Capítulo Único
nunca teve medo de se alistar. Sabia que esse momento, mais cedo ou mais tarde, chegaria. Todo homem coreano, em algum momento entre os dezoito e os vinte e oito anos de idade, precisava prestar serviços ao seu país. Era uma honra, na verdade.
As quatro primeiras semanas foram todas dedicadas ao treinamento militar básico, sendo essencialmente um processo de adaptação à nova rotina. Após o treinamento inicial, passou a ter rotinas de treinamentos mais intensos, apenas para promover o que ele já sabia desde o início do seu período no exército: ali dentro não havia espaço para tratamentos diferenciados quanto à origem de cada soldado. Independentemente de quem fosse — se um estudante que mal havia acabado de sair do ensino médio, se um promissor pesquisador do país, se um advogado ou médico, ou se um artista nacional e mundialmente conhecido — dentro do quartel general, todos eram tratados igualmente, sem distinção.
Era até reconfortante, para falar a verdade.
não tinha a preocupação de se esconder, de ocultar o rosto ou evitar multidões, porque ele sabia que, ali dentro, não havia motivos para isso. Ele não era famoso ali dentro. Não era , mas apenas o recruta 110 do 2º pelotão do batalhão Cavalo Branco, 9ª divisão, 3ª companhia.
— Atenção!
Todos pararam as atividades que estavam fazendo no momento da ordem.
Como aprendera no primeiro dia, logo se colocou em posição de respeito, as pernas juntas, o corpo ereto, o peito estufado, a mão levada próxima à cabeça, batendo continência.
— Descansar!
Relaxou o braço que antes estava erguido, levando ambas as mãos para trás do corpo.
— Devido à consulta médica que terão hoje, vocês serão dispensados das atividades mais cedo. Estão dispensados!
Ah, claro. quase havia se esquecido disso. Estava tão concentrado em terminar suas tarefas do dia, de modo a não se atrasar para o jantar como fizera no dia anterior, que nem mesmo se lembrava da avaliação médica mensal que todos os recrutas deveriam fazer com a equipe médica do exército. Ele já havia passado por uma avaliação antes de entrar, e depois passou por consultas periódicas semanais nas quatro primeiras semanas, durante o seu período de adaptação. Mas agora que o treinamento básico havia acabado, seu pelotão passaria a receber monitoramento mensal.
Pensou se deveria tomar uma ducha antes de ir até o centro médico ali perto, mas ao ver o número de recrutas que havia tido a mesma ideia que ele, decidiu que seria mais vantajoso ir à consulta médica primeiro e tomar banho depois. Não podia correr o risco de se atrasar e acabar perdendo o jantar, afinal de contas.
Poucos foram os soldados que tiveram a mesma ousadia de ir ao médico após um dia intenso de treinamento físico, embaixo do sol quente, sem tomar banho antes. Então não precisou esperar muito para ser chamado.
— Preencha essa ficha, por favor. — uma enfermeira pediu. — Pode se sentar ali enquanto espera ser chamado.
caminhou até onde ela apontou, ainda segurando a prancheta e a caneta, e então passou a responder às perguntas da ficha.
“Tem dormido quantas horas por noite?”
Cansado como ficava ao final do dia, tinha pegado o hábito de dormir todas as horas permitidas pelo exército.
“De 1 a 5, como considera a qualidade do seu sono?”
Ele dormia tão pesado e tão instantaneamente, que às vezes nem mesmo se lembrava de colocar o pijama. Anotou o número “5” em frente à pergunta.
“Tem tido muitos sonhos e/ou pesadelos?”
Se estava tendo, o rapaz não se lembrava.
Continuou respondendo às perguntas, as quais passaram a ser sobre a sua alimentação.
— Recruta 110.
Levantou a cabeça quando ouviu chamarem por ele.
Um médico o esperava do lado de fora de uma das cabines de consulta.
— Eu ainda não acabei de responder às perguntas, desculpe.
— Não se preocupe. — o médico o tranquilizou. — Você pode entregar a ficha à Dra. ao final da avaliação.
, que estava com a concentração voltada para o documento nas suas mãos, levantou o pescoço tão rápido, que sentiu estralar.
— Ela já vai atendê-lo. Aguarde um minuto, sim?
E então a cortina que separava as cabines do centro médico foi fechada.
Lá dentro, se perdeu, por um segundo, em pensamentos. Aquele nome… Ele conhecia aquele nome. Mas não poderia ser… Quer dizer, não poderia ser. Dentre todas as divisões do exército, seria coincidência demais se logo ela estivesse ali. Certo? Certo.
— Recruta 100, . Deu início às suas atividades junto ao exército há cinquenta e oito dias. Esta é a sua primeira avaliação médica desde que começou o treinamento militar?
Se estava paralisado com a pessoa parada à sua frente, Dra. não estava muito diferente dele. A mulher, contudo, foi quem tomou o choque de realidade primeiro, voltando para o presente. Adentrou na cabine, fechou a cortina atrás de si e então parou na frente dele.
— Olá, . Há quanto tempo.
tinha um sorriso leve nos lábios, sorriso este que não alcançou seus olhos.
se lembrava muito bem de como eram os sorrisos da namorada… Bem, da ex-namorada. E aquele, definitivamente, não era um dos seus favoritos.
estava tão ou mais surpresa que ele.
Não que o rapaz acreditasse que isso fosse possível, mas ele não podia ter certeza. Afinal de contas, sempre fora melhor que ele para esconder as reações, os sentimentos.
Ele não. não sabia mentir, não sabia esconder o que se passava na sua cabeça. E, naquele momento, ele só conseguia pensar em uma coisa:
— Não esperava encontrar você aqui.
soltou uma risadinha sem graça.
— Bem, isso está bastante óbvio pela sua reação.
Ele tentou se recompor, especialmente quando ouviram vozes vindas da cabine ao lado. Mas era impossível simplesmente fingir que aquele momento não estava acontecendo.
— Como você está?
sorriu de novo, dessa vez um sorriso terno, doce. Um sorriso que quase chegou a fazer seus olhos brilharem.
— Não estamos aqui para saber sobre mim, mas sim para saber como você está. — a mulher respondeu.
Ele chegou a abrir a boca para contestar a fala dela, mas foi mais rápida.
— Tire as botas e suba na balança, por favor.
Ele o fez sem questionar.
Em quase dois meses, havia ganhado dois quilos. A surpresa nos seus olhos foi logo percebida por .
— Não se preocupe. Esse peso, provavelmente, se deve ao ganho de massa muscular devido aos treinamentos. É comum que recrutas ganhem peso nos primeiros meses no exército.
concordou balançando a cabeça.
— Além disso, você deve estar se alimentando muitíssimo melhor aqui, não é? Longe das dietas malucas que costumava fazer quando tinha algum show ou iria gravar algum vídeo, quando tinha alguma entrevista ou compromisso em frente às câmeras.
Ele sentiu o tão familiar tom de censura na voz dela, já que sempre havia sido contra as restrições alimentares a que ele se submetia algumas vezes.
— Os cozinheiros do exército estão realmente de parabéns. — ele comentou.
E aquilo arrancou uma risadinha de . Ele acabou sorrindo junto. Quando foi a última vez que sorriram juntos, um para o outro?
— Tire a farda e se sente na maca, por favor.
Assim ele o fez. Deixou a parte de cima do uniforme em cima de uma cadeira e se sentou na ponta da cama, de pernas abertas, os pés sem alcançarem o chão. parou à sua frente.
Prender a respiração foi um gesto automático.
O perfume dela continuava o mesmo. pensou que todas as lembranças que tinha de não chegavam aos pés da real beleza da mulher.
Quer dizer, não era como se eles estivessem há muito tempo sem se ver. Seis meses não era muito tempo, certo? Então por que sentia o coração batendo em disparada com a simples aproximação dela?
O sentimento clichê de que seu coração batia tão alto e rápido que poderia até mesmo ser ouvido por outra pessoa tornou-se real quando aproximou o estetoscópio do peito dele. A médica franziu a testa por um instante, como se questionasse o motivo dos batimentos muito mais acelerados que o considerado normal para uma pessoa que não estava em movimento.
A compreensão, contudo, veio junto com um calor nas bochechas.
Apenas para cumprir o protocolo, perguntou se ele estava praticando algum exercício instantes antes de ir para o centro médico.
— Não. — ele respondeu. Estava terminando de arrumar os equipamentos do treino da tarde dentro das caixas. Apesar de ser cansativo, aquilo não lhe exigia tanto esforço assim.
balançou a cabeça em sinal de concordância. Soltou o estetoscópio e fez menção de pegar a ficha de , a mesma que carregava consigo no início da consulta, mas foi interrompida pelo soldado. Para a surpresa dela, ele segurou a mão da mulher, levando-a de volta ao peito dele, dessa vez sem que a médica estivesse segurando algum aparelho.
Ainda assim, conseguia sentir as batidas frenéticas — curiosamente, sentia que o próprio coração batia tão ou mais rápido que o dele.
Instantaneamente, ficou com calor. E por um segundo, esqueceu-se do motivo pelo qual estavam ali, na posição em que se encontravam. O que a trouxe de volta à realidade foi um corte profundo no braço de , próximo ao punho. A ferida estava aberta, mas não sangrava. Ainda assim, era recente.
Quebrando o contato visual que tinham feito, segurou o braço dele e o virou, de modo que pudesse olhar de perto.
— De quando é isso?
se assustou com a mudança repentina de atitude.
— Ah… Não lembro. Acho que de ontem. — buscou na memória, lembrando que havia se machucado enquanto ajudava um colega do pelotão a terminar o treinamento.
sentiu o corpo esquentar de novo. Precisou respirar fundo para controlar o tom de desagrado na voz.
— E não procurou a enfermaria por quê?
Mas é claro que ela não soube disfarçar muito bem. ficou surpreso com o tom ríspido.
— Não achei que fosse sério.
largou o braço dele e se afastou.
— Espera, você está brava comigo?
Em resposta, a médica bufou.
— Se tivesse procurado a enfermaria antes, talvez o ferimento não tivesse ficado sério mesmo. Agora o corte está inflamado, inchado e infeccionado. Você não pode voltar para o dormitório assim. Não saia daqui.
E como chegou, foi embora.
Nem mesmo se quisesse, ele poderia sair dali. Era como se estivesse com o corpo preso à maca. Nos poucos instantes em que esperou pelo retorno da mulher, um filme passou pela sua cabeça.
Cenas de quando estavam juntos como quando, por acidente, em um café, quando , na pressa de fazer o seu pedido e ir embora antes de ser reconhecido por alguma fã, esbarrou em e derrubou não apenas os livros que ela carregava, mas também o café dela.
— Oh, me desculpe. Vou comprar outro para você. — disse enquanto deixava o próprio copo de lado e se abaixava para ajudá-la a recolher o material.
— Não se preocupe, a culpa foi minha, eu estava distraída.
— Não, não, a culpa foi toda minha. Eu insisto.
parecia irredutível, mas não deixaria a mulher ir embora sem que ele tivesse a chance de se redimir.
E então, um café de desculpas acabou rendendo uma longa noite de conversa, a qual foi apenas a primeira das muitas vezes que eles se encontrariam.
voltou com uma caixinha de primeiros socorros em mãos. Fechou a cortina da cabine, deixou a caixinha em uma mesa próxima à maca e, durante todo o preparo dos utensílios, manteve-se de costas para , que se contorcia de um lado para o outro para tentar enxergar o que ela estava fazendo.
Foi surpreendido ao ser pego no flagra tentando espiar a médica quando ela ficou de frente para ele de novo.
— Vamos ter que dar alguns pontos. Vou limpar o ferimento antes, talvez arda um pouco.
Aquela não seria a primeira vez que cuidaria de , contudo.
Lembrava-se da vez que participou de um programa de televisão, o qual as gravações ocorreram em uma fazenda. No final do dia, estava com parte do corpo queimado pelo sol quente e com um belo ralado no joelho.
