Prólogo
“Todo retrato pintado com sentimento é o retrato do artista, e não de seu modelo.”
– Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray
Pela fresta da janela entreaberta, a luz invadia o cômodo revestido por madeira, banhando com partículas douradas da manhã os espaços há muito esquecidos pelo tempo. O chão rangia abaixo dos pés, o mais breve trocar de peso de um para o outro preenchendo o sótão praticamente silencioso. O único som constante era o ruído das cerdas deslizando pela tela, o movimento deliberado e preciso gravando a cada pincelada os traços que era incapaz de esquecer.
Blue
- Você não sabe mesmo o que aconteceu? – perguntou Amy pela segunda vez aquela manhã.
contorceu o rosto, apertando ainda mais o edredom contra seu peito. Ela não sabia o que tinha acontecido. Ainda que soubesse, não mudaria o fato de que ele tinha ido embora.
- E se aconteceu alguma coisa, ? – insistiu a garota, cada palavra rasgando como navalha o tecido de seu coração.
- E se ele não estiver conseguindo falar com você?
Mais um corte.
- E se ele estiver precisando de ajuda?
Mais um.
- E se ele tiver se afogado?
Mais.
- Você já ligou para Jay? Eu vou ligar para-
- Não, Amy, você... VOCÊ NÃO VAI LIGAR PRA NINGUÉM!
Sentando bruscamente, pegou o travesseiro que Amy apoiava em seu colo e o isolou contra a parede, derrubando praticamente tudo o que tinha em sua escrivaninha no chão. O barulho de um porta-retratos se espatifando ecoou pelo quarto.
A força com que lutava contra o choro fazia seu corpo estremecer. Com a voz embargada na garganta, esfregou as mãos contra o rosto e murmurou, sem encarar a amiga:
- Ele foi embora, ok? Foi embora. Eu não sei pra onde, eu não sei por que. Mas ele foi.
Três respirações pesadas no silêncio, a voz de Amy não passava de um sussurro:
- Como você...?
- Ele pediu demissão no Beats há uma semana. Ele pediu – Um soluço engasgado, as lágrimas acumuladas embaçando a sua visão. –, ele pediu demissão há uma semana, Amy. Uma semana e ele nem teve coragem de me con-t – Com o nó de dias acumulado em seu peito, as palavras lhe faltaram.
Enfim as lágrimas que tanto resistiram escorreram de seus olhos, primeiro discretas, escapando por entre os dedos, e depois impetuosas, encharcando a blusa que apertava contra si.
Amy, desnorteada por ver a amiga desmoronando a sua frente, forçou suas mãos para fora do rosto e a envolveu em um abraço, a força de seus tremores fazendo seu próprio corpo tremer ao contato.
sentia seu estômago gritar com tudo o que estava sentindo, o gosto amargo das lágrimas misturando-se ao da bile que subia para a sua garganta a cada batida mais forte de seu coração. Sentindo que ia vomitar a qualquer momento, tentou se afastar do corpo que a abraçava, mas ele não ia ceder, aproximando quando tentava afastar, e depois de muito tentar, exausta demais para continuar lutando, deixou seu corpo cair inerte e percebeu, pela primeira vez em sua breve vida, o quão fácil era abrir mão de seu corpo e se deixar levar pelo o que era só amargo e repleta agonia.
Sem mais qualquer resquício de controle, a garota permaneceu imóvel com uma mão em seu cabelo, as lágrimas que não paravam de cair e as frequentes ânsias que lhe contorciam o abdômen e a alma e pensou, durante tantas horas que durou a sua dor, se não seria melhor parar de respirar e não mais sentir que mergulhava em desespero.
O relógio marcava oito e meia.
Como todos os relógios, ele continuou a girar para frente. Não parando nem mesmo quando teve a certeza de que não conseguiria puxar o ar se ele de repente não começasse a girar para trás.
[...]
Tamborilando os dedos de uma das mãos contra o balcão, o queixo pesava sobre a outra.O café estava completamente vazio, primeiro, por que era sempre vazio a essa hora, e depois por que Mark tinha voltado mais cedo para casa.
As pálpebras de pesavam, as noites mal dormidas cobrando caro de seu corpo. Sem muito a fazer, pegou uma revista e começou a folear, um cappuccino quente repousando no balcão. Deu um gole, testando brevemente com a ponta da língua a temperatura, o sabor adocicado descendo bem em sua garganta. Lambeu o bigode de creme que se formou acima do seu lábio e apoiou a xícara novamente na bancada, a porcelana na madeira preenchendo o silêncio. Olhou ao redor mais uma vez, mas ninguém a fitou de volta.
Se bloqueasse a música de fundo, era quase como se ainda o escutasse falar.
[...]
- , posso conversar com você um minuto?
- Claro, Robbie, algum problema?
- Não, não é bem um problema... Mas o que é isso aqui?
- É o projeto da semana passada. Meu projeto da semana passada.
- Sim, isso eu sei. Está assinado com o seu nome.
Silêncio.
- Mas não foi você quem desenhou.
- Olha, Sr. Stark, eu...
- Você pode continuar me chamando de Robbie, . Eu não estou te punindo.
- Então o que é isso?
- Isso sou eu querendo saber por que a minha aluna mais brilhante, que reproduz Monet com o pincel nas costas, não me trouxe um desenho simples de sua própria autoria.
[...]
- Você sabe que não sabe pegar onda, não sabe? – Amy perguntou tentando olhar para cima, a mão na frente do sol.
- Precisamente por isso eu disse que estou aprendendo – rebateu Brad, passando os dedos entre o cabelo platinado.
De rosto corado, bermuda verde e uma prancha debaixo do braço, ele quase parecia um sulista.
- Até parece que você nasceu mesmo aqui, Brad – comentou , apoiando o peso sobre os cotovelos.
A brisa soprava insistente pela praia, as cangas presas por montinhos de areia pesando em cada extremidade. Ao longe era possível ver a força do vento batendo contra a vegetação, os coqueiros envergando graças às rajadas implacáveis do fim da primavera.
O sol estava quente, e sentia uma leve ardência se espalhar por quase toda a extensão de seu corpo.
- Eu vou dar um mergulho – sussurrou ao se levantar, estapeando a areia da bunda enquanto andava até a água.
Ao se aproximar, sentiu o corpo inteiro se arrepiar assim que seus pés entraram em contato com o mar, a temperatura muito abaixo do que normalmente conseguia tolerar. Não estava batendo, quase nenhuma correnteza, o que tornava ainda mais sem sentido que Brad tivesse trazido uma prancha, mas frequentava aquelas águas desde que nascera e sabia que, mesmo em dias calmos, o melhor era nadar mais para o fundo, longe de onde as ondas quebravam.
Uma vez completamente mergulhada, a água gelada batendo em seu cabelo quente, não pôde conter o primeiro sorriso genuíno que sentia se formar em seus lábios no que se pareciam semanas. Amava poucas coisas como amava o mar.
Sem pensar duas vezes, nadou ainda mais para o fundo e deixou que a água salgada se encarregasse de seu corpo, largando-o e o sentindo flutuar no mesmo instante. O barulho da correnteza em seu ouvido calava qualquer outro som, o movimento das ondas embalando o seu corpo, flutuando amarrada ao pensamento de que poucas coisas deviam se parecer tanto quanto voar.
Quando abriu os olhos, encarou a imensidão azul do céu. Quando os fechou novamente, foi para ir de encontro ao azul que deixava esse, e todos os outros azuis, meramente triviais.
[...]
- O que você vai fazer hoje?
- Eu vou pintar.
xxx
Sentada no chão, as costas contra a parede e as pernas abraçadas contra o corpo, observava o painel com as sobrancelhas apertadas em concentração. Era quase um vício. Toda vez que não estava satisfeita com o rumo que sua obra estava tomando, precisava se afastar, respirar fundo e observar de longe, de outra perspectiva, tentar enxergar com olhos que não eram os seus.
De alguma forma, carregava para a vida a maneira com que pintava. Sempre em busca de outras perspectivas.
Respirando fundo mais uma vez, os dedos sujando de tinta o jeans surrado que vestia, levantou-se e caminhou até o cavalete, separando o mais fino de seus pincéis redondos do restante. Os olhos permaneciam traçados para os detalhes na tela, e as mãos misturaram cores por memória até encontrarem um azulado suficientemente bonito, o tom pálido e opaco se em contraste ao original, embora suficiente, uma vez que o original não era mais uma escolha. Com um aperto na garganta e os dedos levemente trémulos, acariciava a tela, contornando os últimos detalhes do rosto que mesmo em retrato roubava seu ar.
A familiaridade dos domingos trancafiada no sótão fez o dia passar como um borrão de cores, silêncio estéril e o ruído ensurdecedor de seus pensamentos. Mais tarde, depois de preparar a única refeição do dia – sua mãe estava de plantão, nem de longe perto o suficiente para repreendê-la – e comê-la de frente para a TV, a cama a recebeu fria, mas confortável, apagando-a rapidamente em um sono quase sem invasões de risadas capazes de preencher corredores inteiros.
contorceu o rosto, apertando ainda mais o edredom contra seu peito. Ela não sabia o que tinha acontecido. Ainda que soubesse, não mudaria o fato de que ele tinha ido embora.
- E se aconteceu alguma coisa, ? – insistiu a garota, cada palavra rasgando como navalha o tecido de seu coração.
- E se ele não estiver conseguindo falar com você?
Mais um corte.
- E se ele estiver precisando de ajuda?
Mais um.
- E se ele tiver se afogado?
Mais.
- Você já ligou para Jay? Eu vou ligar para-
- Não, Amy, você... VOCÊ NÃO VAI LIGAR PRA NINGUÉM!
Sentando bruscamente, pegou o travesseiro que Amy apoiava em seu colo e o isolou contra a parede, derrubando praticamente tudo o que tinha em sua escrivaninha no chão. O barulho de um porta-retratos se espatifando ecoou pelo quarto.
A força com que lutava contra o choro fazia seu corpo estremecer. Com a voz embargada na garganta, esfregou as mãos contra o rosto e murmurou, sem encarar a amiga:
- Ele foi embora, ok? Foi embora. Eu não sei pra onde, eu não sei por que. Mas ele foi.
Três respirações pesadas no silêncio, a voz de Amy não passava de um sussurro:
- Como você...?
- Ele pediu demissão no Beats há uma semana. Ele pediu – Um soluço engasgado, as lágrimas acumuladas embaçando a sua visão. –, ele pediu demissão há uma semana, Amy. Uma semana e ele nem teve coragem de me con-t – Com o nó de dias acumulado em seu peito, as palavras lhe faltaram.
Enfim as lágrimas que tanto resistiram escorreram de seus olhos, primeiro discretas, escapando por entre os dedos, e depois impetuosas, encharcando a blusa que apertava contra si.
Amy, desnorteada por ver a amiga desmoronando a sua frente, forçou suas mãos para fora do rosto e a envolveu em um abraço, a força de seus tremores fazendo seu próprio corpo tremer ao contato.
sentia seu estômago gritar com tudo o que estava sentindo, o gosto amargo das lágrimas misturando-se ao da bile que subia para a sua garganta a cada batida mais forte de seu coração. Sentindo que ia vomitar a qualquer momento, tentou se afastar do corpo que a abraçava, mas ele não ia ceder, aproximando quando tentava afastar, e depois de muito tentar, exausta demais para continuar lutando, deixou seu corpo cair inerte e percebeu, pela primeira vez em sua breve vida, o quão fácil era abrir mão de seu corpo e se deixar levar pelo o que era só amargo e repleta agonia.
Sem mais qualquer resquício de controle, a garota permaneceu imóvel com uma mão em seu cabelo, as lágrimas que não paravam de cair e as frequentes ânsias que lhe contorciam o abdômen e a alma e pensou, durante tantas horas que durou a sua dor, se não seria melhor parar de respirar e não mais sentir que mergulhava em desespero.
O relógio marcava oito e meia.
Como todos os relógios, ele continuou a girar para frente. Não parando nem mesmo quando teve a certeza de que não conseguiria puxar o ar se ele de repente não começasse a girar para trás.
Tamborilando os dedos de uma das mãos contra o balcão, o queixo pesava sobre a outra.O café estava completamente vazio, primeiro, por que era sempre vazio a essa hora, e depois por que Mark tinha voltado mais cedo para casa.
As pálpebras de pesavam, as noites mal dormidas cobrando caro de seu corpo. Sem muito a fazer, pegou uma revista e começou a folear, um cappuccino quente repousando no balcão. Deu um gole, testando brevemente com a ponta da língua a temperatura, o sabor adocicado descendo bem em sua garganta. Lambeu o bigode de creme que se formou acima do seu lábio e apoiou a xícara novamente na bancada, a porcelana na madeira preenchendo o silêncio. Olhou ao redor mais uma vez, mas ninguém a fitou de volta.
Se bloqueasse a música de fundo, era quase como se ainda o escutasse falar.
- , posso conversar com você um minuto?
- Claro, Robbie, algum problema?
- Não, não é bem um problema... Mas o que é isso aqui?
- É o projeto da semana passada. Meu projeto da semana passada.
- Sim, isso eu sei. Está assinado com o seu nome.
Silêncio.
- Mas não foi você quem desenhou.
- Olha, Sr. Stark, eu...
- Você pode continuar me chamando de Robbie, . Eu não estou te punindo.
- Então o que é isso?
- Isso sou eu querendo saber por que a minha aluna mais brilhante, que reproduz Monet com o pincel nas costas, não me trouxe um desenho simples de sua própria autoria.
- Você sabe que não sabe pegar onda, não sabe? – Amy perguntou tentando olhar para cima, a mão na frente do sol.
- Precisamente por isso eu disse que estou aprendendo – rebateu Brad, passando os dedos entre o cabelo platinado.
De rosto corado, bermuda verde e uma prancha debaixo do braço, ele quase parecia um sulista.
- Até parece que você nasceu mesmo aqui, Brad – comentou , apoiando o peso sobre os cotovelos.
A brisa soprava insistente pela praia, as cangas presas por montinhos de areia pesando em cada extremidade. Ao longe era possível ver a força do vento batendo contra a vegetação, os coqueiros envergando graças às rajadas implacáveis do fim da primavera.
O sol estava quente, e sentia uma leve ardência se espalhar por quase toda a extensão de seu corpo.
- Eu vou dar um mergulho – sussurrou ao se levantar, estapeando a areia da bunda enquanto andava até a água.
Ao se aproximar, sentiu o corpo inteiro se arrepiar assim que seus pés entraram em contato com o mar, a temperatura muito abaixo do que normalmente conseguia tolerar. Não estava batendo, quase nenhuma correnteza, o que tornava ainda mais sem sentido que Brad tivesse trazido uma prancha, mas frequentava aquelas águas desde que nascera e sabia que, mesmo em dias calmos, o melhor era nadar mais para o fundo, longe de onde as ondas quebravam.
Uma vez completamente mergulhada, a água gelada batendo em seu cabelo quente, não pôde conter o primeiro sorriso genuíno que sentia se formar em seus lábios no que se pareciam semanas. Amava poucas coisas como amava o mar.
Sem pensar duas vezes, nadou ainda mais para o fundo e deixou que a água salgada se encarregasse de seu corpo, largando-o e o sentindo flutuar no mesmo instante. O barulho da correnteza em seu ouvido calava qualquer outro som, o movimento das ondas embalando o seu corpo, flutuando amarrada ao pensamento de que poucas coisas deviam se parecer tanto quanto voar.
Quando abriu os olhos, encarou a imensidão azul do céu. Quando os fechou novamente, foi para ir de encontro ao azul que deixava esse, e todos os outros azuis, meramente triviais.
- O que você vai fazer hoje?
- Eu vou pintar.
Sentada no chão, as costas contra a parede e as pernas abraçadas contra o corpo, observava o painel com as sobrancelhas apertadas em concentração. Era quase um vício. Toda vez que não estava satisfeita com o rumo que sua obra estava tomando, precisava se afastar, respirar fundo e observar de longe, de outra perspectiva, tentar enxergar com olhos que não eram os seus.
De alguma forma, carregava para a vida a maneira com que pintava. Sempre em busca de outras perspectivas.
Respirando fundo mais uma vez, os dedos sujando de tinta o jeans surrado que vestia, levantou-se e caminhou até o cavalete, separando o mais fino de seus pincéis redondos do restante. Os olhos permaneciam traçados para os detalhes na tela, e as mãos misturaram cores por memória até encontrarem um azulado suficientemente bonito, o tom pálido e opaco se em contraste ao original, embora suficiente, uma vez que o original não era mais uma escolha. Com um aperto na garganta e os dedos levemente trémulos, acariciava a tela, contornando os últimos detalhes do rosto que mesmo em retrato roubava seu ar.
A familiaridade dos domingos trancafiada no sótão fez o dia passar como um borrão de cores, silêncio estéril e o ruído ensurdecedor de seus pensamentos. Mais tarde, depois de preparar a única refeição do dia – sua mãe estava de plantão, nem de longe perto o suficiente para repreendê-la – e comê-la de frente para a TV, a cama a recebeu fria, mas confortável, apagando-a rapidamente em um sono quase sem invasões de risadas capazes de preencher corredores inteiros.
Gray
Assim que saiu de casa, seus olhos bateram no topo da cabeça loira de Brad por cima da cerca viva da Sr. Meyer. Ele se aproximava depressa, e assim que a viu, um sorriso quente e contagioso iluminou o seu rosto. sentiu sua boca responder ao gesto, mas algo no ato lhe parecia forçado, tão pouca vontade que o sorriso do rapaz logo desapareceu.
Ao se aproximar, ele passou a mão por sua cintura e beijou sua testa, apertando a mão ao que murmurava um bom dia em seu cabelo.
- Bom dia, Brad – respondeu , envolvendo-o pela cintura. – Aposto que se tivéssemos marcado não tinha dado certo, né?
- Nope, claro que não. Você daria um jeitinho de atrasar – brincou ele, arrancando um sopro de riso da garota, que revirava os olhos.
- Claro, por que sou eu, e não você, que demora uma hora ajeitando o cabelo todo santo dia.
- Você obviamente não tem provas do que está falando.
Mais uma risada contida e os dois começaram a andar para o colégio, a breve caminhada de quinze minutos silenciosa exceto pelos sons da segunda-feira despertando. Os carros passavam velozes cortando o asfalto, empresários, pais e mães correndo para antecipar a dolorosa rotina semanal.
Abraçados um ao outro, Brad e mantinham o seu próprio ritmo. O sol brilhava tímido por trás das nuvens, e o vento estava insistente àquela manhã.
Quando chegaram ao Suncoast, Amy os aguardava na entrada, um livro apertado contra o peito e cinco pessoas, que a garota sequer já tinha visto, ouvindo atentamente ao que a amiga falava. Ao se aproximarem mais, sentiu o peso do olhar em seu rosto, e como se não desse a menor importância ao assunto que discutia antes, Amy arrancou as últimas risadas do grupo e foi de encontro a eles.
Deixou-se ser abraçada por Brad e, quando se virou para a melhor amiga, seu sorriso muito mais sereno do que há poucos segundos atrás, afastou com uma das mãos os livros de seu corpo e a apertou contra si, a capa dura se fundindo às costas da garota.
Amy demorou a sair do abraço e quando o fez, percebeu a troca de olhar entre seus dois melhores amigos, a discrição nem de longe suas melhores qualidades.
- Dá pra parar com isso, por favor? Eu estou literalmente na frente de vocês – murmurou a garota, um pouco desconfortável em sua própria pele.
- Mas você tá bem, ? – Brad perguntou, virando um pouco a cabeça para o lado.
abaixou o rosto, uma das mãos involuntariamente tirando o cabelo que escorreu para frente. Sentia-se exausta, queria voltar para casa e se jogar na cama, não sair de seu quarto nunca mais. Não sabia por que, ou como isso era possível, mas sentia como se seu corpo inteiro estivesse puxando-a para baixo, tentando arrastá-la até o chão.
Seu estômago se contorceu ao pensar em por que não estaria bem, de por que estarem perguntando, e sentiu lágrimas se formarem em seus olhos. Queria ir embora daquele lugar.
- Não – Sua voz não passava de um sussurro. –, mas eu vou ficar.
[...]
A professora discorria monotonamente sobre algum assunto, mas não prestou atenção a uma única palavra desde que se sentara. Não saberia responder de primeira nem mesmo que aula estava assistindo.
Inglês III era uma das poucas matérias que fazia sozinha, nem Brad nem Amy para distraí-la de suas distrações. Seus dedos esboçavam livres no caderno contornos que se aproximavam demais do que viria a machuca-la caso finalizados, mas seus olhos pouco se demoravam dentro da sala de aula, perdendo-se pelo dia acontecendo fora da janela. Em Riviera Beach, dias sem sol eramum raro acontecimento, e passada as primeiras horas da manhã, lá estava ele fazendo forte presença na paisagem.
Os pássaros voavam livres pelo céu limpo de nuvens, o constante vento oceânico balançando a vegetação que ainda carecia do verde intenso que em breve tomaria a paisagem de sua cidade natal, logo assim chegasse o verão. Sentia um pouco de inveja das aves naquele momento, pois sabia que elas voavam sem ter em suas asas a capacidade de desenhar o que cedo ou tarde acabaria por destruí-las.
