"I thought we were invincible. But now I know that the things that people in love do to each other, they remember. And if they stay together, it's not because they forget. It's because they forgive."
Proposta Indecente – Filme (1993)
Proposta Indecente – Filme (1993)
Capítulo Um
Uma arma apontada um para o outro. Beijos ardentes. Nós sabíamos bem onde estávamos entrando, quanto pior eram os dias, melhores eram nossas noites. Sua pele sobre a minha, as explosões no banco central, corridas de carro, as sirenes. Mas tudo o que fazíamos era por uma razão. Ou pela falta dela.
Queria contar histórias, mas não sabia como. Essas coisas não surgem facilmente, mesmo que tivesse muito a dizer, pois tropeçava e engasgava-se com as palavras. Mas sua maior dificuldade eram os personagens. Ele não saberia separá-los em heróis e vilões.
Tudo sempre começava em noites chuvosas, mas não dessa vez, ele poderia afirmar, uma vez que estava lá. Ele era o herói ou o vilão, mas isso não é algo para ser dado como conclusão ainda.
Era uma época de muito calor, principalmente ao meio dia. estava parado à porta de sua própria casa, permitindo que milhares de ideias diferentes cruzassem sua mente. Esses momentos haviam se tornado assustadoramente frequentes, sem que ele pudesse, no entanto, precisar quando haviam começado a se manifestar dentro dele. Como os primeiros sintomas de uma doença, ou os primeiros sinais de um vício.
Entrou. Não queria ser mais um. Andava respirando fundo e sentindo o estômago pesado com mais frequência do que gostaria de admitir. Jogou-se no sofá e colocou em qualquer canal da TV que pudesse fazer mais barulho do que seus pensamentos. Passava qualquer desenho animado em que um gato, um peixe e uma coelha eram irmãos, além de uma fatia de pão e uma banana serem colegas na escola. Pareceria idiota um homem de quarenta e poucos estar assistindo a esse programa, mas gostava, por alguma razão, de desenhos.
As pessoas à sua volta o tratavam como alguém perigoso. conhecia o próprio coração, sabia que não era um monstro. Entretanto, não ligava a mínima para o que quer que dissessem dele. Apenas a opinião de uma pessoa já importou, mas não tinha a certeza se ainda o afetaria se a ouvisse agora.
Ele se lembrou de tudo o que o levara até ali. A mulher que o ajudara enquanto saía. Era terrível ter que traí-la daquela forma. Mas não foi de propósito.
Brigaram pela arma. Um tiro... A farda sangrando no chão. Olhos brilhantes...
Soltou o ar ruidosamente.
Amaldiçoou-se por conta de como seus planos não haviam dado certo. Então decidiu que apenas esperaria pelo fim.
sempre tinha ideias mirabolantes em momentos como aquele. se perguntou por que ainda as seguia. Mas gostava de ir atrás daquelas loucuras, principalmente quando toda a cidade ainda dormia. E estavam livres, não era mais uma missão.
Sentir-se livre era algo que ele não fazia havia tanto tempo que nem se lembrava mais da sensação. Era como ser criança novamente. Um dos poucos momentos em que suas atividades não se chamavam “missões”.
— Então a gente escorrega pelo barranco, tá bom? — ela falou, sorrindo.
Quando ela falava daquela forma, ele se sentia com dez anos novamente, todo nervoso perto da menininha de quem ele gostava desde a segunda série. Era essa a sensação que o apoderava quando se entregava às ideias sem sentido dela.
— Qual é o seu nome falso dessa vez mesmo? — perguntou.
— James, eu acho... James Joint.
— É um nome ridículo — ela comentou, rindo. — Tirando o James. Eu gosto de James. Mas “Joint” não. Me dá vontade de rir.
E ela não parou de rir mesmo.
— E o seu, engraçadinha? — perguntou de volta.
— Annamaria Reid.
— O seu é bem ridículo também. — foi a vez dele gargalhar, seguido pelas risadas dela. — Você é o quê? Irmã daquele personagem malucão do Criminal Minds?
A risada de , ou Annamaria, foi ainda mais audível.
— Uau, você assiste Criminal Minds! — ela quase gritou às gargalhadas. — “Malucão” é o melhor adjetivo que eu já ouvi, nunca vou parar de rir disso!
