FFOBS - 02. Trivia: Just Dance, por Kah-Fly (Kadine)

Finalizada em: 18/06/2019

Capítulo Único

Bad, Michael Jackson (1987)
Já fazia muito tempo que null observava aquela moça dançando na multidão.
De todos os dançarinos de apoio que eles tiveram, ele tinha que admitir que ela era a melhor. null – esse era o nome dela. null ouvira várias vezes enquanto a chamavam durante as gravações. Ela era dedicada, aprendia tudo com a mesma rapidez que ele e não fazia nada que não fosse perfeito.
- Você parece com frio! Aceita um chá? – Foi a melhor maneira que ele encontrou de puxar assunto.
Naquele frio durante a noite no topo de uma montanha enquanto gravavam o mais novo MV, null e null se encontravam embrulhados em casacos grossos e coloridos que não estragassem as roupas que eles estavam usando para gravar. Ela tentava esquentar as mãos com um par de luvas de lã, mas estava tremendo. E, carregando dois copos de chá verde fumegante, aquela foi a melhor desculpa de null para finalmente conversar com null.
- Ah, muito obrigada! Aceito sim! – Ela pegou o chá das mãos dele, os dois se encolhendo em um canto do set de gravação. – Meu nome é null!
- O meu é null! Prazer em te conhecer! – Ele sorriu animadamente para ela, como se não fossem duas horas da manhã e não tivessem passado o dia todo por lá. Aquilo imediatamente a fez sorrir de volta. – Você não é daqui, não? De onde você é?
- Eu sou do Brasil, sabe onde fica? – null perguntou de volta e os olhos de null dobraram de tamanho.
- Do Brasil?! Nossa! Você veio de tão longe só pra dançar com a gente?! – Ele estava completamente pasmo e ela só concordava com a cabeça enquanto ria. – Que legal! E como você começou a dançar? E por quê?
Enquanto null demorava um pouco para responder por estar bebendo o chá, tudo que null queria era que ela respondesse. Podia dizer qualquer coisa, contanto que dissesse algo. Ele queria conhecê-la melhor.
- Eu danço desde pequena. Desde meus... Cinco anos, acho? – null fez uma pausa para fazer as contas, confirmando com a cabeça em seguida. – Isso mesmo, eu tinha cinco anos. Fiz aulas até os meus dezessete anos, então estou muito acostumada com apresentações, subir em palcos e essas coisas. Parei para poder fazer uma faculdade completamente diferente disso, mas sentia falta, então voltei a dançar... E acabei aqui com vocês!
- Mesmo assim, você tem doze anos de experiência. É bastante! – null não conseguia parar e sorrir. Aparentemente, acabara de conhecer alguém com a mesma paixão que ele. – Você gosta de ensaiar nas horas vagas?
- Sim, é o que mais faço! – null parecia entusiasmada com a pergunta. – Depois que parei as aulas, comecei a ensaiar por mim mesma!
- O que você acha de ensaiarmos juntos lá no estúdio quando terminarmos a gravação?
E null somente sorriu com a proposta de null.

- Já que é a nossa primeira vez dançando juntos fora de uma coreografia, pensei em colocar uma música pra ver o que você sabe. – null comentou enquanto escolhia o que colocaria para null dançar naquele primeiro dia na sala de dança do estúdio.
null estava no centro da sala, de sapatilhas, aquecendo as pernas para não machucá-las durante o dance practice. Mas, quando ele disse isso, ela simplesmente olhou para ele, pasma.
- Você está me desafiando?
- Oi?
- “Pra ver o que você sabe”...? – Ela repetiu com um pequeno sorriso nos lábios.
- Não é um desafio... – null comentou com um sorriso completamente sem jeito estampado no rosto, percebendo que as palavras não tinham saído exatamente como ele queria.
- Pode colocar o que quiser, null. Consigo dançar qualquer coisa. – null piscou para ele e se levantou do chão, aquecendo os pés. – De sapatilha.
null deu uma risada audível antes de colocar a música para tocar. Quando ela colocou as sapatilhas e ele a viu daquela maneira pela primeira vez, tudo que conseguira perguntar fora “o que é isso”? null estranhou a reação dele, null estranhou as sapatilhas. Com a formação que ela tinha, era uma heresia esquecer as sapatilhas e dançar sem o calçado nos pés. Com a formação que ele tinha, dançar de tênis era simplesmente necessário. Se colocassem sapatilhas nos pés de null, teria dificuldades para se acostumar, do mesmo jeito que se colocassem tênis nos pés de null para ensaiar, a moça demoraria algumas horas para conseguir pegar o jeito.
- Michael Jackson?! Sério?! – Ela respondeu já caindo em risadas. Franzindo as sobrancelhas, porém também rindo, null não conseguia entender a reação dela.
- Sério! Por quê? Você não gosta? – E ele se perguntava como alguém poderia não gostar de Michael Jackson.
- Não gostar?! Eu amo Michael Jackson! – null estalou o pescoço e colocou-se em posição no meio da sala. – E você está para passar vergonha de ter me falado aquilo, Bad é uma das minhas músicas favoritas!
Dizendo isso, null fechou os olhos e começou, devagar, a se mover no ritmo da música.
Quando null menos esperava, ela começou os movimentos secos e precisos típicos das danças do Michael Jackson. Quando a música chegou no ponto que ela queria, null abriu os olhos, deu dois passos e tomou um impulso, ficando na meia ponta e apoiada em uma perna só enquanto a outra se esticava no ar, caindo em seguida e continuando os passos precisos, misturados com um estilo mais fluido em alguns momentos.
null ficou boquiaberto. Não conseguia acreditar. Ele sabia muito bem o que ela estava dançando, pois conhecia aquela coreografia com o próprio coração: null estava fazendo a mesma coreografia que Michael Jackson fazia no clipe de Bad.
E era perfeita. Ela conhecia cada passo, cada contagem, cada letra da música. Todos os momentos que tinha que saltar, deslizar, fazer movimentos secos ou fluidos: null sabia exatamente o que estava fazendo e era idêntica ao clipe.
Quando a música estava se aproximando do refrão novamente, null se aproximou dela no centro da sala e parou ao lado de null, somente esperando o oito que ela dançava terminar para se juntar a ela.
A moça olhou para ele por um rápido instante antes de começarem a dançar juntos.
Olhando nos olhos um do outro, null e null começaram os passos que conheciam tão bem, coordenados como se tivessem dançado juntos durante toda a vida. Ambos tiveram que sorrir – afinal, nunca conheceram alguém que estava tão em sintonia com eles.
Um do lado do outro, era como se tivessem acabado de sair do clipe. Olhando no espelho, eram perfeitamente sincronizados, dançando com toda a paixão que tinham no coração. Quando estavam chegando ao fim da música, ambos giraram nos calcanhares e fizeram a mesma pose que Michael Jackson fazia no clipe.
A música parou, assim como eles. Com a força do giro que tinham acabado de dar, perderam o equilibro e, segurando nos braços do outro, caíram juntos sentados no chão, de frente ao espelho, entre risadas escandalosas.v - Como você sabe essa dança?! – null perguntou sem conseguir parar de sorrir.
- Eu passava horas do meu dia tirando as coreografias dos clipes que mais gostava! – null respondeu imediatamente, sem soltar das mãos de null. – Essa eu tirei quando tinha uns onze anos, acho!
- Eu fazia a mesma coisa! Pra aprender a dançar! – Ele não podia estar mais animado. Sem conseguir acreditar, eles riam cada vez mais.
Agradeceram mentalmente por aquele dia no frio em que ele resolvera oferecer chá para ela.
Após um bom minuto rindo, quando conseguiram respirar novamente e acalmar os corações, notaram a próxima música que começara a tocar.
- Você sabe Remember The Time? – null perguntou imediatamente olhando para null.
Ela nem precisou responder, somente sorrir – o que o fez sorrir de volta. Segurando a mão da moça, null a ajudou a se levantar e ambos correram para o centro da sala a fim de dançar juntos novamente.

‘Til The Dawn, Drew Sidora (2006)
- Se vocês não forem dançar, eu juro que bato nos três. – null comentou terminando de beber o próprio drink. – Onde já se viu? Três dos melhores dançarinos do mundo que não dançam em festas?!
null havia sido convidada para comparecer à mesma festa que null, null e null. Só poderiam estar lá exatamente pelo fato de que outras pessoas famosas e do mundo da música também compareceriam, então não teriam problemas com fãs. Claro, tinham que se comportar como sempre – não queriam nenhum escândalo em tabloides e afins – mas podiam, pelo menos, beber uns dois drinks.
- Claro que vamos! – null respondeu com uma risada convencida e já começando a se mover ao lado da amiga, no ritmo da música que chegava ao fim. – Não sei esses dois aí, mas eu e você vamos!
- Claro que eu vou! – null estava indignado com o comentário de null, que começou a rir logo em seguida. Com as sobrancelhas franzidas, ele estendeu uma das mãos para null. – E vou ser o primeiro a dançar com ela, tá?
- E você, null? Vai dançar, não? – null balançou a cabeça enquanto null continuava obstinadamente com a mão estendida.
- Ah, eu...?! – null perguntou como se fosse a coisa mais absurda do mundo, enfiando uma das mãos no bolso da calça e recuando enquanto as bochechas ficavam avermelhadas entre o sorriso dele. null franziu as sobrancelhas, estranhando toda aquela vergonha repentina. – Não sei, acho melhor vocês, eu vou depois...!
- Esse tonto tem vergonha. – null explicou o óbvio, apontando para o tonto em questão, que somente abaixou a cabeça e começou a rir.
- Exato. Por isso eu vou dançar com você antes. – null ainda estava lá, com a mão estendida, plantado ao lado de null como uma cenoura.
A batida da música mudou, iniciando uma melodia que a moça conhecia muito bem. Rindo consigo mesma, null não conseguia pensar em outra pessoa para dançar aquilo do que null.
- null, nós dançamos a próxima, mas essa... – E null apontou para null, que imediatamente ficou sério e um tanto confuso. – Step Up?
null deu uma risada audível logo em seguida, sem acreditar. Entendera facilmente a referência ao filme. Começando a caminhar para a pista de dança – já ocupada por algumas pessoas que sabiam perfeitamente a coreografia do filme – null puxou null de leve pela camisa, enquanto ele a seguia com as bochechas queimando em vergonha e um sorriso incrédulo no rosto.
Ao chegarem ao centro da pista de dança, null se virou repentinamente para null, que parou de andar, observando-a com atenção enquanto seus corpos começavam a se mexer instintivamente.
- Você sabe que a minha formação é puxando mais para jazz e ballet, não...?
- Claro que sei. – E null deu um pequeno sorriso, já vendo as semelhanças entre eles e o filme. – E você sabe que eu sou de formação de street.
- Tudo para essa dança ser a melhor da noite. – Dizendo isso, null piscou para ele e imediatamente começou a coreografia junto com as outras pessoas da pista de dança.
Assim como Channing Tatum, null estava um pouco perdido nos movimentos. Não que não conhecesse os passos, mas, como a própria null dissera, ela tinha mais experiência naquele tipo de dança do que ele.
E, de fato, o corpo dela se movia perfeitamente. Observando os movimentos dela com cuidado, null começou a pegar o ritmo e se deixar soltar no próprio estilo, seguindo o que null estava fazendo. Em poucos segundos de música, ambos já estavam coordenados – e até roubando alguns olhares.
- Garotas, venham para a frente e mostrem o que sabem fazer! – A cantora anunciou, separando os homens e as mulheres em grupos diferentes.
Como era de se esperar, null roubou a atenção entre todas as mulheres da festa. Ela se movia com destreza e passos técnicos que pareciam ser realizados sem o menor esforço. Tudo que ela fazia era com naturalidade, por mais difícil que fosse. Terminando seu momento com uma pirueta tripla, nem null conseguiu ficar sem gritar e bater palmas quando null plantou os dois pés no chão e olhou para ele como se tivesse lançado um desafio.
- Garotos... É a vez de vocês! – A cantora anunciou e os homens começaram a se mover em conjunto.
Porém null não deixaria o desafio de null sem resposta. Pela primeira vez em anos, sentia-se confortável a fazer o Freestyle que fazia desde jovem – nas suas primeiras competições de dança. null deslizou para frente e se soltou nos próprios movimentos de popping e locking, arrancando gritos e palmas das outras pessoas na festa.
- O que é isso?! – null perguntou rindo enquanto batia palmas. Olhando para null, encontrou o amigo boquiaberto, admirando null com os olhos de alguém que ainda tinha muito a aprender com outro mais experiente. – Ele nunca dançou assim com a gente!
Assim como null, null terminou com uma pirueta tripla apoiada nos calcanhares, encarando-a com o mesmo olhar assim que estacou no chão. Os gritos ecoaram pela festa, enquanto null gritava e sorria ao mesmo tempo.
null tinha um olhar diferente nesse momento. Ela achou que ele ficaria envergonhado como antes, mas os olhos dele estavam focados somente nela – como se não houvesse mais nada além de null, null e da música. Aproximando-se daquele olhar magnético, null seguia o ritmo enquanto null parecia nadar entre as notas.
Quando se encontraram novamente, sorriram e voltaram a fazer a coreografia junto com as outras pessoas na pista de dança – a única diferença é que null, ao contrário dos outros homens, estava de frente para null e não desgrudava o olhar dela. Já livre dentro dos passos da coreografia, ele se sentiu confortável o suficiente para continuar a improvisar com o próprio estilo, influenciando null e incentivando-a a fazer o mesmo.
Era impossível não admirar a maneira como eles se complementavam – em estilos tão diferentes, mas que encaixavam tão bem.
Com piruetas perfeitamente coordenadas, null e null terminaram a música ao mesmo tempo, olhando um nos olhos do outro.
Todos da festa começaram a bater palmas e gritar – não só para eles, mas para o grupo que se apresentava no dia e para o tanto que conseguiram se divertir. Segurando a mão de null, null a guiou de volta para a mesa em que null e null os encaravam completamente boquiabertos.
- Me ensina a dançar assim?! – E só faltava null grudar que nem um coala no amigo.
- O que te deu hoje?! – null também não conseguia acreditar. – Aliás, o que deu em vocês hoje?! Aquilo foi maravilhoso!
Mas null e null nem conseguiram responder, querendo somente retomar o fôlego. Limitaram-se a trocar olhares e rir – fazia tempo que não se sentiam livres daquela maneira.

