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Prólogo. Amar, verbo intransitivo.

- Eles vão perguntá-los sobre Untouchable, mas seu contrato requer silêncio. Portanto, enrole-os e não conte nada que não exista nos teasers do seriado. – informo séria para . Então, viro-me para a moça a seu lado e continuo – O romance de vocês está em todas as revistas de fofoca, as perguntas serão basicamente sobre isso. Onde se conheceram, como foi a evolução do relacionamento, quanto tempo estão juntos, se tem planos futuros juntos...
- Eu já conheço bem essas perguntas, . – o rapaz pisca, divertido. Realmente, ele tinha um longo histórico de mulheres, principalmente famosas.
- Sim, senhor. – permiti-me abrir um tímido sorriso, com os lábios fechados – Dará tudo certo. Ambos estão bastante acostumados com assédio.
O carro preto oferecido pela emissora para, avisando-nos que havíamos chegado a premiere do seriado mais aguardado do ano, que tinha como ator principal nada menos que , cujos mais de vinte filmes no currículo atribuíram o título de galã de Holywood. Ele sai do veículo e, embora não consiga mais enxergá-lo, sei que ele abrira um sorriso e acenara alegremente.
Ele oferece sua mão na direção de sua acompanhante e a medida que ela sai posso ver seu vestido azul de seda deslizar por seu corpo esbelto. A linda mulher, sua nova namorada, era simplesmente Taylor Swift, estrela do pop. Enquanto eles desfilam pelo tapete vermelho sorridentes, eu pulo para fora e com discrição e distância começo a segui-los.
Não como uma fã persegue seu ídolo, é claro. Afinal, eu era profissional. Minha pós-graduação em publicidade em Harvard e meu contrato de agente com garantiam isso. Meu coração, nem tanto. Não é como se eu gritasse em histeria ou perdesse meus pensamentos por completo quando o via, mas não posso negar que ele é bonito. Muito bonito. E, de tempos em tempos, eu sonho conosco juntos.
Por muito tempo pensei ser besteira. Talvez eu focasse demais no trabalho e precisasse me diverti mais. Então eu fiz isso. Tirei férias, viajei para Cancun, bebi, beijei, mas quando voltei todo o sentimento reascendeu. Durante esses quatro anos de assessoria, eu o havia visto trocar de namoradas várias vezes. Eu nunca me permiti odiá-las, porque geralmente elas já eram admiráveis por seus talentos, mas sempre me perguntei: e se fosse eu?
- Oh, estamos muito felizes. – enquanto virava-me para falar com um dos seguranças, escuto a voz de falando com um repórter ansioso por saber mais sobre o casal do momento.
Toda essa situação é engraçada. Ele ser um ator famoso, eu ter contato diário com ele. Eu gostar dele, ele gostar de tantas outras. Ao fim, o resultado da equação não é bom. Porque sim, ele está bem perto de mim. Mas, ao mesmo tempo, é completamente intocável.



I. E meu erro for crer que estar ao seu lado bastaria.

- Que ótimo! Neve por todo lado, temperatura média abaixo de zero, uma casa sem Playstation, Taylor longe... quanto tempo mesmo será esse martírio? - reclama .
Tínhamos acabado de chegar ao norte do Canadá, locação de boa parte das gravações de Untouchable. Para haviam alugado uma grande e linda casa de madeira, perto das montanhas. Enquanto o segurança e os funcionários da emissora carregavam as malas para o quarto, eu seguira o ator enquanto ele conhecia a casa e jogara-se no grande sofá cinza do térreo.
- Sete meses. – respondo prontamente - Seis meses e 22 dias, na verdade. Segundo a meteorologia o tempo tende a piorar até janeiro. Aproximadamente em março a neve desaparece, se não houver qualquer fenômeno com as calotas polares. Em junho alcança-se a temperatura de vinte graus positivos, mas você voltará a Los Angeles dia cinco de maio. – passo as informações que havia decorado depois de uma madrugada de pesquisas - Sobre o Playstation, a emissora desrespeitou o contrato, no qual se comprometeram a oferecer o aparelho. Posso ligar para o RH de lá e pressioná-los. – consulto o último item da lista – Já pesquisei sobre a agenda de shows da Senhorita Swift e receio que ela tenha shows todo esse mês. No entanto, vi uma semana livre em novembro e comprei uma passagem para ela. Também já conversei com o diretor e ele te concedeu alguns dias livres. Sei que ambos gostam muito de esquiar, então reservei um dia na pista...
- Oh, , você nunca cansa? - ele me interrompe, bufando – Meu Deus! Só de escutar tudo que você pesquisou e marcou já fico entediado. – revela, me fazendo abaixar a cabeça e morder o lábio inferior. – Eu não queria me tornar PhD no clima do Canadá, só queria reclamar da porra do frio. Tem um motivo pelo qual moro em L.A.: faz calor! – ele suspira e eu engulo em seco, resignada – E de resto... bem, até esqueci o que você falou. – ele solta uma risada.
- O Playstation. – murmuro somente, absorvendo a bronca.
- Mande trazer o meu mesmo, com todos os jogos, por favor.
- Ok, senhor. – concordo e anoto a tarefa.
- , . . Senhor me faz sentir velho.
- Não é por idade, senhor. – solto sem nem perceber e guardei um sorriso. Apesar da insistência dele, não poderia mudar o pronome. Qualquer mínima intimidade podia ser fatal para o meu coração. – É questão de respeito. Você é meu patrão.
- Bem, eu ordeno que você me chame só de . – ele responde, sorrindo. – Por favor? - reforça ele, vendo minha resistência – Sabe, você só é minha funcionária por acaso. Quem sabe se nossos caminhos tivessem sido um pouco diferentes você não seria minha namorada?
Engasgo, tossindo em seguida. ergue-se rapidamente e bate em minhas costas. Mostra-se preocupado, pergunta-me se há algo errado, se eu quero alguma coisa, mas eu só nego. Então ele volta para o sofá e concentra-se no celular. Eu também pego o meu, para resolver as situações pendentes.
Tento afastar a frase dele da mente. Era fofo da parte dele dizer aquilo, mas trouxe-me um sentimento amargo escutar aquelas palavras. Elas basicamente diziam: você é legal e quem sabe em um mundo paralelo, em que você fosse uma celebridade linda e aclamada, nós dois teríamos uma chance como casal? O que, em uma tradução literal era: esqueça seus sonhos, baby. Você nunca será mais do que uma mera funcionária. E, vide a bronca de minutos antes, nem uma excelente. Mais para irritante.
- Ei, - ele chama, algum tempo depois - desculpe se fui grosso. Às vezes você é preocupada demais – sorri, carinhoso - Ah, e eu realmente odeio frio, mas tenho certeza que você sabe disso. – pisca um dos olhos - Obrigada por agendar tudo aquilo para eu ficar com Taylor, é muito legal da sua parte.



