Capítulo Único
Assim que a campainha tocou, deu uma última conferida em seu visual no espelho. Seus cabelos ondulados estavam cuidadosamente penteados e caindo sobre seus ombros, o vestido levemente rodado dava o ar vintage que a garota sabia que ele tanto gostava, as sapatilhas mocassim equilibravam o visual entre retrô e despojado e o batom cor de rosa a deixava como uma boneca. Estava simplesmente perfeita.
Tentando segurar a ansiedade, caminhou em direção a porta pela casa silenciosa. Respirou fundo e a abriu, encarando o par de olhos esverdeados mais lindo que ela já tinha visto em toda sua vida. Clichê, ok, muito clichê. Mas a vida é um clichê, então do que podemos reclamar?
O garoto tinha as mãos no bolso do casaco preto da Aeropostale que tinha usado no dia em que deram seu primeiro beijo, como bem lembrava, e timidamente sorriu para ela, sendo retribuído imediatamente. A garota sentiu seu corpo gelar da cabeça aos pés e por alguns segundos, enquanto ficavam nessa mesma posição, passou pela sua cabeça que deveria ser a adolescente mais feliz dos Estados Unidos.
— Vamos? — Ele perguntou, quebrando o silêncio.
— Let’s go! — Ela não tirou o sorriso do rosto e atravessou o jardim da frente de sua casa em direção ao Chevrolet conversível do rapaz, que como um cavalheiro abriu a porta do passageiro para que a menina pudesse entrar.
— Esse é o último parque, certo? — Ele questionou logo após dar a partida e colocou óculos escuros Ray-Ban, já que o sol do fim da tarde batia diretamente em seus olhos. A garota contou mentalmente e respondeu, meio desapontada:
— Acho que sim, ...
e eram, digamos, alternativos. Era o jeito que eles gostavam de fazer tudo. Tinham ideias diferentes de coisas para fazerem, como a da vez, que era ir no máximo de parques de diversão que conseguissem durante as últimas duas semanas e meia de férias. Durante esse período, dezenas de parques surgiam pela região do estado que moravam e, pelos planos da garota, o casal estaria em todos. Claro, isso era meio impossível, sendo que os parques só abriam pelo fim da tarde e ele queria acrescentar o desafio de irem em todas as montanhas-russas de cada um, que tinham cerca de três, sem contar que eles enchiam muito conforme a noite ia chegando e que a garota às vezes tinha um pouco de medo.
Para , tinham sido os melhores fins de tarde de sua vida. Cada arrepio e grito nas descidas da montanha russa, cada fila quilométrica enfrentada, cada engarrafamento enfrentado a caminho dos parques, cada minuto no conversível vermelho do namorado e cada segundo ao lado de tinha sido perfeito, por mais que eles esquecessem da noção do tempo quando estavam juntos. Ela poderia repetir isso cada santo dia até o fim de sua vida, que nunca se cansaria. Ah, sem contar em cada vez que o vento batia em seus cabelos e de e os bagunçava e a risada do rapaz quando isso acontecia. Eles se sentiam distantes de tudo, livres.
Uma das mil e uma belas paisagens da costa oeste estava à esquerda deles, com o sol batendo no mar azul e deixando tudo ainda mais lindo. O vento batia e bagunçava o cabelo dos dois, fazendo todo o trabalho que ela tinha tido para pentear seus cachos ter sido em vão. A garota, porém, não se importava. Era um momento com ele, nada fazia diferença agora.
— ? — Ele a chamou, tirando-a de mais um de seus constantes devaneios. — Tem uma coisa que não lembro se te disse hoje...
— O quê? — Ela piscou os olhos repetidamente, sentindo o sol virando para o seu lado. Percebendo isso, tirou seus óculos escuros e entregou a ela.
— Você é tudo para mim, sabia? — Ele sorriu e ela corou, devolvendo o sorriso, tímida como nunca. O namorado sempre dizia isso a ela, que se sentia totalmente fora do ar quando isso acontecia.
— E você é tudo para mim. — Ela disse o mesmo, arrancando um sorriso radiante do garoto. Era meio raro dela devolver, já que tinha seus ataques de timidez.
Ao longe, já se via o Cotton Candy Park, com o letreiro colorido em neon e — para dar uma pontada de desespero em — uma montanha russa realmente alta (e tão colorida quanto o letreiro). Até mesmo arregalou um pouco os olhos e imaginou que deveria ser as mais alta que eles iriam.
— Oh God... — Ela sussurrou, tentando buscar alguma coragem dentro de si, assim que estacionaram. O estacionamento do parque não estava muito cheio, porém não estava totalmente vazio, o que era bom.
