Capítulo Único
Prólogo
Passava um pouco mais da meia noite quando o Padre adentrou seu quarto. Tirou a batina e a pendurou atrás da porta, passando em frente ao espelho que ficava pendurado ao lado e dando uma boa olhada em si mesmo. Os olhos mais fundos e escuros mostravam claro sinal de cansaço, fadiga e o peso da responsabilidade que lhe havia sido assegurada. O dia fora longo recebendo as noviças da Irlanda, acomodando-as em seus aposentos e lhes mostrando a Igreja e os seguidores fiéis. Todas as dez participaram da última missa, todas exceto a mais nova. A noviça tinha dezessete anos e fora enviada a Portugal por sua família como castigo por ter se apaixonado por seu próprio primo. A garota não havia cometido pecado algum, mas por medo da situação ser uma provação do deus que habita o submundo, os pais dela acharam melhor entrega-la nas mãos do Deus Todo Poderoso e quem sabe dessa forma ela eliminaria quaisquer resquícios pecaminosos de sua carne. Ela não estava contente, mas sabia que aquela era uma forma de punição justa e que colheria os frutos de sua escolha em um futuro distante.
O Padre tomou uma boa dose de vinho antes de se deitar, passando as mãos pelos cabelos e pela testa, limpando o suor noturno. Era verão em Portugal e o clima estava úmido e quente. Úmido como ele imaginava ser as partes íntimas de . Afastou esse pensamento e agarrou a Bíblia e o terço que encontravam-se ao lado de sua cama em um criado-mudo velho e desgastado. Abriu o Livro em 1 Coríntios Capítulo 06 Versículos 13-20. Segurou a Bíblia com uma das mãos e a vela com a outra, concentrando-se ao máximo para ler as letras miúdas que cravavam marcas quentes em sua alma. Uma alma pura sem pecado que ele havia escolhido entregar completamente ao Senhor desde sua juventude. Mas as pernas delicadas de ao encostarem nas suas em um simples cruzar por debaixo da mesa havia deixado os sentidos do Padre mais atentos e aguçados. Ela era jovem e exalava um perfume doce de jasmim, seus cabelos longos até a cintura lembravam os cabelos das Santas que ele havia estudado. Sua boca carnuda e vermelha despertou desejo quando ela bebericou o cálice cheio de água. Ela era um diabo em forma de mulher, com curvas lascivas que o levariam à destruição. Quente. Úmido. Inferno.
“O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará. Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma prostituta? De maneira nenhuma! Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois como está escrito: ‘Os dois serão uma só carne’. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é o santuário do Espírito Santo que habita em vocês lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo.”
– Amém Senhor, Amém! Deus seja louvado em toda sua magnitude e benevolência. Afasta de mim as impurezas da carne Senhor. Sou Teu servo e vivo para unicamente a Ti servir.
Ele abraçou a Bíblia no coração e apertou o crucifixo com os dedos, colocando a vela novamente em cima do criado mudo. Fechou os olhos com força e repetia as palavras lidas na Bíblia como se fosse um mantra, como se dessa forma pudesse afastar seus pensamentos humanos e masculinos. Mas o farfalhar das roupas no andar de cima lhe chamaram a atenção. retirava seu vestido e preparava-se para dormir. Seus pés pequenos faziam um barulho irritante no assoalho e Padre passou a imaginar a menina despindo-se peça por peça. Seu ombro nu aparecendo aos poucos, a roupa caindo por seu tórax e deslizando sensualmente por sua barriga, coxas até tocar o chão. Ele suava novamente e dessa vez algo a mais acontecia em seu corpo; ele pegou a Bíblia e bateu com força em cima de seu membro rígido que dava sinais de excitação. Esse desejo desvairado tinha que desaparecer.
+
Padre residia em Portugal há quase dois anos, e nos últimos dias tinha ficado responsável por receber as noviças da Irlanda do Norte. Não era seu forte ser um Padre professor, muito menos apresentar a paróquia para futuras freiras de dezoito anos que claramente estavam lá por pura imposição familiar. conhecia muito bem esse gênero feminino, e era por esta razão que não ficava animado em passar um dia inteiro com essas novas meninas.
em seu primeiro dia como noviça, mostrava profundo desapontamento em deixar sua vida irlandesa para trás. Portugal parecia ser mais quente e bonita do que a Igreja mostrava ser. Nos altos da montanhas a única coisa que ela via era nuvens espessas cinzas e uma grande névoa chumbo que cobria todo o chão. O som de seus sapatos negros no assoalho a irritavam de tal forma que ela pensou por um momento se não podia tirá-los e trocar por algo mais confortável. Uma sandália, por exemplo. Uma das freiras que acompanhava o caminho com elas a cutucou de forma forte na cintura quando a menina tentava arrumar seus cabelos longos dentro do lenço branco. Em uma questão de segundos de puxar o cabelo para o lado, uma pequena parte de sua nuca havia ficado exposta e isso era terminantemente proibido pois podia causar “pensamentos impuros” aos presentes. respirou fundo e amaldiçoou seus pais e aquela velha moribunda. Depois olhou para cima e deu de cara com a imagem de dois santos pintados no teto da Igreja, anjos feios que não lembravam em nada aqueles rostos angelicais e pacíficos que outrora ela conhecera. Portugal lhe dava arrepios, e sua nova vida também.
– Vocês podem sentar aqui, na primeira fila. Padre vai começar daqui a pouco a missa de fim de noite e eu devo pedir que vocês fiquem quietas em sinal de absoluto respeito. – a matriarca passava a Bíblia para cada uma das meninas sentada à frente – Após a missa devem ir diretamente ao dormitório e ali permanecerem até o cantar do galo ao amanhecer. Junto vocês também ouvirão um sino...
– Deus é o Criador de tudo e se Deus me fez nascer como ser humano na terra, significa que existe um grande talento em mim pronto para ser descoberto. Por esta razão eu sei que existe um trabalho adequado para mim, onde serei muito feliz, competente e próspera, trabalharei com amor e gratidão...
– Jasmine? – Abigail murmurou para sua amiga irlandesa ao seu lado – Está tudo bem?
– Estou rezando, .
– Isso eu consegui notar, mas reza por algum motivo especial?
– Meus pais acham que eu tenho talento para ser freira, então rezo para que os anjos me ajudem nessa busca porque, até o momento eu não a encontrei.
– Jas!
– Você não teve uma escolha e eu tive! Caso não viesse pra cá sua mãe a mataria de pancadas, ou pior, seria humilhada no meio da rua. Sabe como sua mãe católica romana não é exatamente uma grande fã de pecados da carne.
– Eu nem fiz nada, pensa se tivesse acontecido alguma coisa de verdade.
– Ainda é virgem?
– É claro que sim! – parecia ofendida – Mais virgem que essa santa freira velha com cheiro de naftalina que não calou a boca desde o momento em que chegamos. – as duas abafaram um riso.
– Interrompo alguma coisa? – a tal freira parou de frente para as duas amigas.
– Nada senhora. – ambas responderam prontamente.