II. O Homem do Sorriso de Um Milhão de Dólares.

Odeio meu sorriso. Mesmo quando quero muito abrir uma gargalhada, me reprimo, envergonhada por mostrar meus dentes encavalados. Me arrependo instantes depois, mas continuo fazendo. Não sei por que, talvez costume ou insegurança. Mas certamente não ajuda ter por perto.
Há algo no sorriso dele. É claro, há algo em todo ele, mas quando levanta os lábios ligeiramente para direita e sorri, é especial. Não só pra mim, a idiota funcionária apaixonada por ele, mas pra maioria das mulheres vivas. Seu sorriso conquista, encanta, ilude, incendeia.
Então, quando ele levanta-se depois de tomar um belo tombo no chão escorregadio e vira-se pra mim, com aquele sorriso, sinto-me flutuar. Ele começa a rir e o som entra em meus ouvidos como música. Eu quero acompanhá-lo, realmente quero. Na verdade, meu íntimo desejo é correr até seus braços e agarrá-lo, como ele já fez tantas vezes nos filmes com seus amores de cinema. Mas na vida real sei que devo seguí-lo, rindo também. Estou ali, afinal, do lado de e ele está compartilhando seu amado, aclamado, valioso sorriso somente comigo.
Mas não dou mais que um forçado estender de lábios, sem graça e rápido, mexendo no cabelo em seguida. Ele estranha, obviamente, porque acredito que nunca tenham deixado ele sozinho em uma risada. Ele me encara e acho que ele simplesmente vai deixar o assunto morrer, enquanto o carro alugado pela emissora nos leva à segunda semana de gravação. Mas o que ele diz me surpreende:
- Por que você nunca sorri?
E a primeira coisa que penso é: como ele sabe disso? Tudo bem, eu não havia sorrido naquela hora, mas como ligar este ato a uma rotina? Ele me observava? Interrompo minhas divagações, vendo que continua a me observar, esperando resposta, e que o motorista do carro batuca impaciente no volante.
- Isso não é verdade, senhor. – jogo, dando de ombros e recomeçando a andar. Se fosse uma situação normal, eu nunca ao passar por ele pegaria seu pulso e o puxaria para me acompanhar, mas foi exatamente o que fiz. – Vamos, nosso pouco tempo aqui já provou que essas estradas são imprevisíveis.
Foi a vez dele segurar-me. Bufando, me forçou a virar para olhá-lo.
- , não tente me enrolar. Eu sou mestre em enrolação, você sabe. Afinal, como você acha que eu consigo tanta mulher?
- Com seu sorriso, seu corpo estrutural? – fecho os olhos assim que meu cérebro toma conhecimento do que acabou de deixar escapar. Aquela pergunta era retórica e embora minhas palavras revirassem em minha cabeça, soltá-las para o mundo e, sobretudo, para o dono dos atributos, estava fora de cogitação. Mas aconteceu e me amaldiçoei por isso.
- Isso ajuda. – ele respondeu, de volta com aquele sorriso. Podia ver em seus olhos como ele tinha achado meu descontrole divertido. – E obrigada pelos elogios, docinho. Eu adoraria te jogar na parede e mostrar meu corpo estrutural por completo – ele brincou, tirando sarro de mim – Mas acho que devemos quebrar o gelo aos poucos.
Eu somente assenti, porque sinceramente não sabia o que mais fazer. Qualquer defesa, qualquer tentativa de reverter minhas palavras podiam piorar minha situação. Então, ele concordou, colocou um dos braços em meu ombro e nós começamos a andar até o carro.
- Eu te chamo de . – ele recomeça, quando já estamos bem acomodados e aquecidos – Você nunca permitiu, no entanto. Tudo bem pra você?
- Sim. – eu amava como meu apelido saia pela boca dele.
- Então, acho justo você deixar de me chamar de senhor – assim que ele fala, reviro os olhos. Ele solta uma risada. – Sério, . E nada de também. É . Só . E, um pequeno incentivo: a cada senhor que você falar, desconto 100 dólares do seu salário.
- Está brincando? – escancaro a boca, sem acreditar.
- Talvez. Mas eu não me arriscaria a testar, se fosse você. – então ele pisca um dos olhos para mim, mostrando que eu era a única ali que não achava tudo aquilo bastante divertido.



III. O Fígado faz mal à bebida.

- Aceita uma cerveja? – pergunta, sacodindo a garrafa, enquanto volta da cozinha.
- Não bebo em horário de trabalho. – respondo, voltando meu olhar para as folhas de contratos na tela do meu computador.
- Tudo bem, aceito isso. – diz, jogando-se no sofá. – Mas amanhã é domingo e temo ter que te dar um descanso semanal. Algo como direito dos trabalhadores, vai ver. – ele finge uma careta, obviamente brincando – Logo, você está de folga amanhã. – levanta aos braços, tentando mostrar-se inocente - E... estou te convidando para ir a um barzinho comigo.
- Não posso aceitar. – isso saí de minha boca como um raio, mas minha mente pipoqueia respostas e, principalmente perguntas mais lentas: isso é um encontro? Ele quer sair comigo?
Ele escancara a boca e arregala os olhos, então coloca a mão no peito e meneia negativamente a cabeça, fingindo-se muito atingido.
- Você sabe quem eu sou? – aumenta o tom da voz e tenta colocar ultraje e superioridade nela. Como todos já sabem, ele é um ótimo ator.
- , nascido em 5 de janeiro de 1983, cidadão americano. Ator famoso, estrelou mais de dez sucessos no cinema e ganhou três prêmios. O número do seu seguro social é... – ele me interrompe:
- Ok. Assustador. Vou fingir que você não sabe, porque nem eu sei. – dá de ombros – Mas se você sabe só isso, , então você só acha que me conhece, como a maioria da América. Pra sua sorte ou azar, você está no lugar invejado por diversas garotas, está prestes a conhecer o verdadeiro ! – ele levanta os braços, animado.
- Acho que a senhorita Taylor está nesse lugar, .
- Acho ótimo que você esteja esquecendo o senhor, , mas é bem estranho você chamar minha namorada da mesma forma. De qualquer jeito, obviamente Taylor recebe algumas ameaças de ódio eterno em suas redes sociais, mas tenho certeza que você também receberia se tivesse conectada ao mundo exterior. – ele alfineta, rindo em seguida.
- Bom, você está me motivando bastante a abrir uma conta de facebook nesse momento. – exclamo, irônica, levantando as sobrancelhas.
- Olha, ela pode ser engraçada! – brinca, se levantando em seguida - Amanhã às 8, esteja pronta. Vamos descobrir o quanto álcool consegue nos aquecer.