Entraram sem pegar fila e logo de cara quase tropeçou em um garotinho que carregava uma pelúcia do Nemo e sujava a roupa toda de sorvete de chocolate, arrancando risadas da namorada, a fazendo tranquilizar um pouco.
— Quer ir logo? Ou quer um bichinho da Disney antes? — Ele indicou com a cabeça uma barraquinha de “Acerte O Alvo” amarela, de onde uma menina de uns seis anos saía saltitante carregando uma pelúcia do Linguado, o peixinho amigo da Pequena Sereia. Ela riu do namorado e deu um tapinha de leve em seu braço, mas logo o puxou para a barraca.
Umas cinco crianças acompanhados de seus pais aguardavam ansiosamente sua vez na fila, enquanto o pai de duas garotinhas tentava ganhar uma pelúcia da Cinderela. O menino na frente do casal derrubou molho de cachorro-quente na camiseta dos Carros e eles se encararam, rindo logo em seguida.
— Não acredito que estamos realmente fazendo isso! — Ele passou a mão pelos cabelos claros, que voltaram para a mesma posição logo em seguida. — Eu te trouxe para morrer de medo na montanha-russa e ficar se agarrando em mim, e não para competir por um brinquedo com criancinhas! — Ela revirou os olhos, sem parar de rir.
— Ei, veja bem quem está aqui! — Uma voz feminina familiar veio de trás deles, que se viraram imediatamente. Uma ruiva alta acompanhada de um ruivo igualmente alto parecia impressionada, assim como o garoto.
— Mel! Jordan! — Ela os reconheceu e eles cumprimentaram os amigos com um abraço.
— Mas veja bem... não sabia que ainda estavam juntos! — O rapaz arregalou os olhos, revelando que realmente estava surpreso.
— Ué, temos motivos para não estar? — perguntou, meio confuso. Sempre falavam isso a eles, mas o casal nunca entendia o porquê.
— Não, não foi isso que eu quis dizer! É que... bem... sabe... — Ele abaixou o olhar para o tênis azul, meio embaraçado. — Não é por nada, mas ultimamente não é todo namoro que dura muito, e vocês namoram há um tempo, então imaginamos que...
— Ah, sim. Entendo. — logo o cortou, meio irritada. — Mas não se preocupem, continuamos firmes e fortes nesses seis meses, e provavelmente continuaremos assim. — Mel corou fortemente, muito envergonhada e timidamente se despediu e saiu de perto junto com Jordan.
— Não precisava ter falado assim com eles, . Até parece que nunca nos disseram isso... — passou as mãos pelo cabelo da namorada, tentando acalmá-la enquanto avançavam na fila.
— Mas nunca realmente nos disseram o motivo! — Ela bufou, revirando os olhos. — Não é o namoro de todo mundo que dura, mas acho que passe o tempo que passar eles não entendem que nós não somos todo mundo!
— Você pareceu minha mãe falando isso... — Ele tentou fazê-la rir, mas acabou recebendo um tapa mais pesado no braço. — Ei, calma! As crianças vão ficar com medo de você! — Ele apontou para o mesmo garotinho que tinha derrubado cachorro-quente e agora jogava no celular do pai, ignorando completamente os adolescentes. deixou escapar uma risadinha enquanto o pequeno e o homem iam tentar ganhar uma pelúcia. Eles eram os próximos da fila, agora.
Assim que os dois saíram da barraquinha e o menino chorava por não ter ganhado nada, o homem (que parecia um português, na cabeça de ) que a comandava os chamou. Assim que viu que se tratava de um casal de adolescente, arqueou uma das grossas sobrancelhas e perguntou, estranhando:
— Vocês não são meio grandinhos para brinquedos da Disney? — Sua voz grossa e seu sotaque de... bem... português fez a garota ter que segurar o riso.
— A idade não importa na Disney, tio! — deu um sorriso infantil e a namorada não se segurou e caiu na risada. O homem revirou os olhos e sussurrou “Adolescentes...”, antes de ligar a máquina e seis planetas alinhados e apoiados em madeiras subirem e uma musiquinha irritante começar a tocar.
— Vai aparecer um alienzinho e com essas três bolas vocês tentam derrubá-lo. Se conseguirem, ganham a pelúcia! — Ele entregou a três bolas azuis de borracha. — Estão prontos?
