Prólogo
Meu coração batia rápido enquanto eu olhava dentro dos olhos de , nossas mãos segurando uma a outra bem apertado, declarando que não iria soltar. Nossas peles frias e suadas, pressão baixa, o ar preso e pesado. O som da sirene fazia meus tímpanos doerem, além de me deixar ainda mais nervoso. Aquela ambulância balançava de um lado para o outro fazendo nossos corpos acompanharem os movimentos. Aquilo parecia um inferno.
Eu me questionava; até quando?
Parte I
Estava indo até a casa de para buscá-la. Iríamos em uma festa de uns amigos meus. Ela iria curtir, a galera era bem legal, e fazia o estilo dela. E bem, essa era uma desculpa ótima para poder vê-la. Porra, eu estava muito fodido por ela, e iria dar um jeito de pedi-la em namoro, só não sabia se seria hoje, talvez se eu tivesse a oportunidade e o momento certo, faria isso.
Só conseguia pensar em seu sorriso, o jeito que ela ria quando contava algo, a forma como mexia em seu cabelo e me olhava, sem contar os seus beijos que eram deliciosos, e que sempre me davam vontade continuar tocando seus lábios com os meus, suas mãos pequenas e suaves alisando meu cabelo ou apertando meus ombros sempre quando a puxava para perto. Caralho, eu precisava muito dela perto de mim. Era impossível tirar da cabeça, e sempre quando pensava nela um sorriso vinha em meus lábios. Era impossível de controlar.
Parei o carro rente ao meio fio e peguei meu celular, mandando uma mensagem para ela.
visto por último hoje às 19:35
Ela não me respondeu, mas ouvi pessoas falando alto. Então inclinei meu corpo para frente, segurando no volante, e vi que vinha da casa de . Franzi o cenho de leve ao ouvir a voz dela, porque ela nunca tinha se exaltado comigo ou dava o ar disso, sempre foi tranquila. Abaixei um pouco o som para ver se conseguia ouvir o que estava acontecendo, mas não consegui entender direito. Era algo sobre ela não poder fazer alguma coisa, e que não podia sair. Não estava dando para entender, estava confuso por causa das três vozes berrando ao mesmo tempo.
Suspirei e olhei para meu celular novamente, mas ela ainda não tinha respondido. Tive que esperar ela sair. Era a única coisa que podia fazer. Talvez se buzinasse podia ser pior, porque eu não tinha ideia do que podia estar acontecendo lá dentro.
A coisa que eu mais odiava eram aqueles surtos da senhora perfeita por causa do meu comportamento. Por eles eu iria virar freira e morar em um convento. Senti meu celular vibrando enquanto eu tentava gritar mais alto do que os dois. Eu iria sair de casa, nem que fosse para nunca mais voltar. Tirei o celular do bolso sem me importar em escutar mais um sermão. Que eles explodissem. Respirei aliviada vendo o nome de brilhar na tela.
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Digitei rapidamente e guardei o celular no mesmo instante que eu vi uma sombra se aproximando, dei um passo para trás.
— Cansei. — Ralhei e dei as costas para os dois.
Apertei o pacotinho no bolso do casaco e com toda certeza a primeira coisa que iria fazer assim que pisasse fora daquela casa era tomar um dos comprimidos para tornar tudo menos difícil.
Andei em direção a porta, fazendo questão de bater ao passar por ela.
A forma como eles reagiram por causa de uma mecha no cabelo e um piercing no nariz foi quase como se eu tivesse matado alguém. A filha perfeita deles pelo jeito não era tão perfeita, não para eles.
Caminhei rapidamente até o carro e por um momento eu quase bati a porta do carro ao entrar.
— Hey.
Respirei fundo olhando para como se não tivesse acontecido absolutamente nada. Mas sentia meu coração bater na garganta e as palmas das mãos sensíveis devido às marcas das unhas que ali ficaram.
Ele me olhou por alguns segundos, seus olhos passaram por todo meu rosto, meu cabelo e por fim pararam nos meus.
— Está tudo bem? — perguntou em tom baixo e preocupado.
— Melhor agora que você está aqui. — Sorri passando a mão pela sua nuca. — Meu pais não gostaram da minha mudança de visual. Foi por isso o show — comentei sendo breve sobre o que havia acontecido dentro de casa.
Sabia que ele tinha visto apenas pelo modo como havia me perguntado se estava tudo bem.
assentiu com a cabeça e deu um breve sorriso enquanto ainda me olhava.
— Que pena. Porque você está linda como sempre, e eu achei que o piercing novo e o cabelo pintado combinou demais contigo — elogiou chegando mais perto e deu um beijo em meu ombro sem tirar seus olhos dos meus.
— Combinou, não combinou?
Não entendia qual era o problema em fazer aquelas mudanças. A única coisa que eles batiam na tecla era justamente o "corpo é o tempo de deus e você está o estragando". Tanta gente no mundo e Deus lá vai estar se preocupando com o meu corpo?
— Demais — respondeu dando um sorriso maior.
— Festa de quem é hoje? — Quis saber sem lembrar do nome.
— Do Jonah. Você vai curtir — disse convicto e deu partida no carro. — Tem hora para voltar?
Balancei a cabeça ao escutar o nome. Na hora eu daria um rosto para ele e tudo bem.
— Não.
Quanto mais tempo fora de casa seria pior, mas estava com zero vontade de ficar no mesmo lugar que meus pais.
— Podemos ficar lá sem se preocupar. — Encostei a cabeça no encosto do carro olhando para a casa de canto de olho.
Estava cada vez mais difícil continuar por ali.
— Perfeito. As festas do Jonah vão até de manhã mesmo — contou com empolgação e dando um sorriso. — Quer escolher uma música? — ofereceu apontando para o rádio do carro.
— Ótimo! — Olhei para ele com um meio sorriso.
Respirei fundo antes de levar a mão que ainda tremia levemente até o rádio e procurar alguma coisa.
— Seu celular está conectado? — perguntei e não esperei a resposta, eu sabia que estava.
Cliquei na primeira playlist que apareceu no Spotify.
riu e me olhou por um momento, mas não falou nada, apenas continuou dirigindo. Até que estendeu a mão para mim. Levei a minha mão até a dele fazendo um leve carinho nela. Não tinha o que falar, mais estranho do que demonstrar sentimentos era falar sobre o que acontecia dentro de casa. não era de perguntar muito, ele só fazia isso quando via que tinha algo de muito errado comigo, mas também não ficava aprofundando muito o assunto quando percebia que eu não queria falar muito.
Então ele puxou minha mão até seus lábios e deu um pequeno beijo nela e me olhou de relance, antes de voltar sua atenção para a rua, mas sem soltar a minha mão, deixando nossos dedos entrelaçados sobre sua perna.
Me perdi por alguns minutos olhando nossas mãos entrelaçadas. Não era algo que eu costumava ver dentro de casa, demonstração de carinho. Por muitos anos aquilo me assustou, e continua assustando, mas não parecia ser errado, contanto que não fosse eu que tivesse que ser a carinhosa. Era quase como forçar alguma coisa que não se encaixava. Suspirei e voltei minha atenção para ele.
— Espero que essa seja diferente da última festa que fomos, e não tenha ninguém quase vomitando nos meus pés. — Semicerrei os olhos fazendo uma cara de nojo ao lembrar da cena. — Se o Julian beber todas e fizer isso, eu enfio a cabeça dele dentro do vaso. Que inclusive uma das suas funções é receber esse tipo de coisa, não os meus tênis.
Ouvi a risada dele que era baixa e suave.
— Não posso controlar os vômitos alheios. Mas se eu ver ele enjoado, pode deixar que irei te puxar para sairmos de perto dele. E a minha única função aqui é tomar conta de você — disse de um jeito leve e descontraído, dando um sorriso enquanto me olhava por um momento.
Neguei, rolando os olhos teatralmente.
— Ainda está nessa de que a sua única função é tomar conta de mim? — Estalei a língua na boca. — Disse que estou bem, não quero que você vá para a festa e se prive da diversão. Não sou nenhuma criança para que você precise tomar conta de mim.
— Eu sei que está bem. E ainda assim eu vou continuar cuidando de você e não vou deixar de me divertir. Mas se a senhorita está tão bravinha por isso, tudo bem — respondeu de forma tranquila e deu mais um beijo em minha mão. — E se estiver brigando comigo, você vai ter dois trabalhos.
— Não estou brigando, estou apenas comentando que não quero que deixe de fazer nada por minha conta — comentei. — Não irei me dar ao trabalho de brigar e depois ter que voltar atrás. Estamos muito bem assim. — Sorri e enrolei uma mecha de seu cabelo em meu dedo.
— Não iria deixar de fazer as coisas por estar cuidando de você — contou e sorriu fraquinho de um jeito doce. — Inclusive eu gosto disso — admitiu sobre cuidar de mim quase em um sussurro. — Perfeito, porque eu iria fazer as pazes depois.
Sorri e senti meu peito se apertar um pouco.
— É claro que você iria fazer as pazes depois, e eu não sei disso?
Aquela característica dele foi algo que me chamou a atenção, era reconfortante e ao mesmo tempo incomoda, afinal algumas coisas eu ainda precisava deixar em segredo. Como aquele pacote no bolso do casaco.
— Que bom que você já sabe — respondeu dando um riso pequeno.
Senti de novo seus olhos claros me olhando, mas ele não comentou mais nada. Parecia que queria perguntar algo, mas preferiu ficar calado dirigindo com atenção. Até que paramos na frente de uma enorme casa.
— Vou procurar um lugar para estacionar. Quer esperar aqui na porta ou quer ir comigo? — ofereceu passando meu polegar pela pele de meu dorso.
— Vou contigo, assim você pode ficar despreocupado de chegar na porta e eu não estar lá. — Sorri como uma criança. — Não tenho culpa de ser legal demais para ficar parada no mesmo lugar por muito tempo.
— Convencida — falou e me roubou um selinho.
— Trabalho apenas com verdades, meu amor. — Dei um tapinha em seu ombro.
— Bem, realmente não está mentindo.
Então ele dirigiu até um pouco mais à frente, virando a esquina e achou uma vaga, estacionando nela. Logo desceu do carro e deu a volta nele, me esperando na calçada, já pegando um cigarro mentolado e acendendo.
Soltei o cinto e demorei mais do que de costume para descer do carro só pela forma como ele me olhava. Abri a porta do carro e sai indo até o seu lado.
— Olha ele, mal chegando e já acendendo seu cigarro — comentei arrumando minha roupa e olhando em direção da casa, como sempre, a casa estava cheia.
deu de ombros e tragou lentamente enquanto me olhava, seu ar calmo o rodeava como sempre.
— Fazer o que, eu tenho um problema sério com cigarro — falou e estendeu a mão livre em minha direção. — Vamos? — chamou.
— Não estou reclamando. — Entrelacei meus dedos nos seus. — Inclusive o cheiro do cigarro misturado com o seu perfume é algo que eu não sei explicar.
— Hm… Você gosta? — Questionou chegando mais perto e dando um beijo em meus lábios.
— Talvez… — Passei a língua pelos lábios.
— Gosto do seu talvez — disse e deu uma olhada em meus lábios, então se afastou, dando uns passos para trás, me olhando por inteira agora. — Você está gata pra caralho.
— Você gosta muito mais do que apenas do meu talvez. — Aproveitei que ele ainda me olhava e passei a língua pelos lábios novamente o provocando.
Ele riu fraco negando de leve com a cabeça.
— Talvez — respondeu provocando de volta e chegou mais perto, dando uma pequena mordida em meu lábio inferior. — Vamos antes que eu desista ir para a festa — pediu, e se afastou, ainda segurando a minha mão.
— Não viemos até aqui para desistir de alguma coisa — comentei já andando em direção a casa.
Aquilo era o meu máximo de demonstrar sentimento, e aparentemente aquilo estava bastando.
— Gostei disso — falou andando ao meu lado e fumando seu cigarro. — Está afim de dormir no meu apartamento hoje? — convidou sem nenhuma pretensão em seu tom.
Fingi pensar por um momento.
— Se quiser minha ilustre companhia na sua cama não serei eu que irei negar este convite — respondi sem o encarar, como se aquilo não fosse nada. E não era, não ia para sua casa apenas a procura de sexo.
Ouvi sua risada em divertimento.
— Perfeito, porque troquei os lençóis por sua causa hoje — brincou dando uma pequena mordida em meu ombro.
— Céus, eu não creio que você soltou uma dessas ... — Arrumei uma mecha do meu cabelo enquanto ria. — Mas fico feliz que tenha trocado os lençóis. Nada como um jogo de cama limpo e cheiroso.
— Veja por um lado bom, pelo menos vai dormir sentindo cheiro de amaciante e não da minha baba — disse rindo ainda mais. — Sabia que você iria curtir. — Piscou um olho para mim.
— Se for só de baba está bom, se bem que se você babou pela cama inteira eu teria receio de perguntar como é que está sendo suas noites. — Fiz uma careta.
Agora gargalhou.
— Você não vai querer saber como tem sido as minhas noites — implicou rindo ainda.
— O senhor anda de segredos, Sr. ? — Fiz um bico o encarando por um breve momento. — Se a resposta for sim, terá que me contar depois, a não ser que queira plateia para divulgar como anda suas noites. — Diferente de onde o carro estava, ali já tinham diversas pessoas conversando e bebendo.
— Segredos? Não. Só acho que você não iria curtir saber o que ando fazendo na minha cama sem sua presença — comentou de forma banal, mas acabou rindo de novo ainda fumando.
— Irei querer saber sobre isso mais tarde — comentei mesmo sabendo que talvez nem lembrasse mais sobre aquele assunto.
— Talvez eu te conto — brincou e tragou seu cigarro, e depois soltou a fumaça para cima de forma lenta.
Entramos na casa e olhou para os lados procurando seus amigos, mas não os encontrou de primeira, então voltou a me olhar.
— Quer beber algo? — ofereceu de forma gentil enquanto ainda fumava ali dentro.
— Pode ser — respondi desviando de um grupo que estava no meio do caminho. — Vou querer a mesma coisa que você — pedi me poupando de ter que escolher algo.
— Cerveja então? — Ergueu as sobrancelhas e sorriu fraco.
Poderia ser algo mais forte, mas como disse que poderia ser a mesma coisa que que fosse tomar e como havíamos acabado de chegar, estava bom.
— Poder ser.
— Beleza. — Deu um beijo rápido em meus lábios e soltou a minha mão.
Perdi ele de vista rapidamente no meio das pessoas.
Aproveitei que estava sozinha e tirei um dos comprimidos do saquinho e coloquei na boca. Mesmo que em menor intensidade, ainda sentia meu corpo todo tremer por dentro. Maldita ansiedade que de uns tempos para cá não precisava de muito para dar o sinal de vida.
Guardei o pacote no bolso novamente olhando para os lados à procura de , ou melhor, para ver se ele não tinha presenciado essa cena. Já bastava a briga com meus pais. Não vi sinal dele, mas não demorou muito para ele aparecer por trás de mim, colocando seu braço por cima do meu ombro e deixando a garrafa de cerveja na altura do meu rosto.
— Quantas pessoas perguntaram seu número enquanto eu estava pegando cerveja? — perguntou de um jeito engraçado e deu um beijo em meu ombro.
— Depende… — Peguei a cerveja de sua mão e bebi um gole.
Estava gelada. O que era ótimo. Virei meu corpo ficando de frente para o dele.
— Quantas pediram o seu?
— Depende? Por que? — Uniu as sobrancelhas de leve um pouco confuso. — Ah, umas três só — respondeu dando de ombros e começou a dançar a música que tocava.
— E você deu o seu número para alguma delas? — perguntei seguindo o movimento que seu corpo fazia.
— Você não respondeu a minha pergunta primeiro — rebateu dando um sorrisinho e levou o gargalo da cerveja até seus lábios, dando um gole enquanto me olhava.
— Depende foi apenas para um suspense. Só queria saber quantas pessoas tinham pedido o seu número primeiro. — Dei de ombros.
— Espertinha. — Chegou com seu rosto mais perto do meu e fez quase nossos lábios se tocarem. — Ninguém pediu meu telefone, e não me interessa que outra garota tenha ele além de você — disse fazendo seus lábios rasparem pelos meus.
— Cumprimentei algumas pessoas, mas digamos que eu não estava prestando atenção nela para saber o que elas estavam falando.
— É? Estava pensando em que, para não prestar atenção nelas? — Seus olhos estavam dentro dos meus agora.
Minha barriga se contorceu com aquela fala. Ele estava me provocando, mas algo me dizia que tinha mais por vir. E eu não tinha ideia se iria saber lidar com isso.
— Em alguém que não eram elas. — Sorri de lado enquanto olhava em seus olhos de volta.
Aproveitei e passei a língua pelos meus lábios, e como os dele estavam próximos deixei que passasse pelos dele também. Senti sua mão tocando minha cintura e a apertando com seus dedos. Levei a mão livre até sua nuca.
— Estava pensando em como você estava demorando e se demorasse mais teria que arranjar alguma coisa para fazer, mas agora que você voltou, eu posso fazer o que eu tinha em mente. — Não deu para sussurrar por causa do som, mas falei em um tom que soasse dessa forma.
Então quebrei a distância mínima que havia entre nós. Era melhor fazer isso do que escutar as respostas às minhas provocações.
suspirou de forma pesada e seus lábios se apertaram mais nos meus, e logo se abriram, fazendo sua língua pedir passagem para tocar a minha. Apertei mais meus dedos em seu cabelo e abri a boca em resposta. Ele tinha gosto de cerveja misturada com seu cigarro mentolado. Senti sua língua adentrando minha boca, e passando pela lateral da minha de uma forma lenta, mas gostosa. Era como se ele estivesse apreciando meu beijo, seus lábios deslizavam sobre os meus sem pressa, sua mão livre apertava minha cintura, fazendo mais pressão em seus dedos contra a minha pele. Sentia sua respiração lenta, mas pesada. Tinha intensidade na maneira como me beijava, não era apenas um beijo, parecia mais do que isso para ele. Aquilo acendeu uma luzinha na minha cabeça e eu quebrei o beijo dando alguns selinhos, não queria mostrar que estava incomodada com alguma coisa.
— Tem plateia demais — disse ainda bem perto da sua boca. — Prefiro deixar isso para seus lençóis limpos. — Sorri sacana. — Achou Jonah? — Passei o dedo por seu lábio limpando a marca do meu batom.
Ele afastou um pouco me olhando nos olhos, e apenas assentiu com a cabeça sem falar nada, então olhou para os lados.
— Não, vamos procurar ele — falou.
Ele mesmo passou o dorso se sua mão pelos seus lábios para que terminasse de limpar o meu batom que manchava sua pele.
Bebi um longo gole da cerveja tentando deixar aquela sensação para trás. Olhei para os lados à procura de alguém conhecido, mas antes de qualquer coisa procurei sua mão com a minha, havia muita gente por ali e não estava nenhum pouco afim de alguém entrar na minha frente ou que alguma menina fizesse qualquer gracinha com .
Seguimos andando pela casa que estava lotada, até que finalmente achou seus amigos, soltando a minha mão e dando um abraço em cada um deles, depois me apresentou a todos que estavam naquela roda e se encostou na janela que estava aberta, puxando a minha mão para que meu corpo ficasse entre suas pernas. Ele bebia enquanto ouvia seus amigos conversarem, não estava falando muita coisa, apenas quando alguém lhe perguntava algo direto.
— E aí, . Namorando? — Uma das meninas que estava na roda perguntou, e seu olhar desceu para todo meu corpo, e depois encarou ele diretamente.
Houve silêncio por um momento, e agora todos estavam nos encarando, esperando a resposta. Senti a mão de apertando minha cintura.
— Por que? Está interessada? — Ele rebateu com certo humor e tomou um gole de sua cerveja.
— Nos dois? Sim. — A garota deu um sorrisinho de lado e voltou a me olhar.
Não estava esperando aquela resposta e ri maliciosamente.
— Direta, gostei. — Bebi o resto da minha cerveja sem tirar o sorriso dos lábios.
Não iria falar nada sobre estarmos namorando, só a menção daquela palavra fazia meu sangue gelar por completo, eu gostava da nossa relação daquela forma, não tinha para que rotular aquilo. Mas pelo modo que ele reagiu aquela pergunta ele não parecia muito satisfeito.
— Gostou mesmo? — O olhar dela desceu por mim todinha. — Então você me beijaria?
— Talvez… — comentei a olhando da mesma maneira que ela tinha me olhado.
Apertei minha mão na perna de esperando qualquer reação.
— A noite é uma criança, não é?! — Completei.
Ele não falou nada, apenas soltou a minha cintura.
— Então isso é um sim. — A menina chegou mais perto da gente e olhou por cima do meu ombro. — Só tenho a resposta dela?
— Se eu quisesse te beijar já teria feito isso antes, Melissa — respondeu mais sério agora.
— Você é sem graça demais, — ela rebateu e parou na minha frente.
— Acho que precisamos de mais bebidas. — Dei uma batidinha na perna dela. — Quer mais uma cerveja? — Me virei parcialmente para . — Se não poderíamos ir dançar né?! — Olhei dele para Melissa.
— Não, estou de boa. Pode ir lá — respondeu tomando mais cerveja enquanto me olhava.
Não entendi a mudança de humor. Na verdade, desde o momento que entrei no carro ele já estava me olhando de forma estranha, mas fazia sentido depois de presenciar o circo, mas agora? Eu não tinha feito nada para aquilo.
— Vamos? — ofereci minha mão para ela.
Melissa olhou para e deu um sorriso, pegando a minha mão em seguida.
— Claro. Vem! — disse toda animada já virando as costas e me puxando entre as pessoas.
Aparentemente tinha alguma coisa ali, pelo menos da parte de Melissa, já que parecia totalmente indiferente.
— Então, o interesse era real ou tem alguma coisa que eu precise saber? — Quis saber, apesar da música alta eu sabia que ela tinha me entendido.
Ela ficou de costas para onde estávamos antes e apesar das pessoas, eu conseguia ver ao longe.
— O que? É claro que o interesse é real. Como não ficar interessada em uma mulher linda que nem você? Só queria saber se vocês estavam namorando para poder te beijar. — Deu de ombros e olhou além de mim, dando um sorriso.
— Certo. — Sorri maliciosamente depois de escutar o que ela disse. — Como falei, a noite é uma criança, tudo pode acontecer.
Não iria descartar a possibilidade, ela era alguém que talvez não me chamasse a atenção nos dias normais, mas se havia ali um interesse e se ela fosse legal, quem sabe?!
— Você está me enrolando — declarou e se virou de frente para mim, parando de andar.
— Quem enrola é babyliss, meu amor. — Passei a mão por seu cabelo. — Estou apenas dizendo a verdade, a noite é uma criança, acabamos de chegar. Para que ser imediatista?
— Está bem. Espero mesmo que o interesse seja recíproco. — Ela deu um sorriso enorme para mim. — Sorte a minha que vocês não estão namorando, porque seria um enorme desperdício. — Piscou um olho para mim. — O que acha de começarmos a nossa noite com um daqueles drinks de fogo?
— Um enorme desperdício? — Ri. Ela sabia o que queria. — Por mim perfeito, qualquer coisa que tenha um alto nível de álcool está bom.
— Sim. Uma mulher dessas namorando é um puta desperdício — contou dando um riso. — Perfeito! Você é das minhas — disse e me roubou um selinho, já se virando e me puxando toda animada.
Eu também acharia um desperdício alguém como eu estar namorando, porém preferia pensar que a pessoa que conseguisse me namorar seria sortudo. Ou sortuda.
— Meu lema é quanto mais álcool melhor. — Otimizava o tempo para ficar bêbada. — Quando quiser uma companhia que não seja metida a macho alfa, é só me chamar, festa é comigo mesma!