*
- Uau! Nada contra suas usuais roupas pretas, mas... – comenta, olhando-me de cima a baixo, enquanto eu desço as escadas de sua casa – Acho que vou tornar este vestido seu uniforme oficial.
Quase soltei um sorriso, vendo-o mostrar os dentes, mas me segurei. De fato, eu estava diferente dos meus dias profissionais. Geralmente, vestia calças jeans e blusas pretas, sem estampas e bem discretas. Hoje, em meu dia de folga, um scarpin cobria meus pés, enquanto um vestido cinturado vermelho moldava meu corpo.
- Você está linda, . – elogia, dando um beijo em minha mão e entrelaçando seu braço no meu. Eu sinto minhas bochechas avermelharem e, depois de tanto tempo sem pegar sol, tenho certeza que ele pode perceber. – O que acha de mim? Digno de andar do seu lado?
- Você é um bobo, . – empurro levemente pelos ombros - Está ótimo, como sempre.
Realmente estava, com uma calça jeans de lavagem escura, uma blusa social e seu corriqueiro cabelo (que demora duas horas para parecer) bagunçado. Pegamos nossos casacos e andamos até a garagem, agradecendo pela passagem interna, já que lá fora a neve nos dava certeza do quanto estava frio.
- Pense rápido. – ele exclama, jogando as chaves do carro para mim.
Embora eu tenha uma boa coordenação motora, quando estou perto de parece que tudo em mim torna-se mais lento, como se boa parte de meu cérebro trabalhasse só para reparar na beleza, em cada mínima ação e, assim, incendiar meus sentimentos por ele. Então, o chaveiro passa pelas minhas mãos e acaba caindo no chão.
Logo que dobro-me e estico minhas costas para pegá-lo, o rapaz ao meu lado abre a boca:
- Não levante. Deixe-me apreciar a imagem de suas coxas por mais uns momentos...
Eu o conheço. Eu sei pelo tom de sua voz que ele está brincando comigo. E eu também sei que ele é dado a brincadeiras, mas não consigo levar aquilo na esportiva. De alguma maneira, suas palavras acabam comigo. A ironia, a impossibilidade de esconderem um desejo real, faz com que eu engula em seco e feche a cara, enquanto me levanto. Aquilo diz: eu estou distante a tal ponto de vê-la além de ser minha agente, de ser atraído pela beleza dela, que posso me permitir brincar com isso.
- Você tem certeza que quer sair hoje? – jogo, seca. Para a surpresa da Ámerica, não sabe dirigir. E hoje eu seria a motorista.
- Foi brincadeira, . – ele argumenta, eu ando até a porta do carro.
- Eu sei. Acredite, isso não melhora as coisas. – então me sento no banco e giro a chave, conduzindo-nos até o bar.
Uma hora e alguns shots de vodca depois, minha irritação se dissipara. Sentados numa mesa afastada do bar lotado, falamos sobre a vida. insiste que eu fale de minha família, então conto como éramos a típica família do comercial de margarida, que se importa com a aparência e esconde os desvios. Mãe e pai com um casamento perfeito, embora durmam em quartos separados desde que eu completei cinco anos. A ovelha negra, minha irmã, mandada ao internato depois de seu primeiro strip-tease bêbada, aos quinze anos. Hoje, ela vive de sua pintura na Holanda e pouco fala com qualquer um. O orgulho da família, meu irmão gêmeo, entrando aos dezesseis anos para medicina em Caltech. Atualmente, pesquisa a cura do câncer.
- E eu... bem, sou aquela do meio. Não sou a rebelde, tampouco sou a gênia. Sou só normal. – dou de ombros, finalizando meu discurso – Meus pais nunca ligaram muito pra mim.
- Normal? Você fez Harvard! – exclama – Eu nem terminei a faculdade!
- Vamos mesmo comparar? Meu curso nem era concorrido. E você não terminou a faculdade de direito em Yale porque quis se dedicar a ser ator. Deu certo, é famoso e ganha milhões de dólares. Acho que sabemos quem se deu bem na vida.
- Eu esqueço que você sabe tudo sobre mim. – ele bufa – Ser famoso não é sempre legal, ok?
- Oh, eu sei. Sou eu que resolvo as partes chatas, afinal. – retribuo, ácida. Ele coloca a mão no peito e finge-se magoado.
- Essa foi cruel.
- Sabe de uma coisa? – começo, o álcool em meu sangue deixando-me mais desinibida – Já te conhecia antes de trabalhar pra você. – ele somente me olha, esperando que eu continue - , o galã de Holywood, o desejo de qualquer mulher, almejado pelos diretores. Eu era sua fã.
- Não brinca! – ele arregala os olhos e então ri, achando a confissão muito divertida.
- Eu não brinco. – faço uma careta – Não era como as que pulam em cima de você ou te mandam sutiãs, mas gostava muito dos seus filmes. Sempre te achei um ótimo ator. E bastante gato também.
- Ah, – ele ri novamente – Preciso te embebedar toda a semana. Assim, você revelará todos os seus segredos mais profundos pra mim!
- Me conte um seu. Quero ter algo para te chantagear.
- Bem... – o sorriso aberto dele desaparece pelo rosto – Eu acho que Taylor não gosta de mim. – o encaro, sem entender. – Não é isso, sei que nos divertimos juntos e sei que ela adora nosso tempo tanto quanto eu, mas não sei se tem algo a mais. – suspira – Não sei se ela está apaixonada por mim.
- Por favor. O CD inteiro dela é pra você. – murmuro em resposta. Dou um gole na minha cerveja - , na realidade, eu tenho medo por ela. Eu acho que ela se entrega muito ao relacionamento de vocês e, sinceramente, não vejo você fazer o mesmo. Posso estar errada, mas... – faço uma pausa e, observando o rosto inexpressivo dele, tentando retificar minhas palavras – Desculpe, eu passei dos limites. Não é minha função falar sobre vocês dois...
- Na verdade, é sua função, sim, . – ele estende o braço e cobre minha mão com a sua – Você não está aqui como minha agente, mas sim como minha amiga. E amigos dão conselhos, falam o que acham... – ele mexe no cabelo e suspira – Você está certa. Eu juro que estou tentando, eu realmente gosto dela... – eu interrompo:
- Mas... – falo e ele me olha – Seu discurso tem um porém implícito.
- Mas... não sei se ela é a certa. – ele diz, afundando-se na poltrona em seguida.
- Bom, - começo, depois de alguns instantes de silêncio – ela não precisa ser. Ela pode se tornar a certa ou não. Não importa. Importa se agora, neste momento, ela é a mulher de sua vida.
- Pois é. Essa é a questão. Agora, eu já não sei mais nada. – um sorriso forçado aparece em seu rosto.
A madrugada já havia chegado quando saímos de lá e, embora estivesse coberta com meu casaco e meia calça, o frio me fez tremer. , muito gentil, tirou o casaco de couro, ignorando meus protestos e colocou sob meus ombros. Não adiantara muito, mas valera como gesto.
- Ok. Agora eu estou morrendo de frio. – ele confidencia e eu já faço menção de lhe dar sua peça de volta. Mas ele recusa e então me abraça pela cintura, por baixo de todos os casacos, o tecido fino do vestido impedindo que tocasse minha pele.
Eu sinto meu corpo responder involuntariamente. Mesmo com todo frio, ele se aquece, quando jatos de ansiedade, nervoso e desejo inundam-me. Abraço-o de volta pelos os ombros, já que os saltos nos deixavam praticamente com a mesma altura, tentando protegê-lo do tempo ruim. E aproveito a oportunidade para tê-lo perto de mim, como nunca.
Porque a verdade era que, embora eu sempre estivesse do lado de , eu nunca estivera realmente perto. Não como mais que profissional. E embora suas fãs invejassem meu posto, tampouco ele fazia jus ao que elas sonhavam. Para elas ou para mim, de maneiras diferentes, ele continua intocável.
Mas, não hoje. Hoje a barreira parecia ter sido quebrada. E nossos corpos se tocavam, se abraçavam. Permito-me aproximar minha cabeça de seu pescoço e sinto o cheiro do perfume dele. Definitivamente, eu não quero sair dali. Parece-me o melhor lugar do mundo.
Todavia, o carro está próximo demais, no estacionamento alguns metros de distância e logo chegamos. Nós paramos de frente para ele e eu não posso conter um suspiro. Então o olho e vejo seu rosto tão próximo do meu, seus olhos me encarando, levemente perdidos.
De repente, ele me solta tão rápido que perco o equilíbrio e cambaleio. me segura pela cintura e me ajuda a me manter de pé. Eu agradeço, desvio o olhar e dou um riso para tentar diminuir a tensão no ar.
- Alguém bebeu demais. – ainda comento, divertida. Não era mais que uma piada, porque na verdade o café que tomei minutos antes e os petiscos me deixaram quase sóbria. Eu caira simplesmente pela falta de apoio dele. E ele sabe disso, mas se contenta em ficar calado e entrar no carro.
Logo eu faço o mesmo, me acomodando e dando partida em seguida. Os sinais de trânsito estão abertos a essa hora, então eu mantenho uma velocidade constante na cidade, até entrar em uma das rodovias. Percebo que, durante todos esses minutos, está me encarando. Olho-o rapidamente antes de falar:
- Você está me encarando de um jeito muito estranho.
- Desculpe. – ele exclama, mexendo-se - Eu costumo ficar um bêbado meio reflexivo.
- Qual é o alvo de hoje?
- Se quer mesmo saber – ele suspira, abaixando a cabeça e esfregando as mãos nas pernas - Você.