— Como nunca! — O rapaz deu uma piscadela para a garota e o português apertou o botão de “start”.
fechou um dos olhos e pôs a mão esquerda na frente da direita como quem tenta mirar. O alien apareceu primeiro entre os dois primeiros planetinhas da direita e o garoto imediatamente atirou, batendo a primeira bola nos planetas do outro lado. Em seguida, ele apareceu no centro do segundo da fileira de baixo, bem no meio, e o rapaz atirou por cima de todos os planetas.
— Me dá isso aqui! Você é muito frouxo... — tirou a última bola das mãos do namorado e fez a mesma posição que ele havia feito antes.
O alienígena apareceu, nessa última vez, no primeiro planeta da esquerda e ela desfez todo o esquema de miragem antes de jogar e o derrubar. Uma plaquinha luminosa de “Winner” surgiu exatamente onde ela atingira o alien e pulou de alegria, como fizeram as menininhas da pelúcia da Cinderela, arrancando risadas de . Realmente, eles deviam ter tirado o dia para serem infantis.
— Eu quero um Mike Wazowski! — Ela disse animada, apontando para o monstrinho verde pendurado junto com vários outros bonecos da Disney. O homem da barraca o entregou a ela, que o abraçou forte.
— Nossa, parece que agora vou ter que dividir seus abraços com um bichinho de pelúcia... — se fez de ofendido, enquanto eles caminhavam em direção a montanha-russa.
— Não, os abraços são realmente só do meu Mike... — apertou ainda mais a pelúcia. — Mas posso fazer algo mais com você... — Ela o puxou e colou seus lábios nos dele, em um beijo nada adequado para as crianças que eles pareciam antes. O brinquedo caiu das mãos da garota e ela as colocou em volta do pescoço dele, intensificando o beijo. O tempo parecia parar quando se beijavam daquela maneira e eles só se afastavam quando o ar realmente faltava.
— Uau. — Ele disse quando se afastaram, ofegantes. — Pode abraçar o Monstros S.A. aí o quanto quiser! — E passou a mão nos cabelos displicentes.
A garota sorriu, o puxando para a fila da montanha-russa, que já embarcava no brinquedo. Os carrinhos eram de fato réplicas de carros reais e como se lessem o pensamento um do outro, logo procuraram um Chevrolet conversível. Assim que se sentaram e uma assistente arrumou a trava de segurança e o casal a segurou, ele virou-se para ela:
— Nervosa?
— Com frio. — passou as mãos pelos braços nus, se arrependendo de não ter pego um casaco. tirou o seu Aeropostale e colocou nos ombros da garota, que logo os vestiu. — Você vai ficar com frio...
— É tanta emoção que não dá nem tempo para eu conseguir sentir o frio! — Ele deu uma piscadela para a namorada, que deu uma risadinha.
N/A: Aqui você já pode dar o play na música.
O brinquedo foi ligado e os carrinhos começaram a andar. Nervosa, colocou sua mão sobre a de e a apertou. Uma música conhecida dos dois começou a tocar e ela acompanhou os versos.
Our love runs deep like a chevy
If you fall I'll fall with you baby
Cause that's the way we like to do it
That's the way we like
You run around open doors like a gentleman
Tell me girl every day you're my everything
Cause that's the way you like to do it
That's the way you like
Os carrinhos começaram uma subida que se tornava cada vez mais íngreme. Conforme subiam, ela apertava mais a mão do namorado, ansiosa.
— Sabe, essa música poderia ser a nossa... — Ele tentou puxar assunto, procurando tranquiliza-la.
— Poderia? — Ela tinha o nervosismo em sua voz.
— Poderia! — tinha a sinceridade em sua voz.
Just a little west coast, and a bit of sunshine
Hair blowing in the wind, losing track of time
Just you and I, just you and I
Woah, woah
No matter how far we go, I want the whole world to know
I want you bad, and I won’t have it any other way
Finalmente haviam alcançado o topo, e sentiu seu coração saltar pela boca ao ver a que altura estavam. Conseguia até mesmo ver a praia que haviam passado no caminho para o parque, onde havia dito que ela era tudo para ele.
— Are you ready? — O namorado a cutucou, com um sorriso brincalhão, escondendo o nervosismo que também tinha.
— Não. — Ela passava a mão pelos cabelos quando pararam exatamente antes da descida.
— Sorria para a foto! — Ele tirou o celular do bolso e ela tentou dar um sorriso.
Foram dez segundos silenciosos, cortados apenas pelas batidas frenéticas dos corações. Até que, subitamente, os carrinhos desceram com tudo.