— Pode deixar que com certeza eu vou te chamar — garantiu e me guiou até o balcão.
Melissa pediu alguma coisa que não consegui ouvir o que era, e sorriu para o garoto que estava fazendo os drinks. Então se virou para mim.
— Qual é o seu lance com o ? — perguntou de repente. — Você curte ele?
— Ahm… — me apoiei no balcão pensando sobre aquilo. — Nunca rotulamos o que temos, não vejo porque fazer tal coisa. — Dei de ombros. — Sim, ele é o tipo de pessoa que vale a pena ter ao lado.
— Tá, mas você gosta dele? — Ergueu uma sobrancelha me olhando com atenção.
Eu a olhava sentindo a mesma coisa que antes, meu coração apertava dentro do peito. O barman poderia trazer aquelas bebidas de uma vez para podermos voltar para o meio do pessoal.
— Gosto.
Balancei a cabeça positivamente e procurei ele com o olhar, estávamos longe, não dava para ver onde eles estavam.
— Como eu disse, ele é o tipo de pessoa que vale a pena ter ao lado. — Repeti o que tinha falado. — Por que?
— Porque alguém ser bom para ter ao seu lado não significa que você goste dela de forma amorosa. Podia ter ele apenas como um amigo e vocês se pegam, tudo casual. E a forma que ele me respondeu e me olhou, diz muito. Não sei quanto tempo vocês se conhecem, mas eu conheço há anos, então sei quanto ele gosta de alguém e se importa de verdade — respondeu sem desviar os olhos dos meus. — Se não se importa da mesma forma, acho que você deveria avisar.
Senti o gosto da cerveja voltar. Porque ela estava falando aquilo mesmo? Se o conhecia e sabia como ele era, porque estava dando em cima de mim? Se aquele era o tipo de amizade dela, eu passaria longe. Não que eu não fosse uma vaca em certos casos, mas não lembrava de dar em cima na namorada ou namorado de nenhum amigo meu. Eu não era namorada do , inclusive fugia desse tipo de coisa. Então porque ficar incomodada?
— Eu me importo com ele, se não me importasse pode ter certeza que para começo de conversa não estaria aqui junto com ele — respondi de forma mais seca.
— Não estou vendo você com ele — rebateu dando um sorriso e se virou, olhando para o garoto que estava colocando os copos no balcão.
— Não sou obrigada a entrar nesse seu jogo. O que nós temos ou não, condiz apenas nós. — Bati com as unhas balcão em sinal de desgosto. — Com licença.
Sai de perto, eu precisava achar um banheiro. Um lugar que ninguém estivesse me olhando. Era coisa demais para absorver.
Apenas ouvi a menina rindo.
Não contei em quantas pessoas esbarrei até achar o banheiro. Abri a porta. Estava vazio. Entrei e fui em direção a pia, olhei meu reflexo no espelho e eu estava péssima. Era como se faltasse ar em meus pulmões, sentia minhas mãos tremendo.
Peguei o pacote do bolso e levei mais um comprimido até a boca. Engoli com a ajuda da água da própria torneira. Fechei os olhos e a sensação que eu tinha era que o banheiro todo estava rodando e ficando extremamente pequeno. Aquilo parecia estar durando uma eternidade. O tempo se arrastava, a pressão ficava maior. Tudo parecia estar me apertando.
Ouvi alguém batendo na porta.
— ? — era me chamando. — Está aí dentro?
Abri os olhos e encarei a porta no mesmo instante. Ainda sem dizer nada. Quanto tempo havia passado desde que eu estava ali? Havia perdido a noção.
Ele bateu na porta de novo.
— Es…estou…— disse abrindo a porta.
Merda, ele não deveria estar ali. Desde que esta merda havia começado eu nunca deixei que ninguém me visse neste estado.
apenas colocou seu rosto para dentro do banheiro e me olhou, e algo o fez entrar de uma vez, e fechar a porta. Ele deu um passo na minha direção, mas parou, ainda me encarando com preocupação.
— Posso? — perguntou baixinho.
Eu não me mexi. A maneira como ele me olhava piorou tudo. Senti meu corpo todo tremendo. Me sentia extremamente vulnerável e talvez fosse uma das coisas que eu odiava sentir. Não sabia o que falar, não queria ele ali, mas também não queria estar sozinha. Não naquele banheiro desconhecido.
não esperou a minha resposta, apenas chegou mais perto e passou seus braços ao redor do meu corpo com cuidado e carinho, me puxando de leve contra si e encostando seu queixo em meu ombro. Aquilo foi o bastante para que eu começasse a chorar. Sentia as lágrimas pesadas caindo e queimando meu rosto. Sabia que iria acontecer em algum momento, desde que aquela maldita briga começou dentro de casa, eu tinha certeza de que aquilo iria acontecer.
Apertei sua blusa sentindo meu peito doer, era difícil de respirar, aquela dor no peito só ia aumentando, sentia meus dedos formigando. Eu precisaria de algo mais forte do que apenas o Xanax que havia tomado duas vezes e ainda não tinha feito efeito.
Seus braços me apertaram mais e senti seus dedos subindo pelas minhas costas, até chegar em meu cabelo e afagar os fios de minha nuca. Seus lábios beijaram meus ombros, fiquei totalmente presa contra ele. parecia que estava tentando me proteger de mim mesma naquele momento, mas não iria adiantar.
— Quer ir embora? — sussurrou em meu ouvido de um jeito calmo como ele sempre era.
— Não — respondi no mesmo tom que ele. — Não vou estragar sua noite. — Neguei prontamente. — Eu só preciso do meu remédio. — Aproveitei que ele não sabia dos outros dois. — E de um tempo aqui dentro.
Se aquilo não era se importar, o que seria? Foda-se Melissa e o que ela achava que sabia.
— Minha noite fica boa contigo em qualquer lugar. Eu não vim para essa festa para ficar com meus amigos, com eles eu sempre fico a maior parte do meu dia, vim para ficar contigo — contou em meu ouvido, e suas palavras continham carinho. O que não me ajudava em nada. — Que remédio? Onde ele está? — perguntou preocupado. — Posso ficar aqui dentro contigo?
— No meu bolso. — Apertei meus olhos bem como meus dedos em sua camisa.
Já tinha passado da fase em que contar os dedos e quais as coisas que eu sentia me ajudavam a me sentir melhor.
— Está em um pacote transparente no meu bolso — voltei a falar. — Xanax — respondi sobre qual remédio era.
Sua mão saiu de meu cabelo e apalpou meus bolsos até achar o remédio.
— Isso aqui é Xanax mesmo? — Quis saber, mas ainda continuava me abraçando.
Balancei a cabeça positivamente. Poderia ser algo mais forte, porém era o que eu tinha para aquele momento.
— Era assim ou embrulhar em um papel higiênico. — Funguei.
A maneira como segurei aqueles comprimidos naquela noite foi sorte estarem no plástico ao invés do papel, se não já estaria uma nojeira, teriam esfarelado.
— Vou pegar água para você — avisou e foi se soltando aos poucos de mim.
Mal sabia que no momento que ele me entregasse a água já não seria mais necessário, certamente o remédio já estaria fazendo efeito.
me olhou um momento, e então saiu do banheiro.
Agora que ele sabia dos remédios, o último que sobrou teria que durar para o resto da noite, pelo seguir das coisas eu não poderia simplesmente tomar mais um como se fosse uma bala.
Era isso, eu iria atrás de alguém que estivesse usando qualquer coisa. Alguém dentro daquela enorme casa estaria disposto a vender alguma coisa. Ou quem sabe dividir.
Logo ele voltou com uma garrafa de água e me entregou, se encostando na porta do banheiro e me olhando com aquele olhar preocupado. Já começava a sentir o efeito daquele remédio tomando meu corpo.
— Tem muito tempo que você toma isso? — perguntou com cautela.
— Por volta de um ano e meio — respondi abrindo a garrafa e tomando um longo gole, juntamente com meu terceiro comprimido aquela noite. — Obrigada por isso. — Pisquei algumas vezes e olhei para o chão.
Ele era a primeira pessoa que sabia sobre o Xanax, pelo menos para o uso correto do remédio.
— Ele serve para que? — Sua voz era baixa ainda. — Por nada.
— Crises de ansiedade. — Apertei a garrafa entre meus dedos. — E para outra coisa que eu não lembro, mas não é o meu caso. — O olhei. — O meu é para as minhas crises.
E quando eu queria ficar sem pensar em absolutamente nada no meu mundo. Mas óbvio que não iria comentar aquilo.
— Você toma sempre ou só quando está com crise? — O vi mordendo de leve o canto do seu lábio inferior.
— Às vezes antes da crise. — Mordi meu lábio também. — Mas na maior parte é durante a crise. O que é errado. — Sabia que eu precisava do tratamento, mas tinha uma diferença entre saber e fazer.
— Entendi. — Balançou a cabeça.
Então se desencostou da porta e foi até a banheira, se sentando dentro dela, e ficou me olhando.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? — Se prontificou, e eu via a forma como estava preocupado.
Um "ir embora" quase escapou entre meus lábios. Com toda certeza aquilo iria ajudar, ajudar com que eu não fodesse sua vida.
Fiz o mesmo caminho até a banheira e me sentei na beirada, ficando de frente para ele, mas logo desviei o olhar. Mesmo com meus dedos não formigando mais, eu sentia meu peito doendo, menos, mas ainda sim era incômodo respirar.
— Não sei, nunca precisei passar por isso com alguém ao meu lado. — Fui sincera.
Seu olhar baixou, e ele ficou encarando seu próprio tênis.
— Quer que eu saia, não é? — Quase que não ouvi sua voz dessa vez.
Sim
— Não. — Voltei meu olhar para ele. — Não sei. — Engoli em seco. — É muita coisa se passando de uma vez na minha cabeça. É um misto de tanta coisa que eu só preciso de um minuto.
Um minuto estava sendo legal. Se fosse como da última vez, ela demoraria a passar.
não falou nada, apenas segurou nas bordas da banheira e se sentou na beira dela, dando um beijo em minha bochecha. Em seguida levantou, foi para a porta do banheiro. Vi ele abrindo a porta e saindo, me encontrei sozinha ali novamente.
Fui até lá e olhei pelo buraco da fechadura se ele estava lá. O corredor estava vazio. Então sai do banheiro. Eu precisava de qualquer coisa, fosse droga ou alguma bebida forte.
Estava usando o dobro de todos os meus movimentos para poder andar, estava me escorando na parede esperando o momento em que minhas pernas iriam falhar e me deixar na mão. O Xanax estava finalmente fazendo efeito.
Quando sai do banheiro, parei do lado de fora segurando a maçaneta, prendendo aquela agonia que estava entalada em minha garganta. Eu queria ficar lá dentro. Queria ficar perto dela, a abraçando até que melhorasse. Porém, não precisava ser um gênio para perceber que não me queria ali dentro com ela. Deveria pensar que estava tudo bem, mas não estava. Ela não estava bem e eu não estava bem com isso. Meu peito se apertava e a sensação de impotência estava me tomando.
Também entendi que apesar de gostar dela, nós não estávamos na mesma vibração, ela não queria a mesma coisa do que eu, e certamente o sentimento não era recíproco da mesma forma. Isso me fazia pensar que estava esperando muito de algo que talvez nunca tivesse existido para ela. E não a culpava, não era obrigada a sentir nada por mim. Era para estar tudo bem, mas não estava, porque isso machucava.
Soltei o ar de forma pesada e soltei a maçaneta, saindo dali para pegar algo para beber. Apanhei uma garrafa de água e voltei para a porta do banheiro, porque por mais que soubesse que não me queria por perto, eu ficaria ali na porta esperando até o momento que saísse. Podia cuidar dela mesmo de longe.
Os minutos foram se passando enquanto olhava para aquela porta, estava demorando, então me sentei no chão.
Qualquer pessoa que tentava entrar, eu dizia que estava ocupado enquanto continuava esperando. O tempo foi passando, fui bebendo minha água, e quando ela acabou, acendi um cigarro.
Nada de .
Levantei do chão e bati na porta, não ouvi resposta. Bati novamente e chamei o seu nome algumas vezes. Ela não falou nada, e isso me deixou mais preocupado ainda. Então entrei e vi que estava vazio. Meus olhos se abriram mais e meu coração disparou.
Onde ela tinha se enfiado?
Olhei dentro da banheira e também não a encontrei. Passei a mão em meu cabelo, mas ele voltou a cair em meu rosto. Sai dali e comecei a procurar ela pela festa. Passei pela sala, e tentei encontrá-la ali, tinha muita gente, era difícil achar qualquer pessoa naquele lugar. Encontrei Melissa.
— Você viu a ? — perguntei para ela.
— Sim. A gente estava bebendo agora pouco ali no bar, mas a vi saindo depois pela porta de trás — contou dando de ombros e bebendo sua cerveja.
Torci meus lábios com aquilo. Ela não deveria estar bebendo e tomando remédio para ansiedade. Eu não entendia muito bem dessas coisas, mas já ouvi falar que não deveria misturar ou você ficava totalmente alucinado.
— Valeu — agradeci, já me virando, mas Melissa segurou minha mão. — O que foi?
— Ela não é garota para você — disse rapidamente, me olhando bem séria. — Ela não gosta de você, .
— E você descobriu isso enquanto bebiam juntas? — rebati rapidamente.
— Não, foi bem antes de beber. Eu perguntei para ela, e a resposta que tive foi: ele é alguém bom para se ter ao lado. Cara, essa garota só está te usando porque você é legal e faz tudo para ela. Cai fora. Quando ela ficar enjoada, vai arranjar outro idiota — avisou, e me olhou de forma preocupada.
Não podia esconder de mim mesmo que me incomodava demais ouvir aquilo.
— Valeu — foi a única coisa que falei.
— Você gosta dela — afirmou me olhando com pena.
— É, eu gosto. Você quer que eu faça o que? Finja que não? — Questionei rolando meus olhos.
— Não. Quero que você se livre dela.
— Ok, Melissa — respondi e me virei, saindo dali.
Ela tinha cada ideia que me tirava do sério. Não iria debater com Melissa sobre relacionamentos quando ela nunca teve um de verdade.
Segui para o lado de fora rapidamente.
Olhei ao redor e lá estava ela, sentada em um sofá de qualquer forma. Ela abriu um sorriso quando me viu. Prendi meus lábios em uma linha reta olhando aquela situação e respirei fundo.
— Você me achou! — Exclamou sorrindo. — Venha se sentar comigo.
Fui até onde ela estava.
— Vamos embora — falei sem dar nenhum sorriso de volta.
— Mas agora que está tudo bem? — Sua fala estava lenta e ela tentou pegar minha mão, mas errou as duas vezes.
— Estou indo embora, — avisei sendo mais firme com ela.
Ela fez uma careta entediada e um bico. Continuei olhando, esperando que parasse com aquilo, porque não tinha graça, a não ser a minha cara de palhaço.
— Certo. — Estalou a língua na boca e fez menção de se levantar, mas aparentemente seu corpo não respondia aos seus comandos.
Vendo que ela não iria conseguir sair dali sozinha, inclinei meu corpo sobre o seu e passei meu braço por sua cintura e a puxei para cima junto comigo, a fazendo se levantar.
— Consegue ficar de pé?
Ela me olhava com um meio sorriso, mas ao julgar a forma que ela estava, não sabia se estava vendo a realidade. Certamente estava totalmente alucinada por causa do que tomou.
— Sozinha? — Olhou para o chão o encarando por um breve momento. — Mas você quer me soltar? — Piscou lentamente enquanto me olhava.
Não, eu não queria soltar ela, só que isso não fazia a menor diferença agora depois do que houve.
— Quero saber se você consegue andar, pode se segurar em mim — respondi e respirei fundo.
— Argh… — resmungou e prestou atenção em seus movimentos. — Para a sua felicidade, claro que consigo andar. Olha só — falou de uma forma debochada e deu um passo para frente se segurando em meu braço.
— Andando perfeitamente bem — rebati e a peguei em meus braços mesmo, passando eles por suas costas e pernas.
— ! — Ela riu e soltou o peso de seu corpo nos meus braços. — Eu mostrei que sabia andar — comentou passando os braços pelo meu pescoço.
— Uhum. Claro — respondi já andando por ela pelo quintal e passando pela lateral da casa, porque seria impossível fazer isso por dentro.
— Você está bravo — disse deitando sua cabeça em meu pescoço.
— Por que acha isso? — perguntei, chegando na rua rapidamente.
— Porque sim. — Suspirou pesadamente e só disse isso.
— Não estou bravo contigo, — respondi para não se preocupar com aquilo.
— Mas então você está bravo com alguma coisa?
— Não estou bravo com nada. — Deixei aquilo claro.
Eu estava chateado, e era bem diferente de estar bravo. Não tinha o direito de cobrar nada, então a culpa era minha por estar me sentindo daquela forma.
Cheguei no carro e coloquei no chão e encostada na lateral para que não caísse. Abri a porta do carro e esperei que ela entrasse.
Ela olhou para dentro do carro e entrou quase como se estivesse em câmera lenta. Suas pupilas estavam tão dilatadas que nem pareciam as mesmas.
— Obrigada. — Ela agradeceu passando a mão por meu braço.
A olhei por um momento e apenas assenti. Me afastei e fechei a porta com cuidado. Dei a volta no carro e entrei no lado do motorista, e já dando partida.
Respirei fundo enquanto dirigia sentindo meu peito pesado e minha garganta trancada. Meus dedos apertaram o volante e eu passei minha mão em meu cabelo novamente. Olhei para ao meu lado verificando como ela estava. Do mesmo modo que ela entrou no carro ela estava naquele momento. A cabeça virada em direção a janela, que agora estava aberta e o vento fazia com que seu cabelo voasse de leve. Suspirei e voltei a olhar para frente.
Pensei em pegar a sua mão da mesma forma como viemos, mas só a ideia fazia meu peito doer, especialmente lembrando do que Melissa havia me dito. Sabia que ela não tinha mentido, conhecia Melissa o suficiente para saber que ela sempre usava da verdade para esfregar na cara de todo mundo. Eu só era bom para para estar ali para quando ela precisasse. Era isso.
Dirigi em silêncio, sem ligar o rádio também. Cheguei no prédio e entrei na garagem, parando na minha vaga. Desci do carro e dei a volta nele, indo até o lado do carona e abrindo a porta.
— Vem — chamei, estendendo a minha mão para .
Ela pegou minha mão e senti a mão dela gelada.
— Meu celular? — disse apalpando os bolsos de forma lenta. — Eu perdi meu celular, . — Soltou a minha mão virando em direção ao banco do carro. — Eu não posso ter perdido meu celular — choramingou.
— Deixa eu ver, — falei e a puxei para fora do carro, a deixando encostada nele.
Liguei a luz interna do carro e comecei a procurar o seu celular, mas não achei. Então peguei o meu e liguei para ele. Não demorou muito para atenderem.
— Oi, quem fala? — perguntei rapidamente e olhei para que estava na minha frente.
— Hey, você é o cara que estava com a , não? — Um cara respondeu. — Ela me deu o telefone dela para passar meu número, mas aí vocês foram embora.
Aquilo me fez olhar para o outro lado e respirar fundo mais uma vez.
— Sou eu sim. Quando você sair da festa pode deixar o telefone na portaria do meu prédio? — pedi já falando onde eu morava, apartamento e meu nome..
— Tá, Beleza. Vou ver para passar aí.
— Valeu — agradeci e encerrei a ligação.
Olhei para e fechei o carro.
— Está com o cara que você deu para anotar o número — contei e guardei meu celular no bolso. — Vamos subir, vem. — Lhe estendi a mão.
— Ah. — Ela coçou a nuca e com a mão livre ela segurou a minha. — Ele disse onde é para ir entregar?
— Não se preocupe, ele vai deixar aqui — respondi e passei seu braço ao redor do meu pescoço, e segurei sua cintura.
— Eu não mereço isso, — disse enquanto olhava para o chão ao invés de olhar para frente.
— Do que você está falando? — perguntei andando no passo dela até chegar no elevador.
— Eu fodi a sua noite e você ainda está me trazendo para a sua casa — riu sem humor.
— Você não fez nada, não fica pensando nisso — pedi, porque aquilo poderia dar mais gatilho nela, e não iria deixar que tomasse mais nada naquela noite.
— É impossível não pensar depois do que a sua amiga falou.
— Seja lá o que Melissa te falou, esquece. Ela não sabe o que está dizendo — argumentei rapidamente e apertei o botão do elevador, fazendo a porta abrir.
Entramos e apertei o número do meu andar.
— Talvez ela saiba, a maneira como ela falou de você, que te conhece bem e há tantos anos. — Senti sua respiração ir acelerando.
— Ela gosta de brincar com a cabeça das pessoas e você está deixando ela fazer isso contigo — falei qualquer coisa só para ela esquecer o que Melissa disse.
Ela balbuciou algo baixo que eu não consegui entender. Não falei mais nada, apenas esperei o elevador abrir as portas para que a gente pudesse sair. Assim que aconteceu, segurei de novo, e fomos até a porta do meu apartamento. Abri e entrei com ela, indo direto para o meu quarto e a colocando em minha cama.
— Vou pegar uma camisa para você vestir — falei tirando seus coturnos e colocando seus pés para cima.
Sabia que em algum lugar do armário deveria ter alguma coisa dela, mas uma camisa minha era mais fácil, a deixaria mais confortável. Peguei uma das que ela estava habituada a usar e quando voltei até a cama. me olhava. Estendi a camisa em sua direção.
— Precisa de ajuda para trocar de roupa?
— Não, obrigada — disse começando a tirar a parte de cima de sua roupa e depois se levantando devagar para tirar a calçada que usava. — Você já vai deitar?
— Depois. Pode ficar à vontade — falei dando um pequeno sorriso para ela.
— Não estou com sono — disse encolhendo os ombros. — Não vou conseguir dormir agora.
Era difícil acreditar naquilo enquanto olhava para ela e observava as piscadas lenta que ela dava.
— Quer comer alguma coisa? — ofereci soltando o ar. — Coloca alguma coisa para assistir. — Peguei o controle da TV e coloquei ao seu lado.
Ela me olhava com certa incerteza e a vi negar com a cabeça.
— Não preciso de nada para comer, talvez uma água seja bom. — Se sentou na ponta da cama e olhou para o controle. — Qualquer coisa ligo depois.
— Está bem. Vou pegar água.
Saí do quarto em seguida e fui para a cozinha. Peguei um copo e coloquei no filtro, ligando a torneira. Apoiei minhas mãos no balcão e fechei meus olhos, soltando o ar de forma pesada, sentindo meu peito se apertando e queimando. Estava tudo bem. Era o que eu estava começando a repetir para mim mesmo enquanto ouvia o barulho da água caindo, enchendo o copo.
Abri meus olhos quando ouvi que o copo estava quase cheio e desliguei a torneira, pegando a água e voltando para o quarto. Coloquei o copo na mesa de cabeceira, e olhei para .
— Você precisa de alguma coisa? — perguntei em um tom baixo.
Ela acompanhou meus movimentos com o olhar.
— Não, está tudo certo — falou se encolhendo no lugar e pegando o copo de água e tomando todo de uma vez.
— Beleza. Vou tomar um banho. Qualquer coisa que precisar pode me chamar — avisei e me inclinei, dando um beijo em sua cabeça.
Dei uns passos para trás e peguei uma roupa para dormir no armário, indo para o banheiro em seguida. Fechei a porta e me despi rapidamente, e entrei no box e abri a água, sentindo ela gelada batendo em meu corpo, fazendo meu corpo estremecer. Passei as mãos em meus braços e fechei meus olhos, engolindo aquele bolo em minha garganta que tanto me sufocava.