— Isso que dá ficar usando calça rasgada. — ela disse enquanto limpava o machucado.
— Outch! — reclamou. — É o meu estilo.
rolou os olhos.
— O seu estilo lhe rendeu um ralado que vai arder até para tomar banho pelos próximos dias.
— Ainda bem que tenho você para cuidar de mim.
estava soprando o remédio que passara. Olhou para cima e viu o namorado sorrindo para ela.
— Você não toma jeito mesmo, né?
soltou uma risada gostosa, divertida, e puxou a mulher para cima, colocando-a sentada no seu colo. Aproximou-se para a beijar, mas assim que levou as mãos para o rosto dele, o rapaz reclamou de dor.
— Oh, desculpe! Esqueci que namoro uma criança que precisa ser lembrada a cada meia hora de passar o protetor solar. — disse em um tom meio de brincadeira, meio de censura.
Levantou-se e puxou o namorado consigo, reclamando de ter que dobrar o joelho ralado. O conduziu até o banheiro para que pudesse lavar o rosto dele e então passar gel pós-Sol.
Naquele final de semana, foi mimado e cuidado pela namorada, que rolava os olhos para cada dramatização exagerada que ele fazia, mas, ao mesmo tempo, não deixava de se divertir. Eles sempre se divertiam juntos, afinal de contas.
sabia ser cuidadosa, tinha a mão leve para tratar dos pacientes, aquilo era um fato. Mas quando queria, também sabia não ser tão cuidadosa.
— Outch!
Já era a terceira vez que reclamava pela ardência do medicamento que usava nele. A médica, contudo, parecia impassível com a dor dele. Sequer levantou o olhar em qualquer uma das vezes que reclamou.
— Você, hm… Está brava comigo ou algo assim?
Ele pensou que poderia ter assinado a sua sentença de morte ao finalizar a pergunta, já que , com os olhos cerrados, levantou o corpo, ficando na altura dele, que permanecia sentado na maca. Jogando no lixo o algodão encharcado de remédio, perguntou:
— Por que eu estaria?
Voltou-se para a caixinha de primeiros socorros e então, com a atenção presa em , passou a realizar a sutura.
— Não sei, você parece brava.
não respondeu de imediato, mas ele percebeu que os toques da mulher passaram a ser leves e mais delicados.
— Não sei porque ainda me surpreendo com a sua falta de cuidado.
— Foi um acidente, sabe…
— Você deveria ter vindo procurar ajuda imediatamente. — o interrompeu.
E então ele entendeu. não estava brava com ele. Estava preocupada.
E se ele não estivesse enganado, talvez a preocupação de fosse além da dispendida naturalmente em uma relação entre médico e paciente. Porque estava preocupada com ele. Com , não com o recruta 110.
Constatar aquilo o pegou em cheio.
— Não deixe coberto o tempo todo. Você precisa lavar com água e sabonete e passar o medicamento que vou receitar. Em uma semana, você pode voltar aqui para tirarmos os pontos.
esperou que a médica jogasse as luvas no lixo para repetir o ato de mais cedo. Pegou a mão dela e a trouxe para próximo dele. E, como mais cedo, foi pega desprevenida.
— Como você está? — ele repetiu a primeira pergunta que fez para ela naquele dia. — Não a vejo desde…
— Desde o aniversário de . — ela completou. E com um sorriso triste, respondeu. — Eu estou bem, obrigada por perguntar.
Foi a vez dele de dar um leve sorriso. estava tomado por uma vontade absurda de perguntar mais, queria saber mais dela.
O que tinha feito desde que se separaram, se estava feliz no novo emprego, se havia conseguido se mudar do antigo apartamento em que dividia com a irmã… queria saber tudo sobre .
Deus… Era bastante óbvio que o rapaz ainda sentia falta da mulher — os sonhos que, vez ou outra, tinha com ela, eram prova viva disso — mas vê-la tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante, tão fechada, como se existisse uma barreira invisível entre eles, apenas servia para confirmar, mais uma vez, o quanto odiava o fato de não estar mais ao lado dela todos os dias. Odiava a ideia de terem terminado. Odiava, ainda mais, o motivo que os levou a se separar.
Sem que se desse conta, começou a acariciar a mão dela. Surpreendendo a ele, e talvez até mesmo ela própria, não se afastou, pelo contrário. Imersa no que parecia ser um mundinho criado apenas para eles dois, sentia como se os últimos meses não tivessem existido, porque a proximidade com era natural, era a coisa certa a ser feita.
Por outro lado, a mulher sentia a pele arrepiada com o simples toque, a pouca aproximação, o coração batendo em disparada, ansiosa para o próximo passo. sabia o que viria a seguir. Ficara com ele tempo suficiente para saber o que esperar de .
Mas a expectativa de ambos foi frustrada com o som da cortina se abrindo e, do lado de fora da cabine, o mesmo médico que levou até lá.
— Dra. , precisamos de ajuda na cabine sete. Ah… Está tudo bem por aqui?
ainda estava sentado na maca, provavelmente com uma cara alarmada pela interrupção. Mas não chegava perto da expressão de completo pânico de , que jogou o corpo o mais longe possível do recruta — o que, levando em conta as dimensões da cabine, era, mais ou menos, meio metro de distância.
— Está sim. O que aconteceu na cabine sete?
— Um recruta novo. Aparentemente distendeu o músculo da perna em alguma atividade, não entendi direito o que ele falava, já que está chorando.
— Ah, sim. Já estou indo.
— Precisa que eu termine o atendimento aqui? — ele ofereceu apontando para que parecia estar sendo ignorado pelos médicos.
— Eu já terminei, obrigada.
O médico agradeceu e se retirou, fechando a cortina atrás de si.
voltou a arrumar suas coisas, pronta para sair dali o mais rápido possível, quando parou atrás dela. Estava tão próximo que tinha certeza que se virasse para olhá-lo, os rostos ficariam colados.
— Está dispensado.
E ignorando completamente a fala dela, perguntou:
— Quando vou te ver de novo?
respirou fundo.
— Na próxima avaliação mensal, talvez. Não sei. Depende do médico que estiver disponível para te atender.
— … — segurou o braço dela e a virou pra ele lentamente.
A mulher não demonstrou resistência.
— Não sei quando vamos nos ver de novo, . Eu trabalho no centro médico do exército, então acredito que só vamos nos encontrar quando você voltar a colocar os pés aqui.
Ele pensou rápido. Fazia sentido o que ela havia dito. Não era como se ele pudesse deixar seu posto a qualquer hora do dia para encontrá-la em algum lugar secreto, longe dos olhos curiosos do público e de seus fãs. Mas não tinha fãs lá dentro, ele tinha superiores, muitos deles. O que era um milhão de vezes mais assustador do que a ideia de ser descoberto por algumas adolescentes admiradoras dele.
Mas então uma ideia lhe ocorreu.
Levantou o braço na altura dos olhos de .
— O quê? — ela perguntou.
— E isso aqui? — apontou para o curativo feito pela médica.
— Ah, sim. Pode voltar em uma semana para tirar os pontos…
— Não, digo, quem vai cuidar disso para mim?
estreitou os olhos.
— Você vai. Com água e sabonete, na hora do banho. E depois vai secar muito bem com uma toalha macia e passar o remédio que vou te receitar.
balançou a cabeça de um lado para o outro, firme.
— Não posso.
— Como é?
— Não posso fazer isso sozinho. Preciso de ajuda.
soltou uma risada surpresa.
— , o que você…
— Posso vir aqui todos os dias para receber cuidados médicos?
, então, soltou uma risada mais alta.
— Você não precisa de cuidados médicos.
— Mas eu quero. Quero que você cuide de mim. Você é médica do meu pelotão, não é? Não pode se recusar a me oferecer tratamento.
A mulher sentiu o queixo cair com a audácia. E se sentindo muitíssimo mais confiante, pois sabia que havia ganhado ao menos aquela batalha, prosseguiu.
— Quando posso voltar?
ainda levou alguns minutos para responder. É claro que tinha a resposta na ponta da língua, a resposta que ele, definitivamente, não queria ouvir, já que ela não era obrigada a sustentar os caprichos de soldado nenhum lá dentro.
Mas o que ela disse, na verdade, foi:
— Amanhã, no final do dia, depois do seu treinamento. Antes do jantar.
E com um sorriso satisfeito nos lábios, pegou seu uniforme, vestiu-o e calçou as botas sem amarrá-las.
— Até amanhã, doutora.
Ele estava ansioso por isso. Talvez só não estivesse mais ansioso do que ela.
~✶~
— Feche os olhos.
— Por quê? — perguntou desconfiada.
— É uma surpresa.
A mulher soltou uma risada nervosa.
— Não gosto de surpresas.
Foi a vez dele rir.
— Não tem como você saber de tudo o tempo todo. — respondeu. — Fecha logo, vai.
o fez. O rapaz pegou a mão dela, deixando a palma virada para cima. Ali, colocou uma caixinha com a textura de veludo.
— Pode abrir os olhos.
— O que é isso? Vai me pedir em casamento, ?
Ele começou a rir de novo, sentindo as bochechas corarem.
— Ainda não. — respondeu.
não deixou passar despercebido o “ainda” na resposta dele.
pegou a caixinha da mão da mulher e a abriu. Lá de dentro tirou uma correntinha. Na corrente, um anel pendurado. Na verdade, uma aliança.
— É uma aliança de compromisso. — ele explicou.
Mostrou a mão direita dele. tinha o hábito de usar vários anéis de prata nos dedos, dizia que era “parte do seu estilo” como artista. Mas percebeu que ali, no dedo anelar, havia um novo. Na realidade, tratava-se de uma aliança igual à que estava presa na correntinha que ele entregara para ela.
— Sei que você não é do tipo que curte usar muitos acessórios no dia a dia, mas, bem… É um presente. Você não precisa usar se não quiser.
sorriu largamente. Não estava esperando por aquilo.
e ela estavam juntos há alguns meses, era bem verdade. E o rapaz não perdia uma oportunidade de surpreendê-la em frente ao hospital em que trabalhava, no final de um dia de trabalho, ou com um jantar caseiro da única iguaria que ele sabia cozinhar. Então a mulher tinha realmente gostado daquele presente.
— Coloca em mim? — pediu. Estavam no carro do rapaz, então se virou no banco, puxando os cabelos para o lado.
Logo em seguida, a aliança estava pendurada sobre o seu peito.
Ele elevou a mão, de modo que ambas as alianças ficassem uma do lado da outra.
— Ninguém vai saber o que esse anel novo significa. — ele soltou uma risadinha.
tentou o acompanhar, mas não viu graça na fala dele. Porque, de fato, ninguém saberia o que aquele anel a mais na mão dele significava. Até porque esse era o objetivo — ninguém podia saber da existência do relacionamento deles. Seria um desastre para a carreira de se as revistas de fofoca descobrissem que o astro tinha uma namorada secreta.
, que sempre foi boa em esconder emoções e disfarçar o que sentia, precisou se esforçar para mudar a expressão instantaneamente, o que não passou despercebido pelo namorado.
segurou a mão dela e levou até os lábios, deixando um beijo singelo ali.
— Desculpe.
Ela chacoalhou a cabeça.
— Está tudo bem. — respondeu.
Mas não estava, e ele sabia disso.
, então, segurou o rosto do namorado e lhe deu um beijo rápido nos lábios.
— Eu adorei. Obrigada por isso. — disse sincera.
Ele sorriu.
— Agora vamos logo, estou morrendo de fome e não podemos correr o risco de perdermos a nossa reserva.
— Sim, senhora!
Eles voltaram para as posições de antes, colocaram o cinto de segurança e ligou o carro, partindo para um dos poucos restaurantes que ofereciam área privativa, de modo que o casal não fosse incomodado, tampouco reconhecido.
