Capítulo Único
Sarah Wells vinha de uma ótima família. Sim, uma família de dar inveja a todos. O senhor e a senhora Wells eram ótimos pais, ótimos cristãos e ótimos cidadãos. Com a chegada de dois filhos, e Sarah, a família se tornou mais alegre. e Sarah sempre foram muitos amigos. Por muito tempo, sempre acharam que as joias da família Wells nasceram, literalmente, para serem grudados. Onde estava, Sarah estava. E foi assim, até encontrarem mais uma cúmplice para entrar em sua equipe: Bennett. Eles a conheceram na Frank Hartsfield Elementary, escola do ensino fundamental. Alguns anos depois, entraram juntos — e inseparáveis — no ensino médio da escola do condado, Leon High School.
Aos 15, e começaram a namorar por um empurrãozinho de Sarah. Ela conseguia ver que, desde os treze anos, eles se gostavam. até dava o último pedaço da torta de limão de sua mãe para ele! O quão aquilo era injusto? Nem um pouco, Sarah sempre achou graça. Sarah era uma menina doce, simpática e estudiosa. Gostava de ver o sol nascer, acordava bem cedo todos os dias, gostava de rir, sair, jantar com os pais. Mas tudo acabou naquela festa de Halloween. Tudo acabou quando tiraram a vida de Sarah Wells.
Tallahassee, Flórida; 30 de junho de 1995.
O dia havia sido incrível. e chegaram em casa exaustos. Era quase meia noite. A festa de Lindsay fora incrível.
Naquele dia, Sarah voltou para casa mais cedo porque disse que havia comido algo que poderia ter feito mal ao seu estômago. e se ofereceram para levá-la em casa, mas a menina alegou que não precisava, afinal Lindsay morava na vizinhança. E as ruas estavam lotadas. Mas de gente mal intencionada.
— Estou tão cansado. — abraçou por trás enquanto entravam na casa dos Wells. Os progenitores dos dois estavam numa reunião da igreja por perto, logo chegariam em casa.
— Eu também. Dançamos muito! — disse, animada. — E eu preciso contar para Sarah que a Janet e o Bruce se beijaram na frente de todo mundo.
— Já sabíamos que isso aconteceria em algum momento.
— Mas eu gosto de alimentar a romântica clássica que existe na sua irmã. — disse, animada, dirigindo-se ao segundo andar da casa.
Bennett abriu a porta do quarto de Sarah para contar-lhe, quando se deparou com a pior cena que poderia pensar em ver em todos seus dezessete anos. Um grito de foi o suficiente para acordar a vizinhança inteira.
Com o rosto desfigurado, o corpo de Sarah estava pendurado no teto e uma poça de sangue se localizava debaixo dela.
Quando chegou no quarto, às pressas, não teve reação. Era como se tivessem arrancado uma metade dele. O que de fato aconteceu. Arrancaram sua metade dele. E dela. Acabaram com uma vida. Um relacionamento. Uma irmandade. Uma família. E Sarah Wells era a ponte de todas essas relações. E sem ela, tudo havia acabado.
Tallahassee, Flórida; 30 de agosto de 1995.
Com dois meses de investigação, a polícia do condado de Leon arquivou o homicídio de Sarah Wells. Sem digitais, sem nada que comprometesse alguém. A lista de suspeitos começou com Gareth Peterson, um valentão que era conhecido por abusos sexuais. Mas Sarah não havia sido estuprada. Muitas pessoas da escola foram interrogadas, inclusive e . Ambos foram até submetidos ao polígrafo, o que foi um ultraje para os pais de . Para ele foi compreensível. Ele só queria encontrar quem havia feito aquela atrocidade contra Sarah. A mídia se envolveu no assassinato, tornando a família Wells famosa por muitos estados americanos. O condado de Leon havia cometido muitas falhas em relação ao caso de Sarah Wells. E isso foi algo que, mesmo que não soubessem, e prometeram reparar. Por justiça a Sarah Wells.
Miami, Flórida; 7 de setembro de 1995.
O fim do verão deixava claro que as ruas estariam cheias, afinal, aproveitar os últimos dias de férias era o que se esperava dos universitários. Com a decisão repentina de ir estudar na Flórida, teve que se contentar com o barulhento alojamento da faculdade. Dividia o quarto com uma menina que vinha do Texas, Amanda.
— Você acha que estudar aqui foi sua melhor escolha, ?
— Acho. — disse segura de si. — Precisava sair de Tallahassee.
— Eu tentei entrar na faculdade de lá.
— Eu também. Mas escolhi aqui.
— Entendi. Você não gosta de lá, é isso? — Amanda perguntou, hesitante.
— Prefiro não falar disso, tá bem? — pediu e a amiga texana atendeu seu pedido.
Durante muito tempo, Amanda fez seu monólogo e a observava. Ela parecia Sarah. Falava pelos cotovelos, era extremamente simpática e educada. Perto da meia-noite, quando as duas se organizaram para deitar, e Amanda ouviram barulhos. Barulhos esses que as fizeram levantar imediatamente. O silêncio no corredor fez com que os passos pesados fossem o único som audível. O desespero cresceu em e Amanda foi a primeira a reagir, tirando um taco do lado de sua escrivaninha. se sentiu dominada pelo medo. Quem matou Sarah voltaria para matá-la, era isso? Foi isso que sua melhor amiga havia sentido quando viu seu assassino? Tratava-se de um serial killer? Era alguém do condado? Será que ele já havia feito alguma vítima no alojamento? Seria ela a próxima?
Quem tentou adentrar no quarto delas recebeu resistência, pois a porta estava trancada. Em pouco tempo, as duas puderam ouvir o trinco sendo destrancado e um homem grande encapuzado adentrou. A única coisa que Bennett conseguiu fazer naquele momento foi gritar o mais alto que conseguiu. E ela sentiu seu corpo ficar mole. E desmaiou.
Mais tarde naquela madrugada, acordou ouvindo os barulhos das máquinas. Sobrevivera ao ataque do assassino? E Amanda?
— Meu Deus, ! — a texana apareceu prontamente em seu campo de visão. — Você fugiu de Tallahassee porque estava grávida?
— O que aconteceu, Amanda? — a perguntou, confusa. — Quem era aquele que entrou em nosso quarto?
— Era o trote dos calouros. — ela disse baixinho. — Você desmaiou e sangrou, a gente decidiu te trazer para o hospital. O que aconteceu em Tallahassee para você vir para Miami, ?
— Eu estava grávida? — ela perguntou, com a voz embargada. Amanda fez que sim com a cabeça e engoliu em seco. Nunca havia passado por aquilo, mas tentou se colocar no lugar de . — Meu Deus.
— Você não sabia? — ela a perguntou. — Então você não fugiu de Tallahassee? Por que você tem tanto pavor de casa, ?
Antes que pudesse criar coragem para responder Amanda, uma médica adentrou o quarto branco. Deu indicações para que recuperasse sua saúde pós-trauma e disse que ficaria apenas em observação naquela noite.
— Grávida de três meses… — ela falou baixinho e deu uma risada de escárnio. — Na mesma época.
— Do que você está falando? Eu preciso que você seja sincera comigo, . — Amanda a perguntou. Logo depois, a menina arregalou os olhos. — Meu Deus, você é fugitiva da polícia?
— Eu fugi de Tallahassee porque assassinaram minha melhor amiga. — ela engoliu em seco e Amanda se endireitou ao seu lado. Ela não esperava por aquilo. estava de olhos fechados, como se estivesse revivendo o dia trinta de junho. — Eu a encontrei pendurada no teto de seu quarto. Sarah tinha um irmão, . Ele era o pai. A gente encontrou a Sarah naquele quarto. E foi por isso que eu fugi.
— , eu… — Amanda estava perdida. — Eu sinto muito por tudo isso, .
— Ela era minha irmã. O mais próximo que eu cheguei de ter uma irmã. Se dói em mim desse jeito, imagina para ele que perdeu a irmã? — Bennett deixou as lágrimas rolarem. — Eu queria muito ficar e pegar o bastardo que fez aquilo com ela, mas toda vez que eu passava perto dos lugares que íamos meu corpo todo doía. A última vez que eu o vi foi no velório dela. Nenhum dos dois teve coragem de se encontrar. Então eu fugi.
— Tudo bem, você está no seu direito de fazer isso. — Amanda sorriu e apertou a mão da colega de quarto. — Vai dar certo, você vai ver. Você precisa recomeçar. Por vocês duas.
•
Hold onto something, I can feel the floor leaving
We're done with coming up and way past coming down
My body shakes, a part of missing you
I know you miss me too, I know you do
Tallahassee, Flórida. Condado de Leon, 23 anos após o assassinato de Sarah Wells.
Voltar para casa foi algo que adiou por 23 anos. Apesar de ter um ótimo lar e um ótimo emprego como capitã em Miami, voltar para o condado de Leon era sua promessa para Sarah. Anos depois do brutal assassinato de Sarah Wells, a cidade continuava a mesma. Katherine e Anthony Bennett esperaram a volta de por muitos anos.
Não precisavam contar isso a ela, pois ela soube daquilo no momento em que decidira fazer faculdade a seis horas de distância de Tallahassee. Por muitos anos, prendeu muitos homens. Se envolveu em grandes investigações em Miami, mas sua carreira só estaria aceitável quando prendesse o assassino de sua melhor amiga.
Há 23 anos que ela não tinha notícias de . Se tinha casado, tido filhos… E ela não estava preparada para saber, ainda que tudo em Tallahassee fosse muito fácil de saber. É claro que seus pais contaram aos Wells que ela voltaria e é claro que aquilo se espalharia por todo condado. havia optado por um apartamento perto da casa de seus pais porque, de acordo com Katherine, ela já havia vivido por muito tempo longe dos dois.
Naquela manhã ela se apresentaria na delegacia para começar a analisar os casos e enfrentar o homicídio Wells.
Como esperava, todos estavam aguardando — em fila e extremamente arrumados, devia ressaltar — a nova capitã do condado de Leon. riu mentalmente ao ver o quão arcaica Tallahassee ainda era. Muitas coisas não haviam mudado em 23 anos. E ela sabia que não mudariam.
— Bom dia, capitã Bennett. — o tenente sorriu para ela. Ele era familiar. — Sou o tenente Andrew Collins.
— Bom dia, tenente. Pode me chamar de . — foi cordial.
— Seja bem-vinda, . — ele sorriu. Ela havia dito .
— Obrigada. — ela sorriu.
— Tenho de lhe apresentar meu melhor sargento, . — ele sorriu e parecia procurar por alguém. — Oras, cadê o Wells?
Wells havia virado sargento. Ótimo.
— Deve ter acontecido algum imprevisto, senhor Collins. — ela tentou disfarçar um sorriso. — Teremos muito tempo para apresentações.
— Claro, claro…
O tenente a levou até a sala na qual trabalharia dali em diante. Depois, a levou até a sala de casos e lá ela poderia ter acesso a todos os casos daquela delegacia em 50 anos. Ela analisava cada um atenciosamente, entretanto, havia um caso em especial que ela estava nervosa em checar. A caixa do caso do homicídio Wells estava quase que chamando por ela. Em Miami, trabalhou em uma delegacia parecida com a de Leon. Antes de se dedicar ao caso de sua melhor amiga, ela certamente teria que organizar bastante coisa. E certamente eles precisariam de um orçamento para aquilo.
•
decidira que iria almoçar em algum restaurante próximo quando deparou-se com a senhora mais teimosa do mundo — conhecida por Katherine Bennett — adentrando a sala de arquivos.