Maniac, Michael Sembello/What a Feeling, Irene Cara (1983)
Quando qualquer um dos dois focava em trabalhar – e, principalmente, em aperfeiçoar seus passos de dança – não havia milagre que os arrancasse da sala de dança até os pés machucarem e as pernas se recusarem a continuar se mexendo.
null sabia muito bem que aquela era uma das características de null que o fizera se apaixonar perdidamente pela moça. Assim como ele, null poderia passar horas e horas aperfeiçoando um oito que fosse. Ela não gostava de ser nada menos que perfeita – e, para ele, ela era definitivamente perfeita.
Fazia duas semanas que eles não se encontravam por conta de seus ensaios. null estava ensaiando para um show que fariam logo e null fora convidada para uma apresentação que homenagearia um dos filmes que foi um marco na vida de ambos: Flashdance.
- Ah, eu amo tanto esse filme... – Ele se lembrava de null comentando de maneira sonhadora enquanto, aninhada nos braços dele, observava cada movimento da Alex. Vez ou outra se esticava para pegar algumas pipocas e não era raro agarrar os dedos de null por engano, de tão absorvida que estava pela história. – Foi um dos que mais marcou a minha infância... Eu lembro de assistir e ficar perdidamente apaixonada. De querer dançar que nem ela.
- Não vou dizer que você dança igual a ela, porque têm seu próprio estilo... – E os braços e null se apertaram em volta da cintura dela, enquanto as pernas davam espaço para que null se acomodasse mais confortavelmente entre elas. – Mas posso dizer com certeza que você é tão boa quanto.
Ele terminou a frase com um beijo no topo da cabeça de null, sentindo o perfume de lótus que emanava do shampoo que ela usava. null amava aquele aroma.
- Eu te contei que dancei Flashdance quando era mais nova? – Ela perguntou com um sorriso divertido nos lábios, recebendo um olhar incrédulo de null. Aquilo a fez rir. – Eu sempre amei esse filme. Um dia, quando tinha quinze anos, minha professora de dança perguntou que música gostaríamos de dançar. Eu praticamente gritei What a Feeling e ela ficou muito feliz de coreografar. Fiquei praticamente um ano aquecendo com Maniac e ensaiando What a Feeling. Quando apresentei naquele palco, foi um dos momentos mais felizes da minha vida. Lembro até hoje das luzes no meu rosto, da fantasia, do sentimento antes de entrar, das pessoas gritando e batendo palmas. Eu nunca me senti tão... Livre.
null a admirava perdidamente. Ele sabia exatamente como null se sentira, exatamente porque null se sentia daquela maneira toda vez que subia no palco especificamente para dançar.
Andando pelo estúdio às três e meia da manhã, ele ouviu a tão famosa Maniac ecoando da sala de dança para os corredores.
Franzindo as sobrancelhas, ele se aproximou da sala e espiou o lado de dentro, sorrindo com o que encontrou.
null estava vestindo somente um collant, polainas negras e sapatilhas, como uma boa amante dos anos 80. Com os cabelos soltos, ele conseguia ver o suor escorrendo pelos braços, rosto e brilhando tanto no peito quanto nas coxas. Olhando fixamente para o próprio reflexo no espelho de maneira determinada, ela corria no lugar, em meia ponta, no mesmo ritmo da música. Exatamente o que a Alex fazia no filme.
Quando a música deu a deixa, null deu três rápidas piruetas para o lado direito, abaixando-se em seguida para alongar as pernas como no filme. Ao final de dois oitos, levantou-se devagar – para não desmaiar – e, dando três piruetas para o lado esquerdo, repetiu os mesmos movimentos.
Dançando, ela se aproximou de uma barra no meio da sala. De frente para a mesma, ficou na meia ponta, aquecendo os pés no ritmo da música. Ficando em posição de pirueta, null treinou os giros de frente para a barra três vezes para cada lado – dando intervalos de um segundo entre cada um quando terminava as piruetas, segurando na barra toda vez que ficava de frente para a mesma. Treinou arabescos, esticando as pernas atrás de si e levantando-as o máximo que conseguia.
null, porém, teve que arregalar os olhos e quase aplaudiu quando null terminou uma pirueta quádrupla e, para parar, ficou de costas para a barra e apoiou-se na mesma, em um cambré que ele nunca a tinha visto fazer. Os cabelos dela quase tocavam o chão e, se não tivesse aquecida o suficiente, aquilo certamente iria doer.
Voltando vagarosamente, null retomou sua posição no meio da sala e continuou correndo no lugar, girando algumas vezes sem sair do ritmo da música. Quando a mesma começou a chegar ao fim, porém, null percebeu que aquele treino intenso estava cansando null mais do que devia. Ela parou aos poucos, apertando as próprias costelas como se sentisse dor.
Cambaleando, a moça apoiou no espelho à sua frente, olhando o próprio reflexo. Piscou algumas vezes quando a visão começou a escurecer e deslizou a mão suada pelo espelho até cambalear ao chão. Sentou-se com um baque e, após alguns rápidos segundos tentando ficar sentada, null finalmente deixou-se cair – focando somente em respirar. Tinha a impressão de que aquilo era o que mais importava naquele momento: respirar.
- null...? Ei, null! Tudo bem? – Ela ouviu a voz de null se aproximando rapidamente. Em seguida, sentiu uma das mãos dele embaixo do próprio pescoço, levantando-a levemente, enquanto a outra se apoiava no peito dela para checar os batimentos. Abrindo os olhos, null encontrou o rosto preocupado de null, fazendo-a sorrir. – null! O que foi? Você quer que eu te leve em um hospital? Posso chamar um médico...!
- null, não precisa... – null respondeu de maneira um pouco embargada, respirando fundo para recobrar os sentidos. – Eu estou ficando um pouco doente, mas dá pra aguentar. A apresentação é nesse final de semana e eu preciso estar em bom estado, não posso ir pro hospital agora. Eles me trocam por outra se isso acontecer.
- Às vezes não seria ruim, null. Não tem nenhum problema admitir que você precisa de ajuda. – null tirou alguns fios de cabelo encharcados do rosto dela. – Você não pode se matar por causa do seu trabalho.
- Olha quem fala. – Ela deu uma pequena risada, fazendo-o corar imediatamente. Realmente, quem era null para falar uma coisa daquelas? Quantas vezes null cuidara dele porque null tinha ido além do próprio nível de esforço?
Inúmeras. Ele era a última pessoa que podia falar aquilo para ela.
- Eu vou ficar bem, meu amor. Só me ajuda a chegar em casa, por favor?
- Claro que sim. Aproveitamos para comer um hotteok no meio do caminho. – Ele piscou para ela, fazendo-a rir enquanto ajudava null a se levantar.
- Eu vou ficar seriamente impressionada se você achar um lugar para comermos hotteok às três e quarenta da manhã!
null nunca ficara tão orgulhoso ao comprar hotteoks para null.

O dia da fatídica apresentação tinha chegado.
Como sempre, todos esperavam ansiosamente em suas cadeiras na plateia para assistir à apresentação, as emissoras de TV ansiosas para a performance de null. null, porém, estava ansioso por outros motivos.
- Ah, a apresentação dela vai ser tão linda! – null tinha os olhos praticamente brilhando. – A história da null combina tanto com a história do filme! Vai ser uma homenagem e tanto!
- Eu vi os ensaios, a coreografia é emocionante! – null respondeu com um sorriso convencido enquanto null somente o encarava com indignação.
- Por que você assistiu aos ensaios e eu não?!
- Porque a null gosta mais de mim. – E só faltava null mostrar a língua para o amigo.
- Gente, eu vou visitar a null rapidinho no backstage. – null comentou repentinamente, levantando-se da poltrona e atraindo a atenção de todos em volta. – Deixem a cadeira da ponta pra mim, por favor. Querem que eu dê algum recado pra ela?
- Sim! Que eu a amo mais que o null! – null praticamente gritou enquanto null somente balançava a cabeça e ria.
Chegando ao agitado backstage, null encontrou null aquecendo as pernas e respirando fundo, movendo os braços para fazer o sangue fluir. A moça tentou algumas piruetas e se desequilibrou, focando novamente no lugar. Franzindo as sobrancelhas, null se aproximou dela, sorrindo ao vê-la sorrir assim que os olhos de null repousaram nos dele.
- null! Aqui está o seu remédio pra dor! – Um dos assistentes entregou uma pílula para a moça e um copo d’água.
Antes de conseguir falar com null, null diligentemente tomou a pílula.
- E aqui está o remédio para dor de cabeça... – Outro assistente entregou uma pílula, estendendo outra logo em seguida. – E o antitérmico.
- Obrigada. – Ela disse rapidamente antes de tomar todos os remédios.
- null, o que houve? – null já perguntou logo que se aproximou. Antes de deixá-la responder, porém, beijou a testa da namorada.
Ela estava fervendo.
- Você está com febre?!
- Infelizmente, sim. Trinta e oito e meio, indo pra trinta e nove. Tomei o antitérmico pra ver se abaixa um pouco. – null suspirou, devolvendo o copo vazio para o assistente. – Mas tudo sob controle. Não precisa se preocupar.
- Você acabou de tomar três remédios antes de entrar no palco, um atrás do outro, o que é completamente errado, e está pedindo para eu não me preocupar?! – E agora null tinha um null completamente indignado em mãos para cuidar.
- null, quantas vezes você já fez pior? Preciso te lembrar de todas as vezes que cuidei de você? De todas as pílulas que você já tomou pra mascarar a dor e se sentir melhor? – O olhar de null era tão sério que o fez ficar em silêncio imediatamente. – Você sabe o que essa apresentação significa pra mim. Eu não vou desistir agora por causa de uma febre besta.
null respirou fundo enquanto colocava os pensamentos no lugar. Com a mão na cintura, sorriu rapidamente para null.
- Quando você terminar, vamos pra casa e eu vou cuidar de você. Entra nesse palco e faz o que você faz de melhor. – Com mais um beijo na testa dela, null tentou não se preocupar muito por conta da temperatura de null. – Ah, e o null te ama mais do que o null.
null deu uma breve risada antes de anunciarem que havia menos de cinco minutos para que ela entrasse no palco. Tomando seu lugar nas cochias antes de entrar, null voltou para a própria cadeira para não distraí-la.
- E aí? Como ela está? – null perguntou em expectativa. null forçou um sorriso.
- Bem. Extremamente focada e muito bem.
Foi nesse momento que ouviram os primeiros acordes da música.
null começou vestida de soldadora, assim como a Alex no filme. Com alguns passos de ballet, a moça interpretava a história da mulher que sonhava em se tornar uma bailarina, assim como ela também fizera uma vez. Presa em um trabalho bem distante do próprio sonho, null entendia exatamente cada palavra daquela música.
Passado o primeiro minuto, What a Feeling começou a sua batida tão conhecida. Com isso, null abriu o macacão de soldadora, tirando as mangas e ficando com a parte de cima de um collant preto, amarrando as mangas como um casaco na cintura. Chutando as botas para um canto, null sorriu ao ver as sapatilhas negras – os pés dela deveriam estar realmente incomodados com aquele sapato para dançar.
Os movimentos de null eram enérgicos, exatamente como a dança de Alex no fim do filme. A moça dançava como se realmente estivesse em um teste para uma academia de dança e aquele fosse o momento que aguardara durante toda a vida. No segundo refrão, null tirou o resto da roupa, revelando as pernas nuas no collant e as polainas negras, causando gritos na plateia.
Ela não se cansava. Ela não desistia. Sua paixão estourava de cada movimento que fazia – fosse em pé, fosse no chão ou no ar. null brilhava como uma estrela, mostrando a todos a grande bailarina que era – além de não deixar dúvidas de que merecia cada dança que fazia com null. Mesmo queimando de febre, com dor de cabeça e tontura, ela não deixava o sorriso desaparecer de seu rosto, dançando como se nada daquilo fosse um esforço.
null imediatamente começou a sorrir. Era impossível conhecer alguém melhor que ela. null era perfeita para null – e ele seria eternamente grato por terem cruzado seus caminhos. Não conseguia se imaginar com mais ninguém no mundo.
Por fim, null arrastou uma cadeira para o meio do palco, sentou-se na mesma e, puxando uma corda que ninguém havia prestado muita atenção, fez com que um balde de água a encharcasse. As luzes se apagaram, sobrando somente as luzes atrás dela, iluminando a silhueta de null enquanto a plateia se levantava e a aplaudia em algazarra.
Somente null conseguiu enxergar a silhueta de null cambaleando para as cochias quando as luzes se apagaram.