– Senhorita , ontem sentimos profundamente sua falta na última missa. Padre perguntou pessoalmente sobre vossa senhoria e nós não soubemos o que responder.
– Desculpe-me, a fadiga da viagem deve ter mexido com meu estômago e eu não me sentia bem.
– Coloque suas forças no Senhor que ele lhe ajudará a manter-se em pé nas horas que mais precisa. – a matriarca sorriu, deixando aparecer dois dentes podres – Não quero mais que falte nas missas, isso é uma ordem.
– Sim senhora.
– Padre perguntando de você?
– Qual deles é o mesmo?
– O mais novo, batina mais brilhante e sorriso mais bonito. Este já tem um lugar garantido no céu só por ter nascido gato!
– Jasmine volte a rezar!
– Rezar é a única coisa que me resta agora, . Sabia que eu tinha um futuro brilhante pela frente? Fui aceita em Coimbra para estudar Direito, mas minha avó achou que eu devia primeiro passar por uma boa educação católica. E já que eu ia pra Portugal, por que não ficar um tempo numa Igreja?
– Credo, é por isso que está aqui?
– Minha avó acha que Direito é coisa do Diabo então, antes de eu me tornar praticamente a parceira do tinhoso, melhor eu aprender algo pra me defender dele.
– O que seus pais acham disso?
– Eles não se importaram muito. O dinheiro da minha educação vem toda da minha vó, ela pode me mandar até pra um campo de concentração que eles não vão se importar, desde que não saia nada do bolso deles, está tudo bem.
– Sinto muito...
– Boa noite irmãos.
– Shhhh... Padre chegou.
– É... Ele?
– Você não o viu ontem? Tenho certeza que ele estava na mesa do jantar.
– Eu vi, mas nunca pensei que fosse padre. Muito jovem e muito, – estalou os lábios passando a ponta da língua suavemente entre os lábios abertos – bonito.
– Gostoso, entendi.
– Eu não disse isso.
– Mas sua linguagem corporal disse por você. – Jasmine se endireitou no banco da Igreja e segurou a Bíblia entre seus dedos longos – Senhor me ajude a rezar porque essa missa vai ser longa.
Padre era um jovem de aproximadamente trinta anos. Havia começado cedo na vida de celibatário por decisão própria, ou do que os mais velhos gostavam de chamar, vocação. Não se dava bem na escola por ser magrelo demais, ranzinza demais e nunca se adaptou ao mundo de luxúria e diversão que seus colegas viviam. Quando teve sua primeira ereção matinal pensou que estivesse sendo possuído por um demônio e acordou assustado e suando frio, procurando a primeira coisa que pode para dar um jeito naquilo. Foi quando passou a entender seu corpo e de como não podia ter controle de tudo o que acontecia com ele. Não quis mais saber de garotas, sexo ou qualquer outra coisa que o tirasse do foco. Abandonou a escola e dedicou-se à sacristia, colocando um ponto final em qualquer desejo fora do controle que pudesse ter.
Pelo menos ele acha que pudesse controlar seus desejos, até aparecer.
+
– Podemos conversar com o padre após a missa? – Jasmine perguntou – Diga que sim, nem que for pra pedir benção.
– Não vejo problema algum nisso, ele está lá pra nos abençoar.
– Você vai na frente...
– Hey!
– Ele não tirou os olhos de você a missa inteira, vai logo.
– Estamos falando de um padre lembra?
– E daí? Padres também sentem coisas. Vai Abigail.
As duas noviças aproximaram-se do padre que estava de costas conversando com um dos sacerdotes sobre algo que, particularmente, não era nada interessante. não sabia se podia encostar no padre, chama-lo pelo nome, cutucar seus ombros; achou melhor limpar a garganta um pouco mais alto e dar duas tossidas forçadas. Deu certo pelo menos. virou-se e deu de cara com a menina que havia perturbado seu sono na noite anterior. Ali ela estava, exatamente como ele lembrava: lábios carnudos, cabelos longos, perfume intoxicante. Ele suou frio e suas mãos tremeram por baixo da batina. Por alguns segundos prendeu a respiração, mas viu que não ia conseguir ficar assim por muito tempo.
– Padre ? – a menina se pronunciou.
– ? – ele soltou o ar e depois balançou a cabeça negativamente – Perdoe-me, Senhorita .
– Não tem problema em chamar-me pelo meu primeiro nome.
– Temos algumas regras formais dentro da Igreja e gostamos de segui-las.
– Oh. – ela abaixou o rosto um pouco envergonhada, não tinha costume de ser formal.
– Eu não quis parecer rude com a senhorita, é só algo que...
– Eu entendi Padre, o erro foi meu.
– Hmmm... – Jasmine começou a murmurar encarando os dois à sua frente – Desculpa a intromissão, nós queríamos apenas parabeniza-lo pela ótima missa e a , opa, senhorita tinha que pedir desculpas pela ausência ontem.
– Fadiga da viagem. – fez careta.
– Imaginei, a Madre Superiora ficou desapontada ao saber que apenas nove das dez noviças participariam da recepção ontem.
– Já me desculpei com a Madre, isso não vai mais acontecer.
– Assim espero. – Padre sorriu com os lábios fechados – Vocês estão indo para os dormitórios?
– Sim, fomos instruídas a dormir cedo. – Jasmine suspirou – Obrigada pela missa.
– Deus proteja vocês.
– Obrigada Padre. – sorriu e tocou de leve o braço de , num gesto infantil e impensado. Ela fazia isso o tempo todo com pessoas normais.
– Sabia que ele dorme no andar abaixo do nosso?
– Hã? – subia as escadas com dificuldade, já que as saias da roupa de noviça eram pesadas e longas – Quem dorme embaixo de quem?
– Eu não sei quem tá dormindo embaixo de quem, mas se eu pudesse dormia embaixo do Padre.
– Jasmine pelo amor de Deus!
– Agora você tá aí falando em Deus, – ela riu – falei que dorme no andar abaixo do nosso. Mais precisamente do seu quarto, eu percebi isso ontem.
– Como sabe disso?
– Ontem eu desci pra pegar um pouco de água e vi nosso lindo padre entrando no quarto. Ele parecia um pouco aflito também, suava e passava as mãos no rosto e na testa e agarrava o crucifixo no peito.
– Será que teve um pesadelo?
– Deixa de ser tonta, pesadelos aqui temos aos montes! Algo que aflige um padre nesse estado é muito mais que um simples pesadelo, é algo mais sério.
– Algo como...?
– Mulheres? – a amiga sorriu de forma lasciva – Há quanto tempo esses homens não veem uma mulher jovem? E ontem logo de cara chegaram dez de uma vez. Tenho certeza que assombramos os pensamentos dos padrecos ontem na madrugada.
– Eles já devem estar acostumados com isso. Não somos as primeiras a chegar na Igreja e nem vamos ser as últimas.
– Mas podemos fazer a diferença. – Jasmine riu – Eu vou dormir, mas acho que você podia, sabe, dar uma voltinha no andar debaixo.