IV. Se a sorte lhe sorriu porque não sorrir de volta?

- Ok. Estou me sentindo profundamente ofendido. – confidencia, colocando a mão no peito de forma dramática e me olhando magoado – Por que é tão difícil acreditar que faço uma torta de maça deliciosa?
- Deixe-me pensar – coloco a mão no queixo, fingindo – Ah, deve ser porque te conheço, !
- Besteira – ele abana a mão, ignorando minhas palavras – Qualquer americano sabe fazer torta de maça. É um símbolo nacional! Quer saber, vou provar pra você que tenho mil e uma habilidades. Que além de ser ótimo ator, de ser muito charmoso e de dançar razoavelmente bem, posso ser um maravilhoso cozinheiro.
- Ah, claro. – eu solto, sarcástica.
- Está desdenhando de mim, mulher? – ele escancara a boca, figindo-se magoado – Vamos ao supermercado.
- Enlouqueceu? Está alguns graus negativos lá fora.
- É pra isso que servem os casacos.
E o aquecedor, eu completo mentalmente alguns minutos depois, enquanto estávamos de carro. O supermercado também tem um ótimo sistema de aquecimento, então começamos a andar por ele, enquanto concentra-se na procura dos ingredientes. De repente, ele para e observa as barras de chocolate.
- Não sou uma chef de cozinha como você, mas tenho quase certeza que tortas de maça não levam chocolate. – implico.
- Eu sei, bobinha. – ele mostra a língua. – Vou levar algumas dessas para gente enfrentar o frio. – e começa a pegar as barras de chocolate amargo.
- Amargo? Eca. Nem é chocolate de verdade. – faço uma careta, recusando-os.
- Está brincando? Você gosta do ao leite? – eu confirmo com a cabeça e ele meneia a cabeça negativamente e continua - Podemos levar, mas saiba que o verdadeiro chocolate é o amargo. – ele praticamente esfrega a barra no meu rosto e então começa a argumentar - Afinal, ele é o que tem maior proporção de cacau. Além disso, ele pode reduzir o mau colesterol, melhorar o fluxo sanguíneo para o cérebro, coisa que você precisa – brinca – E também contribuir para a saúde do coração. É muito saudável. O que você gosta é mais calórico e um tanto enjoativo. A título de curiosidade, os astecas já...
Apesar de estar bem comprometido em seu discurso, para de falar e me olha, abrindo um sorriso. Eu demoro a entender porque ele me encara daquele jeito, galanteador e cheio de si, quando percebo o que estou fazendo. Estou rindo. Rindo! Tinha tanto tempo que eu não deixava minha vontade fluir que até esquecera como a sensação era maravilhosa.
Mas agora estou rindo. Minha boca se remexe, eu solto uns sons e mostro meus dentes encavalados. E não me importo com isso. A menos não na frente do . Que se considerarmos ser minha paixão platônica e também galã mundialmente famoso, parece-me que venci minha vergonha.
- Oh Meu Deus, você está rindo! – ele exclama, mal acreditando. Retira o espaço entre nós e me abraça. Aproveito para me afundar em seu corpo largo. – Eu nem acredito que consegui. – sussurra, convencido.
A verdade é que desde aquele dia em que meu chefe reparara que eu não ria, o mesmo tentava o feito de me fazer abrir um sorriso genuíno. Ele fizera palhaçadas, caindo no chão, dançando estranhamente, contara piadas, boas e toscas, mas nada me fizera mostrar os dentes. Eu por muitas vezes quis rir, não exatamente porque era engraçado, mas simplesmente porque ele estava se esforçando por mim. Fazendo tudo aquilo pra me ver feliz e isso, por si só, já dava vontade de abrir um grande sorriso bobo.
Mas eu me contentei. No último segundo eu sempre me segurava. Meu pudor, minha vergonha, minhas incertezas não me deixando fazer o que realmente queria. Então, de repente me vi rindo. De nada e de tudo. De um concentrado em seus argumentos, defendendo seu ponto de vista. Sério e, ao mesmo tempo, extremamente fofo.
- Ei, você não conseguiu nada. – retruco. – Você não estava tentando!
- Tem como provar isso? – pergunta , levantando as sobrancelhas em desafio – Pode ter sido tudo um plano milimetricamente calculado para alcançar sucesso. – ele dá de ombros – Você nunca saberá.
- Você é um bobo, . – e sorrio de novo, porque simplesmente amo a sensação de fazer isso. E amo como ele olha pra mim quando faço. – Mas fica realmente adorável tentando defender que o chocolate amargo é o melhor.
- Te convenci? – ele esbugalha os olhos.
- Definitivamente não. Não é tão fácil mudar minha opinião sobre chocolates quanto foi arrancar uma risada minha. – brinco.
- Bem, eu posso levar só chocolates ao leite, agora. Não me importo. – ele joga algumas barras na cesta do supermercado, mas nem me preocupo em ver os sabores. De repente o sabor tornou-se um detalhe. – Você fica linda rindo, . – ele comenta, quando já estamos pagando as compras.
- , não precisa exagerar. – dou um pequeno empurrão, ombro com ombro.
- Não estou, . – ele solta somente. E sei, por aquele sorriso fofo e gentil exposto em seus lábios, que ele não está brincando comigo.
- Você deve ter notado meus dentes encavalados. É por isso que resisto tanto na hora de sorrir.
- Eu imaginei que era algo assim. – ele afirma, colocando a sacola no pulso e abraçando-me com o outro braço. – Mas não ligue pra isso, sério. Mal dá pra perceber. Você é linda e ninguém é perfeito.
- Tem certeza? – inquiro, encarando-o, deixando a ideia de que ele seria perfeito. Obviamente, eu sei que ele está certo, ninguém é perfeito, mas me permito brincar com isso. De alguma maneira, durante essas semanas de convivência, sua beleza já não é mais tão intimidadora.
- Eu tenho seis dedos no pé direito.
- Mentira!
- Sim, é. – então ele ri e eu o sigo. – Achei que você sabia tudo sobre mim. – ele faz careta, fingindo-se magoado, então dou novo pequeno empurrão nele, agora com o quadril. – Eu tenho só cinco, mesmo. Mas eu sempre quis ter seis, desde criança.
- Pela milésima vez, , você é um bobo. – eu falo, entre risadas.
- Posso ser o que você quiser, . Desde que você nunca mais esconda esse sorriso.
E eu implanto um sorriso feliz no rosto porque, sinceramente, não tenho outra coisa a fazer. Não há mais como esconder a felicidade que sinto cada minuto que passo com .


