Capítulo Único
FLASHBACK ON
Eu... Não entendo... Essa música, essas luzes... Onde ela está? Ela estava nos meus braços... Eu... Vou encontrá-la... Preciso esquecer de tudo que aconteceu hoje...
- ! - Gritei, vendo a garota sair apressada do local que estávamos... O que estávamos fazendo lá? Eu não sei...
Sai correndo e senti meu corpo esbarrar em diversas pessoas antes de tocar o braço da garota... Essa garota... Eu a amo. Eu a amo. O que é que está acontecendo?
- Me solta, . Já chega. Nós estávamos juntos, mas você sequer parece saber o significado de respeito. - A garota olhava pra mim com fogo nos olhos, como se pudesse me destruir agora mesmo, eu nunca a tinha visto desse jeito. - Você sempre demonstrou gostar de mim, e na primeira oportunidade de me provar que merece minha confiança, você se entope de bebida e me mostra que não vale a pena. Parabéns. - O que foi que eu fiz? Eu me sinto enjoado. Eu não posso perdê-la. - Quer saber? É melhor assim, eu nunca nem senti o mesmo que você.
E foi dessa maneira, que a garota que eu amo me disse adeus.
's POV
Cervejas. Cigarros. Luzes. Era tudo o que passava pela minha mente. A última coisa de que me lembro era de ter sido chutado pra fora de mais uma galeria de artes da Califórnia, e ter dirigido sem rumo, até parar em um bar desconhecido, cheio de homens bêbados e garçonetes com sorrisos falsos em busca de alguma gorjeta.
- Sai da frente, cara! – Fui empurrado pro lado direito assim que a voz alcançou meus ouvidos, foi então que percebi que estava fumando encostado na porta do banheiro, atrapalhando a passagem dos bêbados desesperados depois de centenas de garrafas vazias. – Foi mal.. – Falei tão baixo que quase não me escutei, saindo daquele corredor e tentando encontrar a porta do bar.
Avistei as luzes da rua e caminhei pra fora, sentindo o vento gelado bater no meu rosto, me causando uma sensação de alívio instantânea. Droga. O dia hoje foi um lixo. Eu só queria estar bêbado o suficiente pra não me lembrar disso.
Ser um pintor jovem e fracassado não é tão fácil quanto parece... Eu larguei a faculdade de Administração no Novo México um ano após iniciá-la, contra a vontade dos meus pais, encontrei um emprego em um escritório em Cedarvale,que apenas me serviu pra conseguir sair de casa... Fui morar de aluguel em uma casa pequena no subúrbio da cidade, e como o esperado para um jovem finalmente livre, gastei todas as minhas economias em bebidas e festas. Em menos de um mês, eu recebi o temido aviso de despejo. E hoje? Sou um cara de 22 anos que pinta quadros sobre histórias melhores do que as que eu mesmo vivi. E a única conquista que alcancei até agora foi o grande privilégio de morar em um apartamento acima de um restaurante falido. Eu pinto, coloco meus quadros expostos nas paredes da espelunca, e quando eles são comprados, o dono me da parte do dinheiro, além de me deixar morar lá. É pouco, mas eu tenho uma casa.
Joguei o pequeno pedaço restante do meu cigarro no chão, tateei meus bolsos em busca da chave do meu carro, e ao perceber que estava lá, comecei a andar em direção a velha caminhonete que comprei a alguns meses. Mas antes de me afastar mais do que três passos, escutei a porta de ferro dos fundos do bar bater com força, olhei pra trás e avistei uma garota, cambaleando nos seus sapatos de salto e shorts absurdamente curtos. Foi então que eu percebi sua blusa com o logo do local, certo, ela era uma das garçonetes que estavam se insinuando lá dentro.
- Sabia que encarar é feio? – A garota perguntou, dando um sorriso torto. – Poderia pelo menos me oferecer um cigarro.
Olhei pras minhas mãos que seguravam a caixa de cigarros e as chaves do carro, e balancei a cabeça acordando dos meus devaneios, devo estar parecendo um idiota, mas a pouca cerveja que eu bebi já serviu pra me deixar mais lento.
– Ah, é claro... Você quer um? – Retirei um cigarro da embalagem e quando fui andar pra entregá-lo, percebi que a garçonete já tinha se aproximado de mim, pegando o mesmo das minhas mãos e colocando-o entre os seus lábios. – Ok... Você quer. Espera aí, eu tenho um isqueiro por aqui... – Comecei a procurar o objeto nos meus bolsos e percebi que não estava lá, não era o primeiro daqueles que eu perdia, e ao levar em conta a quantidade de pessoas que estavam dentro daquele bar, não pretendo me arriscar a procura-lo. – Na verdade, devo ter deixado la dentro. – A garota sorriu e tirou um isqueiro do bolso traseiro, acendendo o cigarro que acabara de pegar, tragando rapidamente.
- Achei esse aqui lá dentro, em cima do balcão. – Ela balançou o frasco vermelho na minha frente, e assim que foquei meus olhos nele notei iniciais escritas em uma caligrafia conhecida. Conhecida demais, afinal eram as minhas iniciais que estavam ali: L.M.
- Esse isqueiro não me é estranho... – Peguei o objeto suavemente de suas mãos pequenas e apontei pra escrita. – , sou eu. Obrigada por me poupar de ter que comprar outro desses amanhã de manhã. – Dei uma risada fraca e girei o objeto nos meus dedos.
- Espera aí... Achado não é roubado. Pode me entregar de volta, “Senhor iniciais comuns demais pra serem exclusivamente suas”? – A garota riu gostosamente e tentou pegar o isqueiro de volta, se esticando em direção a ele enquanto eu me fingia de ofendido, virando de costas pro seu ataque.
- Certo, certo, fazemos assim então, eu te dou o isqueiro por uma semana. Depois disso, ele volta a ser meu. – Entreguei o frasco nas mãos dela, mas antes que ela fechasse os dedos ao redor dele, o puxei de volta. – Mas com uma condição... Me diz seu nome. – Me aproximei devagar enquanto ela parecia processar o que eu estava fazendo. Bem, parece que eu não sou o único que foi afetado pela bebida.
- Meu nome é... . . - Dei mais um passo em sua direção, quase colando nossos corpos. Aproximei minha mão de seus braços, tocando sua pele quase imperceptivelmente. Desci meu toque para a sua cintura enquanto não conseguia desviar o olhar do dela. – O que você ta fazen... - Dei um riso nasalado e puxei a caneta que estava colocada no apoio para cinto do seu shorts jeans.
- Isso. – Me afastei dela e comecei a escrever suas iniciais com certa dificuldade no outro lado do isqueiro. – Agora... Ele é oficialmente metade seu. Mas só por uma semana. – Pisquei pra e percebi que seus olhos ganharam um brilho de divertimento.
- Certo... E quem garante que eu vou te devolver?
- Não vai? – Voltei a me aproximar da garota. Alguma coisa nela me faz ter vontade de ficar cada vez mais... Perto.
- Sexta-feira da semana que vem, no píer de Santa Monica, às 19h00. – sorriu e me deu um beijo suave no canto dos lábios.
- Não me decepcione, ou vou ter que te acusar de sequestro de isqueiros. – Ri abobado da minha própria piada enquanto observei a garçonete se dirigir pra dentro do bar. – Boa noite, .
's POV
Sexta-feira. Oficialmente o melhor dia da semana, e pra completar, recebi uma folga da minha chefe, o que me livra de ter que aguentar caras bêbados a noite toda.
Escuto o toque irritante do meu despertador, e decido me levantar mesmo ainda sentindo os olhos pesados. Assim que entro na cozinha, percebo que aquele lugar precisa urgentemente de uma limpeza, sinceramente não me lembro qual foi a última vez que me preocupei em arrumar aquilo tudo.
Morar sozinha tem as suas vantagens, mas às vezes a responsabilidade bate na porta e você começa a perceber que os papéis higiênicos não são comprados sozinhos e que a sua cozinha não se limpa magicamente. Saí de casa com 18 anos, assim que entrei na faculdade de Cinema, na USC. E hoje, com 21 anos, ainda estou me acostumando com essa tal de “vida adulta”.
Tomei um café improvisado por cima das milhares de embalagens vazias que estavam na minha bancada, e logo fui até o meu quarto pra me trocar. Coloquei uma blusa 3 vezes maior do que eu, e voltei pro local de guerra. - É cozinha, parece que teremos problemas por aqui. - Comecei a jogar as embalagens vazias no lixo, limpei a bancada, lavei a louça, arrumei as compras que fiz na semana passada dentro dos armários, limpei o fogão e os azulejos do chão. Depois de algumas horas, parecia que o trabalho estava feito, e eu me joguei no tapete da sala cansada demais até pra me locomover até o sofá.
Em menos de dois minutos, comecei a sentir minha barriga roncar e me dei conta que já estava na hora do almoço. Fui até o meu quarto e coloquei o primeiro vestido que encontrei, afinal, a preguiça de vestir duas peças era maior do que qualquer outra coisa no momento. Voltei para a sala e peguei minhas chaves e minha carteira, saindo em seguida do apartamento, afinal, eu não sujaria um prato sequer pelos próximos dias.
Depois de uma caminhada rápida, entrei no melhor restaurante de todos: o da minha melhor amiga.
- Boa tarde, margarida! – gritou de trás do balcão chamando a atenção de alguns clientes. – Lembrou de mim ou só veio porque sua lombriga interior te obrigou? – Vi minha amiga abrir um sorriso travesso.
- Claro que... Minha lombriga atacou! – Ri, abraçando de um jeito torto por cima de alguns pratos que estavam na bancada. – Como você está?
- Bem, e você? Continua odiando o seu trabalho? Parece que faz anos que não nos falamos, você sumiu nas últimas semanas.
- Me desculpa, a dona do bar é bem exigente e o trabalho é puxado... – Me sentei em um dos bancos altos que ficam em frente ao balcão e apoiei o rosto em minhas mãos. – Você sabe, eu queria estar trabalhando com cinema, e não em um bar distante e sujo. Olhei pela janela e vi a praça central da cidade cheia de crianças correndo sob os olhares atentos dos pais, pássaros atrás de alguma migalha e senhorinhas conversando nos bancos mais afastados. Chegava a ser cômico, a menina que sonha em viver histórias incríveis pelo mundo todo, conformada com a vida que tem em uma cidade absurdamente clichê. Não quero parecer ingrata, eu realmente gosto de tudo que conquistei, mas tenho medo de algum dia olhar pra trás e perceber que na verdade vivi uma vida medíocre.
- Sobre isso.. Acho que tenho a solução. – disse enquanto abria uma garrafa de refrigerante pra nós.
Minha melhor amiga é alguns meses mais velha do que eu, mas sempre que paro pra pensar em tudo que ela conquistou, me sinto como uma criancinha admirando a mãe. Ela fez um curso de gastronomia na Itália enquanto fazia um mochilão pela Europa, curso esse que durou pouco mais de duas semanas e garantiu a um diploma. Na mesma viagem, ela conheceu , atual namorad... Noivo dela, e os dois se apaixonaram perdidamente. Assim que ela voltou, o trouxe junto e os dois abriram um pequeno restaurante na cidade, as coisas pra eles estão cada vez melhores com o lugar ganhando mais reconhecimento e com o tão sonhado casamento chegando... Sei que a história pode parecer meio precipitada, mas está feliz, ambos estão, e ela merece alguém que a faça sorrir. Do lado oposto, temos . Não quero ter que mudar minha rotina por outra pessoa, não quero me limitar a jantares românticos e flores, e acima de tudo, não quero ter o meu coração partido. Não mais uma vez. Sei que sou muito diferente da minha melhor amiga, mas enquanto ela tem a vida encaminhada, eu nem consigo fazer o meu diploma da faculdade valer a pena.
- ? – Ouvi a voz de me chamar e percebi que estava mais uma vez viajando nos meus próprios pensamentos. – Acorda, mulher! Você escutou o que eu disse?
- Er.. Não. Desculpa , o que você disse?
-Sabe, eu e andamos conversando, e nunca contratamos ninguém pra trabalhar aqui porque conseguimos nos virar bem sozinhos, mas seria legal ter mais uma pessoa de confiança na equipe, e quem melhor do que você? Não é o melhor emprego do mundo, mas aqui não é um bar distante e sujo. – riu após repetir minha frase de minutos atrás.
Arregalei os olhos enquanto focava minha visão em , que me olhava com ansiedade. - ... Isso é sério? Mas, vocês tem que pagar muitas coisas do casamento, nunca quiseram outro funcionário aqui por causa disso.
- Exatamente por estarmos ficando bastante ocupados com os preparativos do casamento, precisamos que alguém cuide das coisas por aqui... O que me diz?
- Eu... Ai meu Deus, É CLARO QUE EU ACEITO! - Abri um sorriso enorme enquanto dava alguns pulinhos de alegria.
- Isso exige uma comemoração! Me fala, o que quer comer? Aproveita enquanto você ainda é cliente, queridinha. – Rimos enquanto eu fingia olhar o cardápio, mas na verdade eu já sei o que quero.
- Hm... Que tal...? – Troquei um olhar cúmplice com , que sorriu.
- HAMBÚRGUER E BATATAS FRITAS! – Dissemos juntas rindo alto depois. Hambúrguer com batatas fritas é o nosso prato preferido, e sempre que nos encontramos comemos a mesma coisa, hoje não poderia ser diferente.
correu para os fundos do restaurante enquanto eu balançava as pernas, fazendo um barulho metálico enquanto batia com os meus tênis no banco. Em poucos minutos ela voltou com dois pratos nas mãos e se sentou ao meu lado, colocando um deles na minha frente.
- Aqui está, madame. Bom Appetit.
Dei uma mordida gigante enquanto praticamente escutava meu estômago cantar de alegria. – Melhor hambúrguer de todos. – Falei com a boca cheia escutando a risada de que passou por nós na mesma hora. – Oi . – Acenei e voltei a comer como se não provasse qualquer alimento à dias.
- Então, como não nos falamos a algum tempo, tenho que te inteirar sobre o meu casamentooo.. – cantarolou. – Escolhi a cor do seu vestido, você vai ser a madrinha mais estilosa de todas!
Continuei escutando todos os planos de , ela era uma amiga incrível, não conseguia imaginar minha vida sem ela. E sempre que penso em largar tudo e sair dessa cidade, acabo desistindo por perceber que seria loucura abandonar uma das pessoas que sempre estiveram comigo quando eu mais precisei.
FLASHBACK – Três anos antes
Passei pelas portas da faculdade aliviada por não ter tido a última aula e logo me arrependi por não ter levado uma blusa extra, o tempo estava fechado e ameaçava uma tempestade. Apertei o passo e segui pela calçada em direção ao apartamento que eu divido com o meu namorado, Joe.
- Amor? – Chamei assim que entrei e fechei a porta atrás de mim, largando minha mochila no chão. – Joe? Já chegou? – Escutei um barulho no quarto e dei uma risada baixa, já acostumada com a mania que ele tinha de me assustar.
Caminhei devagar até a porta, e quando a abri, já com um sorriso esperto no rosto, me deparei com uma cena que me mudaria pra sempre. Joe, meu namorado, estava deitado de bruços na cama enquanto uma garota loira estava apenas de calcinha no banheiro, mexendo nos produtos que eu deixo em cima da pia. Quando ela notou a luz que vinha da porta aberta deixou um dos frascos de perfume que tinha nas mãos cair, logo cobrindo seus seios com um dos braços, e tirando os fios que caíram em seu rosto com a mão livre, assustando meu namorado que dormia tranquilamente. Permaneci estática enquanto sentia meu coração se despedaçar dentro de mim, a dor chegava ser física, e eu não conseguia sequer me mover.
- Amor... ! – Joe se levantou correndo e vestiu uma calça de moletom cinza que estava jogada no chão – Amor... Olha pra mim, olha pra mim... – Joe segurou o meu rosto com as duas mãos enquanto eu mantinha o meu olhar baixo. –Jessica, sai já daqui. – Ele se virou pra garota que já estava se vestindo ao lado da cama, ao lado da nossa cama.
Empurrei suas mãos pra longe de mim, enquanto caminhava pra trás até bater com as costas na parede do corredor que levava ao quarto. Coloquei minhas mãos na boca pra abafar os soluços que ameaçavam chegar enquanto tentava respirar, mas estava tudo confuso, eu não conseguia enxergar direito, e logo percebi que meu esforço pra não chorar foi em vão, em poucos segundos as lágrimas começaram a molhar o meu rosto.
- V-Você... Você estava com ela... Joe... No nosso quarto... Eu... – Tentei falar alguma coisa mas todas as palavras que passavam pela minha mente eram esmagadas assim que chegavam na minha boca. – Meu Deus... E-Eu te dei tudo.. Eu confiei em você... Eu mudei por você... Joe...
- , me escuta, por favor, a gente pode resolver isso – Joe se aproximou novamente, mas antes que ele pudesse encostar em mim, desencostei da parede e andei até a sala enquanto enxugava o meu rosto. Respirei fundo rápido o suficiente apenas pra olhar pra ele mais uma vez, e assim que o fiz, vi Jessica, a tal garota, sair do quarto com uma bolsa nas mãos, e entrar no campo de visão de ambos assim que chegou no meio do apartamento.
- , me desculpa... Eu realmente não quis... Eu... Eu não queria que você tivesse passado por isso. – A garota disse olhando pra baixo enquanto abraçava o próprio corpo.
Dei uma risada alta e forçada enquanto me aproximava dela com passos duros. – Não queria que eu tivesse passado por isso? Você não tem vergonha?! Sabe, eu teria... De precisar me submeter a um relacionamento escondido com um cara que namora, e ainda ter sido encontrada no apartamento que ele e a namorada dividem... – Dei um último passo em direção a ela e a vi dar outro pra trás. – Eu deveria me rebaixar ao pior nível de todos e arrancar todos esses fios de cabelo da sua cabeça, mas a única coisa que eu sinto por você é nojo. Você é patética, e eu espero que nunca tenha que sentir o que eu estou sentindo. Sai da minha casa. AGORA. – Gritei e a vi correr para a porta, saindo rapidamente e a fechando com força.
Passei minhas mãos pelo meu rosto sentindo toda a força que eu tinha adquirido se escorrer coluna abaixo, eu sabia que Joe estava me olhando, eu sabia que ele estaria com o olhar mais arrependido e machucado de todos, e eu sabia que ele iria fazer o possível eo impossível pra me ter de volta. Mas eu não conseguia explicar o que estava sentindo, eu estava... Vazia. Eu não conseguia sentir nada além de uma vontade absurda de sair de perto dele, eu não queria chorar, eu não queria gritar, eu queria e precisava sair dali.
Corri até a porta e peguei minha mochila que estava aonde eu tinha deixado alguns minutos atrás. – !! Por favor, espera, por favor, olha pra mim, eu preciso que você me escute. – Sai do apartamento escutando Joe gritar e antes que o elevador chegasse, senti meu braço ser puxado e fui virada de frente pra ele, e como eu havia imaginado, seus olhos estavam marejados e vermelhos, e seu rosto estava pálido. – , volta pra casa, me deixa explicar tudo... Eu... Eu amo você. – Ouvi o barulho das portas do elevador se abrindo, e me soltei pra poder entrar, mas Joe parou entre elas impedindo que as mesmas se fechassem. – Por favor, princesa.
Princesa. Eu sempre amei ser chamada assim, mas logo que aquela palavra saiu de seus lábios eu me vi a ponto de socar aquele rosto que eu sempre admirei.
- Sai daqui, eu não quero escutar as suas explicações, eu quero que você me deixe em paz, antes que eu faça um escândalo e mostre pra esse prédio inteiro que o estudante de Direito que mora aqui não é tão correto como todos pensam. – Senti algumas lágrimas começarem a se formar nos meus olhos e olhei pra cima tentando impedir que elas caíssem. Joe deu um passo pra trás liberando as portas, e eu rapidamente apertei o botão que me levaria para o térreo. – Você acabou com tudo, Joe. Acabou com nós, e acabou comigo.
Assim que pisei no saguão do prédio, vi que lá fora estava um temporal, e por um momento cogitei esperar um pouco na recepção antes de tomar qualquer decisão, mas assim que o aperto no meu peito voltou a se intensificar, me vi saindo a passos largos de lá, e logo senti os pingos pesados me atingirem.
Caminhei por alguns minutos sem pensar em qualquer coisa, apenas em busca de alguma resposta que nem eu mesma sabia qual era, até que olhei para o lado e vi um restaurante. O restaurante do meu primeiro encontro com o Joe. Diversas lembranças me atingiram e eu desisti de tentar conter as lágrimas, deixando que elas finalmente se misturassem com a chuva pesada que caía sobre mim, me abaixando na calçada e sentindo os meus ombros se curvarem com a dor absurda que eu sentia.
Joe era tudo pra mim, era meu porto seguro nessa cidade, ele se tornou minha família. E agora eu sentia como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, ele não podia ter feito isso comigo... Ele não tinha esse direito. Ele me fez perder meu melhor amigo, meu companheiro, meu namorado... Todos ao mesmo tempo. E a dor que se espalhava por todos os meus poros era maior e mais intensa do que qualquer outra que eu havia sentido até ali. Joe me traiu. Joe me enganou. Eu larguei minha independência pra dividir um lar com ele. E ele me traiu. Eu confiei nele de olhos fechados. E ele me traiu. Eu deixei de ir visitar meus pais diversas vezes apenas para passar mais tempo com ele. E ele me traiu. Eu entreguei tudo de mim nas mãos dele. Traição. Uma palavra nunca me feriu tanto. Eu podia senti-la, rasgando todos os sonhos de uma vida com Joe. Traição. Era tudo que eu conseguia pensar.
- Ei, você ta bem? Moça? – Ouvi uma voz feminina próxima de mim após algum tempo sentada ali. Eu não queria olhar pra ninguém, eu estava me sentindo humilhada de uma maneira absurda. – Moça? – A pessoa que falava comigo se abaixou ao meu lado e eu percebi que ela estava com um guarda chuva nas mãos, pois logo parei de sentir a água batendo no meu corpo. – O que aconteceu? Você precisa de ajuda? – Finalmente ergui meus olhos em sua direção e reconheci uma das garotas que se sentava na mesma mesa que eu todos os dias no intervalo, . Ela é estudante de Economia e prima de Mark, meu amigo desde que entrei na USC, mas eu nunca sequer a cumprimentei. Espero que ela não me reconheça, não nessa situação. – ? O que você ta fazendo aqui? – Inspirei cansada enquanto meus olhos voltaram a se encher. – Vem, levanta, vamos sair dessa chuva – Fui puxada pra cima e comecei a andar apoiada por um dos braços de , passamos por alguns estabelecimentos que já haviam fechado por conta do tempo, e após caminhar alguns bons minutos, paramos embaixo de um toldo.
- O-Obrigada, . – Falei com a voz fraca enquanto tentava, em vão, torcer a barra da minha camiseta.