— Mãe? — ela se assustou.
— Vim trazer seu almoço, querida. — ela sorriu. — Emily também está aqui. Veio trazer o almoço de .
— Então a senhora está imitando a senhora Wells? — ela brincou.
— Claro que não, querida! — a mulher riu. — Só Deus sabe o quanto eu esperei para fazer isso.
— Tudo bem, mãe. — ela deu risada. Em pouco tempo, Emily Wells apareceu na sala de arquivos. Céus, onde estava o decoro dessas senhoras cristãs que desrespeitam a lei?
— ! — Emily lhe deu um abraço caloroso. — Que saudades, querida!
— Senhora Wells! — a abraçou. Sentia falta dos Wells. De todos eles.
As duas senhorinhas que ali estavam começaram a conversar animadamente como se estivessem numa cafeteria próxima, quando interviu.
— Por que vocês não jantam lá em casa hoje?
— Ah, querida. Seria um prazer. — Emily sorriu. — Levarei torta de amora, sua favorita.
— Senhora Wells, eu te amo! — sorriu.
— Mamãe, a senhora poderia passar meu endereço para senhora Wells depois? Agora preciso trabalhar.
— Claro, minha filha. Vamos, Emily. Tome um chá lá em casa! — Katherine puxou a amiga e sorriu. Tallahassee jamais mudaria.
Depois do fim do almoço, decidiu enviar à administração o orçamento que precisava para fazer as mudanças naquele lugar arcaico em que decidiu trabalhar. Antes mesmo do fim do expediente, que era às 17h, ela recebeu a resposta: orçamento negado. Talvez, se tivesse apoio do resto dos policiais, o pessoal poderia aprová-lo.
— Tenente Collins? — apareceu em sua sala.
— Sim, capitã Bennett? No que posso ajudar? — ele foi solícito.
— Eu enviei hoje à tarde um orçamento para a administração. — começou a explicar ao homem. — Existem mudanças que precisam ser feitas, como a atualização da base de dados com os arquivos daquela sala, organização dos escaninhos dos policiais, mudança no sistema de segurança…
— Capitã Bennett, essas mudanças não são necessárias. — ele a respondeu, educado. — Além disso, nosso sistema de segurança é ótimo.
— Eu consegui acessar a base de dados, sem o senhor me dar a senha. — ela o respondeu um pouco irritada. — A senha delegaciadetallahassee não é forte. Além disso, o algoritmo do programa é fácil de quebrar.
— A senhorita também é hacker? — ela riu, debochada, com a pergunta.
— Não, senhor. Eu sou só eficiente. — Andrew Collins fez careta, mulheres não deveriam saber aquilo, muito menos ser capitãs — Aliás, eu vou precisar de um sargento para me ajudar com a análise dos casos. Preciso do seu melhor.
— Mandarei entrar em contato com você. — ele disse e ela sabia que ele havia sido maldoso. Todos naquela cidade sabiam dela e . — Agora preciso que saia, capitã Bennett. Tenho uma reunião com a minha equipe de combate às drogas.
— À vontade, senhor Andrews. — ela sorriu, debochada. — Depois que a reunião acabar, peço que dê uma olhada na hierarquia judiciária. Ainda sou sua superior e espero que o senhor tenha um mínimo de decoro.
•
O jantar estava marcado para às sete e tinha que colocar a mão na massa — literalmente. A capitã da polícia decidiu que fazer uma massa de macarrão era um bom jantar para iniciar sua volta a Tallahassee. Todos chegariam em breve e ela ainda precisava decidir o que vestiria após uma ducha rápida. Céus, ela odiava ter horários. A mesa de cinco lugares estava posta e ela estava pronta quando ela ouviu a campainha tocar. Então era isso que significava ser adulto.
— Querida! — Anthony sorriu ao ver a primogênita.
— Oi, pai! Oi, gente! — ela sorriu. — Podem entrar. Sejam bem-vindos.
Três dos quatro idosos adentraram o apartamento, mas apenas Emily ficou parada.
— Senhora Wells? Está tudo bem? — perguntou, preocupada.
— Não, apenas estou esperando, . Ele estava procurando uma vaga lá embaixo. — a senhora olhou para o elevador do prédio. — Ah! Aí está ele, venha, querido. É feio deixar as pessoas esperando.
— Desculpe, mamãe. — ouviu a voz de no corredor e congelou. Sentia tudo aquilo de novo — felicidade, conforto, segurança e paz — em sua voz. apareceu por trás da senhorinha e deu um sorriso leve para . — Oi, .
— O-oi, . — ela gaguejou, nervosa. — Seja bem-vindo.
Ainda que tudo aquilo parecesse surreal e ela precisasse correr para o telefone e ligar para Amanda para contar tudo à amiga, conseguiu controlar o desespero.
— Eu fiz macarrão ao molho branco. — disse, dirigindo-se até a cozinha para arrumar a mesa para seis. — Eu não sabia que você vinha… Eu sei que você não gosta de molho branco, mas ainda tem macarrão na panela e eu faço um molho pesto rapidinho para você. — ela disse tão rápido que arrancou uma risada de .
— Eu te ajudo, então. — ela sorriu pela primeira vez na noite. — Não quero te dar trabalho.
As senhoras cochichavam em animação. Os senhores, além de rir, dirigiram-se até a sala de estar para ver o jogo que passava.
não tinha coragem de encarar nos olhos, sentia-se uma covarde. Ele não havia mudado nada. Absolutamente nada. Seus cabelos castanhos claro ainda estavam levemente encaracolados e ainda usava o mesmo perfume amadeirado. Ele usava uma blusa de manga comprida e uns jeans escuros. Exatamente como se vestiria 23 anos atrás.
Is it a sane desire?
Is it insane to try?
We let this runaway train catch fire (I don't care)
I don't care, all I want is you
— Como foi em Miami? — ele quebrou o silêncio.
— No começo foi assustador. Passar pela fase de ser caloura é estranho, mas depois que você vira veterana todo mundo esquece de você. — mas eles não esqueceram dela, caloura que havia perdido o bebê.
— Teria te desejado boa sorte, se você ao menos tivesse dito que estava indo para faculdade. — ele fez o comentário ácido e ela se encolheu.
— Esse não é um tema adequado para um jantar de família, não é?
— Deveria ser… — não desviava o olhar para a bancada da cozinha. — Foi ele que nos impediu de formar uma.
Ouvir aquilo foi quase que um soco no estômago de , mas ela tentou engolir o choro. Antes que pudesse se controlar, deixou uma única lágrima cair e fungou.
— Você está chorando, querida? — Anthony apareceu na cozinha para buscar uma cerveja.
— Não, papai. — ela deu um sorriso murcho. — Estou cortando cebola.
— Ah, claro! — ele sorriu e passou a mão no ombro de . O sargento sabia que ela estava chorando. Assim que Anthony saiu, os dois voltaram para o silêncio inicial, mas fez questão de quebrá-lo.
— Acho que precisamos conversar. — ele disse, sério. — Não quero que nossos encontros sejam assim. O que temos é especial, .
Ele havia dito temos. No presente. E ainda eram um nós. Certo, , voltar para essa cidade lhe exigiu coragem, não há nada mal em enfrentar seu segundo maior medo: o homem que sempre amou.
We can try to stop this bruising, we can be like novacaine
There's a high we keep on choosing, we don't wanna change it
Everybody calls us foolish, they don't know how foolish tastes
Every time we try to fight it, we just end up wasted
Wasted on each other
Wasted on each other
Ela concordou com a cabeça e ficaram em silêncio.
— Você aceita almoçar comigo amanhã? — ela pediu. — Provavelmente trabalharemos juntos mesmo.
— Por quê?
— O tenente Collins disse que você seria o recrutado para trabalhar comigo. — ela fez careta. — Ele é um idiota e acha que é meu superior e…
— Dono da delegacia, é, eu sei. Mas é apenas um tenente. — ele a completou, arrancando um risinho baixo.
— Eu vou reabrir o caso de Sarah. — ela disse séria e a encarou.
— Conte comigo para o que precisar. — ele colocou as mãos no bolso e se encolheu ao lado dela.
Na hora da janta, Emily e Katherine sugeriram uma reza para agradecer a Deus por toda aquela refeição e pela vida deles. Durante as preces, se sentiu observada e quando abriu os olhos, viu um a encarando com olhos curiosos. O sargento rapidamente os fechou e deu um sorriso sapeca. Era como se ainda fossem adolescentes. Eles ainda se amavam. Tallahassee ainda a assustava. Lembrar do passado doía, mas era preciso. E eles enfrentariam aquilo tudo juntos.
•
Devido a algumas — muitas — taças de vinho branco tomadas durante o telefonema com Amanda, quase se atrasou para o trabalho. Com um copo grande de café e um péssimo humor, dava o primeiro passo para a organização da sala de casos. Embora o pessoal da contabilidade tenha negado seu orçamento, daria um jeito de consegui-lo.
— Bom dia, quem é o responsável pela administração da contabilidade? — a capitã foi educada.
— Bom dia, capitã Bennett. — a mulher sorriu para . — Nós não temos um responsável. Só eu trabalho aqui.
— E quem assina os gastos feitos pela delegacia, senhorita…? — ela sugeriu que a funcionária se apresentasse.
— Sou Daphne Mitchell. — ela deu um sorriso gentil. — Quem aprova os orçamentos é o tenente Collins. Eu apenas anoto os gastos e ele julga se são necessários.
— Senhorita Mitchell, você fez faculdade de Ciências Contábeis? — a perguntou, furiosa.
— Sim. — ela disse, nervosa. — Por quê?
— Você é, a partir desse minuto, a responsável pelo departamento de contabilidade da delegacia. — disse. — Preciso que envie seu currículo para o meu e-mail para que eu possa enviá-lo ao comissário para que você seja efetivada. Licença.
A capitã da polícia de Tallahassee dirigiu-se até a sala do tenente, mas esbarrou com no corredor. A última vez que ele a vira com as narinas abertas e prendendo a respiração, havia colado chiclete no cabelo de Nancy Kendrick por ter implicado com Sarah.
— ? ? — ele tentou chamá-la, mas teve que parar em sua frente para que ela prestasse atenção nele. — Bennett.
— Não me chame assim novamente. — ela finalmente soltou o ar que prendia.
— O que aconteceu? — ele a perguntou, confuso. — Por que tanta raiva?
— Eu não posso falar agora, eu tenho um tenente para punir. — ela tentou passar, mas a segurou.
— Você vai punir o tenente Collins? Está maluca? — ele a soltou. — Ele vai acabar com a raça dos sargentos.
— Ele está exercendo funções que não cabem, de fato, a ele. — ela o respondeu. — Eu até mesmo chequei se ele tinha diploma em administração, mas a única coisa que ele tem no currículo é que ele trabalhou na loja de ferramentas do senhor Gordon. Isso é contra a lei.
— Você tem certeza? — ele a questionou. — Ele não gosta muito de receber ordens.
— Eu não ligo para isso, . Eu sou responsável pela ordem da delegacia do condado. — ela o relembrou. Parecia que muitos homens tinham o costume de esquecer.
— Tudo bem, se incomoda se eu for com você? — ela o questionou.
— De modo algum. — a capitã marchou para fora do caminho de e ele deu a volta para segui-la.
Como Collins era o único tenente daquela delegacia, sua sala era bastante privilegiada, pois era apenas para ele.
— Tenente Collins? — ela o chamou.
— Sim, Capitã Bennett. — ele se levantou quando ela entrou. — No que posso ajudar?