Os dois ficaram rindo, totalmente altos, totalmente fora daquele mundo. A fumaça ainda parecia estar no ar, o cheiro definitivamente tomava conta do lugar. Eles disseram que parariam de fazer aquilo. Era perigoso, eles podiam se machucar ou ser pegos.
Não eram simples cidadãos tentando se divertir. Eram dois criminosos procurados.
Mas quem se importava com banalidades como esta?
— Eu vou descer rolando. — falou.
— E eu vou descer de costas! — berrou, já descendo.
— Tem um lago ali, e se a gente cair nele?
— A bonitinha não sabe nadar?
— Chapada, não! E eu tava falando de você, é velho demais, e sua artrose?
Ao chegar ao final do barranco, ele ficou de pé, olhando para ela e mostrando a língua.
— Eu não sou velho! Você que é uma pirralha!
— Eu não sou! — ela gritou de volta, rindo.
— É sim! Pirralha!
— E você é um malucão! — ela respondeu, caindo no chão gargalhando.
Então escorregou pelo barranco logo em seguida, sentada mesmo, em cima de um ramo de árvore.
— Não duvide de mim, ! — ela disse, fingindo mágoa, mas o abraçando pelo pescoço e beijando seus lábios. — Posso ser a pessoa que vai te destruir.
— Espera, isso já não aconteceu? — perguntou, fazendo-a rir. — Não duvido, bonitinha.
Era difícil pensar nas coisas estando chapado. Ele não queria pensar. Então apenas colocou o programa de humor mais idiota do mundo e acendeu a ponta do cigarro. Logo surgiriam as gargalhadas que substituiriam a voz dela em sua mente, chamando-o docemente. Ele não queria mais ouvir.
Não queria ouvir a policial que tentou atirar nele ao descobrir seu plano de fugir. Mesmo contando os detalhes, ela não acreditara.
queria apenas ir embora dali. Não queria ser o “ex-fora-da-lei que agora ajudava a polícia”. Não queria ser quem trairia seu ex-bando. Não por eles, mas por ela, que ainda estava trabalhando para eles. Não queria ser o bandido nem o mocinho, mesmo depois das coisas ruins e das coisas boas que fizera.
Queria apenas paz.
Aqueles demônios precisavam sair de dentro de si, era o que ele mais queria.
Fazer parte daquele meio poderia ser assustador para uma pessoa comum, mas não para . Ele já não sentia mais medo, apenas desprezo pela maior parte daqueles malditos.
Sua nova missão era roubar aquele enorme banco. Então assim ele o faria. Mas agora ele tinha uma motivação ainda maior. Apenas sabia disso, ninguém mais. Ele fizera questão de contar. Mesmo que ela o traísse depois, se assim fizesse, mas sentia que ela precisava saber a verdade diretamente dele.
Tudo preparado. O cronômetro mental fora acionado na cabeça de cada um deles, enquanto contavam os segundos.
— Isso é um assalto, mas, por favor, todos permaneçam calmos — Paul, o Charmoso, iniciou o assalto do modo John Dillinger que sempre forçava. — Vocês, senhoras e senhores, não são o alvo aqui. Fiquem calmos e tudo ocorrerá bem.
Então o maldito sorriu. Ele sempre fazia tudo aquilo, o roteiro também já estava na mente de , junto dos segundos que corriam e de seu próprio plano pessoal, que precisava dar certo a qualquer custo. Mesmo que custasse a vida de um dos seus comparsas, nenhum deles valia o chão que pisava, de qualquer modo, seria um favor. Mas não era a intenção principal ali. Só não queria reféns feridos nem mortos, ele preferia ver o próprio sangue escorrer pelo chão do Banco Central.
A explosão e abertura da porta foram rápidas. Sem alarmes acionados ainda. Ainda.
Então começaram a recolher o dinheiro do banco com a rapidez e o profissionalismo de poucos grupos no país. Eles eram grandiosos e sabiam disso. Nem se davam ao trabalho de evitar que subisse à cabeça, pois já eram totalmente controlados pelo poder.
não estava com eles.
Tanto melhor.
dirigiria o carro. Mas ele tinha planos melhores. Ao saírem do banco, ele foi o primeiro, trancando as portas atrás de si e seguindo com seu plano. Aquilo atrasou os outros, que não compreenderam, mas que não conseguiram mais vê-lo assim que as portas foram abertas.