V. E se você colocar um ponto final, eu coloco mais dois...

Eu digito, concentrada na função. Mas então ouço gritos. Franzo a testa e presto atenção, percebendo que e Taylor estão muito exaltados. De novo. Era o quinto dia de Taylor lá e entre os beijos roubados, os sorrisos trocados, havia muita gritaria. Pelo pouco que ouvira, eles não eram exatamente parecidos e qualquer coisa gerava uma briga boba.
Coloco os fones de ouvido, sintonizo na música clássica e continuo a responder a e-mails. Só que de repente os gritos começam a ultrapassar o volume da composição. Eu relevo por uns minutos, mas desisto ao me ver totalmente desconcentrada. Levanto e, lentamente, sigo os ruídos.
Apesar de duvidar que eles vão escutar meus passos, já que estão absortos no mundo deles, ando cautelosa, fazendo o mínimo de barulho possível. Descubro-me na sala e vejo Taylor Swift, a famosa e talentosa cantora, gritando e chorando ao mesmo tempo. Ela está de pé e, raivosa, olha para um amargurado. Ele está jogado no sofá, as mãos no cabelo em desespero.
- Merda, Taylor! Você sabe que não é tão simples. Não posso simplesmente largar tudo aqui e ir para sua turnê na Europa. Eu tenho uma série pra fazer, um contrato a cumprir.
- Bom, se você realmente quisesse poderia dar um jeito. – ela dá de ombros. Eu começo a calcular mentalmente quanto tempo poderia pedir de folga para . Alegaria que já estávamos há meses ali, isolados da mídia e dos amigos.
- Você não está sendo nada razoável, Tay. – ele bufa.
- Talvez o amor não seja razoável, . – ela retruca, ácida – Talvez o nosso problema seja exatamente esse. Talvez o que a gente tem esteja bem distante do amor.
- Não vá para esse lado.
- Por quê? Porque é chato tocarmos nesse assunto? Porque nós dois sabemos que não nos amamos? Que não estamos apaixonados?
- Eu gosto de você, Taylor, realmente, mas não sinto o que deveria. Não me sinto louco por você, não morri de saudades enquanto estávamos afastados e, sinceramente, não vejo um futuro entre nós. – eu sabia de grande parte daquilo, mas é tão direto que arregalo os olhos. Sua namorada faz o mesmo, mas tenho a impressão de que ela sente muito mais do que demonstra.
- Uau, . Muito tempo com isso guardado, imagino. – ela engole em seco – Um pouco cruel, mas gostei da sinceridade. E acho que você está certo. Também me sinto assim. – suspira – Espero que possamos ser amigos. – então dá um sorriso forçado de lado.
- Acho que não temos muitas coisas em comum, Tay. – ele comenta, já abrindo um sorriso – Mas podemos ser amigáveis um com o outro.
- Isso já está ótimo pra mim. – afirma – Venha, me dê um abraço. – ele obedece, levantando, e eles se abraçam – Vou fazer minhas malas e comprar uma passagem para o próximo voo.
- Você pode ficar o tempo que quiser.
- Eu sei, mas é estranho demais para nós dois. – ela ri, antes de andar até as escadas e sumir.
Eu paraliso alguns segundos, sem saber o que fazer. Voltar ao escritório e ao trabalho e fingir que não sei das novidades? Caminhar até e confortá-lo? Nenhuma das alternativas me parece boa, então resolvo fazer metade de cada.
Caminho até meu pensativo chefe e, assumindo uma voz calma e profissional, começo a falar:
- Desculpe, , mas acabei escutando um pouco da sua conversa com a senhorita Taylor. – respiro fundo antes de continuar – Quero saber quando estou autorizada a confirmar à imprensa sobre o término. Tentarão marcar algumas entrevistas, tentando saber o porquê, mas posso rejeitar, argumentando que está se desgastando bastante com as gravações da série.
- , não preciso da minha agente. - ele diz, interrompendo minhas apressadas palavras – Preciso da minha amiga.
Eu quase me derreto toda ao escutá-lo, mas me contento em sorrir largamente. Então ele ergue os braços e pede pra eu me aproximar, eu faço e o abraço. Com meu rosto próximo a seu pescoço, sinto seu perfume, minha pele tão grudada na sua. E a ponto de me perder, o pensamento de que ele estava sofrendo pelo fim do namoro chega com tudo em minha cabeça.
- Eu pensei que você não a amasse. – solto, antes de conter-me. Logo continuo, tentando reparar a situação – Quer dizer, você me disse, umas semanas atrás, quando fomos aquele bar, que ela não era a mulher certa, que não sabia dos seus sentimentos por ela e... você pareceu bem sincero agora pouco. – refiro-me a revelação que fez a ex-namorada minutos antes.
- Sim, é verdade. – ele sorri, tocando com o indicador nas minhas bochechas coradas. Suspira antes de continuar – Não a amo, mas é sempre chato terminar.
- Estou aqui por você. – eu digo, porque não me resta nada mais a dizer. Quando ele sorri e me dá um beijo na bochecha, eu tenho certeza que acertei.