- Você estava maravilhosa, null. Com certeza, a estrela mais brilhante de todas essa noite.
null afagava os cabelos de null enquanto ela descansava de olhos fechados. A moça estava deitada na cama dele, aconchegada embaixo dos cobertores. De banho tomado e no devido pijama, null praticamente desmaiou quando sentiu que finalmente podia descansar. null colocou o próprio pijama e se sentou no chão ao lado dela, acariciando os cabelos da namorada enquanto media a temperatura.
- Obrigada, null... – Ela respondeu com um sorriso sonolento, mal abrindo os olhos.
- Por que você fez isso? – Apesar das palavras, a voz dele era gentil e preocupada, sem julgamento algum.
- Lembra que te falei da minha irmã? Então... Ela dançava muito bem quando estávamos na escola... – null contava de maneira cansada, mas não tinha dificuldade para falar as palavras. Aquele era um bom sinal. – Ela sempre foi a minha maior estrela quando éramos crianças... E uma vez, antes de uma apresentação importante em outra escola, ela ficou com quarenta graus de febre... Como uma das principais da coreografia, ela não podia sair. Minha irmã tomou um remédio e subiu no palco, sempre sorrindo... Você nem conseguia saber que ela estava passando mal. Eu sempre achei isso incrível, ela foi minha heroína naquele dia. Maior do que qualquer Mulher Maravilha...
null somente sorriu ao ouvir aquela história. Tinha certeza que a irmã de null devia estar muito orgulhosa depois daquela apresentação – assim como tinha certeza que null nunca dissera aquilo para a própria irmã. Passando os dedos pelo rosto da namorada, checou o relógio e viu que o tempo já tinha dado.
- Deixa eu tirar o termômetro, amor? – Ele perguntou com cuidado, levantando a blusa dela e pegando o termômetro a fim de checar a temperatura. Ela ainda estava com febre, mas já tinha abaixado. – Vou trazer algumas coisas pra você comer e daí podemos dormir, tá?
- Você vai embora...? – null perguntou com um pouco de manha enquanto ele a beijava na testa. Aquilo o fez sorrir.
- Juro que é rápido. Você nem vai perceber que eu fui embora.
E, de fato, null foi e voltou em menos de um minuto, com um pacote de cookies em mãos.
- Lanche muito saudável inclusive. – null se sentou na cama, enquanto ele se enfiava embaixo das cobertas ao lado dela.
- Ah, me desculpe. Estou sem lascas de coco fresco. – null comentou de maneira brincalhona, fazendo-a dar uma breve risada enquanto se aconchegava entre os braços do namorado. – E você precisa de um pouco disso aqui.
- Obrigada, null. – Ela pegou um pequeno cookie entre os lábios e mastigou vagarosamente, descansado a cabeça sobre o peito dele. Gostava de ouvir o ritmo em que o coração de null batia. – Obrigada por tudo. Principalmente por cuidar de mim.
- Eu sempre vou cuidar de você, null. Não importa o que aconteça. – E null a trouxe mais para perto do próprio corpo, passando os lábios pelos cabelos de null. – Sei que foi assim para você durante muito tempo, mas agora não precisa mais: você não precisa ser forte sozinha. Tudo bem precisar de mim. Estou aqui para isso, assim como você foi e é a minha força por várias vezes.
null sorriu, apertando os braços em volta de null enquanto sentia vários beijos no topo da cabeça. Aquelas palavras ficaram ressoando pela mente dela inúmeras vezes.
“Você não precisa ser forte sozinha. Tudo bem precisar de mim”.

From This Moment On, Shania Twain (1998)
Ficar algum tempo focando somente no trabalho, era algo inerente ao que null e null faziam. Portanto, não ficavam muito chateados quando passavam dias ou até semanas sem conseguir se encontrar – era parte de quem eram, então tudo que podiam fazer era sentir saudades.
null estava em uma dessas fases. Fazia uma semana e meia que mal se encontrava com null – tudo que tiveram eram beijos rápidos pelos corredores do estúdio enquanto corriam para um ensaio ou outro. Aquilo o fazia sorrir: gostava da idéia de que ela, por mais que estivesse atrasada, parava tudo que estava fazendo só para beijá-lo e tentar matar as saudades. Por mais que ele estivesse em seus próprios assuntos e null gravando com outros grupos, eles sempre davam um jeito.
O que o deixava contente enquanto voltava para casa naquela noite era o fato de que as gravações dele e dela finalmente chegaram ao fim e eles teriam um tempo juntos antes da turnê dele e, provavelmente, da que ela também faria.
null notara há um bom tempo que havia um grupo específico que sempre pedia que null participasse das gravações e shows. Ele ficava muito orgulhoso daquele fato – porém não podia negar que sentia uma pontada de ciúmes, pois ela estaria dançando com alguém que não era ele.
E null não podia mentir para si mesmo: quando viu uma dança que null tivera que fazer com somente um dos integrantes do outro grupo, em dupla, completamente coordenados como um casal, ele imediatamente grudou na tela da televisão e parecia que ia matar alguém.
- É a nossa null? – null perguntara, encarando a tela com admiração. – Que dança maravilhosa! Ela sempre sabe como dar um show!
- null, você estava sabendo dessa dança? Não sabia que ela dançava com mais alguém além de você...! – E null se virou para null.
Encontrando o amigo com os olhos semicerrados, analisando cada movimento da dança, a cabeça levemente erguida, parecendo que ia colocar fogo em alguém só com o olhar.
- É. Pelo jeito ele não sabia... – null sussurrou para null, que resolveu sentar ao lado do amigo e deixar null em silêncio.
- Eu ainda danço melhor. – null finalmente se manifestou, recostando-se à cadeira enquanto uma maquiadora vinha retocar os olhos dele. – Olha isso. Esse cara não consegue acompanhar a null.
null e null nem responderam, apesar de concordar com null. Ele e null construíram uma relação tão complementar, que nenhuma dupla conseguia se comparar a eles enquanto dançavam. Mas, sinceramente, o olhar de null estava tão intenso que nenhum dos amigos achou que seria sábio dizer alguma palavra. Nem que fosse para concordar.
Suspirando, null abriu a porta de casa com cuidado. Já era tarde e, se null estivesse dormindo, não queria acordá-la. Usaria aqueles dias que tinham juntos para dar o máximo de atenção a ela que podia, sabendo que precisava fazer aquilo.
Quando entrou na sala, porém, ouviu uma música ecoando pelo ambiente. Achava que era algum de seus amigos – provavelmente null – que resolvera tomar conta da sala e escutar música até tarde.
Porém, após deixar os sapatos ao lado da porta e se aproximar do sofá, não conseguiu conter o sorriso caloroso que surgiu em seus lábios ao encontrar null encolhida no estofado, abraçada a um dos bichinhos de pelúcia de null, enquanto ouvia música e dormia placidamente.
Aquele foi um dos momentos que ele queria que congelasse e pudesse guardar para sempre.
- Ei, null... – null chamou com a voz mais cuidadosa que podia, segurando uma das mãos dela. Sentiu a pele gélida da namorada enquanto os dedos inconscientemente afagavam a mão dele em retorno. – Amor... Deixa eu te levar pra cama? Você está gelada aqui...
- null...? – null abriu os olhos de maneira sonolenta, encontrando o rosto gentil e cansado do namorado a sua frente. Imediatamente abriu um enorme sorriso. – Olá, raio de sol.
- Olá, minha estrelinha. – E ele bateu de leve na ponta do nariz de null com o dedo indicador. – Resolveu roubar meu bichinho de pelúcia?
- O Mang? – Ela perguntou de volta, trazendo-o mais para perto do próprio corpo. – Ele estava se sentindo sozinho e eu também. Estávamos esperando você chegar em casa.
null nem sabia mais o que fazer com ela. Simplesmente queria abraçar null e não soltar nunca mais. Que o tempo parasse e eles pudessem ficar juntos pela eternidade, sendo suficientes em si mesmos e naquele sentimento de finalmente estar completo que se espalhava pelo peito de null.
Suspirando, null se sentou no sofá, espreguiçando-se com Mang no colo. null se levantou e estendeu as mãos para ela, a fim de ajudá-la a ir para o quarto.
- Não quer que eu te carregue? Pra mim não tem problema. – Ele comentou com uma piscadela, fazendo-a rir.
null não queria admitir, mas queria carregá-la. Tê-la em seus braços enquanto null podia apoiar a cabeça no ombro dele, abraçada a Mang, dormindo placidamente.
- Não precisa, null. Eu não estou com sono suficiente para não conseguir andar. – null deixou Mang sobre o sofá, segurando as mãos de null e sendo puxada para cima. – Apesar de ser uma oferta muito tentadora.
- Eu posso deixar mais tentadora, se você quiser. – Ele tinha um sorriso levemente convencido nos lábios, que fazia com que null ficasse levemente corada em retorno. – Falando nisso, por que você estava aqui na sala?
Nem null ou null notaram quando os pés deles começaram a se mover lentamente no ritmo da música lenta e apaixonada que tocava ao fundo, embalados inconscientemente pela voz de Shania Twain.
- Estava esperando você voltar. Estou com saudades de você, null. – E foi a vez de null de bater levemente no nariz de null com o dedo indicador, virando-se para o sofá logo em seguida a fim de pegar Mang e se jogar na cama fofinha de null para dormir abraçada a ele. – Sabe, eu não sei o porquê do Mang ter essa mania de se esconder atrás de uma máscara... Ele não precisa. Eu vou amá-lo de qualquer jeito, com ou sem máscara. Ele não devia ter medo das outras pessoas.
null não sabia definir em palavras o sentimento que encheu o próprio peito. Era de conhecimento geral que Mang era como se fosse ele transformado em um bichinho de pelúcia – que null abraçava quando as saudades eram quase insuportáveis. null que inventara a história da máscara, a questão de que Mang nunca a tirava, pois nunca era ele mesmo além de quando estava dançando. E lá estava null falando aquelas palavras que, sinceramente, encheram os olhos de null de lágrimas.
Abraçando-a por trás, null não deu tempo para que null pegasse Mang do sofá ou se virasse para ele. Somente a puxou mais para perto enquanto deixava as pernas se moverem no ritmo da música, embalando null em seus braços.
- From this moment, as long as I live, I will love you… - null sussurrou no ouvido de null, fazendo questão que ela estivesse o mais próximo possível de seu corpo.
- I promise you this, there’s nothing I wouldn’t give… From this moment on… - null respondeu, segurando as mãos de null com carinho, movendo-se no mesmo ritmo que ele, completamente embalada na maneira como ele dançava.
Não havia nada de profissional naquela dança. Nenhum passo ensaiado, nada combinado. Nenhum movimento complexo ou técnico. Pela primeira vez, eles dançavam de acordo com os próprios movimentos, como se a música fosse o mar e estivessem nadando sobre ela com movimentos complementares, porém despreocupados.
Segurando a mão de null, null fez um movimento com o braço para que ela girasse, fazendo-a rir e parar de frente para ele. Com ambos sorrindo, ele a segurou nos braços, o mais próximo que podia, forte o suficiente para dar vazão aos próprios sentimentos, porém de maneira carinhosa e gentil. null descansou os braços em volta do torso de null, sorrindo antes de repousar a cabeça no peito dele. Puxou-o mais para perto de si, como se quisesse ouvir o coração dele bater.
E null não duvidava que era exatamente aquilo que ela estava fazendo.
null descansou a própria cabeça sobre a de null e se deixou fechar os olhos enquanto dançava com ela na sala. Não era nada comparado às danças que ambos já tinham feito anteriormente, mas, com certeza, fora a mais bela de todas.
- Eu te amo, null. – null disse finalmente, enquanto a música chegava ao fim. Separando-se levemente dele, olhou para cima a fim de encontrar os olhos de null. – Enquanto eu viver, independente do que acontecer, eu te amo. Você não precisa se esconder de mim, nunca.
- Eu também te amo, null. – null respondeu, sentindo a mão dela repousando sobre a própria bochecha e somente notando a lágrima que escorria pelo rosto quando null a limpou enquanto sorria. – Minha pequena bailarina.