— Pode, primeiramente, me explicar porque o senhor estava sendo o responsável pela contabilidade da delegacia. — ela disse rígida e a cutucou discretamente.
— Não tínhamos mais alguém para fazê-lo. — ele respondeu com prepotência.
— E o senhor é alguém habilitado para tal tarefa? — ela indagou.
— Pode ver pelas estruturas dessa delegacia, Capitã. — ele disse como se realmente orgulhoso de seu — horroroso — trabalho.
— O que vejo é uma delegacia arcaica, tenente Collins. E eu mudarei isso. — ela disse por fim. — Além disso, o senhor agora está afastado do departamento de homicídios da delegacia, seu trabalho será resguardado para o trabalho de SCG.
— Você está colocando um tenente para tomar conta da rua de uma escola? — ele aumentou o tom.
— Tenente, eu não gostaria de incomodar o assunto de vocês, mas não acredito que seja favorável ao senhor dirigir-se à capitã assim. — interviu e sorriu internamente. — Ela pode afastar o senhor dos homicídios de vez.
— De fato, e senhor não quer isso, não é mesmo, tenente? — ela perguntou, vitoriosa. — Como um ótimo policial, o senhor estaria prevenindo acidentes que acometeriam o futuro da nossa nação.
— Sim, Capitã Bennett. — ele deu um sorriso falso. — Me provarei útil à nação.
— Claro, muito obrigada, tenente. — sorriu e saiu da sala, acompanhada por .
•
Put your hands up!
We've both got people tryna creep in, policing
Since when was this thing so indecent?
Stop acting like everything's understood
I know you miss me too
estava enfurnada na sala de casos desde o imprevisto com o tenente Collins e tudo parecia dar errado. Ela não queria ter problemas em seu trabalho, gostaria de ter uma equipe que pudesse confiar. Mas Andrew Collins passava tudo, menos confiança.
— Licença, eu achei que uns donuts fariam seu dia melhor. — entrou na sala e puxou uma cadeira para sentar-se ao lado de . — Eu espero que eles funcionem como funcionavam. Eu também trouxe café.
— Eles funcionam, mas não são ideais para uma mulher de quase quarenta anos, . — ela riu e abriu a caixa.
— Você corre todas as manhãs, não serão donuts que te levarão à morte. — ele comentou.
— Você está me vigiando? — ela perguntou, assustada.
— Eu também corro… — ele riu. — E eu te vi ontem pela manhã.
— Vou acreditar na sua palavra, sargento. — ela sorriu.
— Você já chegou a investigar o caso? — ele encarou a caixa que continha seu sobrenome.
— Não. — ela engoliu em seco. — Tenho medo do que vou encontrar, na verdade. Ao mesmo tempo que eu quero muito abrir e ler tudo, eu não quero ler tudo e lembrar daquela cena.
— Eu tenho acesso a essa sala há 15 anos… — ele deu um sorriso fraco. — Já peguei vários casos antigos e novos, mas nunca cogitei abrir a caixa. Nem por curiosidade.
— O assassinato da Sarah tirou um pedaço de nós. — foi tudo que conseguiu dizer naquela situação. — Acho que quando saí do funeral dela eu realmente percebi que metade de mim havia ido embora. E de uma forma tão ruim… Eu só queria apagar tudo que vi.
— Você acredita que a cada homem que prendo eu tento olhar bastante nos olhos como se ele fosse confessar o crime? — ele riu com escárnio.
— Em 2013, em Miami, eu recebi um caso que foi tão parecido com o da Sarah que eu perdi todos os meus eixos. — ela contou. — Eu tentei fazer ligações que não existiam, mas no fim o culpado nunca nem esteve em Tallahassee. E sim, eu fiz questão de traçar cada momento da vida dele.
— Você é a rajada de ar novo que essa delegacia precisa, Bennett. — ele brincou, chamando-a pelo sobrenome.
— Você é um ridículo, ainda bem que eu preferia sua irmã a você. — ela deu risada.
— Eu também prefiro. — ele confessou, arrancando uma risada dela. — Mas não entendo o problema com seu sobrenome.
— Você lembra do filho do primo do meu pai? — ela o perguntou e ele a respondeu em afirmativa. — Quando éramos bem novinhos, ele fazia besteiras e botava a culpa na . Como a enteada do pai dele também se chamava , ele me chamava de Bennett. E eu ficava de castigo todas as vezes.
Aquela confissão havia arrancado gargalhadas de .
— , você tem quase quarenta anos. Repito: quase quarenta.
— E Bennett é algo que ainda me incomoda, Sargento Wells. — ela terminou o terceiro donut e limpou os dedos. — Vamos trabalhar.
— Seu pedido é uma ordem, capitã. — ele sorriu.
— Isso, na verdade, foi realmente uma ordem.
— Você é uma capitã muito chata, Bennett.
Com uma resposta bem negativa por parte de — um belo dedo do meio —, ela e começaram a organizar os casos em ordem alfabética, seção e separaram em outro canto os casos arquivados. Quase três horas depois, a grande sala de casos estava, no mínimo, organizada. E os policiais? Famintos.
Embora estivessem bastante ansiosos pelo almoço que estava por vir, ambos tentaram agir com naturalidade. Ainda que e tentassem abdicar da velha e boa comunicação, eles não conseguiam guardar para si seus pensamentos. E aquilo os lembrava Sarah, a menina falante que fora brutalmente assassinada aos 17 anos. Era como se eles, agora, tivessem um quê de Sarah Wells.
We can try to stop this bruising, we can be like novacaine
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Everybody calls us foolish, they don't know how foolish tastes
Every time we try to fight it, we just end up wasted
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— Onde vamos almoçar? — ela perguntou e ele sorriu. Levaria ela para seu lugar favorito: Marissa's.
— Marissa's. — ele disse compenetrado no caminho.
— Meu Deus! Faz literalmente anos que não vou lá. Ainda não tive a oportunidade de voltar lá.
— Está tendo hoje. — ele sorriu.
— É um ótimo lugar para conversar. — ela sorriu fraco e atravessou a rua.
Marissa, a dona da lanchonete, quase chorou quando encontrou com novamente. A conhecera quando era bastante nova e aquele era um de seus lugares favoritos no condado. Era ótimo reviver a parte boa do passado, mas as memórias ainda assombravam os dois.
— Hambúrguer, milkshake e batata frita. — ela sorriu, encantada, quando recebeu seu pedido. — Isso é quase que um atentado à minha saúde.
— A ocasião pede. — sorriu.
Os dois comeram em silêncio, quando teve a coragem de iniciar o assunto.
— … — começou, nervoso. — Por que você foi embora? Você estava com medo?
— Eu via a Sarah em todos os lugares. — ela engoliu em seco. — Eu via a Sarah se formando conosco, a via na praia, no parque. Especialmente em você, .
— Eu também a vi em mim. — ele confessou. — Eu passei dois anos com os espelhos de casa tampados.
— Eu não queria ficar aqui. Eu tinha pesadelos constantes sobre isso. Eu sentia falta dela. — secou a lágrima que escorria pelo rosto de . — Eu precisava ir embora, por nós.
— Eu passei anos prendendo caras e buscando se tinham algum envolvimento com o assassinato.
— Eu procurava informantes nas cadeias, mas nunca achei nada.
— Eu não queria que você tivesse ido. — ele disse.
— Eu precisava ir, . Precisava viver tudo aquilo, passar por todas aquelas situações sozinha. — foi a vez dela chorar. Relembrar o dia sete de setembro de 1995 ainda não era fácil. Na verdade, nunca seria.
— Não era para você ter passado nada que passou sozinha, . — ele acariciou a bochecha da ex-namorada. — Com quarenta anos eu pensei que você já deveria saber disso.
— Era para ser tudo diferente, . — ela deixou escapar. — Eu deveria ter te procurado. Eu evitei saber de você por vinte e três anos.
— Eu fui atrás de você uma vez. — ele deu um sorrisinho fraco. — Fui na sua formatura.
— Você estava lá? Por que não me procurou?
— A de 25 anos não parecia precisar de mim.
— A de todas as idades sempre precisou de você. — ela confessou. — Até mesmo naquela época.
You built me up and in the same breath you knocked me down
You turn me on and just as quick you might kick me out
Can't find a way to you, lady
So we might as well stay for another night
— Queria que as coisas tivessem sido diferentes para nós. — deu um gole em seu refrigerante. — Queria que tivéssemos formado a nossa família.
Ao ouvir aquilo, o coração de pareceu ser quebrado em mil pedaços.
— Eu estava grávida quando fui para Miami. — ela disse rápido e aquilo o atingiu em cheio. — Eu não sabia.
— V-você abortou? — ele a questionou, quase sem pensar.
— Eu perdi o bebê num dos meus primeiros dias na Universidade de Miami. — ela soluçou baixinho. — Era tarde da noite e um veterano pregou uma peça no alojamento feminino… Ele invadiu o quarto como se quisesse fazer algum mal a nós.
— Meu Deus, … — foi tudo que ele conseguiu dizer.
— Eu fiquei dois dias internada. — ela lembrou. — O médico disse que era estresse pós-traumático, que na época do assassinato da Sarah eu já estava grávida e foi um grande choque para o feto. Não precisava de muito para perdê-lo.
— Os seus pais, eles…
— Não sabiam. — ela completou. — Eu não contei para ninguém, ainda que muitos em Miami soubessem.
Ela lembrou dos comentários maldosos e da dor que sentira. Eles sempre sonharam em formar uma família, e aquilo lhes foi tirado brutalmente. tinha certeza que seria a mãe de seus filhos.
— E quando você engravidou, afinal? — ele perguntou e ela estremeceu.
— Quando ficamos sozinhos na sua casa um tempo antes do assassinato. — disse baixo. — No dia em que a Sarah saiu com aquele garoto estranho da outra escola.
— A gente não usou camisinha... Acho que me lembro. — ele comentou. — Sarah chegou bem na hora dizendo que ele era...
— Assustador e abusado! — gritaram juntos.
— Você acha que... Ele... — ela sentiu o estômago embrulhar.
— Como era mesmo o nome dele? — tentou lembrar.
— Andrew, mas não lembro o sobrenome. — disse e sentiu sua espinha gelar.
— Collins! — a voz de Sarah repetindo que Andrew Collins era assustador e abusado a assombrou.
•
Assim que e entraram na delegacia, apressaram o passo para ir até a sala dos casos arquivados. Estavam, ainda, chocados com a chance de Andrew Collins ter matado Sarah Wells. A capitã Bennett, no entanto, não sabia se ficava feliz por finalmente encontrar justiça pela melhor amiga ou triste pelo condado de Leon, que poderia estar sendo resguardado por um assassino brutal.
— Temos autorização para levar o caso para casa? — perguntou, receoso.
— Eu tenho. — falou baixo. — Mas é melhor não deixar ninguém saber, caso contrário, se nossas hipóteses se confirmarem... Ele pode tentar fugir.
— Tudo bem. — sussurrou.
O casal analisava os documentos e checava, atentamente, qualquer informação que pudessem ter deixado passar. Abrindo a ficha de informações pessoais, sorriu ao ver uma foto de Sarah. Sentia tanta falta de sua melhor amiga. e recolheram o pedaço da corda na qual Sarah tinha sido enforcada e um pedaço de sua blusa que estava rasgada.
•
Sarah percebeu que o jeito que sua melhor amiga, , olhava seu irmão, , era diferente. Ela olhava para ele como se aquele menino fosse o último pedaço de torta de limão da Sra. Bennett. Era cômico comparar à comida favorita de , mas Sarah percebia a adoração em seus olhos. O fato é: Sarah Wells sempre foi apreciadora de bons romances, exceto os dela. Seu jeito de ver os casais era diferente. Como gostava de dizer, ela conseguia, sim, prever os futuros casais. E via como e seriam um.