- Não precisa agradecer... Bom, ta se sentindo melhor? Você não poderia ter ficado lá, essa chuva não parece ter hora pra parar.
Olhei ao meu redor enquanto ouvia a garota falar, e me dei conta que estava no bairro vizinho. Já havia passado por ali algumas vezes, mas não fazia ideia de como voltar pra qualquer lugar que eu realmente possa ficar por um tempo.
- ... Obrigada por ter me ajudado... Eu... Vou indo. – Mas antes que eu voltasse pra chuva, ouvi meu nome ser chamado outra vez.
- ... – Olhei pra trás e vi que me olhava preocupada. – Sabe, é melhor você entrar e tomar um banho quente, eu não tenho plano nenhum pra hoje, podemos esperar a chuva passar e depois você volta pra casa.
Senti meu corpo todo enfraquecer assim que ouvi a palavra “casa”, e assenti com a cabeça, a seguindo pra dentro do prédio. Era um lugar pequeno, sequer tinha elevador, bem diferente de onde eu moro... Morava.
Assim que entramos em seu apartamento, senti o ar quente me atingir e agradeci internamente por não estar naquela rua fria. – O banheiro fica logo ali. – apontou pra uma porta branca no final de um corredor pequeno. – Espere aqui, vou pegar uma toalha e uma troca de roupa pra você. – A garota correu e rapidamente me entregou tudo o que havia falado.
Segui pro banheiro sem dizer uma palavra, e logo que entrei debaixo do chuveiro deixei que a tristeza me dominasse outra vez... Eu nunca havia sentido uma dor tão profunda, e eu só queria poder sair do meu próprio corpo.
Foquei em tomar um banho decente e assim que saí, com os cabelos ensopados e um pijama bem quente de , vi a mesma sentada no sofá me olhando com um olhar preocupado.
- Bem melhor, hum? - Assenti e me sentei ao seu lado.
- Eu nem sei como te agradecer, .
- Bom, eu não sei o que aconteceu, mas sei que você não estava naquela situação porque queria. – Dei um riso nasalado e fraco enquanto observava minhas mãos, que estavam repousadas no meu colo. – Descanse, vou comprar alguma coisa pra comermos, e se precisar falar com alguém, bem... Eu sou uma boa ouvinte. – disse e se levantou.
- Espera! Na verdade, eu preciso de ajuda.
Contei tudo pra ela, sem poupá-la de nenhum detalhe, e nos momentos que minha voz ficava completamente embargada, segurava minhas mãos com força. Ela sequer era minha amiga, mas tinha me tirado da chuva e me oferecido sua casa, senti que poderia confiar na garota de olhar atento que estava ao meu lado.
- Você pode ficar aqui em casa quanto tempo precisar. Amanhã vou no seu apartamento buscar algumas roupas pra você, e qualquer outra coisa que você queira. Eu falo sério, ninguém deveria passar por isso... Obrigada por confiar em mim, eu vou te ajudar.
E naquele momento, eu ganhei uma irmã.
FLASHBACK OFF.
E foi assim que eu mudei a forma de encarar meus relacionamentos. Depois daquilo, não tive outro namoro sério, apenas me envolvo rapidamente com alguns caras que me chamam a atenção, e sempre que um deles tenta ultrapassar a barreira do sentimento, eu me afasto, deixando pra trás um rastro de histórias incompletas e palavras não ditas. Mas é melhor assim, tudo puramente físico.
Assim que eu e terminamos de comer, fomos de carro até o centro da cidade quando nos deu certeza que conseguiria cuidar de tudo sozinho. Andamos por todas as lojas que conseguimos, e quando meus pés já não estavam aguentando mais, pedi pra que minha amiga me deixasse de volta em casa.
- Meu dia de descanso me derrubou mais do que 3 dias de trabalho. – Falei sozinha enquanto entrava em casa e me jogava no tapete, exatamente no mesmo local que estava antes de sair na hora do almoço, pegando o celular no meu bolso traseiro. – Seis horas. Vou tomar um banho e me preparar pra mofar nesse sofá. – Liguei a tv em um canal de música, aumentei o volume e corri até o quarto, jogando minhas roupas por lá enquanto cantarolava junto com os clipes que estavam passando.
Sai do banheiro com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e um roupão peludo, bom, morar sozinha me permite ficar assim. Voltei para a sala e sentei no sofá sem sequer me trocar, pegando o controle e trocando de canais sem prestar muita atenção no que estava passando.
- Nada de bom. – Desisti de procurar algo e segui até a sacada do apartamento, pegando um maço de cigarros e o isqueiro. Fumar é um vício que eu gostaria de abandonar, mas amanhã eu começo.
Acendi um cigarro e me apoiei na grade, observando a cidade já iluminada por diversas luzes de casas e outros prédios. Rodei o isqueiro nos dedos enquanto soltava uma grande quantidade de fumaça pela boca, e assim que abaixei os olhos para a minha mão, vi minhas iniciais escritas no objeto, e abri a boca, deixando com que o cigarro caísse 10 andares abaixo.
- Droga. Droga, droga, droga. Que dia é hoje? – Corri pra dentro de casa e pulei o encosto do sofá, me desequilibrando e pegando o celular antes de cair no meio da sala. Olhei a data no visor, sexta-feira. 18h38. Espera... O QUE? EU TENHO QUE ESTAR NO PÍER ÁS 19H!
Voei para o meu quarto e me troquei extremamente rápido, coloquei o tênis e corri para o espelho do banheiro pra tentar dar um jeito no meu rosto. Eu sei... Eu não deveria estar tão preocupada com esse “quase encontro” que eu mesma inventei, mas o cara é gato, e eu não quero parecer uma mulher acabada quando for vê-lo outra vez.
Em menos de 5 minutos já estava na rua, com os cabelos soltos e um pouco bagunçados, uma blusa branca, calça jeans, e tênis. Entrei em um táxi que por sorte estava parado na porta do meu prédio sem qualquer passageiro, e indiquei o local que eu queria ir.
Assim que o carro parou, olhei no celular novamente e vi que já eram 19h45, morar em uma cidade afastada me trazia dores de cabeça como essa. Paguei o motorista e caminhei rapidamente em direção ao píer, notando que estava tendo algum festival. Olhei ao meu redor e por alguns segundos admirei tudo que via, a quantidade de pessoas era enorme, e todas aquelas luzes e música me fizeram sorrir. De qualquer forma, não seria tão fácil encontrar qualquer pessoa aqui, se é que o dono desse isqueiro veio.
's POV
19h10. O píer estava cheio de gente, e uma música alta tocava pelos alto-falantes que ficavam presos nos postes de luz. Continuei andando no meio daquelas pessoas enquanto me xingava internamente, eu duvido que ela esteja aqui.
Segui até o ponto central do píer, me encostando na grade e observando as pessoas que conversavam e comiam junto de seus amigos, os casais que tiravam fotos perto de mim e as crianças que corriam animadas com seus palitos de algodão doce nas mãos. Eu adoro essa cidade, esse clima aconchegante contrasta com toda a grandeza que esse lugar traz. Mas eu quero mais, eu preciso de mais. E em breve estarei bem longe daqui.
19h20. Resolvi dar uma volta no local em busca de um certo rosto familiar, mas assim que passei em frente ao “Ben and Jerry’s”, resolvi entrar e comprar o meu sorvete favorito.
Assim que peguei o que havia pedido, sai da sorveteria e comecei a andar próximo a grade do píer, observando o mar que estava calmo naquela noite. Olhei no relógio, e vi que eram 19h45, era melhor ir embora, assim conseguiria adiantar algumas pinturas ainda hoje. Me virei de costas pra onde estava indo e me choquei com uma garota que vinha na direção oposta.
- Ai, desculpa, eu não devia ter virado tão rápido. – Segurei em seus braços enquanto ela tirava os fios do rosto.
- Oi, L.M. – A garota abriu um sorriso largo. – Pensei que não fosse te encontrar.
- ! – Exclamei surpreso de vê-la ali. – Eu estava indo embora agora, não imaginei que você viria mesmo.
- Ah, tudo bem... Vou indo também. Aqui está seu precioso. – fez uma voz engraçada e tirou o objeto do bolso. – Como o prometido.
- Quer saber? Vamos dar uma volta, esse sorvete é grande demais pra um cara só. – Menti, afinal, aquele sorvete seria devorado por mim em menos de 10 minutos.
- Se você diz... – deu de ombros e começamos a caminhar em direção ao final do píer, ofereci o sorvete para a garota ao meu lado e a observei pegar a colher de minhas mãos com um sorriso tímido, mas, assim que provou, seu sorriso aumentou consideravelmente, como se fosse uma criança provando o melhor doce do mundo. Em poucos minutos de caminhada, o pote em minhas mãos estava praticamente vazio. Assim que alcançamos a ponta do píer, descemos alguns degraus e passamos a andar na areia da praia. Naquela altura o sorvete já havia acabado, então pegou o pote e a colher de minhas mãos e depois jogou o plástico em um lixo próximo a escada que havíamos acabado de descer.
- E então? O sorvete foi aprovado? – Quebrei o silêncio assim que a garota voltou a caminhar do meu lado.
- Foi mais do que aprovado! Eu estou até com medo de gastar todas as minhas economias com isso pelos próximos dias... – falou de um jeito exagerado e riu, me fazendo rir também.
- Bem vinda ao meu mundo, eu trabalho apenas pra sustentar o meu vício em sorvete. Mas não conta pra ninguém. – Pisquei de um jeito engraçado pra ela, estendendo sua risada anterior por mais alguns segundos.
- Seu segredo está seguro comigo. – respondeu enquanto colocava uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. – Mas me diz, você mora por aqui?
- Moro em um apartamento alugado em Lancaster... Bom, não exatamente alugado.
- Não exatamente alugado? – riu.
- Eu sou pintor. – Disse e vi seus olhos ganharem um brilho de animação. Era impressão minha ou ela era sempre linda? – E moro em cima de um restaurante. O dono me deixar morar lá em troca dos meus quadros, que ele expõe nas paredes do lugar, e quando são vendidos eu ganho uma pequena porcentagem.
- , isso é incrível! Eu nunca conheci um pintor na minha vida! – entrou na minha frente e começou a andar de costas, dando pequenos pulinhos de alegria enquanto gesticulava exageradamente com as mãos. – Uau! Você deve ter conhecido tantos lugares legais, e deve ter uma casa cheia de tintas e telas e... Uau! Isso é muito legal. – A garota parecia anos mais jovem, com os cabelos bagunçados e um sorriso largo no rosto, bem diferente do dia em que nos conhecemos, com um olhar distante e sorriso pequeno.
- Bom, sim... Eu já conheci alguns lugares, mas não é exatamente a vida dos sonhos. Eu não quero viver pra sempre na casa de outra pessoa e acima de tudo não quero que meia dúzia de pessoas vejam os meus quadros. Pintar é minha paixão, quero conhecer o mundo e quero que o mundo me conheça.
- Quero conhecer o mundo, e quero que o mundo me conheça. – repetiu em voz baixa, mas consegui escutar. – É exatamente isso. – Ela pareceu ficar um pouco desanimada, parando de andar e virando-se de frente para o mar. – Eu só queria ter coragem de encarar o mundo de frente, eu devo ser mesmo muito covarde. – Sua voz estava cada vez mais baixa, então me aproximei dela, afastando os fios do seu ombro esquerdo, e segurei seu rosto, fazendo- a olhar pra mim.
- Ei... A vida dá medo, mas você tem que perceber que é maior do que tudo que te assusta. Eu tenho certeza que você ainda vai aprontar poucas e boas por aí. – Ri baixo e desci o meu olhar para os seus lábios, que estavam arroxeados por conta do vento frio que batia em nós.
- Você acha mesmo? – Observei seus lábios se moverem e sua voz me atingir. Assenti e me aproximei um pouco mais. – Obrigada... Eu... Espero conseguir um dia. – Ela levantou um pouco o rosto, me permitindo observar seus olhos, que agora tinham um brilho diferente.
Toquei seus braços com a ponta dos dedos, fazendo um carinho fraco, e a observei ficar arrepiada enquanto descia o meu toque para suas mãos.
- ... – soltou uma risada fraca. - É errado querer muito beijar um cara que você conhece por apenas meia hora? – Desviei meu olhar da trilha que meus dedos faziam e fixei meus olhos nos dela.
- Eu não sei... – Sussurrei como se estivesse contando um segredo. – Eu nunca quis beijar um cara. – Ouvi sua risada alta e vi seus olhos ganharem um brilho de divertimento, então levou suas mãos aos meus ombros, e os apertou levemente enquanto sua risada se suavizava e seus olhos pareciam observar cada detalhe meu. Me aproximei mais um pouco e repousei minhas mãos em sua cintura. – Mas se eu pudesse te dar um conselho, diria que errado mesmo é reprimir suas vontades.
Nossos olhos voltaram a se encontrar, e o ar ao nosso redor parecia cada vez mais intenso. Vi que mordeu o lábio inferior, e esse gesto foi o suficiente pra me fazer acabar com a pequena distância que nos separava.
Subi meu toque para os seus cabelos, e colei nossos corpos. Senti sua boca macia enquanto seus dedos se afundaram no meu braço, me causando um formigamento por todo o corpo, e quando nossas línguas se tocaram, grunhi satisfeito, e a puxei para ainda mais perto. Eu sequer conseguia processar o que estava acontecendo, não enquanto estava daquele jeito nos meus braços, não enquanto nossos lábios estivessem unidos. Suguei seus lábios, enquanto ela correspondia com vontade e se apertava contra o meu tronco, passando as mãos em meus braços e pescoço, como se estivesse em dúvida de onde deixá-las. Eu poderia beijá-la a noite toda. Apertei sua cintura enquanto sentia a brisa fria bater contra nós, rapidamente se dissipando por conta do calor que nossos corpos emitiam. Quando já estávamos ofegantes, separei nossas bocas e ouvi arfar, o que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem instantaneamente. Ainda com a testa encostada na dela e os olhos fechados, ri baixo e ela me acompanhou, aquilo tinha sido... Diferente. Não havia sido bagunçado ou sem jeito, era como se os nossos corpos já se conhecessem. Eu estava ferrado.
Depois de algum tempo apenas aproveitando a sensação de tê-la ali, me afastei e vi seus olhos finalmente se abrindo, revelando suas íris brilhantes e profundas, que me encaravam de um jeito que me deixou confuso, sem conseguir ler o que ela realmente estava pensando. Dei um selinho carinhoso em seus lábios e passei a caminhar do seu lado, ainda incomodado com o seu silêncio.
caminhava chutando a areia e observando os próprios pés. É isso. Ela não gostou. Mas que droga? Eu não devia parecer um garotinho mimado após beijar uma mulher, mas o fato de ter gostado tanto do que acontecera ali me fazia temer que ela não tivesse sentido o mesmo. Tossi de maneira forçada pra chamar sua atenção, e quando seus olhos encontraram os meus, dei um sorriso torto pra ela, e finalmente escutei sua voz.
- Olá, posso ajudar? – Seu tom brincalhão fez meus pensamentos se acalmarem um pouco, mas alguma coisa dentro de mim ainda estava inquieta. Não querendo soar prepotente, mas eu nunca tive problemas em... Satisfazer as garotas que estiveram comigo, e apesar de não ser do tipo sem escrúpulos, já havia quebrado o coração de algumas. E sim, já tive o meu quebrado.
’s POV
Olhei pra e vi que ele estava pensativo, talvez sem saber o que responder. Não que eu soubesse, afinal, havia sido um dos melhores beijos da minha vida. Aquele homem emanava uma liberdade que eu ansiava ter, e eu estava gostando muito da sua companhia. Balancei a cabeça pra afastar os pensamentos admirados que eu estava tendo sobre o cara do meu lado e passei a observar o mar, que quebrava em ondas calmas, quase alcançando os meus pés. Estávamos bem distantes do píer, e a música que estava sendo tocada lá de forma tão alta, dali quase não era ouvida. E foi então que uma vontade absurda de entrar na água martelou na minha cabeça, e apesar de ouvir minha consciência repreender aquela ideia, logo estava tirando os tênis.
- , o que.... – Ouvi perguntar assim que me curvei de forma desengonçada para desamarrar os cadarços.
- Em primeiro lugar, nós nem devíamos estar andando na praia de tênis! – Ri enquanto tirava as meias de qualquer jeito. - Em segundo lugar... Ah , não foi você que disse que eu ainda vou aprontar poucas e boas? – Vi seu sorriso aumentar ao me ver citando o que ele havia dito pouco antes de nos beijarmos. – Tenho que fazer jus a sua impressão, quem sabe assim não ganho um quadro em minha homenagem? – Ri enquanto tirava minha blusa, mas assim que voltei a olhar para ele, vi suas íris ganharem um tom mais escuro, e sua expressão divertida deu lugar a uma que até agora não havia visto: Desejo. Seu maxilar estava travado e seus olhos estavam passeando pelo meu corpo. Ele estava maravilhoso, e eu poderia continuar no meu transe pessoal, caso não tivesse ouvido sua voz.
- Eu com certeza faria um quadro sobre você. – Seu tom de voz estava mais baixo e rouco do que antes, e sua mão direita alcançou sua nuca ao mesmo tempo em que abaixou o olhar, e pude vê-lo morder o lábio inferior, como se estivesse travando uma batalha interna. E foi nesse momento que toda a minha discrição foi mandada pra bem longe.
Desabotoei o botão único da minha calça jeans e comecei a descê-la pelas minhas pernas, sem tirar os olhos de , ansiosa por qualquer reação que fosse.
- Merda, ... – sussurrou tão baixo que quase não pude ouvi-lo, mas foi o bastante pra me fazer soltar um riso baixo. – Isso não é justo. – Ele falou, intercalando seus olhares entre o meu corpo e qualquer outra coisa na praia, como se não soubesse como agir. – Quer saber? Que se dane. – Ele pareceu se livrar de qualquer impedimento que o segurava, e caminhou decidido em minha direção. Em poucos segundos nossas bocas já estavam unidas mais uma vez.
As duas mãos de estavam no meu rosto, como se quisessem impedir que eu quebrasse o beijo, e as minhas foram parar em sua cintura, agarrando sua blusa, sem qualquer intenção de sair de seus braços. Cambaleamos pra trás e eu parti o beijo, soltando um riso fraco, e aproveitou a brecha pra tirar sua camiseta, que foi jogada perto das minhas roupas.
- , nós... – Comecei a falar e fui interrompida pela sua boca, que já estava colada na minha outra vez. Fui puxada pela cintura, e em poucos segundos já nem me lembrava mais o que estava prestes a falar, apenas embrenhei meus dedos nos cabelos de e fiquei na ponta dos pés, procurando ficar cada vez mais perto dele. De todos os beijos que havia dado na minha vida, nenhum tinha sido tão... Familiar. Meu corpo reagia ao dele antes mesmo que eu pudesse pensar e nossas bocas se tocavam como se fossem antigas conhecidas, contrastando com nossas mãos, que estavam inquietas buscando conhecer o corpo um do outro.
Senti as mãos de me deixarem por alguns segundos, e afastei nossas bocas apenas para vê-lo descer a própria calça pelas pernas. Largando-a pela areia junto com seus tênis. Mas antes que ele pudesse retomar o que estávamos fazendo, me afastei de seus braços e comecei a caminhar em direção a água. Após alguns passos olhei por cima do meu ombro e vi que estava parado no mesmo lugar, me observando.
- Você não vem? – Perguntei divertida, o que fez com que ele abrisse um sorriso largo e me seguisse. Eu ainda estava parada, com a água batendo em meus joelhos, tentando me acostumar com a temperatura fria. Uma rajada de vento mais gelada do que o normal me atingiu e eu abracei o meu próprio corpo, já me repreendendo por ter tido aquela ideia. Foi quando olhei para o lado e vi que me olhava de um jeito... Maldoso? Mas antes mesmo que eu pudesse pensar em qualquer coisa, fui levantada pelos seus braços e carregada rapidamente mais para o fundo, de forma que a água passou a bater na cintura de .
Eu me segurei com todas as forças em seu pescoço, balançando as pernas e tentando evitar qualquer contato com a água, que ameaçava encostar em mim a qualquer momento. – , NÃO, ISSO AQUI TA UM GELO, POR FAVOR, NÃO ME COLOCA NA ÁGUA! – Eu gritava e ria de um jeito escandaloso, enquanto minhas mãos se firmavam ainda mais ao redor do pescoço de , que ria sem parar do meu desespero.
- Não foi você que teve essa ideia, ? Vamos entrar, vai. A água nem está tão fria assim. – se abaixou um pouco, fazendo com que a água molhasse parte das minhas costas e meus pés. Eu dei um grito estridente e tentei levantar meu quadril, mas no segundo seguinte, ouvi a risada alta de , que mergulhou nós dois dentro daquele mar quase congelado.
Senti suas mãos me soltando assim que estávamos os dois embaixo da água, e subi até a superfície rapidamente, arfando rápido e sentindo o meu corpo inteiro arrepiado por conta da água extremamente gelada.
- Eu. Não. Acredito. – Falei com a voz entrecortada, enquanto passava a mão no cabelo. – Ta muito frio!
- Ah, para vai, que exagero. – parecia muito confortável na água absurdamente gelada em que estávamos, e mantinha no rosto um sorrisinho sacana, enquanto me fitava firme.
Dei risada da sua reação tranquila e relaxei um pouco, me acostumando com a água fria.
's POV
, você é maravilhosa. Linda mesmo. E eu não vou falar essas palavras em voz alta, mas é a única coisa que eu consigo pensar no momento, enquanto observo seus lábios arroxeados por conta do frio.
Afasto os pensamentos piegas da minha cabeça e me aproximo da garota, que está observando o mar, e parece perdida em seus próprios dilemas. Faço um carinho leve na lateral do seu rosto, finalmente chamando sua atenção pra mim.
- Tá tudo bem? – Pergunto, quase sussurrando, como se qualquer barulho mais alto pudesse estragar o momento.
- Sim, . – me olhou divertida, e se aproximou ainda mais de mim. Porém, quando estávamos a poucos centímetros de distância, ela soltou um risinho e mergulhou, nadando pra longe. Ri abobalhado e mergulhei atrás dela, a alcançando rapidamente. – , SAI DAQUI. – ria escandalosamente e tentava se desvencilhar do meu abraço, que estava firme em suas costas. Comecei então a distribuir diversos beijinhos pelo rosto da menina, que tentava me empurrar pra longe enquanto ria, quase perdendo o ar.
- Você sabe que não adianta mais tentar fugir de mim. Não iria me perdoar se te deixasse escapar. – Falei em um tom divertido, mas sabendo que cada palavra era a mais pura verdade. A menina diminui sua risada e me observou com os olhos carregados de um sentimento que eu não fui capaz de decifrar. Comecei a me sentir culpado por ter falado algo tão.... Romântico, mas assim que seus lábios tocaram os meus, qualquer sentimento contraditório foi carregado pelas ondas. Assim que aprofundamos o beijo, senti a necessidade de ficar mais perto dela, eu estava encantado, e não poderia deixar o convite pra mais tarde. – Ei... – Afastei nossos lábios minimamente, e a observei sob meus cílios. – O que acha de sair daqui? – Torci internamente por uma resposta que logo chegou.