Revirando os olhos por se permitir pela décima vez pensar sobre o que não queria, voltou para a sala e decidiu se concentrar na aula. Não demorou muito para ser perder novamente, e passados pouco mais de cinco minutos seu cérebro desligou-se completamente do que a professora dizia, os olhos inconscientemente percorrendo o cômodo como as ondas envolvem a areia; com honesto interesse e imediato descaso.
No canto direito da sala, James Clarck mordia a ponta de sua caneta, os olhos fixos na professora. Ele era um rapaz grande, as longas pernas ocupando todo o espaço debaixo de sua mesa, o dorso despojadamente jogado no encosto da cadeira e os cabelos negros grudados em sua testa. Seu piercing na língua vez ou outra fazia uma aparição, a cor metálica contrastando com o azul escuro da tampa que mordia. Muitas de suas colegas tinham uma crush no garoto, mas parada da onde o observava, tudo o que falhava em entender era como tanta gente o achava interessante. Ele era tão... comum.
Sem resposta para sua própria pergunta, seus olhos continuaram acessando os alunos um a um, até pararam em uma garota com quem estudara desde que conseguia se lembrar. Ashley Mansen era uma das pessoas mais legais que conhecia, tendo comprovado mais de uma vez, nas vezes que a garota passava na cafeteria com o namorado, o quanto era genuinamente gentil com todo mundo. Nunca foram grandes amigas, mas fazia alguns meses quea menina tentava se aproximar.
Ashley sempre fizera questão de convida-la para os memoráveis churrascos que dava em sua casa, aos quais nunca realmente aparecia, muito embora adorasse ser lembrada. Nas últimas semanas, no entanto, parecia que a garota estava realmente se esforçando. Em um espaço de dois finais de semana, fora convidada para passeios em galerias e dias na praia, coisas com as quais estava muito mais habituada, e se não fosse ahonesta vontade de se fundir à sua cama, provavelmente estariam muito mais próximas agora.
Sabia que a observava a alguns minutos, mas antes de conseguir desviar a atenção para outro lugar, um enorme par de olhos castanhos encontrou os seus.
Imediatamente um sorriso surgiu nos lábios de Ashley, que balançou a cabeça na direção da professora e revirou os olhos, escondendo uma risada atrás das mãos. O gesto fez algo em seu peito se apertar, o trejeito de alguma maneira muito familiar, e seu sorriso não era nada genuíno quando desviou os olhos para a janela novamente, exausta demais para fingir.
não sabia como ou quando conseguiria aceitar convites; seus ou quaisquer outros.
[...]
O dia no The Beat Cup passou como qualquer outro. Saindo direto da escola para o trabalho, a caminhada de vinte minutos debaixo do sol quente trouxe uma leve camada de suor da qual só se livraria algumas horas mais tarde.
Mark a recebeu com o sorriso caloroso de sempre, mas seus olhos continham a dose de preocupação instalada ali desde que lhe contara que havia pedido demissão.
- Boa tarde, .
- Hey Mark, tudo bem? Vou só trocar de roupa e já chego aí – disse a garota, acenando brevemente antes de voltar sua atenção para o fundo do café.
A loja ainda estava vazia, mas ela sabia que era só questão de tempo até todo mundo sair do trabalho, escola ou faculdade, e se encontrar num dos maiores points de Riviera.
Algumas horas mais tarde, suas suspeitas se confirmaram como quase todos os dias.
- Hey ! – Tyler O’Conner, quaterback pela PB Atlantic University, sorriu para , apoiando os cotovelos na bancada. – Tá movimentado hoje, né?
- Sempre está essa hora do dia. – Sorriu a garota, os olhos desviando para a longa fila que se formava atrás do rapaz. – O que posso pegar pra você?
- Faz aí um Chai Latte pra mim, e um 12oz pra viagem, yeah?
- Saindo!
Com as mãos já suficientemente treinadas, não levava mais que cinco minutos preparando qualquer que fosse o pedido. Se não fosse o fato de estarem com uma pessoa a menos atrás do balcão, a fila nunca ultrapassaria mais de quatro pessoas. Era uma política da casa e o estresse no rosto de Mark por estar falhando com ela era visível.
- , eu sei que é pedir demais, mas você pode cobrir pra mim por meia hora? Eu marquei de entrevistar o garoto novo hoje, e a gente precisa da ajuda. Vou tentar ser rápido, prometo, é praticamente certo, ele foi indicado por uma amiga minha. É só o tempo de explicar como vai ser o trabalho e conhecer ele um pouco.
- Tudo bem, Mark. Pode ir que eu seguro aqui! – Terminando mais um pedido antes de pegar o próximo, a garota mal teve tempo de ver o rapaz que aguardava no canto do Café, mochila nas costas e expressão levemente tensa.
O fato de que ele era uma pessoa qualquer era só mais uma faca cravada em seu coração, a visão tão dolorosamente clara de que aquela não era a presença que tanto se habituara a ter ao seu lado.
Que aquele garoto era alto e magricela, e não dono de um dos corpos mais simetricamente bonitos que já tinha visto. Que sua pele branca não parecia beijada pelo sol, caramelo derretido que fascinava os olhos que tanto amavam as cores e suas nuances. Que seu cabelo era ruivo e ressecado, e não um tom único de , tão brilhante e tão macio que pouco se podia fazer para parar a vontade de entrelaça-lo nas mãos e nunca mais perder a sensação dos fios sedosos na ponta dos dedos. Que seus olhos não brilhavam com vida e um tantinho de malícia, ou que seus lábios não tinham um formato perfeito que se abriam em um sorriso de prender a respiração. Que ele provavelmente não ocupava cômodos inteiros com a sua risada, e que não atraía olhares pela forma que sua presença fazia diferença para absolutamente todo mundo. Sabia que ele não ia errar o pedido pelo menos duas vezes por dia, sabia que se ele errasse, todos, inclusive o seu chefe, não estariam tão encantados por tudo o que ele era que não se importariam nem um pouquinho com o prejuízo; desde que ele continuasse pagando simplesmente com a sua presença.
Sabia que em contraste com a parede laranja em que estava apoiado, o jeito como seus cílios faziam sombra em sua bochecha quando olhava para baixo não faziam suas mãos quase trêmulas em ansiedade para pintá-los. Sabia que em certa luz, se fizesse um quadrado com os dedos e o centralizasse, fazendo pouco mais do que apenas existindo, não sentiria em seu peito a inspiração de pintar em eterna reverência às belezas que a natureza era capaz de conjurar. Sabia que mesmo em quadro a quantidade de vida que exalava de seu ser não seria jamais comparável à da pessoa representada um dia após o outro em seu sótão vazio.
Sentindo seu coração se acelerar, desviou para a senhora à sua frente. Encarava-a com as sobrancelhas apertadas e os lábios em uma linha fina.
- Você está bem, querida? – perguntou ela, e não, ela não estava bem.
Sentiu lágrimas se formarem em seus olhos e engoliu várias vezes o nó em sua garganta, as mãos trêmulas se agarrando contra o copo do liquidificador.
- Desculpa senhora, qual é mesmo o pedido?
Café, café. Era nisso que ela precisava pensar.
[...]
Uma batida na porta chamou a sua atenção. De onde estava, deitada de lado abraçando o travesseiro, esperava que a luz fosse fraca o suficiente para esconder as lágrimas que escorriam pelo rosto.
- Pode entrar. – Sua voz estava rouca e soava estranha ao ouvido.
Elisa abriu lentamente a porta e colocou a cabeça para dentro do quarto. Quando seus olhos bateram na visão de sua filha espremendo o travesseiro contra o corpo, sentiu em sua própria pele a tristeza por vê-la assim, entrando completamente no cômodo no segundo seguinte. Já tendo devidamente trocado a roupa do hospital, a mulher caminhou hesitante até a cama, não sabendo se a queria por perto ou não. Como a garota não falou mais nada, apenas a acompanhou com os olhos, se sentiu confortável o suficiente para se sentar, as mãos imediatamente alcançando seu braço.
- Oi minha princesa. Vim te chamar para jantar.
- Eu não estou com muita fome, mãe.
Elisa suspirou, esfregando ambas as mãos por seu rosto. Estava exausta.
- Você precisa comer, nem que seja um pouquinho. Você quer que eu traga aqui pra cima? A gente pode comer na cama. – Os olhos passando pela parede coberta de quadros, sentiu o peito se apertar quando parou em um especialmente, e acrescentou; – Eu trouxe sorvete.
Seu olhar se demorou tanto nos traços azuis que o seguiu, apertando o travesseiro ainda mais contra si quando se deu conta do que sua mãe observava. Queria ser forte o suficiente para deixar suas frustrações no sótão aonde pertenciam, mas mesmo agora não conseguia juntar força suficiente para não desejar olhar para aquele rosto todos os dias.
- Eu vou trazer para cá – Elisa falou para o silêncio do quarto, a atenção novamente voltada para a filha. – Vê se lava esse rosto enquanto isso, depois nós vamos dar uma volta.
- Mãe...
- E não me venha com “mãe”, a gente não se vê nunca durante a semana. Quero comprar um vestido e você vai me ajudar a escolher.
Com uma última carícia no ombro da mais nova, ela se abaixou e depositou um beijo em sua testa.
não protestou novamente, observando a mãe sair de seu quarto e somente quando a porta fechou atrás dela, permitiu-se deixar o ar escapar em um suspiro pesado. Não tinha a menor vontade de sair. Por que ninguém a deixava em paz?
[...]
A testa prensada contra o vidro, observava a tempestade varrer a cidade com imponência. A água escorria interrupta na frente de seus olhos, se alguém pudesse vê-la por detrás de cortina que jorrava do telhado, perceberia o quanto se envesgavam para atender as exigências de sua interminável apreciação.
Fazia três dias que o céu desabava sobre a cidade, e três dias que encarava a tela vazia com um pincel em mãos. O silêncio do sótão era refém da ruidosa tempestade, a ventania fazendo ranger as antigas dobradiças da única janela do cômodo.
Respirando contra o vidro, observando-o embaçar e desembaçar conforme a sua respiração, se permitiu parar com aquela loucura por alguns segundos e deixar que sua mente lhe mostrasse aonde a inspiração a queria levar.
Estava frio, o contato do vidro contra seus dedos arrepiando os pelos de seu antebraço. Vestia uma calça de moletom e uma camisa larga, ambas manchadas com a criatividade de anos passados em meio às cores.
Fazia três dias. Três dias que tentava borrar cada imagem que surgia em sua mente, cada vez que seus olhos se fechavam e seus dedos suplicavam por traços suaves e detalhes raros.
Cansada de lutar contra algo que durante toda a sua vida nunca esteve sob seu controle, se afastou da janela e caminhou para o painel que a aguardava em branco. A mente límpida se não pelas formas que daria a vida, se fez de tons acinzentados e sem mais uma única amarra, mergulhou os dedos na tinta e deixou que sua mão gravasse em traços vagos o rosto que mesmo após semanas ainda preenchia toda a sua arte.
xxx
A cabeça encostada na parede, as unhas pretas de tinta arrastando-se involuntariamente pelo tecido da calça, deixou seu olhar percorrer o quadro que secava, o retrato banhando-a em lembranças de dias cada vez mais distantes.
A chuva continuava forte, o som das grossas gotas batendo contra o telhado ecoando pelo pequeno cômodo. Levantou-se abruptamente, apertando a blusa contra o corpo ao que saía do quarto a passos apressados, descendo as escadas correndo, a garganta se fechando e dificultando sua respiração.
Abriu a porta da cozinha e sentiu o ar gélido se chocar com a sua pele, arrepiando seus braços envoltos pela blusa fina que vestia. Sem pensar duas vezes, o que a esta altura estava se tornando rotina, pisou com os pés descalços na grama lamacenta de seu quintal, sentindo-a se acomodar entre seus dedos. Continuou andando até sentir a água tocar seu cabelo, levantando o rosto ao que abria os braços e abraçava a tempestade como se disposta a enxaguar sua alma.
Ali, parada e insignificante e nada mais que uma ridícula partícula de algo muito maior do que podia compreender, esperava recuperar o olhar que durante tanto tempo se admirara nos menores detalhes de tudo o que acontecia ao seu redor. Como quem acreditava em forças maiores e vontades atendidas, apertou os olhos e desejou com tudo o que tinha que não mais pintasse em dor, e que não mais passasse seus dias refém de algo tão inerente ao que era.
Fechou os olhos e desejou que o único acinzentado capaz de habitar a sua mente fosse o perpétuo cinza em uma tempestade, e não o tom efêmero de olhos que se adaptam ao ambiente... Ou rostos que partem sem deixar aviso.
Ao se aproximar, ele passou a mão por sua cintura e beijou sua testa, apertando a mão ao que murmurava um bom dia em seu cabelo.
- Bom dia, Brad – respondeu , envolvendo-o pela cintura. – Aposto que se tivéssemos marcado não tinha dado certo, né?
- Nope, claro que não. Você daria um jeitinho de atrasar – brincou ele, arrancando um sopro de riso da garota, que revirava os olhos.
- Claro, por que sou eu, e não você, que demora uma hora ajeitando o cabelo todo santo dia.
- Você obviamente não tem provas do que está falando.
Mais uma risada contida e os dois começaram a andar para o colégio, a breve caminhada de quinze minutos silenciosa exceto pelos sons da segunda-feira despertando. Os carros passavam velozes cortando o asfalto, empresários, pais e mães correndo para antecipar a dolorosa rotina semanal.
Abraçados um ao outro, Brad e mantinham o seu próprio ritmo. O sol brilhava tímido por trás das nuvens, e o vento estava insistente àquela manhã.
Quando chegaram ao Suncoast, Amy os aguardava na entrada, um livro apertado contra o peito e cinco pessoas, que a garota sequer já tinha visto, ouvindo atentamente ao que a amiga falava. Ao se aproximarem mais, sentiu o peso do olhar em seu rosto, e como se não desse a menor importância ao assunto que discutia antes, Amy arrancou as últimas risadas do grupo e foi de encontro a eles.
Deixou-se ser abraçada por Brad e, quando se virou para a melhor amiga, seu sorriso muito mais sereno do que há poucos segundos atrás, afastou com uma das mãos os livros de seu corpo e a apertou contra si, a capa dura se fundindo às costas da garota.
Amy demorou a sair do abraço e quando o fez, percebeu a troca de olhar entre seus dois melhores amigos, a discrição nem de longe suas melhores qualidades.
- Dá pra parar com isso, por favor? Eu estou literalmente na frente de vocês – murmurou a garota, um pouco desconfortável em sua própria pele.
- Mas você tá bem, ? – Brad perguntou, virando um pouco a cabeça para o lado.
abaixou o rosto, uma das mãos involuntariamente tirando o cabelo que escorreu para frente. Sentia-se exausta, queria voltar para casa e se jogar na cama, não sair de seu quarto nunca mais. Não sabia por que, ou como isso era possível, mas sentia como se seu corpo inteiro estivesse puxando-a para baixo, tentando arrastá-la até o chão.
Seu estômago se contorceu ao pensar em por que não estaria bem, de por que estarem perguntando, e sentiu lágrimas se formarem em seus olhos. Queria ir embora daquele lugar.
- Não – Sua voz não passava de um sussurro. –, mas eu vou ficar.
A professora discorria monotonamente sobre algum assunto, mas não prestou atenção a uma única palavra desde que se sentara. Não saberia responder de primeira nem mesmo que aula estava assistindo.
Inglês III era uma das poucas matérias que fazia sozinha, nem Brad nem Amy para distraí-la de suas distrações. Seus dedos esboçavam livres no caderno contornos que se aproximavam demais do que viria a machuca-la caso finalizados, mas seus olhos pouco se demoravam dentro da sala de aula, perdendo-se pelo dia acontecendo fora da janela. Em Riviera Beach, dias sem sol eramum raro acontecimento, e passada as primeiras horas da manhã, lá estava ele fazendo forte presença na paisagem.
Os pássaros voavam livres pelo céu limpo de nuvens, o constante vento oceânico balançando a vegetação que ainda carecia do verde intenso que em breve tomaria a paisagem de sua cidade natal, logo assim chegasse o verão. Sentia um pouco de inveja das aves naquele momento, pois sabia que elas voavam sem ter em suas asas a capacidade de desenhar o que cedo ou tarde acabaria por destruí-las.
Revirando os olhos por se permitir pela décima vez pensar sobre o que não queria, voltou para a sala e decidiu se concentrar na aula. Não demorou muito para ser perder novamente, e passados pouco mais de cinco minutos seu cérebro desligou-se completamente do que a professora dizia, os olhos inconscientemente percorrendo o cômodo como as ondas envolvem a areia; com honesto interesse e imediato descaso.
No canto direito da sala, James Clarck mordia a ponta de sua caneta, os olhos fixos na professora. Ele era um rapaz grande, as longas pernas ocupando todo o espaço debaixo de sua mesa, o dorso despojadamente jogado no encosto da cadeira e os cabelos negros grudados em sua testa. Seu piercing na língua vez ou outra fazia uma aparição, a cor metálica contrastando com o azul escuro da tampa que mordia. Muitas de suas colegas tinham uma crush no garoto, mas parada da onde o observava, tudo o que falhava em entender era como tanta gente o achava interessante. Ele era tão... comum.
Sem resposta para sua própria pergunta, seus olhos continuaram acessando os alunos um a um, até pararam em uma garota com quem estudara desde que conseguia se lembrar. Ashley Mansen era uma das pessoas mais legais que conhecia, tendo comprovado mais de uma vez, nas vezes que a garota passava na cafeteria com o namorado, o quanto era genuinamente gentil com todo mundo. Nunca foram grandes amigas, mas fazia alguns meses quea menina tentava se aproximar.
Ashley sempre fizera questão de convida-la para os memoráveis churrascos que dava em sua casa, aos quais nunca realmente aparecia, muito embora adorasse ser lembrada. Nas últimas semanas, no entanto, parecia que a garota estava realmente se esforçando. Em um espaço de dois finais de semana, fora convidada para passeios em galerias e dias na praia, coisas com as quais estava muito mais habituada, e se não fosse ahonesta vontade de se fundir à sua cama, provavelmente estariam muito mais próximas agora.
Sabia que a observava a alguns minutos, mas antes de conseguir desviar a atenção para outro lugar, um enorme par de olhos castanhos encontrou os seus.
Imediatamente um sorriso surgiu nos lábios de Ashley, que balançou a cabeça na direção da professora e revirou os olhos, escondendo uma risada atrás das mãos. O gesto fez algo em seu peito se apertar, o trejeito de alguma maneira muito familiar, e seu sorriso não era nada genuíno quando desviou os olhos para a janela novamente, exausta demais para fingir.
não sabia como ou quando conseguiria aceitar convites; seus ou quaisquer outros.
O dia no The Beat Cup passou como qualquer outro. Saindo direto da escola para o trabalho, a caminhada de vinte minutos debaixo do sol quente trouxe uma leve camada de suor da qual só se livraria algumas horas mais tarde.
Mark a recebeu com o sorriso caloroso de sempre, mas seus olhos continham a dose de preocupação instalada ali desde que lhe contara que havia pedido demissão.
- Boa tarde, .
- Hey Mark, tudo bem? Vou só trocar de roupa e já chego aí – disse a garota, acenando brevemente antes de voltar sua atenção para o fundo do café.
A loja ainda estava vazia, mas ela sabia que era só questão de tempo até todo mundo sair do trabalho, escola ou faculdade, e se encontrar num dos maiores points de Riviera.
Algumas horas mais tarde, suas suspeitas se confirmaram como quase todos os dias.
- Hey ! – Tyler O’Conner, quaterback pela PB Atlantic University, sorriu para , apoiando os cotovelos na bancada. – Tá movimentado hoje, né?
- Sempre está essa hora do dia. – Sorriu a garota, os olhos desviando para a longa fila que se formava atrás do rapaz. – O que posso pegar pra você?
- Faz aí um Chai Latte pra mim, e um 12oz pra viagem, yeah?
- Saindo!
Com as mãos já suficientemente treinadas, não levava mais que cinco minutos preparando qualquer que fosse o pedido. Se não fosse o fato de estarem com uma pessoa a menos atrás do balcão, a fila nunca ultrapassaria mais de quatro pessoas. Era uma política da casa e o estresse no rosto de Mark por estar falhando com ela era visível.
- , eu sei que é pedir demais, mas você pode cobrir pra mim por meia hora? Eu marquei de entrevistar o garoto novo hoje, e a gente precisa da ajuda. Vou tentar ser rápido, prometo, é praticamente certo, ele foi indicado por uma amiga minha. É só o tempo de explicar como vai ser o trabalho e conhecer ele um pouco.
- Tudo bem, Mark. Pode ir que eu seguro aqui! – Terminando mais um pedido antes de pegar o próximo, a garota mal teve tempo de ver o rapaz que aguardava no canto do Café, mochila nas costas e expressão levemente tensa.
O fato de que ele era uma pessoa qualquer era só mais uma faca cravada em seu coração, a visão tão dolorosamente clara de que aquela não era a presença que tanto se habituara a ter ao seu lado.