O problema todo estava em gostar demais de . Já estávamos ficando uns meses, e cada vez me apegando ainda mais a ela, querendo ficar perto, conversar, saber mais sobre quem era, o que gostava, o que sentia. Mas essa última parte era sempre uma incógnita. Eu nunca sabia o que ela sentia. era o tipo de pessoa que escondia o que sentia a maior parte do tempo, mas agora, eu já não sabia se era realmente aquilo, ou ela não sentia o mesmo. Parecia que a segunda parte era a que mais fazia sentido agora.
Queria que as coisas fossem diferentes entre nós. Só que pelo visto não tinha como. Não tinha muita coisa a se fazer. Eu podia continuar ficando com ela, deixando rolar daquela forma sabendo que apenas com isso meus sentimentos iriam crescer cada vez mais. Ou eu poderia cortar isso nesse momento antes que me machucasse mais. Nunca fui do tipo masoquista, sempre fui uma pessoa tranquila em relação a isso. Se não gostava de mim, tudo bem. Porém, dessa vez sentia aquela vontade crescente de ter ao meu lado. Até onde eu iria para continuar alimentando isso? A verdade era que eu não sabia o que fazer. Gostava dela e queria tê-la como minha namorada, mas não era isso que iria acontecer.
Soltei o ar e ergui minha cabeça deixando a água bater em meu rosto e passei a mão pela minha pele, empurrando meu cabelo para trás. Respirei fundo, e terminei de tomar meu banho. Assim que terminei, desliguei o chuveiro e sai do box. Sequei meu corpo, escovei meus dentes e vesti a roupa que tinha trazido. Passei a mão em meu cabelo, fazendo os fios ficarem soltos e os joguei para trás.
Saí do banheiro e caminhei até meu armário pegando uma roupa de cama limpa, travesseiro e um edredom. Não falei absolutamente nada e não olhei para porque sabia que isso acabaria me fazendo deitar ao seu lado. Então fui para a sala e ajeitei o sofá para deitar, ele era bem grande e confortável, às vezes dormia nele sem precisar.
Apaguei as luzes. Deitei perto do encosto e virei de frente para ele, abraçando o travesseiro e fechando meus olhos com força. O peso em meu peito parecia ter ficado maior agora, e eu tentava controlar a minha respiração, a prendendo e soltando aos poucos, mas não consegui conter as lágrimas que saíram dos cantos dos meus olhos, uma delas ficou presa no canto inferior, se acumulando com outras, até escorrer pela linha do meu nariz. Minhas mãos apertaram a espuma macia do meu travesseiro com força, fazendo meu corpo todo tencionar e eu tentei conter aquele choro que saía de forma tão silenciosa quanto a minha respiração.
Fiquei ali daquela forma, e não sabia quanto tempo havia passado, até que escutei alguns passos perto do sofá.
— ? — ela sussurrou.
Fiquei quieto por um momento, não queria que visse que eu estava chorando e se sentisse culpada por isso. Era eu quem sentia demais e ela não tinha nada a ver com isso.
Escutei ela suspirar e senti o sofá se afofar aos meus pés.
— Não quero ficar sozinha.
— Deita aqui — sussurrei bem baixo tentando controlar a minha voz para sair normal.
Demorou alguns instantes até que ela se deitou ao meu lado, mas sem relaxar seu corpo. Tentei me acalmar, cessar o choro, mas não estava dando muito certo. A sala estava escura, então me virei e apenas subi mais o meu corpo, abraçando e deixando meu rosto acima do topo da sua cabeça.
Ela suspirou pesadamente sem falar nada, se aninhando em meus braços. Conseguia sentir seu corpo tremer algumas vezes e por mais que o tempo estivesse ameno, ela estava gelada. Puxei meu edredom, a cobrindo e apertei mais meus braços ao seu redor, fazendo nossos corpos ficarem colados, para o calor do meu passasse para o dela. Engoli em seco sentindo as lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto, mas respirei pela boca para não fazer barulho.
Fiquei abraçado com ela daquela forma, até que acabei dormindo, mas não a soltei.
Sonhei com a gente juntos e bem. Sabia que era só o que eu queria e minha mente estava projetando isso, mas tinha ciência que seria difícil aquilo acontecer. Não queria mais ficar pensando nisso, imaginando como seria ou o que queria, se não era a mesma coisa que .
Despertei sentindo minha cabeça doendo, e meu braço dormente por ter dormido em cima dele.
ainda estava dormindo, ou pelo menos estava com seus olhos fechados. A respiração diferente de ontem a noite, agora era ritmada e seu corpo estava relaxado ao lado do meu. Levei a minha mão até a lateral do seu rosto e fiz um carinho de leve com as costas dos meus dedos, tirando os fios de cabelo que estavam ali. Ela era tão linda.
Uni as sobrancelhas com aquele pensamento.
Tentei tirar meu braço que estava debaixo dela sem que acordasse. Ele estava dormente. E foi nesse momento que ela se mexeu. Primeiro ela fez uma careta e em seguida abriu os olhos devagar. Fiquei olhando para esperando para ver o que ela ia fazer ou falar. Ela levantou o suficiente para que eu conseguisse tirar meu braço, enquanto me olhava de uma maneira estranha.
— Me desculpe. — Apontou para o meu braço e então coçou os olhos, se levantando e sentando no lugar.
— Está tudo bem — falei dando um sorriso fraco para ela. — Você está se sentindo melhor? — perguntei preocupado.
Ela pareceu pensar por um momento.
— Aham. — Sorriu da mesma maneira que eu.
— Vou fazer café. Você quer? — ofereci me sentando no sofá e esfregando meu rosto.
— Por favor. — Passou os dedos pelas têmporas de forma firme.
Assenti com a cabeça e levantei do sofá, indo para o banheiro primeiro. Fiquei ali dentro um pouco, escovei meus dentes e lavei meu rosto. Saí e fui para a cozinha colocando o café para fazer. Fiquei um tempo sozinho até que apareceu. Ainda tinha a aparência sonolenta, mas o cabelo agora estava preso em um coque alto.
— Bom dia — desejei, agora tentando soar com um humor bom.
— Bom dia — respondeu e se encostou no balcão. — Quer ajuda com alguma coisa?
— Pode colocar as coisas na mesa — falei e abri a geladeira colocando as coisas sobre o balcão da pia.
— Certo. — Me olhou e então pegou as coisas, indo em direção a mesa. — Mais alguma coisa da geladeira? — disse enquanto pegava as xícaras no armário.
— Não — respondi pegando o pão e os biscoitos. — Quer ovos?
— Quero. — Sorriu. — Vai querer que esquente o leite?
— Não. Só vou tomar café mesmo — falei e peguei os ovos, colocando para fazer em seguida.
Ela me olhou por um momento e assentiu em seguida.
— Vou esquentar um pouco para mim — falou quase como se fosse um pedido se ela poderia ou não fazer aquilo.
Apenas balancei a cabeça.
Tinha a sensação que havia uma barreira enorme entre nós e que eu quem havia colocado ela ali. Fiquei calado fazendo os ovos, e quando terminei, coloquei em um prato e levei até a mesa. Peguei o bule de café que já estava pronto e servi para nós, me sentando em seguida, começando a comer.
Observava seus movimentos de canto de olho, ela olhava para o micro-ondas como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Quando o mesmo apitou ela retirou sua xícara de dentro e veio se sentar, de frente para mim.
— Por que dormimos na sala? — perguntou enquanto se servia de café.
A olhei sentindo meu corpo gelar.
Porque eu não queria dormir contigo.
— Você estava chapada e veio dormir comigo na sala porque não queria ficar sozinha — respondi em um tom baixo comendo minha torrada com ovo o qual tinha feito.
Vi seu maxilar se contrair.
— E você queria? — Colocou suavemente a xícara na mesa antes de levar até a boca. — Porque se fosse essa sua vontade poderia ter me deixado em casa.
Virei meu rosto e a encarei por alguns segundos.
— Não queria te causar mais problemas te deixando chapada em casa — respondi tomando um gole do meu café.
— Certo. — Sorriu sem humor. — Aparentemente não causei problema em casa, mas causei com você. — Estalou a língua na boca.
— Não passou nem pela minha cabeça te deixar em casa também quando a gente tinha combinado de você vir para cá — expliquei de forma calma mesmo que meu coração estivesse muito acelerado. — Já que você tocou no assunto, é melhor a gente parar de se ver.
Não era o que eu realmente queria, mas era o melhor a se fazer antes que as coisas ficassem piores.
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, parecia que havia esquecido como é que se falava.
— Você está certo disso? — perguntou afastando a cadeira da mesa.
— Depois do que rolou ontem, sim. Eu gosto de você, , gosto demais ao ponto que queria te pedir em namoro, mas só a menção disso fez com que você se afastasse de mim como se nem tivéssemos ido juntos na festa. Então acho que é melhor a gente parar por aqui. — Fui sincero com ela, mantendo meu tom de voz calmo como sempre mesmo que sentisse que meu coração estava quase arrebentando meu peito junto com a dor que crescia ali.
Ela mexia a perna em sinal de nervosismo, vi toda a cor de seu rosto desaparecer.
— Nós estávamos no meio de uma festa , achei que nossa relação estava ok desta forma, mas se não estava eu não tinha como saber.
— Estávamos bem, . Até você agir daquela forma. Pensei que estávamos juntos. Eu não te deixaria sozinha na festa para ficar com outra pessoa. Mas entendo, eu só sou uma pessoa boa para você ter ao lado, não é? Nada além disso. Eu entendo que você não tem obrigação de nada, muito menos de sentir alguma coisa por mim, e está tudo bem. Por isso acho que é melhor a gente parar de ficar — expliquei para ela o que achava em um tom baixo.
Minhas mãos estavam geladas e eu sentia meu peito se apertando cada vez mais.
— E nós estávamos. Nunca te deixei sozinho para ficar com outra pessoa. Se eu quisesse ter ficado com a sua amiguinha eu tinha ficado, não teria dado uma desculpa. — Negou com a cabeça e cruzou os braços. — Ela estava dando em cima de você para depois vir jogar na minha cara que te conhecia muito bem. — Descruzou os braços e os deixou cair ao lado do corpo. — Mas você já tomou sua decisão e por isso mesmo eu não vou ficar aqui tentando me explicar. Vou deixar sua roupa em cima da cama. — Seu peito subia e descia rapidamente, ela tentava manter o tom baixo, mas a cada palavra ele aumentava um pouco. — E sim, você é uma pessoa boa para ter ao lado, se não fosse eu nem teria perdido meu tempo. — Sorriu sem humor e saiu da cozinha.
Passei minha língua por dentro da bochecha e levantei atrás dela.
— você me deu o maior perdido na festa. Se não queria ficar perto de mim, era só ter falado. Eu fiquei que nem um palhaço te procurando pela casa toda, para te achar chapada do lado de fora sentada em um sofá. Te trouxe embora, e quando chegamos você tinha perdido o seu celular. Eu liguei para ele e estava com um cara o qual você tinha entregado para gravar o número dele — falei enquanto andava atrás dela para que tentasse entender meus motivos. — Não foi só a Melissa, foi tudo o que rolou na festa que me fez perceber que você não gosta de mim do mesmo jeito que eu. Foi por causa disso tudo que tomei a decisão, e para você parece que está ótimo assim.
Parei na porta do quarto respirando fundo e esfreguei meus olhos com as pontas dos meus dedos. Estava segurando tudo dentro de mim, e tentava controlar a minha respiração. Era difícil gostar de alguém, porém mais difícil ainda era abrir mão disso.
Olhei para . Ela não disse nada e não se importou nenhum pouco de trocar de roupa na minha frente. Nada que eu já não tivesse visto. Sua atitude me fazia pensar se ela estava disposta a ter aquela conversa ao invés de se fechar, mas parecia que não queria nem mais me olhar.
— Se você está achando que eu fiquei com alguém naquela festa além de você, está muito enganado. — Se virou para mim e então se sentou para calçar o coturno. — Mas você já tomou sua decisão, então eu não tenho nada a declarar. — Deu de ombros e descruzou as pernas se levantando. — Só preciso saber do meu celular, depois disso você está livre de mim, .
Seu descaso e suas palavras fizeram meu peito doer ainda mais. Eu tinha tomado minha decisão e ela não iria debater sobre isso, apenas aceitou. Aquilo só me fazia achar que Melissa tinha ainda mais razão. Se ela sentisse algo e me quisesse ao seu lado, teria pelo menos lutado por isso, tentando me fazer mudar de ideia. Sabia que meu olhar deveria estar transbordando decepção, e não era algo que eu pudesse controlar, era o que sentia, estava machucado.
— Eu pedi para o cara deixar na portaria — foi a única coisa que consegui responder com a voz totalmente apertada.
Engoli aquele bolo que estava me sufocando mesmo ele não saindo dali e me virei, caminhando para a sala. Peguei meu maço de cigarro sobre a mesa e segui para a varanda. Abri a porta de vidro e sentei na cadeira que tinha ali juntamente de uma mesa. Tirei um cigarro do maço e vi o quanto estava tremendo. Sentia vontade de chorar, mas irei segurar aquilo enquanto estivesse ali. Coloquei o cigarro entre meus lábios e o acendi dando uma tragada forte, sentindo a fumaça sufocar meus pulmões.
Certamente eu não era uma pessoa que valesse a pena lutar para ter ao lado.
Só conseguia pensar em seu sorriso, o jeito que ela ria quando contava algo, a forma como mexia em seu cabelo e me olhava, sem contar os seus beijos que eram deliciosos, e que sempre me davam vontade continuar tocando seus lábios com os meus, suas mãos pequenas e suaves alisando meu cabelo ou apertando meus ombros sempre quando a puxava para perto. Caralho, eu precisava muito dela perto de mim. Era impossível tirar da cabeça, e sempre quando pensava nela um sorriso vinha em meus lábios. Era impossível de controlar.
Parei o carro rente ao meio fio e peguei meu celular, mandando uma mensagem para ela.
visto por último hoje às 19:35
Cheguei
Estou aqui no carro te esperando
Quer que eu entre?
Ela não me respondeu, mas ouvi pessoas falando alto. Então inclinei meu corpo para frente, segurando no volante, e vi que vinha da casa de . Franzi o cenho de leve ao ouvir a voz dela, porque ela nunca tinha se exaltado comigo ou dava o ar disso, sempre foi tranquila. Abaixei um pouco o som para ver se conseguia ouvir o que estava acontecendo, mas não consegui entender direito. Era algo sobre ela não poder fazer alguma coisa, e que não podia sair. Não estava dando para entender, estava confuso por causa das três vozes berrando ao mesmo tempo.
Suspirei e olhei para meu celular novamente, mas ela ainda não tinha respondido. Tive que esperar ela sair. Era a única coisa que podia fazer. Talvez se buzinasse podia ser pior, porque eu não tinha ideia do que podia estar acontecendo lá dentro.
A coisa que eu mais odiava eram aqueles surtos da senhora perfeita por causa do meu comportamento. Por eles eu iria virar freira e morar em um convento. Senti meu celular vibrando enquanto eu tentava gritar mais alto do que os dois. Eu iria sair de casa, nem que fosse para nunca mais voltar. Tirei o celular do bolso sem me importar em escutar mais um sermão. Que eles explodissem. Respirei aliviada vendo o nome de brilhar na tela.
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Estou saindo
Digitei rapidamente e guardei o celular no mesmo instante que eu vi uma sombra se aproximando, dei um passo para trás.
— Cansei. — Ralhei e dei as costas para os dois.
Apertei o pacotinho no bolso do casaco e com toda certeza a primeira coisa que iria fazer assim que pisasse fora daquela casa era tomar um dos comprimidos para tornar tudo menos difícil.
Andei em direção a porta, fazendo questão de bater ao passar por ela.
A forma como eles reagiram por causa de uma mecha no cabelo e um piercing no nariz foi quase como se eu tivesse matado alguém. A filha perfeita deles pelo jeito não era tão perfeita, não para eles.
Caminhei rapidamente até o carro e por um momento eu quase bati a porta do carro ao entrar.
— Hey.
Respirei fundo olhando para como se não tivesse acontecido absolutamente nada. Mas sentia meu coração bater na garganta e as palmas das mãos sensíveis devido às marcas das unhas que ali ficaram.
Ele me olhou por alguns segundos, seus olhos passaram por todo meu rosto, meu cabelo e por fim pararam nos meus.
— Está tudo bem? — perguntou em tom baixo e preocupado.
— Melhor agora que você está aqui. — Sorri passando a mão pela sua nuca. — Meu pais não gostaram da minha mudança de visual. Foi por isso o show — comentei sendo breve sobre o que havia acontecido dentro de casa.
Sabia que ele tinha visto apenas pelo modo como havia me perguntado se estava tudo bem.
assentiu com a cabeça e deu um breve sorriso enquanto ainda me olhava.
— Que pena. Porque você está linda como sempre, e eu achei que o piercing novo e o cabelo pintado combinou demais contigo — elogiou chegando mais perto e deu um beijo em meu ombro sem tirar seus olhos dos meus.
— Combinou, não combinou?
Não entendia qual era o problema em fazer aquelas mudanças. A única coisa que eles batiam na tecla era justamente o "corpo é o tempo de deus e você está o estragando". Tanta gente no mundo e Deus lá vai estar se preocupando com o meu corpo?
— Demais — respondeu dando um sorriso maior.
— Festa de quem é hoje? — Quis saber sem lembrar do nome.
— Do Jonah. Você vai curtir — disse convicto e deu partida no carro. — Tem hora para voltar?
Balancei a cabeça ao escutar o nome. Na hora eu daria um rosto para ele e tudo bem.
— Não.
Quanto mais tempo fora de casa seria pior, mas estava com zero vontade de ficar no mesmo lugar que meus pais.
— Podemos ficar lá sem se preocupar. — Encostei a cabeça no encosto do carro olhando para a casa de canto de olho.
Estava cada vez mais difícil continuar por ali.
— Perfeito. As festas do Jonah vão até de manhã mesmo — contou com empolgação e dando um sorriso. — Quer escolher uma música? — ofereceu apontando para o rádio do carro.
— Ótimo! — Olhei para ele com um meio sorriso.
Respirei fundo antes de levar a mão que ainda tremia levemente até o rádio e procurar alguma coisa.
— Seu celular está conectado? — perguntei e não esperei a resposta, eu sabia que estava.
Cliquei na primeira playlist que apareceu no Spotify.
riu e me olhou por um momento, mas não falou nada, apenas continuou dirigindo. Até que estendeu a mão para mim. Levei a minha mão até a dele fazendo um leve carinho nela. Não tinha o que falar, mais estranho do que demonstrar sentimentos era falar sobre o que acontecia dentro de casa. não era de perguntar muito, ele só fazia isso quando via que tinha algo de muito errado comigo, mas também não ficava aprofundando muito o assunto quando percebia que eu não queria falar muito.
Então ele puxou minha mão até seus lábios e deu um pequeno beijo nela e me olhou de relance, antes de voltar sua atenção para a rua, mas sem soltar a minha mão, deixando nossos dedos entrelaçados sobre sua perna.
Me perdi por alguns minutos olhando nossas mãos entrelaçadas. Não era algo que eu costumava ver dentro de casa, demonstração de carinho. Por muitos anos aquilo me assustou, e continua assustando, mas não parecia ser errado, contanto que não fosse eu que tivesse que ser a carinhosa. Era quase como forçar alguma coisa que não se encaixava. Suspirei e voltei minha atenção para ele.
— Espero que essa seja diferente da última festa que fomos, e não tenha ninguém quase vomitando nos meus pés. — Semicerrei os olhos fazendo uma cara de nojo ao lembrar da cena. — Se o Julian beber todas e fizer isso, eu enfio a cabeça dele dentro do vaso. Que inclusive uma das suas funções é receber esse tipo de coisa, não os meus tênis.
Ouvi a risada dele que era baixa e suave.
— Não posso controlar os vômitos alheios. Mas se eu ver ele enjoado, pode deixar que irei te puxar para sairmos de perto dele. E a minha única função aqui é tomar conta de você — disse de um jeito leve e descontraído, dando um sorriso enquanto me olhava por um momento.
Neguei, rolando os olhos teatralmente.
— Ainda está nessa de que a sua única função é tomar conta de mim? — Estalei a língua na boca. — Disse que estou bem, não quero que você vá para a festa e se prive da diversão. Não sou nenhuma criança para que você precise tomar conta de mim.
— Eu sei que está bem. E ainda assim eu vou continuar cuidando de você e não vou deixar de me divertir. Mas se a senhorita está tão bravinha por isso, tudo bem — respondeu de forma tranquila e deu mais um beijo em minha mão. — E se estiver brigando comigo, você vai ter dois trabalhos.
— Não estou brigando, estou apenas comentando que não quero que deixe de fazer nada por minha conta — comentei. — Não irei me dar ao trabalho de brigar e depois ter que voltar atrás. Estamos muito bem assim. — Sorri e enrolei uma mecha de seu cabelo em meu dedo.
— Não iria deixar de fazer as coisas por estar cuidando de você — contou e sorriu fraquinho de um jeito doce. — Inclusive eu gosto disso — admitiu sobre cuidar de mim quase em um sussurro. — Perfeito, porque eu iria fazer as pazes depois.
Sorri e senti meu peito se apertar um pouco.
— É claro que você iria fazer as pazes depois, e eu não sei disso?
Aquela característica dele foi algo que me chamou a atenção, era reconfortante e ao mesmo tempo incomoda, afinal algumas coisas eu ainda precisava deixar em segredo. Como aquele pacote no bolso do casaco.
— Que bom que você já sabe — respondeu dando um riso pequeno.
Senti de novo seus olhos claros me olhando, mas ele não comentou mais nada. Parecia que queria perguntar algo, mas preferiu ficar calado dirigindo com atenção. Até que paramos na frente de uma enorme casa.
— Vou procurar um lugar para estacionar. Quer esperar aqui na porta ou quer ir comigo? — ofereceu passando meu polegar pela pele de meu dorso.
— Vou contigo, assim você pode ficar despreocupado de chegar na porta e eu não estar lá. — Sorri como uma criança. — Não tenho culpa de ser legal demais para ficar parada no mesmo lugar por muito tempo.
— Convencida — falou e me roubou um selinho.
— Trabalho apenas com verdades, meu amor. — Dei um tapinha em seu ombro.
— Bem, realmente não está mentindo.
Então ele dirigiu até um pouco mais à frente, virando a esquina e achou uma vaga, estacionando nela. Logo desceu do carro e deu a volta nele, me esperando na calçada, já pegando um cigarro mentolado e acendendo.
Soltei o cinto e demorei mais do que de costume para descer do carro só pela forma como ele me olhava. Abri a porta do carro e sai indo até o seu lado.
— Olha ele, mal chegando e já acendendo seu cigarro — comentei arrumando minha roupa e olhando em direção da casa, como sempre, a casa estava cheia.
deu de ombros e tragou lentamente enquanto me olhava, seu ar calmo o rodeava como sempre.
— Fazer o que, eu tenho um problema sério com cigarro — falou e estendeu a mão livre em minha direção. — Vamos? — chamou.
— Não estou reclamando. — Entrelacei meus dedos nos seus. — Inclusive o cheiro do cigarro misturado com o seu perfume é algo que eu não sei explicar.
— Hm… Você gosta? — Questionou chegando mais perto e dando um beijo em meus lábios.
— Talvez… — Passei a língua pelos lábios.
— Gosto do seu talvez — disse e deu uma olhada em meus lábios, então se afastou, dando uns passos para trás, me olhando por inteira agora. — Você está gata pra caralho.
— Você gosta muito mais do que apenas do meu talvez. — Aproveitei que ele ainda me olhava e passei a língua pelos lábios novamente o provocando.
Ele riu fraco negando de leve com a cabeça.