- Vamos. – sorriu levemente e começou a sair do mar, me deixando pra trás com o coração descompassado e a mente cheia de pensamentos. Eu sou mesmo muito maricas.
's POV
Entramos no apartamento de , e pude ver algumas telas espalhadas pelo local, alguns pincéis em cima da mesa e um avental manchado de diversas cores diferentes pendurado em um cavalete no canto da sala. Mal tive tempo para observar todo o resto, pois juntou nossos lábios e começou a caminhar para o corredor. Assim que paramos na porta de um dos quartos, dei um impulso e entrelacei minhas pernas ao redor do corpo dele, enquanto beijava seu pescoço e sentia suas mãos firmes nas minhas coxas. fechou a porta atrás de nós e me encostou na mesma, se firmando no meio das minhas pernas, me causando uma sensação maravilhosa, que parecia crescer a cada segundo.
- ... – grunhi de olhos fechados, agarrando sua blusa e o apertando entre minhas pernas, tentando aliviar aquela sensação de algum jeito. Ele pareceu entender meu pedido, e passou a se mover lentamente, causando um atrito entre sua calça jeans e a minha, e me fazendo suspirar de forma pesada, enquanto apoiava minha cabeça na madeira da porta. Seus movimentos foram ficando cada vez mais firmes, me fazendo arfar palavras desconexas, pedindo por algo que eu nem sabia o que era. Eu só sabia que eu queria. voltou sua atenção para mim, e passou a dar beijinhos leves no meu rosto e pescoço, contrastando com a intensidade dos seus movimentos tão maravilhosos. Mordi meu lábio, tentando ao máximo censurar os sons que insistiam em escapar pela minha garganta, porém, o aperto das minhas mãos contra a sua camiseta, o colando ainda mais em mim, demonstrava o quanto eu o queria.
Porém, poucos segundos depois, seus movimentos cessaram e eu abri meus olhos, segurando firme em seus ombros enquanto procurava seus olhos com os meus. O que ele estava planejando?
- Então... Precisa de ajuda aí? – perguntou safado, suas mãos apertando as minhas coxas enquanto ele se pressionava contra a minha intimidade. Ele me fitava intensamente enquanto fazia movimentos circulares, me massageando de um jeito extremamente gostoso. Fechei os olhos e virei o rosto para o lado, como se pudesse escapar de toda essa energia que me cercava.
- Me diz, ... – grunhiu com o rosto completamente próximo ao meu. Meu cérebro em pane enquanto meu corpo se arrastava contra o dele. – Eu posso te ajudar, se você quiser.... Quer? – falou contra a minha boca, sua respiração quente me tentando. Apertei minha mão contra a sua nuca e gemi contra os seus lábios quando ele se forçou um pouco mais forte, me torturando.
- Sim. – arfei, não aguentando mais aquelas provocações. Eu precisava dele... Precisava agora.
Ele sorriu satisfeito, afastando seu rosto, me incentivando a encará-lo através dos meus cílios pesados. Fui carregada até a cama e colocada de maneira sútil em cima da mesma, enquanto corria seus olhos pelo meu rosto antes de se aproximar um pouco mais, seus braços ao lado da minha cabeça enquanto ele chegava perto o suficiente para roçar sua boca na minha, me fazendo fechar os olhos e arfar quando ele finalmente me beijou. Seu gosto se derramou na minha boca enquanto ele massageava a minha língua com a sua. Porém foi um beijo breve, que me pareceu guardar algumas promessas. Franzi a testa quando ele se ajoelhou entre as minhas pernas abertas, enquanto me fitava de um jeito sujo e abria os botões da minha calça, tirando-a em seguida, com toda a calma do mundo. Meu corpo já estava trêmulo e quente enquanto eu o assistia. Suas mãos subiram para a minha blusa e a tiraram rapidamente, e em poucos segundos, meu sutiã teve o mesmo destino. Seus olhos nublados correram por cada centímetro meu, ele se deliciava com a visão e eu me deliciava com sua reação. Eu não conseguia me sentir constrangida, não enquanto ele me olhava desse jeito, enquanto deixava estampado na sua cara o quanto ele estava gostando do que estava vendo. Eu não me achava atraente ou algo do tipo, mas me fazia sentir extremamente desejada, e isso era o suficiente.
Ele mordeu a boca e deslizou sua mão pelo meu corpo, como se estivesse me contemplando. Ele observava o caminho da sua mão enquanto a corria pela minha pele, descendo entre os meus seios, correndo pelo meu estômago, e acariciando a minha barriga. Senti suas mãos firmes tirarem a última peça que eu ainda vestia, e então se inclinou e eu pude sentir sua língua roçar contra o meu seio. Mal tive tempo de processar aquela sensação e já havia fechado a boca ao redor do mesmo, me sugando, me beijando... Sua mão grande apertava o outro, me cobrindo completamente e me fazendo sentir dominada pelo seu toque. Olhei pra baixo e encontrei seus olhos me fitando divertidos, enquanto ele ainda me tinha em sua boca. Idiota!
Suas mãos grandes agora deslizavam para a minha cintura, minha curva sumindo em seu toque, enquanto ele deslizava sua boca pela minha barriga, deixando uma trilha de saliva na minha pele.
se ajeitou entre as minhas pernas, segurando cada coxa com uma mão enquanto me abria completamente pra ele. Meus olhos focaram nele, minhas pernas tremiam contra suas mãos e meu peito subia e descia rapidamente.Franzi a testa e forcei meus olhos a ficarem abertos enquanto ele me fitava, e quando, em seguida, colocou sua língua pra fora e a deslizou pela minha pele rosada, me desafiando a assistir. Mas aquela era uma batalha perdida. Não tinha a menor chance de conseguir manter meus olhos abertos com aquela sensação. Logo minha cabeça já tinha caído sobre o travesseiro e meus olhos estavam apertados enquanto me lambia. A sensação de ter sua boca contra mim era indescritível. Eu não conseguia descrever, apenas gemer, apenas arfar enquanto ele escorregava aquela boca incrível contra mim. Primeiro ele correu sua língua quente e molhada com calma, como se estivesse me provando. Mas depois ele já tinha fechado sua boca contra mim, me sugando, me beijando, me chupando de um jeito que estava me deixando completamente desconcertada. Eu me derramava em sua língua, me sentia pulsar enquanto ele me sugava, enquanto corria seus dentes pela minha pele sensível. Ele não tinha a menor piedade de mim, mordiscava meu clitóris,brincava com sua língua na minha entrada, e me beijava com paixão, com desejo, com vontade... Me sugava com força, como se precisasse do meu gosto em sua boca, tanto quanto eu precisava dos seus lábios em mim nesse momento.
Meus gemidos ecoavam pelas paredes enquanto ele mantinha minhas pernas bem abertas, dando completo acesso a sua língua. Meu corpo agia por conta própria. Minhas mãos estavam fechadas contra os seus cabelos, inconscientemente o empurrando ainda mais contra a minha intimidade, procurando um alívio imediato. E eu rebolava contra seus lábios, me contorcia fortemente, por mais que ele insistisse em me manter parada. Ele parecia tão divertido quanto excitado enquanto me apresentava pra todas essas sensações. Mas ele preferia me manter parada, me manter aberta para os seus lábios enquanto ele me sugava como bem entendia.
Eu não durei muito, não tinha como... Sentir sua boca quente contra mim era demais, ainda mais depois que ele começou a grunhir contra a minha pele inchada, me fazendo forçar para olhar pra baixo e constatar que uma das suas mãos havia sumido para baixo dele, provavelmente se tocando. Meu corpo inteiro estava tenso, meus músculos rígidos enquanto eu o assistia com a testa franzida, e aquela expressão fechada e excitante enquanto ele me chupava. E foi exatamente com essa visão que eu explodi. Gemendo alto e com o meu corpo vibrando fortemente, completamente entregue ao orgasmo indescritível que ele tinha acabado de me dar. Porém, não parecia satisfeito, e antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, suas mãos grandes subiram pela minha cintura, se arrastando por mim até embrenhar seus dedos em meus cabelos ainda úmidos por conta do mergulho que demos mais cedo, segurando a minha cabeça enquanto seu torso encontrava o meu. Me arrepiei por sentir seu corpo duro e definido me pressionar, arrancando todos os tipos de sensações possíveis da minha pele. Segurei em seus ombros e grudei nossas bocas, abrindo levemente os meus olhos a fim de observá-lo por baixo dos meus cílios pesados quando ele envolveu as minhas pernas, me puxando pra ele. O abracei com as minhas coxas, e ele colou a testa na minha, nossas respirações quentes se misturando enquanto ele corria levemente a ponta dos seus dedos pelo meu rosto, quase como se estivesse tentando se certificar que eu era real. Eu sentia meu coração disparado enquanto o assistia me contemplar, seu olhar acompanhando cuidadosamente o caminho que sua mão fazia pelo meu tronco.
A imagem de entre as minhas pernas fez um arrepio se estender até a ponta dos meus pés. A energia entre nós dois era indescritível, era intensa,mas ao mesmo tempo, suave? Eu poderia dizer que éramos velhos conhecidos pela forma que nos conectávamos, pela forma como ele me tocava. Porém, respirei aliviada por saber que entre nós não existia nada além de tensão sexual. Nada de sentimentos. Nada de decepções.
Me perdi em pensamentos e apenas voltei a realidade quando o vi se levantar para terminar de tirar a sua calça, logo após, tirou uma camisinha do bolso da peça que agora estava jogada no chão. Então Tudo ficou ainda mais real. Eu sentia a minha boca aberta e seca, meus olhos fitando os movimentos da sua mão abaixando a sua boxer enquanto ele se ajoelhava entre minhas pernas. Eu sentia seu olhar queimando no meu rosto enquanto ele se protegia,escorregando o material do preservativo pelo seu membro duro. Quando ele voltou a se debruçar no meu corpo, correndo o nariz pelo meu pescoço, eu me senti tremer em expectativa. Levei minhas mãos para seus cabelos, sentindo seus fios úmidos em minha palma e o abraçando com minhas pernas. colou nossas testas, me observando atentamente enquanto escorregava uma das suas mãos entre os nossos corpos. Senti quando ele se guiou em direção a minha entrada, seus olhos se afundando nos meus quando ele começou a se pressionar vagarosamente, me forçando a me abrir para ele aos poucos. Eu me esforcei para não fechar os olhos, me concentrei em devolver o seu olhar intenso, por mais que estivesse sendo difícil naquele momento. Meus traços vacilaram, minha testa se franziu a cada centímetro que eu o sentia se escorregando para dentro de mim. Minhas unhas se afundaram em suas costas e todo ar escapou dos meus pulmões quando ele se moveu pela primeira vez, então pude sentir cada centímetro dele deslizando pela minha pele sensível enquanto ele se retirava por completo, apenas para entrar profundamente mais uma vez, me tentando.
A sensação era absurdamente surreal. Sons que eu nunca me imaginei fazendo escapavam pela minha boca enquanto eu me entregava ao efeito que ele causava em mim, meus olhos firmemente fechados enquanto entrava e saía de um jeito lento, sentindo cada centímetro da minha intimidade.
Ele rosnou meu nome enquanto enfiava seu rosto no meu pescoço, seus gemidos roucos sendo soprados ao pé do meu ouvido enquanto ele arrastava o seu corpo sobre o meu, pressionando o meu tronco contra o colchão e me arrastando pra cima e pra baixo, de acordo com suas investidas lentas, porém firmes. Ele rebolava deliciosamente dentro de mim, e eu conseguia sentir o quanto estava sendo difícil pra ele se controlar, a manter o ritmo calmo. Seu corpo estava tenso e rígido, seus músculos se arrastando contra os meus seios macios a cada movimento que ele fazia. Os arrepios intensos corriam pelo meu corpo a cada grunhido soprado ao pé do meu ouvido. Os meus batimentos permaneciam enlouquecidos, fazendo o meu corpo inteiro vibrar enquanto eu o abraçava com as minhas pernas, o segurando firme contra mim.
Eu estava tomada de prazer, soprando palavras nem eu mesma entendia enquanto ele girava os quadris, me massageando por dentro, me sentindo. soprou alguns palavrões enquanto se concentrava ao máximo para continuar com o ritmo lento e torturante que o estava tirando do sério. Meus gemidos altos foram calados por sua língua quando ele estocou com um pouco mais de força. Eu embrenhei meus dedos em seus cabelos e o beijei deliciosamente enquanto seu membro me descobria por completo.
Encontrei seus olhos me fitando quando eu abri levemente os meus, ainda sugando os seus lábios macios, gemendo em sua boca enquanto me perdia em suas íris. Eu jamais poderia explicar o que senti quando encontrei o seu olhar, o que senti quando ele me encarou enquanto ainda se enterrava em mim, enquanto ainda me beijava. Tudo ficou ainda mais intenso, mais forte. E ele continuou me olhando, continuou investindo profundamente em mim,continuou esfregando seu corpo úmido no meu até todo o meu prazer se espalhar pelo meu tronco como uma onda, mais intenso do qualquer uma das outras vezes. Minhas costas se arqueando, meus seios se apertando contra o seu peitoral e seu beijo abafando o meu gemido alto. Minhas unhas se afundando na pele das suas costas, minhas pernas o apertando, meus olhos se esforçando para não desviar dos seus enquanto eu tremia, enquanto explodia ao seu redor.
franziu a testa e mordeu a minha boca enquanto me seguia, se mantendo inteiro dentro de mim enquanto também se libertava, produzindo sons roucos que me fizeram estremecer. O peso do seu corpo se soltando sobre o meu era quase sufocante, mas de um jeito bom. Eu me sentia extasiada demais, tentando compreender todo o prazer que corria no meu sangue.
se recuperou primeiro do que eu. Eu sentia meu corpo trêmulo enquanto ele beijava o contorno dos meus lábios, me dando um segundo para respirar.
's POV
3 meses. Há exatos 3 meses eu conheci , que virou minha vida de cabeça pra baixo. Há 3 meses que eu me engano, que tento não pensar naqueles olhos todos os dias. 3 meses que a garota pela qual eu me apaixonei apareceu na minha vida. Não estamos namorando ou algo do tipo, porque, nesse pouco tempo, pude perceber que tem um certo receio de qualquer sentimento que possa surgir. Mas eu não pude evitar.
- , está em casa? - Ouvi a voz do Senhor Stewart, dono do restaurante e do apartamento que eu moro, chamar do outro lado da porta. - ! - meu nome foi chamado pela segunda vez, e quando abri a porta, o homem ali parado já estava pronto pra bater pela terceira vez.
- Olá Senhor Stewart, aconteceu alguma coisa? Precisa de ajuda no restaurante?
- Não, ... Na verdade, precisamos conversar.
Na mesma noite...
Dirigi até o apartamento de , correndo o máximo que podia pelas pequenas ruas de Lancaster, e assim que cheguei, encontrei a garota no hall do prédio, já me esperando.
- ! O que aconteceu? - a garota sustentava um olhar de preocupação enquanto vinha em minha direção.
- Eu preciso beber. E ai eu te conto. - Caminhamos para o carro, e assim que entramos, dirigi até o melhor bar da cidade.
Entramos no local, e eu entrelacei meus dedos aos de , enquanto chegava perto do bar, já ansiando pela bebida mais forte que aquele lugar poderia me oferecer.
- Uma vodka. Pura, por favor. - Disse para o garçom, que assentiu, saindo para pegar o que eu havia pedido.
- ... Será que agora você pode me dizer o que aconteceu? - soltou minha mão e cruzou os braços, encostando no balcão.
- ... Eu... Eu não sei o que fazer. - Segui seus movimentos e me encostei no balcão, afundando minha cabeça entre as minhas mãos, me sentindo completamente exausto. O garçom colocou o pequeno copinho de Vodka na minha frente, e eu o tomei por completo, sentindo o liquido arder em minha garganta. - Eu não tenho mais onde morar.
- O que? Como assim? - A garota se endireitou imediatamente.
- Sim, é isso mesmo... O dono do restaurante que me disponibilizava o apartamento me contou nessa manhã. Os lucros de lá caíram, e meus quadros sequer são comprados, então ele decidiu colocar o apartamento a venda, e eu não tenho nem metade do dinheiro necessário pra comprar de vez aquele lugar, eu... Eu não sei o que fazer. - Respirei fundo, recuperando parte do meu ar, porém, sem me sentir aliviado. Fiz um sinal para o garçom, que entendeu meu pedido, e logo me serviu mais uma dose. - Eu nunca pensei que algum dia seria um adulto fracassado. Eu deveria ter terminado a faculdade de administração que meus pais queriam, não deveria ter largado tudo por um futuro incerto. Eu não vendo um quadro a muito tempo, e minhas economias estão acabando... Eu não quero ter que pedir ajuda para os meus pais ou para o meu irmão, todos eles moram longe e estão vivendo suas vidas, enquanto eu sequer tenho um trabalho descente.
A garota colocou a mão em minhas costas, iniciando um carinho discreto. - Eu sei que as vezes parece que tudo se perdeu, que nossa vida não tem sentido ou que perdemos tempo fazendo decisões erradas... Mas se tem uma coisa que eu sei, com toda a certeza, é que seguir os seus sonhos nunca é um erro. - Levantei o rosto e encarei os olhos que haviam ganhado o meu coração nos últimos meses. Desci meu olhar para a boca que havia me viciado, e não hesitei em beijá-la. Deixei que ela conduzisse o beijo, sentindo que através dele, ela tentava dizer que estaria ao meu lado.
Assim que separei nossos lábios, permaneci de olhos fechados, encostando minha testa na de , porém, tendo a certeza de que não me sentiria melhor tão cedo.
Eu já havia perdido as contas de quantas vezes eu tinha levado aquele copo até a minha boca, mas da última vez que lembro ter contado, eu estava em algo entre o 9... E o 15.
- Er... Moço! Nós... Não vamos querer mais, já está bom pra uma noite, não é ? - fez menção de devolver as duas novas doses que foram colocadas na minha frente, quando segurei suas mãos, impedindo a garota de afastar os copinhos de mim. Bebi todo o conteúdo de uma vez só, sentindo minha cabeça girar.
já havia tentado me tirar dali muitas vezes, já havia inventado diversas desculpas, porém, a cada minuto que se passava, a voz da garota parecia mais distante, a música parecia mais distorcida, e meus pensamentos pareciam cada vez mais esquisitos.
Vi se levantar, e seguir para o meio das pessoas que estavam dançando na pista, logo desaparecendo no meio delas. Me levantei para segui-la, mas senti minhas pernas se enfraquecerem no mesmo momento, então me apoiei no balcão por alguns segundos antes de começar a andar entre aqueles corpos.
A música estava alta, e as batidas pareciam dançar dentro da minha cabeça, as pessoas se moviam ao meu redor em um ritmo completamente diferente do que estava tocando, e meus olhos pareciam não conseguir acompanhar o que estava acontecendo. Acho que é mesmo hora de ir embora...
Andei por mais algum tempo, e finalmente encontrei quem eu estava procurando. estava parada, de costas pra mim, falando com duas meninas que eu não conhecia, provavelmente conhecidas da faculdade. Corri meu olhar pelo seu corpo, percebendo o quanto ela estava linda com aquela roupa. Seus cabelos estavam levemente ondulados, e chegavam até o meio de suas costas, e suas mãos se mexiam animadas, enquanto ela contava alguma história que eu não conseguia entender.
Me aproximei da rodinha de meninas, e virei pra mim, logo grudando nossos lábios. A menina não demorou para corresponder meu beijo, e em poucos segundos, ou muitos, não sei ao certo, a garota estava encostada na parede, com as mãos embrenhadas no meu cabelo e a respiração ofegante. - Você... É linda. - Disse enquanto recuperava o fôlego, ainda de olhos fechados.
- Obrigada. - a garota disse, enquanto acariciava minha nuca com as suas unhas. - Agora... Pode me dizer seu nome?
Naquele momento, as paredes do bar pareceram se encolher ao meu redor, e precisei me encostar na parede pra poder entender o que havia acabado de acontecer. estava brincando com a minha cara, eu tenho certeza, ela sempre faz isso... Eu... Não entendo... Essa música, essas luzes... Onde ela está? Ela estava nos meus braços... Eu... Vou encontrá-la... Preciso esquecer de tudo que aconteceu hoje...
- ! - Gritei, vendo a garota sair apressada do local que estávamos... O que estávamos fazendo lá? Eu não sei...
Sai correndo e senti meu corpo esbarrar em diversas pessoas antes de tocar o braço da garota... Essa garota... Eu a amo. Eu a amo. O que é que está acontecendo?
- Me solta, . Já chega. Nós estávamos juntos, mas você sequer parece saber o significado de respeito. - A garota olhava pra mim com fogo nos olhos, como se pudesse me destruir agora mesmo, eu nunca tinha a visto desse jeito. - Você sempre demonstrou gostar de mim, e na primeira oportunidade de me provar que merece minha confiança, você se entope de bebida e me mostra que não vale a pena. Parabéns. - O que foi que eu fiz? Eu me sinto enjoado. Eu não posso perdê-la.
- ... O que foi que aconteceu? Eu... Vamos pra casa... - tentei me aproximar da garota, que cambaleou pra trás ao se afastar bruscamente de mim.
- Você é nojento . Volta pra seja la quem você estava beijando la dentro. Quer saber? É melhor assim, eu nunca nem senti o mesmo que você.
E foi dessa maneira, que a garota que eu amo me disse adeus.
's POV
Quando alguém quebra a nossa confiança, nos sentimos mal. Muito mal. Demora um tempo pra raiva passar, e quando passa, você chega a pensar que nunca mais confiará em alguém de novo. Mas você confia. E quando te decepcionam mais uma vez? A pancada é maior, e as lembranças voltam.
Quando vi beijando apaixonadamente outra garota, algo dentro de mim se rachou. E provavelmente foi meu coração. Naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era em Joe me traindo, no rosto dele me pedindo desculpas, nas lágrimas em seus olhos e na verdade em sua voz, e tudo isso se intercalava com a feição preocupada e confusa de . E foi então que eu tomei uma decisão. Eu decidi deixar tudo pra trás. Eu não preciso de ninguém além de mim pra ser feliz e realizar todos os meus sonhos. E foi isso que eu fiz.
3 anos depois....
- , precisamos de você aqui! - ouvi meu diretor me chamar, e corri para o estúdio, já colocando os fones e pegando a claquete que estava em cima da mesa da sala ao lado.
- Cheguei! - Corri para trás da câmera principal, bati a claquete e me posicionei ao lado do diretor.