Tarde demais para eles, o alarme fora acionado. O carro ainda estava lá fora, mas, eles ainda não sabiam, sem nem mesmo uma das notas roubadas. O carro estava vazio. estava bem longe dali. era conhecido por sua rapidez e seu modo impecável de realizar as missões. Então usou suas habilidades a seu favor, traindo os companheiros e fugindo de suas vistas.
Logo em seguida, ele caiu nas mãos da polícia.
olhou para o relógio, parecia cedo demais. Provavelmente ninguém sabia o que havia ocorrido na garagem da unidade. Ele esperava que fossem mais rápidos. Malditos imbecis.
Ele se lembrava de quando começara a trabalhar ali. Não fora fácil, ninguém confiava nele, mas não queria ser amado, não queria a confiança deles, apenas queria realizar o trabalho em paz. Assim o fez durante muito tempo, até que sua missão fora a mais ingrata de todas.
Seu alvo agora era outro. Ela provavelmente crescera dentro do grupo de tal modo que se tornara importante na visão dos agentes da polícia. Ela sabia bem como fazer tudo aquilo. Era habilidosa como ninguém. E muito astuta.
O nome dela em cada página daqueles relatórios.
— Alvo Principal.
Capítulo Dois
o procurara por todos os lugares. O maldito era como fumaça. Era bom com disfarces, imitações, esconderijos. Ela admirava isso nele, no entanto. Um desgraçado, mas o melhor que conhecera em toda sua vida.
A mulher entrou no bar sozinha, sentando-se ao balcão. Sabia que ele estivera ali, então sondaria aquelas pessoas estranhas. Precisava da verdade, apenas. Ele era sua missão. E ela detestava falhar. Sabia bem que estava sob a mira dele também, mas ela havia aprendido bastante com ele durante o tempo em que estiveram juntos. Disfarces também eram seu forte. Ainda assim, sabia que ele a reconheceria de qualquer lugar.
Suspirou, pedindo uma bebida. Ele ainda estava em seus pensamentos, mas ela tentava pensar friamente. Fingia que não se lembrava de nada, andava por entre seus colegas com a melhor das posturas, pois não lhes daria o gosto de vê-la de nenhum outro modo, com nenhuma outra expressão que não a de determinação.
As armas que carregava pareciam formigar, não era para ser assim.
“Merda, !”
O chefe não estava nada satisfeito com todas as missões que eles falharam ao saírem atrás de , por isso a mandara desta vez. Ele queria testar sua competência. Ela sabia que, caso falhasse, poderia ser seu fim. Aquele maldito Armstrong não confiava nela, achava que ela havia ajudado na traição.
Mas admitia seu talento.
Não que ele estivesse errado. Ela quis, e muito. Mas não conseguiu, teve medo. Medo da morte. Algo que a faria rir, caso pudesse encarar seu antigo eu, pois agora já não temia mais a morte. Temia muito mais a vida e todas as terríveis possibilidades que ela oferecia.
Às vezes se arrependia de não ter levado adiante a ideia. Matar todos aqueles miseráveis e fugir com seu grande amor. Um verdadeiro filme. Mas a vida real era muito mais difícil, não era? Bem, pelo menos deveria ser.
Música tocava no lugar. Dessa forma, seus pensamentos incomodavam menos. Era terrível se lembrar da voz dele às vezes. E tudo o que ela precisava era de um pouco de System of a Down por todo o lugar.
I cry when angels deserve to die.
Ela gostava desta frase. Por alguma razão, aquilo a tocava tão profundamente que ela dificilmente ouvia aquela música uma única vez.
Sua missão a esperava.
pegou seu carro, dirigindo sem parar pelas estradas agitadas da cidade. Se questionava se ele estaria mesmo ali, mas sabia que sim. Apenas não combinava nem um pouco com a personalidade de . Ele era alguém muito mais pacato.
Mas o filho da puta era mesmo esperto. Uma cidade agitada e com milhares de esconderijos era o lugar perfeito. Ninguém jamais o encontraria em uma das maiores e mais movimentadas cidades do país. O maldito plano perfeito.
o aplaudiu por um instante. Ele realmente sabia o que fazia, mesmo quando fugia dela. Se bem que, na verdade, não considerava bem como se ele estivesse fugindo dela. Ele estava fugindo da morte, o que era bem apropriado, na verdade. não era burro, ele sabia quem estava atrás dele. Para evitar que um tentasse matar o outro, resolvera desaparecer.