Que aquele garoto era alto e magricela, e não dono de um dos corpos mais simetricamente bonitos que já tinha visto. Que sua pele branca não parecia beijada pelo sol, caramelo derretido que fascinava os olhos que tanto amavam as cores e suas nuances. Que seu cabelo era ruivo e ressecado, e não um tom único de , tão brilhante e tão macio que pouco se podia fazer para parar a vontade de entrelaça-lo nas mãos e nunca mais perder a sensação dos fios sedosos na ponta dos dedos. Que seus olhos não brilhavam com vida e um tantinho de malícia, ou que seus lábios não tinham um formato perfeito que se abriam em um sorriso de prender a respiração. Que ele provavelmente não ocupava cômodos inteiros com a sua risada, e que não atraía olhares pela forma que sua presença fazia diferença para absolutamente todo mundo. Sabia que ele não ia errar o pedido pelo menos duas vezes por dia, sabia que se ele errasse, todos, inclusive o seu chefe, não estariam tão encantados por tudo o que ele era que não se importariam nem um pouquinho com o prejuízo; desde que ele continuasse pagando simplesmente com a sua presença.
Sabia que em contraste com a parede laranja em que estava apoiado, o jeito como seus cílios faziam sombra em sua bochecha quando olhava para baixo não faziam suas mãos quase trêmulas em ansiedade para pintá-los. Sabia que em certa luz, se fizesse um quadrado com os dedos e o centralizasse, fazendo pouco mais do que apenas existindo, não sentiria em seu peito a inspiração de pintar em eterna reverência às belezas que a natureza era capaz de conjurar. Sabia que mesmo em quadro a quantidade de vida que exalava de seu ser não seria jamais comparável à da pessoa representada um dia após o outro em seu sótão vazio.
Sentindo seu coração se acelerar, desviou para a senhora à sua frente. Encarava-a com as sobrancelhas apertadas e os lábios em uma linha fina.
- Você está bem, querida? – perguntou ela, e não, ela não estava bem.
Sentiu lágrimas se formarem em seus olhos e engoliu várias vezes o nó em sua garganta, as mãos trêmulas se agarrando contra o copo do liquidificador.
- Desculpa senhora, qual é mesmo o pedido?
Café, café. Era nisso que ela precisava pensar.
Uma batida na porta chamou a sua atenção. De onde estava, deitada de lado abraçando o travesseiro, esperava que a luz fosse fraca o suficiente para esconder as lágrimas que escorriam pelo rosto.
- Pode entrar. – Sua voz estava rouca e soava estranha ao ouvido.
Elisa abriu lentamente a porta e colocou a cabeça para dentro do quarto. Quando seus olhos bateram na visão de sua filha espremendo o travesseiro contra o corpo, sentiu em sua própria pele a tristeza por vê-la assim, entrando completamente no cômodo no segundo seguinte. Já tendo devidamente trocado a roupa do hospital, a mulher caminhou hesitante até a cama, não sabendo se a queria por perto ou não. Como a garota não falou mais nada, apenas a acompanhou com os olhos, se sentiu confortável o suficiente para se sentar, as mãos imediatamente alcançando seu braço.
- Oi minha princesa. Vim te chamar para jantar.
- Eu não estou com muita fome, mãe.
Elisa suspirou, esfregando ambas as mãos por seu rosto. Estava exausta.
- Você precisa comer, nem que seja um pouquinho. Você quer que eu traga aqui pra cima? A gente pode comer na cama. – Os olhos passando pela parede coberta de quadros, sentiu o peito se apertar quando parou em um especialmente, e acrescentou; – Eu trouxe sorvete.
Seu olhar se demorou tanto nos traços azuis que o seguiu, apertando o travesseiro ainda mais contra si quando se deu conta do que sua mãe observava. Queria ser forte o suficiente para deixar suas frustrações no sótão aonde pertenciam, mas mesmo agora não conseguia juntar força suficiente para não desejar olhar para aquele rosto todos os dias.
- Eu vou trazer para cá – Elisa falou para o silêncio do quarto, a atenção novamente voltada para a filha. – Vê se lava esse rosto enquanto isso, depois nós vamos dar uma volta.
- Mãe...
- E não me venha com “mãe”, a gente não se vê nunca durante a semana. Quero comprar um vestido e você vai me ajudar a escolher.
Com uma última carícia no ombro da mais nova, ela se abaixou e depositou um beijo em sua testa.
não protestou novamente, observando a mãe sair de seu quarto e somente quando a porta fechou atrás dela, permitiu-se deixar o ar escapar em um suspiro pesado. Não tinha a menor vontade de sair. Por que ninguém a deixava em paz?
A testa prensada contra o vidro, observava a tempestade varrer a cidade com imponência. A água escorria interrupta na frente de seus olhos, se alguém pudesse vê-la por detrás de cortina que jorrava do telhado, perceberia o quanto se envesgavam para atender as exigências de sua interminável apreciação.
Fazia três dias que o céu desabava sobre a cidade, e três dias que encarava a tela vazia com um pincel em mãos. O silêncio do sótão era refém da ruidosa tempestade, a ventania fazendo ranger as antigas dobradiças da única janela do cômodo.
Respirando contra o vidro, observando-o embaçar e desembaçar conforme a sua respiração, se permitiu parar com aquela loucura por alguns segundos e deixar que sua mente lhe mostrasse aonde a inspiração a queria levar.
Estava frio, o contato do vidro contra seus dedos arrepiando os pelos de seu antebraço. Vestia uma calça de moletom e uma camisa larga, ambas manchadas com a criatividade de anos passados em meio às cores.
Fazia três dias. Três dias que tentava borrar cada imagem que surgia em sua mente, cada vez que seus olhos se fechavam e seus dedos suplicavam por traços suaves e detalhes raros.
Cansada de lutar contra algo que durante toda a sua vida nunca esteve sob seu controle, se afastou da janela e caminhou para o painel que a aguardava em branco. A mente límpida se não pelas formas que daria a vida, se fez de tons acinzentados e sem mais uma única amarra, mergulhou os dedos na tinta e deixou que sua mão gravasse em traços vagos o rosto que mesmo após semanas ainda preenchia toda a sua arte.
A cabeça encostada na parede, as unhas pretas de tinta arrastando-se involuntariamente pelo tecido da calça, deixou seu olhar percorrer o quadro que secava, o retrato banhando-a em lembranças de dias cada vez mais distantes.
A chuva continuava forte, o som das grossas gotas batendo contra o telhado ecoando pelo pequeno cômodo. Levantou-se abruptamente, apertando a blusa contra o corpo ao que saía do quarto a passos apressados, descendo as escadas correndo, a garganta se fechando e dificultando sua respiração.
Abriu a porta da cozinha e sentiu o ar gélido se chocar com a sua pele, arrepiando seus braços envoltos pela blusa fina que vestia. Sem pensar duas vezes, o que a esta altura estava se tornando rotina, pisou com os pés descalços na grama lamacenta de seu quintal, sentindo-a se acomodar entre seus dedos. Continuou andando até sentir a água tocar seu cabelo, levantando o rosto ao que abria os braços e abraçava a tempestade como se disposta a enxaguar sua alma.
Ali, parada e insignificante e nada mais que uma ridícula partícula de algo muito maior do que podia compreender, esperava recuperar o olhar que durante tanto tempo se admirara nos menores detalhes de tudo o que acontecia ao seu redor. Como quem acreditava em forças maiores e vontades atendidas, apertou os olhos e desejou com tudo o que tinha que não mais pintasse em dor, e que não mais passasse seus dias refém de algo tão inerente ao que era.
Fechou os olhos e desejou que o único acinzentado capaz de habitar a sua mente fosse o perpétuo cinza em uma tempestade, e não o tom efêmero de olhos que se adaptam ao ambiente... Ou rostos que partem sem deixar aviso.
Red
não sabia como tinha acontecido. Em um dia, tudo o que saia de seus pincéis era Riviera Beach ao amanhecer, no outro, era como se toda a sua inspiração partisse de um único sorriso.
[...]
- Bom dia, Carmen.
A senhorinha sorriu para a garota e colocou uma caixa de leite em sua bandeja. Levantando cada uma das colheres, aguardou até ela se decidir.
- Bom dia, lindinha, temos purê de abóbora e de batata, qual dos dois você vai querer?
- Me dá o de abóbora. – Com um sorriso educado no rosto, arrastou a bandeja até o fim da bancada e aguardou até que a fila da sobremesa começasse a andar.
A salada de frutas em mãos, passou os olhos pelo refeitório e logo avistou Brad acenando com a mão para o alto.
- Discreto, você, né? – riu a garota, sentando-se de frente para o amigo.
- Toda vez que eu não faço nada você fica igual uma tonta tentando me achar – rebateu ele, enfiando uma batata-frita na boca, um sorriso brincando no rosto. – Como foi a aula?
- Não foi grande coisa, eu não sei por que continuo tentando – disse a menina, revivendo alguns minutos atrás.
Por mais que quisesse, não conseguia ignorar a pontada de decepção que sentia todos os anos quando se matriculava na aula de desenho, só para ter um professor que parecia saber menos o que estava fazendo do que ela.
Brad, que a conhecia como a palma de sua mão e sabia o quanto a arte era importante em sua vida, não podia deixar de tomar parte de suas dores. Também se revoltava com o pouco caso da escola com a matéria, mas era tão difícil falar alguma coisa, ou mesmo fazer alguma coisa a respeito quando, a bem da verdade, as aulas de desenho eram praticamente impossíveis, à beira do impraticável para a grande maioria dos alunos do colégio. Não conseguia imaginar, como quase ninguém podia, como era ter o dom de representar tão bem a realidade que todo o resto em desenho pareceria ridículo. Era injusto cobrar que as aulas abordassem técnicas mais complexas, mas entendia que devia ser cansativo. Ao final de tudo isso, ainda sabia que as reclamações não eram uma questão de arrogância, um ataque à la diva mal direcionado; a menina era simplesmente boa demais.
- Pelo menos você não faz física quântica.
A garota sorriu e concordou, voltando a atenção para o prato a sua frente. O refeitório estava lotado, dezenas de alunos conversando sobre o começo das aulas, a animação eufórica das primeiras semanas ainda presente no quadro caótico e barulhento que criavam.
Em uma mesa não muito distante de onde comiam, um grupo elevava a voz muito acima das outras. Sabendo a quem elas pertenciam, balançou a cabeça, sorrindo vagamente para si antes de subir os olhos de seu prato, determinada a continuar o assunto quando percebeu que Brad estava rindo, mas não lhe dava a menor atenção. Seguiu o seu olhar pelo salão e precisou cobrir a boca com a mão, a risada saindo engasgada e inesperada de sua garganta ao que se deparava com a prova concreta de que na realidade estudava em um hospício.
Em outra mesa, cercado pela plateia que ria descontroladamente, o atacante do time de futebol tinha enfiado uma batata frita em cada narina, colocado os cinco dedos de cada mão em uma onion rings e estava praticamente subindo na mesa, atraindo a atenção de todo o refeitório ao que imitava com deboche descarado o guarda de trânsito que trabalhava na frente da escola.
A cena era inteiramente ridícula, mas mais da metade do lugar tinha parado para assistir, a grande maioria rindo com um misto de vergonha alheia e uma pontada de admiração. Balançando a cabeça para si mesma mais uma vez, o sorriso ainda no rosto, voltou para o seu próprio prato e continuou comendo, ignorando da melhor forma que podia o refeitório barulhento, imitações baratas e garotos bonitos apaixonados por um pouco de atenção.
Por que uma coisa era certa; aquele garoto amava o holofote. E pouco importava, se estava sendo sincera, que o holofote acabava por amá-lo todinho de volta.
[...]
- , dá pra prestar atenção aqui? – Amy estalou os dedos à frente da garota, resgatando-a de seus pensamentos.
Seus olhos se demoraram mais alguns segundos na cena que observava antes de desviarem para a melhor amiga, um sorriso nos lábios.
- O quê?
- Você lembra pra que dia é o trabalho do Smith? Sabe Deus por que eu anotei dia vinte, duvido que ele tenha estendido o prazo em um mês inteiro.
- Hmm – ponderou a menina, mordendo a ponta de sua caneta enquanto passava as páginas de seu caderno. – Acho que ele deu até dia cinco.
Já era tarde e muitos dos alunos da Suncoast Community High School já tinham ido para casa. O sol continuava brilhando alto no céu, mas a brisa fresca tornava a temperatura agradável, principalmente debaixo da árvore da qual aproveitavam a sombra.
Amy e estudavam em pleno jardim, os livros espalhados pela grama. Sabiam, por experiência própria, que a biblioteca era quieta demais para as duas, e que uma vez que fossem para casa, a concentração se perderia quase no mesmo instante em que chegasse. Deitadas sobre uma canga, ambas revisavam anotações e comentários anotados em sala de aula, o som dos pássaros cantando acima de suas cabeças só mais um fator contribuinte para a calmaria do local. Fazia anos que se retiravam para os jardins do colégio quando as provas se aproximavam, e de certa forma já estavam acostumadas com todos os ruídos, todas as informações que um ambiente de estudo ao ar livre reunia. Mas algo àquele dia estava diferente.
Lendo pela oitava vez consecutiva a mesma frase de seu livro de história da arte, bufou, jogando-o para o lado. Estava deitada de barriga para baixo, os pés balançando no alto e a cabeça apoiada em uma das mãos. Suas costas doíam um pouco e antes que pudesse se policiar, sentou-se pela quarta vez em vinte minutos e deixou seus olhos correrem para onde o time de futebol treinava a alguns metros de distância.
Era quarta-feira, e como toda quarta-feira, o time passava a tarde inteira treinando no campo do colégio. sabia disso, já havia estudado durante tantas quartas-feiras quanto era possível e, no entanto, nenhuma das outras vezes o fato de que eles estavam lá parecia chamar tanto a sua atenção. Era como se seus olhos estivessem sendo atraídos para o campo, quase sem o seu consentimento.
- Amiga, acho que eu já vou embora – comentou , trazendo a mochila para perto de si ao que começava a ajeitar suas coisas.
- Mas já? Você conseguiu acabar?
- Não, mas não estou conseguindo me concentrar.
- Poxa, , pensei que a gente ia sair daqui pro Beat.
- Eu tô indo pra lá agora, quer ir comigo? – Levantando-se e estendendo a mão para a amiga, abriu um pequeno sorriso.
- Mas você não ia entrar mais tarde hoje?
- Eu ia, se ficasse aqui estudando. Mas como não estou conseguindo, vou logo agora e saio mais cedo.
Amy fez biquinho, não aprovando a ideia de abandonar seu canto de paz e concentração tão cedo. Revirando os olhos para a amiga, sabendo que não correria o risco de sozinha se passar pela lunática cercada de livros no meio da grama, começou a juntar suas coisas e em pouco tempo as duas estavam caminhando em direção ao portão.
Estavam quase saindo do colégio quando a bola veio voando pela grade e parou a um metro de distância. congelou seus passos, uma sensação estranha tomando conta de seu corpo. Amy apenas riu, balançando a cabeça.
- Nós nunca vamos ganhar campeonato nenhum com esses meninos jogando mal desse jeito – brincou ela, andando até a bola. Quando virou para trás, pendeu a cabeça para o lado. – Vai ficar aí parada?
sorriu também, forçada, e estava prestes a responder quando percebeu as passadas apressadas se aproximando, virando-se quase imediatamente para elas.
corria em sua direção, a blusa grudada ao corpo e o cabelo completamente encharcado, o rosto ruborizado. Parou a poucos metros e abriu um sorriso enorme, as duas mãos apoiadas em sua lombar.
- Hey Amy, passa pra cá! – Levantando-as na direção do rosto e piscando, forçou imóvel exatamente aonde estava.
Ele era lindo, o garoto. Essa era a verdade, incontestável, bem diante de seus olhos. Todo desenhado em curvas delicadas e traços afiados, uma mistura tão ridiculamente bonita que fazia seus dedos nervosos para gravar suas linhas, mal conseguindo controlar a vontade de simplesmente segurar sua cabeça parada só por alguns segundos e gravar, assistir, entender cada detalhe perfeito até ser capaz de pinta-lo por inteiro de simples memória.
- Obrigado!
Percebendo que havia perdido alguma coisa, voltou a atenção para a amiga e sentiu sua bochecha queimar com o olhar que encontrou, um sorriso que ela sabia muito bem o que significava brincando em seu rosto.
Tentando escapar da inquisição por alguns segundos, desviou para o outro lado a ponto de ver as costas do garoto correndo já com a bola em mãos, confessadamente um pouco assustada em ver como tinha perdido tão completamente a troca entre os dois.
- O que foi isso, minha amiga? – perguntou Amy, retomando os passos para a saída.
respirou fundo e a seguiu, dando uma última olhada para o campo por cima do ombro.
- Cala a boca, Amy.
[...]
Sentindo-se estranhamente traída por Mark não lhe contar quem tinha entrevistado, caminhava para seu turno no The Beats. Havia recebido uma mensagem de seu chefe poucos minutos antes do sinal bater, e por mais que soubesse que ele não lhe devia explicações sobre o que fazia com o seu estabelecimento, a irritação irracional por nem mesmo saber que ele estava procurando outra pessoa fazia seus pés baterem fortes contra a calçada. Provavelmente parecia uma criança birrenta e sabia disso, mas não se importava.
Com as mãos na maçaneta, puxou o ar e refez mentalmente todo o discurso sobre trabalho em equipe e a importância de contratar alguém decente e entrou, pronta para discorrer sobre tudo o que estava errado na relação entre os dois quando seus olhos bateram no garoto que passava pano em sua bancada.
- Até que enfim você chegou – Mark falou do fundo da sala, seus olhos imediatamente o encontrando. – Conheça – Com um pequeno sorriso, apontou para o menino atrás do balcão. subiu o rosto tão rápido na menção de seu nome que por um momento temeu por sua vida. – , conheça . A melhor barista de Palm Beach.
Reconhecendo-o imediatamente e se sentindo estranhamente desconfortável sob o seu olhar, abriu um sorriso constipado e acenou.
- Oi, , é um prazer. Seja bem vindo ao The Beat Cup.
- A gente estuda junto – foi a primeira coisa que saiu de sua boca. Reconhecendo a impropriedade do comentário no segundo que o fez, coçou a parte de trás de sua cabeça e a fitou com uma expressão estranha. – Foi mal, mas você é a amiga da Amy, não é?
concordou com a cabeça e sorriu, retomando os seus passos – que pararam no segundo que entrou na loja – para o vestiário no fundo do estabelecimento. Sentiu o peso do olhar em sua nuca até bater a porta atrás de si.
Quando retornou, Mark pediu para que se sentasse com ele por um minuto. Foi entre um pedido de desculpas que não chegou a pedir e alguns elogios ao seu trabalho, que foi instruída a treinar o novo atendente.
- É uma responsabilidade grande, essa, sabe. Acho que você pode aprender bastante. E depois, a gente meio que precisa da ajuda. Tem ficado lotado e você sabe o quanto a Amber detesta que eu fique aqui o tempo todo. Eu não quero ver você sobrecarregada como no ano passado.
Para ser sincera, também não queria se ver sobrecarregada como no ano passado.
- Eu sei, Mark, eu não estou chateada. Vai ser legal ter uma ajuda... – comentou ela, desviando para o menino. – Ele já trabalhou em um café antes? - Não. – Mark seguiu seu olhar, um breve sorriso colorindo seus traços. – Mas ele precisa da grana e me pareceu um bom rapaz. Achei que merecia uma chance.
concordou com a cabeça.
- Você sabe alguma coisa dele? Já que estudam no mesmo colégio?
Sem muita consciência do ato, mais uma vez seus olhos pousaram sobre o garoto. O que ela sabia sobre ?
Além de que todo mundo o adorava na escola, e que ele era barulhento, engraçado e chamativo, não muita coisa. Sabia que ele era injustamente lindo. - Não muito – disse vagamente, se voltando para seu chefe com certa dificuldade. – Mas eu acho que você acertou na escolha.
xxx
era uma calamidade esperando para acontecer.
- , olha, olha, olha, olha, não puxa assim, tá bem? – falava com um olho no expresso que tirava, e o outro aonde tentava com dedos curiosos e pouco cuidadosos tirar o liquidificador da base.
- Eu sei, eu já consegui tirar uma vez, mas... – Com um clique que fez estremecer e derramar café em sua própria mão, retirou o copo e o colocou na bancada, virando-se com um sorriso convencido e uma piscada tímida. – Pronto.
derramou café de novo, xingando mentalmente ao que corria para a torneira com o rosto quente.
xxx
- Há quanto tempo você trabalha aqui? – perguntou passando o avental por cima da cabeça.
- Dois anos e meio.
- Nossa, faz bastante tempo.
concordou esfregando as mãos no pano de prato, o antebraço passando pela testa que suava por conta do trabalho braçal.
estava parado a alguns passos apoiado na vassoura. Sem avental, seu uniforme branco reluzia contra a luz, as mangas dobradas até a altura de seu ombro para relevar bíceps razoavelmente bem desenvolvidos. Seu cabelo estava preso para trás com uma tiara preta, o rosto em seu eterno bronzeado brilhando por conta do calor. queria pintá-lo.