– Eu não vou fazer isso.
– É só pra ver se está tudo bem, se nosso padre precisa de alguma coisa...
– Cala a boca.
não ia conseguir dormir aquela noite. Era cedo demais, seus pensamentos estavam agitados e o quarto parecia muito mais quente do que a noite anterior. Ela levantou-se e foi jogar um pouco de água na nuca e no rosto a fim de tentar relaxar e voltar a dormir, mas seu momento foi interrompido quando ouviu o barulho de algo pesado caindo no andar abaixo do seu. Era o quarto do padre. Era .
Ela não tinha muita experiência no assunto, mas achar um homem atraente não era algo que precisava de muita prática. tinha as mãos grandes, o pescoço longo e o rosto quadrado. Alguma coisa escondida na batina e um olhar que podia parecer meigo, mas não era assim tão doce. Fechou os olhos e apoiou as mãos na pia do banheiro, fazendo careta ao lembrar-se das provocações de Jasmine e de como o Padre a chamou pelo primeiro nome e depois se desculpou. Era ridículo nutrir pensamentos assim de um homem que havia dedicado sua vida à castidade, ela não queria nem pensar em que tipo de castigo ela ia receber caso fizesse ou comentasse algo. Mas era algo que já estava em sua carne, em seu coração. Ainda de pé, entrelaçou as pernas para acalmar os batimentos cardíacos que agora estavam mais embaixo e suspirou... A sua imaginação era muito pior, porque ela não tinha controle de até onde podia ir, até onde ela podia imaginar as mãos do Padre por seu corpo, a voz arrastada e sua respiração quente em seu pescoço. Nem ela sabia de onde vinha isso, era como uma assombração que aparece do nada, sem motivo aparente e fica ali, incomodando.
Ele era um padre e ela uma menina de poucos anos.
Não, era errado.
+
Três horas da manhã.
A hora mais escura da madrugada.
A hora em que os anjos do inferno profanam a hora sagrada.
caminhava pelos corredores da igreja em passos leves. Seus pés descalços não a deixavam fazer barulho e ela se refrescava com o contato frio em seus pés. Os cabelos longos dançavam em suas costas e ela tocava as paredes com a ponta dos dedos, sentindo as pedras geladas roçarem de forma áspera e sua pele.
Roçar.
Ela sentia falta de algum tipo de toque.
– Senhorita ?
A menina congelou no lugar onde estava e arregalou os olhos. A igreja estava escura e ela imaginou que as pessoas estivessem dormindo. Mas aquela voz lhe era familiar, ela o ouviu discursar mais cedo por um bom tempo, depois teve o tempo de receber sua benção e ficar com uma lembrança que a incomodaria muito mais tarde. Era Padre , ou naquela hora da noite, .
Ele a tinha visto caminhar pelos corredores pela última meia hora, como se fosse um fantasma. Ela em sua camisola longa branca com rendas, os cabelos soltos e espalhando o perfume ainda novo, mas já conhecido. Os pés que saltitavam no chão como uma ninfa que escapa pela primeira vez da floresta e agora começa a descobrir um novo mundo. Seria impossível dormir sabendo que caminhava vulnerável e jovem pela Igreja, que seu corpo estava coberto por uma fina e transparente camada de pano frágil, delicado assim como a menina. O que ele não daria para tocá-la! Parecia quase um doente mental obsessivo... Ouvia histórias de padres que forçavam encontros com as noviças (e as vezes com os meninos mais novos), mas ele nunca pensou que pudesse ser um desses. Não! Forçar algo estava fora de cogitação... Mas ela era tão...
– Padre! – gaguejou nas primeiras sílabas – Pensei que todos estavam dormindo essa hora.
– Acordei com seus passos, tenho um sono muito leve.
– Eu ouvi algo em seu quarto algumas horas atrás, algo caindo. – ela media muito bem as palavras que dizia – Não que eu estivesse escutando de propósito.
– Estava rezando. – ele sorriu, e não era mentira – Acabei me desequilibrando quando fui me levantar e derrubei parte da prataria.
– Oh sim. – a menina suspirou – Desculpe eu não queria assustar o senhor, vou voltar ao meu dormitório.
– Não... – ele não controlou sua fala assim como seu pensamento – Eu que devo voltar aos meus aposentos, a Igreja é livre. Pode continuar sua caminhada noturna.
– Estou sem sono.
– Algo te aflige? – ele deu três passos à frente.
– Pensamentos. – respondeu, andando também na direção do padre.
– Que tipos de pensamentos?
– Maus... Pensamentos.
Agora ela estava mais próxima e mesmo com a penumbra da noite e os anjos parados ao lado julgando a conversa que julgava ser inocente, podia ver com mais detalhes o rosto do padre. Ele vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta de manga comprida preta; a roupa de um humano fazia muita diferença. Não existia a batina, não existia o peso do título de um homem santo. Só havia ali um homem.
– Padre?
– Sim?
– Por que escolheu essa vida?
– Eu fui escolhido, não tive muita opção.
– Em nenhum momento achou que fazia a escolha errada? Tantas coisas que você abriu mão.
– Deus me deu em dobro as coisas que perdi.
– Ah... – ela sorriu sem graça – Não sei se conseguiria viver uma vida assim, como a sua.
– É uma questão de comprometimento, senhorita...
– .
– Nós temos alguns tratamentos... – ele ia dizer com um sorriso no rosto, mas ela o interrompeu.
– Você está sem sua batina, não precisamos nos tratar dessa maneira.
– Dizia que, – coçou a nuca e quis mudar o assunto – algo te assombra, maus pensamentos.
– Aham. – ela se afastou – Mas acho melhor guarda-los para mim.
– Parte de minha vida é ouvir as pessoas e ajuda-las.
– Você não pode me ajudar.
– Como sabe? – ele sorriu. – Já se confessou com um padre alguma vez?
– Tive que me confessar antes de entrar aqui, então faz pouco tempo desde que fui purificada.
– Se foi purificada, por que ainda há maus pensamentos rondando seu coração? Sua alma?
– Porque eu permito ser influenciada.
Ela a olhou curioso e apoiou a mão no queixo. Ela era muito mais intrigante do que ele pensava. Ele era muito mais maravilhoso do que ela tinha notado. Tinha alguma influência naquele lugar porque em um outro ambiente nunca se comportaria daquele jeito.
Havia anjos.
De ambos os lados.
E eles rondavam as duas almas – do padre e da menina – brincando com seus sentimentos e palavras, manipulando suas emoções e desejos. Alguns anjos lutavam para controlar a carne, outros gargalhavam esperando pela consumação do pecado.
O que há de mais engraçado para anjos do submundo do que ver um servo de Deus cair?
e não eram mais eles essa noite.
Eles estavam enfeitiçados, assombrados por um mau.