— Eu vou te encontrar, amor — falou consigo mesma. — Eu prometo isso a você. Mas haverá uma pequena mudança de planos. Precisamos descobrir quem é o covarde entre nós dois.
O carro ia a toda velocidade pelas ruas. o havia procurado e rastreado o bastante, mas tinha um último palpite e desconfiava estar certa. Sua intuição não era tão boa, mas sua pesquisa era sempre impecável, e sua dedução era ainda melhor.
sabia o que fazia.
Ele observou longamente a mulher ao seu lado. era adorável dormindo. Contudo, precisou acordá-la, havia um dia inteiro pela frente. Precisavam fazer o que devia ser feito por alguém.
Correndo pelos becos, eles estavam perseguindo aquele traidor.
— Ele não vai muito longe — comentou com deboche. — É um idiota, o pior de todos, nunca foi bom fisicamente.
— Vivo ou morto? — perguntou para ela. — Foi o que disseram?
— Vivo ou morto.
— Para ele, acho que morto é melhor.
virou-se para e o encostou contra a parede. Os rostos bem próximos.
— Com pena dele, amor?
deixou um sorriso torto moldar seus lábios.
— Vai me punir, bonitinha?
Ela o largou, mas teve o braço puxado e as posições invertidas. Ela contra a parede, ele com um sorriso malicioso. Então beijou os lábios de , não importando onde estavam nem o que estavam fazendo. Pro inferno com traidores. Podiam dizer que ele havia simplesmente fugido. O que não era nenhuma mentira.
— Você não sabe ser apropriado — ela zombou, beijando o pescoço do homem.
— Infelizmente ou felizmente, você tem razão. Foda-se aquele rato — disse, beijando-a com voracidade.
— Mas ele é um traidor... — ela disse, entre um beijo e outro.
— Eu estou falando do Armstrong.
— Você parece chapado.
— Talvez você esteja certa nisso também — ele riu.
Beijaram-se novamente naquele beco à luz do dia. Eles simplesmente não ligavam para regra alguma. Tinham suas próprias regras.
esperava no sofá como quem espera a morte. E ele muito provavelmente não estava errado. A qualquer momento, em qualquer formato ou com qualquer roupagem a morte poderia aparecer.
Havia um poema sobre a Amiga Morte que não saía de sua morte, mas que ele não conseguia exatamente reproduzir. Apenas lembrava-se de sua ideia. O poema estava lá, a ideia do poema, mas não suas palavras em si. estava completamente alto, até o modo como piscava os olhos atraía sua atenção, para perder-se em um fio não-contínuo de raciocínio até desaparecer. E então voltar à sua mente.
Tudo estava confuso demais para se lembrar de . Entretanto, lá estava seu rosto. Completo, sólido, e não despedaçado como o poema de que tentava se lembrar. Não. Jamais esqueceria aquele rosto. E provavelmente seria a última coisa a ver antes de partir.
Ela o chamava de dramático. Ele sempre ria, achando que ela estava errada. Mas ele gostava de se jogar intensamente em coisas sem sentido. Se estivesse ali, dentro de sua mente, ouvindo seus pensamentos, ela estaria gargalhando da cara de . E ele daria tudo para poder ver esta cena acontecer.
Três batidas na porta. Ela estava certa. Sabia que estava. Não havia nenhum outro lugar da cidade por onde não procurara. encontrara .
A porta se abriu lentamente. De lá, uma velhinha simpática saiu sorrindo.
— Sim? — ela disse com sua voz fraca.
se sentiu desconsertada. Era um rosto diferente que ela esperava ver.
— Eu sou do FBI, estou procurando por uma pessoa — mentiu e mostrou o falso distintivo. — Estou procurando por um homem alto, quarenta e poucos anos... — descreveu-o mais um pouco, meio detalhadamente, para que a velhinha pudesse dizer algo, ou ter alguma reação que entregasse que ela sabia de algo. — A senhora o viu?
No rosto da senhora idosa não havia nada.
— Desculpe... Eu não o vi...
balançou a cabeça afirmativamente, quase desistindo.
— Tem certeza? Pelas ruas... Não sabe onde posso encontrá-lo...?
A idosa pensou por um instante.
— Acho que o vi no centro da cidade. Ele estava de chapéu... Seguiu pela avenida...
E assim, conseguiu as coordenadas para o lugar onde poderia encontrar seu alvo.