— Talvez — respondeu provocando de volta e chegou mais perto, dando uma pequena mordida em meu lábio inferior. — Vamos antes que eu desista ir para a festa — pediu, e se afastou, ainda segurando a minha mão.
— Não viemos até aqui para desistir de alguma coisa — comentei já andando em direção a casa.
Aquilo era o meu máximo de demonstrar sentimento, e aparentemente aquilo estava bastando.
— Gostei disso — falou andando ao meu lado e fumando seu cigarro. — Está afim de dormir no meu apartamento hoje? — convidou sem nenhuma pretensão em seu tom.
Fingi pensar por um momento.
— Se quiser minha ilustre companhia na sua cama não serei eu que irei negar este convite — respondi sem o encarar, como se aquilo não fosse nada. E não era, não ia para sua casa apenas a procura de sexo.
Ouvi sua risada em divertimento.
— Perfeito, porque troquei os lençóis por sua causa hoje — brincou dando uma pequena mordida em meu ombro.
— Céus, eu não creio que você soltou uma dessas ... — Arrumei uma mecha do meu cabelo enquanto ria. — Mas fico feliz que tenha trocado os lençóis. Nada como um jogo de cama limpo e cheiroso.
— Veja por um lado bom, pelo menos vai dormir sentindo cheiro de amaciante e não da minha baba — disse rindo ainda mais. — Sabia que você iria curtir. — Piscou um olho para mim.
— Se for só de baba está bom, se bem que se você babou pela cama inteira eu teria receio de perguntar como é que está sendo suas noites. — Fiz uma careta.
Agora gargalhou.
— Você não vai querer saber como tem sido as minhas noites — implicou rindo ainda.
— O senhor anda de segredos, Sr. ? — Fiz um bico o encarando por um breve momento. — Se a resposta for sim, terá que me contar depois, a não ser que queira plateia para divulgar como anda suas noites. — Diferente de onde o carro estava, ali já tinham diversas pessoas conversando e bebendo.
— Segredos? Não. Só acho que você não iria curtir saber o que ando fazendo na minha cama sem sua presença — comentou de forma banal, mas acabou rindo de novo ainda fumando.
— Irei querer saber sobre isso mais tarde — comentei mesmo sabendo que talvez nem lembrasse mais sobre aquele assunto.
— Talvez eu te conto — brincou e tragou seu cigarro, e depois soltou a fumaça para cima de forma lenta.
Entramos na casa e olhou para os lados procurando seus amigos, mas não os encontrou de primeira, então voltou a me olhar.
— Quer beber algo? — ofereceu de forma gentil enquanto ainda fumava ali dentro.
— Pode ser — respondi desviando de um grupo que estava no meio do caminho. — Vou querer a mesma coisa que você — pedi me poupando de ter que escolher algo.
— Cerveja então? — Ergueu as sobrancelhas e sorriu fraco.
Poderia ser algo mais forte, mas como disse que poderia ser a mesma coisa que que fosse tomar e como havíamos acabado de chegar, estava bom.
— Poder ser.
— Beleza. — Deu um beijo rápido em meus lábios e soltou a minha mão.
Perdi ele de vista rapidamente no meio das pessoas.
Aproveitei que estava sozinha e tirei um dos comprimidos do saquinho e coloquei na boca. Mesmo que em menor intensidade, ainda sentia meu corpo todo tremer por dentro. Maldita ansiedade que de uns tempos para cá não precisava de muito para dar o sinal de vida.
Guardei o pacote no bolso novamente olhando para os lados à procura de , ou melhor, para ver se ele não tinha presenciado essa cena. Já bastava a briga com meus pais. Não vi sinal dele, mas não demorou muito para ele aparecer por trás de mim, colocando seu braço por cima do meu ombro e deixando a garrafa de cerveja na altura do meu rosto.
— Quantas pessoas perguntaram seu número enquanto eu estava pegando cerveja? — perguntou de um jeito engraçado e deu um beijo em meu ombro.
— Depende… — Peguei a cerveja de sua mão e bebi um gole.
Estava gelada. O que era ótimo. Virei meu corpo ficando de frente para o dele.
— Quantas pediram o seu?
— Depende? Por que? — Uniu as sobrancelhas de leve um pouco confuso. — Ah, umas três só — respondeu dando de ombros e começou a dançar a música que tocava.
— E você deu o seu número para alguma delas? — perguntei seguindo o movimento que seu corpo fazia.
— Você não respondeu a minha pergunta primeiro — rebateu dando um sorrisinho e levou o gargalo da cerveja até seus lábios, dando um gole enquanto me olhava.
— Depende foi apenas para um suspense. Só queria saber quantas pessoas tinham pedido o seu número primeiro. — Dei de ombros.
— Espertinha. — Chegou com seu rosto mais perto do meu e fez quase nossos lábios se tocarem. — Ninguém pediu meu telefone, e não me interessa que outra garota tenha ele além de você — disse fazendo seus lábios rasparem pelos meus.
— Cumprimentei algumas pessoas, mas digamos que eu não estava prestando atenção nela para saber o que elas estavam falando.
— É? Estava pensando em que, para não prestar atenção nelas? — Seus olhos estavam dentro dos meus agora.
Minha barriga se contorceu com aquela fala. Ele estava me provocando, mas algo me dizia que tinha mais por vir. E eu não tinha ideia se iria saber lidar com isso.
— Em alguém que não eram elas. — Sorri de lado enquanto olhava em seus olhos de volta.
Aproveitei e passei a língua pelos meus lábios, e como os dele estavam próximos deixei que passasse pelos dele também. Senti sua mão tocando minha cintura e a apertando com seus dedos. Levei a mão livre até sua nuca.
— Estava pensando em como você estava demorando e se demorasse mais teria que arranjar alguma coisa para fazer, mas agora que você voltou, eu posso fazer o que eu tinha em mente. — Não deu para sussurrar por causa do som, mas falei em um tom que soasse dessa forma.
Então quebrei a distância mínima que havia entre nós. Era melhor fazer isso do que escutar as respostas às minhas provocações.
suspirou de forma pesada e seus lábios se apertaram mais nos meus, e logo se abriram, fazendo sua língua pedir passagem para tocar a minha. Apertei mais meus dedos em seu cabelo e abri a boca em resposta. Ele tinha gosto de cerveja misturada com seu cigarro mentolado. Senti sua língua adentrando minha boca, e passando pela lateral da minha de uma forma lenta, mas gostosa. Era como se ele estivesse apreciando meu beijo, seus lábios deslizavam sobre os meus sem pressa, sua mão livre apertava minha cintura, fazendo mais pressão em seus dedos contra a minha pele. Sentia sua respiração lenta, mas pesada. Tinha intensidade na maneira como me beijava, não era apenas um beijo, parecia mais do que isso para ele. Aquilo acendeu uma luzinha na minha cabeça e eu quebrei o beijo dando alguns selinhos, não queria mostrar que estava incomodada com alguma coisa.
— Tem plateia demais — disse ainda bem perto da sua boca. — Prefiro deixar isso para seus lençóis limpos. — Sorri sacana. — Achou Jonah? — Passei o dedo por seu lábio limpando a marca do meu batom.
Ele afastou um pouco me olhando nos olhos, e apenas assentiu com a cabeça sem falar nada, então olhou para os lados.
— Não, vamos procurar ele — falou.
Ele mesmo passou o dorso se sua mão pelos seus lábios para que terminasse de limpar o meu batom que manchava sua pele.
Bebi um longo gole da cerveja tentando deixar aquela sensação para trás. Olhei para os lados à procura de alguém conhecido, mas antes de qualquer coisa procurei sua mão com a minha, havia muita gente por ali e não estava nenhum pouco afim de alguém entrar na minha frente ou que alguma menina fizesse qualquer gracinha com .
Seguimos andando pela casa que estava lotada, até que finalmente achou seus amigos, soltando a minha mão e dando um abraço em cada um deles, depois me apresentou a todos que estavam naquela roda e se encostou na janela que estava aberta, puxando a minha mão para que meu corpo ficasse entre suas pernas. Ele bebia enquanto ouvia seus amigos conversarem, não estava falando muita coisa, apenas quando alguém lhe perguntava algo direto.
— E aí, . Namorando? — Uma das meninas que estava na roda perguntou, e seu olhar desceu para todo meu corpo, e depois encarou ele diretamente.
Houve silêncio por um momento, e agora todos estavam nos encarando, esperando a resposta. Senti a mão de apertando minha cintura.
— Por que? Está interessada? — Ele rebateu com certo humor e tomou um gole de sua cerveja.
— Nos dois? Sim. — A garota deu um sorrisinho de lado e voltou a me olhar.
Não estava esperando aquela resposta e ri maliciosamente.
— Direta, gostei. — Bebi o resto da minha cerveja sem tirar o sorriso dos lábios.
Não iria falar nada sobre estarmos namorando, só a menção daquela palavra fazia meu sangue gelar por completo, eu gostava da nossa relação daquela forma, não tinha para que rotular aquilo. Mas pelo modo que ele reagiu aquela pergunta ele não parecia muito satisfeito.
— Gostou mesmo? — O olhar dela desceu por mim todinha. — Então você me beijaria?
— Talvez… — comentei a olhando da mesma maneira que ela tinha me olhado.
Apertei minha mão na perna de esperando qualquer reação.
— A noite é uma criança, não é?! — Completei.
Ele não falou nada, apenas soltou a minha cintura.
— Então isso é um sim. — A menina chegou mais perto da gente e olhou por cima do meu ombro. — Só tenho a resposta dela?
— Se eu quisesse te beijar já teria feito isso antes, Melissa — respondeu mais sério agora.
— Você é sem graça demais, — ela rebateu e parou na minha frente.
— Acho que precisamos de mais bebidas. — Dei uma batidinha na perna dela. — Quer mais uma cerveja? — Me virei parcialmente para . — Se não poderíamos ir dançar né?! — Olhei dele para Melissa.
— Não, estou de boa. Pode ir lá — respondeu tomando mais cerveja enquanto me olhava.
Não entendi a mudança de humor. Na verdade, desde o momento que entrei no carro ele já estava me olhando de forma estranha, mas fazia sentido depois de presenciar o circo, mas agora? Eu não tinha feito nada para aquilo.
— Vamos? — ofereci minha mão para ela.
Melissa olhou para e deu um sorriso, pegando a minha mão em seguida.
— Claro. Vem! — disse toda animada já virando as costas e me puxando entre as pessoas.
Aparentemente tinha alguma coisa ali, pelo menos da parte de Melissa, já que parecia totalmente indiferente.
— Então, o interesse era real ou tem alguma coisa que eu precise saber? — Quis saber, apesar da música alta eu sabia que ela tinha me entendido.
Ela ficou de costas para onde estávamos antes e apesar das pessoas, eu conseguia ver ao longe.
— O que? É claro que o interesse é real. Como não ficar interessada em uma mulher linda que nem você? Só queria saber se vocês estavam namorando para poder te beijar. — Deu de ombros e olhou além de mim, dando um sorriso.
— Certo. — Sorri maliciosamente depois de escutar o que ela disse. — Como falei, a noite é uma criança, tudo pode acontecer.
Não iria descartar a possibilidade, ela era alguém que talvez não me chamasse a atenção nos dias normais, mas se havia ali um interesse e se ela fosse legal, quem sabe?!
— Você está me enrolando — declarou e se virou de frente para mim, parando de andar.
— Quem enrola é babyliss, meu amor. — Passei a mão por seu cabelo. — Estou apenas dizendo a verdade, a noite é uma criança, acabamos de chegar. Para que ser imediatista?
— Está bem. Espero mesmo que o interesse seja recíproco. — Ela deu um sorriso enorme para mim. — Sorte a minha que vocês não estão namorando, porque seria um enorme desperdício. — Piscou um olho para mim. — O que acha de começarmos a nossa noite com um daqueles drinks de fogo?
— Um enorme desperdício? — Ri. Ela sabia o que queria. — Por mim perfeito, qualquer coisa que tenha um alto nível de álcool está bom.
— Sim. Uma mulher dessas namorando é um puta desperdício — contou dando um riso. — Perfeito! Você é das minhas — disse e me roubou um selinho, já se virando e me puxando toda animada.
Eu também acharia um desperdício alguém como eu estar namorando, porém preferia pensar que a pessoa que conseguisse me namorar seria sortudo. Ou sortuda.
— Meu lema é quanto mais álcool melhor. — Otimizava o tempo para ficar bêbada. — Quando quiser uma companhia que não seja metida a macho alfa, é só me chamar, festa é comigo mesma!
— Pode deixar que com certeza eu vou te chamar — garantiu e me guiou até o balcão.
Melissa pediu alguma coisa que não consegui ouvir o que era, e sorriu para o garoto que estava fazendo os drinks. Então se virou para mim.
— Qual é o seu lance com o ? — perguntou de repente. — Você curte ele?
— Ahm… — me apoiei no balcão pensando sobre aquilo. — Nunca rotulamos o que temos, não vejo porque fazer tal coisa. — Dei de ombros. — Sim, ele é o tipo de pessoa que vale a pena ter ao lado.
— Tá, mas você gosta dele? — Ergueu uma sobrancelha me olhando com atenção.
Eu a olhava sentindo a mesma coisa que antes, meu coração apertava dentro do peito. O barman poderia trazer aquelas bebidas de uma vez para podermos voltar para o meio do pessoal.
— Gosto.
Balancei a cabeça positivamente e procurei ele com o olhar, estávamos longe, não dava para ver onde eles estavam.
— Como eu disse, ele é o tipo de pessoa que vale a pena ter ao lado. — Repeti o que tinha falado. — Por que?
— Porque alguém ser bom para ter ao seu lado não significa que você goste dela de forma amorosa. Podia ter ele apenas como um amigo e vocês se pegam, tudo casual. E a forma que ele me respondeu e me olhou, diz muito. Não sei quanto tempo vocês se conhecem, mas eu conheço há anos, então sei quanto ele gosta de alguém e se importa de verdade — respondeu sem desviar os olhos dos meus. — Se não se importa da mesma forma, acho que você deveria avisar.
Senti o gosto da cerveja voltar. Porque ela estava falando aquilo mesmo? Se o conhecia e sabia como ele era, porque estava dando em cima de mim? Se aquele era o tipo de amizade dela, eu passaria longe. Não que eu não fosse uma vaca em certos casos, mas não lembrava de dar em cima na namorada ou namorado de nenhum amigo meu. Eu não era namorada do , inclusive fugia desse tipo de coisa. Então porque ficar incomodada?
— Eu me importo com ele, se não me importasse pode ter certeza que para começo de conversa não estaria aqui junto com ele — respondi de forma mais seca.
— Não estou vendo você com ele — rebateu dando um sorriso e se virou, olhando para o garoto que estava colocando os copos no balcão.
— Não sou obrigada a entrar nesse seu jogo. O que nós temos ou não, condiz apenas nós. — Bati com as unhas balcão em sinal de desgosto. — Com licença.
Sai de perto, eu precisava achar um banheiro. Um lugar que ninguém estivesse me olhando. Era coisa demais para absorver.
Apenas ouvi a menina rindo.
Não contei em quantas pessoas esbarrei até achar o banheiro. Abri a porta. Estava vazio. Entrei e fui em direção a pia, olhei meu reflexo no espelho e eu estava péssima. Era como se faltasse ar em meus pulmões, sentia minhas mãos tremendo.
Peguei o pacote do bolso e levei mais um comprimido até a boca. Engoli com a ajuda da água da própria torneira. Fechei os olhos e a sensação que eu tinha era que o banheiro todo estava rodando e ficando extremamente pequeno. Aquilo parecia estar durando uma eternidade. O tempo se arrastava, a pressão ficava maior. Tudo parecia estar me apertando.
Ouvi alguém batendo na porta.
— ? — era me chamando. — Está aí dentro?
Abri os olhos e encarei a porta no mesmo instante. Ainda sem dizer nada. Quanto tempo havia passado desde que eu estava ali? Havia perdido a noção.
Ele bateu na porta de novo.
— Es…estou…— disse abrindo a porta.
Merda, ele não deveria estar ali. Desde que esta merda havia começado eu nunca deixei que ninguém me visse neste estado.
apenas colocou seu rosto para dentro do banheiro e me olhou, e algo o fez entrar de uma vez, e fechar a porta. Ele deu um passo na minha direção, mas parou, ainda me encarando com preocupação.
— Posso? — perguntou baixinho.
Eu não me mexi. A maneira como ele me olhava piorou tudo. Senti meu corpo todo tremendo. Me sentia extremamente vulnerável e talvez fosse uma das coisas que eu odiava sentir. Não sabia o que falar, não queria ele ali, mas também não queria estar sozinha. Não naquele banheiro desconhecido.
não esperou a minha resposta, apenas chegou mais perto e passou seus braços ao redor do meu corpo com cuidado e carinho, me puxando de leve contra si e encostando seu queixo em meu ombro. Aquilo foi o bastante para que eu começasse a chorar. Sentia as lágrimas pesadas caindo e queimando meu rosto. Sabia que iria acontecer em algum momento, desde que aquela maldita briga começou dentro de casa, eu tinha certeza de que aquilo iria acontecer.
Apertei sua blusa sentindo meu peito doer, era difícil de respirar, aquela dor no peito só ia aumentando, sentia meus dedos formigando. Eu precisaria de algo mais forte do que apenas o Xanax que havia tomado duas vezes e ainda não tinha feito efeito.
Seus braços me apertaram mais e senti seus dedos subindo pelas minhas costas, até chegar em meu cabelo e afagar os fios de minha nuca. Seus lábios beijaram meus ombros, fiquei totalmente presa contra ele. parecia que estava tentando me proteger de mim mesma naquele momento, mas não iria adiantar.
— Quer ir embora? — sussurrou em meu ouvido de um jeito calmo como ele sempre era.
— Não — respondi no mesmo tom que ele. — Não vou estragar sua noite. — Neguei prontamente. — Eu só preciso do meu remédio. — Aproveitei que ele não sabia dos outros dois. — E de um tempo aqui dentro.
Se aquilo não era se importar, o que seria? Foda-se Melissa e o que ela achava que sabia.
— Minha noite fica boa contigo em qualquer lugar. Eu não vim para essa festa para ficar com meus amigos, com eles eu sempre fico a maior parte do meu dia, vim para ficar contigo — contou em meu ouvido, e suas palavras continham carinho. O que não me ajudava em nada. — Que remédio? Onde ele está? — perguntou preocupado. — Posso ficar aqui dentro contigo?
— No meu bolso. — Apertei meus olhos bem como meus dedos em sua camisa.
Já tinha passado da fase em que contar os dedos e quais as coisas que eu sentia me ajudavam a me sentir melhor.
— Está em um pacote transparente no meu bolso — voltei a falar. — Xanax — respondi sobre qual remédio era.
Sua mão saiu de meu cabelo e apalpou meus bolsos até achar o remédio.
— Isso aqui é Xanax mesmo? — Quis saber, mas ainda continuava me abraçando.
Balancei a cabeça positivamente. Poderia ser algo mais forte, porém era o que eu tinha para aquele momento.
— Era assim ou embrulhar em um papel higiênico. — Funguei.
A maneira como segurei aqueles comprimidos naquela noite foi sorte estarem no plástico ao invés do papel, se não já estaria uma nojeira, teriam esfarelado.
— Vou pegar água para você — avisou e foi se soltando aos poucos de mim.
Mal sabia que no momento que ele me entregasse a água já não seria mais necessário, certamente o remédio já estaria fazendo efeito.
me olhou um momento, e então saiu do banheiro.
Agora que ele sabia dos remédios, o último que sobrou teria que durar para o resto da noite, pelo seguir das coisas eu não poderia simplesmente tomar mais um como se fosse uma bala.
Era isso, eu iria atrás de alguém que estivesse usando qualquer coisa. Alguém dentro daquela enorme casa estaria disposto a vender alguma coisa. Ou quem sabe dividir.
Logo ele voltou com uma garrafa de água e me entregou, se encostando na porta do banheiro e me olhando com aquele olhar preocupado. Já começava a sentir o efeito daquele remédio tomando meu corpo.
— Tem muito tempo que você toma isso? — perguntou com cautela.
— Por volta de um ano e meio — respondi abrindo a garrafa e tomando um longo gole, juntamente com meu terceiro comprimido aquela noite. — Obrigada por isso. — Pisquei algumas vezes e olhei para o chão.
Ele era a primeira pessoa que sabia sobre o Xanax, pelo menos para o uso correto do remédio.
— Ele serve para que? — Sua voz era baixa ainda. — Por nada.
— Crises de ansiedade. — Apertei a garrafa entre meus dedos. — E para outra coisa que eu não lembro, mas não é o meu caso. — O olhei. — O meu é para as minhas crises.
E quando eu queria ficar sem pensar em absolutamente nada no meu mundo. Mas óbvio que não iria comentar aquilo.
— Você toma sempre ou só quando está com crise? — O vi mordendo de leve o canto do seu lábio inferior.
— Às vezes antes da crise. — Mordi meu lábio também. — Mas na maior parte é durante a crise. O que é errado. — Sabia que eu precisava do tratamento, mas tinha uma diferença entre saber e fazer.
— Entendi. — Balançou a cabeça.
Então se desencostou da porta e foi até a banheira, se sentando dentro dela, e ficou me olhando.
— Tem alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? — Se prontificou, e eu via a forma como estava preocupado.
Um "ir embora" quase escapou entre meus lábios. Com toda certeza aquilo iria ajudar, ajudar com que eu não fodesse sua vida.
Fiz o mesmo caminho até a banheira e me sentei na beirada, ficando de frente para ele, mas logo desviei o olhar. Mesmo com meus dedos não formigando mais, eu sentia meu peito doendo, menos, mas ainda sim era incômodo respirar.
— Não sei, nunca precisei passar por isso com alguém ao meu lado. — Fui sincera.
Seu olhar baixou, e ele ficou encarando seu próprio tênis.
— Quer que eu saia, não é? — Quase que não ouvi sua voz dessa vez.
Sim
— Não. — Voltei meu olhar para ele. — Não sei. — Engoli em seco. — É muita coisa se passando de uma vez na minha cabeça. É um misto de tanta coisa que eu só preciso de um minuto.
Um minuto estava sendo legal. Se fosse como da última vez, ela demoraria a passar.
não falou nada, apenas segurou nas bordas da banheira e se sentou na beira dela, dando um beijo em minha bochecha. Em seguida levantou, foi para a porta do banheiro. Vi ele abrindo a porta e saindo, me encontrei sozinha ali novamente.
Fui até lá e olhei pelo buraco da fechadura se ele estava lá. O corredor estava vazio. Então sai do banheiro. Eu precisava de qualquer coisa, fosse droga ou alguma bebida forte.
Estava usando o dobro de todos os meus movimentos para poder andar, estava me escorando na parede esperando o momento em que minhas pernas iriam falhar e me deixar na mão. O Xanax estava finalmente fazendo efeito.
Quando sai do banheiro, parei do lado de fora segurando a maçaneta, prendendo aquela agonia que estava entalada em minha garganta. Eu queria ficar lá dentro. Queria ficar perto dela, a abraçando até que melhorasse. Porém, não precisava ser um gênio para perceber que não me queria ali dentro com ela. Deveria pensar que estava tudo bem, mas não estava. Ela não estava bem e eu não estava bem com isso. Meu peito se apertava e a sensação de impotência estava me tomando.
Também entendi que apesar de gostar dela, nós não estávamos na mesma vibração, ela não queria a mesma coisa do que eu, e certamente o sentimento não era recíproco da mesma forma. Isso me fazia pensar que estava esperando muito de algo que talvez nunca tivesse existido para ela. E não a culpava, não era obrigada a sentir nada por mim. Era para estar tudo bem, mas não estava, porque isso machucava.