Há 3 anos me mudei de Lancaster, e vim para Nova Iorque trabalhar com o que eu sempre quis: cinema. Encontrei um estágio como assistente de maquiadora no subúrbio da cidade, e em alguns meses, o diretor da produtora decidiu me dar uma chance de fazer parte da produção de pequenos curta-metragens, e hoje em dia, já participo de praticamente todos os projetos desse lugar. É um sonho realizado, e eu não poderia estar mais feliz. Voltei para Lancaster, na Califórnia, apenas para o casamento de e , que continuam me apoiando em tudo, e planejam se mudar para cá em breve.
Em alguns momentos, certas memórias me atingem, e eu penso se teria sido melhor ter colocado um fim em tudo o que passei com ao invés de apenas ter me mudado, mas ao olhar ao meu redor, vejo que não preciso mais me preocupar com isso, eu consegui. Eu mudei a minha vida.
's POV
- Então... Você aceita? - A mulher na minha frente sustentava um sorriso largo e um olhar de expectativas para mim.
- Eu... O que você acha? É claro que eu aceito! Sim! Sim! - Apertei sua mão com entusiasmo, e senti meu peito se encher com uma alegria indescritível.
- Certo, ... Então... Vou pegar o contrato pra você assinar! Em duas semanas iremos expor seus quadros na The National Arts Club, em Nova Iorque.
Uma semana após ter recebido a notícia de que eu deveria sair do apartamento em que eu morava em um mês, eu senti que não teria mais como continuar com a vida que eu levava, senti que precisaria arranjar um trabalho descente, ou até mesmo voltar a morar com meus pais, no Novo México. Comecei a procurar um emprego, e trabalhei por dois anos em um escritório da Califórnia, preso em atrás de uma mesa o dia inteiro, mas foi o suficiente pra alugar um pequeno apartamento e juntar dinheiro para me mudar assim que possível. Assim que vi que havia juntado uma pequena quantia, pedi demissão, e passei a viajar o mundo visitando diversas galerias, procurando oportunidades e conhecendo novos artistas. Há um mês, entrei na TNAC, enquanto estava em Nova Iorque, e foi lá que eu conheci Sarah, a dona do local, e a partir disso tudo mudou. Ela me ajudou a encontrar um lugar pra ficar, e me incentivou a pintar, além de ter me dado uma ajuda financeira pra trazer meus quadros que estavam na casa dos meus pais pra cá. Eu tenho sorte, meus pais, apesar de não terem aprovado minha escolha logo no início, agora me incentivam em tudo, e meu irmão, apesar de mais velho, sempre esteve do meu lado, me ajudando, me apoiando e me mostrando que apesar de tudo, eu sempre o teria.
E é então que eu sinto um vazio. Me falta algo. E no fundo eu sei o que é. A garota de olhos não sai da minha mente, e por mais que eu tente, sei que preciso vê-la mais uma vez, pra poder me desculpar por tudo que eu causei, pra poder consertar tudo o que foi quebrado, e pra ter certeza que está tudo bem.
Quando o dia da exposição chegou, eu já estava na galeria 3 horas antes da abertura oficial, eu revi a posição de todos os quadros, ajeitei a mesa de aperitivos, arrumei minha roupa em frente ao espelho e baguncei o cabelo pelo menos 25 vezes, porém, mesmo assim, a hora não parecia andar.
E foi então que a primeira pessoa entrou.
Era uma senhora, de aproximadamente 60 anos. Ela entrou olhando para os lados, calma, como se não estivesse com pressa alguma. Ela era o meu oposto naquele momento, afinal, eu queria correr na direção dela, explicar a história de cada quadro e vender qualquer um deles o mais rápido possível. A senhorinha deu meia volta, olhando uma última vez. E saiu. Ela saiu da galeria. Saiu, sem olhar mais do que 3 quadros, e sem se interessar pelo que via.
Me sentei em um banco, desistindo de esperar. Olhei ao meu redor, novamente questionando se todo esse esforço um dia valeria a pena. Mas, é claro que valeria. Um dia me disseram que lutar pelo que sonhamos nunca é uma decisão errada, e é nisso que eu acredito.
Algum tempo depois, a galeria estava parcialmente cheia. Sarah era uma mulher muito conhecida, e alguns compradores influentes estavam ali, analisando meu trabalho com seus olhares críticos e suas contas bancárias cheias. Grupos de jovens se espalhavam pelo local, e vez ou outra eu via os seguranças contratados chamarem a atenção de alguns, por estarem tirando fotos ou tentando tocar nas obras. A mesa de aperitivos já estava vazia, e vi duas moças de uniforme retirando-a do centro do salão, enquanto mais pessoas entravam na galeria.
Eu me sentia vivo, como nunca antes. E foi então que vi um rosto conhecido entrar, e meu coração pareceu parar, por muitos, muitos segundos.
's POV
Era hora do almoço e meu estômago estava desesperado por qualquer comida que fosse, então decidi dar uma pausa na revisão dos roteiros que eu estava fazendo e ir comer alguma coisa ali por perto. Andei por uns dois quarteirões e vi uma pequena movimentação em frente a uma galeria de artes pequena, o que era raro, afinal, havia tempos que eu não via esse lugar com algo realmente bom. Caminhei até a porta, procurando o nome do artista que estava expondo suas obras ali.
- Olá, com licença... - Chamei a atenção de um dos seguranças que estavam na porta. - Você pode me dizer qual é o nome do artista, dono dessas obras? - Perguntei por pura curiosidade, afinal, pretendia sair dali em, no mínimo, 2 minutos, ou iria desmaiar de fome.
- Me desculpe, querida. - uma mulher loira caminhou em minha direção, com seu salto alto batendo no chão frio da galeria, logo mudando o som que fazia, ao pisar na calçada de cimento que eu me encontrava. - O artista prefere só ser identificado do lado de dentro do estabelecimento, se quiser, posso te levar lá pra dentro, vamos? - uma mão com unhas grandes e pintadas de vermelho foi estendida na minha direção, e eu estiquei o pescoço, olhando pra dentro da galeria, vendo muitas pessoas conversando e observando os quadros, que pareciam ser muito bonitos. Por que não? Minha curiosidade falou mais alto, e eu entrei no local, ignorando a gentileza da mulher que havia falado comigo.
Caminhei por um pequeno corredor, com pequenos quadros expostos, e cheguei no hall principal, aonde haviam obras por todos os lados, e pessoas indo e vindo, continuei seguindo, até que ouvi meu nome ser chamado. E eu conhecia aquela voz.
- ? - Me virei para o dono daquela voz, e senti todo o meu sangue congelar. Minha cabeça girou por alguns segundos, e eu precisei piscar algumas vezes para poder acreditar no que eu estava vendo. estava ali, estava ali.
- O-Olá, . - Falei com a voz baixa, já pensando em uma forma de sair dali.
- Como você ta? - O garoto perguntou, parecendo receoso em ter qualquer tipo de contato comigo. - Você... O que você ta fazendo aqui?
- Trabalhando. - respondi seca, olhando para os lados a procura de algum rosto conhecido, então vi a mulher loira que havia falado comigo na porta, e assim que seus olhos encontraram os meus, vi que ela abriu um sorriso forçado, e caminhou na minha direção.
- Bom, vejo que se conheceram sem a minha ajuda... - A loira falou, fortalecendo seu sorriso perfeito, e olhando de para mim de forma animada. - A senhorita tem interesse em adquirir algum dos quadros de ? - arregalei os olhos assim que a frase saiu de sua boca, então, essa exposição era de , eu havia entrado na exposição dele! Com tantas galerias no mundo, com tantos horários no mundo e com tantas mulheres loiras no mundo, essa havia me convencido a entrar na galeria que estava expondo as obras de . Respirei fundo, buscando aliviar todo o nervosismo que me atingiu assim que eu vi o rosto do homem a minha frente.
- Meus.... Meus parabéns. - Olhei na direção de , enquanto me abraçava, tentando me proteger de todas as sensações que passaram por mim naquele momento.
- Obrigada, . Espero que esteja gostando... - o rosto do homem na minha frente continuava lindo. Seus olhos ainda transmitiam uma culpa da qual ele não era capaz de se redimir agora, suas bochechas ainda eram coradas e sua boca ainda era, de longe, a mais bonita que eu já havia visto. Droga, . Sai logo dai.
- Sim... Está tudo lindo. - Tudo lindo? Que merda é essa? Você quis dizer que ele também está lindo? - Digo... As obras são ótimas. - soltei um sorriso fraco, enquanto ouvia a mulher loira ao nosso lado falar algo e sair andando, mas eu não conseguia me preocupar com isso agora, eu só conseguia pensar que, em todas as galerias do mundo, com todos os artistas do mundo, eu estou aqui.
E nesse momento eu não consigo pensar na raiva que eu senti de a alguns anos, eu só consigo me lembrar da forma que ele me olhava, da maneira que nos encaixamos em todos os sentidos, mas, principalmente, na maneira em que ele me fez amar, mesmo que imperceptivelmente, até mesmo pra mim. Eu sempre tratei tudo o que tivemos como um jogo, mas após perder tudo aquilo, eu percebi... havia se infiltrado no meu coração e o quebrado.
Mas agora ele está aqui.
Agora nós estamos aqui.
E nós temos a chance de fazer tudo diferente.
Mas... E se?
's POV
está linda. Percebo que ela está desconfortável com a situação, mas sempre que imaginava esse encontro, pensava na moça que está na minha frente me ignorando e saindo sem trocar sequer uma palavra comigo, ou então, arremessando objetos contra mim e saindo sem olhar para trás. Nenhuma das opções eram boas. E nenhuma delas aconteceu. Ela está aqui, e não parece pronta para me machucar de qualquer maneira que seja. Essa é a minha chance.
- Bom, eu... A galeria fecha ás 20h. O que... O que acha de me encontrar no Craft... Pra... Conversarmos? - eu pareço um garotinho de 10 anos nervoso ao falar com uma menina pela primeira vez. Mordo meu lábio inferior instantaneamente e percebo que minhas mãos estão suando. Efeito .
A garota parece procurar qualquer objeto para fixar o olhar, porém, ao não encontrar nada que a faça fugir do assunto, seus olhos foram voltados na minha direção, e por alguns segundos, pude ver um brilho diferente neles.
- Eu preciso trabalhar. E... Acho melhor as coisas continuarem como estão... Vou indo, . - a garota fez questão de se afastar, e eu imediatamente entrei na sua frente. - Não faz isso... Eu preciso mesmo ir.
- Me escuta. Eu nunca deveria ter te deixado se afastar sem me explicar, o que aconteceu anos atrás foi um erro, mas eu fui covarde, eu te deixei ir, mas agora você esta aqui, não acha loucura? Eu não posso te deixar sair andando de novo, só me deixa te explicar tudo o que aconteceu, e eu prometo que te deixo em paz. - olhou para as próprias mãos, e sorriu levemente.
- Eu saio ás 21h. Te encontro no Craft. - E mais uma vez, a garota que invade os meus sonhos constantemente, saiu andando. Mas dessa vez eu sei que a verei de novo.
Assim que sai da galeria, corri até o restaurante combinado, e após praticamente implorar para o gerente do local pela reserva de uma das mesas, passei a caminhar na calçada com uma sensação de felicidade indescritível, meu sonho estava se realizando, todo o meu esforço estava finalmente sendo recompensado, mas eu sei que grande parte dessa felicidade tem um motivo, um motivo lindo.
Entrei no restaurante exatamente ás 21h. Um homem com aparentemente 40 anos me acompanhou até uma das mesas no canto do local, que era extremamente aconchegante, e possuía uma das melhores cartas de vinhos da cidade. Me sentei em uma das cadeiras e passei a olhar ao meu redor, me perguntando se viria, se ela me deixaria aqui, se ela sumiria de novo, se...
Até que meus olhos alcançaram os seus, ela estava linda. Não precisava de qualquer roupa chique e jóias caras pra ser uma das mulheres mais deslumbrantes que eu ja havia visto. Ela se aproximou da mesa em que eu me encontrava, e eu me levantei imediatamente, a cumprimentando com um leve aceno de cabeça.
- Você está linda, ... Digo, . - puxei a cadeira em frente a minha para que ela se sentasse, e voltei para o meu lugar assim que ela se acomodou.
- Muito obrigada, . Só , por favor. E você também está ótimo. - parecia medir as palavras ao falar comigo. - Esse lugar é maravilhoso.
- Sim, é mesmo, e a comida daqui é ótima! Espero que ainda goste de camarão, você não imagina o prato que eles sevem aqu... - Interrompi minha frase, ponderando se deveria ou não continuar. não era mais a mesma, eu conseguiria perceber isso á quilômetros de distância, e não sei se mencionar o tempo em que estivemos juntos fora uma boa ideia.
- Eu ainda amo camarão. - disse, me tirando dos meus devaneios, e abrindo um sorriso, que naquele momento, se tornou a minha visão favorita.
Passamos horas conversando sobre todos os assuntos possíveis, comemos, bebemos, e nesse curto espaço de tempo, pude me encantar ainda mais pela mulher que estava na minha frente. Saber que ela havia conseguido alcançar seus objetivos era ótimo, e ter a oportunidade de vê-la mais uma vez era um presente do Cara la de cima, e eu nunca deixaria de agradecer por isso.
Porém, em toda a nossa conversa, o dia em que nos separamos havia sido deixado de lado, sequer havíamos citado qualquer coisa que passamos, mas eu sabia que era inevitável, eu não poderia sair daqui sem dizer tudo o que eu preciso para .
- , eu amei escutar cada história que você viveu desde a última vez que nos vimos, mas nós dois sabemos que existem coisas que precisam ser esclarecidas. - A garota assentiu, visivelmente mais confortável na minha presença, e mais uma vez eu pude enxergar a mulher incrível que ela havia se tornado. - Naquela noite, tudo ao meu redor parecia ter desmoronado, eu havia acabado de perder o meu apartamento, e tudo o que eu havia escolhido pra minha vida parecia errado. Eu não devia ter bebido tanto, mas agora não adianta me lamentar, eu bebi, e muito, e foi quando... Foi quando eu te confundi com outra garota. Eu não tinha plena consciência do que estava fazendo, mas em todo o tempo eu pensei estar beijando você. Eu sei que nada do que eu diga vai diminuir a minha culpa, mas eu preciso que você me perdoe. Eu quebrei a sua confiança, mesmo sabendo que você já havia sido traída, e eu não espero que você entenda e acredite no que eu vou dizer agora, mas eu me arrependo. Eu me arrependi no mesmo momento, me arrependi no dia seguinte, me arrependi no mês seguinte e me arrependo hoje. Te encontrar aqui é inacreditável pra mim, mas eu precisava dessa chance. Obrigada por ter aceitado vir até aqui. - Respirei aliviado assim que a última palavra saiu da minha boca, sentindo um peso enorme ser retirado de cima dos meus ombros.
se endireitou na cadeira, e puxou o ar antes de começar a falar.
's POV
- , eu passei muito tempo sentindo raiva de você, e deixei que os meus problemas do passado me cegassem. Eu não estou tirando a sua culpa, até porque eu vejo que você percebeu que foi um erro, mas o que eu estou tentando dizer é que eu fui extrema, eu sequer te dei uma chance de se explicar, e simplesmente segui com a minha vida. Nós não somos velhos. – ri fraco, tentando aliviar toda a tensão que emanava. - mas com certeza somos mais maduros do que éramos antes, e hoje eu vejo que tudo não passou de um erro bobo. Você me fez passar por momentos muito bons, e eu não deveria ter sido tão egoísta. - apoiei meu rosto em uma de minhas mãos, e sorri levemente para o homem a minha frente, que parecia em transe.
- Eu sonhei em te reencontrar por muito tempo... - começou a falar e desviou os seus olhos dos meus, os direcionando para fora do restaurante, como se estivesse se perdendo dentro dos seus próprios pensamentos. - Você acredita nisso? Digo... Viemos parar na mesma cidade, cada um fazendo o que ama...
- Isso é incrível. Eu fico feliz por nós. - Disse de forma sincera, e antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, senti a mão de pousar sobre a minha, iniciando um carinho quase imperceptível.
- O que acha de dar uma volta por aí? - perguntou, e eu não pude negar. Não enquanto seus olhos estavam cravados nos meus. Não enquanto a imagem de nós dois juntos martelava na minha cabeça.
Assenti no mesmo momento, e após alguns minutos insistindo para que me deixasse pagar metade do jantar, – o que foi em vão - saímos do restaurante.
Caminhamos até o Gramercy Park, que parecia ainda mais lindo durante a noite, com pequenas luzes espalhadas e alguns bancos vazios que se localizavam nas laterais de ruas de pedras. Nos sentamos em um desses bancos, e passamos alguns minutos apenas observando a beleza do parque, e cada vez mais, sentia se aproximando de mim.
- Posso te fazer uma pergunta? - Falei com a voz baixa, enquanto encostava minha cabeça no ombro de .
- É claro que pode. - Senti suas mãos iniciarem um carinho em meu cabelo.
- O quanto você gostou de mim... Quando nós ficamos juntos? - Me arrependi no mesmo momento. Que tipo de pessoa pergunta isso? Eu não acreditom, droga, droga, droga.
- Bom... - riu fraco. - Digamos que... Eu gostei muito de você. Bem mais que o recomendado.
E foi então que uma sensação que a muito tempo eu não sentia voltou a me invadir, as borboletas no meu estômago pareciam dançar por entre as palavras que acabara de falar, e naquele momento eu me senti de volta ao píer, nos braços dele, sem qualquer mágoa.
- Me desculpa. - Sussurrei, me aninhando ainda mais em seus braços.
- Pelo que? - desencostou sua cabeça da minha, tentando alcançar os meus olhos, que estavam escondidos em seu pescoço.
- Por não ter correspondido o seu sentimento. Eu tinha medo. Tinha medo de me apaixonar por você, então eu tratava tudo o que tínhamos como uma brincadeira, sem pensar em você, apenas tentando satisfazer as minhas vontades. Você sempre me tratou como uma mulher de verdade, e eu também errei ao não te dar valor. Torço pelo seu melhor.
E então, tirou seus braços dos meus ombros, e colocou as duas mãos em meu rosto, se aproximando de mim com a respiração levemente descompassada.
- Não fala mais nada, . Eu nunca quis te pressionar a fazer nada, eu não podia te obrigar a também se apaixonar por mim, e...
- Se apaixonar? - Cortei a fala de , com os olhos arregalados. - Você... Estava apaixonado por mim?
O homem na minha frente parecia pensar nas palavras certas pra me dizer, mas assim que senti seu carinho em meu rosto, vi que ele não precisaria falar uma palavra sequer para que eu entendesse tudo.
- Sim. Eu me apaixonei por você.
Então me beijou.
Quando nossos lábios se tocaram, foi como se tudo fizesse sentido novamente, todas as noites em claro pensando nas decisões que eu havia tomado, todas as festas cheias de pessoas vazias que eu entrei, todos os caras que eu conheci e que não deram certo comigo... Tudo fez sentido. Meu corpo pedia por , e agora ele está aqui. Embrenhei meus dedos em seus cabelos, que permaneciam macios como eu me lembrava, e quando suas mãos passearam pela minha cintura e nossas línguas se encontraram, eu senti que estava onde eu deveria estar.
3 meses depois...
's POV
Algumas vezes na vida, nos separamos de pessoas que amamos, muitas vezes nos apaixonamos por outros rostos, e seguimos a nossa vida, errando e aprendendo. Mas algumas vezes, nos separamos de pessoas que não deveriam ter saído de nossas vidas, e são nesses momentos que coisas incríveis acontecem. Não conseguimos nos desvencilhar de alguém que foi destinado a estar em nossas vidas, e por mais que a gente tente fugir, algumas pessoas foram feitas para estarem juntas. e eu somos um exemplo de pessoas como essas. Depois de nos reencontrarmos, três meses atrás, tudo mudou. Nos conhecemos novamente, dessa vez sem qualquer peso nos rodeando, sem qualquer empecilho, apenas dois adultos, dispostos a se amarem mais uma vez.
Me levantei da cama, olhando para o lado e vendo que não estava mais lá. Caminhei até a sala, a encontrando na sacada de seu apartamento, com um cigarro entre os lábios, - um vício que não estamos dispostos a abandonar- procurando algo na pequena estante que fora colocada ao lado do sofá no pequeno espaço.
- Procurando isso? - Me aproximei, rodando um isqueiro entre o dedo polegar e o indicador. Acendi o cigarro, e senti sua mão segurar a minha. - O que foi?
- Lembra disso aqui? - A garota tirou o cigarro dos lábios, enquanto acariciava a superfície do isqueiro, que estava na palma da minha mão.
Abaixei o olhar, e pude ver minhas iniciais escritas ali. então virou o objeto, revelando as próprias iniciais escritas do outro lado, quase imperceptíveis naquele objeto velho, mas ainda assim, muito visíveis pra nós.
- Como eu poderia esquecer? - Ri. - Quem diria que essa coisinha aqui seria capaz de dar início a uma história tão maluca quanto a nossa, né? - Fechei a mão ao redor do isqueiro, e abracei a mulher a minha frente, depositando um beijo leve em seus cabelos, enquanto via a fumaça que saia de seus lábios nos rodear.
- Já pensou se por algum acaso o isqueiro fosse de outro cara? Será que eu viveria tudo isso aqui com ele? - riu divertida, enquanto afastava seu rosto para me observar.
- Eu nem quero imaginar como seria viver sem ter te conhecido. - Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha, e peguei o cigarro de seus dedos, o apagando no parapeito da sacada. - Eu só tenho uma coisa pra te pedir agora...
- O que? - perguntou, com o conhecido brilho de curiosidade iluminando seus olhos,.
- Eu não quero te dizer adeus nunca mais. Não me faça ter que ficar longe de você, por favor.
então sorriu, passando seus braços pelo meu pescoço. - Você não precisa mais me dizer adeus, . Eu estou aqui, e não pretendo sair.
Então iniciamos um beijo apaixonado como os outros, porém, dessa vez, uma promessa havia sido selada.
E eu sei que nós iremos cumpri-la.
Eu... Não entendo... Essa música, essas luzes... Onde ela está? Ela estava nos meus braços... Eu... Vou encontrá-la... Preciso esquecer de tudo que aconteceu hoje...
- ! - Gritei, vendo a garota sair apressada do local que estávamos... O que estávamos fazendo lá? Eu não sei...
Sai correndo e senti meu corpo esbarrar em diversas pessoas antes de tocar o braço da garota... Essa garota... Eu a amo. Eu a amo. O que é que está acontecendo?
- Me solta, . Já chega. Nós estávamos juntos, mas você sequer parece saber o significado de respeito. - A garota olhava pra mim com fogo nos olhos, como se pudesse me destruir agora mesmo, eu nunca a tinha visto desse jeito. - Você sempre demonstrou gostar de mim, e na primeira oportunidade de me provar que merece minha confiança, você se entope de bebida e me mostra que não vale a pena. Parabéns. - O que foi que eu fiz? Eu me sinto enjoado. Eu não posso perdê-la. - Quer saber? É melhor assim, eu nunca nem senti o mesmo que você.