Não deveria ser dessa forma. Eles deveriam estar bem longe dali, mas era assim como seria. Todavia, ela tinha um plano. E, dessa vez, era infalível e inadiável. Era como deveria ser. Uma última vez as coisas precisavam funcionar.
— Obrigada, senhora. Passar bem. E tome cuidado ao andar por aí sozinha. Boa tarde.
se repreendeu ao sentir o peito cheio de esperança novamente. Suas mãos suavam de nervosismo. finalmente seria encontrado por ela, como deveria ser. Revê-lo havia causado certa expectativa dentro dela.
Aquele era o ápice, a melhor parte de tudo. Quando as coisas ficavam extremamente engraçadas e divertidas. Talvez depois viesse a “bad”, entretanto, aquilo nunca acontecia com ele. O programa de humor já havia acabado, restando apenas aqueles desenhos animados imbecis.
se contorcia de rir no sofá, sentindo os olhos lacrimejarem de tanto que ria daquelas babaquices. Um cara com bigode e roupas de... De onde mesmo? Mais gargalhadas vieram. Zapeando pelos canais, aquele filme do vampiro que tinha uns... Quinhentos anos. não conseguiu se segurar e gargalhou ainda mais.
— Quinhentos anos, puta que pariu — ele gritou de tanto que gargalhava. — Que merda de vida, viver quinhentos anos! — E continuou a gargalhar com o pensamento.
Cada minuto demorava vinte em sua mente. Parecia tarde demais, como se fosse anoitecer, mas apenas dez minutos haviam passado.
Seus pensamentos não tinham mais espaço contínuo. Apenas fragmentos de preocupações. Era muito mais legal rir dos filmes e desenhos que passavam na TV, assim ele conseguia se divertir. Era uma diversão falsa, ele sabia. Talvez não se lembrasse de todas as risadas. Aquela era uma merda que ele estava disposto a parar. O tempo passava.
Logo passaria uma hora. Uma hora e meia. Duas.
E ele já estava cochilando, quando ouviu o carro do lado de fora de sua casa.
As três batidas secas na porta o acordaram. Os efeitos já haviam passado em sua maioria, apenas a fome e o cansaço haviam restado.
Arrastou-se para fora do sofá silenciosamente. Eram eles. Ele sabia disso. Pensou em não abrir a porta. Que arrombassem, se quisessem. Tudo o que ele pensava era em jantar e dormir. Dormir para sempre. Viajar para outro plano. Talvez morrer.
Observou pelo olho-mágico quem era.
Sentiu o mundo parar por um instante ao notar quem estava na porta. Arregalou os olhos e, de imediato, tirou a tranca da porta, girando a chave e abrindo-a.
— Finalmente te encontrei, amor.
— — ele sussurrou, sorrindo torto.
Ela seria seu melhor fim.
Capítulo Três
Ela contou sua trajetória até ali para . Ela fora a enviada para acabar com ele.
Vivo ou morto.
Era previsível, na verdade.
Eles estavam vindo. Ela já sabia de tudo. não parecia impressionada. Ela apenas ouvia a tudo o que contava e parecia analisar cada palavra. Então o observou de um modo que ele não compreendeu.
— . Esse não é o meu plano — ela disse.
— Como assim?
— Eu não vim até aqui matar você.
Fitou-a quase que com ironia. Ela falava como se matar fosse a mais fácil das tarefas. E ele gostava do poder que ela exalava quando falava desta forma. Era impressionante como ela era segura até mesmo em situações como aquelas.
— É a sua missão, não é? São os planos...
— Não. Você está errado. Eu não vim até aqui por causa do Armstrong. Eu não vim até aqui por causa de nenhum deles. Mudança de planos, queridinho — respondeu calmamente.
não entendia o que aquilo significava, ela não estava ligando a mínima para nenhuma regra. Nem a polícia, nem os bandidos. Apenas e sua mente única. Ele não se opôs, gostava da ideia de fazer Armstrong sangrar os punhos contra as paredes de seu luxuoso quarto para descontar o ódio que sentiria deles dois. Era uma imagem tentadora e ele gostaria de ser o causador dela.
— Eu acho que matei uma policial — ele falou.
— O quê?
— Eu disse que precisava largar tudo. Expliquei meus planos. Pensei que ela estava do meu lado ali, achei que fosse entender...
— E você se enganou, . Não pode confiar nas pessoas dessa forma... Mas matar...