No matter what the people say,
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Made in the USA, yeah
O silêncio foi substituído pelos gritos de adolescentes pegos de surpresa. sentia o vento bater forte em seu rosto e espremeu os olhos para enxergar algo, enquanto fazia o mesmo e erguia suas mãos para o alto, se sentindo livre.
Logo que atingiram o fim da primeira descida, foram pegos por dois loopings seguidos, que fizeram o mocassim da garota quase cair por outra subida.
You always reading my mind like a letter
When I'm cold, you're there like a sweater
Cause that's the way we like to do it
That's the way we like
And never ever let the world get the best of you
Every night we're apart, I'm still next to you
Cause that's the way I like to do it
That's the way I like
We touch down on the east coast
Dinner in the sky rise, winter is the best time for walking in the city lights
You and I, you and I
Woah woah
— Oh. My. God. — tinha a respiração falha e o rosto corado, assim como o namorado, que ria animado.
— Essa foi a melhor descida de montanha-russa do mundo! — Ele disse, colocando seu braço sobre os ombros da namorada, mas sendo pego pela última descida.
No matter how far we go, I want the whole world to know
I want you bad, and I won’t have it any other way
No matter what the people say,
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Cause baby I'll bite the bullet
And take the blow for love
Woahhhh, our love was made in the USA
Made in the USA, made in the USA
Os dois saíram do brinquedo meio tontos e excessivamente sorridentes e foram em direção ao carro de . A noite já havia chegado e a lua já subia no céu, acompanhada das estrelas. Essa havia sido a última tarde de parque de diversões de e .
— Queria que pudéssemos fazer isso sempre. — Ela disse, meio triste, enquanto seguiam de volta para casa.
— Eu queria fazer qualquer coisa diferente com você sempre. — Ele segurou a mão da namorada, que sorria.
— Nós somos estranhos, sabia? — Ela prendeu o cabelo, agora bagunçado, em um rabo de cavalo.
— Americanos são estranhos, sabia? — Ele deu uma piscadela para ela. — E sabe onde nosso amor foi feito?
— Cause our love was made, made in the USA! — Ela completou com a música, rindo. — Você é um bobo!
No matter how far we go, I want the whole world to know
I want you bad, and I wont have it any other way
No matter what the people say,
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Made in the USA, yeah
***
Doze anos depois
deu uma última conferida em seu visual no espelho. Seus cabelos ondulados estavam cuidadosamente penteados e caindo sobre seus ombros, o vestido levemente rodado dava o ar vintage que a garota sabia que ele tanto gostava, as sapatilhas mocassim equilibravam o visual entre retrô e despojado e o batom cor de rosa a deixava como uma adolescente. Estava simplesmente perfeita.
Ouviu passos na escada e duas batidas rápidas na porta de seu quarto. Ela rapidamente a abriu e encarou o par de olhos esverdeados mais lindo que ela já tinha visto em toda a sua vida. A vida é um clichê, ela se lembrou.
O homem de vinte e oito anos em sua frente usava uma camiseta branca e uma jaqueta jeans despojada, calça jeans e tênis preto. Seus cabelos loiros cacheados estavam bagunçados com sempre e ele tinha uma leve barba por fazer. Sorriu timidamente para ela, sendo retribuído imediatamente.
— MÃE! — Uma garotinha saltitante de vestido rodado como o de subiu as escadas correndo e a abraçou. — Nós já vamos? — Ela perguntou, olhando para o homem.
— Vamos? — Ele sorriu para e pegou a mão da pequenina.
— Let’s go! — Ela desceu as escadas acompanhada dos dois e seguiu em direção ao carro.
As paisagens praianas da costa oeste encantavam a garotinha falante, que usava óculos de sol grande demais para seu rosto e deu um gritinho ao avistar um letreiro neon e uma montanha-russa ao longe.
— Cotton Candy Park! — Ela bateu palmas assim que estacionaram o carro e seguiram em direção a barraquinha de “Acerte O Alvo”, que não tinha fila alguma.
O português tinha alguns fios grisalhos no pouco do cabelo e no bigode, com a idade já avançada. Entregou as três bolas ao mais novo, que parecia extremamente familiar. Porém, deixou para lá, afinal as pessoas vêm e vão a parque de diversões.
Ele errou o alien duas vezes, fazendo a pequenina encher os olhos de lágrimas, já imaginando que ficaria sem sua pelúcia. Para sua sorte, pegou a última bola de suas mãos, não antes de dizer:
— Você é muito frouxo, ! — E acertou o último, conseguindo um Mike Wazowski para a filha, que apertou o bichinho forte.
e trocaram rapidamente os olhares, antes da pequena sair correndo em direção a barraquinha de sorvetes. Eles, definitivamente, não eram todo mundo.