O recruta estava no centro médico, sentado em um dos bancos da recepção, enquanto aguardava ser chamado. Um enfermeiro passou por ele, distraído, lendo algum documento importante, quando a imagem de lhe chamou a atenção. Olhou para o recruta com os olhos cerrados.
— Você por aqui de novo?
fez cara de culpado.
Por sorte, apareceu exatamente naquele momento para salvá-lo da vergonha de ter que inventar desculpa. Mais uma desculpa, exatamente como nos dias anteriores.
— Vou atender desse aqui, não se preocupe. — a médica disse. — Me acompanhe, soldado, por favor.
a seguiu até uma cabine no final do corredor.
Há uma semana o rapaz ia lá todos os dias apenas para que trocasse o curativo dele, curativo este que ele próprio poderia fazer do conforto do seu dormitório.
A verdade era que queria uma desculpa diária para se encontrar com a mulher, e o ferimento no seu braço acabou vindo a calhar. Nenhum dos dois comentava sobre o seu reencontro inesperado ou sobre o passado não tão distante que compartilharam, mas era bem óbvio que ambos estavam aproveitando aqueles dias, cada um à sua própria maneira.
De alguma forma, e , em um acordo silencioso, tinham encontrado uma forma de se reconectar. Era como se o tempo nunca tivesse passado e os assuntos entre eles estivessem resolvidos.
poderia até mesmo dizer que nada havia mudado entre eles, se não fossem os toques receosos por parte de , na tentativa dela em se manter afastada, ao tempo em que ele próprio precisava se esforçar para encontrar os olhos da mulher.
— Vai doer um pouquinho. — ela disse antes de começar a tirar os pontos.
— Eu sou forte. — respondeu. E como se para provar o que dissera, levantou o braço, fazendo força para mostrar o músculo ali.
Ela soltou uma risadinha.
— Além de estar trabalhando e treinando muito, também estou me alimentando muitíssimo bem. — ele garantiu.
ergueu as sobrancelhas.
— A sua médica fica muito feliz em saber disso.
balançou a cabeça, recordando-se das broncas que levava dela quando ainda namoravam, nas vezes em que o rapaz precisava começar alguma dieta restritiva para perder peso rápido por conta de algum show ou algum evento público. ficava maluca cada vez que se recusava a ter uma refeição com ela, mesmo estando na cara que o rapaz estava com fome. Ali no exército, ele não tinha motivos para fazer dietas, pelo contrário.
— E você, fica feliz em saber que estou me alimentando bem?
olhou para ele, tombando o pescoço para o lado.
— Eu sou a sua médica.
deu um sorrisinho de lado.
— Devo te chamar de doutora, então?
— Bem, isso é óbvio. Você deveria estar fazendo isso desde o primeiro dia.
Os dois soltaram uma risada leve ao final da frase da mulher, que só foi interrompida por uma exclamação de dor vinda dele.
— Acabei. — mostrou o último ponto que tirou. — Novinho em folha.
olhou para onde havia se formado uma cicatriz pequena e quase imperceptível.
— Obrigado. Quando devo retornar?
hesitou por um instante antes de responder.
— Na próxima avaliação médica. No final do mês.
Aquilo o pegou de surpresa. Como assim seus encontros diários iriam acabar? Tinham criado um hábito, uma rotina. Eles tinham acabado de se encontrar. Como poderiam, simplesmente, ter que parar de se ver de novo quando demoraram tanto tempo para se reencontrar?
— …
— Você já está pronto para voltar ao seu treinamento, e só deverá voltar ao centro médico se necessário. — ela o interrompeu.
A médica tinha o rosto singelo, sem expressar nenhuma reação. Ela era boa nisso, mas ele não. E a decepção dele estava estampada no seu rosto.
— Estou orgulhosa de você, , e do trabalho que vem realizando. Não apenas aqui no exército, mas lá fora também. Mesmo depois que terminamos, nunca deixei de acompanhar os seus trabalhos.
Ele deu um passo para frente. Foi instintivo, queria se aproximar dela. Mas deu um passo para trás.
— Não estou pronto para não te ver todos os dias, .
— Você estava bem antes.
Ele chacoalhou a cabeça.
— Isso foi antes de saber que você está aqui.
E sendo sincero consigo mesmo, chegou à conclusão de que ele estava ao contrário de bem, e só depois de revê-la que percebeu isso. Segurou a mão dela. não se afastou.
— E como ficamos agora?
— O que quer dizer?
— Eu e você. Como ficamos agora?
Ela respirou fundo.
— Eu sou médica do seu pelotão, . E você é um soldado, um recruta. É assim que ficamos.
O rapaz franziu a testa.
— Simples assim?
Ela deu de ombros.
— Nunca é simples.
E aquilo o pegou em cheio. Foi como se estivesse revivendo cenas do seu passado, cenas que ele preferia esquecer, de quando a história de e chegou ao fim. Sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.
Naquele momento, várias vozes de homens tomaram o ambiente.
— Hoje é a avaliação mensal do 6º pelotão. — ela explicou.
O olhar dele era como se estivesse perdendo alguém especial. E, bem, ele estava. Pela segunda vez.
— Isso não significa que não vamos mais nos ver. Vou sempre estar aqui para quando você precisar. — ela disse.
Mas ele sabia que a simples expectativa de talvez encontrá-la uma vez ao final de cada mês, não seria suficiente.
~✶~
estava sentado na cama, com as costas encostadas na cabeceira. Tinha uma toalha pendurada no pescoço, apenas um hábito que não havia perdido, mesmo sabendo que não tinha mais os longos fios para secar após o banho. Como estava no seu tempo livre, pegou o celular para tentar se distrair. A conversa que tivera na parte da manhã com não saía da sua cabeça.
A verdade era que não deixava seus pensamentos. Mesmo quando tentava, a mulher estava ali.
Saiu da clínica médica se questionando se era o único com os pensamentos em desordem desde que se reencontraram, se era o único que não conseguia deixar de pensar neles dois, mas suas dúvidas foram dissolvidas quando a pegou no flagra naquela tarde.
Enquanto passava por um dos seus treinamentos, uma corrida pelo perímetro da sede do exército, passou perto da clínica. Qual não foi sua surpresa ao se deparar com o encarando da janela, acompanhando seus movimentos? Obviamente que, ao ser descoberta, a mulher logo tratou de voltar para dentro da clínica, sumindo da visão de . Mas aquilo o fez pensar que talvez apenas estivesse se esforçando para não se entregar da forma como ele queria.
Porque sim, queria se entregar a ela. A eles.
Os encontros que tiveram ao longo da semana, ainda que rápidos demais para o seu gosto, eram a prova de que a mulher também sentia falta dele. Os toques, as peles arrepiadas, as risadas, as bochechas coradas… Por mais reservada que fosse, por mais que fosse boa em se esconder, a conhecia. Como ele estava mexido, ela também estava.
Pegou o celular e passou a mexer nas redes sociais. Foi direto para a conta de , um vício que ele havia se obrigado a deixar de ter seis meses atrás, quando a viu sair da sua vida, mas que, devido às circunstâncias em que se encontrava, permitiu-se dar uma espiadinha.
Ela havia acabado de postar uma foto. “Fim de expediente”, era o que estava escrito embaixo. A foto tinha sido postada há cinco minutos, e aquilo significava que ela ainda estava ali, na sede do exército. Há poucos metros dele. Longe, mas perto.
Pensou em como ficou surpreso por encontrá-la logo ali. Quem poderia imaginar?
Quando terminaram, meses atrás, trabalhava em um hospital particular da cidade. Agora, estava em um centro médico militar. O mesmo centro médico que prestava cuidados para ele. Que calhou, de alguma forma, de ir para aquela sede do exército coreano.
reencontrou no lugar mais improvável de todo o mundo. Aquilo não podia ser só uma coincidência. Ele precisava acreditar que era mais. Uma segunda chance, talvez? E, se o fosse, ele precisaria aproveitar, certo?
Tomado por uma onda de coragem, jogou o celular na cama e partiu para fora do dormitório. Talvez ainda encontrasse pelo local, talvez ela não tivesse ido embora. Talvez, só talvez, ele estivesse com sorte.
precisava fazer as coisas darem certo daquela vez, ele queria isso. Queria agir certo, queria uma nova chance. Queria fazer enxergar a possibilidade como ele a enxergava.
Ansioso, acelerou os passos.
Em sua corrida até o centro médico, que seria o primeiro lugar em que procuraria pela mulher, sentiu o peito apertar com as últimas lembranças que tinha de . Suas últimas palavras para ele. A última atitude que ele teve com relação à mulher que amava.
— Onde ela está?
havia acabado de chegar na casa do amigo, onde uma festa, para poucas pessoas, acontecia. já o esperava do lado da porta, conforme haviam conversado minutos antes pelo telefone.
— Está no quarto de visitas.
— Certo, obrigado. — fez menção de seguir o caminho indicado pelo aniversariante da noite, mas foi parado por ele.
— Ei… Vocês estão bem?
Respirou fundo e deu um sorriso triste, nada confiante.
— Nós vamos ficar. Sempre ficamos, não é?
Mas enquanto subia as escadas que levavam para o segundo andar e caminhava até o quarto de hóspedes, o rapaz se questionou até que ponto acreditava nas próprias palavras.
Quer dizer, era bem verdade que ele e já haviam passado por momentos como aquele antes, mas cada vez que precisava se esconder, correr para longe dele, fugir de algum lugar para não ser reconhecida por fotógrafos, ou mesmo fãs dele, sentia que perdia uma parte dela.
nunca falava sobre não poder comparecer a eventos públicos com o namorado, tampouco reclamava por ele mentir em entrevistas quando perguntado se seu coração tinha dona. Mas aquele dia tinha sido diferente dos outros.
O casal estava no shopping, comprando o presente de aniversário de , quando foi reconhecido. se afastou alguns passos, automaticamente, como costumava fazer para não chamar atenção. Mas algumas pessoas perceberam e questionaram quem seria aquela mulher que o acompanhava
— Ahn? — ele respondeu. — Não faço ideia. Acho que apenas nos esbarramos nessa loja.
percebeu na hora o quão dolorido tinha sido para ouvir aquelas palavras.
Por trás das câmeras, eles eram melhores amigos, amantes, um casal completamente apaixonado, quase perfeito. Na frente delas, precisavam se passar por desconhecidos.
Depois do ocorrido, foi embora, mandando uma mensagem ao rapaz, indicando que iria na frente e que, para não correrem o risco de serem vistos juntos de novo, deveriam ir para a casa de em carros separados.
O casal já havia feito isso em outras ocasiões, mas, de novo… Naquele dia as coisas tinham sido diferentes. Mais intensas. Mais doloridas.
Bateu na porta antes de entrar.
estava parada em frente à janela, observando o movimento do lado de fora. morava em um prédio relativamente distante do centro da cidade, no vigésimo segundo andar, o que lhe proporcionava uma visão ampla de toda a cidade envolta.
A mulher estava absorta demais, nem mesmo ouviu quando entrou no quarto. Só se deu conta da presença do namorado quando ele se aproximou, abraçando-a por trás. Apesar de ela não ter se afastado dele, também não o abraçou de volta, e aquilo também foi diferente.
Ele não sabia o que falar. Pedir desculpas era o que costumava fazer nessas situações. No começo, prometia que aquilo não iria se repetir, mas então parou quando percebeu que só estaria mentindo para .
Mas naquela noite ele não queria falar nada. Porque nenhuma palavra seria suficiente para expressar tudo o que ele estava sentindo.
Foi quem quebrou o silêncio, contudo.
— Como você está?
— Estou bem. — garantiu. — E você?
Ela não respondeu. Respirou fundo e virou-se para o namorado, e então soube porque estava com aquele sentimento de incômodo no peito. Os acontecimentos daquela noite, de fato, haviam mudado alguma coisa entre eles.
— Eu não consigo mais.