— Ah, meu Deus! Você gosta dele. — Sarah disse, animada, quando as duas ficaram juntas sozinhas, pela primeira vez ao dia.
— Do que você está falando? — fingiu estar confusa. Mas, conhecendo Sarah, sabia que não havia escapatória.
— Eu quero ser psicóloga, eu preciso observar bem as pessoas. — a menina riu. — Esse é meu momento.
— Aguarde seu grande dia! — riu. — Não é como se você não tivesse entrado para faculdade.
— Estou tão animada! — ela sorriu. — Nós três na faculdade, ! Juntos.
— Também estou feliz. — ela sorriu. — Ainda que o vá fazer engenharia.
— Ele gosta de construir coisas, assim como você gosta de leis. — ela defendeu o irmão. — Assim como eu quero ajudar as pessoas no futuro. Quem sabe, ser terapeuta de casais?
— Acho demais... — riu.
— Falhei na minha missão de fazer você admitir que gosta de . Mas eu sei que no fundo você gosta. Olha para ele como olha para torta de limão da sra. Bennett.
— Você está delirando, Sarah Wells.
Acontece que ela não estava. E, para perceber isso, demorou mais um pouco.
•
Parece que ela e tinham o mesmo timing, pois decidiram se declarar na mesma noite.
— O que você acha de irmos a festa no lago hoje, ? — ele a perguntou.
— Acho legal. Sarah vai adorar saber que vamos.
— Hm.. É que eu pensei de irmos sozinhos. — coçou a cabeça, um pouco nervoso.
— Como num encontro? — disparou.
— Isso! Como um encontro. — ele sorriu.
— Ok, então. — sorriu. — Espero você às 20h.
A festa no lago era bastante conhecida pelos adolescentes de Tallahassee. Com muita bebida, droga e música alta, eles literalmente faziam a festa. Sarah Wells, é claro, estaria por lá, e isso se aplicava ao resto do trio. Mas, naquela noite, todos perceberam o que estava acontecendo: e chegaram juntos e grande parte da escola se assustou. Não era comum que eles andassem sem Sarah.
Tempo depois, acostumaram-se com a ideia e pararam de encarar. Os dois estavam sentados num tronco um pouco afastado dos outros alunos do colégio.
— É estranho todo mundo olhar. — sussurrou para .
— Se percebessem o quão bonita você é, deveriam mesmo. — sorriu e acariciou a bochecha da melhor amiga.
— Obrigada, . — ela sorriu timidamente. — Você também é muito lindo.
sorriu e juntou suas mãos. se aproximou do garoto e deitou sua cabeça em seu ombro. Os dois se sentiam em paz, mas as borboletas no estômago estavam presentes. costumava senti-las ao estar perto de . Tinha medo de fazer algo errado e não ter interesse nele, mas mal sabia o futuro sargento, que ela já havia caído por ele também.
— ? — ele chamou a menina. Bennett ajeitou sua postura e se virou para ele. Esperava que ele continuasse, e ele o fez. — Eu gosto muito de você, . E não só como melhor amiga. Quer dizer, é claro que você é uma ótima amiga e a melhor de todas, mas…
Antes que pudesse terminar a frase, impediu o menino de falar, beijando-o. Aquele foi o primeiro de muitos e, definitivamente, o inesquecível.
— Acontece, Wells… — ela o deu um sorriso sapeca. — Que eu também gosto muito de você.
•
Os dois estavam extremamente nervosos ao levarem o material para ser testado no laboratório da polícia. Essa era a grande verdade. Sarah era a parte mais especial dos dois, eles sabiam. E desde o dia em que sua vida foi tirada brutalmente, e juraram que iam resolver seu caso, mesmo sem saber o que o destino reservara para os dois.
— Será que vocês podem esperar lá fora? — a analista que comparava as amostras resmungou. — Vocês estão me deixando agoniada.
— Nós não estamos fazendo nada. — resmungou.
— Você não para de clicar na caneta e ela não para de tremer a perna. — ela os acusou. — Para fora do meu laboratório.
— Mas eu sou capitã. — resmungou. — E quero acompanhar a análise desse caso de perto.
— Capitã… — a analista encarou a identificação de . — Bennett. Se o papa estivesse atrapalhando meu trabalho eu também o expulsaria. Para. Fora.
— Vamos, . — nem mesmo tentou lutar, pois tinha medo de mulheres bravas, e aquela analista era uma delas.
Os dois estavam conversando baixo e privadamente quando a analista saiu da sala, quinze minutos depois, com os resultados. e quase não respiravam de tanta ansiedade. Apesar de estarem esperançosos, sabiam que não deveriam alimentar um possível sentimento falso.
— O DNA bate. — a analista falou. — O documento de confirmação ficará pronto a qualquer instante.
Quando o casal ouvira aquela frase, pareciam que iam desmaiar. sentiu uma onda elétrica por todo seu corpo e se sentiu enjoado. Ele estava verde e sua pressão havia caído com a notícia.
— , nós achamos. — deu um pulo.
— Ele matou minha irmã. — foi tudo que o sargento pôde dizer. Ele não se sentia bem. — Andrew Collins matou minha irmã.
Naquele momento, apesar de a vida de Sarah ter sido tirada anos atrás, sentiu a dor de perdê-la. Na verdade, nunca deixara de sentir. Sarah Wells era sua cara metade e sua melhor amiga. sentiu o estômago embrulhar e teve o reflexo de pegar a lixeira ao lado do banco para que ele pudesse liberar todo o ácido que tinha em seu estômago.
— Preciso que você se acalme. — se abaixou e encarou o policial. — Nós vamos levar o documento até o primeiro juiz que aparecer para que ele decrete ordem de prisão. Quando isso acontecer, nenhum advogado poderá defender o DNA do Andrew na corda.
— Eu estou calmo. Mas ele matou minha irmã. — ele sibilou.
— Sargento Wells, eu estou ordenando que se acalme. — Bennett falou como capitã. Aos poucos, foi superando o choque e sentia seu corpo vibrar cada vez mais.
No momento em que descobrira que sua melhor amiga havia sido brutalmente assassinada, todo seu mundo desabou. Não havia nada que a segurasse naquele lugar além de , mas ela também o perdeu. Anos atrás, a capitã havia fugido de Tallahassee para não lidar com o assassinato de Sarah. Naquele momento, estava prestes a prender quem havia marcado a filha dos Wells. E ela não poderia se sentir mais feliz com isso.
— Aqui está. — a analista entregou o envelope a . O sargento lhe deu um sorriso torto e puxou para fora daquele lugar.
Os dois se dirigiram até o tribunal de justiça de Tallahassee para um juiz decretar a prisão de Collins. A capitã ajeitou seu uniforme e o sargento fez o mesmo.
— Boa tarde, sou a capitã Bennett. — se apresentou. — A juíza Williams está? Estamos precisando de uma ordem de prisão.
— Boa tarde, capitã. — a recepcionista sorriu para . — A juíza Williams não está aqui hoje.
— Existe algum outro juiz responsável que possa fazer isso por ela? — questionou.
— Não, eu sinto muito. — a menina falou. — Mas eu posso marcar vocês para a primeira reunião do dia de amanhã. Serve?
— Sim, serve. — disse, frustrada.
Os dois se retiraram da suprema corte e voltaram para delegacia. O tenente Collins estava bastante atento nos dois conversando. Desde que e voltaram à delegacia, tiveram que retomar os trabalhos para que Andrew não desconfiasse.
— Sargento Wells? — o tenente chamou . — Em minha sala, por favor.
encarou Bennett como se ela fosse impedir que ele fosse, mas a capitã apenas encarou Andrew Collins com toda paciência que guardava, mesmo que pouca. Desse modo, o sargento teve que sucumbir às ordens do tenente e seguiu Collins até seu escritório.
— Sim, senhor? — questionou o motivo de estar ali.
— Gostaria de saber o que está acontecendo entre você e a capitã Bennett.
— Nada, senhor. Somos só amigos de infância. — engoliu em seco.
— Vocês não foderam no passado? Eu lembro bem.
O corpo de ferveu de ódio. Ele queria tanto pular aquela mesa e enforcar aquele homem, mas, infelizmente, manteve a postura.
— Acredito que não deveríamos falar assim da capitã. É uma falta de respeito e ela é nossa superior.
— Ela não é minha superior. — Andrew desdenhou. — Ela deve ter dado para qualquer um para se tornar capitã.
Antes que pudesse fazer algo, ele decidiu sair daquela sala o mais rápido possível. Ele odiava Andrew Collins com todas suas forças. Ele era um assassino de merda. Ainda que pudesse receber uma punição por ter desrespeitado um tenente — alguém superior a ele —, não poderia se importar menos.
— ? — apareceu no corredor. — O que houve?
— Eu vou para casa. — ele disse, sério. — Volto amanhã cedo.
— … Ele fez alguma coisa?
— Eu só queria esmagar aquela garganta, . E se eu continuasse naquela sala, Deus me perdoe, mas eu o mataria! — ele sussurrou.
— Se ele morrer, não pagará por ela. — Sarah disse baixinho. — Vá para casa e se acalme.
— Tudo bem. — o policial suspirou.
Os dois se despediram e foi para sua casa. , como sempre, era a última a sair da delegacia. Ficava analisando outros casos, organizando o sistema e tentava checar as metas da delegacia. Quando deu por si, estava mais tarde do que pensava, então a capitã organizou suas coisas e foi até sua casa.
O caminho até seu apartamento não lhe custou muito tempo, até porque ela tinha escolhido um lugar que ficasse entre seu trabalho e a casa dos seus pais. sentia que aquela seria mais uma noite que passaria acordada pensando em Sarah. A capitã rapidamente abriu sua porta e assim que ia fechar, sentiu a respiração de alguém em sua nuca.
— Boa noite, capitã Bennett. — ouviu Andrew Collins falar. — Preparada para encontrar sua melhor amiga no inferno?
E, antes que a capitã pudesse esboçar alguma defesa, Andrew Collins colocou um pano com álcool em seu nariz, deixando-a zonza. Aos poucos, perdia a consciência e conforme isso acontecia, sentia que jamais veria a justiça por Sarah Wells acontecer.
•
Já era a terceira vez que tentava falar com e a capitã não atendia. Sua mente não parava por um segundo e, debater com ela o plano de colocar Collins na cadeia ocuparia sua mente e o privaria de cometer um homicídio. A juíza só expediria o mandado de prisão de Andrew na manhã seguinte e não parecia estar nem um pouco interessada.
Assim que serviu um copo de whisky para si, seu telefone tocou. Era sua mãe. Talvez ele não estivesse bem para falar com ele, mas ignorar a matriarca dos Wells parecia quase que um crime bem sério.
— Querido, tudo bem? — sua mãe perguntou assim que ele atendeu o celular. — Já jantou?
— Oi, mãe. — ele sorriu fraco. Reviver a ferida de sua irmã doeria mais em seus pais do que nele, certamente. Mas ele não conseguia dormir em paz enquanto o assassino de Sarah não fosse preso. — Já jantei sim. E você?
— Estou bem também, querido. Estou ligando para saber se está com você. — ela foi sincera. — Katherine me ligou e disse que ia encontrá-la hoje, mas não apareceu.
— Hoje foi um dia ruim no trabalho, mãe… Ela deve estar na delegacia. — ele massageou as têmporas.