- Qual seu café favorito? – Um sorriso que logo a garota desvendou como petulante brincava em seus lábios.
- Um cappuccino não tem erro. – Deu de ombros, voltando a se ajoelhar no chão.
Com a esponja em mãos, subiu seus olhos novamente. sustentava uma expressão engraçada no rosto, um sorriso em plena exibição e uma das sobrancelhas arqueada.
Demorou alguns segundos para compreender, e, quando o fez, começou a rir e percebeu que o garoto se juntara a ela, a risada alta ecoando pelo lugar ao que tentava escondê-la por trás de sua mão.
- Um cappuccino geralmente não tem erro. – Finalmente controlada o suficiente, adicionou entre a risada. – Mas relaxa, você vai aprender.
Mesmo que os oito dias desde que ele começara a trabalhar estivessem aí para colocar a veracidade de sua frase à prova.
[...]
A música ensurdecedoramente alta e ruim vinda da casa já a fazia ter vontade de girar sobre os calcanhares e sair dali, mesmo sabendo que se o fizesse, em questão de segundos Brad a arrastaria de volta para a festa.
O vestido justo delineava cada curva de seu corpo, e só de pensar na noite desconfortável que passaria vestida daquele jeito, sentia sua já rara animação para festas do colégio se esvair como água pelo ralo. A cada passo dado, considerava a honesta possibilidade de sair correndo sobre o par de saltos que calçava, pintando de imediato as inúmeras quedas que sofreria em sua cabeça. Definitivamente essa não era a sua praia.
A porta da frente estava semiaberta, por isso, assim que a empurrou, concedeu passagem, embora não por completo já que um casal de meninos se amassava intensamente atrás dela – como se aquele fosse mesmo o lugar mais adequado.
Com Brad em sua cola, cumprimentando pessoas que jamais sequer tinha visto, e outras que não fazia lá muita questão de cumprimentar, começou a explorar os cantos do lugar abarrotado.
As luzes dançavam pela sala, o calor de dezenas de adolescentes em movimento logo envolvendo o seu corpo, fazendo-a transpirar. O cheiro de suor, álcool e algo que não conseguia identificar levando seu nariz a se contorcer antes mesmo de alcançar o próximo cômodo.
Brad logo procurou pela cozinha, pegando uma cerveja do isopor ao que passava os olhos pela bancada. Achando o que procurava, deu alguns passos até o outro lado e pegou dois copos vermelhos. Encheu os dois e lhe entregou um.
Ainda não havia decidido se iria beber, e não gostava particularmente do gosto de cerveja, mas aceitou o copo com um sorriso no rosto e um “obrigada” ironizado.
- Ah, vai, , nem é tão ruim assim – falou Brad e bateu o copo contra o seu, tomando um gole logo em seguida.
- Oh. Estou adorando – murmurou contra o copo, o gosto amargo em sua língua.
Passando a mão livre pelo braço, começou a acessar o lugar. O salto já incomodava seus pés e, mesmo parada, trocando o peso de um para o outro, conseguia sentir a resistência que fazia o chão grudento.
Era nove horas da noite e o lugar já estava uma bagunça, copos espalhados por todos os cantos. A cozinha, como todos os outros lugares da casa, estava cheia de gente. Muitos dos que conversavam com copos em mãos reconhecia de seu colégio, poucos rostos que nunca tinha visto pela cidade. Suas risadas altas brigavam com a música que tocava na sala.
- Vem dançar comigo? – Brad a puxou pela mão e a arrastou pelo corredor, não ligando para a maneira com que a cerveja entornava do copo por conta dos passos acelerados.
Uma vez na pista de dança, lutava para decidir se era mais constrangedor ficar parada ou dançar com um vestido que a cada um de seus passos diminuía. Levemente desconfortável com os olhares que atraía, optou por balançar os pés de um lado para o outro, fingindo se embalar pela música, para só então se pegar rindo sozinha ao perceber que Brad não lhe dava a menor atenção, concentrado em seus próprios passos, os olhos fechados e um sorriso malicioso embelezando suas feições. Era quase como se estivesse sozinha.
Séculos após constatar que de fato estava um pouco sozinha, a garota resolveu sentar para descansar os pés. Havia poucas coisas que tiravam a sua paz, mas nesse momento odiava com todo o fervor em seu coração a pessoa responsável por tornar salto alto parte do padrão de beleza feminino. Sem ter certeza de que seria ouvida, avisou a Brad que iria pegar uma bebida e sumiu entre a multidão que a cercava.
Sentada no sofá arrastado para o canto do cômodo, tirou a sandália e fez o que fazia de melhor; observou a vida passar por seus olhos.
Meia hora mais tarde, já sabia cada pessoa que tinha passado dos limites em relação ao álcool. Enquanto alguns de seus colegas dançavam animados pelo ritmo eletrônico, outros tinham o olhar vago e os passos trôpegos, alguns até mesmo se utilizando de seus amigos como fonte de apoio. Uma menina em particular tinha a testa apoiada na parede, a garota ao seu lado fazendo carinho em suas costas e segurando o seu cabelo com a outra mão. Ao redor delas, todo mundo dançava e sorria como se elas não estivessem ali.
Em pouco tempo cansada de passar a maior parte do tempo sozinha, já tinha o celular em mãos para perguntar aonde foi que Amy se meteu quando um conjunto de gargalhadas se sobressaiu sobre todos os outros sons. Imediatamente seus olhos buscaram pelas vozes, e antes que pudesse encontrar de onde vinham, um sorriso tomou seus lábios quando uma única risada, mais alta e quente do que todas as outras, a direcionou exatamente para o que estava procurando.
Seu estômago se contorceu levemente quando se deparou com rindo alto de alguma coisa, a cabeça jogada para trás e a mão se apertando contra a barriga, o cabelo suado parcialmente grudado em sua testa. Ao seu redor, alguns garotos que a menina sabia serem do time de futebol riam com lágrimas nos olhos, quase caindo para frente pelo o que quer que tenha sido falado.
Quando parou de rir, pousou a mão no ombro de um dos garotos e recebeu um abraço em retorno, o corpo quase duas vezes maior que o seu envolvendo-o pelo lado antes de solta-lo e correr para a cozinha.
, que ainda sustentava um sorriso no rosto, aproveitou a deixa e também saiu da rodinha, seguindo o outro em direção à cozinha, minutos antes de reaparecer com um copo em cada mão. Sem nem pensar duas vezes parou ao lado das duas meninas na parede e entregou um deles para a que cuidava da outra, sussurrando algo em seu ouvido que a fez sorrir e esconder o rosto, as bochechas avermelhadas mesmo na iluminação fraca da festa.
No tempo de uma piscada de olhos, tinha abandonado as meninas em prol do grupo que gritava no meio da galera com os copos levantados para o alto, sendo recebido com tanto entusiasmo que um deles catou um copo vazio da mesa e fez todos da roda virarem parte de suas bebidas dentro dele. Eles brindaram com um urro, atraindo olhares como todos os grupos que o tinham, e viraram seus copos, cada um saindo com uma careta de reprovação exceto Stacy Beckham, que se equilibrava em salto e minissaia e não parecia nem um pouco afetada pelo gosto amargo do que provavelmente era cerveja quente.
sorriu para ela, e mesmo de onde estava apenas observando de longe, sentiu seu rosto corar com o sorriso. Diferentemente da garota à sua frente, o álcool claramente já o afetava, e sua pele encoberta por uma fina camada de suor brilhava contra o neon da pista de dança improvisada. Ele era uma visão e tanto em seu sorriso arrastado, as mãos gesticulando exageradas na frente do rosto, a voz alta e as risadas preenchendo vazios quase como se o lugar precisasse se adaptar a ele, e não o inverso.
Perdeu seu tempo observado o garoto ocupar o lugar, sempre bem recebido em qualquer das rodinhas em que se metia, sempre chegando com um sorriso no rosto e saindo com gargalhadas descontroladas em sua cola.
A festa passou na frente de seus olhos com cores, risadas e música, quase mais rápida do que podia acompanhar. Sem muito o que fazer sozinha se não vagar pelo lugar, pegou o copo em que bebia e andou até a varanda da casa. Assim que a porta se abriu, um vento ameno bateu em seu rosto, bagunçando ainda mais seu cabelo, e a sensação era tão refrescante que não perdeu mais de dois segundos pensando em ajeita-lo. Apoiou seus braços sobre a estrutura metálica que a separava do quintal e olhou ao redor, observando o grupo que se aglomerava próximo à piscina, uma partida de beer pong rolando na garagem.
Não demorou muito para que seus olhos encontrassem novamente. O viu vencer duas partidas de beer pong consecutivas antes de se indagar se era exatamente saudável o que estava fazendo. Estava rindo de seu óbvio “não” quando percebeu alguém se aproximar, surpreendendo-a ao mesmo tempo em que a arrancava de sua breve conversa individual. Muito mais perto do que seria possível há segundos atrás, um belo par de olhos azuis a fitava. A poucos passos, na pequena escada que separava os ambientes, sorria com o rosto pendido para o lado. Tinha um copo em cada uma das mãos.
Sentindo o rosto queimar por ser o fim daquele sorriso, levantou timidamente uma das mãos e deu um aceno, desviando o olhar com quase a mesma velocidade com que sua respiração se acelerava.
Agora que estavam próximos e em uma luz relativamente melhor, podia ver o quanto estava suado, a blusa preta que vestia se grudando levemente ao corpo, a pele bronzeada e as bochechas rosadas confirmando a presença do sol escaldante dos últimos dias. Seu sorriso parecia de outro mundo, a boca vermelha em contraste ao dourado de seu rosto, os dentes brancos e perfeitos fazendo a mente levemente alcoolizada da menina se embaralhar.
Somente quando o garoto deu outro passo, se aproximando ainda mais, se libertou do transe em que a surpresa de sua presença a prendeu.
- Quer que eu saia? – Perguntou , arqueando a sobrancelha em incerteza.
- Não, – respondeu , a voz presa em sua garganta. Engoliu a seco. – Claro que não.
- Tá bom. Ok. – Aumentando novamente o sorriso, ele parou ao seu lado, apoiando os cotovelos no balcão, o rosto voltado para frente. – Por que você tá aqui sozinha?
- Sei lá. – deu de ombros, ainda desconfortável pela proximidade. – Estava só tomando um ar.
Ele assentiu, não falou nada, mas a ofereceu um dos copos e sorriu discretamente até que aceitasse. o fez e se virou para jogar fora o que segurava, o restinho de cerveja quente incriminadoramente semelhante a xixi. Quando voltou para seu lugar, ele continuava ali, parado no balcão, os olhos perdidos na noite.
Mais alguns minutos se passaram, e incomodada com o silêncio que beirava o constrangedor, decidiu que era hora de sair dali, procurar por Amy, ou por Brad, ou por alguém. Mas antes que pudesse colocar o plano de fuga em prática, uma mão atingiu seu ombro, levando-a a se virar. O aguardou fitar o chão e passar a mão pela nuca, conferir mais uma vez o espaço ao redor antes de encará-la.
- Você está linda, sabia? – sorriu, umedecendo os lábios com a língua, e a garota percebeu seus olhos traçarem o movimento sem autorização. – Eu não sei o que é, tem algo diferente, mas eu gostei.
Sentindo o rosto inteiro queimar com o elogio, a mão que não apertava o copo se arrastou pelo braço arrepiado.
- Foi mal, eu não queria deixar de comentar. E não – O garoto se embolava nas palavras. –, não é que normalmente você não esteja. Linda, quero dizer. Claro que não, mas... Enfim. Eu não queria deixar de comentar.
- Obrigada, .
O vento bagunçava cada vez mais o seu cabelo, e apesar de tudo acontecendo ao mesmo tempo ao seu redor, era como se o mundo se resumisse ao sorriso à sua frente e à sensação de seus elogios em sua barriga.
- E agora é que fodeu tudo – disse ele, rindo por trás do copo em sua boca, uma mistura de diversão e malícia em seus olhos. – Ficou ainda melhor assim.
- Assim como? – Confusão talhava suas feições, as sobrancelhas apertadas e um sorriso parte incrédulo, parte envergonhado.
Sabia que o elogio saía livremente por que estava bêbado, mas verdade fosse dita; a essa altura da noite, ela não se importava.
- Toda envergonhadinha.
engasgou no copo em sua boca, não conseguindo segurar a própria risada. Sabia que devia estar da cor do copo, e involuntariamente sua mão alcançou o cabelo, tentando tira-lo de seu rosto e falhando frente ao vento insistente.
também estava rindo, os olhos fugindo dela por alguns segundos antes de tomar o gesto que a fez vacilar em seus pés. Seguro de seu espaço como poucas pessoas que conhecia, o garoto colocou uma das mãos em sua cintura e a outra em seu rosto, parando a poucos centímetros com o polegar em sua bochecha.
- Eu não sei se você percebeu, mas eu sou realmente horrível nisso. – sussurrou , a voz embebida de ironia e um toquinho de timidez. – Mas eu quero muito ficar com você, e eu realmente espero que você também queira ficar comigo.
A menina arregalou os olhos brevemente, tomada de surpresa pela confissão. O hálito do garoto era um misto de canela e álcool, as mãos quentes por onde tocavam sua pele. Seus olhos brilhavam com mais intensidade que seu sorriso, mas ela não conseguia parar de olhar para sua boca. Quando ele falou novamente, muito mais leu seus lábios do que ouviu o que disse.
- Você vai ficar brava se eu te beijar? – engoliu a seco, subindo o olhar de sua boca para seus olhos e para sua boca novamente. – Eu posso te beijar?
Com o coração batendo na garganta e a mão trêmula ainda se agarrando ao copo, a menina balançou a cabeça em afirmação e soltou o ar quando lábios macios tocaram os seus. Sua nuca se arrepiou ao contato e somente após alguns segundos sem qualquer reação, sentiu-se relaxar o suficiente para responder ao beijo. Com os olhos fechados, os mesmos que usava para captar cada memória e guarda-la com detalhes, deixou que a sensação de ser beijada por uma das criaturas mais interessantes que já conhecera tomasse conta de suas ações.
Perdidos na sensação um do outro, nenhum dos dois parecia se importar ou perceber toda a atenção que recebiam ao se beijarem na claridade da varanda, vários colegas parando para observá-los e fazer comentários, nenhum único pensamento desviado do que faziam até que alguns assovios altos vieram do grupo da garagem. Sentindo sorrir contra seus lábios, largou o copo que segurava e deixou que seus braços se encontrassem atrás de sua cabeça, sentindo braços firmes apertando-a contra o corpo em resposta ao gesto.
A língua do garoto se movia molhada e sensual em sua boca, o ritmo arrastado e lânguido, a suavidade dos lábios se apertando contra os seus somando-se ao perfume inebriante que exalava de sua pele ainda parcialmente úmida pelo suor, e mesmo sabendo que aquele não era seu primeiro beijo, se percebeu completamente perdida na intensidade do seu desejo.
Seus ouvidos captavam vagamente gritos e risadas em meio a música alta, sapatos batendo contra o chão, mesas sendo arrastadas e latinhas sendo abertas, e apesar de não ser tão alto quanto todos os outros, era o som do beijo deles que perduraria por horas a fio em sua mente.
[...]
Sentada em um banco no jardim da Suncoast High, os pés balançando inquietos, observava o movimento das folhas caindo com a força da ventania. Como todos os outros dias em Riviera, o sol brilhava forte, mas a mudança de estação era sentida na pele de cada pessoa que se aventurava ao ar livre naquela época do ano. Em meio ao céu azul, as nuvens se desenhavam fantásticas acima da cidade, tão branquinhas e tão belas, que a garota podia passar dias inteiros contornando-as com seus dedos sem se dar conta das horas que passavam. Era uma mania que guardara desde criança, e sabia que jamais seria velha o suficiente para considera-la tola.
Distraída demais para notar que alguém se aproximava, sentiu seu corpo congelar quando braços quentes a envolveram pelo ombro, o coração acelerando gradualmente conforme a percepção de quem a abraçava inundava a sua mente. O cheiro cítrico logo invadiu seus sentidos, o reconhecimento fazendo-a fechar os olhos por alguns segundos antes de abri-los novamente, virando-se para encará-lo. Seu rosto queimava e por alguma razão, suas mãos suavam frio.
O gosto do beijo ainda ardia em seus pensamentos.
- Olá, você. – abriu um sorriso enorme, o cantinho de seus olhos enrugados pela intensidade. – O que você tá fazendo aqui sozinha?
- Oi, .
- De novo – acrescentou, fazendo-a sorrir.
A verdade é que sabia que ele já tinha bebido mais do que o suficiente quando a beijou na festa, ter a prova de que pelo menos se lembrava do que falaram minutos antes não precisava ter, não devia ter o efeito que tinha em sua pele. Mas tinha.
- Eu estou esperando o Brad – comentou ela, desviando o olhar para a porta de entrada.
a observava de perto.
- Brad?
- É, o -
- O garoto do teatro? – perguntou ele, sorrindo novamente ao vê-la concordar. – Ele é bom, eu o vi atuando semestre passado.
- Hmm, ele é, ele é muito bom, na verdade...
- É isso o que ele quer fazer? Musicais?
- Eu acho que sim – respondeu , fitando brevemente o chão.
- Irado, eu acho que ele consegue. É realmente talentoso, ele.
- É, eu também acho. Falo isso pra ele o tempo todo.
- Ele tá na aula? De teatro, quero dizer?
- Uhum. Ele sai daqui a pouco.
- É? Legal... – Silêncio. – Mas por que é que a gente tá falando dele, mesmo? – sussurrou para si mesmo, soltando uma risada alta em seguida, a boca se arrastando para um sorriso ao que levava os dedos para testa, a cabeça balançando em incredulidade. – Você quer companhia pro Beat?
Eram duas horas da tarde, e quase todos os alunos estavam em horário de saída. O sinal tocou em ponto.
Sentada em frente a saída do colégio, ao lado dele e ninguém menos, se sentia exposta. Sabia que era besteira se sentir assim, mas sua atenção não parava de pular para os olhares furtivos que recebiam, o peso do braço ao seu redor ainda maior agora que o colégio inteiro estava vendo.
Sentia-se enrubescer simplesmente por falar com ele, mas saber que todas aquelas pessoas passavam por ela e indagavam o que exatamente estava fazendo sentado ao seu lado aumentava ainda mais o seu embaraço. Detestava a ideia geral de receber muitos olhares ao mesmo tempo, mas a ideia de ter pessoas comentando sobre ela era ainda pior.
Tão perdida em seu desconforto, só percebeu que estava mais uma vez ignorando o garoto ao seu lado quando sentiu seu calor se afastar. Quando, sem olhar para ela, retirou o braço de suas costas e a colocou em sua própria perna, uma rigidez em suas ações que até o momento não estava ali. Quando a olhou novamente, foi com um suspiro pesado seguido de um sorriso contido, os dedos agilmente ajeitando a franja em sua testa.
- Foi mal, eu não... – Os olhos azuis percorreram o local novamente antes de se fixarem nos seus. – Eu acho que você esqueceu uma coisa na festa. riu, pendendo a cabeça para o lado, sem saber direito o que dizer. Tirou o cabelo que escorregou por seu rosto e o prendeu atrás da orelha, as palpitações batendo ritmicamente em seu ouvido. acompanhou o movimento com o olhar.
- Você não vai falar algo idiota como, sei lá, um beijo de despedida, vai? – Mesmo com o rosto inteiro queimando pela audácia, aumentou o sorriso ao arrancar outra risada do garoto.
- O quê? – Ele balançou a cabeça, apertado as sobrancelhas ao que abria a boca em diversão. – O que você acha que eu sou?
- Oi, eu não sei, mas pra ser sincera me parece algo que você diria.
- Eita, porra – riu mais uma vez. – Eu devo ter feito tudo errado mesmo.
- ! – brincou , apertando os olhos, um sorriso totalmente genuíno nos lábios. – Fala logo, o que eu esqueci?
- Pois é. – disse ele se ajeitando no banco, a expressão subitamente séria. – Agora eu não sei se você merece saber.
revirou os olhos, o sorriso grudado em seu rosto mesmo que não o quisesse. estava literalmente a ponto de fazer biquinho, os braços cruzados contra o peito e as pernas jogadas displicentemente para frente, os lábios apertados um contra o outro. Mesmo de perfil, ele era adorável, e se permitiu, por um segundo longo demais, admirar a maneira como o sol iluminava a suas mechas e clareava suas feições, o azul de sua íris quase vítreo contra a claridade.
Quando se virou novamente, os olhos apertados e a boca prestes a se abrir em um sorriso insistente, sequer lembrava que ainda estavam em público.
- Você realmente estragou tudo, mas... – Finalmente deixando o sorriso estonteante se abrir, se ajeitou no banco e retirou o celular do bolso de trás. – Você não me deu seu número. Eu sei que eu podia pedir no trabalho, mas – Abriu na lista de contatos e, com uma piscada quase grosseira de tão charmosa, lhe ofereceu o aparelho. – eu levo o meu trabalho muito a sério.