— Eu sei — ele disse, cortando-a. — Foi um acidente. Eu queria tirar a arma das mãos dela, quando ela tentou atirar em mim. Briga corporal. Gatilho.
— Que merda, ! E agora? Como vamos nos livrar disso? — ela perguntou, levantando-se. — Cacete... Eles devem estar atrás de você! Eles estão vindo, eu sei disso. Posso sentir o cheiro daqueles... É uma surpresa não terem te encontrado ainda...
— Eu não queria matar aquela mulher. Foi um... Merda... Foi um acidente!
— Onde o tiro pegou?
Ele a olhou confuso com a pergunta. Não saberia responder aquilo.
— Eu não sei... Eu fui embora, não fiquei olhando... Sei lá...
— Ela pode não estar morta, o que ameniza um pouco as coisas. Talvez não seja grave.
— Que seja, eu não vou a lugar algum, de qualquer modo. Então... Que venham todos. Que venham policiais com sangue nos olhos em busca de vingança por sua companheira. Que venha o próprio Armstrong, ele sempre foi o melhor em execuções. Foda-se. Foda-se essa merda. Eu vou fumar minha erva e esperar esses desenhos ridículos na TV explodam meus miolos.
— Que merda você tá falando, ? — ela quase gritou, vendo o cigarro apagado no cinzeiro. — Você tá chapado? Eu devia ter desconfiado...
Ela suspirou, balançando a cabeça negativamente. devia ter desconfiado. Os olhos meio fechados, a cara de sono, ele sempre trocava de roupa ao chegar a casa. Ela deveria saber. Os programas idiotas que ele nunca assistiria sóbrio, mas que jurava amar quando naquela situação.
sentou-se e liberou o ar ruidosamente. Então o encarou.
— , o plano é o seguinte: você pega o que tiver de pegar, entra no carro e desaparecemos do país. Você fala quinze idiomas, isso não seria um problema pra você, huh? — ela explicou. — Nós só precisamos sumir deste estado aqui o quanto antes. Cruzar o país inteiro, se necessário. Outros nomes, outras vidas... O que você acha?
Ele a observou de modo débil, como se não estivesse mesmo ali. Sua mente parecia viajar enquanto as palavras dela entravam em seus ouvidos. Sua mente pareceu oca por um instante, mas ele compreendeu cada sentença.
— , olha... Eu não sei se quero fazer isso...
— , eu tenho tudo planejado. Você não pode desistir assim. Não agora! Depois de tudo o que fizemos! Eu finalmente consegui me livrar do Armstrong... Eu sei o que estamos fazendo.
Ele negou com a cabeça. Não queria mais viver daquela forma. Queria paz.
— Eu não sei... Viver como fugitivos... — disse. — ...
— Você é mais difícil do que eu lembrava, .
Se perguntassem, ele admitiria que preferiria quebrar as leis ao lado dela a obedecê-las sozinho. Mas, se dariam um novo começo às suas vidas, perdoando e esquecendo, então poderiam desconsiderar as boas e más atitudes.
Ou assim acreditava. De alguma forma, ela havia traçado a ideia de que seus crimes poderiam se tornar erros do passado. Tudo poderia ficar para trás.
É tão estranho impor a si mesmo um papel. Bom ou mau. Vilão ou herói. Tendemos a justificar nossas ações, colocando-nos ao lado dos bons. Entretanto, quem são os bons? E se tudo tiver uma justificativa, mas não for “enquadrável”? Ninguém é totalmente bom ou ruim. Temos pedaços que valem a pena salvar e pedaços que valem a pena corrigir. Somos variações, nunca o resultado final. Construímos um pedaço a cada dia.
Por que é tão difícil se perdoar?
E por que é tão fácil sentir pena de si mesmo?
O que somos, afinal?
sempre se perguntava se merecia redenção. E logo em seguida se perguntava por que não mereceria. Ele não estava errado ao fazer tais questionamentos. As atitudes humanas podem ser simples como o “sim” e o “não”. Por outro lado, também podem ser mais abstratas e complexas do que isto. Para alguns problemas podemos dar respostas imediatas. Para outros, no entanto, é preciso refletir.
Perdoar é um trabalho de uma vida.
Esquecer é um exercício diário, é colocar outros pensamentos em cima do que nos atormenta até que o sufoquemos. Por hora.
e precisariam recomeçar. Poderia ser fácil ou difícil, mas precisariam de muito mais do que respostas simples. Eles haviam feito coisas de que se arrependiam, mas não haviam sido cruéis em seu percurso. Alguns roubos, é verdade, mas não se lembravam de crueldade durante o percurso.