— A recepcionista disse que ela saiu faz três horas. — sua mãe o informou. rapidamente levantou da poltrona em que estava sentado.
— Como assim?
— É, meu filho. Devemos nos preocupar?
— Não, mãe. Vou tentar contato, assim que tiver notícias eu ligo para senhora Bennett.
•
Enquanto tentava encontrar qualquer informação sobre , também percebeu que Andrew não estava em lugar nenhum. A ideia de ele estar com ela fez com o que o coração do sargento parasse por um segundo. Há vinte anos atrás, Collins havia tirado a vida da pessoa mais importante de sua vida e agora poderia fazer de novo.
— Pensa, pensa, pensa. — ele forte bateu na cabeça.
— , o que você está fazendo aqui? — Ellie, uma das detetives da delegacia apareceu.
— Ellie, preciso rastrear um carro.
— Você sabe a placa? — ela perguntou e o puxou para sua mesa.
Em pouco tempo, Ellie conseguiu rastrear o carro de Andrew Collins. Estava em uma área um pouco deserta em Tallahassee, perto de uma área florestal. Conhecia aquele lugar porque ele e Sarah costumavam brincar num celeiro abandonado que tinha por perto.
— Ellie, obrigado. Por favor, mande viaturas para o local.
— O que está acontecendo, ? — ela perguntou, assustada.
— O tenente Collins vai tentar matar a capitã Bennett.
— O quê? — ela arregalou os olhos.
— Ele matou minha irmã. — ele engoliu em seco. — E vai matar .
Num intervalo de poucos minutos, três viaturas estavam a caminho do endereço que encontraram o carro. O sargento Wells estava mais nervoso que tudo, parecia estar vivendo a sensação de perder alguém cenicamente e se culpava por aquilo. Como podiam ter pensado que Collins não imaginaria que e ele se juntariam para resolver o caso Wells?
Todos sabiam que e haviam entrado na polícia para descobrir quem havia matado sua irmã e melhor amiga. Era óbvio para todos do condado. E lá estava , falhando mais uma vez com quem amava e com quem havia jurado proteger — mesmo que não soubesse.
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Assim que organizou os policiais ao redor do celeiro e coordenou a operação. Os policiais estavam posicionados para invadir o local assim que o sargento desse o sinal, mas ele tinha medo que algo acontecesse com . Calmamente, ele procurou por uma brecha na estrutura de madeira para que pudesse ver o que estava acontecendo lá dentro e encontrou mais uma cena assustadora. estava com uma corda no pescoço e estava desacordada. Ele podia ver sangue em todas as partes do seu corpo, mas acreditava — e torcia mais que tudo — que ela não estava morta. A capitã estava desacordada enquanto Andrew Collins estava se preparando para pregar o gancho no teto. Aquela era a hora de agir.
— Ellie. — o homem sussurrou. Fez sinal para que a policial o seguisse com os homens para adentrar o local.
E a equipe fez exatamente o que ele ordenou. Collins, ao ouvir o estrondo, correu para pegar sua arma, mas foi ligeiro e atirou em seu braço para que ele não pudesse fazer nada. Ellie rapidamente correu até o homem e o algemou.
— Andrew Collins, você está preso em flagrante por tentativa de homicídio. — a policial disse. — Você tem o direito de permanecer calado e tudo que você disser será usado contra você no tribunal.
, honestamente, nem pensou em mais Collins assim que a policial do turno da noite o algemou. O sargento rapidamente correu até Bennett e cenas passadas vieram à sua cabeça. Sarah com a corda em seu pescoço, a poça de sangue debaixo de seu corpo. Collins teve a minuciosidade de usar o mesmo tipo de corda que usou em sua irmã.
— Sargento, você vai cortar sua mão. — um detetive apareceu ao seu lado. No fundo, podia ouvir o som da ambulância se aproximando.
— Não me importo. — disse tentando desatar o nó ao redor do pescoço de .
Quando os cacos já haviam cortado grande parte de sua mão, ele parou e percebeu que não havia tido êxito nenhum. Vê-la naquela situação a remetia ao corpo sem vida de Sarah em seu quarto. A cena havia causado um grande gatilho nele.
— . — Ellie o chamou. — Pare agora.
Ele nem mesmo lhe deu ouvidos e voltou a missão de tirar a corda do pescoço de sem machucá-la.
— Sargento! — Ellie aumentou seu tom de voz e ele se assustou. — Por favor, se afaste da capitã Bennett que eu vou cortar a corda de seu pescoço.
assimilou as palavras e se afastou. Suas mãos pingavam sangue, mas ele nem se importava. Nem mesmo sentia. Ellie fez o que havia dito que faria e no segundo que o fez, se aproximou de . Suas mãos tremiam ao pegá-la no colo. ouviu as sirenes se aproximando e correu para fora daquele lugar. parecia estar perdendo sua vida aos poucos, deixando-o mais desesperado do que estava.
— … — ele ouviu sua voz baixa.
— , por favor, não fale nada. — ele sentiu sua voz embargar. — A ambulância está chegando.
— E-ele está vivo? — foi tudo que ela perguntou.
— Sim, . — ele a respondeu. — O assassino de Sarah foi preso.
•
Dois meses após a prisão de Andrew Collins, o dia de seu julgamento havia chegado. Após diversas análises psiquiátricas e psicológicas, foi constatado um grau de psicopatia, mas aquilo não anulava o julgamento. A juíza responsável pelo caso havia acabado de voltar da pausa e toda família Wells-Bennett estava ansiosa por justiça.
— Depois de todas as defesas e acusações apresentadas, declaro o réu culpado. O Sr. Collins foi condenado por homicídio qualificado por emprego de asfixia, e esfaqueamento, métodos considerados extremamente cruéis pelo estado da Flórida.
Assim que ouviu o veredicto, precisou sair do tribunal, pois sentia que seu estômago sairia de seu corpo. Quando chegou perto dos banheiros, adentrou rapidamente e despejou todo líquido ácido que tinha ali dentro. Em segundos, a porta foi aberta e ela sabia que era .
— Vai ficar tudo bem, . — ele se aproximou. — Acabou.
— Eu estou tão aliviada, . — ela confessou. — Esperei anos por este momento.
— Eu também. — ele a observou se limpar. — Vamos logo, seus pais devem estar preocupados.
Os dois policiais saíram do banheiro e encontraram com seus pais à espera deles. abraçou seus pais e fez o mesmo com os seus. Os senhores Wells tinham o rosto inchado pelo choro, assim como e .
— Espero que esse seja nosso recomeço. — Katherine falou e apertou a mão de Anthony.
— Será. — Emily Wells deu um leve sorriso.
Enquanto isso, pegou a mão de e pela primeira vez em vinte anos, se sentiu em paz. sorriu para o melhor amigo e eles deram o primeiro passo do recomeço. Juntos. Como deveria ter sido anos atrás.
— Espera. — fez com que os seis parassem. — Eu preciso falar uma coisa.
— Fale, filho. — Nicolas disse ao filho.
— … Eu amo você. — ele deixou seu coração comandar sua fala. — Não me vejo sem você e desde novo sabia que você seria meu futuro. Você é meu futuro, preciso de você comigo. Por favor, não saia da cidade. Ou, ao menos, queira que eu saia da cidade com você.
— … — os olhos dela encheram de lágrima.
— Você é a mulher da minha vida, capitã Bennett. — ele sorriu. — Não desista de nós.
— Não vou desistir de nós, . — ela o abraçou. — Não vou mais brigar com meus sentimentos.
— Não? — o sorriso do policial se estendeu. — Então você vai ficar?
— Vou para onde você for. — ela se aproximou de e colou seus rostos. — Eu te amo, Wells.
— Eu também te amo, Bennett.
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Wasted on each other
Aos 15, e começaram a namorar por um empurrãozinho de Sarah. Ela conseguia ver que, desde os treze anos, eles se gostavam. até dava o último pedaço da torta de limão de sua mãe para ele! O quão aquilo era injusto? Nem um pouco, Sarah sempre achou graça. Sarah era uma menina doce, simpática e estudiosa. Gostava de ver o sol nascer, acordava bem cedo todos os dias, gostava de rir, sair, jantar com os pais. Mas tudo acabou naquela festa de Halloween. Tudo acabou quando tiraram a vida de Sarah Wells.
Naquele dia, Sarah voltou para casa mais cedo porque disse que havia comido algo que poderia ter feito mal ao seu estômago. e se ofereceram para levá-la em casa, mas a menina alegou que não precisava, afinal Lindsay morava na vizinhança. E as ruas estavam lotadas. Mas de gente mal intencionada.
— Estou tão cansado. — abraçou por trás enquanto entravam na casa dos Wells. Os progenitores dos dois estavam numa reunião da igreja por perto, logo chegariam em casa.
— Eu também. Dançamos muito! — disse, animada. — E eu preciso contar para Sarah que a Janet e o Bruce se beijaram na frente de todo mundo.
— Já sabíamos que isso aconteceria em algum momento.
— Mas eu gosto de alimentar a romântica clássica que existe na sua irmã. — disse, animada, dirigindo-se ao segundo andar da casa.
Bennett abriu a porta do quarto de Sarah para contar-lhe, quando se deparou com a pior cena que poderia pensar em ver em todos seus dezessete anos. Um grito de foi o suficiente para acordar a vizinhança inteira.
Com o rosto desfigurado, o corpo de Sarah estava pendurado no teto e uma poça de sangue se localizava debaixo dela.
Quando chegou no quarto, às pressas, não teve reação. Era como se tivessem arrancado uma metade dele. O que de fato aconteceu. Arrancaram sua metade dele. E dela. Acabaram com uma vida. Um relacionamento. Uma irmandade. Uma família. E Sarah Wells era a ponte de todas essas relações. E sem ela, tudo havia acabado.
— Você acha que estudar aqui foi sua melhor escolha, ?
— Acho. — disse segura de si. — Precisava sair de Tallahassee.
— Eu tentei entrar na faculdade de lá.
— Eu também. Mas escolhi aqui.
— Entendi. Você não gosta de lá, é isso? — Amanda perguntou, hesitante.
— Prefiro não falar disso, tá bem? — pediu e a amiga texana atendeu seu pedido.
Durante muito tempo, Amanda fez seu monólogo e a observava. Ela parecia Sarah. Falava pelos cotovelos, era extremamente simpática e educada. Perto da meia-noite, quando as duas se organizaram para deitar, e Amanda ouviram barulhos. Barulhos esses que as fizeram levantar imediatamente. O silêncio no corredor fez com que os passos pesados fossem o único som audível. O desespero cresceu em e Amanda foi a primeira a reagir, tirando um taco do lado de sua escrivaninha. se sentiu dominada pelo medo. Quem matou Sarah voltaria para matá-la, era isso? Foi isso que sua melhor amiga havia sentido quando viu seu assassino? Tratava-se de um serial killer? Era alguém do condado? Será que ele já havia feito alguma vítima no alojamento? Seria ela a próxima?
Quem tentou adentrar no quarto delas recebeu resistência, pois a porta estava trancada. Em pouco tempo, as duas puderam ouvir o trinco sendo destrancado e um homem grande encapuzado adentrou. A única coisa que Bennett conseguiu fazer naquele momento foi gritar o mais alto que conseguiu. E ela sentiu seu corpo ficar mole. E desmaiou.
Mais tarde naquela madrugada, acordou ouvindo os barulhos das máquinas. Sobrevivera ao ataque do assassino? E Amanda?
— Meu Deus, ! — a texana apareceu prontamente em seu campo de visão. — Você fugiu de Tallahassee porque estava grávida?