Hound Dog, Elvis Presley (1969)
- Vamos, você já fez coisas mais difíceis, null! – null segurava as mãos dele e o arrastava para a pista de dança.
- Ok, você não pode me culpar se sair alguma coisa errada, null! – null piscou para ela, deixando-se levar para o centro do bar.
Fora idéia de null, para falar a verdade. Eles estavam assistindo Grease em uma tarde preguiçosa quando começaram a dançar junto com os personagens durante qualquer música que começava a tocar, terminando várias danças abraçados em cima da cama e dando risadas ao tentar fazer as acrobacias típicas de casais dos anos 60.
- Eu nunca mais vou tentar te jogar por cima dos meus ombros! – null ria escandalosamente enquanto abraçava null.
- Ainda bem que a gente caiu na cama! – null segurava as mãos dele, rolando levemente enquanto ria. null repentinamente a abraçou pela cintura, puxando-a para cima dele.
- Eu sempre vou tomar cuidado com você, minha bailarina! – null passou uma das mãos pelo cabelo dela, apertando a bochecha de leve em seguida. – Precisamos aprender a dançar melhor!
Então ela teve a brilhante idéia de irem a um bar anos 60 onde só tocava aquele tipo de música para treinar null na arte de se dançar em casal – algo que nenhum dos dois era muito bom. Eram ótimos em coreografias conjuntas, porém danças de salão não eram o forte deles.
Portanto, lá estavam eles, vestidos com roupas dignas de Grease: null em seu terno, null em seu vestido branco rodado para que desse mais impacto quando girasse – e tinha certeza que null a faria dar várias e várias piruetas.
- O ponto é nos divertirmos! Sinceramente, acho que você consegue dançar bem qualquer coisa! – null chegou à pista, entre as outras pessoas que dançavam de maneira quase profissional.
- O mesmo vale pra você, minha linda. – null a puxou para perto, dando um beijo demorado nos lábios de null, antes que ouvissem os primeiros acordes de uma das músicas mais famosas de Elvis Presley ecoando pelo bar.
Segurando as duas mãos de null, null se distanciou e, com o sorriso elétrico e animado de sempre, começou a guiá-la pela pista de dança. Cantando, null seguia os passos de null, movendo-se animadamente. Em poucos segundos de dança, mal se lembravam de que não sabiam nenhum passo daquele estilo de dança ou que não tinham idéia de como dançar como viam naqueles filmes.
- Pronta pra girar? – Ele perguntou de maneira brincalhona, fazendo-a rir. Lá estava o que null já esperava.
null a fez girar uma, duas, três, quatro vezes seguidas, para lados diferentes. Ele gostava de vê-la dando suas clássicas piruetas, pois null tinha uma técnica que null era simplesmente apaixonado. Quando ela ficou de frente novamente para ele, null a segurou fortemente nos braços, no que null segurou-o enroscando os braços em torno do pescoço de null. Ele a girou no ar novamente com algumas voltas, colocando-a no chão em seguida e voltando a dançar.
- Nada mal pra alguém que não sabe dançar em casal! – null provocou, soltando-se de null e colocando-se ao lado dele.
- Você também! – Ele devolveu, começando a dançar de maneira coordenada com null. – Você não resiste a uma coreografia, não?
- Ah, você me conhece, amor! – Ela respondeu com uma risada, começando a coreografia do filme lado a lado com null.
Não demorou muito para que as outras pessoas abrissem espaço para que eles dançassem. Em poucos segundos, null e null tomaram conta da pista de dança. Ele novamente segurou as mãos de null, voltando a dançar como um casal no salão, com a energia de sempre.
E no final da dança, já estavam suados, sorrindo e com null segurando-a nos braços, null rindo enquanto a cabeça quase tocava o chão.
- Próxima música! – Os dois gritaram praticamente ao mesmo tempo, ganhando aplausos de todos que estavam no bar.
A noite durou até às cinco da manhã. null não tirou os sapatos de salto por nenhum segundo, null não a soltou em momento algum. Continuaram dançando com a animação de sempre, rindo, sem se cansar. Era como se a alegria de um contagiasse o outro e lhes desse energia para dançar.
- Ai, minha nossa! – null exclamou logo que estavam deixando o lugar, o sol já apontando no horizonte. null tinha um braço através dos ombros dela, puxando-a para perto com carinho enquanto tentava respirar normalmente. Agora null já carregava os sapatos nas mãos, sem se importar de caminhar descalça. – Acho que nunca dançamos tanto assim juntos!
- Também acho! Estou exausto...! – null já tinha as mangas dobradas até os cotovelos, a camisa aberta até três botões, os suspensórios mal apoiados nos ombros e os cabelos completamente descabelados pingando de suor. – Só você tem essa habilidade de me deixar cansado desse jeito, hein?
null lançou um sorriso um tanto safado para null, fazendo-a rir. A moça arrancou aquela expressão do rosto dele com um beijo longo que tirou o fôlego de null, propositalmente. Rindo, ele afagou os cabelos de null.
- Na próxima semana, eu escolho o tipo de dança!
- Não vejo a hora, null!