E foi dessa maneira, que a garota que eu amo me disse adeus.
's POV
Cervejas. Cigarros. Luzes. Era tudo o que passava pela minha mente. A última coisa de que me lembro era de ter sido chutado pra fora de mais uma galeria de artes da Califórnia, e ter dirigido sem rumo, até parar em um bar desconhecido, cheio de homens bêbados e garçonetes com sorrisos falsos em busca de alguma gorjeta.
- Sai da frente, cara! – Fui empurrado pro lado direito assim que a voz alcançou meus ouvidos, foi então que percebi que estava fumando encostado na porta do banheiro, atrapalhando a passagem dos bêbados desesperados depois de centenas de garrafas vazias. – Foi mal.. – Falei tão baixo que quase não me escutei, saindo daquele corredor e tentando encontrar a porta do bar.
Avistei as luzes da rua e caminhei pra fora, sentindo o vento gelado bater no meu rosto, me causando uma sensação de alívio instantânea. Droga. O dia hoje foi um lixo. Eu só queria estar bêbado o suficiente pra não me lembrar disso.
Ser um pintor jovem e fracassado não é tão fácil quanto parece... Eu larguei a faculdade de Administração no Novo México um ano após iniciá-la, contra a vontade dos meus pais, encontrei um emprego em um escritório em Cedarvale,que apenas me serviu pra conseguir sair de casa... Fui morar de aluguel em uma casa pequena no subúrbio da cidade, e como o esperado para um jovem finalmente livre, gastei todas as minhas economias em bebidas e festas. Em menos de um mês, eu recebi o temido aviso de despejo. E hoje? Sou um cara de 22 anos que pinta quadros sobre histórias melhores do que as que eu mesmo vivi. E a única conquista que alcancei até agora foi o grande privilégio de morar em um apartamento acima de um restaurante falido. Eu pinto, coloco meus quadros expostos nas paredes da espelunca, e quando eles são comprados, o dono me da parte do dinheiro, além de me deixar morar lá. É pouco, mas eu tenho uma casa.
Joguei o pequeno pedaço restante do meu cigarro no chão, tateei meus bolsos em busca da chave do meu carro, e ao perceber que estava lá, comecei a andar em direção a velha caminhonete que comprei a alguns meses. Mas antes de me afastar mais do que três passos, escutei a porta de ferro dos fundos do bar bater com força, olhei pra trás e avistei uma garota, cambaleando nos seus sapatos de salto e shorts absurdamente curtos. Foi então que eu percebi sua blusa com o logo do local, certo, ela era uma das garçonetes que estavam se insinuando lá dentro.
- Sabia que encarar é feio? – A garota perguntou, dando um sorriso torto. – Poderia pelo menos me oferecer um cigarro.
Olhei pras minhas mãos que seguravam a caixa de cigarros e as chaves do carro, e balancei a cabeça acordando dos meus devaneios, devo estar parecendo um idiota, mas a pouca cerveja que eu bebi já serviu pra me deixar mais lento.
– Ah, é claro... Você quer um? – Retirei um cigarro da embalagem e quando fui andar pra entregá-lo, percebi que a garçonete já tinha se aproximado de mim, pegando o mesmo das minhas mãos e colocando-o entre os seus lábios. – Ok... Você quer. Espera aí, eu tenho um isqueiro por aqui... – Comecei a procurar o objeto nos meus bolsos e percebi que não estava lá, não era o primeiro daqueles que eu perdia, e ao levar em conta a quantidade de pessoas que estavam dentro daquele bar, não pretendo me arriscar a procura-lo. – Na verdade, devo ter deixado la dentro. – A garota sorriu e tirou um isqueiro do bolso traseiro, acendendo o cigarro que acabara de pegar, tragando rapidamente.
- Achei esse aqui lá dentro, em cima do balcão. – Ela balançou o frasco vermelho na minha frente, e assim que foquei meus olhos nele notei iniciais escritas em uma caligrafia conhecida. Conhecida demais, afinal eram as minhas iniciais que estavam ali: L.M.
- Esse isqueiro não me é estranho... – Peguei o objeto suavemente de suas mãos pequenas e apontei pra escrita. – , sou eu. Obrigada por me poupar de ter que comprar outro desses amanhã de manhã. – Dei uma risada fraca e girei o objeto nos meus dedos.
- Espera aí... Achado não é roubado. Pode me entregar de volta, “Senhor iniciais comuns demais pra serem exclusivamente suas”? – A garota riu gostosamente e tentou pegar o isqueiro de volta, se esticando em direção a ele enquanto eu me fingia de ofendido, virando de costas pro seu ataque.
- Certo, certo, fazemos assim então, eu te dou o isqueiro por uma semana. Depois disso, ele volta a ser meu. – Entreguei o frasco nas mãos dela, mas antes que ela fechasse os dedos ao redor dele, o puxei de volta. – Mas com uma condição... Me diz seu nome. – Me aproximei devagar enquanto ela parecia processar o que eu estava fazendo. Bem, parece que eu não sou o único que foi afetado pela bebida.
- Meu nome é... . . - Dei mais um passo em sua direção, quase colando nossos corpos. Aproximei minha mão de seus braços, tocando sua pele quase imperceptivelmente. Desci meu toque para a sua cintura enquanto não conseguia desviar o olhar do dela. – O que você ta fazen... - Dei um riso nasalado e puxei a caneta que estava colocada no apoio para cinto do seu shorts jeans.
- Isso. – Me afastei dela e comecei a escrever suas iniciais com certa dificuldade no outro lado do isqueiro. – Agora... Ele é oficialmente metade seu. Mas só por uma semana. – Pisquei pra e percebi que seus olhos ganharam um brilho de divertimento.
- Certo... E quem garante que eu vou te devolver?
- Não vai? – Voltei a me aproximar da garota. Alguma coisa nela me faz ter vontade de ficar cada vez mais... Perto.
- Sexta-feira da semana que vem, no píer de Santa Monica, às 19h00. – sorriu e me deu um beijo suave no canto dos lábios.
- Não me decepcione, ou vou ter que te acusar de sequestro de isqueiros. – Ri abobado da minha própria piada enquanto observei a garçonete se dirigir pra dentro do bar. – Boa noite, .
's POV
Sexta-feira. Oficialmente o melhor dia da semana, e pra completar, recebi uma folga da minha chefe, o que me livra de ter que aguentar caras bêbados a noite toda.
Escuto o toque irritante do meu despertador, e decido me levantar mesmo ainda sentindo os olhos pesados. Assim que entro na cozinha, percebo que aquele lugar precisa urgentemente de uma limpeza, sinceramente não me lembro qual foi a última vez que me preocupei em arrumar aquilo tudo.
Morar sozinha tem as suas vantagens, mas às vezes a responsabilidade bate na porta e você começa a perceber que os papéis higiênicos não são comprados sozinhos e que a sua cozinha não se limpa magicamente. Saí de casa com 18 anos, assim que entrei na faculdade de Cinema, na USC. E hoje, com 21 anos, ainda estou me acostumando com essa tal de “vida adulta”.
Tomei um café improvisado por cima das milhares de embalagens vazias que estavam na minha bancada, e logo fui até o meu quarto pra me trocar. Coloquei uma blusa 3 vezes maior do que eu, e voltei pro local de guerra. - É cozinha, parece que teremos problemas por aqui. - Comecei a jogar as embalagens vazias no lixo, limpei a bancada, lavei a louça, arrumei as compras que fiz na semana passada dentro dos armários, limpei o fogão e os azulejos do chão. Depois de algumas horas, parecia que o trabalho estava feito, e eu me joguei no tapete da sala cansada demais até pra me locomover até o sofá.
Em menos de dois minutos, comecei a sentir minha barriga roncar e me dei conta que já estava na hora do almoço. Fui até o meu quarto e coloquei o primeiro vestido que encontrei, afinal, a preguiça de vestir duas peças era maior do que qualquer outra coisa no momento. Voltei para a sala e peguei minhas chaves e minha carteira, saindo em seguida do apartamento, afinal, eu não sujaria um prato sequer pelos próximos dias.
Depois de uma caminhada rápida, entrei no melhor restaurante de todos: o da minha melhor amiga.
- Boa tarde, margarida! – gritou de trás do balcão chamando a atenção de alguns clientes. – Lembrou de mim ou só veio porque sua lombriga interior te obrigou? – Vi minha amiga abrir um sorriso travesso.
- Claro que... Minha lombriga atacou! – Ri, abraçando de um jeito torto por cima de alguns pratos que estavam na bancada. – Como você está?
- Bem, e você? Continua odiando o seu trabalho? Parece que faz anos que não nos falamos, você sumiu nas últimas semanas.
- Me desculpa, a dona do bar é bem exigente e o trabalho é puxado... – Me sentei em um dos bancos altos que ficam em frente ao balcão e apoiei o rosto em minhas mãos. – Você sabe, eu queria estar trabalhando com cinema, e não em um bar distante e sujo. Olhei pela janela e vi a praça central da cidade cheia de crianças correndo sob os olhares atentos dos pais, pássaros atrás de alguma migalha e senhorinhas conversando nos bancos mais afastados. Chegava a ser cômico, a menina que sonha em viver histórias incríveis pelo mundo todo, conformada com a vida que tem em uma cidade absurdamente clichê. Não quero parecer ingrata, eu realmente gosto de tudo que conquistei, mas tenho medo de algum dia olhar pra trás e perceber que na verdade vivi uma vida medíocre.
- Sobre isso.. Acho que tenho a solução. – disse enquanto abria uma garrafa de refrigerante pra nós.
Minha melhor amiga é alguns meses mais velha do que eu, mas sempre que paro pra pensar em tudo que ela conquistou, me sinto como uma criancinha admirando a mãe. Ela fez um curso de gastronomia na Itália enquanto fazia um mochilão pela Europa, curso esse que durou pouco mais de duas semanas e garantiu a um diploma. Na mesma viagem, ela conheceu , atual namorad... Noivo dela, e os dois se apaixonaram perdidamente. Assim que ela voltou, o trouxe junto e os dois abriram um pequeno restaurante na cidade, as coisas pra eles estão cada vez melhores com o lugar ganhando mais reconhecimento e com o tão sonhado casamento chegando... Sei que a história pode parecer meio precipitada, mas está feliz, ambos estão, e ela merece alguém que a faça sorrir. Do lado oposto, temos . Não quero ter que mudar minha rotina por outra pessoa, não quero me limitar a jantares românticos e flores, e acima de tudo, não quero ter o meu coração partido. Não mais uma vez. Sei que sou muito diferente da minha melhor amiga, mas enquanto ela tem a vida encaminhada, eu nem consigo fazer o meu diploma da faculdade valer a pena.
- ? – Ouvi a voz de me chamar e percebi que estava mais uma vez viajando nos meus próprios pensamentos. – Acorda, mulher! Você escutou o que eu disse?
- Er.. Não. Desculpa , o que você disse?
-Sabe, eu e andamos conversando, e nunca contratamos ninguém pra trabalhar aqui porque conseguimos nos virar bem sozinhos, mas seria legal ter mais uma pessoa de confiança na equipe, e quem melhor do que você? Não é o melhor emprego do mundo, mas aqui não é um bar distante e sujo. – riu após repetir minha frase de minutos atrás.
Arregalei os olhos enquanto focava minha visão em , que me olhava com ansiedade. - ... Isso é sério? Mas, vocês tem que pagar muitas coisas do casamento, nunca quiseram outro funcionário aqui por causa disso.
- Exatamente por estarmos ficando bastante ocupados com os preparativos do casamento, precisamos que alguém cuide das coisas por aqui... O que me diz?
- Eu... Ai meu Deus, É CLARO QUE EU ACEITO! - Abri um sorriso enorme enquanto dava alguns pulinhos de alegria.
- Isso exige uma comemoração! Me fala, o que quer comer? Aproveita enquanto você ainda é cliente, queridinha. – Rimos enquanto eu fingia olhar o cardápio, mas na verdade eu já sei o que quero.
- Hm... Que tal...? – Troquei um olhar cúmplice com , que sorriu.
- HAMBÚRGUER E BATATAS FRITAS! – Dissemos juntas rindo alto depois. Hambúrguer com batatas fritas é o nosso prato preferido, e sempre que nos encontramos comemos a mesma coisa, hoje não poderia ser diferente.
correu para os fundos do restaurante enquanto eu balançava as pernas, fazendo um barulho metálico enquanto batia com os meus tênis no banco. Em poucos minutos ela voltou com dois pratos nas mãos e se sentou ao meu lado, colocando um deles na minha frente.
- Aqui está, madame. Bom Appetit.
Dei uma mordida gigante enquanto praticamente escutava meu estômago cantar de alegria. – Melhor hambúrguer de todos. – Falei com a boca cheia escutando a risada de que passou por nós na mesma hora. – Oi . – Acenei e voltei a comer como se não provasse qualquer alimento à dias.
- Então, como não nos falamos a algum tempo, tenho que te inteirar sobre o meu casamentooo.. – cantarolou. – Escolhi a cor do seu vestido, você vai ser a madrinha mais estilosa de todas!
Continuei escutando todos os planos de , ela era uma amiga incrível, não conseguia imaginar minha vida sem ela. E sempre que penso em largar tudo e sair dessa cidade, acabo desistindo por perceber que seria loucura abandonar uma das pessoas que sempre estiveram comigo quando eu mais precisei.
FLASHBACK – Três anos antes
Passei pelas portas da faculdade aliviada por não ter tido a última aula e logo me arrependi por não ter levado uma blusa extra, o tempo estava fechado e ameaçava uma tempestade. Apertei o passo e segui pela calçada em direção ao apartamento que eu divido com o meu namorado, Joe.
- Amor? – Chamei assim que entrei e fechei a porta atrás de mim, largando minha mochila no chão. – Joe? Já chegou? – Escutei um barulho no quarto e dei uma risada baixa, já acostumada com a mania que ele tinha de me assustar.
Caminhei devagar até a porta, e quando a abri, já com um sorriso esperto no rosto, me deparei com uma cena que me mudaria pra sempre. Joe, meu namorado, estava deitado de bruços na cama enquanto uma garota loira estava apenas de calcinha no banheiro, mexendo nos produtos que eu deixo em cima da pia. Quando ela notou a luz que vinha da porta aberta deixou um dos frascos de perfume que tinha nas mãos cair, logo cobrindo seus seios com um dos braços, e tirando os fios que caíram em seu rosto com a mão livre, assustando meu namorado que dormia tranquilamente. Permaneci estática enquanto sentia meu coração se despedaçar dentro de mim, a dor chegava ser física, e eu não conseguia sequer me mover.
- Amor... ! – Joe se levantou correndo e vestiu uma calça de moletom cinza que estava jogada no chão – Amor... Olha pra mim, olha pra mim... – Joe segurou o meu rosto com as duas mãos enquanto eu mantinha o meu olhar baixo. –Jessica, sai já daqui. – Ele se virou pra garota que já estava se vestindo ao lado da cama, ao lado da nossa cama.
Empurrei suas mãos pra longe de mim, enquanto caminhava pra trás até bater com as costas na parede do corredor que levava ao quarto. Coloquei minhas mãos na boca pra abafar os soluços que ameaçavam chegar enquanto tentava respirar, mas estava tudo confuso, eu não conseguia enxergar direito, e logo percebi que meu esforço pra não chorar foi em vão, em poucos segundos as lágrimas começaram a molhar o meu rosto.
- V-Você... Você estava com ela... Joe... No nosso quarto... Eu... – Tentei falar alguma coisa mas todas as palavras que passavam pela minha mente eram esmagadas assim que chegavam na minha boca. – Meu Deus... E-Eu te dei tudo.. Eu confiei em você... Eu mudei por você... Joe...
- , me escuta, por favor, a gente pode resolver isso – Joe se aproximou novamente, mas antes que ele pudesse encostar em mim, desencostei da parede e andei até a sala enquanto enxugava o meu rosto. Respirei fundo rápido o suficiente apenas pra olhar pra ele mais uma vez, e assim que o fiz, vi Jessica, a tal garota, sair do quarto com uma bolsa nas mãos, e entrar no campo de visão de ambos assim que chegou no meio do apartamento.
- , me desculpa... Eu realmente não quis... Eu... Eu não queria que você tivesse passado por isso. – A garota disse olhando pra baixo enquanto abraçava o próprio corpo.
Dei uma risada alta e forçada enquanto me aproximava dela com passos duros. – Não queria que eu tivesse passado por isso? Você não tem vergonha?! Sabe, eu teria... De precisar me submeter a um relacionamento escondido com um cara que namora, e ainda ter sido encontrada no apartamento que ele e a namorada dividem... – Dei um último passo em direção a ela e a vi dar outro pra trás. – Eu deveria me rebaixar ao pior nível de todos e arrancar todos esses fios de cabelo da sua cabeça, mas a única coisa que eu sinto por você é nojo. Você é patética, e eu espero que nunca tenha que sentir o que eu estou sentindo. Sai da minha casa. AGORA. – Gritei e a vi correr para a porta, saindo rapidamente e a fechando com força.
Passei minhas mãos pelo meu rosto sentindo toda a força que eu tinha adquirido se escorrer coluna abaixo, eu sabia que Joe estava me olhando, eu sabia que ele estaria com o olhar mais arrependido e machucado de todos, e eu sabia que ele iria fazer o possível eo impossível pra me ter de volta. Mas eu não conseguia explicar o que estava sentindo, eu estava... Vazia. Eu não conseguia sentir nada além de uma vontade absurda de sair de perto dele, eu não queria chorar, eu não queria gritar, eu queria e precisava sair dali.
Corri até a porta e peguei minha mochila que estava aonde eu tinha deixado alguns minutos atrás. – !! Por favor, espera, por favor, olha pra mim, eu preciso que você me escute. – Sai do apartamento escutando Joe gritar e antes que o elevador chegasse, senti meu braço ser puxado e fui virada de frente pra ele, e como eu havia imaginado, seus olhos estavam marejados e vermelhos, e seu rosto estava pálido. – , volta pra casa, me deixa explicar tudo... Eu... Eu amo você. – Ouvi o barulho das portas do elevador se abrindo, e me soltei pra poder entrar, mas Joe parou entre elas impedindo que as mesmas se fechassem. – Por favor, princesa.
Princesa. Eu sempre amei ser chamada assim, mas logo que aquela palavra saiu de seus lábios eu me vi a ponto de socar aquele rosto que eu sempre admirei.
- Sai daqui, eu não quero escutar as suas explicações, eu quero que você me deixe em paz, antes que eu faça um escândalo e mostre pra esse prédio inteiro que o estudante de Direito que mora aqui não é tão correto como todos pensam. – Senti algumas lágrimas começarem a se formar nos meus olhos e olhei pra cima tentando impedir que elas caíssem. Joe deu um passo pra trás liberando as portas, e eu rapidamente apertei o botão que me levaria para o térreo. – Você acabou com tudo, Joe. Acabou com nós, e acabou comigo.
Assim que pisei no saguão do prédio, vi que lá fora estava um temporal, e por um momento cogitei esperar um pouco na recepção antes de tomar qualquer decisão, mas assim que o aperto no meu peito voltou a se intensificar, me vi saindo a passos largos de lá, e logo senti os pingos pesados me atingirem.
Caminhei por alguns minutos sem pensar em qualquer coisa, apenas em busca de alguma resposta que nem eu mesma sabia qual era, até que olhei para o lado e vi um restaurante. O restaurante do meu primeiro encontro com o Joe. Diversas lembranças me atingiram e eu desisti de tentar conter as lágrimas, deixando que elas finalmente se misturassem com a chuva pesada que caía sobre mim, me abaixando na calçada e sentindo os meus ombros se curvarem com a dor absurda que eu sentia.
Joe era tudo pra mim, era meu porto seguro nessa cidade, ele se tornou minha família. E agora eu sentia como se uma parte de mim tivesse sido arrancada, ele não podia ter feito isso comigo... Ele não tinha esse direito. Ele me fez perder meu melhor amigo, meu companheiro, meu namorado... Todos ao mesmo tempo. E a dor que se espalhava por todos os meus poros era maior e mais intensa do que qualquer outra que eu havia sentido até ali. Joe me traiu. Joe me enganou. Eu larguei minha independência pra dividir um lar com ele. E ele me traiu. Eu confiei nele de olhos fechados. E ele me traiu. Eu deixei de ir visitar meus pais diversas vezes apenas para passar mais tempo com ele. E ele me traiu. Eu entreguei tudo de mim nas mãos dele. Traição. Uma palavra nunca me feriu tanto. Eu podia senti-la, rasgando todos os sonhos de uma vida com Joe. Traição. Era tudo que eu conseguia pensar.
- Ei, você ta bem? Moça? – Ouvi uma voz feminina próxima de mim após algum tempo sentada ali. Eu não queria olhar pra ninguém, eu estava me sentindo humilhada de uma maneira absurda. – Moça? – A pessoa que falava comigo se abaixou ao meu lado e eu percebi que ela estava com um guarda chuva nas mãos, pois logo parei de sentir a água batendo no meu corpo. – O que aconteceu? Você precisa de ajuda? – Finalmente ergui meus olhos em sua direção e reconheci uma das garotas que se sentava na mesma mesa que eu todos os dias no intervalo, . Ela é estudante de Economia e prima de Mark, meu amigo desde que entrei na USC, mas eu nunca sequer a cumprimentei. Espero que ela não me reconheça, não nessa situação. – ? O que você ta fazendo aqui? – Inspirei cansada enquanto meus olhos voltaram a se encher. – Vem, levanta, vamos sair dessa chuva – Fui puxada pra cima e comecei a andar apoiada por um dos braços de , passamos por alguns estabelecimentos que já haviam fechado por conta do tempo, e após caminhar alguns bons minutos, paramos embaixo de um toldo.
- O-Obrigada, . – Falei com a voz fraca enquanto tentava, em vão, torcer a barra da minha camiseta.
- Não precisa agradecer... Bom, ta se sentindo melhor? Você não poderia ter ficado lá, essa chuva não parece ter hora pra parar.
Olhei ao meu redor enquanto ouvia a garota falar, e me dei conta que estava no bairro vizinho. Já havia passado por ali algumas vezes, mas não fazia ideia de como voltar pra qualquer lugar que eu realmente possa ficar por um tempo.
- ... Obrigada por ter me ajudado... Eu... Vou indo. – Mas antes que eu voltasse pra chuva, ouvi meu nome ser chamado outra vez.
- ... – Olhei pra trás e vi que me olhava preocupada. – Sabe, é melhor você entrar e tomar um banho quente, eu não tenho plano nenhum pra hoje, podemos esperar a chuva passar e depois você volta pra casa.
Senti meu corpo todo enfraquecer assim que ouvi a palavra “casa”, e assenti com a cabeça, a seguindo pra dentro do prédio. Era um lugar pequeno, sequer tinha elevador, bem diferente de onde eu moro... Morava.