— O que aconteceu, Amanda? — a perguntou, confusa. — Quem era aquele que entrou em nosso quarto?
— Era o trote dos calouros. — ela disse baixinho. — Você desmaiou e sangrou, a gente decidiu te trazer para o hospital. O que aconteceu em Tallahassee para você vir para Miami, ?
— Eu estava grávida? — ela perguntou, com a voz embargada. Amanda fez que sim com a cabeça e engoliu em seco. Nunca havia passado por aquilo, mas tentou se colocar no lugar de . — Meu Deus.
— Você não sabia? — ela a perguntou. — Então você não fugiu de Tallahassee? Por que você tem tanto pavor de casa, ?
Antes que pudesse criar coragem para responder Amanda, uma médica adentrou o quarto branco. Deu indicações para que recuperasse sua saúde pós-trauma e disse que ficaria apenas em observação naquela noite.
— Grávida de três meses… — ela falou baixinho e deu uma risada de escárnio. — Na mesma época.
— Do que você está falando? Eu preciso que você seja sincera comigo, . — Amanda a perguntou. Logo depois, a menina arregalou os olhos. — Meu Deus, você é fugitiva da polícia?
— Eu fugi de Tallahassee porque assassinaram minha melhor amiga. — ela engoliu em seco e Amanda se endireitou ao seu lado. Ela não esperava por aquilo. estava de olhos fechados, como se estivesse revivendo o dia trinta de junho. — Eu a encontrei pendurada no teto de seu quarto. Sarah tinha um irmão, . Ele era o pai. A gente encontrou a Sarah naquele quarto. E foi por isso que eu fugi.
— , eu… — Amanda estava perdida. — Eu sinto muito por tudo isso, .
— Ela era minha irmã. O mais próximo que eu cheguei de ter uma irmã. Se dói em mim desse jeito, imagina para ele que perdeu a irmã? — Bennett deixou as lágrimas rolarem. — Eu queria muito ficar e pegar o bastardo que fez aquilo com ela, mas toda vez que eu passava perto dos lugares que íamos meu corpo todo doía. A última vez que eu o vi foi no velório dela. Nenhum dos dois teve coragem de se encontrar. Então eu fugi.
— Tudo bem, você está no seu direito de fazer isso. — Amanda sorriu e apertou a mão da colega de quarto. — Vai dar certo, você vai ver. Você precisa recomeçar. Por vocês duas.
•
Hold onto something, I can feel the floor leaving
We're done with coming up and way past coming down
My body shakes, a part of missing you
I know you miss me too, I know you do
Tallahassee, Flórida. Condado de Leon, 23 anos após o assassinato de Sarah Wells.
Não precisavam contar isso a ela, pois ela soube daquilo no momento em que decidira fazer faculdade a seis horas de distância de Tallahassee. Por muitos anos, prendeu muitos homens. Se envolveu em grandes investigações em Miami, mas sua carreira só estaria aceitável quando prendesse o assassino de sua melhor amiga.
Há 23 anos que ela não tinha notícias de . Se tinha casado, tido filhos… E ela não estava preparada para saber, ainda que tudo em Tallahassee fosse muito fácil de saber. É claro que seus pais contaram aos Wells que ela voltaria e é claro que aquilo se espalharia por todo condado. havia optado por um apartamento perto da casa de seus pais porque, de acordo com Katherine, ela já havia vivido por muito tempo longe dos dois.
Naquela manhã ela se apresentaria na delegacia para começar a analisar os casos e enfrentar o homicídio Wells.
Como esperava, todos estavam aguardando — em fila e extremamente arrumados, devia ressaltar — a nova capitã do condado de Leon. riu mentalmente ao ver o quão arcaica Tallahassee ainda era. Muitas coisas não haviam mudado em 23 anos. E ela sabia que não mudariam.
— Bom dia, capitã Bennett. — o tenente sorriu para ela. Ele era familiar. — Sou o tenente Andrew Collins.
— Bom dia, tenente. Pode me chamar de . — foi cordial.
— Seja bem-vinda, . — ele sorriu. Ela havia dito .
— Obrigada. — ela sorriu.
— Tenho de lhe apresentar meu melhor sargento, . — ele sorriu e parecia procurar por alguém. — Oras, cadê o Wells?
Wells havia virado sargento. Ótimo.
— Deve ter acontecido algum imprevisto, senhor Collins. — ela tentou disfarçar um sorriso. — Teremos muito tempo para apresentações.
— Claro, claro…
O tenente a levou até a sala na qual trabalharia dali em diante. Depois, a levou até a sala de casos e lá ela poderia ter acesso a todos os casos daquela delegacia em 50 anos. Ela analisava cada um atenciosamente, entretanto, havia um caso em especial que ela estava nervosa em checar. A caixa do caso do homicídio Wells estava quase que chamando por ela. Em Miami, trabalhou em uma delegacia parecida com a de Leon. Antes de se dedicar ao caso de sua melhor amiga, ela certamente teria que organizar bastante coisa. E certamente eles precisariam de um orçamento para aquilo.
— Mãe? — ela se assustou.
— Vim trazer seu almoço, querida. — ela sorriu. — Emily também está aqui. Veio trazer o almoço de .
— Então a senhora está imitando a senhora Wells? — ela brincou.
— Claro que não, querida! — a mulher riu. — Só Deus sabe o quanto eu esperei para fazer isso.
— Tudo bem, mãe. — ela deu risada. Em pouco tempo, Emily Wells apareceu na sala de arquivos. Céus, onde estava o decoro dessas senhoras cristãs que desrespeitam a lei?
— ! — Emily lhe deu um abraço caloroso. — Que saudades, querida!
— Senhora Wells! — a abraçou. Sentia falta dos Wells. De todos eles.
As duas senhorinhas que ali estavam começaram a conversar animadamente como se estivessem numa cafeteria próxima, quando interviu.
— Por que vocês não jantam lá em casa hoje?
— Ah, querida. Seria um prazer. — Emily sorriu. — Levarei torta de amora, sua favorita.
— Senhora Wells, eu te amo! — sorriu.
— Mamãe, a senhora poderia passar meu endereço para senhora Wells depois? Agora preciso trabalhar.
— Claro, minha filha. Vamos, Emily. Tome um chá lá em casa! — Katherine puxou a amiga e sorriu. Tallahassee jamais mudaria.
Depois do fim do almoço, decidiu enviar à administração o orçamento que precisava para fazer as mudanças naquele lugar arcaico em que decidiu trabalhar. Antes mesmo do fim do expediente, que era às 17h, ela recebeu a resposta: orçamento negado. Talvez, se tivesse apoio do resto dos policiais, o pessoal poderia aprová-lo.
— Tenente Collins? — apareceu em sua sala.
— Sim, capitã Bennett? No que posso ajudar? — ele foi solícito.
— Eu enviei hoje à tarde um orçamento para a administração. — começou a explicar ao homem. — Existem mudanças que precisam ser feitas, como a atualização da base de dados com os arquivos daquela sala, organização dos escaninhos dos policiais, mudança no sistema de segurança…
— Capitã Bennett, essas mudanças não são necessárias. — ele a respondeu, educado. — Além disso, nosso sistema de segurança é ótimo.
— Eu consegui acessar a base de dados, sem o senhor me dar a senha. — ela o respondeu um pouco irritada. — A senha delegaciadetallahassee não é forte. Além disso, o algoritmo do programa é fácil de quebrar.
— A senhorita também é hacker? — ela riu, debochada, com a pergunta.
— Não, senhor. Eu sou só eficiente. — Andrew Collins fez careta, mulheres não deveriam saber aquilo, muito menos ser capitãs — Aliás, eu vou precisar de um sargento para me ajudar com a análise dos casos. Preciso do seu melhor.
— Mandarei entrar em contato com você. — ele disse e ela sabia que ele havia sido maldoso. Todos naquela cidade sabiam dela e . — Agora preciso que saia, capitã Bennett. Tenho uma reunião com a minha equipe de combate às drogas.
— À vontade, senhor Andrews. — ela sorriu, debochada. — Depois que a reunião acabar, peço que dê uma olhada na hierarquia judiciária. Ainda sou sua superior e espero que o senhor tenha um mínimo de decoro.
— Querida! — Anthony sorriu ao ver a primogênita.
— Oi, pai! Oi, gente! — ela sorriu. — Podem entrar. Sejam bem-vindos.
Três dos quatro idosos adentraram o apartamento, mas apenas Emily ficou parada.
— Senhora Wells? Está tudo bem? — perguntou, preocupada.
— Não, apenas estou esperando, . Ele estava procurando uma vaga lá embaixo. — a senhora olhou para o elevador do prédio. — Ah! Aí está ele, venha, querido. É feio deixar as pessoas esperando.
— Desculpe, mamãe. — ouviu a voz de no corredor e congelou. Sentia tudo aquilo de novo — felicidade, conforto, segurança e paz — em sua voz. apareceu por trás da senhorinha e deu um sorriso leve para . — Oi, .
— O-oi, . — ela gaguejou, nervosa. — Seja bem-vindo.
Ainda que tudo aquilo parecesse surreal e ela precisasse correr para o telefone e ligar para Amanda para contar tudo à amiga, conseguiu controlar o desespero.
— Eu fiz macarrão ao molho branco. — disse, dirigindo-se até a cozinha para arrumar a mesa para seis. — Eu não sabia que você vinha… Eu sei que você não gosta de molho branco, mas ainda tem macarrão na panela e eu faço um molho pesto rapidinho para você. — ela disse tão rápido que arrancou uma risada de .
— Eu te ajudo, então. — ela sorriu pela primeira vez na noite. — Não quero te dar trabalho.
As senhoras cochichavam em animação. Os senhores, além de rir, dirigiram-se até a sala de estar para ver o jogo que passava.
não tinha coragem de encarar nos olhos, sentia-se uma covarde. Ele não havia mudado nada. Absolutamente nada. Seus cabelos castanhos claro ainda estavam levemente encaracolados e ainda usava o mesmo perfume amadeirado. Ele usava uma blusa de manga comprida e uns jeans escuros. Exatamente como se vestiria 23 anos atrás.
Is it insane to try?
We let this runaway train catch fire (I don't care)
I don't care, all I want is you
— No começo foi assustador. Passar pela fase de ser caloura é estranho, mas depois que você vira veterana todo mundo esquece de você. — mas eles não esqueceram dela, caloura que havia perdido o bebê.
— Teria te desejado boa sorte, se você ao menos tivesse dito que estava indo para faculdade. — ele fez o comentário ácido e ela se encolheu.
— Esse não é um tema adequado para um jantar de família, não é?
— Deveria ser… — não desviava o olhar para a bancada da cozinha. — Foi ele que nos impediu de formar uma.
Ouvir aquilo foi quase que um soco no estômago de , mas ela tentou engolir o choro. Antes que pudesse se controlar, deixou uma única lágrima cair e fungou.
— Você está chorando, querida? — Anthony apareceu na cozinha para buscar uma cerveja.
— Não, papai. — ela deu um sorriso murcho. — Estou cortando cebola.
— Ah, claro! — ele sorriu e passou a mão no ombro de . O sargento sabia que ela estava chorando. Assim que Anthony saiu, os dois voltaram para o silêncio inicial, mas fez questão de quebrá-lo.
— Acho que precisamos conversar. — ele disse, sério. — Não quero que nossos encontros sejam assim. O que temos é especial, .
Ele havia dito temos. No presente. E ainda eram um nós. Certo, , voltar para essa cidade lhe exigiu coragem, não há nada mal em enfrentar seu segundo maior medo: o homem que sempre amou.