Rainism, Rain (2008)/Orphée Aux Enfers (Can Can), Offenbach (1858)
Uma das coisas que null e null mais gostavam de fazer era invadir os dance practices de null e null.
O casal nem se importava mais, para falar a verdade. De início, tiveram muitos problemas com interrupções inoportunas, mas, depois que null aprendera a lição, ele e null chegavam aos ensaios fazendo mais barulho do que qualquer música que estivesse tocando.
Afinal, ninguém queria pegar null e null se beijando de supetão.
Naquela madrugada, especificamente, os quatro resolveram relembrar as músicas que dançaram quando fizeram aula antes de toda aquela fama. null mostrou as danças mais complexas que conseguia se lembrar, null se lembrou do primeiro estilo que aprendeu. null e null, porém, ficaram para o final – e, como sempre, resistiam dançar.
- Ah, vamos lá! Nós já fizemos a nossa parte! – null comentou sem conseguir acreditar nos sorrisos envergonhados que surgiram nos lábios de ambos e coloriam as bochechas de null de rosa. – É a vez de vocês!
- Eu me recuso a ir embora dessa sala de dança se vocês não dançarem! – null cruzou os braços seriamente e, no momento que null abriu a boca para refutar, ele voltou a falar. – E vou trancá-los aqui comigo enquanto não dançarem, engraçadinha!
Fazendo null imediatamente fechar a boca e fazer um bico.
- Ok. Eu vou antes então! – null se levantou, aquecendo os braços.
- Nossa, que prontidão repentina... – E null não estava convencida de toda aquela boa vontade.
- É porque ficar por último é pior. – null sorriu gentilmente para ela, fazendo todos caírem em gargalhadas, menos null. Ela somente ficou encarando o namorado com um sorriso sem humor algum estampado nos lábios. Relevando, null foi até o aparelho de som enquanto falava. – Quando estava na escola, tivemos uma apresentação de dança e participei com Rainism. Já apresentamos uma vez recentemente e, claro, me lembro da coreografia até hoje.
As notas mal começaram e null já iniciou a coreografia. Todos os movimentos, como era de se esperar, eram perfeitos e exatamente no tempo. O olhar dele mudara de acordo com a música, adquirindo uma aura magnética que fazia null sorrir levemente. Era impossível desgrudar o olhar da maneira como null dançava.
Com um pequeno sorriso, ele começou a cantar junto com a música, apesar da letra já ter começado há um bom tempo. null e null não aguentaram mais muito tempo e, enquanto null se movia discretamente ao ritmo da música, ambos levantaram para dançar atrás de null – como se fossem dançarinos de apoio.
Ela somente começou a rir e ficou analisando os três dançando juntos. Apesar de amar null e null – além da maneira como dançavam – null analisava os movimentos dos três antes de formar a própria opinião: todos dançavam maravilhosamente bem, mas null realmente se destacava. Era esse o motivo de não o colocarem na frente ou no centro em todas as danças – se o fizessem, ele claramente ofuscaria os outros membros do grupo.
Claro, todos dançavam de maneira excelente. Mas havia algo diferente em null quando ele dançava. Os movimentos dele pareciam mais limpos, mas diretos, mais perfeitos. Devia ser algo a ver com a paixão que ele tinha quando dançava, mas era escancarado quando ele estava na frente e liderava a coreografia.
- Uau... – null não conseguiu conter a reação em certo momento da coreografia. Por conta de um passo específico, ela conseguiu ver coisas que não vira antes enquanto dançava com null.
E, quando os três pararam na pose final, null começou a bater palmas e gritar como uma fã descontrolada.
- Vocês são maravilhosos!
- Agora, o que foi aquele “uau” enquanto estávamos dançando? – null deslizou pelo chão, sentando-se prontamente ao lado da amiga. Os três começaram a rir imediatamente enquanto null somente ficava lá, com todo aquele interesse descomunal ao lado dela. – E não adianta dar de desentendida, eu ouvi.
- Ah, bom... – null foi pega de surpresa, pois tinha planejado dar de desentendida logo que ele perguntou. Sentia as bochechas ficando vermelhas enquanto null e null se sentavam no chão próximo a ela. – Bom... É que eu consegui ver algumas coisas que não vi antes enquanto dançava com o null. O isolamento que ele tem não é brincadeira. Naquela parte, o popping dele foi simplesmente perfeito, com uma força controlada que parecia que ele realmente estava segurando algo. Fiquei tão impressionada que não deu pra conter. A sua técnica não é brincadeira, null. Não mesmo.
- Ah, obrigado...! – E lá estava ele corando e não sabendo levar elogios, como sempre. Portanto, o melhor que tinha a fazer era tirar a atenção de si. – Agora é a sua vez, null! O que você vai dançar pra gente?
- Bom, já que você dançou algo da época da escola, acho justo fazer o mesmo... – Ela se levantou suspirando e saiu procurando por algo pela sala de dança. – Preciso de uma saia...
- Saia? Por que uma saia? Dá pra dançar sem acessórios. – null franziu as sobrancelhas, observando-a com curiosidade.
- Vai por mim, essa não dá. – null piscou para ele, achando uma saia longa de uma colega dela que havia deixado por lá, pois era muito volume para colocar dentro da mochila de dança. – Ahá! Essa vai servir!
- O que diabos você está planejando...? – E agora null tinha uma sobrancelha erguida.
Os três somente a observavam com uma sobrancelha erguida enquanto null colocava a saia. Devidamente vestida e com a peça de roupa chegando aos tornozelos, a moça caminhou até o aparelho de som com um pequeno sorriso no rosto.
- Essa daqui eu dancei quando tinha uns doze anos, mas como foi muito marcante, lembro a maior parte até hoje. – Piscando para eles, os três somente trocaram olhares.
- Doze anos...? – null perguntou de sobrancelhas franzidas, procurando uma resposta dos amigos.
Mas, antes que pudessem falar qualquer coisa, os acordes de uma música muito conhecida tomou a sala de dança. Sorrindo alegremente, null fingia se arrumar na frente do espelho, em um teatro que claramente fazia parte da dança. Eles começaram a rir, sem acreditar no que estava acontecendo. Caminhando em passos de dança até eles, null começou a bater palmas, incentivando-os a fazer o mesmo. Tomando a própria posição no meio da sala, null levantou a saia e começou a gritar.
Dançando Can Can perfeitamente, a perna quase atingindo o nariz enquanto ela sorria como se aquilo não fosse o menor esforço.
- Eu não acredito que você dançou Can Can na escola! – null gritou incrédulo sobre a música, batendo palma com os amigos e fazendo-os rir. null fez o mesmo enquanto continuava incansável em sua coreografia de Can Can.
- Dancei! E quer saber a melhor parte? – Ela dizia entre os passos de dança. – Era um colégio católico!
- O quê?! – Os três gritaram juntos, rindo escandalosamente quando null deu alguns passos para frente, depois novamente para trás e virou-se de costas para eles, levantando a saia em um típico passo de Can Can.
- Agora entendi o porquê de ser uma coreografia marcante! – null não conseguia parar de rir enquanto batia palmas.
Apesar de tudo, a técnica de null era perfeita. Ela não se cansava e mantinha as pernas retas, provando a própria elasticidade enquanto quase tocavam a ponta do nariz com cada chute que ela dava para o alto. null gritava nos momentos certos, mandava beijos, trocava de lugar com as outras “garotas” enquanto fazia gracinhas para eles no meio do caminho – tudo sem perder tanto a técnica da dança quanto o fôlego. Era algo realmente impressionante de se ver.
- Por que você está parada aí atrás? – null perguntou enquanto ela somente esperava alguns oitos passar, mandando beijos para eles e gritando ocasionalmente.
- Essa parte era de outras meninas, eu não dançava. – E null piscou para ele. – Tenho o direito de descansar um pouquinho, não?
- E por que você não dançava? Tinha outra parte? – null perguntou com curiosidade, mal percebendo que ela se preparava para voltar a dançar.
- Claro, meu querido. Eu tinha um solo. – null ergueu levemente a cabeça enquanto null e null ficavam boquiabertos com o fato de que ela teve um solo com doze anos.
null, por outro lado, deixou um sorriso orgulhoso e convencido colorir os próprios lábios. Saber que podia chamar null de “sua” fazia um sentimento caloroso se espalhar pelo peito dele de uma maneira que o deixava sem palavras.
- Vamos ver se eu ainda consigo fazer isso...!
Antes que pudessem perguntar o que era, null segurou a saia com a mão esquerda e, com a mão direita, segurou o pé direito, erguendo a perna na direção da cabeça. Os três já estavam a ponto de gritar por acharem aquilo um grande feito, mas, em seguida, null começou a girar. Por um oito inteiro.
null, null e null começaram a gritar e bater palmas, sem conseguir acreditar no que ela estava fazendo. null ria consigo mesma, pois não sabia que ainda conseguia fazer aquilo depois de anos. Terminando o próprio solo entre os gritos e torcidas dos amigos, ela voltou à coreografia – mostrando ainda mais vários oitos de Can Can, saltos e cambrés que faziam com que os cabelos dela quase tocassem o chão.
Para finalizar aquela coreografia intensa entre os gritos dos amigos, null se preparou para a pose final, abrindo um espacate e erguendo os braços, sorrindo como se não tivesse acabado de apresentar uma maratona.
- Você é incrível! – null gritou enquanto se levantava, batendo palmas incansavelmente.
- Menina, de onde você tirou isso tudo?! – null corria até a amiga, que simplesmente deitou sobre a perna em espacate, simplesmente cansada.
- Do meu treinamento intenso de quando tinha doze anos...! – null respondeu de maneira abafada e, em seguida, começou a rir enquanto null a rolava para o lado, fazendo-a sair do espacate e deixando-a deitada de barriga para cima. – Eu não sabia que ainda conseguia fazer tudo isso...!
- Você é incrível, sabia disso? – null perguntou com seu sorriso radiante nos lábios, os olhos brilhando enquanto observavam a sua estrela deitada embaixo de si. – Simplesmente incrível, null.
null não conseguiu responder enquanto tentava respirar normalmente, somente sorrir de volta. O coração sentiu o orgulho de cada palavra que deixou os lábios do namorado. Ser considerada incrível por null era o maior elogio que a bailarina em null poderia receber – algo que a fazia sentir todo o orgulho que merecia sentir.
- Vocês são perfeitos um para o outro. – null comentou simplesmente, rindo ao ver ambos corando com aquele comentário.
null somente abriu um enorme sorriso. Sim, null e null eram perfeitos um para o outro – e ele sempre faria qualquer coisa para proteger aquilo.
Break It To Me, Muse (2018)
- Ué, a gente não vai ensaiar hoje?
- Vamos sim, por quê?
null estava completamente indignado ao lado do aparelho de som enquanto null chegava com sua mala de dança, deixando-a no cantinho de sempre.
Ele somente lançou um olhar óbvio e apontou-a de cima a baixo, em uma clara referência às roupas da moça.
null usava uma blusa dos Rolling Stones, um par de calças jeans e uma bota de caminhada – que, sinceramente, parecia roubada da coleção de null. Erguendo uma sobrancelha, ela somente encarou null de volta.
- Qual o problema?
- Você vai trocar de roupa...? – Ele franziu as sobrancelhas e parecia ainda mais indignado quando ela fez que não com a cabeça. – null... Como você vai dançar com essas calças?!
- Dançando, ué! – Ela deu de ombros, como se ele estivesse fazendo uma tempestade em copo d’água. – Durante todo o tempo que dancei quando era adolescente, só usava calças jeans. Elas são ótimas pra qualquer coisa. Por que, fofo? Você quer arrancar de mim?
null teve que se conter para não dar uma resposta torta ao sorriso repleto de segundas intenções da namorada – mas não conseguiu ficar sem retribuir com o mesmo tipo de sorriso.
- Eu tenho da sua professora. – null respondeu, adquirindo uma postura completamente diferente da anterior. null somente segurava a vontade de rir da alteração repentina de humor do namorado somente com uma frase provocativa dela. – Duvido que você consiga dançar com isso.
- Pois eu digo que consigo. – Ela sorriu de volta, parando no meio da sala enquanto penteava os cabelos com os dedos. Não iria nem prendê-los. – O que você vai fazer se estiver certo?
- Aí sim, vou arrancar essas calças de você. Se não, pode ficar com elas até o fim do ensaio. – Ele deu de ombros como se não tivesse dito nada de mais, procurando pela música que queria enquanto perdia as bochechas de null corando e o sorriso orgulhoso da moça.
Em seguida, a sala de dança foi tomada pela guitarra dissonante do Muse. null abriu um sorriso enorme, começando a mover a cabeça como se estivesse se aquecendo. null se virou para ela, somente admirando durante alguns segundos. Já a tinha visto dançando àquela música – em um dia que a moça estava completamente descompensada e sozinha, descontando todas as frustrações na música.
E, sinceramente, fora uma das coisas mais sexys que null já tinha visto.
Tirando as botas e jogando-as em um canto da sala próximo aos espelhos, null começou a dançar lentamente, no ritmo da guitarra marcada. Ela ainda estava envergonhada, mas era exatamente a aura que null se lembrava. Aproximando-se da namorada, ele quase parou quando ela olhou novamente para o espelho – os olhos sérios e repletos de fogo.
Era aquilo que ele queria.
Juntando-se à improvisação, null se colocou logo atrás dela, seguindo os movimentos de null e complementando-os perfeitamente. Não dançavam igual, mas a energia magnética era a mesma. Após alguns passos, null a encarava de volta com o mesmo olhar de null – o que não passou despercebido por ela.
Quando a música deixou, null arriscou alguns movimentos mais fluidos e que utilizavam bastante da flexibilidade das pernas – de modo a provar a null que não tinha o menor problema usar calças jeans. Quando ele menos esperava, ela apoiou uma das pernas no ombro dele, fazendo-o sorrir. A elasticidade de null continuava igual – com ou sem as malditas calças. Ele tinha que admitir que estava errado, mas não pararia a dança por aquilo. Em um movimento que ensaiaram várias vezes, null segurou o pé dela no próprio ombro, envolvendo-a pela cintura com a outra mão e arrastando-a por alguns passos pela sala antes de soltá-la.
null pousou estrategicamente no chão, girando e parando em frente a ele. Voltando nos passos energéticos de antes, ambos mal percebiam conforme a sala ficava cada vez mais densa – como se o ar em volta deles ficasse cada vez mais rarefeito e impossível de evaporar o suor. Sem tirar os olhos um do outro, null pairou a mão a alguns centímetros de distância do peito de null, controlando os movimentos dela por alguns momentos como se a moça fosse uma marionete. Sem perder o ritmo, null subia e descia conforme os movimentos da mão de null, terminando ajoelhada e quase deitada no chão antes que ele a puxasse novamente para cima.
Com null atrás e null à frente, ele enroscou um dos braços na cintura dela e começaram uma coreografia improvisada de movimentos complementares e fortes, mal conseguindo respirar no ar tóxico da sala de dança.
E terminaram a coreografia daquela maneira, um na frente do outro, somente os rostos alinhados de lado com os lábios quase se tocando enquanto o suor pingava pelos cabelos e escorria pelo pescoço.
- Eu admito que perdi essa. Você dança maravilhosamente bem de calças jeans. – null murmurou em um tom que mal poderia ser ouvido por outra pessoa que não fosse ela.
- Eu discordo, null. Acho que calças jeans não foram feitas para dançar. – null respondeu em um sussurro, fazendo-o lançar um olhar um tanto desconfiado para ela, apesar do leve sorriso que ameaçava surgir nos lábios de null.
- Você quer tanto assim que eu arranque essas calças...? – Ele perguntou da maneira brincalhona de sempre, sem levar aquela frase muito a sério.
Porém null somente sorriu em resposta.

In The Air, Arcades (2018)
Uma das coisas que null gostava de fazer para relaxar era escutar música.
Somente escutar – algo que aprendera muito bem a fazer com null. Sempre se lembraria claramente do dia em que se sentaram na cama dele e null colocou um enorme fone nas orelhas de null, pedindo que ele fechasse os olhos enquanto ela colocava músicas que dizia que “entravam em sintonia com a alma”.
Ele não entendera aquilo direito até o momento que respirou fundo e deixou-se levar pelas mãos de null que afagavam as dele tão carinhosamente. null relaxou como nunca antes, mantendo os olhos fechados, enquanto o toque dela o reconfortava. Ele sentiu cada batida, cada nota, cada detalhe e cada textura da música. Era como se o ritmo reverberasse por ele, dentro dele, passando pelo coração e se espalhando por todo o corpo.
Uma experiência inigualável, que somente null poderia ter proporcionado para ele.
Quando null abriu os olhos repletos de lágrimas – nunca tinha sentido vontade de chorar com uma música daquela maneira, mas lá estava ele – guardou em um espaço especial da própria memória a expressão plácida e sorridente de null enquanto segurava as mãos dele em seu toque de seda.
Portanto, lá estava ele, sentado em uma poltrona na sala, escutando música no fim de tarde enquanto observava a cidade pelas enormes janelas que deixavam o tom arroxeado do dia colorir o ambiente. null não se dera ao trabalho de acender a luz, nem ligar outra coisa que fosse o som: somente queria escutar.
Aquele tom de fim de tarde combinava com a música que escutava – In The Air. Dava um sentimento aconchegante no peito de null e, depois que realmente aprendera a ouvir música, conseguia enxergar que as cores daquele dia, que agora quase se tornava noite, condiziam com as notas da música.
null entrou na sala, vestindo uma camiseta velha de null e claramente grande demais para ela, as pernas cobertas por uma desculpa de shorts azul arroxeado que ela cismava em usar de pijama. null nem falou nada, respeitando o momento de null, caminhando calmamente somente para pegar um copo d’água na cozinha.
null, por outro lado, acompanhava-a atentamente com os olhos. Gostava de como o corpo dela se movia mesmo quando estava fazendo algo banal como caminhar. Como as pernas se esticavam para alcançar um lugar alto, como os braços faziam movimentos calmos e quase artísticos. Era como se null dançasse sem se esforçar para tanto.
Com o copo d’água em mãos e na metade do caminho de volta para o quarto, ela notou que null a observava – dando atenção principalmente ao sorriso quase imperceptível que coloria os lábios dele da mesma cor que a música.
Após tomar um gole, null começou a mover o corpo em uma dança tímida, como se estivesse testando as águas para algo mais. null somente continuou observando-a calmamente, envolvido demais pela melodia para esboçar outro tipo de reação.
null deu uma pirueta lenta sem derrubar uma gota de água no chão. Deu dois passos enquanto movia os ombros, aproximando-se da mesa de centro e se sentando na mesma, deixando o copo sobre a superfície. Em seguida, abriu as pernas e abaixou, tocando com as mãos no chão enquanto os pés se apoiavam em ponta. Levantando-se lentamente, null cruzou as pernas, olhando para null e lançando um pequeno sorriso antes de se levantar, erguendo uma das pernas em um grand battement na frente do rosto, lentamente movendo-a para o lado até esticá-la atrás do corpo, fazendo o que ele veio a aprender que era um arabesco.
Colocando a perna no chão, null aproveitou para dar uma pirueta dupla, um pouco mais rápida que a anterior, aproveitando a energia do giro para pegar impulso e dar um salto que se chamava grand jete enquanto girava – algo como um espacate no ar. Ao cair no chão com a leveza de sempre, null ainda deu mais duas piruetas enquanto se sentava no chão.
null sorriu ao reconhecer a pose que ela fez – algo que null falava que a fazia parecer um cisne, com uma perna dobrada na frente do corpo e a outra esticada atrás. Escolhendo uma série de movimentos com as mãos de locking, que null havia ensinado para ela, foi impossível para ele não sentir o coração se aquecendo em uma mistura de carinho e orgulho.
Quando null se levantou, os movimentos fluidos de ballet se misturaram com os movimentos fortes de popping que null a havia ensinado tão diligentemente por tanto tempo. Observando-a sempre atentamente, null não conseguiu deixar o próprio sorriso menos óbvio.
Não tinha como null se apaixonar mais por null, pelo menos era isso que ele achava. Já estava completamente perdido na emoção que ela era, no que ela representava para ele, em quem null era internamente e em quem sempre evoluía para se tornar. Assim como ele, null crescia cada vez mais, moldava-se às situações como água – porém sempre permanecendo firme em quem era dentro de seu coração. Era uma força que null admirava e se apaixonava cada vez mais.
O amor que sentia por ela podia até ser comparado a uma força da natureza. null estava cada vez mais convencido de que era inato, involuntário e que surgia da natureza de ambos. Observando como null se movia nos últimos brilhos púrpura do fim de tarde só o fazia ter mais certeza daquilo.
null estava completamente imerso no mar que era null e jamais queria sair de lá. Sentia-se em casa, aconchegado e completo. Ela era tudo que ele sempre imaginara – e ainda mais do que null sempre pedira. Uma rara estrela que caíra por um acaso nas mãos dele e null tivera a sorte de encontrar – além de ter sido escolhido por null como a pessoa amada.
Mal sabia ele que, para null, null brilhava como um raio de sol. E, naquele último resquício de tons arroxeados, o leve sorriso estampado nos lábios dele na penumbra do ambiente fazia com que null, na visão de null, irradiasse um leve brilho dourado como o mais belo vestígio de sol.
Quando a música acabou e null finalmente parou em silêncio na frente de null – a respiração levemente ofegante – a moça se deu a chance de sorrir. Aproximando-se, pousou uma das mãos na bochecha levemente morna do namorado, simplesmente beijando-o por alguns longos segundos.
- Não vem deitar muito tarde, tá? – null perguntou quando se distanciou dele. – Você precisa descansar e não consigo dormir bem sem te abraçar.
- Ok. Pode deixar. – null segurou a mão de null por alguns segundos, soltando-a em seguida para que a namorada voltasse para o quarto.
Com a sala tomada pelo tom de azulão do início da noite, null ainda permaneceu durante algumas músicas, apreciando o raro momento de calma que tinha naquele fim de dia.
E, enquanto escutava alguns acordes com o coração, deu um breve sorriso. null era, de fato, a companheira da vida de null.