VI. Neve ou não neve, onde há amigos a vida é leve.

- , está um ótimo dia! - eu argumento, empurrando um preguiçoso . Ele geme.
- Sim, um ótimo dia para ficar na cama, enrolado no cobertor, tomando chocolate quente e assistindo filmes.
- Não! - rechaço - Está nevando há horas, vamos fazer bonecos de neve!
- Quem é você e o que fez com a minha ? - ele diz, fingindo-se preocupado e eu rio.
Minha mente borbulha e todo meu corpo vibra pelo pronome possessivo usado, mas tento ignorar o fato. Afinal, era somente sendo fofo, nada demais. Nada a mais. Mas meu coração não deixa de acelerar e meus pensamentos fluem para o amor impossível.
- Boboca – eu consigo dizer, acompanhando uma careta - Vamos! Vamos! – eu o puxo pelo pulso e ele ri, forçando-se para continuar sentado. Eu bufo e desisto, cruzando meus braços no peito e fazendo beicinho.
- Ah, , não me faça essa cara. - ele murmura, antes de suspirar e levantar. - Você não teve infância, mulher?
Por mais que ele tenha reclamado nos primeiros minutos, depois de algumas horas fora de casa, nós começamos a nos divertir genuinamente. Construímos bonecos, casas, carros de neve, ou, ao menos, tentamos. Rimos, brincamos e o tal do frio mal foi sentido por nós. Tudo bem que as três blusas, duas calças e meias e o casacão ajudavam, mas tenho certeza que a brincadeira entre nós também nos aqueceu.
- Ei! - grita, de repente, chamando minha atenção. Eu me viro para olhá-lo. E sou atingida por uma bola de neve.
- Ah! - eu grito, surpresa, abrindo a boca. Então assumo uma sede de vingança e enfio minhas mãos na neve - Quem é criança agora?
Eu atiro a bola e a guerra começa. Nós avançamos um contra o outro, jogando nossa neve e fugindo das boladas inimigas. No meio da aventura, das risadas e dos arremessos, eu tombo na neve escorregadia e caio de bunda no chão. Dessa vez, eu havia caído, não . Dessa vez, ambos rimos, não só ele. Naqueles poucos meses, tudo parecia ter mesmo mudado.
Ele me oferece as mãos e eu me apoio nelas para levantar. Um puxão mais forte por parte dele dá um impulso excessivo e eu acabo perdendo um pouco do equilíbrio. me segura pela cintura e eu posso sentir suas mãos mesmo sob todas aquelas roupas. Posso sentir nossos corpos, o calor deles, tão pertos um do outro. Posso sentir sua respiração pesada, seu perfume e seus olhos em mim. Ergo meu olhar e encaro-o. Passam segundos ou minutos, não sei dizer, e nós continuamos ali, tão próximos, olhando-nos mutuamente.
Nesse meio tempo, eu perco a cabeça. A parte de mim cautelosa, envergonhada, simplesmente some e a força, a vontade de me arriscar toma conta do meu ser. Então eu avanço. Sem pensar nem sequer uma vez, sem deixar que meu lado racional atrapalhasse a loucura que eu estava prestes a cometer. Eu o beijo. Encosto nossos lábios frios. E a sensação é maravilhosa, me aquecendo toda por dentro.
Mas acaba muito rápido. pula, afastando-se de mim. E toda a minha força se esvai. A vergonha toma conta de mim. Eu quero olhá-lo, tentar entender suas feições e o que elas significam, mas não consigo. Então olho para meus pés. E continuo assim até me trancar no meu quarto. Definitivamente, as coisas parecem ter mudado.


VII. Um beijo é a menor distância entre dois apaixonados.

- , você quer ir ao shopping comigo? – grita de alguma parte da casa e eu escuto do meu quarto, o lugar mais seguro e isolado depois da tragédia do beijo.
Foi uma loucura de momento, algo que eu queria fazer tinha muito tempo, mas que deveria ter guardado em minha caixinha de desejos mais profundos. Afinal, era , ator mundialmente famoso, galã de Holywood. Eu nunca poderia esquecer essas características. Por mais que ali estivéssemos nos aproximado, rindo e nos divertindo juntos, ele continua a ser a estrela da série e eu sua simples agente publicitária. Ele continua, mais que nunca, intocável. Desejável nos sonhos, impossível na vida real.
- Não! – eu respondo, obviamente, porque eu realmente não precisava passar mais tempo com ele do que o necessário.
Eu havia fugido dele por dias e me sinto aliviada em ter feito novamente. Mas então me lembro que ele precisa comparecer ao estúdio de gravação mais tarde naquele dia e, como funcionária muito bem paga, preciso avisá-lo. Saio do quarto, descendo as escadas rapidamente, tentando alcançar . E dou um encontrão nele.
Nossos corpos batem um no outro. Ele instintivamente tenta me segurar, para evitar possíveis quedas, mas eu me afasto e me apoio no corredor. Nos encaramos, nossas respirações aceleradas. Eu observo seus lindos olhos e sorriso e esqueço por instantes o que tinha pra falar.
- Desculpe – consigo dizer, me concentrando – Só queria avisá-lo que tem um compromisso no estúdio às seis. Sua presença é obrigatória, então por favor não perca a hora.
- Se você fosse tenho certeza de que você me lembraria. – ele retruca, com um sorriso de lado.
- Senhor...
- O quê? Está falando comigo? – ele olha para trás para ver se há mais alguém ali, para quem o tratamento formal seria dirigido. Mas não há ninguém. E sabe que é pra ele, porque é como o chamei durante toda aquela semana. – , lembra que eu descontaria seu salário? Se continuar assim, estou preocupado com o fato de você ter dinheiro a menos pra comer. – ele brinca, mas eu mantenho minha cara séria. Não tenho sido levada pelas brincadeiras dele, muito menos rido, e não pretendo começar agora. Dali para frente, nossa relação voltaria a ser estritamente profissional, de onde nunca deveria ter saído. Era mais fácil para o meu coração.
- O recado está dado. Se não há mais nada, espero que se divirta, senhor. Voltarei a meu trabalho.
Mas ele não deixa. Eu o escuto bufar e logo sua mão segura meu pulso, me impedindo de sair dali. Só de sentir seu toque todo meu corpo arrepia. Embora depois da cena na neve eu tenha me afastado dele, meus sonhos estavam fora de controle e, neles, sempre estava presente. Cada vez mais perto.
- Merda, ! Porque você está fazendo isso? Nós passamos meses juntos, nos tornamos amigos, porque você está jogando tudo isso fora?
- Acho que devo manter o nível profissional. – respondo, somente.
- Foda-se o profissional, ! – sua voz sai raivosa – Quero ver seu sorriso, escutar seu riso e não “senhor” – ele faz uma careta – Quero sair com você, conversar, me divertir. Eu quero minha amiga. – ele revela, respirando fundo em seguida - E se você não quer ser minha amiga, bem... não acho que posso tê-la como minha agente.
As palavras me atingem em cheio. Meu corpo balança com o baque. Eu engulo em seco e me seguro para não chorar. Eu sei que é uma reação exagerada e tosca, mas ver me dispensando daquele jeito doí. Porque eu estava preparada para ele me recusar amorosamente, eu tinha consciência de que nunca tive grandes chances nesse aspecto com ele, mas no trabalho eu smepre tive certeza de que era boa. A melhor. Não tinha passado pela minha cabeça um minuto sequer que ele não iria me querer como sua agente. E doí. Doí porque era meu jeito de ficar ao lado dele. De alguma maneira, mesmo intocável, ele estava no meu lado.
- Tudo bem. – concordo, logo que me reintegro – Vou arrumar minhas coisas.
- Não! – ele resmunga, em um quase grito. – Resposta errada, . Resposta errada. Diz que vai ser minha amiga, vai. – faz uma cara tão fofa, de pedinte, que quase cedo. Mas não posso. Sei que não posso.
- Eu não posso ser sua amiga. – solto rapidamente.
- ... – ele geme. Nos encaramos. Eu posso ver que ele está sofrendo. Talvez ele realmente tenha se afeiçoado a mim. Mas eu estou sofrendo também. Meu coração bate forte em meu peito e acho que ele pode quebrar a qualquer momento. – Quer saber? – ele exclama algum tempo depois, sua voz já diferente, mais leve – Foda-se. Foda-se. Eu não quero ser seu amigo também. – e agora é a hora do meu coração quebrar, mas continua – Não quero ser só seu amigo. Quero mais.
E me beija. Suas mãos vão para meu pescoço e eu, ainda atordoada, demoro a apoiar as minhas no corpo dele. Agora, o beijo é verdadeiro e respondido. Começa devagar, as bocas se conhecendo, as línguas se enrolando. De repente torna-se urgente. Uma das minhas mãos vai até seu cabelo e eu o bagunço, como há tanto quero fazer. As mãos dele, por sua vez, deslizam por toda a minhas costas. Nossos corpos se grudam e a sensação é de estar no paraíso.
Quando nos afastamos, em busca de ar, eu tomo coragem para olhar nos olhos e vejo um brilho neles. Há também um sorriso implantado em seu rosto. Sorrio de volta, sem poder me segurar. Ele desliza seus dedos por meus lábios, feliz.
- Eu queria saber como seria te beijar. – revela - Eu criei expectativas. Mas, meu Deus! – e, entre risadas, eu começo um novo beijo.