Assim que entramos em seu apartamento, senti o ar quente me atingir e agradeci internamente por não estar naquela rua fria. – O banheiro fica logo ali. – apontou pra uma porta branca no final de um corredor pequeno. – Espere aqui, vou pegar uma toalha e uma troca de roupa pra você. – A garota correu e rapidamente me entregou tudo o que havia falado.
Segui pro banheiro sem dizer uma palavra, e logo que entrei debaixo do chuveiro deixei que a tristeza me dominasse outra vez... Eu nunca havia sentido uma dor tão profunda, e eu só queria poder sair do meu próprio corpo.
Foquei em tomar um banho decente e assim que saí, com os cabelos ensopados e um pijama bem quente de , vi a mesma sentada no sofá me olhando com um olhar preocupado.
- Bem melhor, hum? - Assenti e me sentei ao seu lado.
- Eu nem sei como te agradecer, .
- Bom, eu não sei o que aconteceu, mas sei que você não estava naquela situação porque queria. – Dei um riso nasalado e fraco enquanto observava minhas mãos, que estavam repousadas no meu colo. – Descanse, vou comprar alguma coisa pra comermos, e se precisar falar com alguém, bem... Eu sou uma boa ouvinte. – disse e se levantou.
- Espera! Na verdade, eu preciso de ajuda.
Contei tudo pra ela, sem poupá-la de nenhum detalhe, e nos momentos que minha voz ficava completamente embargada, segurava minhas mãos com força. Ela sequer era minha amiga, mas tinha me tirado da chuva e me oferecido sua casa, senti que poderia confiar na garota de olhar atento que estava ao meu lado.
- Você pode ficar aqui em casa quanto tempo precisar. Amanhã vou no seu apartamento buscar algumas roupas pra você, e qualquer outra coisa que você queira. Eu falo sério, ninguém deveria passar por isso... Obrigada por confiar em mim, eu vou te ajudar.
E naquele momento, eu ganhei uma irmã.
FLASHBACK OFF.
E foi assim que eu mudei a forma de encarar meus relacionamentos. Depois daquilo, não tive outro namoro sério, apenas me envolvo rapidamente com alguns caras que me chamam a atenção, e sempre que um deles tenta ultrapassar a barreira do sentimento, eu me afasto, deixando pra trás um rastro de histórias incompletas e palavras não ditas. Mas é melhor assim, tudo puramente físico.
Assim que eu e terminamos de comer, fomos de carro até o centro da cidade quando nos deu certeza que conseguiria cuidar de tudo sozinho. Andamos por todas as lojas que conseguimos, e quando meus pés já não estavam aguentando mais, pedi pra que minha amiga me deixasse de volta em casa.
- Meu dia de descanso me derrubou mais do que 3 dias de trabalho. – Falei sozinha enquanto entrava em casa e me jogava no tapete, exatamente no mesmo local que estava antes de sair na hora do almoço, pegando o celular no meu bolso traseiro. – Seis horas. Vou tomar um banho e me preparar pra mofar nesse sofá. – Liguei a tv em um canal de música, aumentei o volume e corri até o quarto, jogando minhas roupas por lá enquanto cantarolava junto com os clipes que estavam passando.
Sai do banheiro com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto e um roupão peludo, bom, morar sozinha me permite ficar assim. Voltei para a sala e sentei no sofá sem sequer me trocar, pegando o controle e trocando de canais sem prestar muita atenção no que estava passando.
- Nada de bom. – Desisti de procurar algo e segui até a sacada do apartamento, pegando um maço de cigarros e o isqueiro. Fumar é um vício que eu gostaria de abandonar, mas amanhã eu começo.
Acendi um cigarro e me apoiei na grade, observando a cidade já iluminada por diversas luzes de casas e outros prédios. Rodei o isqueiro nos dedos enquanto soltava uma grande quantidade de fumaça pela boca, e assim que abaixei os olhos para a minha mão, vi minhas iniciais escritas no objeto, e abri a boca, deixando com que o cigarro caísse 10 andares abaixo.
- Droga. Droga, droga, droga. Que dia é hoje? – Corri pra dentro de casa e pulei o encosto do sofá, me desequilibrando e pegando o celular antes de cair no meio da sala. Olhei a data no visor, sexta-feira. 18h38. Espera... O QUE? EU TENHO QUE ESTAR NO PÍER ÁS 19H!
Voei para o meu quarto e me troquei extremamente rápido, coloquei o tênis e corri para o espelho do banheiro pra tentar dar um jeito no meu rosto. Eu sei... Eu não deveria estar tão preocupada com esse “quase encontro” que eu mesma inventei, mas o cara é gato, e eu não quero parecer uma mulher acabada quando for vê-lo outra vez.
Em menos de 5 minutos já estava na rua, com os cabelos soltos e um pouco bagunçados, uma blusa branca, calça jeans, e tênis. Entrei em um táxi que por sorte estava parado na porta do meu prédio sem qualquer passageiro, e indiquei o local que eu queria ir.
Assim que o carro parou, olhei no celular novamente e vi que já eram 19h45, morar em uma cidade afastada me trazia dores de cabeça como essa. Paguei o motorista e caminhei rapidamente em direção ao píer, notando que estava tendo algum festival. Olhei ao meu redor e por alguns segundos admirei tudo que via, a quantidade de pessoas era enorme, e todas aquelas luzes e música me fizeram sorrir. De qualquer forma, não seria tão fácil encontrar qualquer pessoa aqui, se é que o dono desse isqueiro veio.
's POV
19h10. O píer estava cheio de gente, e uma música alta tocava pelos alto-falantes que ficavam presos nos postes de luz. Continuei andando no meio daquelas pessoas enquanto me xingava internamente, eu duvido que ela esteja aqui.
Segui até o ponto central do píer, me encostando na grade e observando as pessoas que conversavam e comiam junto de seus amigos, os casais que tiravam fotos perto de mim e as crianças que corriam animadas com seus palitos de algodão doce nas mãos. Eu adoro essa cidade, esse clima aconchegante contrasta com toda a grandeza que esse lugar traz. Mas eu quero mais, eu preciso de mais. E em breve estarei bem longe daqui.
19h20. Resolvi dar uma volta no local em busca de um certo rosto familiar, mas assim que passei em frente ao “Ben and Jerry’s”, resolvi entrar e comprar o meu sorvete favorito.
Assim que peguei o que havia pedido, sai da sorveteria e comecei a andar próximo a grade do píer, observando o mar que estava calmo naquela noite. Olhei no relógio, e vi que eram 19h45, era melhor ir embora, assim conseguiria adiantar algumas pinturas ainda hoje. Me virei de costas pra onde estava indo e me choquei com uma garota que vinha na direção oposta.
- Ai, desculpa, eu não devia ter virado tão rápido. – Segurei em seus braços enquanto ela tirava os fios do rosto.
- Oi, L.M. – A garota abriu um sorriso largo. – Pensei que não fosse te encontrar.
- ! – Exclamei surpreso de vê-la ali. – Eu estava indo embora agora, não imaginei que você viria mesmo.
- Ah, tudo bem... Vou indo também. Aqui está seu precioso. – fez uma voz engraçada e tirou o objeto do bolso. – Como o prometido.
- Quer saber? Vamos dar uma volta, esse sorvete é grande demais pra um cara só. – Menti, afinal, aquele sorvete seria devorado por mim em menos de 10 minutos.
- Se você diz... – deu de ombros e começamos a caminhar em direção ao final do píer, ofereci o sorvete para a garota ao meu lado e a observei pegar a colher de minhas mãos com um sorriso tímido, mas, assim que provou, seu sorriso aumentou consideravelmente, como se fosse uma criança provando o melhor doce do mundo. Em poucos minutos de caminhada, o pote em minhas mãos estava praticamente vazio. Assim que alcançamos a ponta do píer, descemos alguns degraus e passamos a andar na areia da praia. Naquela altura o sorvete já havia acabado, então pegou o pote e a colher de minhas mãos e depois jogou o plástico em um lixo próximo a escada que havíamos acabado de descer.
- E então? O sorvete foi aprovado? – Quebrei o silêncio assim que a garota voltou a caminhar do meu lado.
- Foi mais do que aprovado! Eu estou até com medo de gastar todas as minhas economias com isso pelos próximos dias... – falou de um jeito exagerado e riu, me fazendo rir também.
- Bem vinda ao meu mundo, eu trabalho apenas pra sustentar o meu vício em sorvete. Mas não conta pra ninguém. – Pisquei de um jeito engraçado pra ela, estendendo sua risada anterior por mais alguns segundos.
- Seu segredo está seguro comigo. – respondeu enquanto colocava uma mecha do seu cabelo atrás da orelha. – Mas me diz, você mora por aqui?
- Moro em um apartamento alugado em Lancaster... Bom, não exatamente alugado.
- Não exatamente alugado? – riu.
- Eu sou pintor. – Disse e vi seus olhos ganharem um brilho de animação. Era impressão minha ou ela era sempre linda? – E moro em cima de um restaurante. O dono me deixar morar lá em troca dos meus quadros, que ele expõe nas paredes do lugar, e quando são vendidos eu ganho uma pequena porcentagem.
- , isso é incrível! Eu nunca conheci um pintor na minha vida! – entrou na minha frente e começou a andar de costas, dando pequenos pulinhos de alegria enquanto gesticulava exageradamente com as mãos. – Uau! Você deve ter conhecido tantos lugares legais, e deve ter uma casa cheia de tintas e telas e... Uau! Isso é muito legal. – A garota parecia anos mais jovem, com os cabelos bagunçados e um sorriso largo no rosto, bem diferente do dia em que nos conhecemos, com um olhar distante e sorriso pequeno.
- Bom, sim... Eu já conheci alguns lugares, mas não é exatamente a vida dos sonhos. Eu não quero viver pra sempre na casa de outra pessoa e acima de tudo não quero que meia dúzia de pessoas vejam os meus quadros. Pintar é minha paixão, quero conhecer o mundo e quero que o mundo me conheça.
- Quero conhecer o mundo, e quero que o mundo me conheça. – repetiu em voz baixa, mas consegui escutar. – É exatamente isso. – Ela pareceu ficar um pouco desanimada, parando de andar e virando-se de frente para o mar. – Eu só queria ter coragem de encarar o mundo de frente, eu devo ser mesmo muito covarde. – Sua voz estava cada vez mais baixa, então me aproximei dela, afastando os fios do seu ombro esquerdo, e segurei seu rosto, fazendo- a olhar pra mim.
- Ei... A vida dá medo, mas você tem que perceber que é maior do que tudo que te assusta. Eu tenho certeza que você ainda vai aprontar poucas e boas por aí. – Ri baixo e desci o meu olhar para os seus lábios, que estavam arroxeados por conta do vento frio que batia em nós.
- Você acha mesmo? – Observei seus lábios se moverem e sua voz me atingir. Assenti e me aproximei um pouco mais. – Obrigada... Eu... Espero conseguir um dia. – Ela levantou um pouco o rosto, me permitindo observar seus olhos, que agora tinham um brilho diferente.
Toquei seus braços com a ponta dos dedos, fazendo um carinho fraco, e a observei ficar arrepiada enquanto descia o meu toque para suas mãos.
- ... – soltou uma risada fraca. - É errado querer muito beijar um cara que você conhece por apenas meia hora? – Desviei meu olhar da trilha que meus dedos faziam e fixei meus olhos nos dela.
- Eu não sei... – Sussurrei como se estivesse contando um segredo. – Eu nunca quis beijar um cara. – Ouvi sua risada alta e vi seus olhos ganharem um brilho de divertimento, então levou suas mãos aos meus ombros, e os apertou levemente enquanto sua risada se suavizava e seus olhos pareciam observar cada detalhe meu. Me aproximei mais um pouco e repousei minhas mãos em sua cintura. – Mas se eu pudesse te dar um conselho, diria que errado mesmo é reprimir suas vontades.
Nossos olhos voltaram a se encontrar, e o ar ao nosso redor parecia cada vez mais intenso. Vi que mordeu o lábio inferior, e esse gesto foi o suficiente pra me fazer acabar com a pequena distância que nos separava.
Subi meu toque para os seus cabelos, e colei nossos corpos. Senti sua boca macia enquanto seus dedos se afundaram no meu braço, me causando um formigamento por todo o corpo, e quando nossas línguas se tocaram, grunhi satisfeito, e a puxei para ainda mais perto. Eu sequer conseguia processar o que estava acontecendo, não enquanto estava daquele jeito nos meus braços, não enquanto nossos lábios estivessem unidos. Suguei seus lábios, enquanto ela correspondia com vontade e se apertava contra o meu tronco, passando as mãos em meus braços e pescoço, como se estivesse em dúvida de onde deixá-las. Eu poderia beijá-la a noite toda. Apertei sua cintura enquanto sentia a brisa fria bater contra nós, rapidamente se dissipando por conta do calor que nossos corpos emitiam. Quando já estávamos ofegantes, separei nossas bocas e ouvi arfar, o que fez os pelos da minha nuca se arrepiarem instantaneamente. Ainda com a testa encostada na dela e os olhos fechados, ri baixo e ela me acompanhou, aquilo tinha sido... Diferente. Não havia sido bagunçado ou sem jeito, era como se os nossos corpos já se conhecessem. Eu estava ferrado.
Depois de algum tempo apenas aproveitando a sensação de tê-la ali, me afastei e vi seus olhos finalmente se abrindo, revelando suas íris brilhantes e profundas, que me encaravam de um jeito que me deixou confuso, sem conseguir ler o que ela realmente estava pensando. Dei um selinho carinhoso em seus lábios e passei a caminhar do seu lado, ainda incomodado com o seu silêncio.
caminhava chutando a areia e observando os próprios pés. É isso. Ela não gostou. Mas que droga? Eu não devia parecer um garotinho mimado após beijar uma mulher, mas o fato de ter gostado tanto do que acontecera ali me fazia temer que ela não tivesse sentido o mesmo. Tossi de maneira forçada pra chamar sua atenção, e quando seus olhos encontraram os meus, dei um sorriso torto pra ela, e finalmente escutei sua voz.
- Olá, posso ajudar? – Seu tom brincalhão fez meus pensamentos se acalmarem um pouco, mas alguma coisa dentro de mim ainda estava inquieta. Não querendo soar prepotente, mas eu nunca tive problemas em... Satisfazer as garotas que estiveram comigo, e apesar de não ser do tipo sem escrúpulos, já havia quebrado o coração de algumas. E sim, já tive o meu quebrado.
’s POV
Olhei pra e vi que ele estava pensativo, talvez sem saber o que responder. Não que eu soubesse, afinal, havia sido um dos melhores beijos da minha vida. Aquele homem emanava uma liberdade que eu ansiava ter, e eu estava gostando muito da sua companhia. Balancei a cabeça pra afastar os pensamentos admirados que eu estava tendo sobre o cara do meu lado e passei a observar o mar, que quebrava em ondas calmas, quase alcançando os meus pés. Estávamos bem distantes do píer, e a música que estava sendo tocada lá de forma tão alta, dali quase não era ouvida. E foi então que uma vontade absurda de entrar na água martelou na minha cabeça, e apesar de ouvir minha consciência repreender aquela ideia, logo estava tirando os tênis.
- , o que.... – Ouvi perguntar assim que me curvei de forma desengonçada para desamarrar os cadarços.
- Em primeiro lugar, nós nem devíamos estar andando na praia de tênis! – Ri enquanto tirava as meias de qualquer jeito. - Em segundo lugar... Ah , não foi você que disse que eu ainda vou aprontar poucas e boas? – Vi seu sorriso aumentar ao me ver citando o que ele havia dito pouco antes de nos beijarmos. – Tenho que fazer jus a sua impressão, quem sabe assim não ganho um quadro em minha homenagem? – Ri enquanto tirava minha blusa, mas assim que voltei a olhar para ele, vi suas íris ganharem um tom mais escuro, e sua expressão divertida deu lugar a uma que até agora não havia visto: Desejo. Seu maxilar estava travado e seus olhos estavam passeando pelo meu corpo. Ele estava maravilhoso, e eu poderia continuar no meu transe pessoal, caso não tivesse ouvido sua voz.
- Eu com certeza faria um quadro sobre você. – Seu tom de voz estava mais baixo e rouco do que antes, e sua mão direita alcançou sua nuca ao mesmo tempo em que abaixou o olhar, e pude vê-lo morder o lábio inferior, como se estivesse travando uma batalha interna. E foi nesse momento que toda a minha discrição foi mandada pra bem longe.
Desabotoei o botão único da minha calça jeans e comecei a descê-la pelas minhas pernas, sem tirar os olhos de , ansiosa por qualquer reação que fosse.
- Merda, ... – sussurrou tão baixo que quase não pude ouvi-lo, mas foi o bastante pra me fazer soltar um riso baixo. – Isso não é justo. – Ele falou, intercalando seus olhares entre o meu corpo e qualquer outra coisa na praia, como se não soubesse como agir. – Quer saber? Que se dane. – Ele pareceu se livrar de qualquer impedimento que o segurava, e caminhou decidido em minha direção. Em poucos segundos nossas bocas já estavam unidas mais uma vez.
As duas mãos de estavam no meu rosto, como se quisessem impedir que eu quebrasse o beijo, e as minhas foram parar em sua cintura, agarrando sua blusa, sem qualquer intenção de sair de seus braços. Cambaleamos pra trás e eu parti o beijo, soltando um riso fraco, e aproveitou a brecha pra tirar sua camiseta, que foi jogada perto das minhas roupas.
- , nós... – Comecei a falar e fui interrompida pela sua boca, que já estava colada na minha outra vez. Fui puxada pela cintura, e em poucos segundos já nem me lembrava mais o que estava prestes a falar, apenas embrenhei meus dedos nos cabelos de e fiquei na ponta dos pés, procurando ficar cada vez mais perto dele. De todos os beijos que havia dado na minha vida, nenhum tinha sido tão... Familiar. Meu corpo reagia ao dele antes mesmo que eu pudesse pensar e nossas bocas se tocavam como se fossem antigas conhecidas, contrastando com nossas mãos, que estavam inquietas buscando conhecer o corpo um do outro.
Senti as mãos de me deixarem por alguns segundos, e afastei nossas bocas apenas para vê-lo descer a própria calça pelas pernas. Largando-a pela areia junto com seus tênis. Mas antes que ele pudesse retomar o que estávamos fazendo, me afastei de seus braços e comecei a caminhar em direção a água. Após alguns passos olhei por cima do meu ombro e vi que estava parado no mesmo lugar, me observando.
- Você não vem? – Perguntei divertida, o que fez com que ele abrisse um sorriso largo e me seguisse. Eu ainda estava parada, com a água batendo em meus joelhos, tentando me acostumar com a temperatura fria. Uma rajada de vento mais gelada do que o normal me atingiu e eu abracei o meu próprio corpo, já me repreendendo por ter tido aquela ideia. Foi quando olhei para o lado e vi que me olhava de um jeito... Maldoso? Mas antes mesmo que eu pudesse pensar em qualquer coisa, fui levantada pelos seus braços e carregada rapidamente mais para o fundo, de forma que a água passou a bater na cintura de .
Eu me segurei com todas as forças em seu pescoço, balançando as pernas e tentando evitar qualquer contato com a água, que ameaçava encostar em mim a qualquer momento. – , NÃO, ISSO AQUI TA UM GELO, POR FAVOR, NÃO ME COLOCA NA ÁGUA! – Eu gritava e ria de um jeito escandaloso, enquanto minhas mãos se firmavam ainda mais ao redor do pescoço de , que ria sem parar do meu desespero.
- Não foi você que teve essa ideia, ? Vamos entrar, vai. A água nem está tão fria assim. – se abaixou um pouco, fazendo com que a água molhasse parte das minhas costas e meus pés. Eu dei um grito estridente e tentei levantar meu quadril, mas no segundo seguinte, ouvi a risada alta de , que mergulhou nós dois dentro daquele mar quase congelado.
Senti suas mãos me soltando assim que estávamos os dois embaixo da água, e subi até a superfície rapidamente, arfando rápido e sentindo o meu corpo inteiro arrepiado por conta da água extremamente gelada.
- Eu. Não. Acredito. – Falei com a voz entrecortada, enquanto passava a mão no cabelo. – Ta muito frio!
- Ah, para vai, que exagero. – parecia muito confortável na água absurdamente gelada em que estávamos, e mantinha no rosto um sorrisinho sacana, enquanto me fitava firme.
Dei risada da sua reação tranquila e relaxei um pouco, me acostumando com a água fria.
's POV
, você é maravilhosa. Linda mesmo. E eu não vou falar essas palavras em voz alta, mas é a única coisa que eu consigo pensar no momento, enquanto observo seus lábios arroxeados por conta do frio.
Afasto os pensamentos piegas da minha cabeça e me aproximo da garota, que está observando o mar, e parece perdida em seus próprios dilemas. Faço um carinho leve na lateral do seu rosto, finalmente chamando sua atenção pra mim.
- Tá tudo bem? – Pergunto, quase sussurrando, como se qualquer barulho mais alto pudesse estragar o momento.
- Sim, . – me olhou divertida, e se aproximou ainda mais de mim. Porém, quando estávamos a poucos centímetros de distância, ela soltou um risinho e mergulhou, nadando pra longe. Ri abobalhado e mergulhei atrás dela, a alcançando rapidamente. – , SAI DAQUI. – ria escandalosamente e tentava se desvencilhar do meu abraço, que estava firme em suas costas. Comecei então a distribuir diversos beijinhos pelo rosto da menina, que tentava me empurrar pra longe enquanto ria, quase perdendo o ar.
- Você sabe que não adianta mais tentar fugir de mim. Não iria me perdoar se te deixasse escapar. – Falei em um tom divertido, mas sabendo que cada palavra era a mais pura verdade. A menina diminui sua risada e me observou com os olhos carregados de um sentimento que eu não fui capaz de decifrar. Comecei a me sentir culpado por ter falado algo tão.... Romântico, mas assim que seus lábios tocaram os meus, qualquer sentimento contraditório foi carregado pelas ondas. Assim que aprofundamos o beijo, senti a necessidade de ficar mais perto dela, eu estava encantado, e não poderia deixar o convite pra mais tarde. – Ei... – Afastei nossos lábios minimamente, e a observei sob meus cílios. – O que acha de sair daqui? – Torci internamente por uma resposta que logo chegou.
- Vamos. – sorriu levemente e começou a sair do mar, me deixando pra trás com o coração descompassado e a mente cheia de pensamentos. Eu sou mesmo muito maricas.
's POV
Entramos no apartamento de , e pude ver algumas telas espalhadas pelo local, alguns pincéis em cima da mesa e um avental manchado de diversas cores diferentes pendurado em um cavalete no canto da sala. Mal tive tempo para observar todo o resto, pois juntou nossos lábios e começou a caminhar para o corredor. Assim que paramos na porta de um dos quartos, dei um impulso e entrelacei minhas pernas ao redor do corpo dele, enquanto beijava seu pescoço e sentia suas mãos firmes nas minhas coxas. fechou a porta atrás de nós e me encostou na mesma, se firmando no meio das minhas pernas, me causando uma sensação maravilhosa, que parecia crescer a cada segundo.