Footloose, Kenny Loggins (1984)
- Anda logo vocês aí na cozinha! – null gritou da sala enquanto null procurava os filmes que iriam assistir.
- Você não quis vir ajudar, né? – null respondeu irritado, carregando várias garrafas de Coca Cola. – Então sossega o facho e espera!
- “Sossega o facho”...! – null repetiu com uma breve risada, esvaziando o terceiro pacote de pipoca em um recipiente gigante. – Sabe, às vezes fico tão orgulhosa das expressões que ensinei para vocês!
- Deveria. Nada se aplica melhor ao null do que “sossega o facho”. – null piscou para a amiga enquanto ela se ajeitava com o monte de pipoca e mais um pacote de batatas fritas tamanho família. – É uma expressão feita somente para ele. Vamos?
Confirmando com a cabeça, null e null foram até a sala, onde os amigos já esperavam com o filme prestes a iniciar. null se sentou no meio com o balde de pipoca no colo, null de um lado, null do outro e null no chão à frente dela – todos com perfeito acesso à pipoca.
- Pensei em começarmos com algum filme de aleatório... – null comentou enquanto mastigava algumas pipocas. – Depois vamos pra Footloose. Ok?
- Por que Footloose por último? – null olhou com o par de olhos mais desconsolados da face da Terra, provocando risadas em todos.
- Porque eu sei o que acontece com as pessoas depois de Footloose... Vira festa e ninguém para de dançar. – null piscou para ela. – Posso colocar o filme?
- Já falou demais, né? Coloca logo! – null se manifestou, levando um leve tapa de null em seguida, fazendo-os rir.
E começaram a se aventurar pelo vasto mundo dos filmes.
Obviamente, o que eles mais aguardavam era Footloose. Tanto é que quando começou a apresentação do filme com os pés dançando ao ritmo da música principal, nenhum deles conseguiu ficar parado. Ainda sentados em seus respectivos lugares, os pés imitavam as coreografias.
E, quando a apresentação terminou, trocaram olhares e começaram a rir.
- Imagina só viver em uma cidade em que é proibido dançar... – null comentou durante o filme, enchendo a boca de pipocas.
- Nem me fala. O null ia morrer. – null comentou de maneira dramática, provocando mais algumas risadas.
- Acho que ele seria exatamente que nem o Ren: faria uma revolução e usaria a própria Bíblia pra justificar como é maravilhoso dançar. – null comentou com um pequeno sorriso nos lábios, as bochechas corando levemente.
- Mas eu faria isso mesmo. Com a minha jaqueta de couro, cabelo de David Bowie e fusquinha branco! – null fez com que os amigos caíssem na gargalhada, só o imaginando daquela maneira. Enquanto isso, null somente lançou um olhar discreto, vendo o sorriso velado que null tinha nos lábios. Ele sabia que ela era apaixonada pelo Ren e que compará-lo a ele não era uma mera coincidência.
O filme foi passando e a insurgência do grupo para autorizar a música e a dança na cidade ficava cada vez mais forte. Da sua própria maneira, cada um conseguia se identificar com aquela história: fosse por repressão às habilidades artísticas, fosse por pessoas que os falaram que se divertir era errado, fosse por não serem autorizados a dançar por aquilo não ser um futuro certo, fosse pelo medo de desapontar alguém que amavam. Footloose era mais que um filme para cada um deles.
- Imagina ter que viver às escondidas? – null comentou de repente, fazendo até com que o barulho das pipocas crocantes parasse de ressoar pela sala. – Não poder cantar, dançar, amar ou viver. Deve ser horrível.
null e null imediatamente coraram até as pontas das orelhas. Enquanto viam aqueles adolescentes se revoltando no filme, gritando nas igrejas para poderem viver enquanto eram jovens, pensaram no que eles mesmos estavam fazendo.
null e null eram ignorantes à situação deles – pelo menos era o que ambos achavam. Ainda não eram livres para amar e declarar a quem quisesse ouvir que estavam juntos. Tinham que fazer tudo às escondidas, nas silenciosas e abafadas salas de dança durante a madrugada. Era o único horário e o único local que tinham liberdade de ser quem realmente eram, além de poder viver da maneira como queriam.
O único lugar onde null podia tocá-la e null podia beijá-lo.
Eles estavam enlouquecendo com aquela situação, mas o que mais poderiam fazer? Era terminantemente proibido ficarem juntos – não por regras expressas, mas por regras da sociedade que eles sabiam que não podiam quebrar. Tinham que trabalhar, tinham que viajar e, com certa frequência, passavam semanas ou até meses sem se ver. Aquilo simplesmente não podia sair dos dance practices. Era proibido.
- Nossa, null. Você tem uma habilidade descomunal de acabar com a alegria de qualquer ambiente. – null comentou seriamente, fazendo com que todos explodissem em risadas repentinamente.
- Não fala assim comigo, seu moleque...! – null já ia começar a reclamar que nem uma tia velha e rabugenta, mas, nesse momento, Ren deu seu clássico grito de “let’s dance” e a música começou a encher a sala, com todos os adolescentes que lutaram tanto por sua liberdade finalmente rindo e dançando.
- Let’s dance? – null se levantou imediatamente, estendendo a mão para null. Precisavam daquilo para esquecer um pouco os pensamentos que tinham acabado de ter.
- Com certeza, meu Ren! – null piscou para ele e deixou o balde de pipocas em cima de null. Segurando a mão de null, também arrastou o amigo para dançar com eles no meio da sala.
- E por que vocês também não me chamam, seus desnaturados?! – null resmungou, largando o pote em qualquer canto e se juntando aos amigos.
- “Habilidade descomunal de acabar com a alegria de qualquer ambiente”! – null, null e null responderam juntos, imediatamente levando almofadadas de null em meio a risadas e reclamações cômicas do amigo.
Apesar disso, null também tinha a habilidade de fazer com que todos se divertissem. Após uma breve guerra de almofadas, juntaram-se em uma pequena roda para que cada um mostrasse o que conseguia fazer de melhor ao ritmo de Footloose. Durante as danças, null agarrou a mão de null e fez com que ela se mostrasse junto com ele nas técnicas de ballet contemporâneo. null a segurou logo em seguida, puxando-a para uma coreografia que já tinham treinado antes. null a segurou pela mão, mesclando seu estilo de street com o que ela estava mais acostumada.
E, ao fim, simplesmente dançaram juntos, soltando-se como um bando de amigos que somente quer se divertir – sem se importar com técnicas, coreografias ou passos. A única coisa que contava era o tanto de risadas que davam e o quanto se divertiram até acabarem sem fôlego, um ao lado do outro, jogados no sofá.

Heart Moving, Misae Takamatsu (1992)
- Ainda está nervosa?
null surgiu quase literalmente do além atrás de null. Com a mão no coração pelo susto, ela deu uma breve risada enquanto dava um leve tapa no braço dele. Tomava cuidado para não estragar tanto o terno de marca de null quanto o longo vestido branco que ela usava.
- É a primeira vez que podemos vir em um evento juntos, null. Como um casal. É claro que estou nervosa. – null suspirou, abaixando brevemente a cabeça e fazendo um sinal quase imperceptível para que ele observasse as pessoas próximas. – Viu o tanto de fotos que já tiraram de nós? Como as pessoas fofocam em cada canto que passamos?
- Bom, depois da maneira como eu fiz questão de mostrar pra todo mundo que você é a minha namorada, não podíamos esperar algo diferente. – null deu de ombros, mas tinha um sorriso extremamente convencido no rosto.
null nunca sabia se sorria junto com ele ou se arrancava aquela expressão do rosto de null a beijos e mordidas.
- Pois é. Foi uma atitude e tanto, mas talvez não a mais inteligente. – Ela comentou em resposta, piscando para ele. Já sabia exatamente o que null ia falar.
- Mas você gostou. – Exatamente. Ninguém o conhecia melhor que ela. Talvez só a mãe de null.
- Claro que eu gostei. Quem não gostaria? – null riu de volta, piscando rapidamente para o namorado.
Contente com a reação dela, null somente segurou uma das mãos de null, puxando-a mais para perto da enorme janela do restaurante do hotel em que estavam. Era na cobertura de um alto prédio com vista para o monte Fuji – um belo cartão postal do Japão.
- Tenho algo ótimo para te fazer relaxar, sabe o que é...? – null murmurou em um tom aconchegante, como se fossem as únicas pessoas no recinto. null negou com a cabeça, curiosa com a resposta dele, o que o fez abrir um de seus enormes sorrisos. – Dançar.
Puxando-a mais para perto, null a segurou como se estivessem dançando valsa, guiando os pés de null em um raro momento em que ela dava abertura para que ele a levasse no ritmo da música. null somente sorriu, acompanhando os pés do namorado.
- Prestou atenção em que música está tocando...? – Ele murmurou ao pé do ouvido de null, para que ela e somente ela escutasse o que estava falando.
Ao identificar uma de suas músicas favoritas, null somente o abraçou mais forte, fechando os olhos ao se sentir segura nos braços de null. Sabia que enquanto ele estivesse lá, nada de ruim poderia atingi-los.
Koi suru to nanika ga kawaru ne me wo tojite tashikamete
(Quando me apaixono, algo muda, fecho meus olhos e tenho certeza disso)
Dakishimeta tokimeki sono mama kono omoi tsutaetai
(Eu abracei você e meu coração disparou, quero falar com você sobre esse sentimento)