E por mais que ele tivesse entendido cada uma das palavras dela, recusou-se a entender o que significavam.
— O que quer dizer?
— Quero dizer… Que não acho que possamos continuar dando certo. Não, eu sei que já não estamos dando certo há algum tempo.
tinha tantas perguntas em mente. Tantas frases prontas, apenas para convencê-la ou, ao menos, tentar convencê-la de que eles eram o certo. Eles juntos eram certos. Eram certos um para o outro. Sempre foi assim e sempre seria.
— O que mudou? — ele perguntou.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de , mas a mulher logo tratou de a secar com a manga da camisa.
— Nada mudou, e é exatamente por isso que não acho que devemos continuar juntos.
— …
— E eu não me refiro apenas aos acontecimentos como o de hoje mais cedo. Eu falo de tudo. Falo de nós dois, falo de mim e também de você. Sinto como se nós não estivéssemos evoluindo para lugar nenhum, como se estivéssemos estagnados em uma relação que já nem sabemos se tem futuro.
Ele engoliu em seco. Por que estava em silêncio? Por que não estava reagindo, rebatendo as palavras dela? via um futuro lindíssimo ao lado de , então por que não falava isso para a mulher?
E em vez de se posicionar e convencê-la a ficar — porque sim, por mais que estivesse dizendo querer terminar, a mulher poderia ser facilmente convencida do contrário se ele se esforçasse minimamente — perguntou o que acabaria sendo sua última fala para ela:
— Simples assim?
deu um sorriso triste enquanto a segunda e última lágrima da noite escorria.
— Nunca é simples.
não deixaria a história se repetir. Quer dizer, sabia dos desafios que enfrentariam quando começaram a se relacionar. Esse não tinha sido o motivo do término deles. O motivo, a verdadeira causa de não estarem mais juntos, foi o fato de ter se mostrado inerte quanto ao desgaste da relação deles, a cada situação desconfortável em que eram colocados, especialmente .
demorou bastante tempo para perceber, e quando finalmente tomou consciência das suas ações, ou da falta delas, já era tarde demais. E ele não iria deixar que aquilo acontecesse de novo, não quando ele acabou de receber uma segunda chance para fazer diferente.
estava conversando com uma colega, também da ala médica, próxima ao refeitório da base. Já havia passado da hora dos soldados se recolherem, o que significava que a equipe médica, provavelmente, já deveria estar indo embora também.
Quem notou a sua presença foi a colega de .
— Oh, podemos te ajudar?
olhou para ele. Sem conseguir esconder a surpresa por encontrá-lo àquele horário, sem usar as vestes camufladas, a mulher mal pôde se conter ao analisar o corpo do rapaz, que usava tão somente uma camiseta branca e uma calça de moletom.
, por outro lado, precisou pensar rápido em uma desculpa. Não esperava encontrar com outra pessoa, e não esperava ter que inventar um motivo para falar a sós com ela.
— Hm… Gostaria de falar com a doutora .
— O que aconteceu? — ela perguntou.
Pense, pense…
— Meu… Meu braço. Está doendo muito, no local onde estavam os pontos.
cerrou os olhos, não comprando nem por um segundo aquela desculpa esfarrapada. realmente era a pior pessoa do mundo para contar mentiras. Mas Cyntia, sua colega de profissão, não parecia pensar como ela.
— É mesmo? Que estranho. O turno da doutora já acabou. Quem vai ficar na ala médica hoje à noite sou eu. Posso atendê-lo–
— Não será necessário, Cyntia. Eu posso cuidar disso. — a interrompeu.
— Tem certeza? Porque eu posso–
— Tenho sim, não se preocupe. Pode me acompanhar, soldado?
E sem esperar por uma resposta dele, seguiu, a passos firmes, de volta para a clínica médica. Caminhou até a última cabine de avaliações e ali entrou. chegou logo depois dela, fechando a cortina atrás de si para garantir que teriam um mínimo de privacidade.
estava de costas para ele, os braços cruzados na frente do corpo. E quando se virou, manteve a mesma posição defensiva.
— E então, aconteceu alguma coisa?
— Meu braço está bem. — ele respondeu.
— Eu sei.
Ficaram em silêncio apenas por um segundo, que foi quebrado por que começou a rir. Uma risada baixinha, discreta, mas que acabou se transformando em algo maior quando passou a rir junto dela — ele, de nervoso.
— Você nunca foi bom em inventar mentiras.
— Então, como você sabe disso, vai acreditar em mim quando eu disser que realmente senti sua falta, que ainda sinto todos os dias, e que não quero mais me sentir assim?
A mulher parou de rir na hora. Engoliu em seco enquanto pensava em uma resposta para o que acabara de ouvir.
— , o que você está dizendo?
— Estou dizendo o que deveria ter dito meses atrás. O que deveria ter dito todos os dias em que tive você ao meu lado, mas não o fiz.
Deu alguns passos para frente, aproximando-se dela, segurando suas mãos.
— , eu te amo. E isso é tão óbvio que chega a ser ridículo o fato de eu ter deixado as coisas chegarem a esse ponto.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não estou entendendo onde você quer chegar.
— , diga que não sente minha falta e que não sente falta da gente.
Ela apertou os lábios.
— Diga, honestamente, que esse reencontro não é a oportunidade perfeita para fazermos diferente do que fizemos antes.
sentiu o ar faltar. A intensidade das palavras dele a pegou desprevenida.
— …
— Na verdade, você não precisa dizer nada. Seus olhos já dizem tudo o que eu precisava saber.
Porque se era o tipo de pessoa que se fechava em si mesma e não colocava em palavras suas emoções, em contrapartida, a mulher se comunicava com o restante do corpo. E, naquele momento, sem perceber, apertava as mãos de , ao mesmo tempo em que sentia as bochechas corarem, exatamente porque o rapaz a olhava tão profundamente… E seus olhos brilhavam. irradiava expectativa.
Estavam tão próximos, que as respirações se confundiam. E quando deu por si, estava nos braços dele.
O beijo tinha gosto de saudade e, mais do que isso, de alívio. Alívio por, finalmente, estar abraçando-o e sendo apertada por ele. a puxou para si, colando os corpos, mas o empurrou, de modo que o rapaz ficasse encurralado entre a médica e a maca. E o único motivo pelo qual cortou o beijo, não foi pela falta de ar nos pulmões — detalhe este que mal dava importância —, mas porque sentiu a blusa levantar e a mão dele lhe acariciar as costas por debaixo do tecido.
Um segundo a mais naquele ritmo e ela tinha certeza de que não teria forças para parar . A visão dos lábios vermelhos dele, contudo, quase a fez mudar de ideia.
— Confesso que não estava esperando por isso. — ele disse com a voz rouca. Arrancando uma risadinha dela, explicou. — Não que eu não quisesse. Mas achei que fosse ser um pouco mais difícil te convencer.
levou as mãos à cabeça dele, onde outrora costumava enroscar os dedos nos fios de cabelo.
— Você ficou muito, muito gostoso de cabelo raspado.
E por aquela fala ser totalmente imprevisível, foi a vez dele soltar uma risada alta, divertida, leve. Mas só até o repreender, dizendo que poderiam ser descobertos. A risada de foi diminuindo até parar. deixou o sorriso sumir, dando lugar a uma expressão pensativa.
— Você está em dúvida?
— Sobre o quê? — ela perguntou.
— Sobre a minha proposta.
A mulher tombou a cabeça para o lado.
— Mas você não me fez proposta nenhuma.
Ele parou para pensar por um segundo. De fato, não tinha feito proposta alguma a ela. E nem tinha falado para metade do que queria.
Com o braço envolta da cintura dela, puxou a mão de , entrelaçou seus dedos e trouxe para junto do seu peito.
— Há algo entre nós. — ele disse. não questionou, porque não havia o que contestar. — E eu adoro isso. Eu amo a forma com que você faz eu me sentir. Os últimos meses foram os piores da minha vida e eu não quero continuar vivendo aqueles dias.
Ela respirou fundo. Pensou com cautela nas palavras que usaria, não queria ser mal interpretada.
— , nós tentamos uma vez e não deu certo. — e antes que ele a interrompesse, continuou. — Digo que não deu certo porque nosso relacionamento chegou ao fim. E sim, foi dolorido, muito. Você não foi o único que se sentiu mal nos últimos meses. Eu só não quero passar por isso de novo.
prestava atenção em cada uma das palavras dela, era importante saber como se sentia.
— , o que o seu coração diz? Porque eu me sinto em uma montanha-russa, para cima e para baixo. Nos últimos tempos, fiquei apenas para baixo, mas desde que eu te reencontrei… Não sei. É como se as coisas finalmente voltassem para o lugar. Estar assim com você é o certo. É o lugar onde eu quero estar.
ainda estava apreensiva. sabia disso porque ela tinha os lábios cerrados, as mãos segurando firmemente seus ombros, trocando o peso do corpo de uma perna para a outra.
— Não estou dizendo que as coisas vão ser fáceis, mas estou te prometendo que, juntos, vamos encontrar uma maneira de fazer dar certo. Eu sou uma pessoa diferente e você, com certeza, também mudou. Nós podemos fazer isso funcionar.
Mas continuou em silêncio.
Ele, então, tentou outra abordagem.
— Me diga, seja honesta, o que devo fazer? Quer que eu me afaste e vá embora?
Porque por mais nem mesmo gostasse de pensar nessa hipótese, se fosse o desejo dela, ele o faria.
— Quer que eu finja que não nos encontramos depois desse tempo todo e que esse momento aqui, agora, nunca aconteceu?
Ele sabia que jamais poderia apagar tudo o que viveram juntos. E que aquela noite, escondidos dentro da ala médica, quebrando pelo menos uns duzentos protocolos militares, nunca seria esquecido. Mas se fosse o desejo de , ele poderia fingir.
— Você sabe o que eu quero, mas me diga, o que você quer? Me diga e eu vou fazer.
— Eu não sei…
— , seja honesta. Devo ir embora?
— Não. — a resposta veio firme, decidida. Não havia espaço para dúvidas. — Não quero que vá embora.
E aquilo foi o bastante para acalmar a ansiedade no peito dele.
— Então eu não vou. Mas eu preciso saber… E você? Você vai me deixar?
deixou o questionamento dele suspenso por alguns instantes, e então, quando respondeu, tinha um sorriso tímido nos lábios.
— Eu não vou.
E aquilo era a mais pura verdade. Porque , por mais que ainda se sentisse insegura com o que esperar daquela nova relação que iriam desenvolver, ela sabia que podia confiar em . De alguma forma, eles fariam dar certo daquela vez.
Quando ele se afastou dela novamente, quebrando o segundo beijo da noite, não estava mais apreensivo. Na verdade, sentia como se a ansiedade que lhe fizera companhia o dia todo não fizesse sentido nenhum, tamanha a tranquilidade em que estava no momento.
— Acho que amanhã será um dia diferente.
cerrou os olhos com a fala dele, já prevendo o que viria em seguida.
— Vou ter que usar a criatividade para manter sempre atualizada a minha lista de desculpas para vir ao centro médico.
soltou uma risada divertida.
— Nem pense nisso. Aqui dentro eu sou a sua médica e você é um soldado sul-coreano. Não podemos ter nenhum outro tipo de contato aqui dentro.
— Ah, sim, claro. — respondeu sem realmente dar muita importância ao aviso da médica.
E antes de iniciar mais um beijo caloroso, soltou uma risadinha irônica, já que nem mesmo ela acreditava no que havia dito.
A verdade era que se estava preocupada com a forma com que o romance deles iria se desenrolar dali para frente, estava empolgadíssimo com as possibilidades de surpreendê-la mais e mais a cada dia.