O Padre pegou a noviça pela mão e a encaminhou até seu quarto. Nesses instantes era como se ele não tivesse controle de seu corpo e fosse acometido por um tipo de feitiço. Os pés pareciam flutuar e a visão turva e embaçada, ele não era mais dono de suas ações. Assim como que sentia as mesmas coisas. Seu coração não mais batia, porém ela podia sentir o sangue quente e rápido correndo por suas veias. Ela estava no quarto do padre, mas não se lembrava de como havia ido parar ali.
Eles agora eram marionetes de outros anjos.
Os de luz não conseguiam lutar nessa briga, pois os anjos da escuridão apenas brincaram com um desejo que havia ali no corpo dos mortais. Por isso não se deve expressar seus pensamentos mais obscuros em voz alta. Nunca se sabe quem pode estar escutando. Sempre podemos ser manipulados, vítimas de nossos segredos, traídos por nossas vontades.
Na parede atrás da porta, prendeu entre as pernas e deliciou-se ao beijar seu pescoço e colo, passando as mãos pelos seios da menina e abaixando o corpo até chegar na barra de sua camisola e levantá-la para cima. Ele bateu forte na parede, como alguém que tenta lutar contra as próprias ações, mas não conseguia. O crucifixo na parede tombou ficando de cabeça pra baixo.
Os dois estavam na cama, entregues aos próprios prazeres.
A menina nua contorcia-se aos toques lascivos do padre, que beijava cada parte de seu corpo com os lábios bem abertos como quem deseja abocanhar uma grande porção de comida ao mesmo tempo. Ele beijou os seios rígidos e os chupou com força, soltando um gemido alto ao sentir o sabor dela finalmente em seus lábios. As mãos desceram pela lateral do corpo pequeno e chegaram até a região íntima, que encontrava-se úmida e pegajosa. Ela inclinou a cabeça pra trás entorpecida e deixou escapar um gemido fino e longo quando dois dedos do padre a penetraram sem delicadeza alguma. não conseguia tocar o corpo dele e agarrou ambos os lados da cama e puxou os lençóis com força, contraindo os braços e o abdômen. Ele parou com os toques vendo o rosto dela se contorcer de prazer e sorriu consigo. Mordeu os próprios lábios e lambeu desde o umbigo dela até sua intimidade, parando ali um bom tempo.
começou a chupar pelos lábios. Usou as duas mãos a fim de levantar o quadril estreito dela e conseguir uma posição mais confortável. Era como um banquete exclusivo para ele. Apertou as mãos nas nádegas da menina e a chupou com mais vontade, penetrando a língua mais fundo e dando mordidas nas suas regiões mais sensíveis. Ela não parava de gritar e pedir por mais, mas ansiava pelo toque quente, por algo mais fundo invadindo seu corpo que a pudesse rasga-la ao meio. Abriu os olhos e o olhou lá embaixo, devoto como sempre. O puxou para cima pelos cabelos e ouviu um rugido vindo dele como reprovação. não parecia se importar; desceu o corpo e colidiu seu rosto com o dele, dando um beijo aberto e molhado com todas as intenções impuras que o momento permitia. As línguas quentes e ásperas pareciam não caber dentro do beijo, por vezes ela segurava o rosto dele com força e o beijava de forma lânguida no pescoço, subindo até sua orelha. Ele aos poucos foi encontrando uma posição mais confortável, sentando-se na cama e pegando a noviça pela cintura, encaixando seus corpos. Ela deslizou as mãos pelos cabelos do Padre e gemeu graciosamente no ouvido dele quando o membro duro a invadiu duas vezes com força.
Uma vez.
Uma gargalhada.
Duas vezes.
Duas gargalhas e uma vela queimada.
Três vezes.
Três gargalhadas e um anjo caído.
Quatro vezes.
Um coro de risadas e dois anjos abandonaram o lugar.
A garota encontrava-se de quatro em cima da cama, com a respiração quente de na sua nuca enquanto ele a puxava pelos cabelos, como quem doma uma fera selvagem. Ele a penetrava com força por trás e com uma das mãos livres apertava seus seios fartos e jovens, balbuciando palavras baixas ao pé de seu ouvido, mordiscando seus ombros e costas, deixando ali marcas de que algo impuro esta noite acontecia.
Ela cansou dessa posição e o empurrou para o lado, sentando em cima dele e encaixando seu membro dentro de si. Começando devagar e depois com um pouco mais de força, segurando os cabelos para trás e fazendo movimentos graciosos com os quadris, proporcionando aos dois o gozo que nenhum antes conhecia. Ele, com os olhos abertos, ergueu um pouco o corpo e sugou os seios dela, mas depois tombou o corpo para trás e a deixou cuidar da situação; era como se quisesse ter e dar prazer ao mesmo tempo. Ela não sabia como fazia isso ou quando parar. Em um determinado momento sentiu duas lágrimas escorrerem de seus olhos... O que fazia ali mesmo?
Um gemido misturado com dor escapou de ambos. Ela tombou o corpo para o lado e eles permaneceram imóveis um ao lado do outro. Dois pedaços de carne que tinham tanta vontade que não aguentaram e sucumbiram.
O relógio bateu quatro horas da manhã. A hora mais escura havia terminado e era hora dos anjos da noite recolherem sua sujeira e irem para outro lugar. Ali em cima da cama estavam duas almas que, apesar de guardarem segredos, ainda eram puras e nunca haviam caído no pecado. “Pensar não é pecado” eles achavam, mas qual a linha tênue entre a vontade de fazer e o fazer?
Quatro anjos vestidos de preto prostravam ao lado da cama. Os quatro com sorrisos satisfeitos, um deles até limpava o canto dos lábios. Passaram a mão pelos corpos nus do Padre e da noviça . Os corpos ainda estavam quentes e suados, marcados eternamente por algo que não queriam. Os anjos brincaram um pouco mais com os corpos ali, mas acharam melhor irem embora... Outro dia chegaria.
e iriam acordar a qualquer momento.
Envergonhados, confusos, machados.
Assombrados.
Os anjos foram embora com suas asas negras rasgando o céu, rindo da cara dos celestiais por terem sido tão fracos a ponto de não conseguirem segurar o trabalho deles. O desejo do homem é mais forte que o desejo de Deus? É por esta razão que todos contestaram o livre-arbítrio. É a vontade humana acima de qualquer outra; e foi apenas com isso que anjos negros brincaram essa noite. Com nossas vontades, sujas e escondidas.
Eles voltariam amanhã, para qualquer alma que permitisse ser influenciada.
Assombrada pelos seus próprios desejos.
Passava um pouco mais da meia noite quando o Padre adentrou seu quarto. Tirou a batina e a pendurou atrás da porta, passando em frente ao espelho que ficava pendurado ao lado e dando uma boa olhada em si mesmo. Os olhos mais fundos e escuros mostravam claro sinal de cansaço, fadiga e o peso da responsabilidade que lhe havia sido assegurada. O dia fora longo recebendo as noviças da Irlanda, acomodando-as em seus aposentos e lhes mostrando a Igreja e os seguidores fiéis. Todas as dez participaram da última missa, todas exceto a mais nova. A noviça tinha dezessete anos e fora enviada a Portugal por sua família como castigo por ter se apaixonado por seu próprio primo. A garota não havia cometido pecado algum, mas por medo da situação ser uma provação do deus que habita o submundo, os pais dela acharam melhor entrega-la nas mãos do Deus Todo Poderoso e quem sabe dessa forma ela eliminaria quaisquer resquícios pecaminosos de sua carne. Ela não estava contente, mas sabia que aquela era uma forma de punição justa e que colheria os frutos de sua escolha em um futuro distante.