Idol, BTS (2018)
null estava simplesmente parada na sala de dança, as mãos na cintura e os olhos incrédulos passando do namorado ao instrutor dele – enquanto null e null se seguravam para não rir em um canto com a estúpida aposta de o que ela faria: se xingaria os dois ou bateria nos dois.
- Vocês perderam o bom senso, por um mero acaso?! – Ela ainda estava incrédula e null mais ainda por ter perdido a aposta para null. Tinha certeza que ela daria, no mínimo, um soco bem dado em cada um. – Como vocês esperam que eu apresente uma coisa dessas?!
- Treinando! – O instrutor abriu um sorriso maior ainda enquanto null colocava as mãos na cintura e estufava o peito. – Nós poderemos te ajudar e sei que ele vai querer treinar com você dia e noite!
- A questão não é só treinar! null, desde que finalmente viramos um casal que presta, parece que você está se esforçando ao máximo pra me esfregar na cara da sociedade! – null olhou de maneira acusadora para o namorado, que nem quis fingir que aquilo era um absurdo.
- Eu tenho a namorada mais maravilhosa do mundo e que dança como uma deusa, o que você quer que eu faça? – Ele perguntou com uma sobrancelha erguida, mas tinha um enorme sorriso nos lábios. – Te coloque em uma caixinha e te esconda do mundo? Desculpa, null, mas você sozinha brilha demais para que eu faça uma atrocidade dessas.
Todos imediatamente ficaram em silêncio. Após alguns segundos, null rolou os olhos.
- Filho da mãe... Você sabe como me convencer a fazer as coisas, não? – Ela perguntou de volta, fazendo-o sorrir mais ainda. – Mesmo assim, não vai achando que isso aqui é um sim definitivo. Querer me enfiar em um palco, com um remix de instrumentos tradicionais na música de vocês, com roupas tradicionais e danças tradicionais, na frente de milhares de pessoas, sem poder cometer um erro, vai precisar de muito mais do que meia dúzia de elogios.
- E se for meia dúzia de beijos...? – null lançou um sorriso sugestivo, fazendo null e null rolar os olhos.
- Muito mais que meia dúzia de beijos, meu amor. Eu não sou barata, você já devia saber disso. – E, enquanto tomava seu lugar na sala para começar a se aquecer, os amigos só conseguiam rir daquela cena ao ver a expressão de paisagem que restou no rosto de null.

Já era a terceira vez que null repetia aquele passo.
- Você não vai dançar essa parte comigo, né...? – Ela perguntou não para garantir, mas por insegurança.
Era a primeira vez que null a via daquela maneira, para falar a verdade. null não era o tipo de se desesperar por causa de uma dança – mas lá estava ela.
- O que foi, null? – Ele cruzou os braços, pausando a música. Estavam sozinhos na sala, então ela podia ser sincera.
- Como assim?
- Você está surtando, então algo está errado. – null parou logo à frente dela, ainda de braços cruzados. – O que houve?
null olhou para baixo durante alguns segundos, cogitando se falaria ou não. null viu a indecisão dela ainda mais evidente quando a moça mordeu os lábios e respirou fundo, como se estivesse tomando coragem. Porém, quando levantou os olhos para ele novamente, não tinha dúvidas que ela tinha escolhido falar.
- Olha, eu sei todos os comentários que rolam por aí sobre nós. Sei também que eu não sou a pessoa mais... Amada pelas fãs. Na verdade, acho que mais da metade gostaria de me ver morta. – null comentou, pegando-o de surpresa. null imediatamente franziu as sobrancelhas, preocupado com aquele tipo de pensamento. Não queria que aquilo deixasse null insegura, mas infelizmente não tinha controle sobre aquilo. – Agora vamos dançar juntos em uma das maiores apresentações do mundo da música em uma coreografia tradicional do seu país. null, eu estou apavorada. Se eu fizer qualquer coisa errada, qualquer passo fora do ritmo, qualquer movimento fora do tempo... Tenho certeza que vão falar que sou uma estrangeira estúpida que não merece estar com você.
null ficou pasmo alguns segundos, em silêncio. Queria falar que ela estava errada, mas tinha plena consciência de que null tinha razão. Era exatamente aquilo que aconteceria se eles não fossem minimamente perfeitos – se ele errasse alguma coisa, com certeza surgiriam boatos de que ela estava acabando com as origens dele por ser estrangeira. Era uma situação delicada que null fizera questão de enfrentar.
- Sabe o motivo de eu ter escolhido fazer essa coreografia e insistido para você dançar junto comigo? – Ele perguntou após os momentos em silêncio. null somente negou com a cabeça, suspirando. – Para mostrarmos a todos, tanto os que nos amam quanto os que nos odeiam, que a música e a dança vai além de tudo isso. Vai além da raça, gênero, opção sexual ou qualquer outra coisa que as pessoas usem para discriminar as outras. A nossa paixão está aqui e em nenhum outro lugar.
Dizendo isso, null espalmou a região do peito de null que abrigava o coração da moça. Ela imediatamente começou a sorrir: estava esperando um discurso, mas aquilo havia sido ainda melhor.
- Se você estiver segura de subir naquele palco junto comigo, eu também estarei. Essa dança é para nós e para mais ninguém. É para colocarmos para fora o que temos aqui dentro; é nossa. Você aceita ir comigo, null?
- Claro que aceito, seu pastel. – Ela rolou os olhos, colocando as mãos na cintura logo em seguida. – Como você consegue me convencer a fazer essas coisas?
- Ah, é que eu sou irresistível, né. Fazer o quê. – Ele deu de ombros, claramente para provocá-la, causando mais risadas do que irritação.
- Ok, vamos lá... – null suspirou e voltou a se encarar no espelho. – Temos que resolver esse passo e depois tenho certeza que vou passar umas cinco horas na minha sequência dos leques, então vamos logo ou não sairemos daqui nunca.
- Não seria a primeira vez. – null piscou para a namorada e voltou a se olhar no espelho. – Então vamos. Cinco, seis, sete e vai!

A visão de null dormindo tão placidamente nos braços dele era o céu para null.
Por semanas, passaram dia e noite ensaiando. Mal comeram, mal dormiram, faziam massagens e mais massagens para os músculos acostumarem com a dor e com o treino praticamente espartano que insistiram em se submeter. Ele não podia negar que adorava se sentar no chão, apoiado no espelho, observando null aprender com a professora de danças tradicionais a fazer os truques com os leques que inventaram de misturar com as músicas deles.
Em certo ponto da coreografia, null apoiava um leque em outro e, com um impulso, jogava-o no ar enquanto girava – a deixa para null pegar o leque e entrar no palco atrás dela, iniciando uma dança sincronizada em que os leques pareciam pétalas de cerejeiras e asas de borboletas.
Esse truque do leque, porém, era mais fácil na teoria do que na prática.
A professora fazia com a maior facilidade do mundo. Brigara várias vezes com null para que ela fosse mais graciosa nos movimentos, batera com o enorme leque de madeira nos pulsos dela para repreender a moça por movimentos errados. Após toda aquela aventura, null tinha pequenos hematomas que precisariam ser escondidos por maquiagem.
E agora, lá estavam eles, praticamente desmaiados, às cinco e meia da manhã na sala de dança. A apresentação seria em menos de uma semana e ambos estavam ensaiando como se não soubessem dançar – null tinha que admitir que null estava perfeita. Ambos estavam sincronizados e ela aprendera a dançar como se vivesse no país dele desde o nascimento.
Ela pedira para darem um tempo e sentarem no chão. null a aninhara entre as pernas e a abraçara, deixando a cabeça de null apoiada no próprio peito. Quando o sol despontara entre os prédios da paisagem da grande janela da sala de dança, ele sorriu e apontou para fora.
- Olha, null. O sol está nascendo... – Dizendo isso, null olhou para baixo, a fim de ver a expressão no rosto da namorada.
Encontrando-a dormindo placidamente, apoiada nele e com um sorriso confortável nos lábios. Segurava uma das mãos de null, aconchegada como se aquele fosse o lugar mais seguro do mundo. Ele sorriu levemente, abraçando-a com um pouco mais de força a fim de aconchegá-la mais.
E, apoiando a cabeça na de null, dormiu. Mereciam aquele descanso: na próxima semana, era tudo ou nada – e null tinha a certeza que seria tudo.

null estranhava as roupas. Eram muitas camadas, os tecidos finos e ricamente decorados, extremamente coloridos e com cores complementares. Os cabelos dela estavam meio presos, com tranças intrincadas formando desenhos atrás da cabeça dela que pareciam borboletas – presos com presilhas de prata finamente decoradas com pedras e tecidos. A maquiagem era simples, os sapatos muito diferentes das sapatilhas que estava acostumada a usar. Ela insistira em colocar uma calça por baixo do vestido para ser mais fácil de dançar a parte com null – e ele aceitara sem hesitar. Os dois leques eram mais pesados do que ela esperava e as mangas da blusa compridas demais.
null estava com medo.
- null! Você está linda! – A voz de null ecoou pelo backstage. Ela se virou, sorrindo imediatamente ao vê-lo.
A roupa era perfeita para ele. null parecia confortável e completamente acostumado a usar aquele tipo de tecido, em trajes largos e flutuantes, que acompanhavam o vento conforme ele se movia. Os pés, diferentemente dela, não tinham calçado algum – e null imediatamente apontou para eles.
- Você não está usando sapatos! Por quê?!
- A minha dança é sem sapatos, linda. – Ele piscou para ela, dando um pequeno sorriso em seguida. – Os seus sapatos estão bons?
- Não. Eu só sei dançar descalça ou de sapatilhas, null. Vou morrer com isso aqui. – null suspirou, quase chorando. – Eu devia ter treinado antes com esses sapatos. E se eu tropeçar no palco? E se a borracha não me deixar deslizar?
- Dança descalça comigo. – Ele disse de maneira decidida, parando em frente à null com as mãos na cintura e a segurança nos olhos. Ela tinha que admitir: aqueles momentos, poucos segundos antes de entrar no palco, eram quando a real força de null aparecia. Nada no mundo podia passar por cima dele: a vontade própria de null era mais forte do que qualquer coisa. E fora aquele mesmo tipo de vontade que a levara a estar embaixo daquele palco, junto com ele.
- Ok. – null deu um pequeno sorriso e tirou os sapatos junto com as meias, deixando-os em um canto do backstage. Voltando a ficar frente a frente com o namorado, colocou as mãos na cintura, imitando-o. – Vamos lá quebrar a perna!
Ele deu uma risada alta – um pouco mais do que o recomendado, provavelmente por conta da ansiedade correndo nas próprias veias – observando null com carinho. Aquela expressão era típica de dançarinos antes de entrar nas apresentações, conforme ela dissera a ele uma vez. Como null mencionara antes, null tinha seu brilho próprio e ele jamais a colocaria em uma caixinha – e lá estava aquele brilho se irradiando.
- Vamos quebrar a perna. – Dizendo isso, ele a beijou lentamente enquanto a batida forte da música se iniciava com tambores típicos e estrondosos, os gritos de milhares de fãs ecoando de uma maneira que quase os deixou surdos. O tablado embaixo dos pés deles começou a subir lentamente para o palco, no qual eles surgiriam em questão de segundos. Separando-se do beijo, null olhou para null com o mesmo fogo que ela tinha no próprio olhar. – Vamos mostrar para todo mundo a nossa dança.
Ela deu um sorriso rápido enquanto se separavam e tomavam as posições no tablado. null em uma pose com os dois leques, escondendo parcialmente o rosto, enquanto null se mantinha abaixado ao lado dela.
As luzes quase os cegaram. Após rápidos segundos se acostumando com o calor e às formas dos holofotes, o retorno se ajustou nos ouvidos para verem se estavam na contagem certa e iniciar a dança. Assim que sugiram no palco, os gritos aumentaram – como se fossem deuses modernos perante aqueles que os adoravam.
Respirando fundo, null começou seus passos. Era uma dança diferente, que somente null estava acostumado desde que nascera. Mas ela treinara e faria o melhor que podia para fazer tudo perfeitamente. Com os leques, seguia os movimentos rápidos e fortes de null, ambos dançando em perfeita sincronia. null não desgrudava os olhos dele – sabendo que, enquanto focasse em seu namorado, nada podia dar errado.
Piscando rapidamente para ela, null terminou seu último passo, escondendo-se atrás de um tambor no palco. Era o momento de null. Olhando para a plateia – milhares de pessoas gritando enquanto a música tocava – null respirou fundo e fechou os olhos, tomando a posição com os leques para começar sua coreografia sozinha.
De trás do tambor, null continuou observando-a com admiração. Analisava cada passo e cada movimento de null – a maneira como ela girava graciosamente e movia os leques, abanando-os levemente no ar – por mais que fossem pesados – os giros precisamente realizados enquanto o vestido esvoaçava atrás de si, a maneira como ela jogava os leques e os pegava no ar, abrindo-os e fechando-os belamente, de maneira a fazer com que a plateia gritasse a cada gracejo que fazia. null podia dizer com segurança que aquele sentimento caloroso em seu peito era orgulho.
Vendo a própria deixa, ele se preparou para o momento em que ela jogaria o leque. E, quando o fez, null surgiu rapidamente – torcendo com si mesmo para que não errasse aquele movimento que tanto treinaram. Estendendo as mãos no ar, pegou o pesado leque, abrindo-o no mesmo momento que null e parando de frente a ela, ambos unindo os leques como borboletas.
Os gritos da plateia aumentaram enquanto mais instrumentos foram adicionados à música. Começando os passos sincronizados, null e null deram asas às suas borboletas e pétalas de cerejeira, criando imagens e leveza por meio da dança e da música. Por fim, pararam de frente um para o outro, fechando os leques e jogando-os para o fundo do palco.
Nesse mesmo momento, null arrancou a própria saia, revelando a calça que insistira em usar. null e null se juntaram aos dois, iniciando a coreografia que ensaiaram durante semanas cansativas. Com null e null à frente, null e null dançavam nas laterais um pouco mais para trás, em uma formação típica para quatro pessoas.
Todos os passos eram coordenados e bem ensaiados – mas, mais do que isso, a química entre os quatro era praticamente palpável. Sem erro algum ou atitudes que os desabonassem, a coreografia terminou com os quatro sorrindo em uma pose nada menos que perfeita. Quando os outros membros do grupo entraram no palco, null correu para o backstage, a fim de descansar antes de entrar novamente no fim da música.
Para entrar no fim, null já estava mais calma. O pior já tinha passado e ela tinha certeza que fizeram um bom trabalho. Terminou a apresentação muito longe deles, mas exatamente da maneira que tinha que encerrar. Correram para o backstage – abrindo as blusas, pegando toalhas para enxugar o suor, abrindo garrafas de água e retirando os retornos dos ouvidos.
- Você foi perfeita! – Mas null não conseguiu fazer nada disso, sendo imediatamente agarrada por trás pelo furacão null, que a girou no ar enquanto falava. – Você é perfeita, null! Minha linda, minha estrela perfeita!
- null! Seu exagerado! – Ela riu de volta, segurando as mãos dele enquanto era colocada no chão, imediatamente se virando para o namorado a fim de beijá-lo. Várias vezes, porque ele merecia. – É o mínimo que você merece, meu raio de sol. Você também sempre foi e sempre será perfeito.
Enquanto ria, null esperava sinceramente que ela ignorasse suas bochechas cada vez mais coradas.
- Mais uma aposta que você perdeu. Eu falei que eles iam se abraçar e ficar nesse romance todo morrendo de amores pela perfeição um do outro. – null tinha um sorriso imenso nos lábios, estendendo uma mão para o amigo que limpava o suor da testa.
E null somente bateu na mão dele em resposta, rolando os olhos e indo para o camarim. Apesar disso, não pôde deixar de sorrir: vê-los felizes fazia com que ele também ficasse feliz.