There's a high we keep on choosing, we don't wanna change it
Everybody calls us foolish, they don't know how foolish tastes
Every time we try to fight it, we just end up wasted
Wasted on each other
Wasted on each other
— Você aceita almoçar comigo amanhã? — ela pediu. — Provavelmente trabalharemos juntos mesmo.
— Por quê?
— O tenente Collins disse que você seria o recrutado para trabalhar comigo. — ela fez careta. — Ele é um idiota e acha que é meu superior e…
— Dono da delegacia, é, eu sei. Mas é apenas um tenente. — ele a completou, arrancando um risinho baixo.
— Eu vou reabrir o caso de Sarah. — ela disse séria e a encarou.
— Conte comigo para o que precisar. — ele colocou as mãos no bolso e se encolheu ao lado dela.
Na hora da janta, Emily e Katherine sugeriram uma reza para agradecer a Deus por toda aquela refeição e pela vida deles. Durante as preces, se sentiu observada e quando abriu os olhos, viu um a encarando com olhos curiosos. O sargento rapidamente os fechou e deu um sorriso sapeca. Era como se ainda fossem adolescentes. Eles ainda se amavam. Tallahassee ainda a assustava. Lembrar do passado doía, mas era preciso. E eles enfrentariam aquilo tudo juntos.
Devido a algumas — muitas — taças de vinho branco tomadas durante o telefonema com Amanda, quase se atrasou para o trabalho. Com um copo grande de café e um péssimo humor, dava o primeiro passo para a organização da sala de casos. Embora o pessoal da contabilidade tenha negado seu orçamento, daria um jeito de consegui-lo.
— Bom dia, quem é o responsável pela administração da contabilidade? — a capitã foi educada.
— Bom dia, capitã Bennett. — a mulher sorriu para . — Nós não temos um responsável. Só eu trabalho aqui.
— E quem assina os gastos feitos pela delegacia, senhorita…? — ela sugeriu que a funcionária se apresentasse.
— Sou Daphne Mitchell. — ela deu um sorriso gentil. — Quem aprova os orçamentos é o tenente Collins. Eu apenas anoto os gastos e ele julga se são necessários.
— Senhorita Mitchell, você fez faculdade de Ciências Contábeis? — a perguntou, furiosa.
— Sim. — ela disse, nervosa. — Por quê?
— Você é, a partir desse minuto, a responsável pelo departamento de contabilidade da delegacia. — disse. — Preciso que envie seu currículo para o meu e-mail para que eu possa enviá-lo ao comissário para que você seja efetivada. Licença.
A capitã da polícia de Tallahassee dirigiu-se até a sala do tenente, mas esbarrou com no corredor. A última vez que ele a vira com as narinas abertas e prendendo a respiração, havia colado chiclete no cabelo de Nancy Kendrick por ter implicado com Sarah.
— ? ? — ele tentou chamá-la, mas teve que parar em sua frente para que ela prestasse atenção nele. — Bennett.
— Não me chame assim novamente. — ela finalmente soltou o ar que prendia.
— O que aconteceu? — ele a perguntou, confuso. — Por que tanta raiva?
— Eu não posso falar agora, eu tenho um tenente para punir. — ela tentou passar, mas a segurou.
— Você vai punir o tenente Collins? Está maluca? — ele a soltou. — Ele vai acabar com a raça dos sargentos.
— Ele está exercendo funções que não cabem, de fato, a ele. — ela o respondeu. — Eu até mesmo chequei se ele tinha diploma em administração, mas a única coisa que ele tem no currículo é que ele trabalhou na loja de ferramentas do senhor Gordon. Isso é contra a lei.
— Você tem certeza? — ele a questionou. — Ele não gosta muito de receber ordens.
— Eu não ligo para isso, . Eu sou responsável pela ordem da delegacia do condado. — ela o relembrou. Parecia que muitos homens tinham o costume de esquecer.
— Tudo bem, se incomoda se eu for com você? — ela o questionou.
— De modo algum. — a capitã marchou para fora do caminho de e ele deu a volta para segui-la.
Como Collins era o único tenente daquela delegacia, sua sala era bastante privilegiada, pois era apenas para ele.
— Tenente Collins? — ela o chamou.
— Sim, Capitã Bennett. — ele se levantou quando ela entrou. — No que posso ajudar?
— Pode, primeiramente, me explicar porque o senhor estava sendo o responsável pela contabilidade da delegacia. — ela disse rígida e a cutucou discretamente.
— Não tínhamos mais alguém para fazê-lo. — ele respondeu com prepotência.
— E o senhor é alguém habilitado para tal tarefa? — ela indagou.
— Pode ver pelas estruturas dessa delegacia, Capitã. — ele disse como se realmente orgulhoso de seu — horroroso — trabalho.
— O que vejo é uma delegacia arcaica, tenente Collins. E eu mudarei isso. — ela disse por fim. — Além disso, o senhor agora está afastado do departamento de homicídios da delegacia, seu trabalho será resguardado para o trabalho de SCG.
— Você está colocando um tenente para tomar conta da rua de uma escola? — ele aumentou o tom.
— Tenente, eu não gostaria de incomodar o assunto de vocês, mas não acredito que seja favorável ao senhor dirigir-se à capitã assim. — interviu e sorriu internamente. — Ela pode afastar o senhor dos homicídios de vez.
— De fato, e senhor não quer isso, não é mesmo, tenente? — ela perguntou, vitoriosa. — Como um ótimo policial, o senhor estaria prevenindo acidentes que acometeriam o futuro da nossa nação.
— Sim, Capitã Bennett. — ele deu um sorriso falso. — Me provarei útil à nação.
— Claro, muito obrigada, tenente. — sorriu e saiu da sala, acompanhada por .
Put your hands up!
We've both got people tryna creep in, policing
Since when was this thing so indecent?
Stop acting like everything's understood
I know you miss me too
— Licença, eu achei que uns donuts fariam seu dia melhor. — entrou na sala e puxou uma cadeira para sentar-se ao lado de . — Eu espero que eles funcionem como funcionavam. Eu também trouxe café.
— Eles funcionam, mas não são ideais para uma mulher de quase quarenta anos, . — ela riu e abriu a caixa.
— Você corre todas as manhãs, não serão donuts que te levarão à morte. — ele comentou.
— Você está me vigiando? — ela perguntou, assustada.
— Eu também corro… — ele riu. — E eu te vi ontem pela manhã.
— Vou acreditar na sua palavra, sargento. — ela sorriu.
— Você já chegou a investigar o caso? — ele encarou a caixa que continha seu sobrenome.
— Não. — ela engoliu em seco. — Tenho medo do que vou encontrar, na verdade. Ao mesmo tempo que eu quero muito abrir e ler tudo, eu não quero ler tudo e lembrar daquela cena.
— Eu tenho acesso a essa sala há 15 anos… — ele deu um sorriso fraco. — Já peguei vários casos antigos e novos, mas nunca cogitei abrir a caixa. Nem por curiosidade.
— O assassinato da Sarah tirou um pedaço de nós. — foi tudo que conseguiu dizer naquela situação. — Acho que quando saí do funeral dela eu realmente percebi que metade de mim havia ido embora. E de uma forma tão ruim… Eu só queria apagar tudo que vi.
— Você acredita que a cada homem que prendo eu tento olhar bastante nos olhos como se ele fosse confessar o crime? — ele riu com escárnio.
— Em 2013, em Miami, eu recebi um caso que foi tão parecido com o da Sarah que eu perdi todos os meus eixos. — ela contou. — Eu tentei fazer ligações que não existiam, mas no fim o culpado nunca nem esteve em Tallahassee. E sim, eu fiz questão de traçar cada momento da vida dele.
— Você é a rajada de ar novo que essa delegacia precisa, Bennett. — ele brincou, chamando-a pelo sobrenome.
— Você é um ridículo, ainda bem que eu preferia sua irmã a você. — ela deu risada.
— Eu também prefiro. — ele confessou, arrancando uma risada dela. — Mas não entendo o problema com seu sobrenome.
— Você lembra do filho do primo do meu pai? — ela o perguntou e ele a respondeu em afirmativa. — Quando éramos bem novinhos, ele fazia besteiras e botava a culpa na . Como a enteada do pai dele também se chamava , ele me chamava de Bennett. E eu ficava de castigo todas as vezes.
Aquela confissão havia arrancado gargalhadas de .
— , você tem quase quarenta anos. Repito: quase quarenta.
— E Bennett é algo que ainda me incomoda, Sargento Wells. — ela terminou o terceiro donut e limpou os dedos. — Vamos trabalhar.
— Seu pedido é uma ordem, capitã. — ele sorriu.
— Isso, na verdade, foi realmente uma ordem.
— Você é uma capitã muito chata, Bennett.
Com uma resposta bem negativa por parte de — um belo dedo do meio —, ela e começaram a organizar os casos em ordem alfabética, seção e separaram em outro canto os casos arquivados. Quase três horas depois, a grande sala de casos estava, no mínimo, organizada. E os policiais? Famintos.
Embora estivessem bastante ansiosos pelo almoço que estava por vir, ambos tentaram agir com naturalidade. Ainda que e tentassem abdicar da velha e boa comunicação, eles não conseguiam guardar para si seus pensamentos. E aquilo os lembrava Sarah, a menina falante que fora brutalmente assassinada aos 17 anos. Era como se eles, agora, tivessem um quê de Sarah Wells.
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Every time we try to fight it, we just end up wasted
Wasted on each other
— Marissa's. — ele disse compenetrado no caminho.
— Meu Deus! Faz literalmente anos que não vou lá. Ainda não tive a oportunidade de voltar lá.
— Está tendo hoje. — ele sorriu.
— É um ótimo lugar para conversar. — ela sorriu fraco e atravessou a rua.
Marissa, a dona da lanchonete, quase chorou quando encontrou com novamente. A conhecera quando era bastante nova e aquele era um de seus lugares favoritos no condado. Era ótimo reviver a parte boa do passado, mas as memórias ainda assombravam os dois.
— Hambúrguer, milkshake e batata frita. — ela sorriu, encantada, quando recebeu seu pedido. — Isso é quase que um atentado à minha saúde.
— A ocasião pede. — sorriu.
Os dois comeram em silêncio, quando teve a coragem de iniciar o assunto.
— … — começou, nervoso. — Por que você foi embora? Você estava com medo?
— Eu via a Sarah em todos os lugares. — ela engoliu em seco. — Eu via a Sarah se formando conosco, a via na praia, no parque. Especialmente em você, .
— Eu também a vi em mim. — ele confessou. — Eu passei dois anos com os espelhos de casa tampados.
— Eu não queria ficar aqui. Eu tinha pesadelos constantes sobre isso. Eu sentia falta dela. — secou a lágrima que escorria pelo rosto de . — Eu precisava ir embora, por nós.
— Eu passei anos prendendo caras e buscando se tinham algum envolvimento com o assassinato.
— Eu procurava informantes nas cadeias, mas nunca achei nada.
— Eu não queria que você tivesse ido. — ele disse.
— Eu precisava ir, . Precisava viver tudo aquilo, passar por todas aquelas situações sozinha. — foi a vez dela chorar. Relembrar o dia sete de setembro de 1995 ainda não era fácil. Na verdade, nunca seria.
— Não era para você ter passado nada que passou sozinha, . — ele acariciou a bochecha da ex-namorada. — Com quarenta anos eu pensei que você já deveria saber disso.
— Era para ser tudo diferente, . — ela deixou escapar. — Eu deveria ter te procurado. Eu evitei saber de você por vinte e três anos.