Soltei o ar de forma pesada e soltei a maçaneta, saindo dali para pegar algo para beber. Apanhei uma garrafa de água e voltei para a porta do banheiro, porque por mais que soubesse que não me queria por perto, eu ficaria ali na porta esperando até o momento que saísse. Podia cuidar dela mesmo de longe.
Os minutos foram se passando enquanto olhava para aquela porta, estava demorando, então me sentei no chão.
Qualquer pessoa que tentava entrar, eu dizia que estava ocupado enquanto continuava esperando. O tempo foi passando, fui bebendo minha água, e quando ela acabou, acendi um cigarro.
Nada de .
Levantei do chão e bati na porta, não ouvi resposta. Bati novamente e chamei o seu nome algumas vezes. Ela não falou nada, e isso me deixou mais preocupado ainda. Então entrei e vi que estava vazio. Meus olhos se abriram mais e meu coração disparou.
Onde ela tinha se enfiado?
Olhei dentro da banheira e também não a encontrei. Passei a mão em meu cabelo, mas ele voltou a cair em meu rosto. Sai dali e comecei a procurar ela pela festa. Passei pela sala, e tentei encontrá-la ali, tinha muita gente, era difícil achar qualquer pessoa naquele lugar. Encontrei Melissa.
— Você viu a ? — perguntei para ela.
— Sim. A gente estava bebendo agora pouco ali no bar, mas a vi saindo depois pela porta de trás — contou dando de ombros e bebendo sua cerveja.
Torci meus lábios com aquilo. Ela não deveria estar bebendo e tomando remédio para ansiedade. Eu não entendia muito bem dessas coisas, mas já ouvi falar que não deveria misturar ou você ficava totalmente alucinado.
— Valeu — agradeci, já me virando, mas Melissa segurou minha mão. — O que foi?
— Ela não é garota para você — disse rapidamente, me olhando bem séria. — Ela não gosta de você, .
— E você descobriu isso enquanto bebiam juntas? — rebati rapidamente.
— Não, foi bem antes de beber. Eu perguntei para ela, e a resposta que tive foi: ele é alguém bom para se ter ao lado. Cara, essa garota só está te usando porque você é legal e faz tudo para ela. Cai fora. Quando ela ficar enjoada, vai arranjar outro idiota — avisou, e me olhou de forma preocupada.
Não podia esconder de mim mesmo que me incomodava demais ouvir aquilo.
— Valeu — foi a única coisa que falei.
— Você gosta dela — afirmou me olhando com pena.
— É, eu gosto. Você quer que eu faça o que? Finja que não? — Questionei rolando meus olhos.
— Não. Quero que você se livre dela.
— Ok, Melissa — respondi e me virei, saindo dali.
Ela tinha cada ideia que me tirava do sério. Não iria debater com Melissa sobre relacionamentos quando ela nunca teve um de verdade.
Segui para o lado de fora rapidamente.
Olhei ao redor e lá estava ela, sentada em um sofá de qualquer forma. Ela abriu um sorriso quando me viu. Prendi meus lábios em uma linha reta olhando aquela situação e respirei fundo.
— Você me achou! — Exclamou sorrindo. — Venha se sentar comigo.
Fui até onde ela estava.
— Vamos embora — falei sem dar nenhum sorriso de volta.
— Mas agora que está tudo bem? — Sua fala estava lenta e ela tentou pegar minha mão, mas errou as duas vezes.
— Estou indo embora, — avisei sendo mais firme com ela.
Ela fez uma careta entediada e um bico. Continuei olhando, esperando que parasse com aquilo, porque não tinha graça, a não ser a minha cara de palhaço.
— Certo. — Estalou a língua na boca e fez menção de se levantar, mas aparentemente seu corpo não respondia aos seus comandos.
Vendo que ela não iria conseguir sair dali sozinha, inclinei meu corpo sobre o seu e passei meu braço por sua cintura e a puxei para cima junto comigo, a fazendo se levantar.
— Consegue ficar de pé?
Ela me olhava com um meio sorriso, mas ao julgar a forma que ela estava, não sabia se estava vendo a realidade. Certamente estava totalmente alucinada por causa do que tomou.
— Sozinha? — Olhou para o chão o encarando por um breve momento. — Mas você quer me soltar? — Piscou lentamente enquanto me olhava.
Não, eu não queria soltar ela, só que isso não fazia a menor diferença agora depois do que houve.
— Quero saber se você consegue andar, pode se segurar em mim — respondi e respirei fundo.
— Argh… — resmungou e prestou atenção em seus movimentos. — Para a sua felicidade, claro que consigo andar. Olha só — falou de uma forma debochada e deu um passo para frente se segurando em meu braço.
— Andando perfeitamente bem — rebati e a peguei em meus braços mesmo, passando eles por suas costas e pernas.
— ! — Ela riu e soltou o peso de seu corpo nos meus braços. — Eu mostrei que sabia andar — comentou passando os braços pelo meu pescoço.
— Uhum. Claro — respondi já andando por ela pelo quintal e passando pela lateral da casa, porque seria impossível fazer isso por dentro.
— Você está bravo — disse deitando sua cabeça em meu pescoço.
— Por que acha isso? — perguntei, chegando na rua rapidamente.
— Porque sim. — Suspirou pesadamente e só disse isso.
— Não estou bravo contigo, — respondi para não se preocupar com aquilo.
— Mas então você está bravo com alguma coisa?
— Não estou bravo com nada. — Deixei aquilo claro.
Eu estava chateado, e era bem diferente de estar bravo. Não tinha o direito de cobrar nada, então a culpa era minha por estar me sentindo daquela forma.
Cheguei no carro e coloquei no chão e encostada na lateral para que não caísse. Abri a porta do carro e esperei que ela entrasse.
Ela olhou para dentro do carro e entrou quase como se estivesse em câmera lenta. Suas pupilas estavam tão dilatadas que nem pareciam as mesmas.
— Obrigada. — Ela agradeceu passando a mão por meu braço.
A olhei por um momento e apenas assenti. Me afastei e fechei a porta com cuidado. Dei a volta no carro e entrei no lado do motorista, e já dando partida.
Respirei fundo enquanto dirigia sentindo meu peito pesado e minha garganta trancada. Meus dedos apertaram o volante e eu passei minha mão em meu cabelo novamente. Olhei para ao meu lado verificando como ela estava. Do mesmo modo que ela entrou no carro ela estava naquele momento. A cabeça virada em direção a janela, que agora estava aberta e o vento fazia com que seu cabelo voasse de leve. Suspirei e voltei a olhar para frente.
Pensei em pegar a sua mão da mesma forma como viemos, mas só a ideia fazia meu peito doer, especialmente lembrando do que Melissa havia me dito. Sabia que ela não tinha mentido, conhecia Melissa o suficiente para saber que ela sempre usava da verdade para esfregar na cara de todo mundo. Eu só era bom para para estar ali para quando ela precisasse. Era isso.
Dirigi em silêncio, sem ligar o rádio também. Cheguei no prédio e entrei na garagem, parando na minha vaga. Desci do carro e dei a volta nele, indo até o lado do carona e abrindo a porta.
— Vem — chamei, estendendo a minha mão para .
Ela pegou minha mão e senti a mão dela gelada.
— Meu celular? — disse apalpando os bolsos de forma lenta. — Eu perdi meu celular, . — Soltou a minha mão virando em direção ao banco do carro. — Eu não posso ter perdido meu celular — choramingou.
— Deixa eu ver, — falei e a puxei para fora do carro, a deixando encostada nele.
Liguei a luz interna do carro e comecei a procurar o seu celular, mas não achei. Então peguei o meu e liguei para ele. Não demorou muito para atenderem.
— Oi, quem fala? — perguntei rapidamente e olhei para que estava na minha frente.
— Hey, você é o cara que estava com a , não? — Um cara respondeu. — Ela me deu o telefone dela para passar meu número, mas aí vocês foram embora.
Aquilo me fez olhar para o outro lado e respirar fundo mais uma vez.
— Sou eu sim. Quando você sair da festa pode deixar o telefone na portaria do meu prédio? — pedi já falando onde eu morava, apartamento e meu nome..
— Tá, Beleza. Vou ver para passar aí.
— Valeu — agradeci e encerrei a ligação.
Olhei para e fechei o carro.
— Está com o cara que você deu para anotar o número — contei e guardei meu celular no bolso. — Vamos subir, vem. — Lhe estendi a mão.
— Ah. — Ela coçou a nuca e com a mão livre ela segurou a minha. — Ele disse onde é para ir entregar?
— Não se preocupe, ele vai deixar aqui — respondi e passei seu braço ao redor do meu pescoço, e segurei sua cintura.
— Eu não mereço isso, — disse enquanto olhava para o chão ao invés de olhar para frente.
— Do que você está falando? — perguntei andando no passo dela até chegar no elevador.
— Eu fodi a sua noite e você ainda está me trazendo para a sua casa — riu sem humor.
— Você não fez nada, não fica pensando nisso — pedi, porque aquilo poderia dar mais gatilho nela, e não iria deixar que tomasse mais nada naquela noite.
— É impossível não pensar depois do que a sua amiga falou.
— Seja lá o que Melissa te falou, esquece. Ela não sabe o que está dizendo — argumentei rapidamente e apertei o botão do elevador, fazendo a porta abrir.
Entramos e apertei o número do meu andar.
— Talvez ela saiba, a maneira como ela falou de você, que te conhece bem e há tantos anos. — Senti sua respiração ir acelerando.
— Ela gosta de brincar com a cabeça das pessoas e você está deixando ela fazer isso contigo — falei qualquer coisa só para ela esquecer o que Melissa disse.
Ela balbuciou algo baixo que eu não consegui entender. Não falei mais nada, apenas esperei o elevador abrir as portas para que a gente pudesse sair. Assim que aconteceu, segurei de novo, e fomos até a porta do meu apartamento. Abri e entrei com ela, indo direto para o meu quarto e a colocando em minha cama.
— Vou pegar uma camisa para você vestir — falei tirando seus coturnos e colocando seus pés para cima.
Sabia que em algum lugar do armário deveria ter alguma coisa dela, mas uma camisa minha era mais fácil, a deixaria mais confortável. Peguei uma das que ela estava habituada a usar e quando voltei até a cama. me olhava. Estendi a camisa em sua direção.
— Precisa de ajuda para trocar de roupa?
— Não, obrigada — disse começando a tirar a parte de cima de sua roupa e depois se levantando devagar para tirar a calçada que usava. — Você já vai deitar?
— Depois. Pode ficar à vontade — falei dando um pequeno sorriso para ela.
— Não estou com sono — disse encolhendo os ombros. — Não vou conseguir dormir agora.
Era difícil acreditar naquilo enquanto olhava para ela e observava as piscadas lenta que ela dava.
— Quer comer alguma coisa? — ofereci soltando o ar. — Coloca alguma coisa para assistir. — Peguei o controle da TV e coloquei ao seu lado.
Ela me olhava com certa incerteza e a vi negar com a cabeça.
— Não preciso de nada para comer, talvez uma água seja bom. — Se sentou na ponta da cama e olhou para o controle. — Qualquer coisa ligo depois.
— Está bem. Vou pegar água.
Saí do quarto em seguida e fui para a cozinha. Peguei um copo e coloquei no filtro, ligando a torneira. Apoiei minhas mãos no balcão e fechei meus olhos, soltando o ar de forma pesada, sentindo meu peito se apertando e queimando. Estava tudo bem. Era o que eu estava começando a repetir para mim mesmo enquanto ouvia o barulho da água caindo, enchendo o copo.
Abri meus olhos quando ouvi que o copo estava quase cheio e desliguei a torneira, pegando a água e voltando para o quarto. Coloquei o copo na mesa de cabeceira, e olhei para .
— Você precisa de alguma coisa? — perguntei em um tom baixo.
Ela acompanhou meus movimentos com o olhar.
— Não, está tudo certo — falou se encolhendo no lugar e pegando o copo de água e tomando todo de uma vez.
— Beleza. Vou tomar um banho. Qualquer coisa que precisar pode me chamar — avisei e me inclinei, dando um beijo em sua cabeça.
Dei uns passos para trás e peguei uma roupa para dormir no armário, indo para o banheiro em seguida. Fechei a porta e me despi rapidamente, e entrei no box e abri a água, sentindo ela gelada batendo em meu corpo, fazendo meu corpo estremecer. Passei as mãos em meus braços e fechei meus olhos, engolindo aquele bolo em minha garganta que tanto me sufocava.
O problema todo estava em gostar demais de . Já estávamos ficando uns meses, e cada vez me apegando ainda mais a ela, querendo ficar perto, conversar, saber mais sobre quem era, o que gostava, o que sentia. Mas essa última parte era sempre uma incógnita. Eu nunca sabia o que ela sentia. era o tipo de pessoa que escondia o que sentia a maior parte do tempo, mas agora, eu já não sabia se era realmente aquilo, ou ela não sentia o mesmo. Parecia que a segunda parte era a que mais fazia sentido agora.
Queria que as coisas fossem diferentes entre nós. Só que pelo visto não tinha como. Não tinha muita coisa a se fazer. Eu podia continuar ficando com ela, deixando rolar daquela forma sabendo que apenas com isso meus sentimentos iriam crescer cada vez mais. Ou eu poderia cortar isso nesse momento antes que me machucasse mais. Nunca fui do tipo masoquista, sempre fui uma pessoa tranquila em relação a isso. Se não gostava de mim, tudo bem. Porém, dessa vez sentia aquela vontade crescente de ter ao meu lado. Até onde eu iria para continuar alimentando isso? A verdade era que eu não sabia o que fazer. Gostava dela e queria tê-la como minha namorada, mas não era isso que iria acontecer.
Soltei o ar e ergui minha cabeça deixando a água bater em meu rosto e passei a mão pela minha pele, empurrando meu cabelo para trás. Respirei fundo, e terminei de tomar meu banho. Assim que terminei, desliguei o chuveiro e sai do box. Sequei meu corpo, escovei meus dentes e vesti a roupa que tinha trazido. Passei a mão em meu cabelo, fazendo os fios ficarem soltos e os joguei para trás.
Saí do banheiro e caminhei até meu armário pegando uma roupa de cama limpa, travesseiro e um edredom. Não falei absolutamente nada e não olhei para porque sabia que isso acabaria me fazendo deitar ao seu lado. Então fui para a sala e ajeitei o sofá para deitar, ele era bem grande e confortável, às vezes dormia nele sem precisar.
Apaguei as luzes. Deitei perto do encosto e virei de frente para ele, abraçando o travesseiro e fechando meus olhos com força. O peso em meu peito parecia ter ficado maior agora, e eu tentava controlar a minha respiração, a prendendo e soltando aos poucos, mas não consegui conter as lágrimas que saíram dos cantos dos meus olhos, uma delas ficou presa no canto inferior, se acumulando com outras, até escorrer pela linha do meu nariz. Minhas mãos apertaram a espuma macia do meu travesseiro com força, fazendo meu corpo todo tencionar e eu tentei conter aquele choro que saía de forma tão silenciosa quanto a minha respiração.
Fiquei ali daquela forma, e não sabia quanto tempo havia passado, até que escutei alguns passos perto do sofá.
— ? — ela sussurrou.
Fiquei quieto por um momento, não queria que visse que eu estava chorando e se sentisse culpada por isso. Era eu quem sentia demais e ela não tinha nada a ver com isso.
Escutei ela suspirar e senti o sofá se afofar aos meus pés.
— Não quero ficar sozinha.
— Deita aqui — sussurrei bem baixo tentando controlar a minha voz para sair normal.
Demorou alguns instantes até que ela se deitou ao meu lado, mas sem relaxar seu corpo. Tentei me acalmar, cessar o choro, mas não estava dando muito certo. A sala estava escura, então me virei e apenas subi mais o meu corpo, abraçando e deixando meu rosto acima do topo da sua cabeça.
Ela suspirou pesadamente sem falar nada, se aninhando em meus braços. Conseguia sentir seu corpo tremer algumas vezes e por mais que o tempo estivesse ameno, ela estava gelada. Puxei meu edredom, a cobrindo e apertei mais meus braços ao seu redor, fazendo nossos corpos ficarem colados, para o calor do meu passasse para o dela. Engoli em seco sentindo as lágrimas ainda escorrendo pelo meu rosto, mas respirei pela boca para não fazer barulho.
Fiquei abraçado com ela daquela forma, até que acabei dormindo, mas não a soltei.
Sonhei com a gente juntos e bem. Sabia que era só o que eu queria e minha mente estava projetando isso, mas tinha ciência que seria difícil aquilo acontecer. Não queria mais ficar pensando nisso, imaginando como seria ou o que queria, se não era a mesma coisa que .
Despertei sentindo minha cabeça doendo, e meu braço dormente por ter dormido em cima dele.
ainda estava dormindo, ou pelo menos estava com seus olhos fechados. A respiração diferente de ontem a noite, agora era ritmada e seu corpo estava relaxado ao lado do meu. Levei a minha mão até a lateral do seu rosto e fiz um carinho de leve com as costas dos meus dedos, tirando os fios de cabelo que estavam ali. Ela era tão linda.
Uni as sobrancelhas com aquele pensamento.
Tentei tirar meu braço que estava debaixo dela sem que acordasse. Ele estava dormente. E foi nesse momento que ela se mexeu. Primeiro ela fez uma careta e em seguida abriu os olhos devagar. Fiquei olhando para esperando para ver o que ela ia fazer ou falar. Ela levantou o suficiente para que eu conseguisse tirar meu braço, enquanto me olhava de uma maneira estranha.
— Me desculpe. — Apontou para o meu braço e então coçou os olhos, se levantando e sentando no lugar.
— Está tudo bem — falei dando um sorriso fraco para ela. — Você está se sentindo melhor? — perguntei preocupado.
Ela pareceu pensar por um momento.
— Aham. — Sorriu da mesma maneira que eu.
— Vou fazer café. Você quer? — ofereci me sentando no sofá e esfregando meu rosto.
— Por favor. — Passou os dedos pelas têmporas de forma firme.
Assenti com a cabeça e levantei do sofá, indo para o banheiro primeiro. Fiquei ali dentro um pouco, escovei meus dentes e lavei meu rosto. Saí e fui para a cozinha colocando o café para fazer. Fiquei um tempo sozinho até que apareceu. Ainda tinha a aparência sonolenta, mas o cabelo agora estava preso em um coque alto.
— Bom dia — desejei, agora tentando soar com um humor bom.
— Bom dia — respondeu e se encostou no balcão. — Quer ajuda com alguma coisa?
— Pode colocar as coisas na mesa — falei e abri a geladeira colocando as coisas sobre o balcão da pia.
— Certo. — Me olhou e então pegou as coisas, indo em direção a mesa. — Mais alguma coisa da geladeira? — disse enquanto pegava as xícaras no armário.
— Não — respondi pegando o pão e os biscoitos. — Quer ovos?
— Quero. — Sorriu. — Vai querer que esquente o leite?
— Não. Só vou tomar café mesmo — falei e peguei os ovos, colocando para fazer em seguida.
Ela me olhou por um momento e assentiu em seguida.
— Vou esquentar um pouco para mim — falou quase como se fosse um pedido se ela poderia ou não fazer aquilo.
Apenas balancei a cabeça.
Tinha a sensação que havia uma barreira enorme entre nós e que eu quem havia colocado ela ali. Fiquei calado fazendo os ovos, e quando terminei, coloquei em um prato e levei até a mesa. Peguei o bule de café que já estava pronto e servi para nós, me sentando em seguida, começando a comer.
Observava seus movimentos de canto de olho, ela olhava para o micro-ondas como se fosse a coisa mais interessante do mundo. Quando o mesmo apitou ela retirou sua xícara de dentro e veio se sentar, de frente para mim.
— Por que dormimos na sala? — perguntou enquanto se servia de café.
A olhei sentindo meu corpo gelar.
Porque eu não queria dormir contigo.
— Você estava chapada e veio dormir comigo na sala porque não queria ficar sozinha — respondi em um tom baixo comendo minha torrada com ovo o qual tinha feito.
Vi seu maxilar se contrair.
— E você queria? — Colocou suavemente a xícara na mesa antes de levar até a boca. — Porque se fosse essa sua vontade poderia ter me deixado em casa.
Virei meu rosto e a encarei por alguns segundos.
— Não queria te causar mais problemas te deixando chapada em casa — respondi tomando um gole do meu café.
— Certo. — Sorriu sem humor. — Aparentemente não causei problema em casa, mas causei com você. — Estalou a língua na boca.
— Não passou nem pela minha cabeça te deixar em casa também quando a gente tinha combinado de você vir para cá — expliquei de forma calma mesmo que meu coração estivesse muito acelerado. — Já que você tocou no assunto, é melhor a gente parar de se ver.
Não era o que eu realmente queria, mas era o melhor a se fazer antes que as coisas ficassem piores.
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes, parecia que havia esquecido como é que se falava.
— Você está certo disso? — perguntou afastando a cadeira da mesa.
— Depois do que rolou ontem, sim. Eu gosto de você, , gosto demais ao ponto que queria te pedir em namoro, mas só a menção disso fez com que você se afastasse de mim como se nem tivéssemos ido juntos na festa. Então acho que é melhor a gente parar por aqui. — Fui sincero com ela, mantendo meu tom de voz calmo como sempre mesmo que sentisse que meu coração estava quase arrebentando meu peito junto com a dor que crescia ali.
Ela mexia a perna em sinal de nervosismo, vi toda a cor de seu rosto desaparecer.
— Nós estávamos no meio de uma festa , achei que nossa relação estava ok desta forma, mas se não estava eu não tinha como saber.
— Estávamos bem, . Até você agir daquela forma. Pensei que estávamos juntos. Eu não te deixaria sozinha na festa para ficar com outra pessoa. Mas entendo, eu só sou uma pessoa boa para você ter ao lado, não é? Nada além disso. Eu entendo que você não tem obrigação de nada, muito menos de sentir alguma coisa por mim, e está tudo bem. Por isso acho que é melhor a gente parar de ficar — expliquei para ela o que achava em um tom baixo.
Minhas mãos estavam geladas e eu sentia meu peito se apertando cada vez mais.
— E nós estávamos. Nunca te deixei sozinho para ficar com outra pessoa. Se eu quisesse ter ficado com a sua amiguinha eu tinha ficado, não teria dado uma desculpa. — Negou com a cabeça e cruzou os braços. — Ela estava dando em cima de você para depois vir jogar na minha cara que te conhecia muito bem. — Descruzou os braços e os deixou cair ao lado do corpo. — Mas você já tomou sua decisão e por isso mesmo eu não vou ficar aqui tentando me explicar. Vou deixar sua roupa em cima da cama. — Seu peito subia e descia rapidamente, ela tentava manter o tom baixo, mas a cada palavra ele aumentava um pouco. — E sim, você é uma pessoa boa para ter ao lado, se não fosse eu nem teria perdido meu tempo. — Sorriu sem humor e saiu da cozinha.
Passei minha língua por dentro da bochecha e levantei atrás dela.
— você me deu o maior perdido na festa. Se não queria ficar perto de mim, era só ter falado. Eu fiquei que nem um palhaço te procurando pela casa toda, para te achar chapada do lado de fora sentada em um sofá. Te trouxe embora, e quando chegamos você tinha perdido o seu celular. Eu liguei para ele e estava com um cara o qual você tinha entregado para gravar o número dele — falei enquanto andava atrás dela para que tentasse entender meus motivos. — Não foi só a Melissa, foi tudo o que rolou na festa que me fez perceber que você não gosta de mim do mesmo jeito que eu. Foi por causa disso tudo que tomei a decisão, e para você parece que está ótimo assim.