Era uma mentira deslava, por que se tinha uma coisa que não fazia era levar seu trabalho realmente a sério. A não ser que por levar a sério ele quisesse dizer tentar chegar na hora e fazer um esforço mínimo de decorar as receitas, pois, nesse caso, sim, talvez ele levasse o trabalho bastante a sério. Ainda que na maior parte do tempo ele falhasse em conseguir ambos. As receitas pelo menos eram uma questão de tempo.
Ainda um pouco lenta para acompanhar o que estava acontecendo, pegou o celular em mãos e digitou seu número no aparelho do rapaz, que desde que se sentara ao seu lado observava de perto e com curioso interesse o menor de seus movimentos.
- Aqui.
olhou o número antes de colocar de volta o aparelho na calça, estava prestes a dizer alguma outra coisa, a boca já aberta para falar, quando Brad o interrompeu:
- , você não vai acre... – Quando se deu conta de que a amiga não estava sozinha. – Opa!
- E aí, brother? – Falou , imediatamente se levantando, a mão se apertando amigavelmente no ombro do rapaz, um sorriso tomando suas feições em questão de segundos.
piscou de um para o outro.
- Oi , foi mal cara, nem reparei que você tava aí – respondeu Brad, tentando uma troca de olhar com a amiga, infelizmente confusa demais para esbanjar qualquer reação. – Vocês estavam indo juntos pro trabalho? Eu posso voltar com a Amy...
- Ih, não cara, relaxou! Eu já tava saindo – E, mais rápido do que a garota podia acompanhar, se abaixou e depositou um beijo demorado em sua bochecha, parando a centímetros de seu ouvido: – Vejo você mais tarde.
E saiu; um aceno para Brad, um último sorriso para , e o moletom se moldando a curva de sua bunda.
- Para de olhar – murmurou , ainda um pouco perdida.
- Quanto desperdício...
- Foco, Brad.
Com um suspiro forjadamente pesado, Brad virou nos calcanhares e juntou as duas mãos na frente do corpo. Suas mãos pediam desculpas, mas nada em seu rosto denotava arrependimento.
- O que foi isso, ?
- O que foi eu realmente não sei, agora o que poderia ter sido se você não tivesse vindo com essa boca grande interromper, eu posso ter uma ideia. - Ah, vai, ele mesmo disse que estava de saída. Não é como se eu tivesse expulsado o garoto daqui!
- Não, eu sei babe, é brincadeira. – Soltando o ar que nem sabia que estava prendendo, respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, o calor em seus dedos só mais uma confirmação do quanto passara a conversa inteira corada. – Eu nem sei... Ele pediu o meu número, Brad. Ele pediu o meu número! Você acha que isso quer dizer alguma coisa?
- Você acha que... Você é retardada, garota? É claro que –
Pela segunda vez na tarde no que tangia interrupções, antes mesmo de Brad conseguir terminar a frase o telefone de tocou. Os dois olharam para o aparelho ao mesmo tempo.
Sabendo que só sua mãe a ligava a essa hora, a garota ignorou o visor e trouxe o telefono ao ouvido com um sorriso, o dedo sinalizando para Brad continuar calado enquanto ouvia o que ela tinha a dizer.
- Oi?
- ? – Mas foi uma voz ligeiramente rouca que a respondeu. – Era só pra ter certeza que você me deu o número certo. Até logo.
E desligou, deixando uma totalmente desnorteada fitando de boca aberta o aparelho em seu colo.
- Era ele.
- E eu não sei, amiga?
[...]
The Beat Cup estava completamente lotado. Pulando de um lado para o outro atrás do balcão, recebia e preparava os pedidos com a eficiência que só a prática podia trazer, desdobrando-se em trinta por minuto, equilibrando e sorrindo o melhor sorriso que era capaz de manter enquanto o mundo caía sobre as costas. Mesmo tendo o cuidado de repassar somente os pedidos que tinha certeza que não iria trocar, tanto quanto fazia seu trabalho se preocupava em não ser a pior mentora do mundo e explodir a cabeça do rapaz em sua primeira noite de casa cheia.
Checando-o por um segundo, se pegou sorrindo sozinha para a máquina de expresso, a afeição levando-a ao ridículo de achar engraçado o total pavor que carregava em seu rosto ao perceber o tamanho da fila que só aumentava. Se estivesse sendo sincera, era realmente, realmente muito ruim, mas era tão bonitinho vê-lo tentando.
Percebendo o quanto o seu nervosismo o fazia trocar ainda mais pedidos, decidiu diminuir parte de sua pressão, orientando-o a apenas receber os pedidos enquanto ela mesma cuidava para prepara-los.
Não demorou muito para o arranjo fluir, gradual, mas efetivamente, a fila diminuiu até que a quantidade de pessoas aguardando era tão pequena que tinha os seus bons minutos a mais para preparar cada bebida.
Se havia uma coisa, no entanto, que tanto quanto o próprio Mark não falhavam em perceber era que mesmo errando um pedido atrás do outro, e isso era assustador, não havia um cliente sequer que saísse de seu atendimento sem uma breve risada, ou, pelo menos, em casos mais raros do que a garota gostaria de admitir, um balançar afetuoso de cabeça.
- Como você faz isso, ? – perguntou ela, sequer tentando esconder a admiração.
- Isso o quê?
estava uma bagunça. O cabelo seguindo para todas as direções, o avental completamente encharcado, chocolate e algo laranja manchado na manga de sua camisa. O sorriso genuíno no rosto desmanchando toda e qualquer chance de pensar que havia algo errado com o conjunto.
- Você está errando pedido atrás... – Balançando a cabeça, sorriu, revirando os olhos para a expressão confusa do garoto. – Deixa pra lá, . Só continua o que está fazendo, sim?
[...]
Com a tranquilidade de quem não tem pressa de chegar, e marcavam suas pegadas na areia branca.
A praia estava quase vazia a essa altura, o horário servindo somente aos banhistas mais gananciosos, acostumados a aproveitar até os últimos segundos do sol antes de se retirarem para o aconchego de suas residências. No lado oposto ao mar, os prédios se estendiam iluminando a costa.
mantinha um dos braços envolvido na cintura de , os passos lentos e sincronizados seguindo sem rumo aparente. Mais a frente, um senhor de aparência cansada, roupas surradas e chapéu de palha fazia pose ao lado de seu carrinho de sorvete.
conhecia o senhor tanto quanto quase todos os jovens da cidade. Boa parte de sua infância tinha sido adoçada por seus picolés.
Sem a necessidade de palavras, os dois se aproximaram da barraca. sorriu e pousou a mão nas costas do senhor, recebendo um caloroso sorriso em retorno.
- Boa noite, meus jovens – disse ele, abaixando a ponta de seu chapéu em um cumprimento educado. – Qual vai ser o sabor da vez?
passou os olhos pelo cardápio de papel uma única vez antes de se decidir.
- Me dá um de morango e... – Não fazendo a menor ideia das preferências de sua companhia, levantou os ombros em rendição quando a fitou.
O sorriso ainda brincava em seu rosto.
- Chocolate. – respondeu , mordendo a parte de dentro de seu lábio inferior. – Eu amo chocolate.
Não sem antes reforçar educadamente o pedido para o senhor, em poucos minutos retomaram a caminhada, cada um com a sobremesa escolhida em mãos. Concentrado demais em seu sorvete, não sabia que estava sendo observado.
Não sabia que ao seu lado, seguia cada movimento de sua língua com calor queimando em suas bochechas. Ou que na luz fraca que vinha dos prédios, seus olhos se escondiam em sombras, mas seus lábios avermelhados pelo morango se destacavam na pele bronzeada de seu lindo rosto. Que o rubor pelo sol escaldante moldava seus traços como o último esforço de um artista, ou que a maneira que a brisa levantava seu cabelo acabava por torna-lo arte; cores, textura e profundidade tão claros na mente da garota que se pegou rindo sozinha, se esforçando, em concentração quase desumana, para vencer por algumas horas a mania de pintar absolutamente tudo que captava seus olhos.
[...]
- Hey, . – Mark apareceu na porta, o antebraço apoiando na maçaneta.
Mesmo depois de um expediente exaustivo, sua expressão era relaxada.
- Hey, Mark! – lançou um sorriso para cima, mas voltou para terminar com o cadarço antes de se levantar e jogar a mochila pelo ombro. – Algum problema?
- Não, filho. Problema nenhum. – Percebendo a inquietação do rapaz, Mark aumentou o sorriso e apoiou a mão em seu ombro, um apertão amigável ao que caminhavam para a saída. – Você dirige, certo? Tem carteira? – Recebendo uma confirmação de cabeça. – Acha que pode fazer um favor pra mim amanhã?
- Claro, Mark. É só mandar.
- Eu preciso levar minha princesa pra lavar, mas eu não posso deixar a sozinha aqui com você por enquanto. Então eu fiquei pensando se você não podia fazer isso pra mim? Levá-la no meu lugar?
- A princesa você diz... O carro? – perguntou o garoto um pouco incerto, os olhos levemente arregalados. – O seu carro?
Mark confirmou com a cabeça, passando a chave pelo cadeado da porta dos fundos, o sorriso escondido na escuridão.
- Você não sabe o quanto vai estar me ajudando.
- É claro, cara. Sem o menor problema.
xxx
- , eu só tenho quinze minutos de almoço, pra onde você tá me levando?
- Shh, fica quieta – falou ele, o dedo em riste na frente de seu rosto. Seus olhos brilhavam com algo novo, algo que não conseguia identificar, e mesmo com o rosto sério era como se estivesse sorrindo. – Você vai confiar em mim ou não?
- Eu vou, mas eu não -
- Shh, fala baixo – sussurrou, puxando-a para perto com uma mão em sua cintura.
sentiu a respiração se acelerar com a proximidade, o hálito quente batendo em sua boca enquanto ele falava rápido, a voz baixinha:
- Você não vai poder nunca comentar que eu te trouxe – Os lábios a centímetros dos seus. -, promete?
confirmou com um aceno, borboletas alçando voo em seu estômago.
copiou seu movimento de cabeça e apertou os lábios contra os seus, um sorriso se abrindo contra sua boca. Afastando-se alguns centímetros, roçou o nariz no seu e selou os lábios em sua bochecha, sussurrando contra a pele:
- Você vai gostar.
Confessadamente um pouco sem ar, se deixou ser puxada pela mão até o estacionamento ao lado do café, somente se dando conta do que estava realmente acontecendo quando ouviu o barulho do carro sendo destravado.
Puxou a mão para seu peito e deu um passo para trás, os olhos arregalados buscando o The Beat.
- , o que diabos?
- Entra logo no carro, , pelo amor de Deus!
- Como assim entra no carro? – perguntou a garota, a cabeça balançando incrédula. – Como você pegou a chave?
- Ele me deu a chave, , que diabos digo eu! – Dando uma olhada para a porta do Beat, consertou a franja e andou até a garota. – Ele pediu pra eu levar o carro pra lavar, tá bom? E eu pensei que você ia gostar de dar uma volta.
permaneceu calada, os olhos indo e voltando do estabelecimento para .
- Ou... Você pode ficar aí. – começou a se afastar, mas, antes mesmo de alcançar a porta, ela já o seguia um pouco eufórica.
- Não, não, eu vou, eu vou. – Riu, balançando a cabeça, o lábio inferior preso pelos dentes. – Você é maluco, e eu também devo ser, Deus... Mas vamos logo que meu almoço já está acabando!
Com uma piscada e um sorriso malicioso, abriu a porta e escorregou para dentro do carro, o couro cedendo ao seu peso. Esperou fechar a porta e deu partida, o ranger de um motor dessa potência não parecido com nada que tenha ouvido em sua vida.
As mãos alisaram o volante em pasma admiração, prestes a interromper a reverência quando, pisando levemente no pedal, deu partida com o carro.
xxx
Em um lugar pacato como Riviera, poucas coisas chamavam tanta atenção como o ronco de um Maserati cortando a estrada.
[...]
- Você não precisa ficar aí parado na porta – comentou por cima do ombro, jogando a mochila no sofá ao que pegava o controle. – Já sabe o que a gente vai comer?
continuava parado perto da porta, a mochila pesando em seu ombro e a coluna ereta, os olhos passeando pela sala.
amava a sua casa. E como toda pessoa que ama, sentia orgulho dela. Não era muito, não era grande e muito menos luxuosa, mas era sua, e grande parte do que ela era estava guardado entre essas paredes. Sabia disso, sabia, no entanto não conseguia fazer passar o desconforto em seu estômago só de pensar que poderia não gostar de alguma coisa.
Era a primeira vez que o levava em casa, era a primeira vez que trazia um garoto para sua casa, e estava morrendo para que ele a aprovasse. - ? – fazendo biquinho, andou até o garoto e passou o braço por seu pescoço, sabendo que ele raramente resistia quando fazia essas coisas.
O sorriso que abriu quando olhou para baixo e beijou a ponta de seu nariz era genuíno.
- A casa é linda, . – Os olhos fitando os seus com sinceridade. – Quase tanto quanto você.
sentiu seu estômago revirar e terminou a distância entre seus lábios, um sorriso insistente se abrindo por trás do gesto.
- Tem uma coisa que eu quero falar... – começou ele no meio do beijo, e a garota balançou a cabeça, murmurando um “não” contra seus lábios.
- Você pode me falar depois da gente comer – disse ainda em sua boca, os olhos procurando pelos seus.
fitou o chão por um momento, mas balançou a cabeça confirmando. Com um beijo estalado e um aperto dos braços ao seu redor, o sorriso arrastado foi se abrindo lentamente.
- Depois do almoço.
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- Isso é incrível, . – Balançando a cabeça de um lado para o outro, analisava a tela com a boca ligeiramente aberta. – É muito incrível.
sentia que ia explodir em sua própria pele cada vez que um novo elogio escapava do garoto a sua frente. Seu rosto queimava com a intensidade do olhar que ele lhe direcionava, ainda que nunca durasse muito mais de alguns segundos, sempre voltando para os menores detalhes de cada uma das telas que descobria.
Apertando uma mão contra a outra, as pernas balançando insistentes, aguardava com a mesma ansiedade estrangulada cada novo veredito, a aprovação de tão claramente fundamental que não conseguia entender como nunca havia pesado a sua importância até agora. Bastava que seus dedos tocassem no próximo pano para que a garota sentisse seus joelhos fraquejarem, seu coração refletindo tão forte na garganta que não demorou muito para perceber que tremia dos pés à cabeça.
A intensidade de suas reações era algo que ela sequer conseguia mensurar, a maneira como seus olhos perdiam minutos inteiros olhando cada detalhe, bebendo em cada traço, a expressão enrugada em concentração analítica e honestamente um brilho, um brilho tão diferente de tudo que ela já tenha visto.
era tão, tão genuíno, e tudo o que ele sentia estava tão claro na maneira que todo o seu corpo respondia ao que estava vendo, que, incapaz de sequer prevê-la, sentiu uma única lágrima escorrer por seu rosto. Queria que ele visse mais, queria despir-se completamente e mostrar tudo o que houvesse dentro dela, queria mostrar que poucas coisas eram tão inspiradoras quanto o sorriso que agora ele guardava em seu rosto.
- E aqueles? – perguntou , fitando-a com as sobrancelhas enrugadas, o olhar indo e voltando, indecisos se focavam nela ou no grupo de telas encobertas no canto mais afastado.
A curiosidade estampada em seu rosto mostrava que ele queria ainda mais. havia a despido até a nudez, cavado fundo até encontrar a sua alma e não se contentando, queria ver toda a sua absoluta essência manifestada em cores.
Queria ver o quão completamente apaixonada ela estava por ele.
- Esses não – ouviu sua voz falar, baixa e feliz. – Hoje não. Um dia.
apertou os olhos contra a recusa, engrenagens girando em seu rosto, decidindo se devia insistir ou não.
No final optou por um sorriso de lado e um sopro incrédulo;
- Um dia. É uma promessa.
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- O que você queria mesmo falar?
- Outro dia, linda.
E com o batimento em seu ouvido, braços quentes e um beijo demorado em sua testa, fechou os olhos e abraçou o sono com um sorriso nos lábios.
- Bom dia, Carmen.
A senhorinha sorriu para a garota e colocou uma caixa de leite em sua bandeja. Levantando cada uma das colheres, aguardou até ela se decidir.
- Bom dia, lindinha, temos purê de abóbora e de batata, qual dos dois você vai querer?
- Me dá o de abóbora. – Com um sorriso educado no rosto, arrastou a bandeja até o fim da bancada e aguardou até que a fila da sobremesa começasse a andar.
A salada de frutas em mãos, passou os olhos pelo refeitório e logo avistou Brad acenando com a mão para o alto.
- Discreto, você, né? – riu a garota, sentando-se de frente para o amigo.
- Toda vez que eu não faço nada você fica igual uma tonta tentando me achar – rebateu ele, enfiando uma batata-frita na boca, um sorriso brincando no rosto. – Como foi a aula?
- Não foi grande coisa, eu não sei por que continuo tentando – disse a menina, revivendo alguns minutos atrás.
Por mais que quisesse, não conseguia ignorar a pontada de decepção que sentia todos os anos quando se matriculava na aula de desenho, só para ter um professor que parecia saber menos o que estava fazendo do que ela.
Brad, que a conhecia como a palma de sua mão e sabia o quanto a arte era importante em sua vida, não podia deixar de tomar parte de suas dores. Também se revoltava com o pouco caso da escola com a matéria, mas era tão difícil falar alguma coisa, ou mesmo fazer alguma coisa a respeito quando, a bem da verdade, as aulas de desenho eram praticamente impossíveis, à beira do impraticável para a grande maioria dos alunos do colégio. Não conseguia imaginar, como quase ninguém podia, como era ter o dom de representar tão bem a realidade que todo o resto em desenho pareceria ridículo. Era injusto cobrar que as aulas abordassem técnicas mais complexas, mas entendia que devia ser cansativo. Ao final de tudo isso, ainda sabia que as reclamações não eram uma questão de arrogância, um ataque à la diva mal direcionado; a menina era simplesmente boa demais.
- Pelo menos você não faz física quântica.
A garota sorriu e concordou, voltando a atenção para o prato a sua frente. O refeitório estava lotado, dezenas de alunos conversando sobre o começo das aulas, a animação eufórica das primeiras semanas ainda presente no quadro caótico e barulhento que criavam.
Em uma mesa não muito distante de onde comiam, um grupo elevava a voz muito acima das outras. Sabendo a quem elas pertenciam, balançou a cabeça, sorrindo vagamente para si antes de subir os olhos de seu prato, determinada a continuar o assunto quando percebeu que Brad estava rindo, mas não lhe dava a menor atenção. Seguiu o seu olhar pelo salão e precisou cobrir a boca com a mão, a risada saindo engasgada e inesperada de sua garganta ao que se deparava com a prova concreta de que na realidade estudava em um hospício.
Em outra mesa, cercado pela plateia que ria descontroladamente, o atacante do time de futebol tinha enfiado uma batata frita em cada narina, colocado os cinco dedos de cada mão em uma onion rings e estava praticamente subindo na mesa, atraindo a atenção de todo o refeitório ao que imitava com deboche descarado o guarda de trânsito que trabalhava na frente da escola.
A cena era inteiramente ridícula, mas mais da metade do lugar tinha parado para assistir, a grande maioria rindo com um misto de vergonha alheia e uma pontada de admiração. Balançando a cabeça para si mesma mais uma vez, o sorriso ainda no rosto, voltou para o seu próprio prato e continuou comendo, ignorando da melhor forma que podia o refeitório barulhento, imitações baratas e garotos bonitos apaixonados por um pouco de atenção.
Por que uma coisa era certa; aquele garoto amava o holofote. E pouco importava, se estava sendo sincera, que o holofote acabava por amá-lo todinho de volta.
- , dá pra prestar atenção aqui? – Amy estalou os dedos à frente da garota, resgatando-a de seus pensamentos.
Seus olhos se demoraram mais alguns segundos na cena que observava antes de desviarem para a melhor amiga, um sorriso nos lábios.
- O quê?
- Você lembra pra que dia é o trabalho do Smith? Sabe Deus por que eu anotei dia vinte, duvido que ele tenha estendido o prazo em um mês inteiro.
- Hmm – ponderou a menina, mordendo a ponta de sua caneta enquanto passava as páginas de seu caderno. – Acho que ele deu até dia cinco.
Já era tarde e muitos dos alunos da Suncoast Community High School já tinham ido para casa. O sol continuava brilhando alto no céu, mas a brisa fresca tornava a temperatura agradável, principalmente debaixo da árvore da qual aproveitavam a sombra.
Amy e estudavam em pleno jardim, os livros espalhados pela grama. Sabiam, por experiência própria, que a biblioteca era quieta demais para as duas, e que uma vez que fossem para casa, a concentração se perderia quase no mesmo instante em que chegasse. Deitadas sobre uma canga, ambas revisavam anotações e comentários anotados em sala de aula, o som dos pássaros cantando acima de suas cabeças só mais um fator contribuinte para a calmaria do local. Fazia anos que se retiravam para os jardins do colégio quando as provas se aproximavam, e de certa forma já estavam acostumadas com todos os ruídos, todas as informações que um ambiente de estudo ao ar livre reunia. Mas algo àquele dia estava diferente.