VIII. Herdei um coração para bater do lado de fora do meu.

- Eu proponho pizzas, o que acha de fazermos algumas? – pergunta, quando sai do banheiro. Eu estou sentada na cama com o notebook em meu colo e desvio o olhar para ele.
- Você está tentando me conquistar, garoto? – retruco, cerrando os olhos. – Fica mostrando o peitoral, somente com essa toalha amarrada na cintura, essas gotas deslizando por sua pele... – lambo os lábios, brincando – E ainda propõe cozinhar.
- Gata, - ele não deixa de esbugalhar os olhos, mas tem um sorriso divertido no rosto – você está muito safada. – se aproxima de mim vagarosamente e então deposita um beijo no canto da minha boca. – Eu gosto disso. – sorri malicioso.
- É claro que você gosta. – assinalo, puxando-lhe para um rápido beijo. – Mas eu aceito a pizza. Vista alguma coisa e vamos para a cozinha. – empurro-o levemente, deixando o computador de lado e levantando.
- Ok. Vamos. Mas eu vou de toalha, me parece mais divertido. – estende a mão pra mim e nós descemos a escadas juntos, rindo.
Vinte minutos depois, uma marguerita, uma pepperoni e uma quatro queijos estavam no forno. Bastou eu me encostar na bancada da cozinha e suspirar para que me encurralasse e me enchesse de beijos. Eu rio entre eles e o afasto, com a desculpa de arrumar a sobra de ingredientes na geladeira.
Mas na verdade eu só precisava de alguns minutos com minha mente. Ela explodia em dúvidas, receios, perguntas. Tudo podia se resumir na principal questão: o que era aquilo? Desde o beijo dado por , nós nos beijamos muitas outras vezes. Fizemos mais que isso. De tempos em tempos, a gente se abraçava ou fazia carinho um no outro. Pareciamos um casal, vivendo em uma mesma casa, compartilhando momentos especiais, mas em que sentido, até quando?
O primeiro ponto era a máxima universal que dizia que não tem relacionamentos duráveis. Alguns meses, sim, e também com celebridades estonteantes. As diferenças entre nós e seus outros relacionamentos eram óbvias do ponto de vista gráfico, mas seriam também na sentimentalidade, no dia-a-dia?
Segundo, e principal, estamos isolados. Aqui, sozinhos, no frio Canadá, onde tudo é mais fácil. Eu posso estar carente, ele também depois do fim do namoro e isso pode ocasionar eventuais beijos, carinhos e sexo. Que não querem dizer nada. Não quando voltássemos a civilização, a ensolarada Los Angeles, com todos os amigos, famosos e paparazzis. É como se estivéssemos vivendo em outra dimensão, em um vídeo game. E nós sabemos que aqueles jogos não são reais.
O forno apita, nós nos servimos e durante todo o tempo eu me mantenho em silêncio. tenta puxar assuntos, ser engraçado, mas eu respondo de forma monossilábica. Eu sei o que eu estava fazendo: me afastando. Tentando, se ainda fosse possível, não me envolver ainda mais. Porque as chances de futuro eram poucas e era eu que sairia arrasada dali. Afinal, eu era a funcionária completamente apaixonada. No fim, meu coração que sairia partido.
Ele percebeu, obviamente, mas é somente quando assistimos qualquer série na televisão e minha mente vaga, que ele acha-se farto da mudança de comportamento:
- O que está acontecendo nessa mente aí, ? – ele toca com o indicador na minha testa – Está formulando um plano diabólico para dominar o mundo? – sorri e eu dou um pequeno sorriso de lado, me mantendo calada. – Fale comigo, baby.
- ... – suspiro antes de continuar – o que estamos fazendo?
- Hm... – ele franze as sobrancelhas, sem entender – Assistindo Friends. Você me falou outro dia que amava, que fez parte de sua adolescência e... – ele para, observando meu rosto - Você não está falando do que estamos fazendo agora.
- Não. – concordo, engolindo em seco. – Nós. O que é isso? – eu gesticulo, apontando para nós dois.
- Não achei que teríamos essa discussão tão cedo... – ele afirma, bagunçando os cabelos de nervoso.
- Eu achava que você me conhecia. – tento brincar e ele dá um sorriso forçado.
- É, tem razão. Bem, nós estamos nos conhecendo, nos divertindo e... – ele novamente para e me olha – Suponho que também não é o tipo de resposta pra sua pergunta. – eu assinto, reafirmando sua frase – , você sabe que eu não sou exatamente experiente no quesito relacionamentos. Tive muitos, mas bem casuais e rápidos e não sei enfrentar uma DR. Você vai precisar ser bem direta.
- Não sei se tenho coragem de fazer isso.
- Você é muito mais corajosa que acredita – ele sorri de lado – Além disso, você estava dispersa tem muito tempo e algo está te incomodando. Você tem que colocar isso pra fora.
- Você está certo. – reflito. É fofo vê-lo me incentivar e se preocupar comigo. Não fica mais fácil de dizer, no entanto. – Tudo bem, lá vai. Por favor, não fuja. Lembre-se dos dez centímetros de neve lá fora. – ele ri.
- Não fugi de você até agora e, acredite, você já me assustou bastante. – dou um leve tapa no braço dele e ele grui em resposta. – . – me chama com uma voz séria - Não enrole.
- , eu gosto de você. E, por favor, não me interrompa no meio disso. Não fale que gosta de mim também, porque eu sei que você faz e não é suficiente. Não se você gosta de mim do mesmo que gostava há, sei lá, cinco meses atrás. – eu desvio o olhar, porque é difícil olhá-lo ao dizer aquelas palavras - Eu realmente gosto de você. Não como amiga, mas como mulher. Desde que comecei a trabalhar com você, a te ver dia-a-dia, a conhecer cada detalhe seu, foi crescendo em mim um sentimento. E não pense que isso é algo de fã, só porque já fui uma fã sua um dia, porque não é. Eu te acho lindo e charmoso, mas não é isso. Eu gosto de você. De cada parte de você. Ou quase. Odeio sua mania de roer unhas. – abro um pequeno sorriso – Gosto de como você é engraçado e tenta divertir todos. Gosto como você é legal com qualquer um e sorri à toa. Gosto das suas caretas. Resumindo... eu estou apaixonada por você.
Escondo meu rosto em minhas pernas e as abraço, esperando encolhida uma resposta de . Meu coração só falta sair pela boca. Todo meu corpo treme em expectativa. E o silêncio invade a sala. O ator do meu lado nada fala por minutos e eu só fico cada vez mais nervosa. Já estou resgatando forças para me erguer e sumir dali quando ele põe a mão nos meus cabelos e começa a fazer carinho por ali.
- Eu te assustei, como previa.
- Não assustou, . Só me deixou surpreso. Eu esperava que você falasse sobre sentimentos, sobre o que seria de nós dois, nosso futuro, mas não imaginava que você se sentia há muito tempo assim por mim. Porque não falou antes?
- Acho que sabemos o porquê. – afirmo somente, me referindo a toda aquela situação.
- Ah, certo. Mas, sabe, você falou em um bom momento. Se não tivéssemos passado esses dias nos conhecendo em todos os sentidos da palavra, talvez minha reação fosse diferente. Mas esses meses, , esses últimos dias... – ele balança a cabeça e respira fundo – Você é uma mulher incrível. Cada segundo com você me provou isso. Você é tão simples, tão honesta, tão natural e tão bonita, mas ao mesmo tempo é tão maravilhosa, especial. Nunca conheci alguém como você.
Eu o encaro, cética com aquela cantada tão passada.
- Falo sério, . Conheci muitas mulheres, você sabe. Muitas famosas, atrizes, cantoras, socialites, que eram esbeltas e, assim, de encantar qualquer um. Mas a maioria é só aparência, baby. E é um dos motivos de eu nunca ter durado com nenhuma delas. Porque a convivência me fez ver que ou eu não combinava em nada com elas ou elas não se importavam comigo. Era o alface e o tomate como jantar, nada de pipocas e pizzas, nada de conversas sérias sobre tudo e nada. Você... você é real. Eu posso tocá-la e você pode comer chocolate comigo e falar sobre filosofia e... eu posso ser eu mesmo quando estou com você. Eu posso ser o melhor de mim. Amo como você faz isso comigo. Amo nossos dias juntos. Amo seu sorriso imperfeito. Amo quando você me chama de bobo.
- Mas... eu sinto um mas, . Eu sinto um fora.
- Não. – ele nega rapidamente – Bem, há sim um porém, mas está longe de ser um fora. Eu acho que estamos em níveis diferentes de relacionamento. Você obviamente está mais envolvida que eu, porque tem esse sentimento há muito mais tempo. Mas ele está crescendo em mim. Eu estou me apaixonando por você... e isso é completamente louco pra mim, porque não acontece comigo desde meus 13 anos.
- Então como você tem certeza de que está se apaixonando?
- Ah, a gente simplesmente sabe. – ele dá de ombros – Há alguns indícios: sempre que você me olha, meu coração acelera. Sempre que você sorrir, eu sinto uma vontade gigantesca de sorrir de volta. Eu quero vê-la sorrir, faço de tudo pra isso. Eu sinto sua falta, embora possa parecer bem idiota, porque estamos morando juntos. E eu lembro de você sempre, alguma coisa acontecendo ou não. E tudo parece melhor quando sua imagem vem a minha cabeça. Tudo parece mais fácil, simples e bonito. Eu quero continuar com você, . Eu quero você ao meu lado não só no Canadá, mas em L.A., atrás ou na frente das câmeras. Não só como minha agente publicitária, mas como minha amada .
- , você é um bobo! – exclamo, jogando-me em cima dele e abraçando-o.
- Não são exatamente as palavras que eu esperava depois dessa declaração. – ele solta, mas retribui o aperto e começa a distribuir beijos em meu rosto, ombro e braços. – Acho que nunca vou me cansar disso.
- É bom que não. – respondo, trazendo seu rosto para mais perto do meu e beijando-o – Agora, acho que essa sua toalha está atrapalhando...
O ambiente esquentou, minhas roupas voaram. Nós aproveitamos um ao outro, nos sentindo completos. Depois, com nossos braços enrolados, nossos corpos grudados, apreciamos o momento juntos.
- Ah, tem outra coisa que eu odeio em você. – murmuro, contra seu pescoço - Quando você penteia o cabelo pra esse lado – mexo no mesmo – Assim fica bem melhor.
- Ei, eu acabei de torná-la minha namorada, você ainda não pode tentar me mudar, não.