- ... – grunhi de olhos fechados, agarrando sua blusa e o apertando entre minhas pernas, tentando aliviar aquela sensação de algum jeito. Ele pareceu entender meu pedido, e passou a se mover lentamente, causando um atrito entre sua calça jeans e a minha, e me fazendo suspirar de forma pesada, enquanto apoiava minha cabeça na madeira da porta. Seus movimentos foram ficando cada vez mais firmes, me fazendo arfar palavras desconexas, pedindo por algo que eu nem sabia o que era. Eu só sabia que eu queria. voltou sua atenção para mim, e passou a dar beijinhos leves no meu rosto e pescoço, contrastando com a intensidade dos seus movimentos tão maravilhosos. Mordi meu lábio, tentando ao máximo censurar os sons que insistiam em escapar pela minha garganta, porém, o aperto das minhas mãos contra a sua camiseta, o colando ainda mais em mim, demonstrava o quanto eu o queria.
Porém, poucos segundos depois, seus movimentos cessaram e eu abri meus olhos, segurando firme em seus ombros enquanto procurava seus olhos com os meus. O que ele estava planejando?
- Então... Precisa de ajuda aí? – perguntou safado, suas mãos apertando as minhas coxas enquanto ele se pressionava contra a minha intimidade. Ele me fitava intensamente enquanto fazia movimentos circulares, me massageando de um jeito extremamente gostoso. Fechei os olhos e virei o rosto para o lado, como se pudesse escapar de toda essa energia que me cercava.
- Me diz, ... – grunhiu com o rosto completamente próximo ao meu. Meu cérebro em pane enquanto meu corpo se arrastava contra o dele. – Eu posso te ajudar, se você quiser.... Quer? – falou contra a minha boca, sua respiração quente me tentando. Apertei minha mão contra a sua nuca e gemi contra os seus lábios quando ele se forçou um pouco mais forte, me torturando.
- Sim. – arfei, não aguentando mais aquelas provocações. Eu precisava dele... Precisava agora.
Ele sorriu satisfeito, afastando seu rosto, me incentivando a encará-lo através dos meus cílios pesados. Fui carregada até a cama e colocada de maneira sútil em cima da mesma, enquanto corria seus olhos pelo meu rosto antes de se aproximar um pouco mais, seus braços ao lado da minha cabeça enquanto ele chegava perto o suficiente para roçar sua boca na minha, me fazendo fechar os olhos e arfar quando ele finalmente me beijou. Seu gosto se derramou na minha boca enquanto ele massageava a minha língua com a sua. Porém foi um beijo breve, que me pareceu guardar algumas promessas. Franzi a testa quando ele se ajoelhou entre as minhas pernas abertas, enquanto me fitava de um jeito sujo e abria os botões da minha calça, tirando-a em seguida, com toda a calma do mundo. Meu corpo já estava trêmulo e quente enquanto eu o assistia. Suas mãos subiram para a minha blusa e a tiraram rapidamente, e em poucos segundos, meu sutiã teve o mesmo destino. Seus olhos nublados correram por cada centímetro meu, ele se deliciava com a visão e eu me deliciava com sua reação. Eu não conseguia me sentir constrangida, não enquanto ele me olhava desse jeito, enquanto deixava estampado na sua cara o quanto ele estava gostando do que estava vendo. Eu não me achava atraente ou algo do tipo, mas me fazia sentir extremamente desejada, e isso era o suficiente.
Ele mordeu a boca e deslizou sua mão pelo meu corpo, como se estivesse me contemplando. Ele observava o caminho da sua mão enquanto a corria pela minha pele, descendo entre os meus seios, correndo pelo meu estômago, e acariciando a minha barriga. Senti suas mãos firmes tirarem a última peça que eu ainda vestia, e então se inclinou e eu pude sentir sua língua roçar contra o meu seio. Mal tive tempo de processar aquela sensação e já havia fechado a boca ao redor do mesmo, me sugando, me beijando... Sua mão grande apertava o outro, me cobrindo completamente e me fazendo sentir dominada pelo seu toque. Olhei pra baixo e encontrei seus olhos me fitando divertidos, enquanto ele ainda me tinha em sua boca. Idiota!
Suas mãos grandes agora deslizavam para a minha cintura, minha curva sumindo em seu toque, enquanto ele deslizava sua boca pela minha barriga, deixando uma trilha de saliva na minha pele.
se ajeitou entre as minhas pernas, segurando cada coxa com uma mão enquanto me abria completamente pra ele. Meus olhos focaram nele, minhas pernas tremiam contra suas mãos e meu peito subia e descia rapidamente.Franzi a testa e forcei meus olhos a ficarem abertos enquanto ele me fitava, e quando, em seguida, colocou sua língua pra fora e a deslizou pela minha pele rosada, me desafiando a assistir. Mas aquela era uma batalha perdida. Não tinha a menor chance de conseguir manter meus olhos abertos com aquela sensação. Logo minha cabeça já tinha caído sobre o travesseiro e meus olhos estavam apertados enquanto me lambia. A sensação de ter sua boca contra mim era indescritível. Eu não conseguia descrever, apenas gemer, apenas arfar enquanto ele escorregava aquela boca incrível contra mim. Primeiro ele correu sua língua quente e molhada com calma, como se estivesse me provando. Mas depois ele já tinha fechado sua boca contra mim, me sugando, me beijando, me chupando de um jeito que estava me deixando completamente desconcertada. Eu me derramava em sua língua, me sentia pulsar enquanto ele me sugava, enquanto corria seus dentes pela minha pele sensível. Ele não tinha a menor piedade de mim, mordiscava meu clitóris,brincava com sua língua na minha entrada, e me beijava com paixão, com desejo, com vontade... Me sugava com força, como se precisasse do meu gosto em sua boca, tanto quanto eu precisava dos seus lábios em mim nesse momento.
Meus gemidos ecoavam pelas paredes enquanto ele mantinha minhas pernas bem abertas, dando completo acesso a sua língua. Meu corpo agia por conta própria. Minhas mãos estavam fechadas contra os seus cabelos, inconscientemente o empurrando ainda mais contra a minha intimidade, procurando um alívio imediato. E eu rebolava contra seus lábios, me contorcia fortemente, por mais que ele insistisse em me manter parada. Ele parecia tão divertido quanto excitado enquanto me apresentava pra todas essas sensações. Mas ele preferia me manter parada, me manter aberta para os seus lábios enquanto ele me sugava como bem entendia.
Eu não durei muito, não tinha como... Sentir sua boca quente contra mim era demais, ainda mais depois que ele começou a grunhir contra a minha pele inchada, me fazendo forçar para olhar pra baixo e constatar que uma das suas mãos havia sumido para baixo dele, provavelmente se tocando. Meu corpo inteiro estava tenso, meus músculos rígidos enquanto eu o assistia com a testa franzida, e aquela expressão fechada e excitante enquanto ele me chupava. E foi exatamente com essa visão que eu explodi. Gemendo alto e com o meu corpo vibrando fortemente, completamente entregue ao orgasmo indescritível que ele tinha acabado de me dar. Porém, não parecia satisfeito, e antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, suas mãos grandes subiram pela minha cintura, se arrastando por mim até embrenhar seus dedos em meus cabelos ainda úmidos por conta do mergulho que demos mais cedo, segurando a minha cabeça enquanto seu torso encontrava o meu. Me arrepiei por sentir seu corpo duro e definido me pressionar, arrancando todos os tipos de sensações possíveis da minha pele. Segurei em seus ombros e grudei nossas bocas, abrindo levemente os meus olhos a fim de observá-lo por baixo dos meus cílios pesados quando ele envolveu as minhas pernas, me puxando pra ele. O abracei com as minhas coxas, e ele colou a testa na minha, nossas respirações quentes se misturando enquanto ele corria levemente a ponta dos seus dedos pelo meu rosto, quase como se estivesse tentando se certificar que eu era real. Eu sentia meu coração disparado enquanto o assistia me contemplar, seu olhar acompanhando cuidadosamente o caminho que sua mão fazia pelo meu tronco.
A imagem de entre as minhas pernas fez um arrepio se estender até a ponta dos meus pés. A energia entre nós dois era indescritível, era intensa,mas ao mesmo tempo, suave? Eu poderia dizer que éramos velhos conhecidos pela forma que nos conectávamos, pela forma como ele me tocava. Porém, respirei aliviada por saber que entre nós não existia nada além de tensão sexual. Nada de sentimentos. Nada de decepções.
Me perdi em pensamentos e apenas voltei a realidade quando o vi se levantar para terminar de tirar a sua calça, logo após, tirou uma camisinha do bolso da peça que agora estava jogada no chão. Então Tudo ficou ainda mais real. Eu sentia a minha boca aberta e seca, meus olhos fitando os movimentos da sua mão abaixando a sua boxer enquanto ele se ajoelhava entre minhas pernas. Eu sentia seu olhar queimando no meu rosto enquanto ele se protegia,escorregando o material do preservativo pelo seu membro duro. Quando ele voltou a se debruçar no meu corpo, correndo o nariz pelo meu pescoço, eu me senti tremer em expectativa. Levei minhas mãos para seus cabelos, sentindo seus fios úmidos em minha palma e o abraçando com minhas pernas. colou nossas testas, me observando atentamente enquanto escorregava uma das suas mãos entre os nossos corpos. Senti quando ele se guiou em direção a minha entrada, seus olhos se afundando nos meus quando ele começou a se pressionar vagarosamente, me forçando a me abrir para ele aos poucos. Eu me esforcei para não fechar os olhos, me concentrei em devolver o seu olhar intenso, por mais que estivesse sendo difícil naquele momento. Meus traços vacilaram, minha testa se franziu a cada centímetro que eu o sentia se escorregando para dentro de mim. Minhas unhas se afundaram em suas costas e todo ar escapou dos meus pulmões quando ele se moveu pela primeira vez, então pude sentir cada centímetro dele deslizando pela minha pele sensível enquanto ele se retirava por completo, apenas para entrar profundamente mais uma vez, me tentando.
A sensação era absurdamente surreal. Sons que eu nunca me imaginei fazendo escapavam pela minha boca enquanto eu me entregava ao efeito que ele causava em mim, meus olhos firmemente fechados enquanto entrava e saía de um jeito lento, sentindo cada centímetro da minha intimidade.
Ele rosnou meu nome enquanto enfiava seu rosto no meu pescoço, seus gemidos roucos sendo soprados ao pé do meu ouvido enquanto ele arrastava o seu corpo sobre o meu, pressionando o meu tronco contra o colchão e me arrastando pra cima e pra baixo, de acordo com suas investidas lentas, porém firmes. Ele rebolava deliciosamente dentro de mim, e eu conseguia sentir o quanto estava sendo difícil pra ele se controlar, a manter o ritmo calmo. Seu corpo estava tenso e rígido, seus músculos se arrastando contra os meus seios macios a cada movimento que ele fazia. Os arrepios intensos corriam pelo meu corpo a cada grunhido soprado ao pé do meu ouvido. Os meus batimentos permaneciam enlouquecidos, fazendo o meu corpo inteiro vibrar enquanto eu o abraçava com as minhas pernas, o segurando firme contra mim.
Eu estava tomada de prazer, soprando palavras nem eu mesma entendia enquanto ele girava os quadris, me massageando por dentro, me sentindo. soprou alguns palavrões enquanto se concentrava ao máximo para continuar com o ritmo lento e torturante que o estava tirando do sério. Meus gemidos altos foram calados por sua língua quando ele estocou com um pouco mais de força. Eu embrenhei meus dedos em seus cabelos e o beijei deliciosamente enquanto seu membro me descobria por completo.
Encontrei seus olhos me fitando quando eu abri levemente os meus, ainda sugando os seus lábios macios, gemendo em sua boca enquanto me perdia em suas íris. Eu jamais poderia explicar o que senti quando encontrei o seu olhar, o que senti quando ele me encarou enquanto ainda se enterrava em mim, enquanto ainda me beijava. Tudo ficou ainda mais intenso, mais forte. E ele continuou me olhando, continuou investindo profundamente em mim,continuou esfregando seu corpo úmido no meu até todo o meu prazer se espalhar pelo meu tronco como uma onda, mais intenso do qualquer uma das outras vezes. Minhas costas se arqueando, meus seios se apertando contra o seu peitoral e seu beijo abafando o meu gemido alto. Minhas unhas se afundando na pele das suas costas, minhas pernas o apertando, meus olhos se esforçando para não desviar dos seus enquanto eu tremia, enquanto explodia ao seu redor.
franziu a testa e mordeu a minha boca enquanto me seguia, se mantendo inteiro dentro de mim enquanto também se libertava, produzindo sons roucos que me fizeram estremecer. O peso do seu corpo se soltando sobre o meu era quase sufocante, mas de um jeito bom. Eu me sentia extasiada demais, tentando compreender todo o prazer que corria no meu sangue.
se recuperou primeiro do que eu. Eu sentia meu corpo trêmulo enquanto ele beijava o contorno dos meus lábios, me dando um segundo para respirar.
's POV
3 meses. Há exatos 3 meses eu conheci , que virou minha vida de cabeça pra baixo. Há 3 meses que eu me engano, que tento não pensar naqueles olhos todos os dias. 3 meses que a garota pela qual eu me apaixonei apareceu na minha vida. Não estamos namorando ou algo do tipo, porque, nesse pouco tempo, pude perceber que tem um certo receio de qualquer sentimento que possa surgir. Mas eu não pude evitar.
- , está em casa? - Ouvi a voz do Senhor Stewart, dono do restaurante e do apartamento que eu moro, chamar do outro lado da porta. - ! - meu nome foi chamado pela segunda vez, e quando abri a porta, o homem ali parado já estava pronto pra bater pela terceira vez.
- Olá Senhor Stewart, aconteceu alguma coisa? Precisa de ajuda no restaurante?
- Não, ... Na verdade, precisamos conversar.
Na mesma noite...
Dirigi até o apartamento de , correndo o máximo que podia pelas pequenas ruas de Lancaster, e assim que cheguei, encontrei a garota no hall do prédio, já me esperando.
- ! O que aconteceu? - a garota sustentava um olhar de preocupação enquanto vinha em minha direção.
- Eu preciso beber. E ai eu te conto. - Caminhamos para o carro, e assim que entramos, dirigi até o melhor bar da cidade.
Entramos no local, e eu entrelacei meus dedos aos de , enquanto chegava perto do bar, já ansiando pela bebida mais forte que aquele lugar poderia me oferecer.
- Uma vodka. Pura, por favor. - Disse para o garçom, que assentiu, saindo para pegar o que eu havia pedido.
- ... Será que agora você pode me dizer o que aconteceu? - soltou minha mão e cruzou os braços, encostando no balcão.
- ... Eu... Eu não sei o que fazer. - Segui seus movimentos e me encostei no balcão, afundando minha cabeça entre as minhas mãos, me sentindo completamente exausto. O garçom colocou o pequeno copinho de Vodka na minha frente, e eu o tomei por completo, sentindo o liquido arder em minha garganta. - Eu não tenho mais onde morar.
- O que? Como assim? - A garota se endireitou imediatamente.
- Sim, é isso mesmo... O dono do restaurante que me disponibilizava o apartamento me contou nessa manhã. Os lucros de lá caíram, e meus quadros sequer são comprados, então ele decidiu colocar o apartamento a venda, e eu não tenho nem metade do dinheiro necessário pra comprar de vez aquele lugar, eu... Eu não sei o que fazer. - Respirei fundo, recuperando parte do meu ar, porém, sem me sentir aliviado. Fiz um sinal para o garçom, que entendeu meu pedido, e logo me serviu mais uma dose. - Eu nunca pensei que algum dia seria um adulto fracassado. Eu deveria ter terminado a faculdade de administração que meus pais queriam, não deveria ter largado tudo por um futuro incerto. Eu não vendo um quadro a muito tempo, e minhas economias estão acabando... Eu não quero ter que pedir ajuda para os meus pais ou para o meu irmão, todos eles moram longe e estão vivendo suas vidas, enquanto eu sequer tenho um trabalho descente.
A garota colocou a mão em minhas costas, iniciando um carinho discreto. - Eu sei que as vezes parece que tudo se perdeu, que nossa vida não tem sentido ou que perdemos tempo fazendo decisões erradas... Mas se tem uma coisa que eu sei, com toda a certeza, é que seguir os seus sonhos nunca é um erro. - Levantei o rosto e encarei os olhos que haviam ganhado o meu coração nos últimos meses. Desci meu olhar para a boca que havia me viciado, e não hesitei em beijá-la. Deixei que ela conduzisse o beijo, sentindo que através dele, ela tentava dizer que estaria ao meu lado.
Assim que separei nossos lábios, permaneci de olhos fechados, encostando minha testa na de , porém, tendo a certeza de que não me sentiria melhor tão cedo.
Eu já havia perdido as contas de quantas vezes eu tinha levado aquele copo até a minha boca, mas da última vez que lembro ter contado, eu estava em algo entre o 9... E o 15.
- Er... Moço! Nós... Não vamos querer mais, já está bom pra uma noite, não é ? - fez menção de devolver as duas novas doses que foram colocadas na minha frente, quando segurei suas mãos, impedindo a garota de afastar os copinhos de mim. Bebi todo o conteúdo de uma vez só, sentindo minha cabeça girar.
já havia tentado me tirar dali muitas vezes, já havia inventado diversas desculpas, porém, a cada minuto que se passava, a voz da garota parecia mais distante, a música parecia mais distorcida, e meus pensamentos pareciam cada vez mais esquisitos.
Vi se levantar, e seguir para o meio das pessoas que estavam dançando na pista, logo desaparecendo no meio delas. Me levantei para segui-la, mas senti minhas pernas se enfraquecerem no mesmo momento, então me apoiei no balcão por alguns segundos antes de começar a andar entre aqueles corpos.
A música estava alta, e as batidas pareciam dançar dentro da minha cabeça, as pessoas se moviam ao meu redor em um ritmo completamente diferente do que estava tocando, e meus olhos pareciam não conseguir acompanhar o que estava acontecendo. Acho que é mesmo hora de ir embora...
Andei por mais algum tempo, e finalmente encontrei quem eu estava procurando. estava parada, de costas pra mim, falando com duas meninas que eu não conhecia, provavelmente conhecidas da faculdade. Corri meu olhar pelo seu corpo, percebendo o quanto ela estava linda com aquela roupa. Seus cabelos estavam levemente ondulados, e chegavam até o meio de suas costas, e suas mãos se mexiam animadas, enquanto ela contava alguma história que eu não conseguia entender.
Me aproximei da rodinha de meninas, e virei pra mim, logo grudando nossos lábios. A menina não demorou para corresponder meu beijo, e em poucos segundos, ou muitos, não sei ao certo, a garota estava encostada na parede, com as mãos embrenhadas no meu cabelo e a respiração ofegante. - Você... É linda. - Disse enquanto recuperava o fôlego, ainda de olhos fechados.
- Obrigada. - a garota disse, enquanto acariciava minha nuca com as suas unhas. - Agora... Pode me dizer seu nome?
Naquele momento, as paredes do bar pareceram se encolher ao meu redor, e precisei me encostar na parede pra poder entender o que havia acabado de acontecer. estava brincando com a minha cara, eu tenho certeza, ela sempre faz isso... Eu... Não entendo... Essa música, essas luzes... Onde ela está? Ela estava nos meus braços... Eu... Vou encontrá-la... Preciso esquecer de tudo que aconteceu hoje...
- ! - Gritei, vendo a garota sair apressada do local que estávamos... O que estávamos fazendo lá? Eu não sei...
Sai correndo e senti meu corpo esbarrar em diversas pessoas antes de tocar o braço da garota... Essa garota... Eu a amo. Eu a amo. O que é que está acontecendo?
- Me solta, . Já chega. Nós estávamos juntos, mas você sequer parece saber o significado de respeito. - A garota olhava pra mim com fogo nos olhos, como se pudesse me destruir agora mesmo, eu nunca tinha a visto desse jeito. - Você sempre demonstrou gostar de mim, e na primeira oportunidade de me provar que merece minha confiança, você se entope de bebida e me mostra que não vale a pena. Parabéns. - O que foi que eu fiz? Eu me sinto enjoado. Eu não posso perdê-la.
- ... O que foi que aconteceu? Eu... Vamos pra casa... - tentei me aproximar da garota, que cambaleou pra trás ao se afastar bruscamente de mim.
- Você é nojento . Volta pra seja la quem você estava beijando la dentro. Quer saber? É melhor assim, eu nunca nem senti o mesmo que você.
E foi dessa maneira, que a garota que eu amo me disse adeus.
's POV
Quando alguém quebra a nossa confiança, nos sentimos mal. Muito mal. Demora um tempo pra raiva passar, e quando passa, você chega a pensar que nunca mais confiará em alguém de novo. Mas você confia. E quando te decepcionam mais uma vez? A pancada é maior, e as lembranças voltam.
Quando vi beijando apaixonadamente outra garota, algo dentro de mim se rachou. E provavelmente foi meu coração. Naquele momento, tudo o que eu conseguia pensar era em Joe me traindo, no rosto dele me pedindo desculpas, nas lágrimas em seus olhos e na verdade em sua voz, e tudo isso se intercalava com a feição preocupada e confusa de . E foi então que eu tomei uma decisão. Eu decidi deixar tudo pra trás. Eu não preciso de ninguém além de mim pra ser feliz e realizar todos os meus sonhos. E foi isso que eu fiz.
3 anos depois....
- , precisamos de você aqui! - ouvi meu diretor me chamar, e corri para o estúdio, já colocando os fones e pegando a claquete que estava em cima da mesa da sala ao lado.
- Cheguei! - Corri para trás da câmera principal, bati a claquete e me posicionei ao lado do diretor.
Há 3 anos me mudei de Lancaster, e vim para Nova Iorque trabalhar com o que eu sempre quis: cinema. Encontrei um estágio como assistente de maquiadora no subúrbio da cidade, e em alguns meses, o diretor da produtora decidiu me dar uma chance de fazer parte da produção de pequenos curta-metragens, e hoje em dia, já participo de praticamente todos os projetos desse lugar. É um sonho realizado, e eu não poderia estar mais feliz. Voltei para Lancaster, na Califórnia, apenas para o casamento de e , que continuam me apoiando em tudo, e planejam se mudar para cá em breve.
Em alguns momentos, certas memórias me atingem, e eu penso se teria sido melhor ter colocado um fim em tudo o que passei com ao invés de apenas ter me mudado, mas ao olhar ao meu redor, vejo que não preciso mais me preocupar com isso, eu consegui. Eu mudei a minha vida.
's POV
- Então... Você aceita? - A mulher na minha frente sustentava um sorriso largo e um olhar de expectativas para mim.