Made in the U.S.
Made in the U.S.
Made in the USA
Tentando segurar a ansiedade, caminhou em direção a porta pela casa silenciosa. Respirou fundo e a abriu, encarando o par de olhos esverdeados mais lindo que ela já tinha visto em toda sua vida. Clichê, ok, muito clichê. Mas a vida é um clichê, então do que podemos reclamar?
O garoto tinha as mãos no bolso do casaco preto da Aeropostale que tinha usado no dia em que deram seu primeiro beijo, como bem lembrava, e timidamente sorriu para ela, sendo retribuído imediatamente. A garota sentiu seu corpo gelar da cabeça aos pés e por alguns segundos, enquanto ficavam nessa mesma posição, passou pela sua cabeça que deveria ser a adolescente mais feliz dos Estados Unidos.
— Vamos? — Ele perguntou, quebrando o silêncio.
— Let’s go! — Ela não tirou o sorriso do rosto e atravessou o jardim da frente de sua casa em direção ao Chevrolet conversível do rapaz, que como um cavalheiro abriu a porta do passageiro para que a menina pudesse entrar.
— Esse é o último parque, certo? — Ele questionou logo após dar a partida e colocou óculos escuros Ray-Ban, já que o sol do fim da tarde batia diretamente em seus olhos. A garota contou mentalmente e respondeu, meio desapontada:
— Acho que sim, ...
e eram, digamos, alternativos. Era o jeito que eles gostavam de fazer tudo. Tinham ideias diferentes de coisas para fazerem, como a da vez, que era ir no máximo de parques de diversão que conseguissem durante as últimas duas semanas e meia de férias. Durante esse período, dezenas de parques surgiam pela região do estado que moravam e, pelos planos da garota, o casal estaria em todos. Claro, isso era meio impossível, sendo que os parques só abriam pelo fim da tarde e ele queria acrescentar o desafio de irem em todas as montanhas-russas de cada um, que tinham cerca de três, sem contar que eles enchiam muito conforme a noite ia chegando e que a garota às vezes tinha um pouco de medo.
Para , tinham sido os melhores fins de tarde de sua vida. Cada arrepio e grito nas descidas da montanha russa, cada fila quilométrica enfrentada, cada engarrafamento enfrentado a caminho dos parques, cada minuto no conversível vermelho do namorado e cada segundo ao lado de tinha sido perfeito, por mais que eles esquecessem da noção do tempo quando estavam juntos. Ela poderia repetir isso cada santo dia até o fim de sua vida, que nunca se cansaria. Ah, sem contar em cada vez que o vento batia em seus cabelos e de e os bagunçava e a risada do rapaz quando isso acontecia. Eles se sentiam distantes de tudo, livres.
Uma das mil e uma belas paisagens da costa oeste estava à esquerda deles, com o sol batendo no mar azul e deixando tudo ainda mais lindo. O vento batia e bagunçava o cabelo dos dois, fazendo todo o trabalho que ela tinha tido para pentear seus cachos ter sido em vão. A garota, porém, não se importava. Era um momento com ele, nada fazia diferença agora.
— ? — Ele a chamou, tirando-a de mais um de seus constantes devaneios. — Tem uma coisa que não lembro se te disse hoje...
— O quê? — Ela piscou os olhos repetidamente, sentindo o sol virando para o seu lado. Percebendo isso, tirou seus óculos escuros e entregou a ela.
— Você é tudo para mim, sabia? — Ele sorriu e ela corou, devolvendo o sorriso, tímida como nunca. O namorado sempre dizia isso a ela, que se sentia totalmente fora do ar quando isso acontecia.
— E você é tudo para mim. — Ela disse o mesmo, arrancando um sorriso radiante do garoto. Era meio raro dela devolver, já que tinha seus ataques de timidez.
Ao longe, já se via o Cotton Candy Park, com o letreiro colorido em neon e — para dar uma pontada de desespero em — uma montanha russa realmente alta (e tão colorida quanto o letreiro). Até mesmo arregalou um pouco os olhos e imaginou que deveria ser as mais alta que eles iriam.
— Oh God... — Ela sussurrou, tentando buscar alguma coragem dentro de si, assim que estacionaram. O estacionamento do parque não estava muito cheio, porém não estava totalmente vazio, o que era bom.
Entraram sem pegar fila e logo de cara quase tropeçou em um garotinho que carregava uma pelúcia do Nemo e sujava a roupa toda de sorvete de chocolate, arrancando risadas da namorada, a fazendo tranquilizar um pouco.