O Padre tomou uma boa dose de vinho antes de se deitar, passando as mãos pelos cabelos e pela testa, limpando o suor noturno. Era verão em Portugal e o clima estava úmido e quente. Úmido como ele imaginava ser as partes íntimas de . Afastou esse pensamento e agarrou a Bíblia e o terço que encontravam-se ao lado de sua cama em um criado-mudo velho e desgastado. Abriu o Livro em 1 Coríntios Capítulo 06 Versículos 13-20. Segurou a Bíblia com uma das mãos e a vela com a outra, concentrando-se ao máximo para ler as letras miúdas que cravavam marcas quentes em sua alma. Uma alma pura sem pecado que ele havia escolhido entregar completamente ao Senhor desde sua juventude. Mas as pernas delicadas de ao encostarem nas suas em um simples cruzar por debaixo da mesa havia deixado os sentidos do Padre mais atentos e aguçados. Ela era jovem e exalava um perfume doce de jasmim, seus cabelos longos até a cintura lembravam os cabelos das Santas que ele havia estudado. Sua boca carnuda e vermelha despertou desejo quando ela bebericou o cálice cheio de água. Ela era um diabo em forma de mulher, com curvas lascivas que o levariam à destruição. Quente. Úmido. Inferno.
“O corpo, porém, não é para a imoralidade, mas para o Senhor, e o Senhor para o corpo. Por seu poder, Deus ressuscitou o Senhor e também nos ressuscitará. Vocês não sabem que os seus corpos são membros de Cristo? Tomarei eu os membros de Cristo e os unirei a uma prostituta? De maneira nenhuma! Vocês não sabem que aquele que se une a uma prostituta é um corpo com ela? Pois como está escrito: ‘Os dois serão uma só carne’. Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele. Fujam da imoralidade sexual. Todos os outros pecados que alguém comete, fora do corpo os comete; mas quem peca sexualmente, peca contra o próprio corpo. Acaso não sabem que o corpo de vocês é o santuário do Espírito Santo que habita em vocês lhes foi dado por Deus, e que vocês não são de vocês mesmos? Vocês foram comprados por alto preço. Portanto, glorifiquem a Deus com o seu próprio corpo.”
– Amém Senhor, Amém! Deus seja louvado em toda sua magnitude e benevolência. Afasta de mim as impurezas da carne Senhor. Sou Teu servo e vivo para unicamente a Ti servir.
Ele abraçou a Bíblia no coração e apertou o crucifixo com os dedos, colocando a vela novamente em cima do criado mudo. Fechou os olhos com força e repetia as palavras lidas na Bíblia como se fosse um mantra, como se dessa forma pudesse afastar seus pensamentos humanos e masculinos. Mas o farfalhar das roupas no andar de cima lhe chamaram a atenção. retirava seu vestido e preparava-se para dormir. Seus pés pequenos faziam um barulho irritante no assoalho e Padre passou a imaginar a menina despindo-se peça por peça. Seu ombro nu aparecendo aos poucos, a roupa caindo por seu tórax e deslizando sensualmente por sua barriga, coxas até tocar o chão. Ele suava novamente e dessa vez algo a mais acontecia em seu corpo; ele pegou a Bíblia e bateu com força em cima de seu membro rígido que dava sinais de excitação. Esse desejo desvairado tinha que desaparecer.
Padre residia em Portugal há quase dois anos, e nos últimos dias tinha ficado responsável por receber as noviças da Irlanda do Norte. Não era seu forte ser um Padre professor, muito menos apresentar a paróquia para futuras freiras de dezoito anos que claramente estavam lá por pura imposição familiar. conhecia muito bem esse gênero feminino, e era por esta razão que não ficava animado em passar um dia inteiro com essas novas meninas.
em seu primeiro dia como noviça, mostrava profundo desapontamento em deixar sua vida irlandesa para trás. Portugal parecia ser mais quente e bonita do que a Igreja mostrava ser. Nos altos da montanhas a única coisa que ela via era nuvens espessas cinzas e uma grande névoa chumbo que cobria todo o chão. O som de seus sapatos negros no assoalho a irritavam de tal forma que ela pensou por um momento se não podia tirá-los e trocar por algo mais confortável. Uma sandália, por exemplo. Uma das freiras que acompanhava o caminho com elas a cutucou de forma forte na cintura quando a menina tentava arrumar seus cabelos longos dentro do lenço branco. Em uma questão de segundos de puxar o cabelo para o lado, uma pequena parte de sua nuca havia ficado exposta e isso era terminantemente proibido pois podia causar “pensamentos impuros” aos presentes. respirou fundo e amaldiçoou seus pais e aquela velha moribunda. Depois olhou para cima e deu de cara com a imagem de dois santos pintados no teto da Igreja, anjos feios que não lembravam em nada aqueles rostos angelicais e pacíficos que outrora ela conhecera. Portugal lhe dava arrepios, e sua nova vida também.
– Vocês podem sentar aqui, na primeira fila. Padre vai começar daqui a pouco a missa de fim de noite e eu devo pedir que vocês fiquem quietas em sinal de absoluto respeito. – a matriarca passava a Bíblia para cada uma das meninas sentada à frente – Após a missa devem ir diretamente ao dormitório e ali permanecerem até o cantar do galo ao amanhecer. Junto vocês também ouvirão um sino...
– Deus é o Criador de tudo e se Deus me fez nascer como ser humano na terra, significa que existe um grande talento em mim pronto para ser descoberto. Por esta razão eu sei que existe um trabalho adequado para mim, onde serei muito feliz, competente e próspera, trabalharei com amor e gratidão...
– Jasmine? – Abigail murmurou para sua amiga irlandesa ao seu lado – Está tudo bem?
– Estou rezando, .
– Isso eu consegui notar, mas reza por algum motivo especial?
– Meus pais acham que eu tenho talento para ser freira, então rezo para que os anjos me ajudem nessa busca porque, até o momento eu não a encontrei.
– Jas!
– Você não teve uma escolha e eu tive! Caso não viesse pra cá sua mãe a mataria de pancadas, ou pior, seria humilhada no meio da rua. Sabe como sua mãe católica romana não é exatamente uma grande fã de pecados da carne.
– Eu nem fiz nada, pensa se tivesse acontecido alguma coisa de verdade.
– Ainda é virgem?
– É claro que sim! – parecia ofendida – Mais virgem que essa santa freira velha com cheiro de naftalina que não calou a boca desde o momento em que chegamos. – as duas abafaram um riso.
– Interrompo alguma coisa? – a tal freira parou de frente para as duas amigas.