Lendo pela oitava vez consecutiva a mesma frase de seu livro de história da arte, bufou, jogando-o para o lado. Estava deitada de barriga para baixo, os pés balançando no alto e a cabeça apoiada em uma das mãos. Suas costas doíam um pouco e antes que pudesse se policiar, sentou-se pela quarta vez em vinte minutos e deixou seus olhos correrem para onde o time de futebol treinava a alguns metros de distância.
Era quarta-feira, e como toda quarta-feira, o time passava a tarde inteira treinando no campo do colégio. sabia disso, já havia estudado durante tantas quartas-feiras quanto era possível e, no entanto, nenhuma das outras vezes o fato de que eles estavam lá parecia chamar tanto a sua atenção. Era como se seus olhos estivessem sendo atraídos para o campo, quase sem o seu consentimento.
- Amiga, acho que eu já vou embora – comentou , trazendo a mochila para perto de si ao que começava a ajeitar suas coisas.
- Mas já? Você conseguiu acabar?
- Não, mas não estou conseguindo me concentrar.
- Poxa, , pensei que a gente ia sair daqui pro Beat.
- Eu tô indo pra lá agora, quer ir comigo? – Levantando-se e estendendo a mão para a amiga, abriu um pequeno sorriso.
- Mas você não ia entrar mais tarde hoje?
- Eu ia, se ficasse aqui estudando. Mas como não estou conseguindo, vou logo agora e saio mais cedo.
Amy fez biquinho, não aprovando a ideia de abandonar seu canto de paz e concentração tão cedo. Revirando os olhos para a amiga, sabendo que não correria o risco de sozinha se passar pela lunática cercada de livros no meio da grama, começou a juntar suas coisas e em pouco tempo as duas estavam caminhando em direção ao portão.
Estavam quase saindo do colégio quando a bola veio voando pela grade e parou a um metro de distância. congelou seus passos, uma sensação estranha tomando conta de seu corpo. Amy apenas riu, balançando a cabeça.
- Nós nunca vamos ganhar campeonato nenhum com esses meninos jogando mal desse jeito – brincou ela, andando até a bola. Quando virou para trás, pendeu a cabeça para o lado. – Vai ficar aí parada?
sorriu também, forçada, e estava prestes a responder quando percebeu as passadas apressadas se aproximando, virando-se quase imediatamente para elas.
corria em sua direção, a blusa grudada ao corpo e o cabelo completamente encharcado, o rosto ruborizado. Parou a poucos metros e abriu um sorriso enorme, as duas mãos apoiadas em sua lombar.
- Hey Amy, passa pra cá! – Levantando-as na direção do rosto e piscando, forçou imóvel exatamente aonde estava.
Ele era lindo, o garoto. Essa era a verdade, incontestável, bem diante de seus olhos. Todo desenhado em curvas delicadas e traços afiados, uma mistura tão ridiculamente bonita que fazia seus dedos nervosos para gravar suas linhas, mal conseguindo controlar a vontade de simplesmente segurar sua cabeça parada só por alguns segundos e gravar, assistir, entender cada detalhe perfeito até ser capaz de pinta-lo por inteiro de simples memória.
- Obrigado!
Percebendo que havia perdido alguma coisa, voltou a atenção para a amiga e sentiu sua bochecha queimar com o olhar que encontrou, um sorriso que ela sabia muito bem o que significava brincando em seu rosto.
Tentando escapar da inquisição por alguns segundos, desviou para o outro lado a ponto de ver as costas do garoto correndo já com a bola em mãos, confessadamente um pouco assustada em ver como tinha perdido tão completamente a troca entre os dois.
- O que foi isso, minha amiga? – perguntou Amy, retomando os passos para a saída.
respirou fundo e a seguiu, dando uma última olhada para o campo por cima do ombro.
- Cala a boca, Amy.
Sentindo-se estranhamente traída por Mark não lhe contar quem tinha entrevistado, caminhava para seu turno no The Beats. Havia recebido uma mensagem de seu chefe poucos minutos antes do sinal bater, e por mais que soubesse que ele não lhe devia explicações sobre o que fazia com o seu estabelecimento, a irritação irracional por nem mesmo saber que ele estava procurando outra pessoa fazia seus pés baterem fortes contra a calçada. Provavelmente parecia uma criança birrenta e sabia disso, mas não se importava.
Com as mãos na maçaneta, puxou o ar e refez mentalmente todo o discurso sobre trabalho em equipe e a importância de contratar alguém decente e entrou, pronta para discorrer sobre tudo o que estava errado na relação entre os dois quando seus olhos bateram no garoto que passava pano em sua bancada.
- Até que enfim você chegou – Mark falou do fundo da sala, seus olhos imediatamente o encontrando. – Conheça – Com um pequeno sorriso, apontou para o menino atrás do balcão. subiu o rosto tão rápido na menção de seu nome que por um momento temeu por sua vida. – , conheça . A melhor barista de Palm Beach.
Reconhecendo-o imediatamente e se sentindo estranhamente desconfortável sob o seu olhar, abriu um sorriso constipado e acenou.
- Oi, , é um prazer. Seja bem vindo ao The Beat Cup.
- A gente estuda junto – foi a primeira coisa que saiu de sua boca. Reconhecendo a impropriedade do comentário no segundo que o fez, coçou a parte de trás de sua cabeça e a fitou com uma expressão estranha. – Foi mal, mas você é a amiga da Amy, não é?
concordou com a cabeça e sorriu, retomando os seus passos – que pararam no segundo que entrou na loja – para o vestiário no fundo do estabelecimento. Sentiu o peso do olhar em sua nuca até bater a porta atrás de si.
Quando retornou, Mark pediu para que se sentasse com ele por um minuto. Foi entre um pedido de desculpas que não chegou a pedir e alguns elogios ao seu trabalho, que foi instruída a treinar o novo atendente.
- É uma responsabilidade grande, essa, sabe. Acho que você pode aprender bastante. E depois, a gente meio que precisa da ajuda. Tem ficado lotado e você sabe o quanto a Amber detesta que eu fique aqui o tempo todo. Eu não quero ver você sobrecarregada como no ano passado.
Para ser sincera, também não queria se ver sobrecarregada como no ano passado.
- Eu sei, Mark, eu não estou chateada. Vai ser legal ter uma ajuda... – comentou ela, desviando para o menino. – Ele já trabalhou em um café antes? - Não. – Mark seguiu seu olhar, um breve sorriso colorindo seus traços. – Mas ele precisa da grana e me pareceu um bom rapaz. Achei que merecia uma chance.
concordou com a cabeça.
- Você sabe alguma coisa dele? Já que estudam no mesmo colégio?
Sem muita consciência do ato, mais uma vez seus olhos pousaram sobre o garoto. O que ela sabia sobre ?
Além de que todo mundo o adorava na escola, e que ele era barulhento, engraçado e chamativo, não muita coisa. Sabia que ele era injustamente lindo. - Não muito – disse vagamente, se voltando para seu chefe com certa dificuldade. – Mas eu acho que você acertou na escolha.
era uma calamidade esperando para acontecer.
- , olha, olha, olha, olha, não puxa assim, tá bem? – falava com um olho no expresso que tirava, e o outro aonde tentava com dedos curiosos e pouco cuidadosos tirar o liquidificador da base.
- Eu sei, eu já consegui tirar uma vez, mas... – Com um clique que fez estremecer e derramar café em sua própria mão, retirou o copo e o colocou na bancada, virando-se com um sorriso convencido e uma piscada tímida. – Pronto.
derramou café de novo, xingando mentalmente ao que corria para a torneira com o rosto quente.
- Há quanto tempo você trabalha aqui? – perguntou passando o avental por cima da cabeça.
- Dois anos e meio.
- Nossa, faz bastante tempo.
concordou esfregando as mãos no pano de prato, o antebraço passando pela testa que suava por conta do trabalho braçal.
estava parado a alguns passos apoiado na vassoura. Sem avental, seu uniforme branco reluzia contra a luz, as mangas dobradas até a altura de seu ombro para relevar bíceps razoavelmente bem desenvolvidos. Seu cabelo estava preso para trás com uma tiara preta, o rosto em seu eterno bronzeado brilhando por conta do calor. queria pintá-lo.
- Qual seu café favorito? – Um sorriso que logo a garota desvendou como petulante brincava em seus lábios.
- Um cappuccino não tem erro. – Deu de ombros, voltando a se ajoelhar no chão.
Com a esponja em mãos, subiu seus olhos novamente. sustentava uma expressão engraçada no rosto, um sorriso em plena exibição e uma das sobrancelhas arqueada.
Demorou alguns segundos para compreender, e, quando o fez, começou a rir e percebeu que o garoto se juntara a ela, a risada alta ecoando pelo lugar ao que tentava escondê-la por trás de sua mão.
- Um cappuccino geralmente não tem erro. – Finalmente controlada o suficiente, adicionou entre a risada. – Mas relaxa, você vai aprender.
Mesmo que os oito dias desde que ele começara a trabalhar estivessem aí para colocar a veracidade de sua frase à prova.
A música ensurdecedoramente alta e ruim vinda da casa já a fazia ter vontade de girar sobre os calcanhares e sair dali, mesmo sabendo que se o fizesse, em questão de segundos Brad a arrastaria de volta para a festa.
O vestido justo delineava cada curva de seu corpo, e só de pensar na noite desconfortável que passaria vestida daquele jeito, sentia sua já rara animação para festas do colégio se esvair como água pelo ralo. A cada passo dado, considerava a honesta possibilidade de sair correndo sobre o par de saltos que calçava, pintando de imediato as inúmeras quedas que sofreria em sua cabeça. Definitivamente essa não era a sua praia.
A porta da frente estava semiaberta, por isso, assim que a empurrou, concedeu passagem, embora não por completo já que um casal de meninos se amassava intensamente atrás dela – como se aquele fosse mesmo o lugar mais adequado.
Com Brad em sua cola, cumprimentando pessoas que jamais sequer tinha visto, e outras que não fazia lá muita questão de cumprimentar, começou a explorar os cantos do lugar abarrotado.
As luzes dançavam pela sala, o calor de dezenas de adolescentes em movimento logo envolvendo o seu corpo, fazendo-a transpirar. O cheiro de suor, álcool e algo que não conseguia identificar levando seu nariz a se contorcer antes mesmo de alcançar o próximo cômodo.
Brad logo procurou pela cozinha, pegando uma cerveja do isopor ao que passava os olhos pela bancada. Achando o que procurava, deu alguns passos até o outro lado e pegou dois copos vermelhos. Encheu os dois e lhe entregou um.
Ainda não havia decidido se iria beber, e não gostava particularmente do gosto de cerveja, mas aceitou o copo com um sorriso no rosto e um “obrigada” ironizado.
- Ah, vai, , nem é tão ruim assim – falou Brad e bateu o copo contra o seu, tomando um gole logo em seguida.
- Oh. Estou adorando – murmurou contra o copo, o gosto amargo em sua língua.
Passando a mão livre pelo braço, começou a acessar o lugar. O salto já incomodava seus pés e, mesmo parada, trocando o peso de um para o outro, conseguia sentir a resistência que fazia o chão grudento.
Era nove horas da noite e o lugar já estava uma bagunça, copos espalhados por todos os cantos. A cozinha, como todos os outros lugares da casa, estava cheia de gente. Muitos dos que conversavam com copos em mãos reconhecia de seu colégio, poucos rostos que nunca tinha visto pela cidade. Suas risadas altas brigavam com a música que tocava na sala.
- Vem dançar comigo? – Brad a puxou pela mão e a arrastou pelo corredor, não ligando para a maneira com que a cerveja entornava do copo por conta dos passos acelerados.
Uma vez na pista de dança, lutava para decidir se era mais constrangedor ficar parada ou dançar com um vestido que a cada um de seus passos diminuía. Levemente desconfortável com os olhares que atraía, optou por balançar os pés de um lado para o outro, fingindo se embalar pela música, para só então se pegar rindo sozinha ao perceber que Brad não lhe dava a menor atenção, concentrado em seus próprios passos, os olhos fechados e um sorriso malicioso embelezando suas feições. Era quase como se estivesse sozinha.
Séculos após constatar que de fato estava um pouco sozinha, a garota resolveu sentar para descansar os pés. Havia poucas coisas que tiravam a sua paz, mas nesse momento odiava com todo o fervor em seu coração a pessoa responsável por tornar salto alto parte do padrão de beleza feminino. Sem ter certeza de que seria ouvida, avisou a Brad que iria pegar uma bebida e sumiu entre a multidão que a cercava.
Sentada no sofá arrastado para o canto do cômodo, tirou a sandália e fez o que fazia de melhor; observou a vida passar por seus olhos.
Meia hora mais tarde, já sabia cada pessoa que tinha passado dos limites em relação ao álcool. Enquanto alguns de seus colegas dançavam animados pelo ritmo eletrônico, outros tinham o olhar vago e os passos trôpegos, alguns até mesmo se utilizando de seus amigos como fonte de apoio. Uma menina em particular tinha a testa apoiada na parede, a garota ao seu lado fazendo carinho em suas costas e segurando o seu cabelo com a outra mão. Ao redor delas, todo mundo dançava e sorria como se elas não estivessem ali.
Em pouco tempo cansada de passar a maior parte do tempo sozinha, já tinha o celular em mãos para perguntar aonde foi que Amy se meteu quando um conjunto de gargalhadas se sobressaiu sobre todos os outros sons. Imediatamente seus olhos buscaram pelas vozes, e antes que pudesse encontrar de onde vinham, um sorriso tomou seus lábios quando uma única risada, mais alta e quente do que todas as outras, a direcionou exatamente para o que estava procurando.
Seu estômago se contorceu levemente quando se deparou com rindo alto de alguma coisa, a cabeça jogada para trás e a mão se apertando contra a barriga, o cabelo suado parcialmente grudado em sua testa. Ao seu redor, alguns garotos que a menina sabia serem do time de futebol riam com lágrimas nos olhos, quase caindo para frente pelo o que quer que tenha sido falado.
Quando parou de rir, pousou a mão no ombro de um dos garotos e recebeu um abraço em retorno, o corpo quase duas vezes maior que o seu envolvendo-o pelo lado antes de solta-lo e correr para a cozinha.
, que ainda sustentava um sorriso no rosto, aproveitou a deixa e também saiu da rodinha, seguindo o outro em direção à cozinha, minutos antes de reaparecer com um copo em cada mão. Sem nem pensar duas vezes parou ao lado das duas meninas na parede e entregou um deles para a que cuidava da outra, sussurrando algo em seu ouvido que a fez sorrir e esconder o rosto, as bochechas avermelhadas mesmo na iluminação fraca da festa.
No tempo de uma piscada de olhos, tinha abandonado as meninas em prol do grupo que gritava no meio da galera com os copos levantados para o alto, sendo recebido com tanto entusiasmo que um deles catou um copo vazio da mesa e fez todos da roda virarem parte de suas bebidas dentro dele. Eles brindaram com um urro, atraindo olhares como todos os grupos que o tinham, e viraram seus copos, cada um saindo com uma careta de reprovação exceto Stacy Beckham, que se equilibrava em salto e minissaia e não parecia nem um pouco afetada pelo gosto amargo do que provavelmente era cerveja quente.
sorriu para ela, e mesmo de onde estava apenas observando de longe, sentiu seu rosto corar com o sorriso. Diferentemente da garota à sua frente, o álcool claramente já o afetava, e sua pele encoberta por uma fina camada de suor brilhava contra o neon da pista de dança improvisada. Ele era uma visão e tanto em seu sorriso arrastado, as mãos gesticulando exageradas na frente do rosto, a voz alta e as risadas preenchendo vazios quase como se o lugar precisasse se adaptar a ele, e não o inverso.
Perdeu seu tempo observado o garoto ocupar o lugar, sempre bem recebido em qualquer das rodinhas em que se metia, sempre chegando com um sorriso no rosto e saindo com gargalhadas descontroladas em sua cola.
A festa passou na frente de seus olhos com cores, risadas e música, quase mais rápida do que podia acompanhar. Sem muito o que fazer sozinha se não vagar pelo lugar, pegou o copo em que bebia e andou até a varanda da casa. Assim que a porta se abriu, um vento ameno bateu em seu rosto, bagunçando ainda mais seu cabelo, e a sensação era tão refrescante que não perdeu mais de dois segundos pensando em ajeita-lo. Apoiou seus braços sobre a estrutura metálica que a separava do quintal e olhou ao redor, observando o grupo que se aglomerava próximo à piscina, uma partida de beer pong rolando na garagem.
Não demorou muito para que seus olhos encontrassem novamente. O viu vencer duas partidas de beer pong consecutivas antes de se indagar se era exatamente saudável o que estava fazendo. Estava rindo de seu óbvio “não” quando percebeu alguém se aproximar, surpreendendo-a ao mesmo tempo em que a arrancava de sua breve conversa individual. Muito mais perto do que seria possível há segundos atrás, um belo par de olhos azuis a fitava. A poucos passos, na pequena escada que separava os ambientes, sorria com o rosto pendido para o lado. Tinha um copo em cada uma das mãos.
Sentindo o rosto queimar por ser o fim daquele sorriso, levantou timidamente uma das mãos e deu um aceno, desviando o olhar com quase a mesma velocidade com que sua respiração se acelerava.
Agora que estavam próximos e em uma luz relativamente melhor, podia ver o quanto estava suado, a blusa preta que vestia se grudando levemente ao corpo, a pele bronzeada e as bochechas rosadas confirmando a presença do sol escaldante dos últimos dias. Seu sorriso parecia de outro mundo, a boca vermelha em contraste ao dourado de seu rosto, os dentes brancos e perfeitos fazendo a mente levemente alcoolizada da menina se embaralhar.
Somente quando o garoto deu outro passo, se aproximando ainda mais, se libertou do transe em que a surpresa de sua presença a prendeu.
- Quer que eu saia? – Perguntou , arqueando a sobrancelha em incerteza.
- Não, – respondeu , a voz presa em sua garganta. Engoliu a seco. – Claro que não.
- Tá bom. Ok. – Aumentando novamente o sorriso, ele parou ao seu lado, apoiando os cotovelos no balcão, o rosto voltado para frente. – Por que você tá aqui sozinha?
- Sei lá. – deu de ombros, ainda desconfortável pela proximidade. – Estava só tomando um ar.
Ele assentiu, não falou nada, mas a ofereceu um dos copos e sorriu discretamente até que aceitasse. o fez e se virou para jogar fora o que segurava, o restinho de cerveja quente incriminadoramente semelhante a xixi. Quando voltou para seu lugar, ele continuava ali, parado no balcão, os olhos perdidos na noite.
Mais alguns minutos se passaram, e incomodada com o silêncio que beirava o constrangedor, decidiu que era hora de sair dali, procurar por Amy, ou por Brad, ou por alguém. Mas antes que pudesse colocar o plano de fuga em prática, uma mão atingiu seu ombro, levando-a a se virar. O aguardou fitar o chão e passar a mão pela nuca, conferir mais uma vez o espaço ao redor antes de encará-la.
- Você está linda, sabia? – sorriu, umedecendo os lábios com a língua, e a garota percebeu seus olhos traçarem o movimento sem autorização. – Eu não sei o que é, tem algo diferente, mas eu gostei.
Sentindo o rosto inteiro queimar com o elogio, a mão que não apertava o copo se arrastou pelo braço arrepiado.
- Foi mal, eu não queria deixar de comentar. E não – O garoto se embolava nas palavras. –, não é que normalmente você não esteja. Linda, quero dizer. Claro que não, mas... Enfim. Eu não queria deixar de comentar.
- Obrigada, .
O vento bagunçava cada vez mais o seu cabelo, e apesar de tudo acontecendo ao mesmo tempo ao seu redor, era como se o mundo se resumisse ao sorriso à sua frente e à sensação de seus elogios em sua barriga.
- E agora é que fodeu tudo – disse ele, rindo por trás do copo em sua boca, uma mistura de diversão e malícia em seus olhos. – Ficou ainda melhor assim.
- Assim como? – Confusão talhava suas feições, as sobrancelhas apertadas e um sorriso parte incrédulo, parte envergonhado.
Sabia que o elogio saía livremente por que estava bêbado, mas verdade fosse dita; a essa altura da noite, ela não se importava.
- Toda envergonhadinha.
engasgou no copo em sua boca, não conseguindo segurar a própria risada. Sabia que devia estar da cor do copo, e involuntariamente sua mão alcançou o cabelo, tentando tira-lo de seu rosto e falhando frente ao vento insistente.
também estava rindo, os olhos fugindo dela por alguns segundos antes de tomar o gesto que a fez vacilar em seus pés. Seguro de seu espaço como poucas pessoas que conhecia, o garoto colocou uma das mãos em sua cintura e a outra em seu rosto, parando a poucos centímetros com o polegar em sua bochecha.
- Eu não sei se você percebeu, mas eu sou realmente horrível nisso. – sussurrou , a voz embebida de ironia e um toquinho de timidez. – Mas eu quero muito ficar com você, e eu realmente espero que você também queira ficar comigo.