— Quer ir logo? Ou quer um bichinho da Disney antes? — Ele indicou com a cabeça uma barraquinha de “Acerte O Alvo” amarela, de onde uma menina de uns seis anos saía saltitante carregando uma pelúcia do Linguado, o peixinho amigo da Pequena Sereia. Ela riu do namorado e deu um tapinha de leve em seu braço, mas logo o puxou para a barraca.
Umas cinco crianças acompanhados de seus pais aguardavam ansiosamente sua vez na fila, enquanto o pai de duas garotinhas tentava ganhar uma pelúcia da Cinderela. O menino na frente do casal derrubou molho de cachorro-quente na camiseta dos Carros e eles se encararam, rindo logo em seguida.
— Não acredito que estamos realmente fazendo isso! — Ele passou a mão pelos cabelos claros, que voltaram para a mesma posição logo em seguida. — Eu te trouxe para morrer de medo na montanha-russa e ficar se agarrando em mim, e não para competir por um brinquedo com criancinhas! — Ela revirou os olhos, sem parar de rir.
— Ei, veja bem quem está aqui! — Uma voz feminina familiar veio de trás deles, que se viraram imediatamente. Uma ruiva alta acompanhada de um ruivo igualmente alto parecia impressionada, assim como o garoto.
— Mel! Jordan! — Ela os reconheceu e eles cumprimentaram os amigos com um abraço.
— Mas veja bem... não sabia que ainda estavam juntos! — O rapaz arregalou os olhos, revelando que realmente estava surpreso.
— Ué, temos motivos para não estar? — perguntou, meio confuso. Sempre falavam isso a eles, mas o casal nunca entendia o porquê.
— Não, não foi isso que eu quis dizer! É que... bem... sabe... — Ele abaixou o olhar para o tênis azul, meio embaraçado. — Não é por nada, mas ultimamente não é todo namoro que dura muito, e vocês namoram há um tempo, então imaginamos que...
— Ah, sim. Entendo. — logo o cortou, meio irritada. — Mas não se preocupem, continuamos firmes e fortes nesses seis meses, e provavelmente continuaremos assim. — Mel corou fortemente, muito envergonhada e timidamente se despediu e saiu de perto junto com Jordan.
— Não precisava ter falado assim com eles, . Até parece que nunca nos disseram isso... — passou as mãos pelo cabelo da namorada, tentando acalmá-la enquanto avançavam na fila.
— Mas nunca realmente nos disseram o motivo! — Ela bufou, revirando os olhos. — Não é o namoro de todo mundo que dura, mas acho que passe o tempo que passar eles não entendem que nós não somos todo mundo!
— Você pareceu minha mãe falando isso... — Ele tentou fazê-la rir, mas acabou recebendo um tapa mais pesado no braço. — Ei, calma! As crianças vão ficar com medo de você! — Ele apontou para o mesmo garotinho que tinha derrubado cachorro-quente e agora jogava no celular do pai, ignorando completamente os adolescentes. deixou escapar uma risadinha enquanto o pequeno e o homem iam tentar ganhar uma pelúcia. Eles eram os próximos da fila, agora.
Assim que os dois saíram da barraquinha e o menino chorava por não ter ganhado nada, o homem (que parecia um português, na cabeça de ) que a comandava os chamou. Assim que viu que se tratava de um casal de adolescente, arqueou uma das grossas sobrancelhas e perguntou, estranhando:
— Vocês não são meio grandinhos para brinquedos da Disney? — Sua voz grossa e seu sotaque de... bem... português fez a garota ter que segurar o riso.
— A idade não importa na Disney, tio! — deu um sorriso infantil e a namorada não se segurou e caiu na risada. O homem revirou os olhos e sussurrou “Adolescentes...”, antes de ligar a máquina e seis planetas alinhados e apoiados em madeiras subirem e uma musiquinha irritante começar a tocar.
— Vai aparecer um alienzinho e com essas três bolas vocês tentam derrubá-lo. Se conseguirem, ganham a pelúcia! — Ele entregou a três bolas azuis de borracha. — Estão prontos?
— Como nunca! — O rapaz deu uma piscadela para a garota e o português apertou o botão de “start”.
fechou um dos olhos e pôs a mão esquerda na frente da direita como quem tenta mirar. O alien apareceu primeiro entre os dois primeiros planetinhas da direita e o garoto imediatamente atirou, batendo a primeira bola nos planetas do outro lado. Em seguida, ele apareceu no centro do segundo da fileira de baixo, bem no meio, e o rapaz atirou por cima de todos os planetas.