Just Dance, J-Hope (2018)
Era de madrugada e eles tinham acabado de voltar de mais um dance practice interminável. Tinham perdido a conta das horas que passaram naquele estúdio abafado. Logo que entrou em casa – finalmente um apartamento só para eles – null tirou a blusa e a jogou em qualquer canto enquanto null fechava a porta. Ele resmungou ao ver a blusa no sofá, pegando o pedaço de roupa e pronto já para falar a null que ela não podia sair jogando as coisas por aí – ele tinha mania de organização enquanto ela era extremamente bagunceira.
Porém, ao vê-la praticamente correndo até o banheiro, null suspirou e deixou passar. null estava literalmente pingando de suor, tendo reclamado o caminho todo para casa de dores nas pernas por conta dos aquecimentos. Ambos tinham mudado o treino diário para algo mais puxado – seus corpos já estavam prontos para algo mais pesado. Porém, os primeiros dias sempre eram mais cansativos.
Chegando ao quarto, ele dobrou a blusa cuidadosamente e a deixou em cima da cadeira de roupas sujas – tirando a própria blusa e deixando sobre a de null. Ela ressurgiu do banheiro, provavelmente após se esquecer de pegar uma muda de roupas limpas.
- Quer tomar banho comigo, null? Assim economizamos água. – Ela comentou casualmente, procurando as roupas e já pegando o pijama dele, mal aguardando a resposta de null ao levar os pijamas com ela até o banheiro. Ele a seguiu com um pequeno sorriso.
- Pode ser. É mais rápido também. – Ao falar, null tirou o resto da roupa enquanto null se ocupava em ligar o chuveiro e testar a temperatura da água. – Só não vai colocar aqueles banhos quentes que nem o inferno que você ama de paixão. Está muito quente para isso.
- Mas não precisa ser aqueles seus banhos congeladores, né? – Ela perguntou com uma breve risada, fazendo-o rir também. Testando a água com a ponta do pé, achou razoável e já ia perguntar para null o que ele achava, mas logo foi abraçada por trás e empurrada para debaixo da água.
Ambos riram durante alguns segundos antes de null segurar null o mais próximo que podia e apoiar a cabeça na dela, fechando os olhos e aproveitando o momento.
A água fazia com que os músculos tensos se soltassem aos poucos, relaxando-os da maneira que precisavam. Apesar dos ensaios extenuantes, raramente se importavam com aquilo – enquanto dançavam juntos, toda a preocupação do mundo se dissipava e parecia que estavam no paraíso. Todos os momentos de respirações falhadas, todo o suor que derramavam, as lágrimas, as dificuldades e sofrimentos... Tudo valia a pena, pois estavam lá – pois dançavam um para o outro. null se confortava com null e vice versa.
Com um beijo rápido no topo da cabeça de null, null começou a se movimentar para se enxaguarem e terminarem logo o banho. Quando estavam devidamente limpos e satisfeitos, saíram do chuveiro e, em poucos minutos, já estavam de volta ao quarto em seus confortáveis pijamas – prontos para dormir e, no dia seguinte, enfrentar mais um dia de ensaios e superação de limites, já que era basicamente isso que faziam todo dia.
Mas, colocando uma das próprias músicas no celular para tocar, null deixou o aparelho em cima de um criado mudo e segurou levemente os dedos de null, fazendo-a se virar para ele. Puxando-a mais para perto, começou a dançar despreocupadamente, sem se importar com coreografias ou técnicas – queria somente se movimentar com ela, exteriorizar uma de suas paixões junto com a sua outra paixão.
Sorrindo, null começou a acompanhar os movimentos de null, como se estivessem juntos no mar, aproveitando as mesmas ondas. Ele a segurou pela cintura, levando-a junto com o próprio balanço, sem se importar qual música ia tocar ou qual ritmo que ia dançar – contanto que fosse com ela, estava satisfeito.
- Eu não sei se já te contei antes... – null começou a falar lentamente, em um tom que mal ficava acima da música. null prestava atenção para não perder nenhuma palavra. – Mas eu sempre tive um sonho. O sonho de encontrar uma pessoa que me complementasse na dança, que me acompanhasse do jeito que você me acompanha. Durante muito tempo, esse sonho ficou sem resposta. Achei que meus amigos eram esse retorno, principalmente o null e o null. Fiquei satisfeito e achei que essa vontade... De ter uma namorada... Que fosse assim... Era algo impossível. Até aquele dia que você apareceu na gravação daquele MV e eu te achei... E você me achou.
- null... Eu não sabia que você era tão bom com palavras. – null brincou, rindo junto com ele por alguns segundos. Em seguida, levou uma das mãos ao coração dele, fazendo-o olhar significativamente para null. – Eu entendo tudo isso, null. Por muito tempo, sonhei exatamente o que você sonhou. Até que eu te encontrei e sabia que não era só um sonho impossível: você existe. E quando dançamos a primeira vez... Não sabia o que estava acontecendo, mas nosso ritmo combinou instantaneamente. Eu nunca dancei tão bem com alguém quanto com você, e isso é importante para mim. Nós temos a nossa dança, como tivemos naquele palco em que dançamos com os leques.
Com isso, null levou a mão de null ao coração dela, para que ele pudesse sentir os batimentos cardíacos ao ritmo que dançavam. Ele imediatamente começou a sorrir.
- É uma batida do destino. – null brincou, fazendo-a rir por alguns segundos. – As batidas dos nossos corações estão sincronizadas, da mesma maneira como nós dançamos. Nunca achei que isso fosse possível, null... Você conhece meu coração como nenhuma outra pessoa conhece, porque você conhece a minha dança... Eu gosto de você tanto quanto eu gosto de dançar.
Aquela era a maior declaração de amor que null podia fazer – afinal, todos sabiam da paixão sem limites que ele tinha por dança. null imediatamente o puxou para si, a fim de beijar aqueles lábios que tanto contaram tempo e ensinaram passos por meio de sons simples como “pá”. Com os dedos embrenhando nos cabelos sedosos de null, ela o puxou em direção à cama.
Sem pensar duas vezes, null escorregou as mãos por debaixo da blusa de null, puxando-a para cima enquanto a segurava pela cintura – a fim de carregá-la até que pudesse colocá-la no colchão. Separando o beijo por alguns segundos, null tirou a blusa dela enquanto null se ocupava em fazer o mesmo com a dele. Segurando-a próxima de si, null afagou os macios cabelos da namorada, afastando-os do rosto dela enquanto se separavam por alguns segundos para retomar a respiração.
Nesse momento, null apoiou uma das mãos sobre o coração de null – no que ela imitou o gesto e tocou o peito dele para sentir o batimento. Imediatamente começaram a sorrir: as batidas, como esperado, estavam sincronizadas da mesma maneira que ficavam quando dançavam.
- Promete que vai dançar comigo para sempre, null? – Ele perguntou com um sorriso sincero e os olhos cheios de expectativa. No vocabulário de null, perguntar aquilo era quase como pedi-la em casamento.
- Só se você também prometer que sempre dançará comigo, null. – null respondeu praticamente em um sussurro, sentindo uma onda de calor tomar o próprio coração por conta da significância da pergunta.
- Eu prometo... Porque isso é o quero fazer com você por toda a vida... – null uniu os lábios de ambos em um beijo longo antes de se separar dela novamente para dizer o que queria em um sussurro, como se aquilo fosse somente para os ouvidos de null. – Somente dançar.
Os braços de null o envolveram com mais força enquanto ela sorria. null a encheu de beijos, mais do que satisfeito com a reação dela. Pelo resto da vida, enquanto estivessem sincronizados, naquela batida que só podia ter sido feita pelo destino, era exatamente aquilo que fariam: dançar.




FIM



Nota da autora: E cá está uma fic inteira pra exaltar essa música e esse homem que eu amo de paixão!
Para os dançarinos de plantão, espero que vocês tenham gostado tanto quanto eu gostei de escrever! Ela é um complemento pra minha longfic Dance Practice – Forbidden Love, mas não tem nenhum spoiler da história principal. Talvez alguns hints se vocês quiserem dar uma analisada com calma e notar o que pode acontecer em Dance Practice ;)
Como só queria escrever esse casal sendo besta de feliz, cá está Just Dance. Admito que é uma fic um tanto pessoal pra mim e estou contente com o resultado. Aquela história da irmã da personagem principal dançando com febre quando elas eram pequenas e sendo a heroína dela? Bom, essa história é verdade: minha irmã realmente fez aquilo.
Por sorte ela não lê minhas fanfics e jamais vai ficar sabendo de toda aquela declaração, porque mais orgulhosa que a pp, só eu xD
Ah. E a parte do Can Can também é real.
Enfim! Continuem dançando – ou, para quem não dança, nunca é tarde para começar! – e encontrem alguém que esteja em sincronia com vocês.
Um beijo nas sapatilhas e até a próxima!
PS: Ah, e segue meu grupo no facebook pra que vocês fiquem de olho nos meus próximos projetos – tenho mais alguns ficstapes para entregar e sempre atualizo por lá! Tem espaço pra todo mundo, sempre procuro conversar bastante com o pessoal que faz parte e realmente vou ficar feliz de vê-los por lá: https://www.facebook.com/groups/558784227519925/?ref=bookmarks.
Disclaimer: Essa história é protegida pela Lei de Direitos Autorais e o Marco Civil da Internet. Postar em outro lugar sem a minha permissão é crime.
Não gosto de falar essas coisas, mas como já tive problemas antes, acho bom deixar avisado. Nem tudo que tá na internet é do mundo, minha gente. Quer postar em outro site? Fala comigo! Eu não mordo! Hahaha a gente vê de me dar o crédito e linkar para o original aqui no FFObs! Só me mandar um e-mail ou pedir aí nos comentários!
XX






Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus