua que passava pelas amplas janelas atrás da grande e imponente mesa do escritório. O computador ali fora esquecido ligado, o que facilitou bastante a tarefa do agente de agilizar sua pesquisa, seu olhar atento passando por informações e selecionando as que achavam mais importantes. No bolso de sua calça sempre tinha um pen-drive escondido na costura, e agora mais do que nunca ele agradeceu aquele costume, já que seria assim que daria um fim àquele caso. Enquanto a transferência de arquivos continuava, passou a estudar as gavetas da mesa, na esperança que tivesse algo que mantivesse o registro à mão, quem sabe por puro costume. O agente não saiu decepcionado, encontrou extensas listas de transições por debaixo dos panos, relações de localidades que eram utilizadas no tráfico, empresas envolvidas... Apenas uma gaveta tinha material o suficiente para ganhar aquele caso, e sentia como se tivesse encontrado a pata dos ovos de ouro.
Como estava sem seu celular, que ficara jogado em algum canto do quarto de , saiu em busca de uma multifuncional no escritório, scaneando as páginas que julgava mais importantes e salvando em uma pasta separada em seu pen-drive, devolvendo tudo a seu devido lugar antes de deixar a sala, o dispositivo mais uma vez escondido na costura especial de sua calça. Antes de sair, ele checou o corredor duas vezes, trancando a porta o mais rápido possível e saindo dali mais rápido ainda para não levantar suspeitas, o percurso até o quarto de sendo feito depois como se estivesse voltando da cozinha.
- O que você está fazendo aqui? – foi a recepção que o homem recebeu ao abrir a porta, uma no mínimo abalada parada no meio do quarto, abraçando o próprio corpo trêmulo – O que você está fazendo aqui de fato, ? E-eu vi o que aconteceu lá embaixo. Alguém m-morr...
- , você precisa me ouvir, tudo bem? – pediu ele com urgência, cancelando a distância entre eles com poucos passos e tomando o rosto da mulher em suas mãos – Tem muita coisa ruim acontecendo aqui, coisa pesada... Eu posso te proteger disso tudo, ok? Você não está envolvida, só precisa confiar em mim.
- O que você está fazendo aqui, ? – repetiu a pergunta, o desespero sumindo de sua voz em uma velocidade absurda. Suas mãos geladas se fecharam ao redor dos pulsos do homem, afastando aos poucos as palmas de seu rosto – É disso que você estava atrás, não era? Informação?
olhou confuso para ela, sem conseguir acompanhar o que acontecia. Agora parecia ser outra mulher à sua frente: o brilho de seus olhos não lembrava em nada o olhar caloroso de , pelo contrário, seus traços delicados agora pareciam mais duros, inflexíveis. Sua pele também não parecia mais emanar calor nenhum, o brilho frio da luz da lua invadindo o quarto pelas janelas que foram recentemente abertas fazendo com que uma áurea diferente a envolvesse, fazendo parecer que ela não passava de uma estátua. Uma boneca.
- O que você pensa que eu sou? Idiota? – disse ela, um riso debochado no timbre de sua voz, mesmo que sua expressão permanecesse imutável – Eu sei todas essas coisas, tudo que acontece nessa casa.
- Você sabe – constatou ele, a informação apenas lhe fazendo sentido quando tombou minimamente a cabeça para um lado, crispando os lábios e revirando discretamente os olhos, como se não acreditasse em tamanha lerdeza para entender o cenário em que se encontrava – Então por qu...?
- É uma peça, amor. Mantenha o personagem – respondeu a mulher, em um claro tom de aconselhamento. pareceu então estar entediada, dando as costas ao namorado e rumando para sua mesa de cabeceira, onde ela buscou seu celular antes de se jogar no seu lado da cama – Se não consegue, só vai embora. Você já tem as informações que queria, presumo.
- Eu não posso te derrubar junto com eles.
Aquela frase vez erguer os olhos do aparelho, antes mesmo que conseguisse se ver entretida com as mais diversas notificações que esperavam por sua atenção. Se tinha algum sentimento em seus olhos, só podia ser curiosidade. Ali estava ele, o homem que a enganara por meses, que esteve ao seu lado por qualquer motivo, menos por sua companhia, com uma sinceridade na voz que a pegou de surpresa, para dizer o mínimo. Ela não sabia dizer quem ele era, se seu nome era de fato, mas, se tinha algo que sabia fazer como ninguém, era dizer se alguém estava mentindo. E ele não estava.
Por isso um sorriso intrometido se desenhou em seus lábios, aquela pequena reviravolta nos fatos fazendo seu coração bater mais rápido.
Não tão rápido como sua mão ágil buscando o revolver que deixara debaixo do travesseiro assim que voltara para o quarto, sua mira impecável atingindo com um disparo único no meio do peito. Tomado pela surpresa e pelo impacto, uma perna do homem recuou para tentar manter o equilíbrio, algo que não se manteve por muito tempo, já que o segundo disparo – além de mirar um órgão em especial – tinha como objetivo tirar de vez sua estabilidade, jogando seu corpo para o lado em que seu apoio estava mais debilitado, tombando para trás no instante seguinte.
- A curiosidade matou o gato - suspirou , abaixando a arma. Seu ar tedioso retornara, seus passos foram arrastados até o corpo caído em seu tapete – Mas a satisfação o trouxe de volta... Será?
O olhar de acompanhava seus movimentos, sua respiração irregular e rápida auxiliando na tarefa de seu sangue deixar seu corpo. O líquido quente já inundava sua garganta, fazendo com que ele engasgasse, e por isso não conseguia dizer uma palavra sequer, embora não soubesse ao fato o que queria dizer. Sua mente deixara de ser algo compreensível, e seus olhos apenas expressavam traição, assistindo o motivo de sua morte iminente sentar no chão próximo aos seus pés, o revólver pendurado em um de seus dedos.
- Parece que o gato apenas vai morrer sabendo, .
Uma batida discreta fez com que erguesse os olhos, não demorando muito para ver sua mãe colocar metade do corpo para dentro do quarto, notando sem dificuldade nenhuma o homem sangrando no chão.
- O que aconteceu aqui, querida? – perguntou , seu olhar logo rumando para a filha.
- A limpeza ainda está lá embaixo? Pode chamar eles para mim? – pediu a mulher mais nova, se colocando de pé com um resmungo baixo, a correria da última hora começando a dar sinais em seus músculos cansados – Não tem pressa, ele ainda vai aguentar mais um pouquinho, de qualquer jeito
- Já descobriu para quem ele trabalha?
- Te falo em um minuto – respondeu , tirando do bolso de seu robe o celular de , girando o aparelho entre os dedos antes de sua mãe deixar o quarto, assentindo satisfeita.
ainda deu mais uma olhada em direção ao homem antes de se sentar na beirada de sua cama, constatando que talvez ele não tivesse tanto tempo assim, visto que seus olhos já estavam semicerrados, e o movimento de seu peito não era mais tão visível. Seus próprios olhos também começavam a pesar, mas ela não dormiria tão cedo, já que precisava reunir o máximo de informação que aquele pequeno aparelho poderia lhe conceder, e passar tudo para frente o mais rápido possível. Alguém estava tramando contra sua família, e ela era a linha de frente de proteção.
Se era guerra que procuravam, era guerra que teriam.




Continua...



Nota da autora: Todo ficstape que eu entro tô ferrando o pp, até eu já tô ficando traumatizada, perdão açslkdça

Nota da beta: Lição para vocês: nunca assine um contrato sem ler as letrinhas miúdas, olha ai o quanto eu to sofrendo por não ter lido esse contrato de amizade com atenção.

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