A menina arregalou os olhos brevemente, tomada de surpresa pela confissão. O hálito do garoto era um misto de canela e álcool, as mãos quentes por onde tocavam sua pele. Seus olhos brilhavam com mais intensidade que seu sorriso, mas ela não conseguia parar de olhar para sua boca. Quando ele falou novamente, muito mais leu seus lábios do que ouviu o que disse.
- Você vai ficar brava se eu te beijar? – engoliu a seco, subindo o olhar de sua boca para seus olhos e para sua boca novamente. – Eu posso te beijar?
Com o coração batendo na garganta e a mão trêmula ainda se agarrando ao copo, a menina balançou a cabeça em afirmação e soltou o ar quando lábios macios tocaram os seus. Sua nuca se arrepiou ao contato e somente após alguns segundos sem qualquer reação, sentiu-se relaxar o suficiente para responder ao beijo. Com os olhos fechados, os mesmos que usava para captar cada memória e guarda-la com detalhes, deixou que a sensação de ser beijada por uma das criaturas mais interessantes que já conhecera tomasse conta de suas ações.
Perdidos na sensação um do outro, nenhum dos dois parecia se importar ou perceber toda a atenção que recebiam ao se beijarem na claridade da varanda, vários colegas parando para observá-los e fazer comentários, nenhum único pensamento desviado do que faziam até que alguns assovios altos vieram do grupo da garagem. Sentindo sorrir contra seus lábios, largou o copo que segurava e deixou que seus braços se encontrassem atrás de sua cabeça, sentindo braços firmes apertando-a contra o corpo em resposta ao gesto.
A língua do garoto se movia molhada e sensual em sua boca, o ritmo arrastado e lânguido, a suavidade dos lábios se apertando contra os seus somando-se ao perfume inebriante que exalava de sua pele ainda parcialmente úmida pelo suor, e mesmo sabendo que aquele não era seu primeiro beijo, se percebeu completamente perdida na intensidade do seu desejo.
Seus ouvidos captavam vagamente gritos e risadas em meio a música alta, sapatos batendo contra o chão, mesas sendo arrastadas e latinhas sendo abertas, e apesar de não ser tão alto quanto todos os outros, era o som do beijo deles que perduraria por horas a fio em sua mente.
Sentada em um banco no jardim da Suncoast High, os pés balançando inquietos, observava o movimento das folhas caindo com a força da ventania. Como todos os outros dias em Riviera, o sol brilhava forte, mas a mudança de estação era sentida na pele de cada pessoa que se aventurava ao ar livre naquela época do ano. Em meio ao céu azul, as nuvens se desenhavam fantásticas acima da cidade, tão branquinhas e tão belas, que a garota podia passar dias inteiros contornando-as com seus dedos sem se dar conta das horas que passavam. Era uma mania que guardara desde criança, e sabia que jamais seria velha o suficiente para considera-la tola.
Distraída demais para notar que alguém se aproximava, sentiu seu corpo congelar quando braços quentes a envolveram pelo ombro, o coração acelerando gradualmente conforme a percepção de quem a abraçava inundava a sua mente. O cheiro cítrico logo invadiu seus sentidos, o reconhecimento fazendo-a fechar os olhos por alguns segundos antes de abri-los novamente, virando-se para encará-lo. Seu rosto queimava e por alguma razão, suas mãos suavam frio.
O gosto do beijo ainda ardia em seus pensamentos.
- Olá, você. – abriu um sorriso enorme, o cantinho de seus olhos enrugados pela intensidade. – O que você tá fazendo aqui sozinha?
- Oi, .
- De novo – acrescentou, fazendo-a sorrir.
A verdade é que sabia que ele já tinha bebido mais do que o suficiente quando a beijou na festa, ter a prova de que pelo menos se lembrava do que falaram minutos antes não precisava ter, não devia ter o efeito que tinha em sua pele. Mas tinha.
- Eu estou esperando o Brad – comentou ela, desviando o olhar para a porta de entrada.
a observava de perto.
- Brad?
- É, o -
- O garoto do teatro? – perguntou ele, sorrindo novamente ao vê-la concordar. – Ele é bom, eu o vi atuando semestre passado.
- Hmm, ele é, ele é muito bom, na verdade...
- É isso o que ele quer fazer? Musicais?
- Eu acho que sim – respondeu , fitando brevemente o chão.
- Irado, eu acho que ele consegue. É realmente talentoso, ele.
- É, eu também acho. Falo isso pra ele o tempo todo.
- Ele tá na aula? De teatro, quero dizer?
- Uhum. Ele sai daqui a pouco.
- É? Legal... – Silêncio. – Mas por que é que a gente tá falando dele, mesmo? – sussurrou para si mesmo, soltando uma risada alta em seguida, a boca se arrastando para um sorriso ao que levava os dedos para testa, a cabeça balançando em incredulidade. – Você quer companhia pro Beat?
Eram duas horas da tarde, e quase todos os alunos estavam em horário de saída. O sinal tocou em ponto.
Sentada em frente a saída do colégio, ao lado dele e ninguém menos, se sentia exposta. Sabia que era besteira se sentir assim, mas sua atenção não parava de pular para os olhares furtivos que recebiam, o peso do braço ao seu redor ainda maior agora que o colégio inteiro estava vendo.
Sentia-se enrubescer simplesmente por falar com ele, mas saber que todas aquelas pessoas passavam por ela e indagavam o que exatamente estava fazendo sentado ao seu lado aumentava ainda mais o seu embaraço. Detestava a ideia geral de receber muitos olhares ao mesmo tempo, mas a ideia de ter pessoas comentando sobre ela era ainda pior.
Tão perdida em seu desconforto, só percebeu que estava mais uma vez ignorando o garoto ao seu lado quando sentiu seu calor se afastar. Quando, sem olhar para ela, retirou o braço de suas costas e a colocou em sua própria perna, uma rigidez em suas ações que até o momento não estava ali. Quando a olhou novamente, foi com um suspiro pesado seguido de um sorriso contido, os dedos agilmente ajeitando a franja em sua testa.
- Foi mal, eu não... – Os olhos azuis percorreram o local novamente antes de se fixarem nos seus. – Eu acho que você esqueceu uma coisa na festa. riu, pendendo a cabeça para o lado, sem saber direito o que dizer. Tirou o cabelo que escorregou por seu rosto e o prendeu atrás da orelha, as palpitações batendo ritmicamente em seu ouvido. acompanhou o movimento com o olhar.
- Você não vai falar algo idiota como, sei lá, um beijo de despedida, vai? – Mesmo com o rosto inteiro queimando pela audácia, aumentou o sorriso ao arrancar outra risada do garoto.
- O quê? – Ele balançou a cabeça, apertado as sobrancelhas ao que abria a boca em diversão. – O que você acha que eu sou?
- Oi, eu não sei, mas pra ser sincera me parece algo que você diria.
- Eita, porra – riu mais uma vez. – Eu devo ter feito tudo errado mesmo.
- ! – brincou , apertando os olhos, um sorriso totalmente genuíno nos lábios. – Fala logo, o que eu esqueci?
- Pois é. – disse ele se ajeitando no banco, a expressão subitamente séria. – Agora eu não sei se você merece saber.
revirou os olhos, o sorriso grudado em seu rosto mesmo que não o quisesse. estava literalmente a ponto de fazer biquinho, os braços cruzados contra o peito e as pernas jogadas displicentemente para frente, os lábios apertados um contra o outro. Mesmo de perfil, ele era adorável, e se permitiu, por um segundo longo demais, admirar a maneira como o sol iluminava a suas mechas e clareava suas feições, o azul de sua íris quase vítreo contra a claridade.
Quando se virou novamente, os olhos apertados e a boca prestes a se abrir em um sorriso insistente, sequer lembrava que ainda estavam em público.
- Você realmente estragou tudo, mas... – Finalmente deixando o sorriso estonteante se abrir, se ajeitou no banco e retirou o celular do bolso de trás. – Você não me deu seu número. Eu sei que eu podia pedir no trabalho, mas – Abriu na lista de contatos e, com uma piscada quase grosseira de tão charmosa, lhe ofereceu o aparelho. – eu levo o meu trabalho muito a sério.
Era uma mentira deslava, por que se tinha uma coisa que não fazia era levar seu trabalho realmente a sério. A não ser que por levar a sério ele quisesse dizer tentar chegar na hora e fazer um esforço mínimo de decorar as receitas, pois, nesse caso, sim, talvez ele levasse o trabalho bastante a sério. Ainda que na maior parte do tempo ele falhasse em conseguir ambos. As receitas pelo menos eram uma questão de tempo.
Ainda um pouco lenta para acompanhar o que estava acontecendo, pegou o celular em mãos e digitou seu número no aparelho do rapaz, que desde que se sentara ao seu lado observava de perto e com curioso interesse o menor de seus movimentos.
- Aqui.
olhou o número antes de colocar de volta o aparelho na calça, estava prestes a dizer alguma outra coisa, a boca já aberta para falar, quando Brad o interrompeu:
- , você não vai acre... – Quando se deu conta de que a amiga não estava sozinha. – Opa!
- E aí, brother? – Falou , imediatamente se levantando, a mão se apertando amigavelmente no ombro do rapaz, um sorriso tomando suas feições em questão de segundos.
piscou de um para o outro.
- Oi , foi mal cara, nem reparei que você tava aí – respondeu Brad, tentando uma troca de olhar com a amiga, infelizmente confusa demais para esbanjar qualquer reação. – Vocês estavam indo juntos pro trabalho? Eu posso voltar com a Amy...
- Ih, não cara, relaxou! Eu já tava saindo – E, mais rápido do que a garota podia acompanhar, se abaixou e depositou um beijo demorado em sua bochecha, parando a centímetros de seu ouvido: – Vejo você mais tarde.
E saiu; um aceno para Brad, um último sorriso para , e o moletom se moldando a curva de sua bunda.
- Para de olhar – murmurou , ainda um pouco perdida.
- Quanto desperdício...
- Foco, Brad.
Com um suspiro forjadamente pesado, Brad virou nos calcanhares e juntou as duas mãos na frente do corpo. Suas mãos pediam desculpas, mas nada em seu rosto denotava arrependimento.
- O que foi isso, ?
- O que foi eu realmente não sei, agora o que poderia ter sido se você não tivesse vindo com essa boca grande interromper, eu posso ter uma ideia. - Ah, vai, ele mesmo disse que estava de saída. Não é como se eu tivesse expulsado o garoto daqui!
- Não, eu sei babe, é brincadeira. – Soltando o ar que nem sabia que estava prendendo, respirou fundo e passou as mãos pelo rosto, o calor em seus dedos só mais uma confirmação do quanto passara a conversa inteira corada. – Eu nem sei... Ele pediu o meu número, Brad. Ele pediu o meu número! Você acha que isso quer dizer alguma coisa?
- Você acha que... Você é retardada, garota? É claro que –
Pela segunda vez na tarde no que tangia interrupções, antes mesmo de Brad conseguir terminar a frase o telefone de tocou. Os dois olharam para o aparelho ao mesmo tempo.
Sabendo que só sua mãe a ligava a essa hora, a garota ignorou o visor e trouxe o telefono ao ouvido com um sorriso, o dedo sinalizando para Brad continuar calado enquanto ouvia o que ela tinha a dizer.
- Oi?
- ? – Mas foi uma voz ligeiramente rouca que a respondeu. – Era só pra ter certeza que você me deu o número certo. Até logo.
E desligou, deixando uma totalmente desnorteada fitando de boca aberta o aparelho em seu colo.
- Era ele.
- E eu não sei, amiga?
The Beat Cup estava completamente lotado. Pulando de um lado para o outro atrás do balcão, recebia e preparava os pedidos com a eficiência que só a prática podia trazer, desdobrando-se em trinta por minuto, equilibrando e sorrindo o melhor sorriso que era capaz de manter enquanto o mundo caía sobre as costas. Mesmo tendo o cuidado de repassar somente os pedidos que tinha certeza que não iria trocar, tanto quanto fazia seu trabalho se preocupava em não ser a pior mentora do mundo e explodir a cabeça do rapaz em sua primeira noite de casa cheia.
Checando-o por um segundo, se pegou sorrindo sozinha para a máquina de expresso, a afeição levando-a ao ridículo de achar engraçado o total pavor que carregava em seu rosto ao perceber o tamanho da fila que só aumentava. Se estivesse sendo sincera, era realmente, realmente muito ruim, mas era tão bonitinho vê-lo tentando.
Percebendo o quanto o seu nervosismo o fazia trocar ainda mais pedidos, decidiu diminuir parte de sua pressão, orientando-o a apenas receber os pedidos enquanto ela mesma cuidava para prepara-los.
Não demorou muito para o arranjo fluir, gradual, mas efetivamente, a fila diminuiu até que a quantidade de pessoas aguardando era tão pequena que tinha os seus bons minutos a mais para preparar cada bebida.
Se havia uma coisa, no entanto, que tanto quanto o próprio Mark não falhavam em perceber era que mesmo errando um pedido atrás do outro, e isso era assustador, não havia um cliente sequer que saísse de seu atendimento sem uma breve risada, ou, pelo menos, em casos mais raros do que a garota gostaria de admitir, um balançar afetuoso de cabeça.
- Como você faz isso, ? – perguntou ela, sequer tentando esconder a admiração.
- Isso o quê?
estava uma bagunça. O cabelo seguindo para todas as direções, o avental completamente encharcado, chocolate e algo laranja manchado na manga de sua camisa. O sorriso genuíno no rosto desmanchando toda e qualquer chance de pensar que havia algo errado com o conjunto.
- Você está errando pedido atrás... – Balançando a cabeça, sorriu, revirando os olhos para a expressão confusa do garoto. – Deixa pra lá, . Só continua o que está fazendo, sim?
Com a tranquilidade de quem não tem pressa de chegar, e marcavam suas pegadas na areia branca.
A praia estava quase vazia a essa altura, o horário servindo somente aos banhistas mais gananciosos, acostumados a aproveitar até os últimos segundos do sol antes de se retirarem para o aconchego de suas residências. No lado oposto ao mar, os prédios se estendiam iluminando a costa.
mantinha um dos braços envolvido na cintura de , os passos lentos e sincronizados seguindo sem rumo aparente. Mais a frente, um senhor de aparência cansada, roupas surradas e chapéu de palha fazia pose ao lado de seu carrinho de sorvete.
conhecia o senhor tanto quanto quase todos os jovens da cidade. Boa parte de sua infância tinha sido adoçada por seus picolés.
Sem a necessidade de palavras, os dois se aproximaram da barraca. sorriu e pousou a mão nas costas do senhor, recebendo um caloroso sorriso em retorno.
- Boa noite, meus jovens – disse ele, abaixando a ponta de seu chapéu em um cumprimento educado. – Qual vai ser o sabor da vez?
passou os olhos pelo cardápio de papel uma única vez antes de se decidir.
- Me dá um de morango e... – Não fazendo a menor ideia das preferências de sua companhia, levantou os ombros em rendição quando a fitou.
O sorriso ainda brincava em seu rosto.
- Chocolate. – respondeu , mordendo a parte de dentro de seu lábio inferior. – Eu amo chocolate.
Não sem antes reforçar educadamente o pedido para o senhor, em poucos minutos retomaram a caminhada, cada um com a sobremesa escolhida em mãos. Concentrado demais em seu sorvete, não sabia que estava sendo observado.
Não sabia que ao seu lado, seguia cada movimento de sua língua com calor queimando em suas bochechas. Ou que na luz fraca que vinha dos prédios, seus olhos se escondiam em sombras, mas seus lábios avermelhados pelo morango se destacavam na pele bronzeada de seu lindo rosto. Que o rubor pelo sol escaldante moldava seus traços como o último esforço de um artista, ou que a maneira que a brisa levantava seu cabelo acabava por torna-lo arte; cores, textura e profundidade tão claros na mente da garota que se pegou rindo sozinha, se esforçando, em concentração quase desumana, para vencer por algumas horas a mania de pintar absolutamente tudo que captava seus olhos.
- Hey, . – Mark apareceu na porta, o antebraço apoiando na maçaneta.
Mesmo depois de um expediente exaustivo, sua expressão era relaxada.
- Hey, Mark! – lançou um sorriso para cima, mas voltou para terminar com o cadarço antes de se levantar e jogar a mochila pelo ombro. – Algum problema?
- Não, filho. Problema nenhum. – Percebendo a inquietação do rapaz, Mark aumentou o sorriso e apoiou a mão em seu ombro, um apertão amigável ao que caminhavam para a saída. – Você dirige, certo? Tem carteira? – Recebendo uma confirmação de cabeça. – Acha que pode fazer um favor pra mim amanhã?
- Claro, Mark. É só mandar.
- Eu preciso levar minha princesa pra lavar, mas eu não posso deixar a sozinha aqui com você por enquanto. Então eu fiquei pensando se você não podia fazer isso pra mim? Levá-la no meu lugar?
- A princesa você diz... O carro? – perguntou o garoto um pouco incerto, os olhos levemente arregalados. – O seu carro?
Mark confirmou com a cabeça, passando a chave pelo cadeado da porta dos fundos, o sorriso escondido na escuridão.
- Você não sabe o quanto vai estar me ajudando.
- É claro, cara. Sem o menor problema.
- , eu só tenho quinze minutos de almoço, pra onde você tá me levando?
- Shh, fica quieta – falou ele, o dedo em riste na frente de seu rosto. Seus olhos brilhavam com algo novo, algo que não conseguia identificar, e mesmo com o rosto sério era como se estivesse sorrindo. – Você vai confiar em mim ou não?
- Eu vou, mas eu não -
- Shh, fala baixo – sussurrou, puxando-a para perto com uma mão em sua cintura.
sentiu a respiração se acelerar com a proximidade, o hálito quente batendo em sua boca enquanto ele falava rápido, a voz baixinha:
- Você não vai poder nunca comentar que eu te trouxe – Os lábios a centímetros dos seus. -, promete?
confirmou com um aceno, borboletas alçando voo em seu estômago.
copiou seu movimento de cabeça e apertou os lábios contra os seus, um sorriso se abrindo contra sua boca. Afastando-se alguns centímetros, roçou o nariz no seu e selou os lábios em sua bochecha, sussurrando contra a pele:
- Você vai gostar.
Confessadamente um pouco sem ar, se deixou ser puxada pela mão até o estacionamento ao lado do café, somente se dando conta do que estava realmente acontecendo quando ouviu o barulho do carro sendo destravado.
Puxou a mão para seu peito e deu um passo para trás, os olhos arregalados buscando o The Beat.
- , o que diabos?
- Entra logo no carro, , pelo amor de Deus!
- Como assim entra no carro? – perguntou a garota, a cabeça balançando incrédula. – Como você pegou a chave?
- Ele me deu a chave, , que diabos digo eu! – Dando uma olhada para a porta do Beat, consertou a franja e andou até a garota. – Ele pediu pra eu levar o carro pra lavar, tá bom? E eu pensei que você ia gostar de dar uma volta.
permaneceu calada, os olhos indo e voltando do estabelecimento para .
- Ou... Você pode ficar aí. – começou a se afastar, mas, antes mesmo de alcançar a porta, ela já o seguia um pouco eufórica.
- Não, não, eu vou, eu vou. – Riu, balançando a cabeça, o lábio inferior preso pelos dentes. – Você é maluco, e eu também devo ser, Deus... Mas vamos logo que meu almoço já está acabando!
Com uma piscada e um sorriso malicioso, abriu a porta e escorregou para dentro do carro, o couro cedendo ao seu peso. Esperou fechar a porta e deu partida, o ranger de um motor dessa potência não parecido com nada que tenha ouvido em sua vida.
As mãos alisaram o volante em pasma admiração, prestes a interromper a reverência quando, pisando levemente no pedal, deu partida com o carro.
Em um lugar pacato como Riviera, poucas coisas chamavam tanta atenção como o ronco de um Maserati cortando a estrada.
- Você não precisa ficar aí parado na porta – comentou por cima do ombro, jogando a mochila no sofá ao que pegava o controle. – Já sabe o que a gente vai comer?
continuava parado perto da porta, a mochila pesando em seu ombro e a coluna ereta, os olhos passeando pela sala.
amava a sua casa. E como toda pessoa que ama, sentia orgulho dela. Não era muito, não era grande e muito menos luxuosa, mas era sua, e grande parte do que ela era estava guardado entre essas paredes. Sabia disso, sabia, no entanto não conseguia fazer passar o desconforto em seu estômago só de pensar que poderia não gostar de alguma coisa.
Era a primeira vez que o levava em casa, era a primeira vez que trazia um garoto para sua casa, e estava morrendo para que ele a aprovasse. - ? – fazendo biquinho, andou até o garoto e passou o braço por seu pescoço, sabendo que ele raramente resistia quando fazia essas coisas.
O sorriso que abriu quando olhou para baixo e beijou a ponta de seu nariz era genuíno.
- A casa é linda, . – Os olhos fitando os seus com sinceridade. – Quase tanto quanto você.
sentiu seu estômago revirar e terminou a distância entre seus lábios, um sorriso insistente se abrindo por trás do gesto.