As quatro primeiras semanas foram todas dedicadas ao treinamento militar básico, sendo essencialmente um processo de adaptação à nova rotina. Após o treinamento inicial, passou a ter rotinas de treinamentos mais intensos, apenas para promover o que ele já sabia desde o início do seu período no exército: ali dentro não havia espaço para tratamentos diferenciados quanto à origem de cada soldado. Independentemente de quem fosse — se um estudante que mal havia acabado de sair do ensino médio, se um promissor pesquisador do país, se um advogado ou médico, ou se um artista nacional e mundialmente conhecido — dentro do quartel general, todos eram tratados igualmente, sem distinção.
Era até reconfortante, para falar a verdade.
não tinha a preocupação de se esconder, de ocultar o rosto ou evitar multidões, porque ele sabia que, ali dentro, não havia motivos para isso. Ele não era famoso ali dentro. Não era , mas apenas o recruta 110 do 2º pelotão do batalhão Cavalo Branco, 9ª divisão, 3ª companhia.
— Atenção!
Todos pararam as atividades que estavam fazendo no momento da ordem.
Como aprendera no primeiro dia, logo se colocou em posição de respeito, as pernas juntas, o corpo ereto, o peito estufado, a mão levada próxima à cabeça, batendo continência.
— Descansar!
Relaxou o braço que antes estava erguido, levando ambas as mãos para trás do corpo.
— Devido à consulta médica que terão hoje, vocês serão dispensados das atividades mais cedo. Estão dispensados!
Ah, claro. quase havia se esquecido disso. Estava tão concentrado em terminar suas tarefas do dia, de modo a não se atrasar para o jantar como fizera no dia anterior, que nem mesmo se lembrava da avaliação médica mensal que todos os recrutas deveriam fazer com a equipe médica do exército. Ele já havia passado por uma avaliação antes de entrar, e depois passou por consultas periódicas semanais nas quatro primeiras semanas, durante o seu período de adaptação. Mas agora que o treinamento básico havia acabado, seu pelotão passaria a receber monitoramento mensal.
Pensou se deveria tomar uma ducha antes de ir até o centro médico ali perto, mas ao ver o número de recrutas que havia tido a mesma ideia que ele, decidiu que seria mais vantajoso ir à consulta médica primeiro e tomar banho depois. Não podia correr o risco de se atrasar e acabar perdendo o jantar, afinal de contas.
Poucos foram os soldados que tiveram a mesma ousadia de ir ao médico após um dia intenso de treinamento físico, embaixo do sol quente, sem tomar banho antes. Então não precisou esperar muito para ser chamado.
— Preencha essa ficha, por favor. — uma enfermeira pediu. — Pode se sentar ali enquanto espera ser chamado.
caminhou até onde ela apontou, ainda segurando a prancheta e a caneta, e então passou a responder às perguntas da ficha.
“Tem dormido quantas horas por noite?”
Cansado como ficava ao final do dia, tinha pegado o hábito de dormir todas as horas permitidas pelo exército.
“De 1 a 5, como considera a qualidade do seu sono?”
Ele dormia tão pesado e tão instantaneamente, que às vezes nem mesmo se lembrava de colocar o pijama. Anotou o número “5” em frente à pergunta.
“Tem tido muitos sonhos e/ou pesadelos?”
Se estava tendo, o rapaz não se lembrava.
Continuou respondendo às perguntas, as quais passaram a ser sobre a sua alimentação.
— Recruta 110.
Levantou a cabeça quando ouviu chamarem por ele.
Um médico o esperava do lado de fora de uma das cabines de consulta.
— Eu ainda não acabei de responder às perguntas, desculpe.
— Não se preocupe. — o médico o tranquilizou. — Você pode entregar a ficha à Dra. ao final da avaliação.
, que estava com a concentração voltada para o documento nas suas mãos, levantou o pescoço tão rápido, que sentiu estralar.
— Ela já vai atendê-lo. Aguarde um minuto, sim?
E então a cortina que separava as cabines do centro médico foi fechada.
Lá dentro, se perdeu, por um segundo, em pensamentos. Aquele nome… Ele conhecia aquele nome. Mas não poderia ser… Quer dizer, não poderia ser. Dentre todas as divisões do exército, seria coincidência demais se logo ela estivesse ali. Certo? Certo.
— Recruta 100, . Deu início às suas atividades junto ao exército há cinquenta e oito dias. Esta é a sua primeira avaliação médica desde que começou o treinamento militar?
Se estava paralisado com a pessoa parada à sua frente, Dra. não estava muito diferente dele. A mulher, contudo, foi quem tomou o choque de realidade primeiro, voltando para o presente. Adentrou na cabine, fechou a cortina atrás de si e então parou na frente dele.
— Olá, . Há quanto tempo.
tinha um sorriso leve nos lábios, sorriso este que não alcançou seus olhos.
se lembrava muito bem de como eram os sorrisos da namorada… Bem, da ex-namorada. E aquele, definitivamente, não era um dos seus favoritos.
estava tão ou mais surpresa que ele.
Não que o rapaz acreditasse que isso fosse possível, mas ele não podia ter certeza. Afinal de contas, sempre fora melhor que ele para esconder as reações, os sentimentos.
Ele não. não sabia mentir, não sabia esconder o que se passava na sua cabeça. E, naquele momento, ele só conseguia pensar em uma coisa:
— Não esperava encontrar você aqui.
soltou uma risadinha sem graça.
— Bem, isso está bastante óbvio pela sua reação.
Ele tentou se recompor, especialmente quando ouviram vozes vindas da cabine ao lado. Mas era impossível simplesmente fingir que aquele momento não estava acontecendo.
— Como você está?
sorriu de novo, dessa vez um sorriso terno, doce. Um sorriso que quase chegou a fazer seus olhos brilharem.
— Não estamos aqui para saber sobre mim, mas sim para saber como você está. — a mulher respondeu.
Ele chegou a abrir a boca para contestar a fala dela, mas foi mais rápida.
— Tire as botas e suba na balança, por favor.
Ele o fez sem questionar.
Em quase dois meses, havia ganhado dois quilos. A surpresa nos seus olhos foi logo percebida por .
— Não se preocupe. Esse peso, provavelmente, se deve ao ganho de massa muscular devido aos treinamentos. É comum que recrutas ganhem peso nos primeiros meses no exército.
concordou balançando a cabeça.
— Além disso, você deve estar se alimentando muitíssimo melhor aqui, não é? Longe das dietas malucas que costumava fazer quando tinha algum show ou iria gravar algum vídeo, quando tinha alguma entrevista ou compromisso em frente às câmeras.
Ele sentiu o tão familiar tom de censura na voz dela, já que sempre havia sido contra as restrições alimentares a que ele se submetia algumas vezes.
— Os cozinheiros do exército estão realmente de parabéns. — ele comentou.
E aquilo arrancou uma risadinha de . Ele acabou sorrindo junto. Quando foi a última vez que sorriram juntos, um para o outro?
— Tire a farda e se sente na maca, por favor.
Assim ele o fez. Deixou a parte de cima do uniforme em cima de uma cadeira e se sentou na ponta da cama, de pernas abertas, os pés sem alcançarem o chão. parou à sua frente.
Prender a respiração foi um gesto automático.
O perfume dela continuava o mesmo. pensou que todas as lembranças que tinha de não chegavam aos pés da real beleza da mulher.
Quer dizer, não era como se eles estivessem há muito tempo sem se ver. Seis meses não era muito tempo, certo? Então por que sentia o coração batendo em disparada com a simples aproximação dela?
O sentimento clichê de que seu coração batia tão alto e rápido que poderia até mesmo ser ouvido por outra pessoa tornou-se real quando aproximou o estetoscópio do peito dele. A médica franziu a testa por um instante, como se questionasse o motivo dos batimentos muito mais acelerados que o considerado normal para uma pessoa que não estava em movimento.
A compreensão, contudo, veio junto com um calor nas bochechas.
Apenas para cumprir o protocolo, perguntou se ele estava praticando algum exercício instantes antes de ir para o centro médico.
— Não. — ele respondeu. Estava terminando de arrumar os equipamentos do treino da tarde dentro das caixas. Apesar de ser cansativo, aquilo não lhe exigia tanto esforço assim.
balançou a cabeça em sinal de concordância. Soltou o estetoscópio e fez menção de pegar a ficha de , a mesma que carregava consigo no início da consulta, mas foi interrompida pelo soldado. Para a surpresa dela, ele segurou a mão da mulher, levando-a de volta ao peito dele, dessa vez sem que a médica estivesse segurando algum aparelho.
Ainda assim, conseguia sentir as batidas frenéticas — curiosamente, sentia que o próprio coração batia tão ou mais rápido que o dele.
Instantaneamente, ficou com calor. E por um segundo, esqueceu-se do motivo pelo qual estavam ali, na posição em que se encontravam. O que a trouxe de volta à realidade foi um corte profundo no braço de , próximo ao punho. A ferida estava aberta, mas não sangrava. Ainda assim, era recente.
Quebrando o contato visual que tinham feito, segurou o braço dele e o virou, de modo que pudesse olhar de perto.
— De quando é isso?
se assustou com a mudança repentina de atitude.
— Ah… Não lembro. Acho que de ontem. — buscou na memória, lembrando que havia se machucado enquanto ajudava um colega do pelotão a terminar o treinamento.
sentiu o corpo esquentar de novo. Precisou respirar fundo para controlar o tom de desagrado na voz.
— E não procurou a enfermaria por quê?
Mas é claro que ela não soube disfarçar muito bem. ficou surpreso com o tom ríspido.
— Não achei que fosse sério.
largou o braço dele e se afastou.
— Espera, você está brava comigo?
Em resposta, a médica bufou.
— Se tivesse procurado a enfermaria antes, talvez o ferimento não tivesse ficado sério mesmo. Agora o corte está inflamado, inchado e infeccionado. Você não pode voltar para o dormitório assim. Não saia daqui.
E como chegou, foi embora.
Nem mesmo se quisesse, ele poderia sair dali. Era como se estivesse com o corpo preso à maca. Nos poucos instantes em que esperou pelo retorno da mulher, um filme passou pela sua cabeça.
Cenas de quando estavam juntos como quando, por acidente, em um café, quando , na pressa de fazer o seu pedido e ir embora antes de ser reconhecido por alguma fã, esbarrou em e derrubou não apenas os livros que ela carregava, mas também o café dela.
— Oh, me desculpe. Vou comprar outro para você. — disse enquanto deixava o próprio copo de lado e se abaixava para ajudá-la a recolher o material.
— Não se preocupe, a culpa foi minha, eu estava distraída.
— Não, não, a culpa foi toda minha. Eu insisto.
parecia irredutível, mas não deixaria a mulher ir embora sem que ele tivesse a chance de se redimir.
E então, um café de desculpas acabou rendendo uma longa noite de conversa, a qual foi apenas a primeira das muitas vezes que eles se encontrariam.
voltou com uma caixinha de primeiros socorros em mãos. Fechou a cortina da cabine, deixou a caixinha em uma mesa próxima à maca e, durante todo o preparo dos utensílios, manteve-se de costas para , que se contorcia de um lado para o outro para tentar enxergar o que ela estava fazendo.
Foi surpreendido ao ser pego no flagra tentando espiar a médica quando ela ficou de frente para ele de novo.
— Vamos ter que dar alguns pontos. Vou limpar o ferimento antes, talvez arda um pouco.
Aquela não seria a primeira vez que cuidaria de , contudo.
Lembrava-se da vez que participou de um programa de televisão, o qual as gravações ocorreram em uma fazenda. No final do dia, estava com parte do corpo queimado pelo sol quente e com um belo ralado no joelho.
— Isso que dá ficar usando calça rasgada. — ela disse enquanto limpava o machucado.
— Outch! — reclamou. — É o meu estilo.
rolou os olhos.
— O seu estilo lhe rendeu um ralado que vai arder até para tomar banho pelos próximos dias.
— Ainda bem que tenho você para cuidar de mim.
estava soprando o remédio que passara. Olhou para cima e viu o namorado sorrindo para ela.