- Eu... O que você acha? É claro que eu aceito! Sim! Sim! - Apertei sua mão com entusiasmo, e senti meu peito se encher com uma alegria indescritível.
- Certo, ... Então... Vou pegar o contrato pra você assinar! Em duas semanas iremos expor seus quadros na The National Arts Club, em Nova Iorque.
Uma semana após ter recebido a notícia de que eu deveria sair do apartamento em que eu morava em um mês, eu senti que não teria mais como continuar com a vida que eu levava, senti que precisaria arranjar um trabalho descente, ou até mesmo voltar a morar com meus pais, no Novo México. Comecei a procurar um emprego, e trabalhei por dois anos em um escritório da Califórnia, preso em atrás de uma mesa o dia inteiro, mas foi o suficiente pra alugar um pequeno apartamento e juntar dinheiro para me mudar assim que possível. Assim que vi que havia juntado uma pequena quantia, pedi demissão, e passei a viajar o mundo visitando diversas galerias, procurando oportunidades e conhecendo novos artistas. Há um mês, entrei na TNAC, enquanto estava em Nova Iorque, e foi lá que eu conheci Sarah, a dona do local, e a partir disso tudo mudou. Ela me ajudou a encontrar um lugar pra ficar, e me incentivou a pintar, além de ter me dado uma ajuda financeira pra trazer meus quadros que estavam na casa dos meus pais pra cá. Eu tenho sorte, meus pais, apesar de não terem aprovado minha escolha logo no início, agora me incentivam em tudo, e meu irmão, apesar de mais velho, sempre esteve do meu lado, me ajudando, me apoiando e me mostrando que apesar de tudo, eu sempre o teria.
E é então que eu sinto um vazio. Me falta algo. E no fundo eu sei o que é. A garota de olhos não sai da minha mente, e por mais que eu tente, sei que preciso vê-la mais uma vez, pra poder me desculpar por tudo que eu causei, pra poder consertar tudo o que foi quebrado, e pra ter certeza que está tudo bem.
Quando o dia da exposição chegou, eu já estava na galeria 3 horas antes da abertura oficial, eu revi a posição de todos os quadros, ajeitei a mesa de aperitivos, arrumei minha roupa em frente ao espelho e baguncei o cabelo pelo menos 25 vezes, porém, mesmo assim, a hora não parecia andar.
E foi então que a primeira pessoa entrou.
Era uma senhora, de aproximadamente 60 anos. Ela entrou olhando para os lados, calma, como se não estivesse com pressa alguma. Ela era o meu oposto naquele momento, afinal, eu queria correr na direção dela, explicar a história de cada quadro e vender qualquer um deles o mais rápido possível. A senhorinha deu meia volta, olhando uma última vez. E saiu. Ela saiu da galeria. Saiu, sem olhar mais do que 3 quadros, e sem se interessar pelo que via.
Me sentei em um banco, desistindo de esperar. Olhei ao meu redor, novamente questionando se todo esse esforço um dia valeria a pena. Mas, é claro que valeria. Um dia me disseram que lutar pelo que sonhamos nunca é uma decisão errada, e é nisso que eu acredito.
Algum tempo depois, a galeria estava parcialmente cheia. Sarah era uma mulher muito conhecida, e alguns compradores influentes estavam ali, analisando meu trabalho com seus olhares críticos e suas contas bancárias cheias. Grupos de jovens se espalhavam pelo local, e vez ou outra eu via os seguranças contratados chamarem a atenção de alguns, por estarem tirando fotos ou tentando tocar nas obras. A mesa de aperitivos já estava vazia, e vi duas moças de uniforme retirando-a do centro do salão, enquanto mais pessoas entravam na galeria.
Eu me sentia vivo, como nunca antes. E foi então que vi um rosto conhecido entrar, e meu coração pareceu parar, por muitos, muitos segundos.
's POV
Era hora do almoço e meu estômago estava desesperado por qualquer comida que fosse, então decidi dar uma pausa na revisão dos roteiros que eu estava fazendo e ir comer alguma coisa ali por perto. Andei por uns dois quarteirões e vi uma pequena movimentação em frente a uma galeria de artes pequena, o que era raro, afinal, havia tempos que eu não via esse lugar com algo realmente bom. Caminhei até a porta, procurando o nome do artista que estava expondo suas obras ali.
- Olá, com licença... - Chamei a atenção de um dos seguranças que estavam na porta. - Você pode me dizer qual é o nome do artista, dono dessas obras? - Perguntei por pura curiosidade, afinal, pretendia sair dali em, no mínimo, 2 minutos, ou iria desmaiar de fome.
- Me desculpe, querida. - uma mulher loira caminhou em minha direção, com seu salto alto batendo no chão frio da galeria, logo mudando o som que fazia, ao pisar na calçada de cimento que eu me encontrava. - O artista prefere só ser identificado do lado de dentro do estabelecimento, se quiser, posso te levar lá pra dentro, vamos? - uma mão com unhas grandes e pintadas de vermelho foi estendida na minha direção, e eu estiquei o pescoço, olhando pra dentro da galeria, vendo muitas pessoas conversando e observando os quadros, que pareciam ser muito bonitos. Por que não? Minha curiosidade falou mais alto, e eu entrei no local, ignorando a gentileza da mulher que havia falado comigo.
Caminhei por um pequeno corredor, com pequenos quadros expostos, e cheguei no hall principal, aonde haviam obras por todos os lados, e pessoas indo e vindo, continuei seguindo, até que ouvi meu nome ser chamado. E eu conhecia aquela voz.
- ? - Me virei para o dono daquela voz, e senti todo o meu sangue congelar. Minha cabeça girou por alguns segundos, e eu precisei piscar algumas vezes para poder acreditar no que eu estava vendo. estava ali, estava ali.
- O-Olá, . - Falei com a voz baixa, já pensando em uma forma de sair dali.
- Como você ta? - O garoto perguntou, parecendo receoso em ter qualquer tipo de contato comigo. - Você... O que você ta fazendo aqui?
- Trabalhando. - respondi seca, olhando para os lados a procura de algum rosto conhecido, então vi a mulher loira que havia falado comigo na porta, e assim que seus olhos encontraram os meus, vi que ela abriu um sorriso forçado, e caminhou na minha direção.
- Bom, vejo que se conheceram sem a minha ajuda... - A loira falou, fortalecendo seu sorriso perfeito, e olhando de para mim de forma animada. - A senhorita tem interesse em adquirir algum dos quadros de ? - arregalei os olhos assim que a frase saiu de sua boca, então, essa exposição era de , eu havia entrado na exposição dele! Com tantas galerias no mundo, com tantos horários no mundo e com tantas mulheres loiras no mundo, essa havia me convencido a entrar na galeria que estava expondo as obras de . Respirei fundo, buscando aliviar todo o nervosismo que me atingiu assim que eu vi o rosto do homem a minha frente.
- Meus.... Meus parabéns. - Olhei na direção de , enquanto me abraçava, tentando me proteger de todas as sensações que passaram por mim naquele momento.
- Obrigada, . Espero que esteja gostando... - o rosto do homem na minha frente continuava lindo. Seus olhos ainda transmitiam uma culpa da qual ele não era capaz de se redimir agora, suas bochechas ainda eram coradas e sua boca ainda era, de longe, a mais bonita que eu já havia visto. Droga, . Sai logo dai.
- Sim... Está tudo lindo. - Tudo lindo? Que merda é essa? Você quis dizer que ele também está lindo? - Digo... As obras são ótimas. - soltei um sorriso fraco, enquanto ouvia a mulher loira ao nosso lado falar algo e sair andando, mas eu não conseguia me preocupar com isso agora, eu só conseguia pensar que, em todas as galerias do mundo, com todos os artistas do mundo, eu estou aqui.
E nesse momento eu não consigo pensar na raiva que eu senti de a alguns anos, eu só consigo me lembrar da forma que ele me olhava, da maneira que nos encaixamos em todos os sentidos, mas, principalmente, na maneira em que ele me fez amar, mesmo que imperceptivelmente, até mesmo pra mim. Eu sempre tratei tudo o que tivemos como um jogo, mas após perder tudo aquilo, eu percebi... havia se infiltrado no meu coração e o quebrado.
Mas agora ele está aqui.
Agora nós estamos aqui.
E nós temos a chance de fazer tudo diferente.
Mas... E se?
's POV
está linda. Percebo que ela está desconfortável com a situação, mas sempre que imaginava esse encontro, pensava na moça que está na minha frente me ignorando e saindo sem trocar sequer uma palavra comigo, ou então, arremessando objetos contra mim e saindo sem olhar para trás. Nenhuma das opções eram boas. E nenhuma delas aconteceu. Ela está aqui, e não parece pronta para me machucar de qualquer maneira que seja. Essa é a minha chance.
- Bom, eu... A galeria fecha ás 20h. O que... O que acha de me encontrar no Craft... Pra... Conversarmos? - eu pareço um garotinho de 10 anos nervoso ao falar com uma menina pela primeira vez. Mordo meu lábio inferior instantaneamente e percebo que minhas mãos estão suando. Efeito .
A garota parece procurar qualquer objeto para fixar o olhar, porém, ao não encontrar nada que a faça fugir do assunto, seus olhos foram voltados na minha direção, e por alguns segundos, pude ver um brilho diferente neles.
- Eu preciso trabalhar. E... Acho melhor as coisas continuarem como estão... Vou indo, . - a garota fez questão de se afastar, e eu imediatamente entrei na sua frente. - Não faz isso... Eu preciso mesmo ir.
- Me escuta. Eu nunca deveria ter te deixado se afastar sem me explicar, o que aconteceu anos atrás foi um erro, mas eu fui covarde, eu te deixei ir, mas agora você esta aqui, não acha loucura? Eu não posso te deixar sair andando de novo, só me deixa te explicar tudo o que aconteceu, e eu prometo que te deixo em paz. - olhou para as próprias mãos, e sorriu levemente.
- Eu saio ás 21h. Te encontro no Craft. - E mais uma vez, a garota que invade os meus sonhos constantemente, saiu andando. Mas dessa vez eu sei que a verei de novo.
Assim que sai da galeria, corri até o restaurante combinado, e após praticamente implorar para o gerente do local pela reserva de uma das mesas, passei a caminhar na calçada com uma sensação de felicidade indescritível, meu sonho estava se realizando, todo o meu esforço estava finalmente sendo recompensado, mas eu sei que grande parte dessa felicidade tem um motivo, um motivo lindo.
Entrei no restaurante exatamente ás 21h. Um homem com aparentemente 40 anos me acompanhou até uma das mesas no canto do local, que era extremamente aconchegante, e possuía uma das melhores cartas de vinhos da cidade. Me sentei em uma das cadeiras e passei a olhar ao meu redor, me perguntando se viria, se ela me deixaria aqui, se ela sumiria de novo, se...
Até que meus olhos alcançaram os seus, ela estava linda. Não precisava de qualquer roupa chique e jóias caras pra ser uma das mulheres mais deslumbrantes que eu ja havia visto. Ela se aproximou da mesa em que eu me encontrava, e eu me levantei imediatamente, a cumprimentando com um leve aceno de cabeça.
- Você está linda, ... Digo, . - puxei a cadeira em frente a minha para que ela se sentasse, e voltei para o meu lugar assim que ela se acomodou.
- Muito obrigada, . Só , por favor. E você também está ótimo. - parecia medir as palavras ao falar comigo. - Esse lugar é maravilhoso.
- Sim, é mesmo, e a comida daqui é ótima! Espero que ainda goste de camarão, você não imagina o prato que eles sevem aqu... - Interrompi minha frase, ponderando se deveria ou não continuar. não era mais a mesma, eu conseguiria perceber isso á quilômetros de distância, e não sei se mencionar o tempo em que estivemos juntos fora uma boa ideia.
- Eu ainda amo camarão. - disse, me tirando dos meus devaneios, e abrindo um sorriso, que naquele momento, se tornou a minha visão favorita.
Passamos horas conversando sobre todos os assuntos possíveis, comemos, bebemos, e nesse curto espaço de tempo, pude me encantar ainda mais pela mulher que estava na minha frente. Saber que ela havia conseguido alcançar seus objetivos era ótimo, e ter a oportunidade de vê-la mais uma vez era um presente do Cara la de cima, e eu nunca deixaria de agradecer por isso.
Porém, em toda a nossa conversa, o dia em que nos separamos havia sido deixado de lado, sequer havíamos citado qualquer coisa que passamos, mas eu sabia que era inevitável, eu não poderia sair daqui sem dizer tudo o que eu preciso para .
- , eu amei escutar cada história que você viveu desde a última vez que nos vimos, mas nós dois sabemos que existem coisas que precisam ser esclarecidas. - A garota assentiu, visivelmente mais confortável na minha presença, e mais uma vez eu pude enxergar a mulher incrível que ela havia se tornado. - Naquela noite, tudo ao meu redor parecia ter desmoronado, eu havia acabado de perder o meu apartamento, e tudo o que eu havia escolhido pra minha vida parecia errado. Eu não devia ter bebido tanto, mas agora não adianta me lamentar, eu bebi, e muito, e foi quando... Foi quando eu te confundi com outra garota. Eu não tinha plena consciência do que estava fazendo, mas em todo o tempo eu pensei estar beijando você. Eu sei que nada do que eu diga vai diminuir a minha culpa, mas eu preciso que você me perdoe. Eu quebrei a sua confiança, mesmo sabendo que você já havia sido traída, e eu não espero que você entenda e acredite no que eu vou dizer agora, mas eu me arrependo. Eu me arrependi no mesmo momento, me arrependi no dia seguinte, me arrependi no mês seguinte e me arrependo hoje. Te encontrar aqui é inacreditável pra mim, mas eu precisava dessa chance. Obrigada por ter aceitado vir até aqui. - Respirei aliviado assim que a última palavra saiu da minha boca, sentindo um peso enorme ser retirado de cima dos meus ombros.
se endireitou na cadeira, e puxou o ar antes de começar a falar.
's POV
- , eu passei muito tempo sentindo raiva de você, e deixei que os meus problemas do passado me cegassem. Eu não estou tirando a sua culpa, até porque eu vejo que você percebeu que foi um erro, mas o que eu estou tentando dizer é que eu fui extrema, eu sequer te dei uma chance de se explicar, e simplesmente segui com a minha vida. Nós não somos velhos. – ri fraco, tentando aliviar toda a tensão que emanava. - mas com certeza somos mais maduros do que éramos antes, e hoje eu vejo que tudo não passou de um erro bobo. Você me fez passar por momentos muito bons, e eu não deveria ter sido tão egoísta. - apoiei meu rosto em uma de minhas mãos, e sorri levemente para o homem a minha frente, que parecia em transe.
- Eu sonhei em te reencontrar por muito tempo... - começou a falar e desviou os seus olhos dos meus, os direcionando para fora do restaurante, como se estivesse se perdendo dentro dos seus próprios pensamentos. - Você acredita nisso? Digo... Viemos parar na mesma cidade, cada um fazendo o que ama...
- Isso é incrível. Eu fico feliz por nós. - Disse de forma sincera, e antes que eu pudesse pensar em qualquer outra coisa, senti a mão de pousar sobre a minha, iniciando um carinho quase imperceptível.
- O que acha de dar uma volta por aí? - perguntou, e eu não pude negar. Não enquanto seus olhos estavam cravados nos meus. Não enquanto a imagem de nós dois juntos martelava na minha cabeça.
Assenti no mesmo momento, e após alguns minutos insistindo para que me deixasse pagar metade do jantar, – o que foi em vão - saímos do restaurante.
Caminhamos até o Gramercy Park, que parecia ainda mais lindo durante a noite, com pequenas luzes espalhadas e alguns bancos vazios que se localizavam nas laterais de ruas de pedras. Nos sentamos em um desses bancos, e passamos alguns minutos apenas observando a beleza do parque, e cada vez mais, sentia se aproximando de mim.
- Posso te fazer uma pergunta? - Falei com a voz baixa, enquanto encostava minha cabeça no ombro de .
- É claro que pode. - Senti suas mãos iniciarem um carinho em meu cabelo.
- O quanto você gostou de mim... Quando nós ficamos juntos? - Me arrependi no mesmo momento. Que tipo de pessoa pergunta isso? Eu não acreditom, droga, droga, droga.
- Bom... - riu fraco. - Digamos que... Eu gostei muito de você. Bem mais que o recomendado.
E foi então que uma sensação que a muito tempo eu não sentia voltou a me invadir, as borboletas no meu estômago pareciam dançar por entre as palavras que acabara de falar, e naquele momento eu me senti de volta ao píer, nos braços dele, sem qualquer mágoa.
- Me desculpa. - Sussurrei, me aninhando ainda mais em seus braços.
- Pelo que? - desencostou sua cabeça da minha, tentando alcançar os meus olhos, que estavam escondidos em seu pescoço.
- Por não ter correspondido o seu sentimento. Eu tinha medo. Tinha medo de me apaixonar por você, então eu tratava tudo o que tínhamos como uma brincadeira, sem pensar em você, apenas tentando satisfazer as minhas vontades. Você sempre me tratou como uma mulher de verdade, e eu também errei ao não te dar valor. Torço pelo seu melhor.
E então, tirou seus braços dos meus ombros, e colocou as duas mãos em meu rosto, se aproximando de mim com a respiração levemente descompassada.
- Não fala mais nada, . Eu nunca quis te pressionar a fazer nada, eu não podia te obrigar a também se apaixonar por mim, e...
- Se apaixonar? - Cortei a fala de , com os olhos arregalados. - Você... Estava apaixonado por mim?
O homem na minha frente parecia pensar nas palavras certas pra me dizer, mas assim que senti seu carinho em meu rosto, vi que ele não precisaria falar uma palavra sequer para que eu entendesse tudo.
- Sim. Eu me apaixonei por você.
Então me beijou.
Quando nossos lábios se tocaram, foi como se tudo fizesse sentido novamente, todas as noites em claro pensando nas decisões que eu havia tomado, todas as festas cheias de pessoas vazias que eu entrei, todos os caras que eu conheci e que não deram certo comigo... Tudo fez sentido. Meu corpo pedia por , e agora ele está aqui. Embrenhei meus dedos em seus cabelos, que permaneciam macios como eu me lembrava, e quando suas mãos passearam pela minha cintura e nossas línguas se encontraram, eu senti que estava onde eu deveria estar.
3 meses depois...
's POV
Algumas vezes na vida, nos separamos de pessoas que amamos, muitas vezes nos apaixonamos por outros rostos, e seguimos a nossa vida, errando e aprendendo. Mas algumas vezes, nos separamos de pessoas que não deveriam ter saído de nossas vidas, e são nesses momentos que coisas incríveis acontecem. Não conseguimos nos desvencilhar de alguém que foi destinado a estar em nossas vidas, e por mais que a gente tente fugir, algumas pessoas foram feitas para estarem juntas. e eu somos um exemplo de pessoas como essas. Depois de nos reencontrarmos, três meses atrás, tudo mudou. Nos conhecemos novamente, dessa vez sem qualquer peso nos rodeando, sem qualquer empecilho, apenas dois adultos, dispostos a se amarem mais uma vez.
Me levantei da cama, olhando para o lado e vendo que não estava mais lá. Caminhei até a sala, a encontrando na sacada de seu apartamento, com um cigarro entre os lábios, - um vício que não estamos dispostos a abandonar- procurando algo na pequena estante que fora colocada ao lado do sofá no pequeno espaço.
- Procurando isso? - Me aproximei, rodando um isqueiro entre o dedo polegar e o indicador. Acendi o cigarro, e senti sua mão segurar a minha. - O que foi?
- Lembra disso aqui? - A garota tirou o cigarro dos lábios, enquanto acariciava a superfície do isqueiro, que estava na palma da minha mão.
Abaixei o olhar, e pude ver minhas iniciais escritas ali. então virou o objeto, revelando as próprias iniciais escritas do outro lado, quase imperceptíveis naquele objeto velho, mas ainda assim, muito visíveis pra nós.
- Como eu poderia esquecer? - Ri. - Quem diria que essa coisinha aqui seria capaz de dar início a uma história tão maluca quanto a nossa, né? - Fechei a mão ao redor do isqueiro, e abracei a mulher a minha frente, depositando um beijo leve em seus cabelos, enquanto via a fumaça que saia de seus lábios nos rodear.
- Já pensou se por algum acaso o isqueiro fosse de outro cara? Será que eu viveria tudo isso aqui com ele? - riu divertida, enquanto afastava seu rosto para me observar.
- Eu nem quero imaginar como seria viver sem ter te conhecido. - Coloquei uma mecha do seu cabelo atrás da sua orelha, e peguei o cigarro de seus dedos, o apagando no parapeito da sacada. - Eu só tenho uma coisa pra te pedir agora...
- O que? - perguntou, com o conhecido brilho de curiosidade iluminando seus olhos,.
- Eu não quero te dizer adeus nunca mais. Não me faça ter que ficar longe de você, por favor.
então sorriu, passando seus braços pelo meu pescoço. - Você não precisa mais me dizer adeus, . Eu estou aqui, e não pretendo sair.
Então iniciamos um beijo apaixonado como os outros, porém, dessa vez, uma promessa havia sido selada.
E eu sei que nós iremos cumpri-la.
Fim.
Nota da autora: OLÁ XUXUS!!!!!!!!!! Nem acredito que depois de anos lendo milhares de fanfics, finalmente publiquei a minha! Obrigada a todos que leram até o final, espero que não tenham ficado com raiva do meu pp hein? Ele deu suas mancadas mas ainda é um neném HAHAHAHAHAH essa história é muito importante pra mim, porque, além de ser uma história na qual eu me apeguei, também retrata uma mudança interior pela qual estou passando, de aprender a entender melhor o outro, e não focar somente no que NÓS sentimos. Quero agradecer a May, por ser uma beta tão paciente hahahahaha, a Jess, pela capa MARAVILHOSA que ela fez (viram esse xuxu de pp? eu amo.), e principalmente a minha melhor amiga, Larissa, por ter me apoiado desde o começo da escrita, por ter me dado várias dicas, e por ter sido a primeira pessoa a escrever uma história na vida comigo! Quando éramos mais novas, fazíamos fanfics sem nem saber o que significava isso HAHAHAHAHAH o mundo que criamos estará sempre no meu coração, e hoje, essa fic é um reflexo de tudo que já imaginamos, obrigada. Eu te amo muito. E uma curiosidade! A Larissa também tem uma fanfic pra chamar de dela nesse ficstape!!! (04. She will be loved), eeeee, se segurem! NOSSOS PP'S SÃO IRMÃOS! COMO ASSIM??? ISSO MESMO!!!! Então, se quiserem se apaixonar por mais uma parte da família, deem uma passadinha lá! Obrigada mais uma vez, espero que essa fic tenha levado vocês pra um mundo muitcho loco, voltem sempre :)
xoxo, L&M.
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.
xoxo, L&M.
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