– Nada senhora. – ambas responderam prontamente.
– Senhorita , ontem sentimos profundamente sua falta na última missa. Padre perguntou pessoalmente sobre vossa senhoria e nós não soubemos o que responder.
– Desculpe-me, a fadiga da viagem deve ter mexido com meu estômago e eu não me sentia bem.
– Coloque suas forças no Senhor que ele lhe ajudará a manter-se em pé nas horas que mais precisa. – a matriarca sorriu, deixando aparecer dois dentes podres – Não quero mais que falte nas missas, isso é uma ordem.
– Sim senhora.
– Padre perguntando de você?
– Qual deles é o mesmo?
– O mais novo, batina mais brilhante e sorriso mais bonito. Este já tem um lugar garantido no céu só por ter nascido gato!
– Jasmine volte a rezar!
– Rezar é a única coisa que me resta agora, . Sabia que eu tinha um futuro brilhante pela frente? Fui aceita em Coimbra para estudar Direito, mas minha avó achou que eu devia primeiro passar por uma boa educação católica. E já que eu ia pra Portugal, por que não ficar um tempo numa Igreja?
– Credo, é por isso que está aqui?
– Minha avó acha que Direito é coisa do Diabo então, antes de eu me tornar praticamente a parceira do tinhoso, melhor eu aprender algo pra me defender dele.
– O que seus pais acham disso?
– Eles não se importaram muito. O dinheiro da minha educação vem toda da minha vó, ela pode me mandar até pra um campo de concentração que eles não vão se importar, desde que não saia nada do bolso deles, está tudo bem.
– Sinto muito...
– Boa noite irmãos.
– Shhhh... Padre chegou.
– É... Ele?
– Você não o viu ontem? Tenho certeza que ele estava na mesa do jantar.
– Eu vi, mas nunca pensei que fosse padre. Muito jovem e muito, – estalou os lábios passando a ponta da língua suavemente entre os lábios abertos – bonito.
– Gostoso, entendi.
– Eu não disse isso.
– Mas sua linguagem corporal disse por você. – Jasmine se endireitou no banco da Igreja e segurou a Bíblia entre seus dedos longos – Senhor me ajude a rezar porque essa missa vai ser longa.
Padre era um jovem de aproximadamente trinta anos. Havia começado cedo na vida de celibatário por decisão própria, ou do que os mais velhos gostavam de chamar, vocação. Não se dava bem na escola por ser magrelo demais, ranzinza demais e nunca se adaptou ao mundo de luxúria e diversão que seus colegas viviam. Quando teve sua primeira ereção matinal pensou que estivesse sendo possuído por um demônio e acordou assustado e suando frio, procurando a primeira coisa que pode para dar um jeito naquilo. Foi quando passou a entender seu corpo e de como não podia ter controle de tudo o que acontecia com ele. Não quis mais saber de garotas, sexo ou qualquer outra coisa que o tirasse do foco. Abandonou a escola e dedicou-se à sacristia, colocando um ponto final em qualquer desejo fora do controle que pudesse ter.
Pelo menos ele acha que pudesse controlar seus desejos, até aparecer.
– Podemos conversar com o padre após a missa? – Jasmine perguntou – Diga que sim, nem que for pra pedir benção.
– Não vejo problema algum nisso, ele está lá pra nos abençoar.
– Você vai na frente...
– Hey!
– Ele não tirou os olhos de você a missa inteira, vai logo.
– Estamos falando de um padre lembra?
– E daí? Padres também sentem coisas. Vai Abigail.
As duas noviças aproximaram-se do padre que estava de costas conversando com um dos sacerdotes sobre algo que, particularmente, não era nada interessante. não sabia se podia encostar no padre, chama-lo pelo nome, cutucar seus ombros; achou melhor limpar a garganta um pouco mais alto e dar duas tossidas forçadas. Deu certo pelo menos. virou-se e deu de cara com a menina que havia perturbado seu sono na noite anterior. Ali ela estava, exatamente como ele lembrava: lábios carnudos, cabelos longos, perfume intoxicante. Ele suou frio e suas mãos tremeram por baixo da batina. Por alguns segundos prendeu a respiração, mas viu que não ia conseguir ficar assim por muito tempo.
– Padre ? – a menina se pronunciou.
– ? – ele soltou o ar e depois balançou a cabeça negativamente – Perdoe-me, Senhorita .
– Não tem problema em chamar-me pelo meu primeiro nome.
– Temos algumas regras formais dentro da Igreja e gostamos de segui-las.
– Oh. – ela abaixou o rosto um pouco envergonhada, não tinha costume de ser formal.
– Eu não quis parecer rude com a senhorita, é só algo que...
– Eu entendi Padre, o erro foi meu.
– Hmmm... – Jasmine começou a murmurar encarando os dois à sua frente – Desculpa a intromissão, nós queríamos apenas parabeniza-lo pela ótima missa e a , opa, senhorita tinha que pedir desculpas pela ausência ontem.
– Fadiga da viagem. – fez careta.
– Imaginei, a Madre Superiora ficou desapontada ao saber que apenas nove das dez noviças participariam da recepção ontem.
– Já me desculpei com a Madre, isso não vai mais acontecer.
– Assim espero. – Padre sorriu com os lábios fechados – Vocês estão indo para os dormitórios?
– Sim, fomos instruídas a dormir cedo. – Jasmine suspirou – Obrigada pela missa.
– Deus proteja vocês.
– Obrigada Padre. – sorriu e tocou de leve o braço de , num gesto infantil e impensado. Ela fazia isso o tempo todo com pessoas normais.
– Sabia que ele dorme no andar abaixo do nosso?
– Hã? – subia as escadas com dificuldade, já que as saias da roupa de noviça eram pesadas e longas – Quem dorme embaixo de quem?
– Eu não sei quem tá dormindo embaixo de quem, mas se eu pudesse dormia embaixo do Padre.
– Jasmine pelo amor de Deus!
– Agora você tá aí falando em Deus, – ela riu – falei que dorme no andar abaixo do nosso. Mais precisamente do seu quarto, eu percebi isso ontem.
– Como sabe disso?
– Ontem eu desci pra pegar um pouco de água e vi nosso lindo padre entrando no quarto. Ele parecia um pouco aflito também, suava e passava as mãos no rosto e na testa e agarrava o crucifixo no peito.
– Será que teve um pesadelo?
– Deixa de ser tonta, pesadelos aqui temos aos montes! Algo que aflige um padre nesse estado é muito mais que um simples pesadelo, é algo mais sério.
– Algo como...?
– Mulheres? – a amiga sorriu de forma lasciva – Há quanto tempo esses homens não veem uma mulher jovem? E ontem logo de cara chegaram dez de uma vez. Tenho certeza que assombramos os pensamentos dos padrecos ontem na madrugada.
– Eles já devem estar acostumados com isso. Não somos as primeiras a chegar na Igreja e nem vamos ser as últimas.
– Mas podemos fazer a diferença. – Jasmine riu – Eu vou dormir, mas acho que você podia, sabe, dar uma voltinha no andar debaixo.