— Você não toma jeito mesmo, né?
soltou uma risada gostosa, divertida, e puxou a mulher para cima, colocando-a sentada no seu colo. Aproximou-se para a beijar, mas assim que levou as mãos para o rosto dele, o rapaz reclamou de dor.
— Oh, desculpe! Esqueci que namoro uma criança que precisa ser lembrada a cada meia hora de passar o protetor solar. — disse em um tom meio de brincadeira, meio de censura.
Levantou-se e puxou o namorado consigo, reclamando de ter que dobrar o joelho ralado. O conduziu até o banheiro para que pudesse lavar o rosto dele e então passar gel pós-Sol.
Naquele final de semana, foi mimado e cuidado pela namorada, que rolava os olhos para cada dramatização exagerada que ele fazia, mas, ao mesmo tempo, não deixava de se divertir. Eles sempre se divertiam juntos, afinal de contas.
sabia ser cuidadosa, tinha a mão leve para tratar dos pacientes, aquilo era um fato. Mas quando queria, também sabia não ser tão cuidadosa.
— Outch!
Já era a terceira vez que reclamava pela ardência do medicamento que usava nele. A médica, contudo, parecia impassível com a dor dele. Sequer levantou o olhar em qualquer uma das vezes que reclamou.
— Você, hm… Está brava comigo ou algo assim?
Ele pensou que poderia ter assinado a sua sentença de morte ao finalizar a pergunta, já que , com os olhos cerrados, levantou o corpo, ficando na altura dele, que permanecia sentado na maca. Jogando no lixo o algodão encharcado de remédio, perguntou:
— Por que eu estaria?
Voltou-se para a caixinha de primeiros socorros e então, com a atenção presa em , passou a realizar a sutura.
— Não sei, você parece brava.
não respondeu de imediato, mas ele percebeu que os toques da mulher passaram a ser leves e mais delicados.
— Não sei porque ainda me surpreendo com a sua falta de cuidado.
— Foi um acidente, sabe…
— Você deveria ter vindo procurar ajuda imediatamente. — o interrompeu.
E então ele entendeu. não estava brava com ele. Estava preocupada.
E se ele não estivesse enganado, talvez a preocupação de fosse além da dispendida naturalmente em uma relação entre médico e paciente. Porque estava preocupada com ele. Com , não com o recruta 110.
Constatar aquilo o pegou em cheio.
— Não deixe coberto o tempo todo. Você precisa lavar com água e sabonete e passar o medicamento que vou receitar. Em uma semana, você pode voltar aqui para tirarmos os pontos.
esperou que a médica jogasse as luvas no lixo para repetir o ato de mais cedo. Pegou a mão dela e a trouxe para próximo dele. E, como mais cedo, foi pega desprevenida.
— Como você está? — ele repetiu a primeira pergunta que fez para ela naquele dia. — Não a vejo desde…
— Desde o aniversário de . — ela completou. E com um sorriso triste, respondeu. — Eu estou bem, obrigada por perguntar.
Foi a vez dele de dar um leve sorriso. estava tomado por uma vontade absurda de perguntar mais, queria saber mais dela.
O que tinha feito desde que se separaram, se estava feliz no novo emprego, se havia conseguido se mudar do antigo apartamento em que dividia com a irmã… queria saber tudo sobre .
Deus… Era bastante óbvio que o rapaz ainda sentia falta da mulher — os sonhos que, vez ou outra, tinha com ela, eram prova viva disso — mas vê-la tão próxima e, ao mesmo tempo, tão distante, tão fechada, como se existisse uma barreira invisível entre eles, apenas servia para confirmar, mais uma vez, o quanto odiava o fato de não estar mais ao lado dela todos os dias. Odiava a ideia de terem terminado. Odiava, ainda mais, o motivo que os levou a se separar.
Sem que se desse conta, começou a acariciar a mão dela. Surpreendendo a ele, e talvez até mesmo ela própria, não se afastou, pelo contrário. Imersa no que parecia ser um mundinho criado apenas para eles dois, sentia como se os últimos meses não tivessem existido, porque a proximidade com era natural, era a coisa certa a ser feita.
Por outro lado, a mulher sentia a pele arrepiada com o simples toque, a pouca aproximação, o coração batendo em disparada, ansiosa para o próximo passo. sabia o que viria a seguir. Ficara com ele tempo suficiente para saber o que esperar de .
Mas a expectativa de ambos foi frustrada com o som da cortina se abrindo e, do lado de fora da cabine, o mesmo médico que levou até lá.
— Dra. , precisamos de ajuda na cabine sete. Ah… Está tudo bem por aqui?
ainda estava sentado na maca, provavelmente com uma cara alarmada pela interrupção. Mas não chegava perto da expressão de completo pânico de , que jogou o corpo o mais longe possível do recruta — o que, levando em conta as dimensões da cabine, era, mais ou menos, meio metro de distância.
— Está sim. O que aconteceu na cabine sete?
— Um recruta novo. Aparentemente distendeu o músculo da perna em alguma atividade, não entendi direito o que ele falava, já que está chorando.
— Ah, sim. Já estou indo.
— Precisa que eu termine o atendimento aqui? — ele ofereceu apontando para que parecia estar sendo ignorado pelos médicos.
— Eu já terminei, obrigada.
O médico agradeceu e se retirou, fechando a cortina atrás de si.
voltou a arrumar suas coisas, pronta para sair dali o mais rápido possível, quando parou atrás dela. Estava tão próximo que tinha certeza que se virasse para olhá-lo, os rostos ficariam colados.
— Está dispensado.
E ignorando completamente a fala dela, perguntou:
— Quando vou te ver de novo?
respirou fundo.
— Na próxima avaliação mensal, talvez. Não sei. Depende do médico que estiver disponível para te atender.
— … — segurou o braço dela e a virou pra ele lentamente.
A mulher não demonstrou resistência.
— Não sei quando vamos nos ver de novo, . Eu trabalho no centro médico do exército, então acredito que só vamos nos encontrar quando você voltar a colocar os pés aqui.
Ele pensou rápido. Fazia sentido o que ela havia dito. Não era como se ele pudesse deixar seu posto a qualquer hora do dia para encontrá-la em algum lugar secreto, longe dos olhos curiosos do público e de seus fãs. Mas não tinha fãs lá dentro, ele tinha superiores, muitos deles. O que era um milhão de vezes mais assustador do que a ideia de ser descoberto por algumas adolescentes admiradoras dele.
Mas então uma ideia lhe ocorreu.
Levantou o braço na altura dos olhos de .
— O quê? — ela perguntou.
— E isso aqui? — apontou para o curativo feito pela médica.
— Ah, sim. Pode voltar em uma semana para tirar os pontos…
— Não, digo, quem vai cuidar disso para mim?
estreitou os olhos.
— Você vai. Com água e sabonete, na hora do banho. E depois vai secar muito bem com uma toalha macia e passar o remédio que vou te receitar.
balançou a cabeça de um lado para o outro, firme.
— Não posso.
— Como é?
— Não posso fazer isso sozinho. Preciso de ajuda.
soltou uma risada surpresa.
— , o que você…
— Posso vir aqui todos os dias para receber cuidados médicos?
, então, soltou uma risada mais alta.
— Você não precisa de cuidados médicos.
— Mas eu quero. Quero que você cuide de mim. Você é médica do meu pelotão, não é? Não pode se recusar a me oferecer tratamento.
A mulher sentiu o queixo cair com a audácia. E se sentindo muitíssimo mais confiante, pois sabia que havia ganhado ao menos aquela batalha, prosseguiu.
— Quando posso voltar?
ainda levou alguns minutos para responder. É claro que tinha a resposta na ponta da língua, a resposta que ele, definitivamente, não queria ouvir, já que ela não era obrigada a sustentar os caprichos de soldado nenhum lá dentro.
Mas o que ela disse, na verdade, foi:
— Amanhã, no final do dia, depois do seu treinamento. Antes do jantar.
E com um sorriso satisfeito nos lábios, pegou seu uniforme, vestiu-o e calçou as botas sem amarrá-las.
— Até amanhã, doutora.
Ele estava ansioso por isso. Talvez só não estivesse mais ansioso do que ela.
— Feche os olhos.
— Por quê? — perguntou desconfiada.
— É uma surpresa.
A mulher soltou uma risada nervosa.
— Não gosto de surpresas.
Foi a vez dele rir.
— Não tem como você saber de tudo o tempo todo. — respondeu. — Fecha logo, vai.
o fez. O rapaz pegou a mão dela, deixando a palma virada para cima. Ali, colocou uma caixinha com a textura de veludo.
— Pode abrir os olhos.
— O que é isso? Vai me pedir em casamento, ?
Ele começou a rir de novo, sentindo as bochechas corarem.
— Ainda não. — respondeu.
não deixou passar despercebido o “ainda” na resposta dele.
pegou a caixinha da mão da mulher e a abriu. Lá de dentro tirou uma correntinha. Na corrente, um anel pendurado. Na verdade, uma aliança.
— É uma aliança de compromisso. — ele explicou.
Mostrou a mão direita dele. tinha o hábito de usar vários anéis de prata nos dedos, dizia que era “parte do seu estilo” como artista. Mas percebeu que ali, no dedo anelar, havia um novo. Na realidade, tratava-se de uma aliança igual à que estava presa na correntinha que ele entregara para ela.
— Sei que você não é do tipo que curte usar muitos acessórios no dia a dia, mas, bem… É um presente. Você não precisa usar se não quiser.
sorriu largamente. Não estava esperando por aquilo.
e ela estavam juntos há alguns meses, era bem verdade. E o rapaz não perdia uma oportunidade de surpreendê-la em frente ao hospital em que trabalhava, no final de um dia de trabalho, ou com um jantar caseiro da única iguaria que ele sabia cozinhar. Então a mulher tinha realmente gostado daquele presente.
— Coloca em mim? — pediu. Estavam no carro do rapaz, então se virou no banco, puxando os cabelos para o lado.
Logo em seguida, a aliança estava pendurada sobre o seu peito.
Ele elevou a mão, de modo que ambas as alianças ficassem uma do lado da outra.
— Ninguém vai saber o que esse anel novo significa. — ele soltou uma risadinha.
tentou o acompanhar, mas não viu graça na fala dele. Porque, de fato, ninguém saberia o que aquele anel a mais na mão dele significava. Até porque esse era o objetivo — ninguém podia saber da existência do relacionamento deles. Seria um desastre para a carreira de se as revistas de fofoca descobrissem que o astro tinha uma namorada secreta.
, que sempre foi boa em esconder emoções e disfarçar o que sentia, precisou se esforçar para mudar a expressão instantaneamente, o que não passou despercebido pelo namorado.
segurou a mão dela e levou até os lábios, deixando um beijo singelo ali.
— Desculpe.
Ela chacoalhou a cabeça.
— Está tudo bem. — respondeu.
Mas não estava, e ele sabia disso.
, então, segurou o rosto do namorado e lhe deu um beijo rápido nos lábios.
— Eu adorei. Obrigada por isso. — disse sincera.
Ele sorriu.
— Agora vamos logo, estou morrendo de fome e não podemos correr o risco de perdermos a nossa reserva.
— Sim, senhora!
Eles voltaram para as posições de antes, colocaram o cinto de segurança e ligou o carro, partindo para um dos poucos restaurantes que ofereciam área privativa, de modo que o casal não fosse incomodado, tampouco reconhecido.
O recruta estava no centro médico, sentado em um dos bancos da recepção, enquanto aguardava ser chamado. Um enfermeiro passou por ele, distraído, lendo algum documento importante, quando a imagem de lhe chamou a atenção. Olhou para o recruta com os olhos cerrados.
— Você por aqui de novo?
fez cara de culpado.
Por sorte, apareceu exatamente naquele momento para salvá-lo da vergonha de ter que inventar desculpa. Mais uma desculpa, exatamente como nos dias anteriores.