Era muito difícil ser desumano para alguns ali dentro. Por isso ele saiu. Era difícil ter que se voltar contra os “traidores”. o compreendia. Ela se sentia da mesma forma. Deixava que fugissem e depois inventava pretextos.
Haviam feito muitas coisas, não eram os heróis da história. Mas a punição do mau, a vitória do justo e o resgate ao inocente eram papéis muito simples em uma peça complexa.
As sirenes se aproximaram da casa. Dentro desta, os sons dos programas imbecis de TV que jurava amar quando estava triste ou chapado poderiam ser ouvidos. Ele gostava de volumes altos.
— , saia da casa com as mãos para cima — um policial falou com certa calma no megafone. — Repito, saia da casa com as mãos para cima.
Ele não saiu. Gostava do modo difícil.
Os policiais não mencionaram . Não sabiam de sua presença ou relação com aquele que procuravam. Vantagem para ela.
A policial estava ferida no banco de trás. Ela o conhecia relativamente bem, sabia que ele não havia disparado o gatilho. Sabia que ela mesma o havia feito. Pensou que conseguiria acertá-lo e evitar sua fuga. Agora estava ali, acompanhando a prisão dele. Tentaria fazer com que ele não fosse muito maltratado. não era uma pessoa ruim.
O tiro de raspão ainda doía. O desmaio fora instantâneo, pois, mesmo sendo estranho para uma policial, ela tinha muito medo de levar um tiro. Ao ouvir o som da arma disparando, acreditou que estaria morta.
Os policiais estavam apreensivos, tentariam negociar com o homem. Dois deles se aproximaram da porta e bateram com paciência. Tocaram a campainha. Esperaram.
— ? — perguntou o policial.
Então olhou para o superior, logo atrás, que assentiu com a cabeça. Dois homens vieram com equipamentos prontos e, segundos depois, a porta fora aberta.
No interior, os policiais observaram com surpresa o que havia lá.
Vazio.
Ele acreditou quando ela disse que tinha um plano, afinal, sempre tinha um plano. Agora não poderia mais chamá-la dessa forma. Pelo menos não em público. Seus novos nomes pareciam mais discretos também.
abriu a porta do quarto e sorriu com a visão.
— Senhora Brenda Lewis? — ele perguntou, sorrindo.
— O senhor está muito elegante neste terno, senhor Tyler Lewis — ela respondeu com o mesmo sorriso, sentada à janela, lendo um livro.
— Minha linda ...
Ela usava um vestido cor-de-vinho que lhe caía muito bem. Ele sorriu.
Eles tinham um jantar naquele restaurante que adoravam. Era o encontro perfeito.
Sempre haviam ouvido coisas encantadoras sobre as noites italianas, agora tinham a oportunidade de viver e conhecê-las de verdade. Não fazia frio nem calor, o clima certo para a data certa. O casal Lewis agora poderia viver daquela forma. Longe de tudo, sem fugir de ninguém.
— Então acho que ela acredita que nós dois somos membros oficiais que trabalham a serviço do país, que tola — comentou.
— Pena que somos apenas estes dois empresários importantes, dividindo os negócios em família... — comentou. — Logo vão perguntar sobre herdeiros.
— Então nós nos mudamos para outro país — ela brincou.
Enquanto conversavam no restaurante, brindaram à vida, que andava excelente. Suas risadas agradáveis e discretas pareciam preencher o lugar.
E, se fosse um filme, a câmera se afastaria dos dois lentamente, enquanto eles permaneceriam entretidos com suas conversas animadas, e o expectador os veria cada vez mais distantes, podendo agora ver a fachada do restaurante, e os dois na janela do mesmo. Então a rua. E a cidade inteira, que pertencia a e pelo tempo que precisassem.
Fim.
Nota da autora: Eu confesso que amei escrever esta fic. Queria agradecer ao meu muso inspirador, porque, como sou autora de femslash, ele tem me ajudado muito a escrever fics hétero. hahaha
Espero que tenham curtido. Lembrando que eu sou a louca do final feliz, então... Sorry. xD
Beijo!
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Espero que tenham curtido. Lembrando que eu sou a louca do final feliz, então... Sorry. xD
Beijo!
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