— Me dá isso aqui! Você é muito frouxo... — tirou a última bola das mãos do namorado e fez a mesma posição que ele havia feito antes.
O alienígena apareceu, nessa última vez, no primeiro planeta da esquerda e ela desfez todo o esquema de miragem antes de jogar e o derrubar. Uma plaquinha luminosa de “Winner” surgiu exatamente onde ela atingira o alien e pulou de alegria, como fizeram as menininhas da pelúcia da Cinderela, arrancando risadas de . Realmente, eles deviam ter tirado o dia para serem infantis.
— Eu quero um Mike Wazowski! — Ela disse animada, apontando para o monstrinho verde pendurado junto com vários outros bonecos da Disney. O homem da barraca o entregou a ela, que o abraçou forte.
— Nossa, parece que agora vou ter que dividir seus abraços com um bichinho de pelúcia... — se fez de ofendido, enquanto eles caminhavam em direção a montanha-russa.
— Não, os abraços são realmente só do meu Mike... — apertou ainda mais a pelúcia. — Mas posso fazer algo mais com você... — Ela o puxou e colou seus lábios nos dele, em um beijo nada adequado para as crianças que eles pareciam antes. O brinquedo caiu das mãos da garota e ela as colocou em volta do pescoço dele, intensificando o beijo. O tempo parecia parar quando se beijavam daquela maneira e eles só se afastavam quando o ar realmente faltava.
— Uau. — Ele disse quando se afastaram, ofegantes. — Pode abraçar o Monstros S.A. aí o quanto quiser! — E passou a mão nos cabelos displicentes.
A garota sorriu, o puxando para a fila da montanha-russa, que já embarcava no brinquedo. Os carrinhos eram de fato réplicas de carros reais e como se lessem o pensamento um do outro, logo procuraram um Chevrolet conversível. Assim que se sentaram e uma assistente arrumou a trava de segurança e o casal a segurou, ele virou-se para ela:
— Nervosa?
— Com frio. — passou as mãos pelos braços nus, se arrependendo de não ter pego um casaco. tirou o seu Aeropostale e colocou nos ombros da garota, que logo os vestiu. — Você vai ficar com frio...
— É tanta emoção que não dá nem tempo para eu conseguir sentir o frio! — Ele deu uma piscadela para a namorada, que deu uma risadinha.
N/A: Aqui você já pode dar o play na música.
O brinquedo foi ligado e os carrinhos começaram a andar. Nervosa, colocou sua mão sobre a de e a apertou. Uma música conhecida dos dois começou a tocar e ela acompanhou os versos.
If you fall I'll fall with you baby
Cause that's the way we like to do it
That's the way we like
You run around open doors like a gentleman
Tell me girl every day you're my everything
Cause that's the way you like to do it
That's the way you like
Os carrinhos começaram uma subida que se tornava cada vez mais íngreme. Conforme subiam, ela apertava mais a mão do namorado, ansiosa.
— Sabe, essa música poderia ser a nossa... — Ele tentou puxar assunto, procurando tranquiliza-la.
— Poderia? — Ela tinha o nervosismo em sua voz.
— Poderia! — tinha a sinceridade em sua voz.
Hair blowing in the wind, losing track of time
Just you and I, just you and I
Woah, woah
No matter how far we go, I want the whole world to know
I want you bad, and I won’t have it any other way
Finalmente haviam alcançado o topo, e sentiu seu coração saltar pela boca ao ver a que altura estavam. Conseguia até mesmo ver a praia que haviam passado no caminho para o parque, onde havia dito que ela era tudo para ele.
— Are you ready? — O namorado a cutucou, com um sorriso brincalhão, escondendo o nervosismo que também tinha.
— Não. — Ela passava a mão pelos cabelos quando pararam exatamente antes da descida.
— Sorria para a foto! — Ele tirou o celular do bolso e ela tentou dar um sorriso.
Foram dez segundos silenciosos, cortados apenas pelas batidas frenéticas dos corações. Até que, subitamente, os carrinhos desceram com tudo.
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Made in the USA, yeah
O silêncio foi substituído pelos gritos de adolescentes pegos de surpresa. sentia o vento bater forte em seu rosto e espremeu os olhos para enxergar algo, enquanto fazia o mesmo e erguia suas mãos para o alto, se sentindo livre.
Logo que atingiram o fim da primeira descida, foram pegos por dois loopings seguidos, que fizeram o mocassim da garota quase cair por outra subida.