- Tem uma coisa que eu quero falar... – começou ele no meio do beijo, e a garota balançou a cabeça, murmurando um “não” contra seus lábios.
- Você pode me falar depois da gente comer – disse ainda em sua boca, os olhos procurando pelos seus.
fitou o chão por um momento, mas balançou a cabeça confirmando. Com um beijo estalado e um aperto dos braços ao seu redor, o sorriso arrastado foi se abrindo lentamente.
- Depois do almoço.
- Isso é incrível, . – Balançando a cabeça de um lado para o outro, analisava a tela com a boca ligeiramente aberta. – É muito incrível.
sentia que ia explodir em sua própria pele cada vez que um novo elogio escapava do garoto a sua frente. Seu rosto queimava com a intensidade do olhar que ele lhe direcionava, ainda que nunca durasse muito mais de alguns segundos, sempre voltando para os menores detalhes de cada uma das telas que descobria.
Apertando uma mão contra a outra, as pernas balançando insistentes, aguardava com a mesma ansiedade estrangulada cada novo veredito, a aprovação de tão claramente fundamental que não conseguia entender como nunca havia pesado a sua importância até agora. Bastava que seus dedos tocassem no próximo pano para que a garota sentisse seus joelhos fraquejarem, seu coração refletindo tão forte na garganta que não demorou muito para perceber que tremia dos pés à cabeça.
A intensidade de suas reações era algo que ela sequer conseguia mensurar, a maneira como seus olhos perdiam minutos inteiros olhando cada detalhe, bebendo em cada traço, a expressão enrugada em concentração analítica e honestamente um brilho, um brilho tão diferente de tudo que ela já tenha visto.
era tão, tão genuíno, e tudo o que ele sentia estava tão claro na maneira que todo o seu corpo respondia ao que estava vendo, que, incapaz de sequer prevê-la, sentiu uma única lágrima escorrer por seu rosto. Queria que ele visse mais, queria despir-se completamente e mostrar tudo o que houvesse dentro dela, queria mostrar que poucas coisas eram tão inspiradoras quanto o sorriso que agora ele guardava em seu rosto.
- E aqueles? – perguntou , fitando-a com as sobrancelhas enrugadas, o olhar indo e voltando, indecisos se focavam nela ou no grupo de telas encobertas no canto mais afastado.
A curiosidade estampada em seu rosto mostrava que ele queria ainda mais. havia a despido até a nudez, cavado fundo até encontrar a sua alma e não se contentando, queria ver toda a sua absoluta essência manifestada em cores.
Queria ver o quão completamente apaixonada ela estava por ele.
- Esses não – ouviu sua voz falar, baixa e feliz. – Hoje não. Um dia.
apertou os olhos contra a recusa, engrenagens girando em seu rosto, decidindo se devia insistir ou não.
No final optou por um sorriso de lado e um sopro incrédulo;
- Um dia. É uma promessa.
- O que você queria mesmo falar?
- Outro dia, linda.
E com o batimento em seu ouvido, braços quentes e um beijo demorado em sua testa, fechou os olhos e abraçou o sono com um sorriso nos lábios.
Epílogo
Manhattan - Seis Anos Depois
- , escuta, você pode dar um pulo hoje a noite no endereço que eu vou te mandar? É importante. É realmente importante. Oito horas. Esteja lá. Estranhando a mensagem enigmática, deu de ombros e voltou com o celular para dentro do casaco, apressando os passos no corredor vazio e xingando mentalmente por que nunca conseguia chegar na hora pra essa porra de matéria. A pequena corrida era meramente ilustrativa; a aula começara há mais de uma hora.
xxx
- Oi, babe – Roxy o recebeu com um abraço e um beijo na bochecha, os movimentos atravancados pelo frio cortante. Mesmo falar era difícil. – Que bom que você veio.
O vapor saia de sua boca mesmo protegida pelo cachecol, as dezenas de camadas que cobriam desde a ponta de sua cabeça à ponta de seus pés ainda assim não suficiente para parar os calafrios que estremeciam o corpo inteiro.
- Aonde a gente tá indo? – perguntou , seguindo a mulher pelo beco de tijolinhos vermelhos, os olhos traçados para o chão escorregadio.
- Você vai achar isso muito louco, mas eu prometo que achei por acaso.
Sem ter a menor ideia da parte da conversa que estava perdendo, levantou uma das sobrancelhas e estava prestes a perguntar quando Roxy o calou com um aceno de cabeça e um gesto que não conseguiu identificar.
Com a curiosidade martelando a mil em sua mente, e o frio fazendo doer as extremidades do corpo, seguiu a mulher pela porta de ferro preta com que se depararam no fim do beco. A porta se abriu com muito menos dificuldade do que fazia parecer, o calor de dentro do lugar tão acolhedor que mesmo que quisesse girar e ir embora a essa altura não teria coragem.
Quando seus olhos bateram no lugar, um loft, pelo o que podia tirar a primeira vista, e se deu conta do ambiente ao seu redor, um sorriso encantado se abriu em seu rosto.
- Infelizmente nós o perdemos por dois dias.
- Ele quem?
- O artista. – Dito isto, a mulher pegou em sua mão e começou a arrastá-lo para uma parte mais ao fundo da exposição, os passos apressados irritando-o profundamente agora havia visto o suficiente para querer continuar vendo.
Quadros e mais quadros passavam borrados por sua visão periférica, as belezas retratadas exigindo sua admiração e a mulher não diminuía seu ritmo o suficiente para devidamente aprecia-las. Quando finalmente ia protestar, Roxy parou abruptamente na frente de uma parede alta e branca, que se destacava completamente do restante do local cujas paredes ainda eram em tijolo vermelho.
O protesto morreu em sua garganta e seus olhos se fixaram a parede à sua frente.
Talvez outras pessoas no meu lugar tivessem reagido diferente. Talvez tivessem sentido diferente. Poderia até dizer que algumas pessoas teriam chorado, se emocionado, demandado explicação. Poderia dizer que algumas pessoas até teriam se irritado, teriam começado com aquele papo de espaço pessoal e imagem e o cassete a quatro. Acho que algumas pessoas até mesmo teriam qualquer coisa para dizer, mesmo que não servisse de absolutamente nada ou não significasse realmente nada. Talvez alguém só quisesse falar por falar. Nenhuma dessas pessoas era eu. Por que não estava falando nada, não queria falar nada, ou ouvir, não sentia que eu ia chorar ou que alguém me devia alguma explicação. Eu só queria ver. E foi o que eu fiz, sabe lá por quantas horas. Só olhei. Por que a minha frente estava em exata mesma medida a coisa mais assustadora e a mais linda que já me aconteceu. E tudo que eu sentia era nada.
Em uma deslumbrante demonstração de talento nato e genialidade técnica, estavam três retratos, três expressões praticamente opostas dentro da arte da pintura, três universos completamente diversos e perfeitos, absolutamente perfeitos em suas proposições. E em cada um deles, o rosto de em um ângulo diferente.
Expostos da esquerda para a direita, de cima para baixo, retratos monocromáticos em vermelho, cinza e azul.
No alto da parede, uma minúscula placa preta de letras brancas, reservada somente para os olhos mais atentos, lia;
Inspiração.
- , escuta, você pode dar um pulo hoje a noite no endereço que eu vou te mandar? É importante. É realmente importante. Oito horas. Esteja lá. Estranhando a mensagem enigmática, deu de ombros e voltou com o celular para dentro do casaco, apressando os passos no corredor vazio e xingando mentalmente por que nunca conseguia chegar na hora pra essa porra de matéria. A pequena corrida era meramente ilustrativa; a aula começara há mais de uma hora.
- Oi, babe – Roxy o recebeu com um abraço e um beijo na bochecha, os movimentos atravancados pelo frio cortante. Mesmo falar era difícil. – Que bom que você veio.
O vapor saia de sua boca mesmo protegida pelo cachecol, as dezenas de camadas que cobriam desde a ponta de sua cabeça à ponta de seus pés ainda assim não suficiente para parar os calafrios que estremeciam o corpo inteiro.
- Aonde a gente tá indo? – perguntou , seguindo a mulher pelo beco de tijolinhos vermelhos, os olhos traçados para o chão escorregadio.
- Você vai achar isso muito louco, mas eu prometo que achei por acaso.
Sem ter a menor ideia da parte da conversa que estava perdendo, levantou uma das sobrancelhas e estava prestes a perguntar quando Roxy o calou com um aceno de cabeça e um gesto que não conseguiu identificar.
Com a curiosidade martelando a mil em sua mente, e o frio fazendo doer as extremidades do corpo, seguiu a mulher pela porta de ferro preta com que se depararam no fim do beco. A porta se abriu com muito menos dificuldade do que fazia parecer, o calor de dentro do lugar tão acolhedor que mesmo que quisesse girar e ir embora a essa altura não teria coragem.
Quando seus olhos bateram no lugar, um loft, pelo o que podia tirar a primeira vista, e se deu conta do ambiente ao seu redor, um sorriso encantado se abriu em seu rosto.
- Infelizmente nós o perdemos por dois dias.
- Ele quem?
- O artista. – Dito isto, a mulher pegou em sua mão e começou a arrastá-lo para uma parte mais ao fundo da exposição, os passos apressados irritando-o profundamente agora havia visto o suficiente para querer continuar vendo.
Quadros e mais quadros passavam borrados por sua visão periférica, as belezas retratadas exigindo sua admiração e a mulher não diminuía seu ritmo o suficiente para devidamente aprecia-las. Quando finalmente ia protestar, Roxy parou abruptamente na frente de uma parede alta e branca, que se destacava completamente do restante do local cujas paredes ainda eram em tijolo vermelho.
O protesto morreu em sua garganta e seus olhos se fixaram a parede à sua frente.
Talvez outras pessoas no meu lugar tivessem reagido diferente. Talvez tivessem sentido diferente. Poderia até dizer que algumas pessoas teriam chorado, se emocionado, demandado explicação. Poderia dizer que algumas pessoas até teriam se irritado, teriam começado com aquele papo de espaço pessoal e imagem e o cassete a quatro. Acho que algumas pessoas até mesmo teriam qualquer coisa para dizer, mesmo que não servisse de absolutamente nada ou não significasse realmente nada. Talvez alguém só quisesse falar por falar. Nenhuma dessas pessoas era eu. Por que não estava falando nada, não queria falar nada, ou ouvir, não sentia que eu ia chorar ou que alguém me devia alguma explicação. Eu só queria ver. E foi o que eu fiz, sabe lá por quantas horas. Só olhei. Por que a minha frente estava em exata mesma medida a coisa mais assustadora e a mais linda que já me aconteceu. E tudo que eu sentia era nada.
Em uma deslumbrante demonstração de talento nato e genialidade técnica, estavam três retratos, três expressões praticamente opostas dentro da arte da pintura, três universos completamente diversos e perfeitos, absolutamente perfeitos em suas proposições. E em cada um deles, o rosto de em um ângulo diferente.
Expostos da esquerda para a direita, de cima para baixo, retratos monocromáticos em vermelho, cinza e azul.
No alto da parede, uma minúscula placa preta de letras brancas, reservada somente para os olhos mais atentos, lia;
FIM
Nota da autora:
Jana: Oi flores ♥
Lavi: Oi, oi, amorinhas, tudo bem com vocês?
Jana: Olha a tia Jana aqui de novo! o/ No meu primeiro ficstape, huhu
Mas não sei o que falar, espero que tenham gostado.
Lavi: Se ela não sabe, eu sei haha. Bem, essa foi uma fanfic MUITO diferente das minhas com as quais vocês estão acostumadas, certo? Isso aconteceu por causa de um incidente no ficstape Red. Porque depois de uma intensa troca de músicas, a Cah, me deixou ficar com a música, mas a That disse que ela já tinha dona, então, eu fui conversar com a Jana. E acabamos por escrever juntas. Para ser sincera, eu não sabia NADA sobre ela, quando começamos a escrever. Depois de alguns dias, eu descobri que ela era a autora de Something About You And I (e leiam, é uma ótima fanfic, estou gostando bastante), que ela gosta de canela (ECA!) e que ela é teimosa que nem uma mula! Hahaha
Jana: No caso, essa sou eu grin emoticon MAS EU POSSO EXPLICAR. Olha, essa fic, como eu avisei no começo, foi pensada única e exclusivamente no Lou - inspiração da minha vida - Tomlison. Tudo, do jeitinho que ele brinca, ao jeitinho que sorri e a forma que o sol para de brilhar só pra olhar pra ele... é a primeira fic em muito tempo (tipo, ANOS) com um personagem que não veio todo da minha cabeça e eu sei que vocês são ótimas e vão mega entender, né? É. Obrigada, próximo tópico.
Lavi: Já quanto a mim, eu me inspirei no Ad... (não posso citar nomes, não posso citar OUTROS nomes), mas como a Jana é chata, ela quer OBRIGAR vocês a ler com o Louis. Tipo, cara eu tenho que concordar que ele é perfeito pra fanfic, mas... Pela felicidade de todas, eu consegui deixar ele o mais interativo possível.
Jana: migas não sei o que vocês esperam que eu diga, eu queria mesmo que todo mundo lesse com ele. I'll take the blame!
Lavi: O que importa é que me diverti horrores escrevendo essa fanfic, eu me apaixonei pelo Louis, e odiei ele profundamente. A história passa por fases, então a maior parte do drama é dela...
Jana: No caso, é meu, mesmo. Por que gente, adoro um drama. Saudades, saudades que eu tava de fazer a bicha doer e se afogar nas lágrimas. Como é bom, Jesus, um boooooo pra essa coisa de gente feliz que só pula de felicidade. Me dá um angst, ME DÁ.
Lavi: Eu ajudei no romance e na comédia, já que drama não é a minha praia, não quando eu escrevo, pelo menos, porque na vida, não podemos dizer o mesmo.
Jana: Bem, todo mundo que me conhece sabe que eu sou praticamente uma novela mexicana então nem vou falar nada sobre isso. rs
Lavi: É isso, obrigada por ter lido até aqui, eu fico muito feliz e se gostaram deixem um comentário, que o principal vai aí te dar um beijo (?#?euchantageando?) – e você escolhe o sabor, porque canela não dá! hahaha
Jana: Canela sim! hahaha Mas sério, brincadeiras à parte, eu amei escrever essa história. Ela tem um pouquinho de cada coisa que eu gosto (MUITO DRAMA, AQUELA COISA DE MELECA SAINDO PELO NARIZ, O MUNDO ACABANDO, essa coisa toda) e, o mais importante, tudo a ver com a música da Taylor S, né? Foi uma experiência muito doida escrever com alguém... a gente escreve de um jeito muito diferente, mas nas ideias, amiga, nas ideias a coisa fluiu que foi uma beleza. Parece até que a gente se conhecia antes, né Lavi? hihi Adorei!
Lavi: [puxa meu saco - HAHAHAHAHAH] – Vou deixar esse parênteses aqui só pra elas verem que você queria me obrigar a fingir que gosto de você! HUMPFT! Hahhaha Mentira, gente, nós realmente escrevemos de maneira totalmente diferente (quem lê qualquer fanfic minha que o diga hahahah), mas o que importa é que tudo deu certo. No começo eu até me esforcei pra escrever parecido com ela, mas ai eu cansei, já que eu sabia que ela ia deixar parecido, e escrevi do meu jeito mesmo e deixei ela arrumar. Gente. Só quero deixar claro que somos de cidades diferentes, e eu me acabava de rir com as gírias dela, no texto hahahaha.
Jana: HAHAHAHAHA que maldita (o pior é que é sério, gente, eu bem falei isso mesmo! hahahha) E sim, ela riu mesmo das gírias! Que coisa!
Enfim, petals, espero muito que tenham gostado!
Comentem e deixem suas autoras Red de amor.
Lavi: “deixem suas autoras red de amor” – Eu ri disso. Sério. Nem eu estou acreditando que ri disso. Ei, meninas, eu juro que é a última coisa que eu falo. É que eu fiz uma capa que ficou muito a cara da nossa fanfic e quero mostrar ela para vocês:
http://i.imgur.com/iGf1Jeq.jpg (Ela é um mimo não é?)
Jana: (FICOU MUITO LINDA MESMO!)
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Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
Jana: Oi flores ♥
Lavi: Oi, oi, amorinhas, tudo bem com vocês?
Jana: Olha a tia Jana aqui de novo! o/ No meu primeiro ficstape, huhu
Mas não sei o que falar, espero que tenham gostado.
Lavi: Se ela não sabe, eu sei haha. Bem, essa foi uma fanfic MUITO diferente das minhas com as quais vocês estão acostumadas, certo? Isso aconteceu por causa de um incidente no ficstape Red. Porque depois de uma intensa troca de músicas, a Cah, me deixou ficar com a música, mas a That disse que ela já tinha dona, então, eu fui conversar com a Jana. E acabamos por escrever juntas. Para ser sincera, eu não sabia NADA sobre ela, quando começamos a escrever. Depois de alguns dias, eu descobri que ela era a autora de Something About You And I (e leiam, é uma ótima fanfic, estou gostando bastante), que ela gosta de canela (ECA!) e que ela é teimosa que nem uma mula! Hahaha
Jana: No caso, essa sou eu grin emoticon MAS EU POSSO EXPLICAR. Olha, essa fic, como eu avisei no começo, foi pensada única e exclusivamente no Lou - inspiração da minha vida - Tomlison. Tudo, do jeitinho que ele brinca, ao jeitinho que sorri e a forma que o sol para de brilhar só pra olhar pra ele... é a primeira fic em muito tempo (tipo, ANOS) com um personagem que não veio todo da minha cabeça e eu sei que vocês são ótimas e vão mega entender, né? É. Obrigada, próximo tópico.
Lavi: Já quanto a mim, eu me inspirei no Ad... (não posso citar nomes, não posso citar OUTROS nomes), mas como a Jana é chata, ela quer OBRIGAR vocês a ler com o Louis. Tipo, cara eu tenho que concordar que ele é perfeito pra fanfic, mas... Pela felicidade de todas, eu consegui deixar ele o mais interativo possível.
Jana: migas não sei o que vocês esperam que eu diga, eu queria mesmo que todo mundo lesse com ele. I'll take the blame!
Lavi: O que importa é que me diverti horrores escrevendo essa fanfic, eu me apaixonei pelo Louis, e odiei ele profundamente. A história passa por fases, então a maior parte do drama é dela...
Jana: No caso, é meu, mesmo. Por que gente, adoro um drama. Saudades, saudades que eu tava de fazer a bicha doer e se afogar nas lágrimas. Como é bom, Jesus, um boooooo pra essa coisa de gente feliz que só pula de felicidade. Me dá um angst, ME DÁ.
Lavi: Eu ajudei no romance e na comédia, já que drama não é a minha praia, não quando eu escrevo, pelo menos, porque na vida, não podemos dizer o mesmo.
Jana: Bem, todo mundo que me conhece sabe que eu sou praticamente uma novela mexicana então nem vou falar nada sobre isso. rs
Lavi: É isso, obrigada por ter lido até aqui, eu fico muito feliz e se gostaram deixem um comentário, que o principal vai aí te dar um beijo (?#?euchantageando?) – e você escolhe o sabor, porque canela não dá! hahaha
Jana: Canela sim! hahaha Mas sério, brincadeiras à parte, eu amei escrever essa história. Ela tem um pouquinho de cada coisa que eu gosto (MUITO DRAMA, AQUELA COISA DE MELECA SAINDO PELO NARIZ, O MUNDO ACABANDO, essa coisa toda) e, o mais importante, tudo a ver com a música da Taylor S, né? Foi uma experiência muito doida escrever com alguém... a gente escreve de um jeito muito diferente, mas nas ideias, amiga, nas ideias a coisa fluiu que foi uma beleza. Parece até que a gente se conhecia antes, né Lavi? hihi Adorei!
Lavi: [puxa meu saco - HAHAHAHAHAH] – Vou deixar esse parênteses aqui só pra elas verem que você queria me obrigar a fingir que gosto de você! HUMPFT! Hahhaha Mentira, gente, nós realmente escrevemos de maneira totalmente diferente (quem lê qualquer fanfic minha que o diga hahahah), mas o que importa é que tudo deu certo. No começo eu até me esforcei pra escrever parecido com ela, mas ai eu cansei, já que eu sabia que ela ia deixar parecido, e escrevi do meu jeito mesmo e deixei ela arrumar. Gente. Só quero deixar claro que somos de cidades diferentes, e eu me acabava de rir com as gírias dela, no texto hahahaha.
Jana: HAHAHAHAHA que maldita (o pior é que é sério, gente, eu bem falei isso mesmo! hahahha) E sim, ela riu mesmo das gírias! Que coisa!
Enfim, petals, espero muito que tenham gostado!
Comentem e deixem suas autoras Red de amor.
Lavi: “deixem suas autoras red de amor” – Eu ri disso. Sério. Nem eu estou acreditando que ri disso. Ei, meninas, eu juro que é a última coisa que eu falo. É que eu fiz uma capa que ficou muito a cara da nossa fanfic e quero mostrar ela para vocês:
http://i.imgur.com/iGf1Jeq.jpg (Ela é um mimo não é?)
Jana: (FICOU MUITO LINDA MESMO!)
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