— Vou atender desse aqui, não se preocupe. — a médica disse. — Me acompanhe, soldado, por favor.
a seguiu até uma cabine no final do corredor.
Há uma semana o rapaz ia lá todos os dias apenas para que trocasse o curativo dele, curativo este que ele próprio poderia fazer do conforto do seu dormitório.
A verdade era que queria uma desculpa diária para se encontrar com a mulher, e o ferimento no seu braço acabou vindo a calhar. Nenhum dos dois comentava sobre o seu reencontro inesperado ou sobre o passado não tão distante que compartilharam, mas era bem óbvio que ambos estavam aproveitando aqueles dias, cada um à sua própria maneira.
De alguma forma, e , em um acordo silencioso, tinham encontrado uma forma de se reconectar. Era como se o tempo nunca tivesse passado e os assuntos entre eles estivessem resolvidos.
poderia até mesmo dizer que nada havia mudado entre eles, se não fossem os toques receosos por parte de , na tentativa dela em se manter afastada, ao tempo em que ele próprio precisava se esforçar para encontrar os olhos da mulher.
— Vai doer um pouquinho. — ela disse antes de começar a tirar os pontos.
— Eu sou forte. — respondeu. E como se para provar o que dissera, levantou o braço, fazendo força para mostrar o músculo ali.
Ela soltou uma risadinha.
— Além de estar trabalhando e treinando muito, também estou me alimentando muitíssimo bem. — ele garantiu.
ergueu as sobrancelhas.
— A sua médica fica muito feliz em saber disso.
balançou a cabeça, recordando-se das broncas que levava dela quando ainda namoravam, nas vezes em que o rapaz precisava começar alguma dieta restritiva para perder peso rápido por conta de algum show ou algum evento público. ficava maluca cada vez que se recusava a ter uma refeição com ela, mesmo estando na cara que o rapaz estava com fome. Ali no exército, ele não tinha motivos para fazer dietas, pelo contrário.
— E você, fica feliz em saber que estou me alimentando bem?
olhou para ele, tombando o pescoço para o lado.
— Eu sou a sua médica.
deu um sorrisinho de lado.
— Devo te chamar de doutora, então?
— Bem, isso é óbvio. Você deveria estar fazendo isso desde o primeiro dia.
Os dois soltaram uma risada leve ao final da frase da mulher, que só foi interrompida por uma exclamação de dor vinda dele.
— Acabei. — mostrou o último ponto que tirou. — Novinho em folha.
olhou para onde havia se formado uma cicatriz pequena e quase imperceptível.
— Obrigado. Quando devo retornar?
hesitou por um instante antes de responder.
— Na próxima avaliação médica. No final do mês.
Aquilo o pegou de surpresa. Como assim seus encontros diários iriam acabar? Tinham criado um hábito, uma rotina. Eles tinham acabado de se encontrar. Como poderiam, simplesmente, ter que parar de se ver de novo quando demoraram tanto tempo para se reencontrar?
— …
— Você já está pronto para voltar ao seu treinamento, e só deverá voltar ao centro médico se necessário. — ela o interrompeu.
A médica tinha o rosto singelo, sem expressar nenhuma reação. Ela era boa nisso, mas ele não. E a decepção dele estava estampada no seu rosto.
— Estou orgulhosa de você, , e do trabalho que vem realizando. Não apenas aqui no exército, mas lá fora também. Mesmo depois que terminamos, nunca deixei de acompanhar os seus trabalhos.
Ele deu um passo para frente. Foi instintivo, queria se aproximar dela. Mas deu um passo para trás.
— Não estou pronto para não te ver todos os dias, .
— Você estava bem antes.
Ele chacoalhou a cabeça.
— Isso foi antes de saber que você está aqui.
E sendo sincero consigo mesmo, chegou à conclusão de que ele estava ao contrário de bem, e só depois de revê-la que percebeu isso. Segurou a mão dela. não se afastou.
— E como ficamos agora?
— O que quer dizer?
— Eu e você. Como ficamos agora?
Ela respirou fundo.
— Eu sou médica do seu pelotão, . E você é um soldado, um recruta. É assim que ficamos.
O rapaz franziu a testa.
— Simples assim?
Ela deu de ombros.
— Nunca é simples.
E aquilo o pegou em cheio. Foi como se estivesse revivendo cenas do seu passado, cenas que ele preferia esquecer, de quando a história de e chegou ao fim. Sentiu como se tivesse levado um soco no estômago.
Naquele momento, várias vozes de homens tomaram o ambiente.
— Hoje é a avaliação mensal do 6º pelotão. — ela explicou.
O olhar dele era como se estivesse perdendo alguém especial. E, bem, ele estava. Pela segunda vez.
— Isso não significa que não vamos mais nos ver. Vou sempre estar aqui para quando você precisar. — ela disse.
Mas ele sabia que a simples expectativa de talvez encontrá-la uma vez ao final de cada mês, não seria suficiente.
estava sentado na cama, com as costas encostadas na cabeceira. Tinha uma toalha pendurada no pescoço, apenas um hábito que não havia perdido, mesmo sabendo que não tinha mais os longos fios para secar após o banho. Como estava no seu tempo livre, pegou o celular para tentar se distrair. A conversa que tivera na parte da manhã com não saía da sua cabeça.
A verdade era que não deixava seus pensamentos. Mesmo quando tentava, a mulher estava ali.
Saiu da clínica médica se questionando se era o único com os pensamentos em desordem desde que se reencontraram, se era o único que não conseguia deixar de pensar neles dois, mas suas dúvidas foram dissolvidas quando a pegou no flagra naquela tarde.
Enquanto passava por um dos seus treinamentos, uma corrida pelo perímetro da sede do exército, passou perto da clínica. Qual não foi sua surpresa ao se deparar com o encarando da janela, acompanhando seus movimentos? Obviamente que, ao ser descoberta, a mulher logo tratou de voltar para dentro da clínica, sumindo da visão de . Mas aquilo o fez pensar que talvez apenas estivesse se esforçando para não se entregar da forma como ele queria.
Porque sim, queria se entregar a ela. A eles.
Os encontros que tiveram ao longo da semana, ainda que rápidos demais para o seu gosto, eram a prova de que a mulher também sentia falta dele. Os toques, as peles arrepiadas, as risadas, as bochechas coradas… Por mais reservada que fosse, por mais que fosse boa em se esconder, a conhecia. Como ele estava mexido, ela também estava.
Pegou o celular e passou a mexer nas redes sociais. Foi direto para a conta de , um vício que ele havia se obrigado a deixar de ter seis meses atrás, quando a viu sair da sua vida, mas que, devido às circunstâncias em que se encontrava, permitiu-se dar uma espiadinha.
Ela havia acabado de postar uma foto. “Fim de expediente”, era o que estava escrito embaixo. A foto tinha sido postada há cinco minutos, e aquilo significava que ela ainda estava ali, na sede do exército. Há poucos metros dele. Longe, mas perto.
Pensou em como ficou surpreso por encontrá-la logo ali. Quem poderia imaginar?
Quando terminaram, meses atrás, trabalhava em um hospital particular da cidade. Agora, estava em um centro médico militar. O mesmo centro médico que prestava cuidados para ele. Que calhou, de alguma forma, de ir para aquela sede do exército coreano.
reencontrou no lugar mais improvável de todo o mundo. Aquilo não podia ser só uma coincidência. Ele precisava acreditar que era mais. Uma segunda chance, talvez? E, se o fosse, ele precisaria aproveitar, certo?
Tomado por uma onda de coragem, jogou o celular na cama e partiu para fora do dormitório. Talvez ainda encontrasse pelo local, talvez ela não tivesse ido embora. Talvez, só talvez, ele estivesse com sorte.
precisava fazer as coisas darem certo daquela vez, ele queria isso. Queria agir certo, queria uma nova chance. Queria fazer enxergar a possibilidade como ele a enxergava.
Ansioso, acelerou os passos.
Em sua corrida até o centro médico, que seria o primeiro lugar em que procuraria pela mulher, sentiu o peito apertar com as últimas lembranças que tinha de . Suas últimas palavras para ele. A última atitude que ele teve com relação à mulher que amava.
— Onde ela está?
havia acabado de chegar na casa do amigo, onde uma festa, para poucas pessoas, acontecia. já o esperava do lado da porta, conforme haviam conversado minutos antes pelo telefone.
— Está no quarto de visitas.
— Certo, obrigado. — fez menção de seguir o caminho indicado pelo aniversariante da noite, mas foi parado por ele.
— Ei… Vocês estão bem?
Respirou fundo e deu um sorriso triste, nada confiante.
— Nós vamos ficar. Sempre ficamos, não é?
Mas enquanto subia as escadas que levavam para o segundo andar e caminhava até o quarto de hóspedes, o rapaz se questionou até que ponto acreditava nas próprias palavras.
Quer dizer, era bem verdade que ele e já haviam passado por momentos como aquele antes, mas cada vez que precisava se esconder, correr para longe dele, fugir de algum lugar para não ser reconhecida por fotógrafos, ou mesmo fãs dele, sentia que perdia uma parte dela.
nunca falava sobre não poder comparecer a eventos públicos com o namorado, tampouco reclamava por ele mentir em entrevistas quando perguntado se seu coração tinha dona. Mas aquele dia tinha sido diferente dos outros.
O casal estava no shopping, comprando o presente de aniversário de , quando foi reconhecido. se afastou alguns passos, automaticamente, como costumava fazer para não chamar atenção. Mas algumas pessoas perceberam e questionaram quem seria aquela mulher que o acompanhava
— Ahn? — ele respondeu. — Não faço ideia. Acho que apenas nos esbarramos nessa loja.
percebeu na hora o quão dolorido tinha sido para ouvir aquelas palavras.
Por trás das câmeras, eles eram melhores amigos, amantes, um casal completamente apaixonado, quase perfeito. Na frente delas, precisavam se passar por desconhecidos.
Depois do ocorrido, foi embora, mandando uma mensagem ao rapaz, indicando que iria na frente e que, para não correrem o risco de serem vistos juntos de novo, deveriam ir para a casa de em carros separados.
O casal já havia feito isso em outras ocasiões, mas, de novo… Naquele dia as coisas tinham sido diferentes. Mais intensas. Mais doloridas.
Bateu na porta antes de entrar.
estava parada em frente à janela, observando o movimento do lado de fora. morava em um prédio relativamente distante do centro da cidade, no vigésimo segundo andar, o que lhe proporcionava uma visão ampla de toda a cidade envolta.
A mulher estava absorta demais, nem mesmo ouviu quando entrou no quarto. Só se deu conta da presença do namorado quando ele se aproximou, abraçando-a por trás. Apesar de ela não ter se afastado dele, também não o abraçou de volta, e aquilo também foi diferente.
Ele não sabia o que falar. Pedir desculpas era o que costumava fazer nessas situações. No começo, prometia que aquilo não iria se repetir, mas então parou quando percebeu que só estaria mentindo para .
Mas naquela noite ele não queria falar nada. Porque nenhuma palavra seria suficiente para expressar tudo o que ele estava sentindo.
Foi quem quebrou o silêncio, contudo.
— Como você está?
— Estou bem. — garantiu. — E você?
Ela não respondeu. Respirou fundo e virou-se para o namorado, e então soube porque estava com aquele sentimento de incômodo no peito. Os acontecimentos daquela noite, de fato, haviam mudado alguma coisa entre eles.
— Eu não consigo mais.
E por mais que ele tivesse entendido cada uma das palavras dela, recusou-se a entender o que significavam.
— O que quer dizer?
— Quero dizer… Que não acho que possamos continuar dando certo. Não, eu sei que já não estamos dando certo há algum tempo.
tinha tantas perguntas em mente. Tantas frases prontas, apenas para convencê-la ou, ao menos, tentar convencê-la de que eles eram o certo. Eles juntos eram certos. Eram certos um para o outro. Sempre foi assim e sempre seria.