Parei na porta do quarto respirando fundo e esfreguei meus olhos com as pontas dos meus dedos. Estava segurando tudo dentro de mim, e tentava controlar a minha respiração. Era difícil gostar de alguém, porém mais difícil ainda era abrir mão disso.
Olhei para . Ela não disse nada e não se importou nenhum pouco de trocar de roupa na minha frente. Nada que eu já não tivesse visto. Sua atitude me fazia pensar se ela estava disposta a ter aquela conversa ao invés de se fechar, mas parecia que não queria nem mais me olhar.
— Se você está achando que eu fiquei com alguém naquela festa além de você, está muito enganado. — Se virou para mim e então se sentou para calçar o coturno. — Mas você já tomou sua decisão, então eu não tenho nada a declarar. — Deu de ombros e descruzou as pernas se levantando. — Só preciso saber do meu celular, depois disso você está livre de mim, .
Seu descaso e suas palavras fizeram meu peito doer ainda mais. Eu tinha tomado minha decisão e ela não iria debater sobre isso, apenas aceitou. Aquilo só me fazia achar que Melissa tinha ainda mais razão. Se ela sentisse algo e me quisesse ao seu lado, teria pelo menos lutado por isso, tentando me fazer mudar de ideia. Sabia que meu olhar deveria estar transbordando decepção, e não era algo que eu pudesse controlar, era o que sentia, estava machucado.
— Eu pedi para o cara deixar na portaria — foi a única coisa que consegui responder com a voz totalmente apertada.
Engoli aquele bolo que estava me sufocando mesmo ele não saindo dali e me virei, caminhando para a sala. Peguei meu maço de cigarro sobre a mesa e segui para a varanda. Abri a porta de vidro e sentei na cadeira que tinha ali juntamente de uma mesa. Tirei um cigarro do maço e vi o quanto estava tremendo. Sentia vontade de chorar, mas irei segurar aquilo enquanto estivesse ali. Coloquei o cigarro entre meus lábios e o acendi dando uma tragada forte, sentindo a fumaça sufocar meus pulmões.
Certamente eu não era uma pessoa que valesse a pena lutar para ter ao lado.
Parte II
Um mês de completo silêncio dentro daquela casa e da maior confusão dentro da minha cabeça. Sempre foi muito fácil deixar as coisas de lado, menos quando as coisas passaram a ser sobre .
Dizem que os primeiros dias são os mais difíceis de você ficar sem alguma coisa, mas eu me pergunto, quantos dias completam os primeiros dias? Os primeiros dias do ano podem ser considerados o primeiro mês, trinta ou trinta e um dias. Os primeiros dias de uma semana são para alguns domingo e segunda, ou segunda e terça, dois dias.
Estava deitada de barriga para cima girando o pequeno comprimido em meus dedos enquanto alguém dormia pesadamente ao meu lado. Não me importava nada com quem fosse que estivesse ali, não lembrava nem de ter chego em casa. Mas de uma coisa eu não me esquecia, a forma como me olhava enquanto eu me vestia. A maneira com que ele tentava - e conseguia - segurar sem tom calmo como se apenas estivéssemos tendo uma conversa básica de café da manhã.
Sempre fui muito mais prática do que sentimental, preto e branco, sem espaço para cinzas e seus diversos tons.
— Bom dia. — Escutei uma voz e virei para o lado.
— Está na hora de você ir — disse simplesmente e voltei a atenção para o teto.
Percebi que a pessoa ficou me olhando por alguns instantes até ver que eu realmente estava falando sério. Se levantou e não demorou muito para escutar ele bater à porta.
Faziam exatos trinta dias que eu usava muito mais do que a dose recomendada de Xanax para me manter no lugar. Trinta dias que eu vi que existiam mais do que apenas duas cores, trinta dias de uma crise em público que eu entendi que por mais que a pessoa te acolha, ela não está pronta para lidar com problemas que não seja o dela.
Ouvi meu celular tocar, era uma mensagem. Peguei o aparelho e vi que era Camille.
Camille
online
online
Vamos na festa hoje?
Quando recebi aquele bom dia, realmente achei que era dia, mas já era tarde. Literalmente.
Camille
online
online
Festa?
Vamos
Que horas?
Começa as dez, mas podemos chegar às onze
Certo
Vamos nos encontrar lá ou como iremos fazer?
Posso passar na sua casa de Uber se quiser
Por mim está ótimo
Fechado!
Chego aí às dez e meia
Estarei pronta às dez! kkk
Assim espero
kkkkk
Não tenho culpa de nunca saber com qual roupa eu vou, ok
Tem sim! Estou avisando horas antes!
Certo, daqui a pouco vou para o banho
estarei pronta as DEZ!
OK! DEZ E MEIA!
Assim que o uber parou no endereço indicado já tirei uma nota do bolso pagando a corrida.
— Vamos, está esperando o que, meu amor? — Indiquei a porta com a cabeça. — Eu sei que a casa está cheia, mas foi você quem chamou.
— Você nasceu de sete meses, certeza — rebateu e abriu a porta do carro, já saindo. — Anda logo, Margarida.
— Sete e meio, me respeita. — Mandei um beijo para ela e sai em seguida.
— Respeito nada! Vamos logo.
Ela pegou minha mão e saiu me puxando, empurrando as pessoas para saírem da nossa frente.
— Delicada como coice de mula — comentei rindo ao passar por algumas pessoas que nos olharam com uma cara feia. — Quem mais vai estar aqui esta noite? Você parece saber direitinho para onde está indo — disse maliciosamente.
— Mac disse que viria. Falei que encontraria com ele — respondeu me olhando por cima de seu ombro e sorrindo toda safada.
— Mac, hm?! Quem diria. Gostei. — Sorri estalando a língua na boca.
— Já tem um garantido essa noite, o que vier de resto é lucro — riu jogando sua cabeça para trás.
— Você não presta. E é justamente por isso que eu amo andar com você.
Era justamente aquele tipo de coisa com que eu estava acostumada, sem muitos planos, sem se preocupar com o dia depois do amanhã.
— Não, garota. Você me ama e iremos nos casar. — Piscou um olho para mim e riu um pouco.
— Você sabe que não deveria me provocar sobre casarmos, vai que um dia isso realmente aconteça? — falei chegando mais perto dela. — O maior casamento entre duas piranhas. Mal posso esperar por isso.
— Estou contando com isso — respondeu empinando sua bunda para mim e dando um riso, mas seu sorriso sumiu logo em seguida quando viu algo. — Vamos lá fora? Acho que o Mac comentou qualquer coisa sobre esperar lá.
Dei um tapa em sua bunda enquanto ria e franzi o cenho quando o sorriso dela desapareceu.
— Vamos. Estou te seguindo.
— Claro — disse sorrindo e se virou, me puxando rápido dali, dando passinhos curtinhos por ser bem menor do que eu.
E ela estava certa ao lembrar sobre Mac comentar qualquer coisa, ele estava com mais um grupo de amigos perto da piscina. Gostava do fato de ter uma piscina ali. Camille sorriu para os meninos e já empurrou um deles em cima de mim, rindo disso, mas foi literalmente mesmo, fazendo ele cair em cima de mim.
— Você é ridícula, Camille — ralhei com ela, mas estava rindo. — Geralmente é o cara que segura a menina, mas gosto quando as coisas não saem como o esperado. — Sorri para o rapaz que me olhava um tanto quanto sem graça.
— Desculpa — ele pediu super sem jeito.
— Em vez de pedir desculpa, beija ela. — Camille colocou pilha, rindo.
— Mac, está na hora de você beijar essa menina para ela calar a boca. — Fingi ignorar Camille e olhei para Mac que estava se divertindo também.
— Eu acho que o Dom deveria te beijar e fazer a mesma coisa — ela disse dando um sorrisinho, mas puxou Mac para perto.
— Ela é sempre assim? — o tal de Dom perguntou, seu rosto estava vermelho.
— Se ela é sempre assim? — Mac respondeu por mim. — Ela é pior que isso cara, você não viu nada. — Ele segurou uma risada e lhe roubou um beijo.
— Camille é ligada nos 220 — respondi achando graça dele ter ficado com vergonha. — Mas ela não faz por mal tadinha, tem um leve problema na cabeça. — Pisquei algumas vezes em direção a ela fazendo graça.
— Fiz por mal sim — parou o beijo só para falar aqui e riu.
— Se fosse por mal você teria empurrado algum objeto, não um homem em minha direção.
— Eu fiz na intenção que ele te beijasse, mas até uma velhinha atravessando a rua é mais ligeira que ele — rebateu e puxou Mac pela nuca, voltando a beijar o garoto.
Eu dei uma gargalhada ainda sem acreditar que ela realmente havia falado tal coisa. Dom me olhava mega sem graça e seu rosto estava muito vermelho.
Então vi que ele não segurava nada nas mãos.
— Quer beber alguma coisa? — perguntei. — Não precisa cair na pilha dessa ai, não. — Abanei a mão no ar.
— Quero — falou com certo desespero, parecendo que queria sair dali o quanto antes.
Segurei sua mão e sai o puxando dali. Mas parei em seguida.
— Se precisarem arrumem um quarto. MAS ME AVISEM!
Gritei sem me importar e me vingando parcialmente daquela cena, e Camille me deu o dedo do meio enquanto beijava Mac. Mas estava achando fofo o Dom todo envergonhado. O menino apertou minha mão de leve.
— Vi o pessoal levando um barril de cerveja lá para dentro. Quer ir lá pegar? — Dom ofereceu todo envergonhado.
— Pode ser — concordei e voltamos a andar. — Então, nunca tinha te visto andando com Mac antes…
— A gente se conheceu há pouco tempo na faculdade — contou e deu um pequeno sorriso.
— Tem muito ainda para aprender sobre as pessoas com quem Mac anda. Se acostume, é assim para pior. — Lhe dei uma piscadela.
— Estou vendo. A sua amiga… Ela é meio doidinha né? — perguntou rindo fraquinho de um jeito fofo e colocou uma mecha do seu cabelo escuro para trás da orelha.
— Com toda certeza.
Observei seus movimentos e seus traços, com certeza se ele estivesse mais solto e eu mais bêbada, não seria nenhum problema beijá-lo. Mas estava tranquila e ele estava tímido demais para qualquer coisa.
— Mas ela é uma ótima pessoa. Sem sombra de dúvidas.
— Deve ser, é sua amiga, né? — disse dando um sorriso pequeno e paramos na frente do barril de cerveja.
— Sim — respondi pegando dois copos e entregando um para ele antes de encher.
Dom encheu o meu copo e depois o dele, dando uma grande golada e depois completou.
Olhei em volta vendo se conhecia alguém, geralmente o mesmo grupo de pessoas estava em todas as festas.
— Você fuma? — Voltei minha atenção para ele.
— Não. — Fez uma careta. — Você fuma?
— Temos um não fumante aqui. Muito bem. — Levei meu copo até a boca antes de respondê-lo. — Depende. — Fiz um bico. — Não é algo que me chame a atenção, prefiro beber. — E outras coisas a mais, porém ele não precisava saber.
— Depende do que? — Quis saber.
— Da situação. Devo ter fumado umas cinco vezes na vida. — Fiz uma careta ao lembrar da última vez que fumei e um gosto mentolado pareceu preencher minha boca. — No caso do cigarro comum, já aqueles cigarros da moda já fumei algumas outras vezes, mas ainda sim eu prefiro meu bom e velho álcool.
— Entendi. Está falando do viper? — perguntou de um jeito curioso. — Hm… Tinha um cara olhando para a gente. Acho que era para você — comentou parecendo estar incomodado.
— Esse mesmo. Ou até os pods também. Não ligo de experimentar coisas novas — comentei sendo sincera e em seguida olhei para onde Dom estava olhando antes.
Haviam diversas pessoas por ali, mas nenhuma parecia estar olhando para nós, para mim.
— Tem certeza? — Voltei a olhar para ele. — Vai ver que ele só estava procurando alguém. — Dei de ombros como se não fosse nada, mas senti minha barriga se revirar.
— Então você curte esses lances? — Quis saber enquanto me olhava com atenção agora. — Uhum. Ele era , cabelo , parecia ser mais ou menos alto.
— Não tenho nada contra, não uso meu dinheiro para comprar essas coisas, mas se me oferecerem, por que não? — Fui sincera.
Meu coração disparou de uma forma quando ele descreveu como o cara era. Não poderia ser. Poderia?!
— Saquei. — Balançou a cabeça. — Está tudo bem? — perguntou sem tirar os olhos de mim.
— Claro, só viajei aqui. — Sorri levando o copo até os lábios e bebendo um longo gole. — Acho que vou aproveitar e pegar algum outro drink antes de voltarmos. Vai ficar só na cerveja? — Tentei agir o mais natural possível.
— Vou sim. Não gosto de misturar — falou e sorriu de leve. — Vamos lá. Acho que deixaram as coisas na cozinha para fazer drink.
— Mas aí que está a graça, poder misturar um pouco as coisas. — Fiz um bico. — Mas eu não julgo, tem dias que eu prefiro não misturar nada também. — O que não era o caso daquela noite.
Precisava urgentemente falar com Camille para saber se ela sabia alguma coisa sobre estar ali naquela noite.
Dom riu fraco e segurou minha mão, me guiando até a cozinha. A casa estava lotada, era difícil de passar pelos corredores, mas ele não me soltou. Entramos na cozinha e me deparei com ali. Ele estava rindo junto com uma menina que jogava gelo nele.
— Não é assim que faz Cuba-libre! O gelo vai no copo, e não em mim — ele falou rindo mais um pouco e pegando o gelo novo na forma.
O sorriso que eu tinha sumiu em um passe de mágicas. Senti uma repulsa ao olhar para aquela cena e apertei a mão de Dom sem me dar conta do que estava fazendo.
— Desculpe. — Ri sem graça olhando para Dom.
Coloquei uma mecha de cabelo para trás da orelha com cuidado para não derrubar a cerveja.
— Tem certeza de que não vai querer nada mesmo? — Olhei para ele desviando a atenção daquela ceninha ridícula.
Porém consegui ver que me olhou agora, certamente por ter ouvido a minha voz.
— Não. Você vai querer beber o que? — Dom perguntou enquanto me olhava atento.
— Ainda não sei. — Tombei a cabeça para o lado pensando. — Talvez um shot de tequila para começar.
Tequila era uma ótima opção para começar a noite.
— Beleza, deixa ver se tem aqui — disse e soltou minha mão, indo para onde estava com a garota.
— Oi, — falou comigo como se nada nunca tivesse rolado entre nós.
— Ela que é a ? — a menina perguntou dando um sorriso, recebendo uma resposta positiva dele, então o empurrou de lado para chegar mais perto de mim. — Prazer.
— Olá. — O cumprimentei de volta e fiz uma careta com o comportamento da menina.
Quem era ela e porque ela me conhecia?
— Como vai? — Voltei a atenção para ela.
— Bem, e você? — Ela sorriu abertamente para mim.
apenas se afastou e foi pegar algo na geladeira.
— Bem também! — falei levando o copo até a boca ganhando tempo. — Me desculpe, eu não sei o seu nome.
— Debby — respondeu e pegou seu copo. — Quer? O que preparou. Está ótimo — ofereceu antes de beber.
— Não, não, obrigada. — Sorri negando. — Dom está atrás de uma tequila para mim. — Mantive meu tom o mais amigável possível.
… Quem o chamava desta forma?
— Vocês estão juntos? — perguntei fingindo - não muito - interesse nos dois. — Digo, você e o ? — Fiz questão de usar o apelido que ela o chamou.
— A tequila está aqui. — se meteu entre a conversa e colocou a garrafa no balcão. — Por que a pergunta? Está interessada? — Seus olhos me encararam com vigor.
Maldito fosse ! Ele estava pegando algo na geladeira, não estava? Por que diabos estava interessado na minha conversa com a tal Debby?
Peguei a tequila e coloquei no mesmo copo que ainda tinha cerveja. Iria tudo para o mesmo lugar no fim das contas.
— Interessada em você ou nela? — Perguntei o encarando. — Mas já adianto que não, meu amor. Foi apenas curiosidade — respondi secamente e varri a bancada com os olhos à procura de um limão para espremer ali junto.
— Então não te interessa — disse e pegou Debby pela mão, puxando ela para fora da cozinha.
Observei os dois saindo da cozinha, a raiva foi tanto que só me dei conta quando senti minha mão molhada.
— Argh… — fiz uma careta ao ver o copo amassado.
Seria bom se ao invés do copo fosse a cara do .
Peguei um pano que estava ali por cima para limpar a minha mão, mas antes lavei para que não ficasse com cheiro de álcool.
— O que rolou? — Dom perguntou olhando para a porta e depois para mim.
— Não vale a pena. — Abanei as mãos e fui pegar um copo novo.
Sentia meu corpo todo tremendo, mas dessa vez era de raiva. Qual era o problema dele? Até onde eu sabia quem havia terminado tudo entre a gente era ele, e agora ele achava que tinha o direito de dar aquele showzinho ali? E porque a menina sabia quem eu era?
— Onde você estava? Achei que tinha ido pegar a tequila. — Olhei para Dom.
— Não estava achando tequila e eu não quis me meter na conversa — respondeu totalmente sem graça.
— Não te julgo, se pudesse também não teria me metido. — Rolei os olhos e achei os limões. — Ainda tem cerveja? Se precisar ir buscar mais, só vou espremer o limão aqui.
— Toma, pode ficar com a minha. — Estendeu seu copo em minha direção.
— Não precisa, pode tomar. — Sorri em sua direção. — Acho que vou ficar só na tequila mesmo, vai caber mais no copo.
— Está bem — ele apenas concordou.
— Emoções demais para um mesmo momento, se quiser voltar para os seus amigos fique a vontade. — Tomei um longo gole sentindo minha garganta arder. — Eu não procuro confusão, mas aparentemente ela me procura.
— Entendi. Então vou voltar para fora. Você vem? — perguntou apontando para a porta.
— Vou. — Limpei mais uma vez a mão no pano e o acompanhei lá para fora. — É a primeira festa que você vem junto com Mac?
Fazia algum tempo que não o via, talvez se não fosse a primeira ele pelo menos já sabia onde estava se metendo.
— Sim — disse bebendo um pouco mais enquanto andava.
Suspirei e dei graças por ver Camille apenas sentada no colo de Mac mais a frente. Não era boa em puxar assunto aleatório, ainda mais depois do que havia acontecido na cozinha.
— Vem aqui. — Puxei Camille pela mão fazendo com que ela se levantasse e fomos para mais longe. — está aqui. — Torci a boca. — Com uma garota.
— Ah, ele está? — indagou e fez um bico.
— Você sabia?
— Hm… Deveria saber? — Ela balançou a cabeça e colocou as mãos na cintura. — Você e o Dom se pegaram? Fale que sim.
— Céus Camille. — Rolei os olhos. — Não, não nos pegamos. O senhor “não dou a mínima para você” fez uma cena na cozinha antes de eu conseguir alguma coisa.
— O ? — Soltou unindo as sobrancelhas. — O que ele fez? Ele sempre é tão de boas.
— Se intrometeu na minha conversa com a menina, e quis saber se eu tinha interesse nele. Como eu disse que não, saiu puxando a menina pela mão. — Resumi tudo. — E ela ainda sabia meu nome. Por que diabos ela sabia meu nome Camille? E ainda por cima foi toda legal.
Minha amiga mordeu com força seu lábio inferior claramente segurando o riso, porque seu rosto estava ficando muito vermelho.
— Ele perguntou se você tinha interesse nele? — Agora ela soltou uma risada alta. — Oras, ele deve ter falado de você para a menina.
— Nele ou nela. Sei lá, ele estava todo estranho. — Fiz uma careta. — Para de rir, idiota. Eu estou falando sério.
— Ele perguntou isso do nada para você? — Quis saber cruzando os braços e colocando a mão na boca, escondendo o seu riso que ainda saía.
— Não. — Suspirei. — Ela chamou ele de e eu quis saber se eles estavam juntos.
— Aí ele te cortou… — completou ficando vermelha de novo. — Para que você queria saber isso, ? É óbvio que ele deve estar fodendo ela. Quem chama ele de ? A galera só chama ele de .
A mínima menção dos dois estarem juntos me fez ter vontade de vomitar.
— Porque eu fiquei curiosa, oras… — Dei de ombros. — Justamente por isso a minha curiosidade, ninguém chama ele de . Ele tem quantos anos, cinco? — Rolei os olhos e levei o copo até meus lábios.
— Não sei, mas acho bom você não estar com ciúmes dessa merda, ou eu vou meter três tapas na sua cara — avisou erguendo as sobrancelhas e ela estava bem séria.
— A pronto. Com certeza Camille… Me poupe. — Fiz uma careta.
Eu não estava com ciúmes, estava? Não. Não estava.
— Me poupe você! Perguntando se eles estão juntos. Fala sério, o cara te deu um pé na bunda, para que você quer saber se ele está com alguém? — Rebateu de forma revoltada. — Bebe mais, você está precisando mesmo. Olha as ideias que você tem.
— Eu estava curiosa, apenas isso. — Ralhei. — Eu sei que ele me deu um pé na bunda, inclusive faz um mês hoje! Olha que legal. Que tal comemorarmos? — Sorri sem humor nenhum. — Se fosse você no meu lugar também iria estar curiosa. Não é como se eu quisesse dar para o cara, eu só perguntei algo para alguém que estava sendo legal comigo.
— A curiosidade matou o gato, e você tomou um fora. — Rolou os olhos. — Ah, pronto! Agora ela tá contando! Deus, ! E eu não iria querer saber, porque eu sou maravilhosa e quem perdeu foi o otário que não quis.
— Dois foras, porque se o Dom não me beijou com você o empurrando para cima de mim, depois dessa cena com que não vai ser. Lento demais. — Nada contra os mais lentos, era legal às vezes, fazer todo aquele joguinho até chegar no vamos ver. — Mas tem tanta gente nesta festa que falta não vai fazer.
Desdenhei mesmo sabendo que era errado. E ignorei seu comentário sobre eu estar contando. Estava mesmo.
Inferno.
— Eu empurrei o errado. Tinha que ter feito isso com o Zach, ele não perde tempo. Esquece o Dom. Tem um monte de macho nessa festa, é só você dançar que vai aparecer uns vinte, fazendo fila, um atrás do outro para te beijar — contou e sorriu, tentando me animar.
— Com toda certeza depois desse copo de tequila eu vou estar dançando mesmo. A noite é uma criança. — Sorri pequeno. — E você e o Mac, hm?! Ainda tem saliva sua nesta boca? Ou só a dele? — Mudei de assunto cansada de falar sobre mim.
— Falando no Mac, você me atrapalhou para dar show de ciúmes por causa do . Estava ótimo lá beijando ele — contou fazendo um bico.
— Primeiro, — levantei um dedo — não estou dando show de ciúmes. — Sorri sem humor nenhum. — Segundo, tudo tem volta, você está reclamando agora, quero ver se vai reclamar quando você precisar de mim.
— Eu só não quero que você se importe com aquele garoto! Ele não liga para você, ! — rebateu, ficando nervosa.
— Eu sei, está bem. Você faz questão de me lembrar sempre. — A olhei e suspirei. Não iria brigar com ela ali. — Já falei o que eu tinha para falar. Volte para o Mac que eu vou atrás de um banheiro.
Dei um tapa em sua bunda indicando que estava tudo bem e que aquele assunto estava encerrado.
— Claro, você parece que esquece — disse rolando os olhos. — Vou mesmo. — Levantou seu nariz e deu um riso, se virando e indo para onde estava antes.
Quando ela se virou, fiz a mesma coisa, só que com meu copo.
Senti a tequila queimando minha garganta.
Ciúmes…
Camille deveria estar ficando louca. A pessoa me dá um pé na bunda e eu ainda tenho ciúmes dela. Certo.