Epílogo. Felicidade é encontrar a saída e ficar.

Eu encontro na sala de ginástica de seu apartamento em Holywood e jogo em cima do peito dele a revista de fofoca.
- Você pode me explicar que absurdo é esse? – falo, séria, colocando as mãos na cintura. Ele mostra-se confuso, então pega a revista e olha a capa, onde há uma foto de um casal se beijando.
- Do que exatamente você está falando, ? – abre seu sorriso e dá de ombros – Ela é gostosa.
- . – eu reviro os olhos, mas não posso conter um sorriso bobo. No entanto, logo o fecho, voltando a minha postura anterior – Como assim você está namorando ela e não falou? Eu sou sua agente, preciso saber dessas coisas antes da mídia! – reclamo, irritada.
Ao menos, fingindo. Ele se aproxima, pega minhas duas mãos, puxa-me para mais perto dele e me dá um selinho. Na capa, a notícia bombástica diz: “A agente publicitária de é vista aos beijos com o ator! É namoro?”. E então há nossa foto de dois dias atrás, na praia.
- Eu acho que é hora de contar ao mundo que estou completamente apaixonado por você. – ele diz, beijando-me novamente – Cuidado, eu tenho fãs um tanto ciumentas.
- Ah, eu sei. Eu sou a maior delas.
- Maior das fãs ou a mais ciumenta? – ele franze a sobrancelha, a dúvida surgindo em sua mente.
Eu só sorrio para ele, deixando o enigma no ar e confundindo-o com um grande beijo.


FIM



Nota da autora: Olá. Eu peguei Untouchable na última hora e logo me veio a ideia de aproveitar toda a questão intocável fazendo uma história com um cara famoso, que para reles mortais como a gente - principalmente leitoras de fanfics né - são mesmo distantes e intocáveis. Então, moral da história: não existe amor impossível, se joga! Mas também não fica sonhando com Chace Crawford e talz, porque o lance do oceano atrapalha um pouco. Aliás, sonha sim, mas cuidado com a realidade!
"Bruna, você está falando coisas avulsas". Verdade, estou. Vou parar por aqui, então. Só quero falar mais uma coisa: não acho que foi uma das minhas melhores fics e, sinceramente, não gostei de muitas partes dela. Eu poderia fazer melhor, sei disso, mas a questão do prazo me fez deixá-la desse jeito mesmo e espero que esteja no mínimo aceitável.
Se quiserem comentar, por favor façam.
Ah, leiam 06. Mean, do outro ficstape da Taylor, que eu também escrevi e leiam minhas outras fics.
Beijos, Bruh Fernandes.

Outras Fanfics:
Em andamento: Barefoot (outros); Factory Girl 2 (restrita); Sexual Diary (restrita)
Finalizadas. Longs: Factory Girl (restrita); Two Sides Of The Law. (restrita)
Shorts: Prazer, Primavera (outros); One Night Two Years (outros); O Bêbado e A Equilibrista (Challenge#15); Uma Linda Mulher (outros); Quebrando Os Meus Princípios (restrita); Immortal (Especial Mitologia)


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