— O que mudou? — ele perguntou.
Ela fechou os olhos e respirou fundo. Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de , mas a mulher logo tratou de a secar com a manga da camisa.
— Nada mudou, e é exatamente por isso que não acho que devemos continuar juntos.
— …
— E eu não me refiro apenas aos acontecimentos como o de hoje mais cedo. Eu falo de tudo. Falo de nós dois, falo de mim e também de você. Sinto como se nós não estivéssemos evoluindo para lugar nenhum, como se estivéssemos estagnados em uma relação que já nem sabemos se tem futuro.
Ele engoliu em seco. Por que estava em silêncio? Por que não estava reagindo, rebatendo as palavras dela? via um futuro lindíssimo ao lado de , então por que não falava isso para a mulher?
E em vez de se posicionar e convencê-la a ficar — porque sim, por mais que estivesse dizendo querer terminar, a mulher poderia ser facilmente convencida do contrário se ele se esforçasse minimamente — perguntou o que acabaria sendo sua última fala para ela:
— Simples assim?
deu um sorriso triste enquanto a segunda e última lágrima da noite escorria.
— Nunca é simples.
não deixaria a história se repetir. Quer dizer, sabia dos desafios que enfrentariam quando começaram a se relacionar. Esse não tinha sido o motivo do término deles. O motivo, a verdadeira causa de não estarem mais juntos, foi o fato de ter se mostrado inerte quanto ao desgaste da relação deles, a cada situação desconfortável em que eram colocados, especialmente .
demorou bastante tempo para perceber, e quando finalmente tomou consciência das suas ações, ou da falta delas, já era tarde demais. E ele não iria deixar que aquilo acontecesse de novo, não quando ele acabou de receber uma segunda chance para fazer diferente.
estava conversando com uma colega, também da ala médica, próxima ao refeitório da base. Já havia passado da hora dos soldados se recolherem, o que significava que a equipe médica, provavelmente, já deveria estar indo embora também.
Quem notou a sua presença foi a colega de .
— Oh, podemos te ajudar?
olhou para ele. Sem conseguir esconder a surpresa por encontrá-lo àquele horário, sem usar as vestes camufladas, a mulher mal pôde se conter ao analisar o corpo do rapaz, que usava tão somente uma camiseta branca e uma calça de moletom.
, por outro lado, precisou pensar rápido em uma desculpa. Não esperava encontrar com outra pessoa, e não esperava ter que inventar um motivo para falar a sós com ela.
— Hm… Gostaria de falar com a doutora .
— O que aconteceu? — ela perguntou.
Pense, pense…
— Meu… Meu braço. Está doendo muito, no local onde estavam os pontos.
cerrou os olhos, não comprando nem por um segundo aquela desculpa esfarrapada. realmente era a pior pessoa do mundo para contar mentiras. Mas Cyntia, sua colega de profissão, não parecia pensar como ela.
— É mesmo? Que estranho. O turno da doutora já acabou. Quem vai ficar na ala médica hoje à noite sou eu. Posso atendê-lo–
— Não será necessário, Cyntia. Eu posso cuidar disso. — a interrompeu.
— Tem certeza? Porque eu posso–
— Tenho sim, não se preocupe. Pode me acompanhar, soldado?
E sem esperar por uma resposta dele, seguiu, a passos firmes, de volta para a clínica médica. Caminhou até a última cabine de avaliações e ali entrou. chegou logo depois dela, fechando a cortina atrás de si para garantir que teriam um mínimo de privacidade.
estava de costas para ele, os braços cruzados na frente do corpo. E quando se virou, manteve a mesma posição defensiva.
— E então, aconteceu alguma coisa?
— Meu braço está bem. — ele respondeu.
— Eu sei.
Ficaram em silêncio apenas por um segundo, que foi quebrado por que começou a rir. Uma risada baixinha, discreta, mas que acabou se transformando em algo maior quando passou a rir junto dela — ele, de nervoso.
— Você nunca foi bom em inventar mentiras.
— Então, como você sabe disso, vai acreditar em mim quando eu disser que realmente senti sua falta, que ainda sinto todos os dias, e que não quero mais me sentir assim?
A mulher parou de rir na hora. Engoliu em seco enquanto pensava em uma resposta para o que acabara de ouvir.
— , o que você está dizendo?
— Estou dizendo o que deveria ter dito meses atrás. O que deveria ter dito todos os dias em que tive você ao meu lado, mas não o fiz.
Deu alguns passos para frente, aproximando-se dela, segurando suas mãos.
— , eu te amo. E isso é tão óbvio que chega a ser ridículo o fato de eu ter deixado as coisas chegarem a esse ponto.
Ela balançou a cabeça.
— Eu não estou entendendo onde você quer chegar.
— , diga que não sente minha falta e que não sente falta da gente.
Ela apertou os lábios.
— Diga, honestamente, que esse reencontro não é a oportunidade perfeita para fazermos diferente do que fizemos antes.
sentiu o ar faltar. A intensidade das palavras dele a pegou desprevenida.
— …
— Na verdade, você não precisa dizer nada. Seus olhos já dizem tudo o que eu precisava saber.
Porque se era o tipo de pessoa que se fechava em si mesma e não colocava em palavras suas emoções, em contrapartida, a mulher se comunicava com o restante do corpo. E, naquele momento, sem perceber, apertava as mãos de , ao mesmo tempo em que sentia as bochechas corarem, exatamente porque o rapaz a olhava tão profundamente… E seus olhos brilhavam. irradiava expectativa.
Estavam tão próximos, que as respirações se confundiam. E quando deu por si, estava nos braços dele.
O beijo tinha gosto de saudade e, mais do que isso, de alívio. Alívio por, finalmente, estar abraçando-o e sendo apertada por ele. a puxou para si, colando os corpos, mas o empurrou, de modo que o rapaz ficasse encurralado entre a médica e a maca. E o único motivo pelo qual cortou o beijo, não foi pela falta de ar nos pulmões — detalhe este que mal dava importância —, mas porque sentiu a blusa levantar e a mão dele lhe acariciar as costas por debaixo do tecido.
Um segundo a mais naquele ritmo e ela tinha certeza de que não teria forças para parar . A visão dos lábios vermelhos dele, contudo, quase a fez mudar de ideia.
— Confesso que não estava esperando por isso. — ele disse com a voz rouca. Arrancando uma risadinha dela, explicou. — Não que eu não quisesse. Mas achei que fosse ser um pouco mais difícil te convencer.
levou as mãos à cabeça dele, onde outrora costumava enroscar os dedos nos fios de cabelo.
— Você ficou muito, muito gostoso de cabelo raspado.
E por aquela fala ser totalmente imprevisível, foi a vez dele soltar uma risada alta, divertida, leve. Mas só até o repreender, dizendo que poderiam ser descobertos. A risada de foi diminuindo até parar. deixou o sorriso sumir, dando lugar a uma expressão pensativa.
— Você está em dúvida?
— Sobre o quê? — ela perguntou.
— Sobre a minha proposta.
A mulher tombou a cabeça para o lado.
— Mas você não me fez proposta nenhuma.
Ele parou para pensar por um segundo. De fato, não tinha feito proposta alguma a ela. E nem tinha falado para metade do que queria.
Com o braço envolta da cintura dela, puxou a mão de , entrelaçou seus dedos e trouxe para junto do seu peito.
— Há algo entre nós. — ele disse. não questionou, porque não havia o que contestar. — E eu adoro isso. Eu amo a forma com que você faz eu me sentir. Os últimos meses foram os piores da minha vida e eu não quero continuar vivendo aqueles dias.
Ela respirou fundo. Pensou com cautela nas palavras que usaria, não queria ser mal interpretada.
— , nós tentamos uma vez e não deu certo. — e antes que ele a interrompesse, continuou. — Digo que não deu certo porque nosso relacionamento chegou ao fim. E sim, foi dolorido, muito. Você não foi o único que se sentiu mal nos últimos meses. Eu só não quero passar por isso de novo.
prestava atenção em cada uma das palavras dela, era importante saber como se sentia.
— , o que o seu coração diz? Porque eu me sinto em uma montanha-russa, para cima e para baixo. Nos últimos tempos, fiquei apenas para baixo, mas desde que eu te reencontrei… Não sei. É como se as coisas finalmente voltassem para o lugar. Estar assim com você é o certo. É o lugar onde eu quero estar.
ainda estava apreensiva. sabia disso porque ela tinha os lábios cerrados, as mãos segurando firmemente seus ombros, trocando o peso do corpo de uma perna para a outra.
— Não estou dizendo que as coisas vão ser fáceis, mas estou te prometendo que, juntos, vamos encontrar uma maneira de fazer dar certo. Eu sou uma pessoa diferente e você, com certeza, também mudou. Nós podemos fazer isso funcionar.
Mas continuou em silêncio.
Ele, então, tentou outra abordagem.
— Me diga, seja honesta, o que devo fazer? Quer que eu me afaste e vá embora?
Porque por mais nem mesmo gostasse de pensar nessa hipótese, se fosse o desejo dela, ele o faria.
— Quer que eu finja que não nos encontramos depois desse tempo todo e que esse momento aqui, agora, nunca aconteceu?
Ele sabia que jamais poderia apagar tudo o que viveram juntos. E que aquela noite, escondidos dentro da ala médica, quebrando pelo menos uns duzentos protocolos militares, nunca seria esquecido. Mas se fosse o desejo de , ele poderia fingir.
— Você sabe o que eu quero, mas me diga, o que você quer? Me diga e eu vou fazer.
— Eu não sei…
— , seja honesta. Devo ir embora?
— Não. — a resposta veio firme, decidida. Não havia espaço para dúvidas. — Não quero que vá embora.
E aquilo foi o bastante para acalmar a ansiedade no peito dele.
— Então eu não vou. Mas eu preciso saber… E você? Você vai me deixar?
deixou o questionamento dele suspenso por alguns instantes, e então, quando respondeu, tinha um sorriso tímido nos lábios.
— Eu não vou.
E aquilo era a mais pura verdade. Porque , por mais que ainda se sentisse insegura com o que esperar daquela nova relação que iriam desenvolver, ela sabia que podia confiar em . De alguma forma, eles fariam dar certo daquela vez.
Quando ele se afastou dela novamente, quebrando o segundo beijo da noite, não estava mais apreensivo. Na verdade, sentia como se a ansiedade que lhe fizera companhia o dia todo não fizesse sentido nenhum, tamanha a tranquilidade em que estava no momento.
— Acho que amanhã será um dia diferente.
cerrou os olhos com a fala dele, já prevendo o que viria em seguida.
— Vou ter que usar a criatividade para manter sempre atualizada a minha lista de desculpas para vir ao centro médico.
soltou uma risada divertida.
— Nem pense nisso. Aqui dentro eu sou a sua médica e você é um soldado sul-coreano. Não podemos ter nenhum outro tipo de contato aqui dentro.
— Ah, sim, claro. — respondeu sem realmente dar muita importância ao aviso da médica.
E antes de iniciar mais um beijo caloroso, soltou uma risadinha irônica, já que nem mesmo ela acreditava no que havia dito.
A verdade era que se estava preocupada com a forma com que o romance deles iria se desenrolar dali para frente, estava empolgadíssimo com as possibilidades de surpreendê-la mais e mais a cada dia.
Fim.
Nota da autora: Chanyeol mal entrou pro exército e já ganhou fanfic fardado. Não sei como vou sobreviver até a dispensa do amor da minha vida, mas pelo menos tenho o FFOBS para incentivar o meu lado fanfiqueiro.
Esse álbum é perfeito e merece todo o amor do mundo! Leiam todas as fanfics, deixem um comentário cheio de amor em cada uma delas e indique as histórias para as amigas <3
Beijos de luz,
Angel
Nota da beta: Bom, como vocês sabem, o Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
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Beijos de luz,
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