– Eu não vou fazer isso.
– É só pra ver se está tudo bem, se nosso padre precisa de alguma coisa...
– Cala a boca.
não ia conseguir dormir aquela noite. Era cedo demais, seus pensamentos estavam agitados e o quarto parecia muito mais quente do que a noite anterior. Ela levantou-se e foi jogar um pouco de água na nuca e no rosto a fim de tentar relaxar e voltar a dormir, mas seu momento foi interrompido quando ouviu o barulho de algo pesado caindo no andar abaixo do seu. Era o quarto do padre. Era .
Ela não tinha muita experiência no assunto, mas achar um homem atraente não era algo que precisava de muita prática. tinha as mãos grandes, o pescoço longo e o rosto quadrado. Alguma coisa escondida na batina e um olhar que podia parecer meigo, mas não era assim tão doce. Fechou os olhos e apoiou as mãos na pia do banheiro, fazendo careta ao lembrar-se das provocações de Jasmine e de como o Padre a chamou pelo primeiro nome e depois se desculpou. Era ridículo nutrir pensamentos assim de um homem que havia dedicado sua vida à castidade, ela não queria nem pensar em que tipo de castigo ela ia receber caso fizesse ou comentasse algo. Mas era algo que já estava em sua carne, em seu coração. Ainda de pé, entrelaçou as pernas para acalmar os batimentos cardíacos que agora estavam mais embaixo e suspirou... A sua imaginação era muito pior, porque ela não tinha controle de até onde podia ir, até onde ela podia imaginar as mãos do Padre por seu corpo, a voz arrastada e sua respiração quente em seu pescoço. Nem ela sabia de onde vinha isso, era como uma assombração que aparece do nada, sem motivo aparente e fica ali, incomodando.
Ele era um padre e ela uma menina de poucos anos.
Não, era errado.
Três horas da manhã.
A hora mais escura da madrugada.
A hora em que os anjos do inferno profanam a hora sagrada.
caminhava pelos corredores da igreja em passos leves. Seus pés descalços não a deixavam fazer barulho e ela se refrescava com o contato frio em seus pés. Os cabelos longos dançavam em suas costas e ela tocava as paredes com a ponta dos dedos, sentindo as pedras geladas roçarem de forma áspera e sua pele.
Roçar.
Ela sentia falta de algum tipo de toque.
– Senhorita ?
A menina congelou no lugar onde estava e arregalou os olhos. A igreja estava escura e ela imaginou que as pessoas estivessem dormindo. Mas aquela voz lhe era familiar, ela o ouviu discursar mais cedo por um bom tempo, depois teve o tempo de receber sua benção e ficar com uma lembrança que a incomodaria muito mais tarde. Era Padre , ou naquela hora da noite, .
Ele a tinha visto caminhar pelos corredores pela última meia hora, como se fosse um fantasma. Ela em sua camisola longa branca com rendas, os cabelos soltos e espalhando o perfume ainda novo, mas já conhecido. Os pés que saltitavam no chão como uma ninfa que escapa pela primeira vez da floresta e agora começa a descobrir um novo mundo. Seria impossível dormir sabendo que caminhava vulnerável e jovem pela Igreja, que seu corpo estava coberto por uma fina e transparente camada de pano frágil, delicado assim como a menina. O que ele não daria para tocá-la! Parecia quase um doente mental obsessivo... Ouvia histórias de padres que forçavam encontros com as noviças (e as vezes com os meninos mais novos), mas ele nunca pensou que pudesse ser um desses. Não! Forçar algo estava fora de cogitação... Mas ela era tão...
– Padre! – gaguejou nas primeiras sílabas – Pensei que todos estavam dormindo essa hora.
– Acordei com seus passos, tenho um sono muito leve.
– Eu ouvi algo em seu quarto algumas horas atrás, algo caindo. – ela media muito bem as palavras que dizia – Não que eu estivesse escutando de propósito.
– Estava rezando. – ele sorriu, e não era mentira – Acabei me desequilibrando quando fui me levantar e derrubei parte da prataria.
– Oh sim. – a menina suspirou – Desculpe eu não queria assustar o senhor, vou voltar ao meu dormitório.
– Não... – ele não controlou sua fala assim como seu pensamento – Eu que devo voltar aos meus aposentos, a Igreja é livre. Pode continuar sua caminhada noturna.
– Estou sem sono.
– Algo te aflige? – ele deu três passos à frente.
– Pensamentos. – respondeu, andando também na direção do padre.
– Que tipos de pensamentos?
– Maus... Pensamentos.
Agora ela estava mais próxima e mesmo com a penumbra da noite e os anjos parados ao lado julgando a conversa que julgava ser inocente, podia ver com mais detalhes o rosto do padre. Ele vestia uma calça de moletom cinza e uma camiseta de manga comprida preta; a roupa de um humano fazia muita diferença. Não existia a batina, não existia o peso do título de um homem santo. Só havia ali um homem.
– Padre?
– Sim?
– Por que escolheu essa vida?
– Eu fui escolhido, não tive muita opção.
– Em nenhum momento achou que fazia a escolha errada? Tantas coisas que você abriu mão.
– Deus me deu em dobro as coisas que perdi.
– Ah... – ela sorriu sem graça – Não sei se conseguiria viver uma vida assim, como a sua.
– É uma questão de comprometimento, senhorita...
– .
– Nós temos alguns tratamentos... – ele ia dizer com um sorriso no rosto, mas ela o interrompeu.
– Você está sem sua batina, não precisamos nos tratar dessa maneira.
– Dizia que, – coçou a nuca e quis mudar o assunto – algo te assombra, maus pensamentos.
– Aham. – ela se afastou – Mas acho melhor guarda-los para mim.
– Parte de minha vida é ouvir as pessoas e ajuda-las.
– Você não pode me ajudar.
– Como sabe? – ele sorriu. – Já se confessou com um padre alguma vez?
– Tive que me confessar antes de entrar aqui, então faz pouco tempo desde que fui purificada.
– Se foi purificada, por que ainda há maus pensamentos rondando seu coração? Sua alma?
– Porque eu permito ser influenciada.
Ela a olhou curioso e apoiou a mão no queixo. Ela era muito mais intrigante do que ele pensava. Ele era muito mais maravilhoso do que ela tinha notado. Tinha alguma influência naquele lugar porque em um outro ambiente nunca se comportaria daquele jeito.
Havia anjos.
De ambos os lados.
E eles rondavam as duas almas – do padre e da menina – brincando com seus sentimentos e palavras, manipulando suas emoções e desejos. Alguns anjos lutavam para controlar a carne, outros gargalhavam esperando pela consumação do pecado.
O que há de mais engraçado para anjos do submundo do que ver um servo de Deus cair?
e não eram mais eles essa noite.
Eles estavam enfeitiçados, assombrados por um mau.