When I'm cold, you're there like a sweater
Cause that's the way we like to do it
That's the way we like
And never ever let the world get the best of you
Every night we're apart, I'm still next to you
Cause that's the way I like to do it
That's the way I like
We touch down on the east coast
Dinner in the sky rise, winter is the best time for walking in the city lights
You and I, you and I
Woah woah
— Oh. My. God. — tinha a respiração falha e o rosto corado, assim como o namorado, que ria animado.
— Essa foi a melhor descida de montanha-russa do mundo! — Ele disse, colocando seu braço sobre os ombros da namorada, mas sendo pego pela última descida.
I want you bad, and I won’t have it any other way
No matter what the people say,
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Cause baby I'll bite the bullet
And take the blow for love
Woahhhh, our love was made in the USA
Made in the USA, made in the USA
Os dois saíram do brinquedo meio tontos e excessivamente sorridentes e foram em direção ao carro de . A noite já havia chegado e a lua já subia no céu, acompanhada das estrelas. Essa havia sido a última tarde de parque de diversões de e .
— Queria que pudéssemos fazer isso sempre. — Ela disse, meio triste, enquanto seguiam de volta para casa.
— Eu queria fazer qualquer coisa diferente com você sempre. — Ele segurou a mão da namorada, que sorria.
— Nós somos estranhos, sabia? — Ela prendeu o cabelo, agora bagunçado, em um rabo de cavalo.
— Americanos são estranhos, sabia? — Ele deu uma piscadela para ela. — E sabe onde nosso amor foi feito?
— Cause our love was made, made in the USA! — Ela completou com a música, rindo. — Você é um bobo!
I want you bad, and I wont have it any other way
No matter what the people say,
I know that we'll never break
Cause our love was made, made in the USA
Made in the USA, yeah
***
Doze anos depois
deu uma última conferida em seu visual no espelho. Seus cabelos ondulados estavam cuidadosamente penteados e caindo sobre seus ombros, o vestido levemente rodado dava o ar vintage que a garota sabia que ele tanto gostava, as sapatilhas mocassim equilibravam o visual entre retrô e despojado e o batom cor de rosa a deixava como uma adolescente. Estava simplesmente perfeita.
Ouviu passos na escada e duas batidas rápidas na porta de seu quarto. Ela rapidamente a abriu e encarou o par de olhos esverdeados mais lindo que ela já tinha visto em toda a sua vida. A vida é um clichê, ela se lembrou.
O homem de vinte e oito anos em sua frente usava uma camiseta branca e uma jaqueta jeans despojada, calça jeans e tênis preto. Seus cabelos loiros cacheados estavam bagunçados com sempre e ele tinha uma leve barba por fazer. Sorriu timidamente para ela, sendo retribuído imediatamente.
— MÃE! — Uma garotinha saltitante de vestido rodado como o de subiu as escadas correndo e a abraçou. — Nós já vamos? — Ela perguntou, olhando para o homem.
— Vamos? — Ele sorriu para e pegou a mão da pequenina.
— Let’s go! — Ela desceu as escadas acompanhada dos dois e seguiu em direção ao carro.
As paisagens praianas da costa oeste encantavam a garotinha falante, que usava óculos de sol grande demais para seu rosto e deu um gritinho ao avistar um letreiro neon e uma montanha-russa ao longe.
— Cotton Candy Park! — Ela bateu palmas assim que estacionaram o carro e seguiram em direção a barraquinha de “Acerte O Alvo”, que não tinha fila alguma.
O português tinha alguns fios grisalhos no pouco do cabelo e no bigode, com a idade já avançada. Entregou as três bolas ao mais novo, que parecia extremamente familiar. Porém, deixou para lá, afinal as pessoas vêm e vão a parque de diversões.
Ele errou o alien duas vezes, fazendo a pequenina encher os olhos de lágrimas, já imaginando que ficaria sem sua pelúcia. Para sua sorte, pegou a última bola de suas mãos, não antes de dizer:
— Você é muito frouxo, ! — E acertou o último, conseguindo um Mike Wazowski para a filha, que apertou o bichinho forte.
e trocaram rapidamente os olhares, antes da pequena sair correndo em direção a barraquinha de sorvetes. Eles, definitivamente, não eram todo mundo.
Made in the U.S.
Made in the USA
FIM
Nota da autora: Nossa, eu tive a ideia e escrevi tudo em um dia, socorro! Espero que tenham gostado, viu? Estou pensando em fazer, sei lá, uma fic maior dela, fora de fisctape e tal, o que acham? Entrem em contato, ok?
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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