Sai em busca de um banheiro, tinha muita gente ali fora para eu simplesmente tirar o pacote do bolso e tomar um comprimido. Mais várias pessoas deveriam estar fazendo a mesma coisa, e é bem provável que eu fosse atrás de algumas delas em busca de outra coisa mais forte se o efeito que me causasse fosse fraco.
Desviei de várias pessoas até achar a porta do banheiro, que ainda precisei esperar até a pessoa que estivesse lá dentro saísse. Saíram duas pessoas arrumando a roupa e elas me olharam. Não falei nada, elas riram e foram embora. Entrei no banheiro trancando a porta logo em seguida. Eu queria lidar com tudo aquilo sozinha? Com toda certeza. Eu conseguia? Não.
Tirei o pacote do meio do sutiã e encarei os comprimidos. Haviam alguns ali. Suficientes para me deixarem nas nuvens. Eu era fraca demais para ficar sem nenhum, e forte o suficiente para pegar apenas um e tomar.
Me olhei por um momento no espelho, a maquiagem ainda estava no lugar, mas diferente da hora em que chegamos meu humor já não estava mais o mesmo. Mas ele ficaria, nem que eu não precisasse sentir mais nada.
No momento em que eu destranquei a porta, alguém a abriu pelo outro lado. Então parou abruptamente antes de trombar comigo. Era . Seus olhos encararam os meus por um momento que pareceu durar minutos.
— Posso sair antes de você entrar? — perguntei sem desviar o olhar.
Vi como a sua respiração estava pesada. Ele não se moveu.
— Foi mal pelo lance da cozinha — disse como de costume.
Fui pega de surpresa por aquele pedido de desculpas.
— Não tem porque se desculpar, a sua vida não me diz respeito — falei no mesmo tom que ele. E não era mentira, não era da minha conta.
— Eu… — ele parou e olhou para baixo. — Beleza.
— Você… — quis saber. — Pode falar se quiser.
O vi fechando os olhos e negando de leve com a cabeça, respirando fundo.
— Você não vai querer saber — respondeu e abriu os olhos, voltando a me olhar.
Então deu passagem para que eu pudesse sair.
Dessa vez eu quem não se moveu.
— Se eu não quisesse, não teria perguntado. — Parecia uma criança falando. — Sou toda ouvidos.
— Só iria dizer que sinto sua falta — confessou quase sem som, e desviou o olhar novamente.
Sentia meu coração na garganta. Queria rir. Senti meu corpo todo ficando gelado com aquela fala dele.
— … Do que você está falando? — Neguei sem acreditar.
— Nada, deixa para lá, — respondeu soltando a maçaneta e já se virando para sair dali.
Queria segurar seu braço e fazer com que ele falasse comigo, me explicasse o porque sentia minha falta e porque ele estava falando aquilo naquele momento? estava acompanhado da Debby, ele não deveria estar sentindo minha falta.
— Você não vai usar o banheiro? Eu já estava de saída. — Dei um passo em direção a ele, saindo do banheiro.
— Não, vou usar o outro — disse já andando pelo corredor.
Trinta dias sem nenhum tipo de contato, trinta dias que tudo o que eu tinha de eram as fotos no rolo da câmera, que ele mesmo havia tirado. E agora aquilo.
Senti meu estômago embrulhar e voltei para o banheiro e coloquei tudo para fora. Odiava vomitar, mas naquele momento eu não tive escolha. Eu queria chorar, mas tinha prometido para mim mesma que não faria isso. Não mais.
Dei a descarga e fui lavar a boca. Passei água no pescoço rezando para que aquela sensação péssima fosse embora. Mas eu sabia que iria precisar muito mais do que aquela água no pescoço.
Iria pegar uma bebida e voltar para onde o pessoal estava. Camille iria perguntar o porquê da demora, e para a minha sorte eu poderia falar que estava pegando alguém que ela nunca iria saber que não era verdade.
Eu balançava a garrafa de tequila de um lado para o outro rindo de alguma coisa que eu não havia entendido. José estava sendo um melhor amigo e tanto, ele já estava quase vazio e tinha o poder de me deixar feliz. Ele e os vários shots de qualquer coisa que tivessem naqueles copos. E é claro, o Xanax.
— Vamos dançar! — Patch me pegou pela mão.
— Vamos dançar! — Me pendurei em seu pescoço.
Não entendia que música estava tocando, não conseguia escutar direito.
Fui puxada para a parte interna da casa, onde só paramos quando chegamos em frente a uma enorme mesa.
— Vem, te ajudo. — Patch subiu em cima da mesa e me lançou um sorriso malicioso.
Aceitei sua mão e subi em cima da mesa.
Agora eu sabia qual música estava tocando.
— Eu daria tanto para este homem — gritei me colocando em pé na mesa e Patch riu.
— Meu amor, até eu que sou bobinha — riu de forma exagerada e eu o acompanhei.
— I'm the queen of broken hearts break you in a thousand parts — Cantamos a plenos pulmões enquanto eu me colocava em pé em cima da mesa.
Sentia a música entrar por cada poro meu, balançava o corpo como se estivesse em um show, mas isso mudou quando Patch virou meu corpo contra o dele.
“Used to be a shooting star when did I become so dark?”
Aquilo fazia o maior sentido na minha cabeça. Era quase como se ele estivesse me descrevendo, porém sempre achei que tinha toda aquela escuridão dentro de mim, que agora era só precisava de poucos minutos para sair.
Ele segurou minha cintura com vontade e eu fui descendo até quase ficar de joelhos na mesa. Deixei minhas mãos percorrerem por seu corpo quase como se ele fosse a minha base para não cair. O que não era mentira.
Vi uma multidão se formar em volta da mesa antes de fechar os olhos e abri um sorriso.
— Tell me, tell me I'm the worst make you cry and make you hurt — voltei a cantar e no momento que abri os olhos era quase como se aquela fala fosse uma indireta.
E lá estava ele, encostado em uma parede me olhando fixamente com seus olhos, enquanto fumava. Seu olhar preso em cada movimento meu, sério, sem expressar nada.
— I'm the queen, bow down to me I will leave you out to bleed — As palavras saíram de forma automática.
Senti meu estômago revirar novamente, mas daquela vez eu não iria sair correndo direto para o banheiro. Eu não era a melhor pessoa do mundo, mas também não era a pior. Não fui eu quem deixou alguém sangrando. Era impossível desviar meu olhar dele agora que sabia que estava olhando. Aquilo não era um show para , mas se ele quisesse poderia ser. Ele só precisava chamar a Debby, podia sentir a minha falta, mas estava com ela.
levou o cigarro até seus lábios e tragou ainda me olhando, então tirou ele de sua boca e soltou a fumaça para cima em seguida, começando a andar entre as pessoas vindo em direção a mesa que eu estava. Senti as mãos de Patch passando por meu corpo, bem como eu havia feito com ele a pouco tempo. Ele parou na barra da camiseta e começou a ergue-la lentamente.
Será que havia reconhecido aquela camiseta que era sua? Nenhum daqueles olhares fez com que meu coração batesse tão forte como o dele. Era como se eu estivesse prestes a ter um treco, mas que com toda certeza a bebida estava amenizando todo aquele turbilhão de sentimentos.
Sorri em sua direção antes de levantar os braços para que Patch pudesse tirar aquela peça de roupa. O olhar de continuou fixo no meu, e quando meu amigo acabou de tirar a minha camisa, não vi mais ali.
Patch me virou contra ele novamente e em seguida levou seus dedos até meus lábios fazendo com que eu os abrisse levemente.
— Você está tensa demais, Swayer. — Empurrou o comprimido contra a minha língua.
Pelo menos não estava ali para ver aquilo, e se estivesse tudo bem também, nós não tínhamos mais nada.
Não deveria me importar. Era o que eu repetia para mim mesmo todo o momento que estava vendo sobre aquela mesa. Os caras estavam berrando para ela tirar a roupa, e o garoto que estava dançando junto fez exatamente isso, a deixando exposta no meio daquele idiotas.
Segui para o lado de fora indo até Camille que estava se pegando com Mac.
— Tem como tirar a sua amiga de cima da mesa? Ela tá tirando a roupa para todo mundo! — falei com a loira que me olhou rapidamente e fez uma cara feia.
— Por que você não vai cuidar da sua vida? Está irritadinho por que ela não está tirando a roupa para você? — respondeu ainda me olhando como antes.
Rolei os olhos.
— Estou pouco me fodendo para quem ela tira a roupa! A está chapada pra caralho e se expondo para um monte de gente que poder fazer o que bem entender com ela — rebati achando um absurdo ter que explicar aquilo.
— Isso é um problema dela, não seu! — Uni as sobrancelhas. — Some daqui, .
— Você é inacreditável, Camille! Ter você como amiga é melhor não ter nada! — Soltei e sai andando dali, indo atrás de Debby.
Passei entre as pessoas rapidamente me desviando delas achando a minha amiga sentada na escada junto com o pessoal que a gente tinha vindo.
— A está lá dentro tirando a roupa em cima da mesa, falei com a amiga dela e ela não vai fazer nada. Você pode me ajudar? Não posso fazer nada, a não vai querer vir comigo se eu chegar perto — disse tudo de uma vez e rápido.
Debby ficou me olhando tentando assimilar tudo e concordou com a cabeça, já levantando e entrando, procurando como eu havia pedido. Vi a minha amiga subindo em cima da mesa, dançando junto, mas se colocou no meio deles, então segurou pela cintura e falou alguma coisa com ela.
Vi que elas estavam conversando, e não demorou muito para descerem da mesa. Aquilo me fez respirar aliviado e voltei para o lado de fora, sentando na escada onde Debby estava antes. Sabia que ela iria cuidar de ao contrário de Camille, que não estava nem aí.
Por mais que tivesse tentado, não tinha conseguido esquecer , estava sentindo muito a sua falta, e me controlava todos os dias para não mandar mensagem para saber pelo menos como estava, mas achava que não iria me responder. E hoje para piorar ela tinha vindo com uma camisa minha. Por que tinha feito isso? Sabia que eu iria vir e queria me provocar? Era o que parecia.
Sinceramente estava ficando difícil saber o que pensar, especialmente o que sentir. Estava preocupado com ela, além do que já sentia. Aquilo ia me consumindo todos os dias.
Esfreguei meu rosto e passei a mão em meus fios, os empurrando para trás.
Fiquei sentando ali fumando e bebendo uma cerveja que tinham me arranjado, até Debby voltar. Ela se sentou na minha frente, no degrau debaixo e soltou o ar de forma pesada.
— só concordou em descer se eu bebesse com ela — contou, então a abracei pelo pescoço. — Ela está muito ruim. Não sei nem como vai para casa.
— Valeu por isso — agradeci e dei um beijo em sua cabeça. — Qualquer coisa você me ajuda a levar ela?
— Ajudo sim — respondeu, assentindo com a cabeça. — Só tem que ficar de olho para ver se ela não vai aprontar.
— Vou ficar — falei e olhei para os lados, já procurando por ela.
Então vi passando, indo até onde Camille estava, do outro lado da piscina. Ela estava de short e sutiã, não estava nem com a minha camisa na mão. Fiquei apenas observando de longe.
— Festa na piscina! — Camille berrou e empurrou pelo peito com força, fazendo ela cair na piscina de costas.
Arregalei meus olhos com aquela cena. E todo mundo começou a berrar e a pular na piscina, inclusive Camille. Eu e Debby ficamos estáticos olhando aquela cena. Fiquei esperando voltar, mas ela não aparecia. Levantei rapidamente junto com Debby e fui até a beira da piscina olhando lá para dentro procurando por .
— Cadê a , Camille?! — falei alto para ela ouvir.
A loira deu uma risada.
— Está nadando — respondeu achando graça.
— Ela não submergiu ainda, Camille! Cadê ela?! — perguntei preocupado.
— é brincalhona, só deve estar zoando com a minha cara porque empurrei ela — disse dando de ombros.
— Você não precisa se drogar para ser louca! Não é possível! — Debby rebateu irritada.
Eu tirei minha jaqueta de couro e pulei na água sem esperar para ver se iria subir, e muito menos fiquei ali discutindo com a sem noção da Camille. Afundei e abri os olhos tentando ver algo ali, mas a água estava muito turva. Submergi olhando para os lados, e nadando até ver algo no fundo. Mergulhei de novo sentindo meu coração muito acelerado. Era . A peguei pela cintura e puxei para cima, até submergirmos.
— ! — chamei desesperado segurando seu rosto e balançando, seu corpo estava mole e pesado. — Porra, me ajuda aqui! — falei com Debby e os garotos que estavam já na borda da piscina.
Nadei com ela no meu braço até chegar na borda e eles a pegaram, a colocando para fora e fazendo com que deitasse no chão. Saí da água e fui para o lado dela.
— ! — Sacudi de novo o seu rosto para ver se me respondia.
Não tive resposta. Meu peito apertou e meu coração ficou mais rápido. Meus olhos arderam. Não pensei muito, levei meus lábios até os dela, tampei seu nariz e assoprei forte, fazendo seu peito se encher. Debby, que estava do outro lado do corpo, já pressionou suas mãos entre os peitos de .
— De novo, ! — pediu, e eu repeti.
— ! ! Amiga! Sai de perto dela, ! — Camille mandou, e eu a olhei irritado.
— Cala a boca, Camille! — rebati no mesmo instante e voltei a fazer a respiração em .
— Alguém liga para a emergência! — Debby berrou enquanto pressionava o peito dela.
— Não podemos ligar para a emergência, vão achar as drogas! — Camille retrucou rapidamente.
— Garota, some daqui antes que eu enfie a mão na sua cara! — Debby gritou com ela totalmente irritada.
Camille tentou vir para cima da gente, mas Mac a segurou e tirou ela dali, enquanto eu e Debby continuávamos tentando fazer reagir. Senti as lágrimas escorrendo pelo meu nariz e pingando da ponta dele. Meu corpo estava gelado, minhas mãos tremiam, e meu coração estava à beira de entrar em colapso, mas não parei o que estava fazendo.
Senti o corpo de tremer minimamente, indicando que ainda havia vida. Então ela tossiu. Isso me fez virar o corpo dela de lado para que cuspisse a água que engoliu.
— A emergência está vindo — Billie falou, e eu apenas balancei a cabeça.
— — chamei com a voz embargada o seu nome apertando de leve seu ombro.
Ela tossiu novamente e então abriu os olhos de forma lenta. Mas logo sua expressão se transformou em uma expressão assustada. Ela estava tremendo.
— Alguém me dá algum casaco — pedi rapidamente, e um casaco apareceu.
A cobri pelos ombros e apertei de leve, puxando ela para perto de mim para tentar aquecer, já que estava gelada.
— ? — Ela disse baixo e me olhou como se aquilo não fosse verdade.
— Sou eu. Está tudo bem. Você vai ficar bem — sussurrei para ela, a apertando de leve.
Ela balançou a cabeça e não disse nada, apenas ficou ali parada, por mais que me olhasse, era um olhar vazio. Aquilo fazia meu coração doer demais, então fechei meus olhos sentindo as lágrimas descerem e encostei meu queixo em sua testa, a segurando firme. Ninguém chegou perto da gente. Eu ouvi as vozes, mas meus ouvidos estavam tinindo, minha cabeça um turbilhão, e meu corpo tremia ainda.
— , solta ela. A emergência chegou — Debby falou baixinho ao meu lado depois de um tempo me fazendo despertar para a realidade.
Soltei aos poucos e os paramédicos a colocaram na maca. Levantei e fui com ela até a ambulância, mas um deles me parou.
— Você não pode vir — declarou e eu olhei para no mesmo instante.
— Ela é minha namorada — falei rapidamente. — Eu preciso ir com ela, por favor — pedi sentindo meus olhos arderem ainda mais.
O homem ficou me olhando por um momento e então acenou com a cabeça para que eu entrasse. Subi na ambulância e sentei no banco ao lado da maca e segurei a mão dela. Encarei seus olhos, pareciam perdidos. estava muito chapada, essa era a única certeza que eu tinha enquanto a olhava. Tentei secar meu rosto, porém mais lágrimas desciam, enquanto os paramédicos colocavam a oxigenação nela.
O caminho até o hospital pareceu longo.
Quando estávamos quase chegando, pude perceber que chorava, seu olhar continuava longe, mas agora chorava em silêncio. Coisa que eu nunca tinha visto. Demonstrar o que sentia nunca foi seu forte. Queria saber o que estava sentindo, mas sabia que aquilo nunca aconteceria. Certamente nem ao menos se lembraria do que houve e aquilo ficaria nas sombras, assim como nós.
Assim que a ambulância parou, desci e logo em seguida tiraram a maca. Fui andando ao seu lado até onde podia, mas logo me barraram. Fiquei parado na porta olhando ser levada. O ar estava pesado, mas eu não estava me preocupando com nada que sentia naquele momento, porque tudo o que queria era que ela ficasse bem.
Fui para a recepção e passei tudo o que sabia dela. Fiquei surpreso quando senti um abraço por trás, e olhei por cima do ombro, vendo que era Debby ali. Virei meu corpo e abracei de volta. E não consegui segurar, comecei a chorar de novo.
Debby me levou até o sofá, e eu fiquei ali com ela. Os pais de apareceram desesperados, e eu sabia que aquilo iria acabar dando merda. Minha amiga foi quem falou com eles por estar muito mais calma do que eu. Contou apenas que Camille a empurrou na piscina e que acabou bebendo água.
— Sempre soube que essa Camille não era boa coisa — a mãe disse enquanto passava as mãos pelos cabelos. — É claro que esse tipo de brincadeira é inaceitável, qualquer um sabe que isso pode acontecer. — Dava para sentir a raiva em sua voz.
— Alguém tem notícias dela? — Dessa vez quem perguntou foi o pai.
— É complicado mesmo. O viu que algo tinha dado errado e então entrou na piscina para procurar por ela. Camille pensou que era brincadeira da — Debby explicou com calma. — Ainda não. Ninguém falou com a gente desde que chegamos.
— Era com você que estava saindo não era? — A mãe dela me olhou com cara de poucos amigos me medindo de cima a baixo. — Desde que você começou a aparecer na frente de casa ela começou a ficar estranha. E agora isso. — Negou fazendo uma careta.
— Não precisa chutar cachorro morto. Ele foi o único que percebeu que tinha alguma coisa errada com . Se não fosse o , ela estaria morta. Quem empurrou ela foi a Camille, então pode parar. — Debby se meteu rapidamente, e eu nem me dei ao trabalho de abrir a boca.
Vi o homem colocar a mão no ombro da esposa mas não disse nenhuma palavra, assim como a mulher que agora olhava na direção contrária de onde estávamos.
— Eu só quero o bem dela, senhora — foi a única coisa que falei.
— E então o que estavam fazendo nesta festa? — Seu tom agora estava mais alto do que o necessário.
— Greta, por favor — o homem disse apertando o ombro dela e ela cruzou os braços resmungando alguma coisa baixinho.
— Não fui com ela. Nós não estamos juntos há um mês. Fui com meus amigos e ela apareceu lá com a Camille. Não sabia nem que iria — contei em um tom baixo, dando um suspiro.
— Tudo bem garoto, você não tem como controlar o que ela faz — o pai dela disse em um tom calmo, diferente do da esposa.
— Você não o defenda. — Ela voltou a olhar para onde nós estávamos, ele sequer lhe respondeu.
— Tudo bem. Ela não é obrigada a gostar de mim e nem nada do tipo. Eu preciso de um café, licença — declarei e levantei do sofá.
— Licença — Debby falou e veio atrás de mim.
Fomos andando calados até a máquina de café. E ela comprou um café para nós e ficamos sentados em um banco do lado da máquina. Eu estava tremendo, mas não sabia se era de frio ou nervoso.
— Vem cá — Debby chamou e bateu em suas pernas.
Deitei ali sem falar nada, e ela ficou mexendo no meu cabelo. Fechei meus olhos e respirei fundo lembrando daquela festa. Comecei a chorar de novo, mas em silêncio. Queria que as coisas fossem diferentes, queria demais. Porém sabia que não faria nada de diferente.
Acabei dormindo por um momento, mas acordei com Debby me balançando. Abri os olhos e vi meus amigos ali. Billie me entregou uma sacola.
— Passei lá em casa e peguei uma roupa seca para você — disse e deu um sorriso fraco.
— Valeu, cara — agradeci e sentei no banco.
Esfreguei meus olhos e suspirei. Então levantei e fui ao banheiro. Troquei de roupa e prendi meu cabelo. Eu estava péssimo. Talvez fosse melhor ir embora. Suspirei e saí do banheiro.
O pessoal me chamou para sentar lá fora e fumar enquanto esperávamos notícias. Fiquei calado o tempo todo, Debby abraçada comigo tentando me animar, mas eu só conseguia pensar em e em como ela deveria estar.
Já estava amanhecendo quando o pai dela se aproximou de nós.
— Desculpe, sem notícias ainda — comentou olhando diretamente para mim. — Seria demais eu pedir um cigarro?
Assenti com a cabeça e dei um suspiro. Peguei o maço de cigarros que estávamos dividindo e entreguei para ele.
— Desculpa, eu não sei o seu nome — falei e minha voz saiu totalmente rouca. — Prazer, sou . — Estendi a mão em sua direção.
Ele pegou um cigarro e me devolveu a carteira.
— Eu sei quem você é. — Pegou minha mão me cumprimentando. — Me chamo Jacob.
— Prazer, Jacob — falei e o olhei.
tinha alguns traços dele.
— Peço desculpas pela forma que minha mulher tratou vocês — disse olhando para Debby também. — Por mais nervosa que ela esteja, não tem este direito. Tratar os outros como bem entende. — Deu uma longa tragada e soltou a fumaça para cima.
— Está tudo bem, só me importo que esteja bem, a forma como sua esposa falou comigo não faz diferença — declamei e senti Debby apertando de leve minha perna.
— Está tudo bem — minha amiga sorriu de leve.
— Vocês jovens e esta mania de dizer que está tudo bem quando não está. — Ele riu fraco. — é forte, daqui a pouco teremos notícias dela.
— Não tem muito o que se fazer em relação a como a sua mulher trata as pessoas, então está tudo bem — respondi levantando os ombros. — Espero que sim.
— Se controla, — Debby mandou um pouco brava, mas não falei nada.
— É bom saber que tem amigos que se importam com ela — disse olhando para frente, quase como se falasse sozinho. — Ela não me deixa saber o que acontece na vida dela.
— Não somos amigos da , somos amigos do , e estamos aqui por causa dele. Quem é amiga dela é a escrota da Camille que empurrou ela na piscina e nem aparecer aqui ela apareceu — Billie disse rapidamente totalmente contrariado.
— Acho que a não deixa ninguém saber da vida dela — comentei mais baixo com Jacob.
— Então quem tem sorte de ter amigos que se importam é você, filho. — Dessa vez ele voltou a me olhar. — Não me surpreende em nada saber disso. Mas isso não significa que eu fique feliz.
— Não ficamos. Eu também queria saber mais dela — contei dando um suspiro pesado sentindo meu peito se apertar.
— Quem sabe depois que ela sair daqui, vocês não terão tempo para conversar.
Respirei fundo com aquilo.
— É, não sei — respondi e olhei para o céu que estava bem claro.
— Bom, eu preciso voltar. — Tragou seu cigarro mais uma vez, agora quase no final. — Assim que eu souber de qualquer coisa eu volto te avisar.
— Está bem. Obrigado — agradeci dando um sorriso fraco para ele.
Jacob entrou novamente e nós ficamos ali fora, até o sol começar a bater na gente, nos fazendo entrar. Os garotos foram embora, mas Debby insistiu em ficar ali comigo. Fomos para a recepção e sentamos em um sofá. Acabamos dormindo ali, ela abraçada comigo, deitada com a cabeça em meu ombro.