O Padre pegou a noviça pela mão e a encaminhou até seu quarto. Nesses instantes era como se ele não tivesse controle de seu corpo e fosse acometido por um tipo de feitiço. Os pés pareciam flutuar e a visão turva e embaçada, ele não era mais dono de suas ações. Assim como que sentia as mesmas coisas. Seu coração não mais batia, porém ela podia sentir o sangue quente e rápido correndo por suas veias. Ela estava no quarto do padre, mas não se lembrava de como havia ido parar ali.
Eles agora eram marionetes de outros anjos.
Os de luz não conseguiam lutar nessa briga, pois os anjos da escuridão apenas brincaram com um desejo que havia ali no corpo dos mortais. Por isso não se deve expressar seus pensamentos mais obscuros em voz alta. Nunca se sabe quem pode estar escutando. Sempre podemos ser manipulados, vítimas de nossos segredos, traídos por nossas vontades.
Na parede atrás da porta, prendeu entre as pernas e deliciou-se ao beijar seu pescoço e colo, passando as mãos pelos seios da menina e abaixando o corpo até chegar na barra de sua camisola e levantá-la para cima. Ele bateu forte na parede, como alguém que tenta lutar contra as próprias ações, mas não conseguia. O crucifixo na parede tombou ficando de cabeça pra baixo.
Os dois estavam na cama, entregues aos próprios prazeres.
A menina nua contorcia-se aos toques lascivos do padre, que beijava cada parte de seu corpo com os lábios bem abertos como quem deseja abocanhar uma grande porção de comida ao mesmo tempo. Ele beijou os seios rígidos e os chupou com força, soltando um gemido alto ao sentir o sabor dela finalmente em seus lábios. As mãos desceram pela lateral do corpo pequeno e chegaram até a região íntima, que encontrava-se úmida e pegajosa. Ela inclinou a cabeça pra trás entorpecida e deixou escapar um gemido fino e longo quando dois dedos do padre a penetraram sem delicadeza alguma. não conseguia tocar o corpo dele e agarrou ambos os lados da cama e puxou os lençóis com força, contraindo os braços e o abdômen. Ele parou com os toques vendo o rosto dela se contorcer de prazer e sorriu consigo. Mordeu os próprios lábios e lambeu desde o umbigo dela até sua intimidade, parando ali um bom tempo.
começou a chupar pelos lábios. Usou as duas mãos a fim de levantar o quadril estreito dela e conseguir uma posição mais confortável. Era como um banquete exclusivo para ele. Apertou as mãos nas nádegas da menina e a chupou com mais vontade, penetrando a língua mais fundo e dando mordidas nas suas regiões mais sensíveis. Ela não parava de gritar e pedir por mais, mas ansiava pelo toque quente, por algo mais fundo invadindo seu corpo que a pudesse rasga-la ao meio. Abriu os olhos e o olhou lá embaixo, devoto como sempre. O puxou para cima pelos cabelos e ouviu um rugido vindo dele como reprovação. não parecia se importar; desceu o corpo e colidiu seu rosto com o dele, dando um beijo aberto e molhado com todas as intenções impuras que o momento permitia. As línguas quentes e ásperas pareciam não caber dentro do beijo, por vezes ela segurava o rosto dele com força e o beijava de forma lânguida no pescoço, subindo até sua orelha. Ele aos poucos foi encontrando uma posição mais confortável, sentando-se na cama e pegando a noviça pela cintura, encaixando seus corpos. Ela deslizou as mãos pelos cabelos do Padre e gemeu graciosamente no ouvido dele quando o membro duro a invadiu duas vezes com força.
Uma vez.
Uma gargalhada.
Duas vezes.
Duas gargalhas e uma vela queimada.
Três vezes.
Três gargalhadas e um anjo caído.
Quatro vezes.
Um coro de risadas e dois anjos abandonaram o lugar.
A garota encontrava-se de quatro em cima da cama, com a respiração quente de na sua nuca enquanto ele a puxava pelos cabelos, como quem doma uma fera selvagem. Ele a penetrava com força por trás e com uma das mãos livres apertava seus seios fartos e jovens, balbuciando palavras baixas ao pé de seu ouvido, mordiscando seus ombros e costas, deixando ali marcas de que algo impuro esta noite acontecia.
Ela cansou dessa posição e o empurrou para o lado, sentando em cima dele e encaixando seu membro dentro de si. Começando devagar e depois com um pouco mais de força, segurando os cabelos para trás e fazendo movimentos graciosos com os quadris, proporcionando aos dois o gozo que nenhum antes conhecia. Ele, com os olhos abertos, ergueu um pouco o corpo e sugou os seios dela, mas depois tombou o corpo para trás e a deixou cuidar da situação; era como se quisesse ter e dar prazer ao mesmo tempo. Ela não sabia como fazia isso ou quando parar. Em um determinado momento sentiu duas lágrimas escorrerem de seus olhos... O que fazia ali mesmo?
Um gemido misturado com dor escapou de ambos. Ela tombou o corpo para o lado e eles permaneceram imóveis um ao lado do outro. Dois pedaços de carne que tinham tanta vontade que não aguentaram e sucumbiram.
O relógio bateu quatro horas da manhã. A hora mais escura havia terminado e era hora dos anjos da noite recolherem sua sujeira e irem para outro lugar. Ali em cima da cama estavam duas almas que, apesar de guardarem segredos, ainda eram puras e nunca haviam caído no pecado. “Pensar não é pecado” eles achavam, mas qual a linha tênue entre a vontade de fazer e o fazer?
Quatro anjos vestidos de preto prostravam ao lado da cama. Os quatro com sorrisos satisfeitos, um deles até limpava o canto dos lábios. Passaram a mão pelos corpos nus do Padre e da noviça . Os corpos ainda estavam quentes e suados, marcados eternamente por algo que não queriam. Os anjos brincaram um pouco mais com os corpos ali, mas acharam melhor irem embora... Outro dia chegaria.
e iriam acordar a qualquer momento.
Envergonhados, confusos, machados.
Assombrados.
Os anjos foram embora com suas asas negras rasgando o céu, rindo da cara dos celestiais por terem sido tão fracos a ponto de não conseguirem segurar o trabalho deles. O desejo do homem é mais forte que o desejo de Deus? É por esta razão que todos contestaram o livre-arbítrio. É a vontade humana acima de qualquer outra; e foi apenas com isso que anjos negros brincaram essa noite. Com nossas vontades, sujas e escondidas.
Eles voltariam amanhã, para qualquer alma que permitisse ser influenciada.
Assombrada pelos seus próprios desejos.
Fim
Nota de autora: MANO QUE FIC COMPLICADA! Há pessoas que nascem com o dom de escrever fics restritas. Outras – como eu – não possuem o mínimo dom pra isso. Mas eu fiz meu melhor gente, desculpa se alguém aí não conseguiu entrar no clima, mas eu juro que fiz meu melhor lol. Enfim, obrigada pelo convite pra participar do especial da Bey, foi longo e incrivelmente engraçado. Espero que gostem dessa pequena catástrofe e, desde agora, eu sinto muito se eu ofendi alguém com essa temática rs. Beijos no coração de todas. Gi x
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