Acabei despertando com alguém tocando meu ombro e abri os olhos. Era Jacob. Esfreguei minhas pálpebras com as pontas dos meus dedos e o olhei novamente.
— Tem notícias? — perguntei baixinho.
— Ela acordou. E está perguntando sobre você. — Apertou meu ombro. — Quer entrar?
Meu coração disparou com o que disse. Umedeci meus lábios e respirei fundo.
— Tá, eu vou lá — falei e acordei Debby.
Disse a ela que queria me ver, e minha amiga apenas balançou a cabeça, pegando uma almofada e abraçando, fechando os olhos novamente. Fui comprar um café antes, e depois caminhei até o quarto que ela estava enquanto tomava meu café, tentando me manter calmo, mas era difícil. Bati fraco na porta e abri, entrando em seguida.
Ela estava sentada na cama, usava aquela roupa típica de hospital. me olhou, e diferente da noite anterior, eu conseguia ver que ela estava ali e não aquele olhar perdido. Aquilo me acalmou um pouco. Cheguei até o pé da cama e tomei mais um gole do meu café.
— Oi — falei baixinho.
— Oi — respondeu da mesma forma que eu. — Você não precisava ter passado a madrugada toda neste hospital. Me desculpe por isto.
Levantei o ombro de leve.
— Está tudo bem — disse e bebi mais um gole do café. — Como você está? — perguntei sentindo meu peito apertado.
— Viva. — Deu de ombros. — Não me lembro de muita coisa de ontem. Está tudo borrado e a última coisa que eu consigo me lembrar é de você.
Assenti com a cabeça.
— Camille te empurrou na piscina e você desmaiou — resumi o que tinha acontecido. — Qual parte que você lembra de mim?
Ela abriu e fechou a boca algumas vezes.
— Argh.. Está aqui, mas eu não sei dizer. — Apontou para sua cabeça e fez uma careta.
— Entendo — comentei e dei um suspiro. — Você vai ficar bem?
— Vou. Escutei algo sobre sequelas e reabilitação, mas minha mãe já estava lá fora, que presumo que não seja nada mais do que ela surtando.
— Talvez a reabilitação não seja um surto dela — contei e bebi mais um pouco de café enquanto olhava para . — Certamente fizeram exame de sangue em você.
Ela afundou a cabeça no travesseiro enquanto encarava o teto.
— Não era para ser desse jeito.
— Você escolheu fazer desse jeito, — respondi em um tom baixo.
— Aconteceu . Não é como se eu tivesse acordado de uma bela noite de sono e pensando “vou me drogar pra cacete” — disse voltando a me olhar.
— Ainda assim você preferiu se drogar do que tentar resolver o que estava te fazendo mal, para mim isso é fugir do que sente. Usar entorpecentes até não sentir mais nada, porque assim é mais fácil — falei bem sério olhando dentro dos seus olhos.
— É claro que é mais fácil, é tão fácil quanto tomar uma decisão dentro de uma relação entre duas pessoas como se só houvesse uma.
— Nós não tínhamos uma relação para você, . A menor menção de ter uma, você se afastou de mim. — Deixei minha voz sair com calma. — Se a gente tivesse uma relação, você teria debatido comigo quando falei que era melhor a gente parar de se ver, mas apenas aceitou.
— Nós não tínhamos um relacionamento fechado, . — Vi ela fechar os dedos no lençol. — Você disse que já tinha tomado a sua decisão, para mim isso significa que quando você já tomou uma decisão, não importa o que a outra pessoa diga, você não vai voltar atrás.
— , quando a gente se beijou na festa, eu sei que você sentiu a forma como eu me sentia em relação a você, e naquele momento já recuou. Essas coisas machucam. Se você não estava preparada para nenhum tipo de relacionamento, poderia ter me falado, eu não teria me entregado da forma como fiz — expliquei e respirei fundo, apoiando minha mão livre na guarda da cama. — Se você tivesse conversado comigo eu estaria disposto a mudar de ideia, mas você apenas aceitou. E está tudo bem. Eu jamais poderia te forçar a nada.
— Eu estava no meio de uma crise de ansiedade. Em público. Nunca tinha deixado esse meu lado aparecer para ninguém, era algo meu. Óbvio que eu surtei, era coisa demais na minha cabeça. Você mesmo viu quando chegou que eu estava no meio de uma briga com a minha mãe. — Fez uma careta e olhou para cima. Pude ver seus olhos marejarem. — Não queria levar você para o fundo do poço como estava fazendo comigo, eu não podia fazer isso com você. Eu nunca aceitei, eu apenas concordei, porque era mais fácil do que me abrir.
Lambi meus lábios e respirei fundo.
— Eu queria ficar contigo e lidar com seus problemas, juntos, mas você preferiu me deixar de fora. Você podia ter falado comigo como se sentiu, só que em vez disso, preferiu me afastar — falei a forma como me senti com suas ações. — Tudo bem, . Você só fez o que era mais fácil.
— Não está tudo bem , céus. Você fala que eu aceito, que eu faço, mas a coisa que você mais fala é “tudo bem”. O que está bem?
— Está tudo bem você tomar as decisões que quiser, eu vou lidar com as consequências — respondi olhando em seus olhos.
— Se estivesse tudo bem eu não teria quase morrido desta forma. Se estivesse tudo bem… — Ela negou com a cabeça olhando para a janela.
— Continua — pedi e estiquei minha mão, alisando de leve seu pé.
— Se tivesse tudo bem eu não precisaria ter passado esses trinta dias pensando em quanta coisa eu poderia ter feito diferente se tivesse te deixado entrar na minha vida da forma que você esperava que eu deixasse — disse ainda virada para a janela. — Não está nada bem , não para mim.
Meu peito se apertou ainda mais e segurei o ar.
— E em algum momento você quis que eu entrasse na sua vida? Por favor, seja sincera — pedi com a minha voz saindo levemente cortada.
— Você acha que eu passaria tanto tempo com você se não quisesse? — Passou a língua pelos lábios. — Eu te deixei entrar até o quanto eu achei que estava bom, tive medo de que se você conhecesse meu outro lado você fosse embora. — Vi as lágrimas escorrendo por seu rosto. — E quando esse outro lado apareceu? Você fez o quê? Isso mesmo — Ela sorriu, um sorriso triste. — Você decidiu sozinho que era melhor a gente não se ver mais.
Uni as sobrancelhas de leve e dei a volta na cama, sentando na beira dela, colocando o copo na mesa de cabeceira e levando a minha mão até seu rosto, secando as lágrimas.
— Eu não decidi isso por causa da sua crise. Eu decidi isso por entender que você não sente a mesma coisa por mim, que eu estava gostando sozinho e que era o único que queria algo quando você me deixou sozinho, deu a entender que queria ficar com outras pessoas quando a única que eu queria era você, — expliquei com calma sentindo como meu peito estava apertado. — Eu estava disposto a lidar com qualquer crise sua, mas você não.
— Pode ser que não , mas foi como eu me senti. Da mesma forma que você fez suas escolhas com base naquilo que você estava sentindo. — Ela piscou algumas vezes e olhou para a coberta. — Eu me senti encurralada, eu nunca precisei me preocupar com nenhum tipo de relacionamento porque nunca deixei ninguém chegar tão longe quanto foi com você. Você tem noção de como isso me assustou?
— Agora que você está conversando comigo, sim. — Fui sincero com ela e deixei minha mão cair e segurar a sua.
Ela começou a fazer quase como desenhos aleatórios com seu polegar em minha mão.
— Nunca precisei falar sobre nada disso com ninguém. Nem em casa, então não era como se eu fosse mágicamente me abrir para você. — Ela voltou a me olhar. — Se um dia eu falei “eu te amo” para os meus pais, eu não tenho ideia. Não tinha ideia de como era amar, gostar, ou sei lá o que são essas coisas que eu sinto por você. Então sim, , foi muito mais fácil fugir. Voltar para a minha zona de conforto onde eu não precisava lidar com nada disto. — Ela fungou. — Mas não significa que não tenha sido doloroso. Aceitar que você não queria nada comigo foi uma das coisas mais difíceis.
— Você não deveria seguir o caminho mais fácil se ele estava te machucando tanto quanto está dizendo. — Passei meu polegar pelo seu dorso em um carinho. — Por causa disso nós dois nos machucamos, e eu preferi me afastar do que continuar aqui pedindo para que você me deixe ficar, ou esperando que sentisse a mesma coisa que eu. Não dava para saber o que você sentia, apenas me baseio no que vejo.
— Mas infelizmente foi por este caminho que eu cresci. Pode não ser o melhor, mas é tudo o que eu tenho. — Deu de ombros. — Assim como você disse, eu não tinha como saber. Para mim é preto ou é branco, se você me diz que quer acabar, ok, então acabamos. — Torceu a boca. — Eu sei que não é desta forma que a vida funciona. Tem muito mais do que apenas duas cores, e que eu só vou enxergar isto depois que me permitir. E estava funcionando. Tinham coisas a serem melhoradas? Com certeza, mas funcionava. Até você aparecer.
— Não, . Não é tudo o que você tem — falei e apertei sua mão de leve. — A vida não precisa ser assim. Você não precisa se afundar nisso sozinha. Existem pessoas maravilhosas que estão dispostas a estar ao seu lado. Você só precisa permitir isso.
— Queria que a vida fosse como você fala. Calma. Difícil, mas ainda sim você mantem a calma. — Colocou o cabelo para trás da orelha. — E é justamente isso que me assusta, você consegue me ler de uma forma que nem eu consigo. Eu te disse que não precisava que você me cuidasse naquela festa. E o que você fez? Dormiu comigo no sofá da sua casa porque eu fui intrometida. — Ela deu um pequeno sorriso. — Aquele dia eu não conseguia dormir, por diversos fatores, mas quando você disse que eu podia deitar com você era como se tudo estivesse bem. — voltou a chorar. — Igual ontem, você poderia muito bem ter me deixado naquela piscina para morrer. Mas não.
— Quando eu gosto de alguém, não consigo simplesmente virar as costas para a pessoa. Eu cuidaria de você em qualquer situação. Não é porque não estamos mais juntos que eu deixaria você morrer afogada — contei e apertei sua mão de leve. — Você queria que eu te deixasse de lado quando sabia que precisava de alguém?
— Não. Eu queria falar para você ficar, mas eu não sabia como lidar com o fato de querer que você ficasse.
— Estou aqui agora — falei olhando em seus olhos.
— Você vai estar aqui ainda quando eu sair da reabilitação? — Sorri de leve com sua pergunta.
— Se você quiser, sim — respondi e levei minha mão até seu rosto, colocando uma mecha de cabelo atrás da sua orelha.
Então ela me abraçou. Sentia suas lágrimas escorrendo e caindo, molhando a camisa que eu estava vestindo. Apertei meus braços ao redor de seu corpo, a puxando para perto.
— Eu não posso te prometer nada, que eu vou sair como uma pessoa diferente, uma pessoa que vai abrir todos seus sentimentos porque eu não posso prometer algo que eu não sei se vou cumprir — disse de maneira abafada pelo modo que seu rosto estava na curva do meu pescoço. — Mas eu posso prometer que eu vou tentar. E espero que isso seja suficiente para começarmos de algum lugar.
— Claro que é — falei, puxando ela para mais perto e dei um beijo em seu ombro. — Eu só quero que você fique bem.
— Eu vou ficar, se souber que vai ter alguém me esperando quando eu sair, que faça valer a pena. — Ela fungou.
Senti suas mãos se fechando em minhas costas.
— Vou estar te esperando, — declarei e afaguei suas costas.
Dei um beijo em seu ombro novamente.
— A Debby está lá fora esperando notícias suas também — contei e apertei de leve seu corpo.
— A Debby? Ela passou a noite aqui também? — indagou.
— Sim. Ficamos esperando você acordar — falei e afastei um pouco, levando a minha mão até seu rosto e o secando.
— Vocês não precisavam fazer isso, — Ela negou. — o mínimo que posso fazer é pedir para ela entrar e falar com ela.
— Não é algo que precisava ou não ser feito, é algo que sentimos vontade de fazer, porque nos importamos contigo e não sentimos vontade de ir embora antes de ter alguma notícia sua — falei dando um sorriso fraco e coloquei seu cabelo para trás de seus ombros.
— Mas Debby nem me conhece, como é que ela pode se importar comigo? — perguntou sem acreditar. — É alguém como ela que você merece ficar, .
— Ela conhece sim. — Sorri de leve para . — Mas não é dela de quem eu gosto.
— Vocês não estão juntos?
— Não. — Uni as sobrancelhas de leve. — Só porque estou com uma garota não quer dizer que estou pegando ela. Inclusive, a Debby é lésbica — ri fraco disso.
Ela ficou me olhando por alguns instantes em silêncio.
— Mas… Por que aquela cena na cozinha? Eu achei que estavam juntos por isso, não por você estar com ela. — Fez uma careta.
— Que cena? Eu só achei desaforo seu perguntar se a gente estava junto. — Ergui as sobrancelhas e fiz um pequeno bico.
— Vocês estavam brincando com gelo e ela te chamou de . — Se defendeu. — Ninguém te chama de .
— Estávamos brincando. Não tinha nada demais. A Debby me chama de por causa de uma garota que tentou forçar intimidade comigo me chamando dessa forma, e ela ficou me zoando para sempre com esse apelido, aí acabou pegando. — Dei de ombros rindo um pouco disso. — O te incomodou?
— Não. — Ela cruzou os braços. — Talvez um pouco. — Torceu a boca. — Me pegou o fato dela saber quem eu era e vir me cumprimentar toda feliz — explicou. — E te chamar de . — Completou baixinho.
— Um pouco? — perguntei segurando o riso e apertei de leve sua barriga. — É porque eu contei de você várias vezes. Ela disse que você parecia ser alguém legal pelas coisas que falava, e queria te conhecer.
arregalou os olhos com aquela informação.
— Você percebe o quão fodida eu sou? A pessoa me acha legal e o que eu faço na primeira vez que eu a vejo? Acabo fazendo ela parar em uma cadeira de hospital a madrugada toda — comentou indignada. — Não sou só eu que tenho problemas na cabeça.
— Se ela ficou aqui comigo, é porque você é alguém que ela gostou apenas pelo que contei, e estar aqui não mudou em nada o pensamento dela. E isso não quer dizer que você é fodida. Debby sabe toda a situação, ela viu como as coisas estavam na festa e estava disposta a te ajudar. Até combinamos em te levar para casa se fosse preciso. Estávamos preocupados, e você não pode fazer nada para mudar isso — avisei e apertei de leve sua barriga novamente. — Então pode parar de se condenar dessa forma.
Ela cobriu o rosto com as mãos e depois puxou os cabelos para trás.
— Eu… … Argh, eu nem sei o que falar. — Suspirou pesadamente e segurou minha mão. — Não posso mudar, mas pelo menos eu posso pedir desculpas por isso. E por montarem esse plano de me levarem embora se a coisa ficasse ruim. O que no caso vocês fizeram, só que não foi para casa.
— Não foi culpa sua. A Camille que teve uma ideia idiota. — Rolei meus olhos, soltando o ar de forma pesada. — Quer que eu chame a Debby?
Ela balançou a cabeça positivamente. Cheguei mais perto dela lhe dando um beijo na testa e levantei da cama, soltando sua mão. Saí do quarto e fui chamar a Debby, voltando com ela em seguida.
— Você está me devendo um drink, garota! — Debby chegou falando e apontando na direção de .
— Até dois se quiser. — Ela riu sem graça. — Queria te agradecer pelo que fez por mim durante a noite. — Sorriu e eu pude ver seu peito subindo e descendo rapidamente. — E pedir desculpas por ter feito você passar a madrugada toda em uma cadeira de hospital.
— Relaxa, está tudo em casa. Você tem que parar de misturar as coisas ou vai dar ruim rápido demais. Mas está de boas. Adoro ter histórias para contar. Nunca tinha passado a noite no hospital, mas o ombro do é um ótimo travesseiro — riu daquilo e me olhou.
Ri fraco negando com a cabeça.
— Talvez eu tenha feito aquilo justamente para dar ruim rápido demais — comentou com vergonha. — Ter um bom travesseiro é bom, mas ainda acho que o maior problema são as almofadas da bunda, nem sempre elas são das mais confortáveis.
— Deus! Quando você quiser fazer isso me chama, viu? Aí a gente fica ruim juntas — brincou dando uma risada. — Elas são péssimas, mas o sofá estava ótimo. Quando você vai sair?
— Eu mal dou conta de uma, imagina de duas! Não! Nem pensar. Ninguém vai dar ruim aqui de novo. — Me meti na conversa cruzando meus braços e olhando para as duas.
— Assim que meu último exame ficar pronto. Eles querem ter certeza de que está tudo bem, mas acho que no máximo de tarde. — Fez um bico. — Apesar de não ter ideia de que horas são agora. — Deu de ombros. — O problema não é dar ruim, e sim misturar duas coisas que dão ruins sozinhas. Aposto que você daria conta de cuidar de nós duas.
— Vamos esperar você sair então — Debby disse e eu concordei. — Ele dá conta sim.
— Não inventa! Eu só tenho dois braços, não consigo levar as duas! Olha o meu tamanho! — rebati levantando os braços.
— É só fazer algo em casa, assim não precisa carregar ninguém. — sorriu como se fosse uma ideia muito boa. — Vocês não tem nada para fazer hoje? Porque se tiverem, não precisam me esperar.
— Olha, gostei da ideia. A gente pode fazer isso no apartamento do . — Debby me olhou com um sorriso e eu ergui as sobrancelhas. — Ah, larga de ser chata. Vamos ficar aqui tendo coisas para fazer ou não.
— Vocês que vão limpar a bagunça depois — avisei apontando para as duas.
— Se minha mãe escuta a gente falando sobre bebida, com toda certeza ela me tira da reabilitação direto para fora da cidade — comentou dando uma olhada na porta. — Mas como eu não ligo, pode deixar que irei arrumar a bagunça, ou pagar alguém para limpar, o que também é bem válido,
— , a está me fazendo gostar dela ainda mais. Vou furar o seu olho — contou e eu a olhei na mesma hora. — Brincadeira. — Me mandou um beijo e sorriu.
— Te contar, viu. Estou fodido com vocês mesmo. — Rolei meus olhos com humor.
— Vai que a gente não teste umas coisas diferentes numa dessas noites? — sorriu maliciosamente. — Poderia tentar dizer que não, mas levando em consideração onde nós estamos, sim você está fodido, e sim, você escolheu isso, então nem pode reclamar. — Ergueu as pernas e se apoiou nos joelhos.
— Eu reclamo sim. Não quero ver a Debby pelada. Credo — falei torcendo o nariz.
— Admita que você sonha com isso todas as noites! — Ela zombou dando uma risada.
— Só se fosse pesadelos — rebati rapidamente.
— Qual é, não seria ruim. — sorriu me olhando. — Debby é muito bonita para desperdiçar. Ai credo, quem vê pensa que eu estava falando de um pedaço de carne.
— Viu. Sou bonita demais para desperdiçar. — Debby me mandou mais um beijo.
— Então se comam e me deixe fora disso — avisei levantando os braços e minha amiga me empurrou de um jeito bruto.
— Ei, você não pode falar assim comigo, eu quase morri — disse parecendo uma criança. — Mas achei fofo esse se comam e me deixe fora disso. — Me imitou.
— Ih, quem estava dando em cima da Debby era você! — Rebati rapidamente. — Fofo por quê? — Franzi o cenho.
— Ela quem disse que ia furar seu olho. Eu só estava a elogiando. — Ergueu as mãos.
— Você já estava toda se oferecendo para ela!
— Aí, se casem logo! — Debby mandou fazendo uma careta para a gente.
— Primeiro eu preciso sair da reabilitação, vai que até lá ele já não achou alguém melhor? — Fez um bico enquanto olhava para Debby.
Olhei para no mesmo instante. Mesmo sabendo que era brincadeira, meu coração ficou rápido.
— Se ele não arranjou alguém até agora não vai ser depois — Debby contou piscando um olho. — Mas pode deixar que tomarei conta dele para você.
Ela riu mas não olhou para mim.
— Obrigada, fico feliz em saber disso. Vou poder curtir minhas férias sem precisar pensar em qual outra roubada eu vou ter que entrar para ele me olhar. — Voltou a abraçar seus joelhos, agora ela tinha um sorriso nos lábios.
— Só para saber. Ela não vai me deixar mesmo que eu fique com ninguém depois dessa — contei apontando para Debby.
— E até parece que você precisa fazer algo para ele te olhar. Você é tipo um imã para os olhos do . Você passa e ele já olha no automático — minha amiga disse e eu a empurrei de leve para ficar quieta.
Ela me deu uma rápida olhada, claramente se divertindo com aquilo. Estreitei meus olhos em sua direção.
— É bom saber dessa informação. Na verdade, quanto mais, melhor. Sabe como é… eu vou precisar de tudo e mais um pouco para conseguir lidar da melhor maneira possível com essa coisa de relacionamento.
Fiquei olhando para com aquilo. Ela estava brincando ou falando sério?
— Eu vou pegar um café. Licença — Debby falou e saiu do quarto.
— Está falando sério? — perguntei em um tom mais baixo.
Ela sorriu e se apertou mais em seus joelhos.
— Relacionamento é algo que eu não sei lidar neste momento, mas nada me impede de tentar depois. Se você quiser.
Cheguei mais perto dela de novo e segurei sua mão, trazendo seu dorso até meus lábios.
— Que tal a gente ver isso quando você estiver de volta e bem? — ofereci com calma.
— Certo. — Ela sorriu. — Amigos? — perguntou ajeitando sua postura.
— Amigos — respondi sorrindo para ela de volta.
FIM
Nota da Jaden Forest: Olá, gente! Tudo bem? Eu estava meio sumida, né? Espero que me perdoem com isso. Hoje trouxe uma fic para vocês com uma parceria nova e espero que tenham gostado. Quero dizer que eu amei demais escrever com a Nina, e que ela também tenha, porque vou querer escrever mais! Muito obrigada Nina por ter embarcado nessa comigo de ultima hora, porque real foi na prorrogação do segundo tempo que a gente escreveu, e deu super certo! Foi uma honra ter você como parceira nesses dias de escrita, me diverti muito e senti muitas emoções também. Obrigada por tudo. Obrigada também a você que está lendo, e espero que tenha curtido essa short tanto quanto nós! Quem sabe não vem uma continuação?
ps: Paramos porque estávamos atingimos o número de páginas permitido.
Beijos, até a próxima.
Nota da Nina Davis: Oie, como vai? Primeiro queria agradecer a Jaden por me chamar (na verdade eu ter me auto convidado kk) para escrever com ela, e eu amei. Sai da minha zona de conforto e confesso que adorei. Se não for para sofrer um pouco a gente nem escreve, não é mesmo?! O prazer é todo meu de poder ter participado desta história, e obviamente sempre que quiser, estarei disposta a embarcar nessas ideias. E quero agradecer assim como a Jaden, a você que chegou até aqui, espero que goste desse casal (que será que podemos chamar de casal?) e do desenrolar da história!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
ps: Paramos porque estávamos atingimos o número de páginas permitido.
Beijos, até a próxima.
Nota da Nina Davis: Oie, como vai? Primeiro queria agradecer a Jaden por me chamar (na verdade eu ter me auto convidado kk) para escrever com ela, e eu amei. Sai da minha zona de conforto e confesso que adorei. Se não for para sofrer um pouco a gente nem escreve, não é mesmo?! O prazer é todo meu de poder ter participado desta história, e obviamente sempre que quiser, estarei disposta a embarcar nessas ideias. E quero agradecer assim como a Jaden, a você que chegou até aqui, espero que goste desse casal (que será que podemos chamar de casal?) e do desenrolar da história!
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