— Eu fui atrás de você uma vez. — ele deu um sorrisinho fraco. — Fui na sua formatura.
— Você estava lá? Por que não me procurou?
— A de 25 anos não parecia precisar de mim.
— A de todas as idades sempre precisou de você. — ela confessou. — Até mesmo naquela época.
You turn me on and just as quick you might kick me out
Can't find a way to you, lady
So we might as well stay for another night
Ao ouvir aquilo, o coração de pareceu ser quebrado em mil pedaços.
— Eu estava grávida quando fui para Miami. — ela disse rápido e aquilo o atingiu em cheio. — Eu não sabia.
— V-você abortou? — ele a questionou, quase sem pensar.
— Eu perdi o bebê num dos meus primeiros dias na Universidade de Miami. — ela soluçou baixinho. — Era tarde da noite e um veterano pregou uma peça no alojamento feminino… Ele invadiu o quarto como se quisesse fazer algum mal a nós.
— Meu Deus, … — foi tudo que ele conseguiu dizer.
— Eu fiquei dois dias internada. — ela lembrou. — O médico disse que era estresse pós-traumático, que na época do assassinato da Sarah eu já estava grávida e foi um grande choque para o feto. Não precisava de muito para perdê-lo.
— Os seus pais, eles…
— Não sabiam. — ela completou. — Eu não contei para ninguém, ainda que muitos em Miami soubessem.
Ela lembrou dos comentários maldosos e da dor que sentira. Eles sempre sonharam em formar uma família, e aquilo lhes foi tirado brutalmente. tinha certeza que seria a mãe de seus filhos.
— E quando você engravidou, afinal? — ele perguntou e ela estremeceu.
— Quando ficamos sozinhos na sua casa um tempo antes do assassinato. — disse baixo. — No dia em que a Sarah saiu com aquele garoto estranho da outra escola.
— A gente não usou camisinha... Acho que me lembro. — ele comentou. — Sarah chegou bem na hora dizendo que ele era...
— Assustador e abusado! — gritaram juntos.
— Você acha que... Ele... — ela sentiu o estômago embrulhar.
— Como era mesmo o nome dele? — tentou lembrar.
— Andrew, mas não lembro o sobrenome. — disse e sentiu sua espinha gelar.
— Collins! — a voz de Sarah repetindo que Andrew Collins era assustador e abusado a assombrou.
— Temos autorização para levar o caso para casa? — perguntou, receoso.
— Eu tenho. — falou baixo. — Mas é melhor não deixar ninguém saber, caso contrário, se nossas hipóteses se confirmarem... Ele pode tentar fugir.
— Tudo bem. — sussurrou.
O casal analisava os documentos e checava, atentamente, qualquer informação que pudessem ter deixado passar. Abrindo a ficha de informações pessoais, sorriu ao ver uma foto de Sarah. Sentia tanta falta de sua melhor amiga. e recolheram o pedaço da corda na qual Sarah tinha sido enforcada e um pedaço de sua blusa que estava rasgada.
— Ah, meu Deus! Você gosta dele. — Sarah disse, animada, quando as duas ficaram juntas sozinhas, pela primeira vez ao dia.
— Do que você está falando? — fingiu estar confusa. Mas, conhecendo Sarah, sabia que não havia escapatória.
— Eu quero ser psicóloga, eu preciso observar bem as pessoas. — a menina riu. — Esse é meu momento.
— Aguarde seu grande dia! — riu. — Não é como se você não tivesse entrado para faculdade.
— Estou tão animada! — ela sorriu. — Nós três na faculdade, ! Juntos.
— Também estou feliz. — ela sorriu. — Ainda que o vá fazer engenharia.
— Ele gosta de construir coisas, assim como você gosta de leis. — ela defendeu o irmão. — Assim como eu quero ajudar as pessoas no futuro. Quem sabe, ser terapeuta de casais?
— Acho demais... — riu.
— Falhei na minha missão de fazer você admitir que gosta de . Mas eu sei que no fundo você gosta. Olha para ele como olha para torta de limão da sra. Bennett.
— Você está delirando, Sarah Wells.
Acontece que ela não estava. E, para perceber isso, demorou mais um pouco.
— O que você acha de irmos a festa no lago hoje, ? — ele a perguntou.
— Acho legal. Sarah vai adorar saber que vamos.
— Hm.. É que eu pensei de irmos sozinhos. — coçou a cabeça, um pouco nervoso.
— Como num encontro? — disparou.
— Isso! Como um encontro. — ele sorriu.
— Ok, então. — sorriu. — Espero você às 20h.
A festa no lago era bastante conhecida pelos adolescentes de Tallahassee. Com muita bebida, droga e música alta, eles literalmente faziam a festa. Sarah Wells, é claro, estaria por lá, e isso se aplicava ao resto do trio. Mas, naquela noite, todos perceberam o que estava acontecendo: e chegaram juntos e grande parte da escola se assustou. Não era comum que eles andassem sem Sarah.
Tempo depois, acostumaram-se com a ideia e pararam de encarar. Os dois estavam sentados num tronco um pouco afastado dos outros alunos do colégio.
— É estranho todo mundo olhar. — sussurrou para .
— Se percebessem o quão bonita você é, deveriam mesmo. — sorriu e acariciou a bochecha da melhor amiga.
— Obrigada, . — ela sorriu timidamente. — Você também é muito lindo.
sorriu e juntou suas mãos. se aproximou do garoto e deitou sua cabeça em seu ombro. Os dois se sentiam em paz, mas as borboletas no estômago estavam presentes. costumava senti-las ao estar perto de . Tinha medo de fazer algo errado e não ter interesse nele, mas mal sabia o futuro sargento, que ela já havia caído por ele também.
— ? — ele chamou a menina. Bennett ajeitou sua postura e se virou para ele. Esperava que ele continuasse, e ele o fez. — Eu gosto muito de você, . E não só como melhor amiga. Quer dizer, é claro que você é uma ótima amiga e a melhor de todas, mas…
Antes que pudesse terminar a frase, impediu o menino de falar, beijando-o. Aquele foi o primeiro de muitos e, definitivamente, o inesquecível.
— Acontece, Wells… — ela o deu um sorriso sapeca. — Que eu também gosto muito de você.
— Será que vocês podem esperar lá fora? — a analista que comparava as amostras resmungou. — Vocês estão me deixando agoniada.
— Nós não estamos fazendo nada. — resmungou.
— Você não para de clicar na caneta e ela não para de tremer a perna. — ela os acusou. — Para fora do meu laboratório.
— Mas eu sou capitã. — resmungou. — E quero acompanhar a análise desse caso de perto.
— Capitã… — a analista encarou a identificação de . — Bennett. Se o papa estivesse atrapalhando meu trabalho eu também o expulsaria. Para. Fora.
— Vamos, . — nem mesmo tentou lutar, pois tinha medo de mulheres bravas, e aquela analista era uma delas.
Os dois estavam conversando baixo e privadamente quando a analista saiu da sala, quinze minutos depois, com os resultados. e quase não respiravam de tanta ansiedade. Apesar de estarem esperançosos, sabiam que não deveriam alimentar um possível sentimento falso.
— O DNA bate. — a analista falou. — O documento de confirmação ficará pronto a qualquer instante.
Quando o casal ouvira aquela frase, pareciam que iam desmaiar. sentiu uma onda elétrica por todo seu corpo e se sentiu enjoado. Ele estava verde e sua pressão havia caído com a notícia.
— , nós achamos. — deu um pulo.
— Ele matou minha irmã. — foi tudo que o sargento pôde dizer. Ele não se sentia bem. — Andrew Collins matou minha irmã.
Naquele momento, apesar de a vida de Sarah ter sido tirada anos atrás, sentiu a dor de perdê-la. Na verdade, nunca deixara de sentir. Sarah Wells era sua cara metade e sua melhor amiga. sentiu o estômago embrulhar e teve o reflexo de pegar a lixeira ao lado do banco para que ele pudesse liberar todo o ácido que tinha em seu estômago.
— Preciso que você se acalme. — se abaixou e encarou o policial. — Nós vamos levar o documento até o primeiro juiz que aparecer para que ele decrete ordem de prisão. Quando isso acontecer, nenhum advogado poderá defender o DNA do Andrew na corda.
— Eu estou calmo. Mas ele matou minha irmã. — ele sibilou.
— Sargento Wells, eu estou ordenando que se acalme. — Bennett falou como capitã. Aos poucos, foi superando o choque e sentia seu corpo vibrar cada vez mais.
No momento em que descobrira que sua melhor amiga havia sido brutalmente assassinada, todo seu mundo desabou. Não havia nada que a segurasse naquele lugar além de , mas ela também o perdeu. Anos atrás, a capitã havia fugido de Tallahassee para não lidar com o assassinato de Sarah. Naquele momento, estava prestes a prender quem havia marcado a filha dos Wells. E ela não poderia se sentir mais feliz com isso.
— Aqui está. — a analista entregou o envelope a . O sargento lhe deu um sorriso torto e puxou para fora daquele lugar.
Os dois se dirigiram até o tribunal de justiça de Tallahassee para um juiz decretar a prisão de Collins. A capitã ajeitou seu uniforme e o sargento fez o mesmo.
— Boa tarde, sou a capitã Bennett. — se apresentou. — A juíza Williams está? Estamos precisando de uma ordem de prisão.
— Boa tarde, capitã. — a recepcionista sorriu para . — A juíza Williams não está aqui hoje.
— Existe algum outro juiz responsável que possa fazer isso por ela? — questionou.
— Não, eu sinto muito. — a menina falou. — Mas eu posso marcar vocês para a primeira reunião do dia de amanhã. Serve?
— Sim, serve. — disse, frustrada.
Os dois se retiraram da suprema corte e voltaram para delegacia. O tenente Collins estava bastante atento nos dois conversando. Desde que e voltaram à delegacia, tiveram que retomar os trabalhos para que Andrew não desconfiasse.
— Sargento Wells? — o tenente chamou . — Em minha sala, por favor.
encarou Bennett como se ela fosse impedir que ele fosse, mas a capitã apenas encarou Andrew Collins com toda paciência que guardava, mesmo que pouca. Desse modo, o sargento teve que sucumbir às ordens do tenente e seguiu Collins até seu escritório.
— Sim, senhor? — questionou o motivo de estar ali.
— Gostaria de saber o que está acontecendo entre você e a capitã Bennett.
— Nada, senhor. Somos só amigos de infância. — engoliu em seco.
— Vocês não foderam no passado? Eu lembro bem.
O corpo de ferveu de ódio. Ele queria tanto pular aquela mesa e enforcar aquele homem, mas, infelizmente, manteve a postura.
— Acredito que não deveríamos falar assim da capitã. É uma falta de respeito e ela é nossa superior.
— Ela não é minha superior. — Andrew desdenhou. — Ela deve ter dado para qualquer um para se tornar capitã.
Antes que pudesse fazer algo, ele decidiu sair daquela sala o mais rápido possível. Ele odiava Andrew Collins com todas suas forças. Ele era um assassino de merda. Ainda que pudesse receber uma punição por ter desrespeitado um tenente — alguém superior a ele —, não poderia se importar menos.
— ? — apareceu no corredor. — O que houve?
— Eu vou para casa. — ele disse, sério. — Volto amanhã cedo.
— … Ele fez alguma coisa?
— Eu só queria esmagar aquela garganta, . E se eu continuasse naquela sala, Deus me perdoe, mas eu o mataria! — ele sussurrou.
— Se ele morrer, não pagará por ela. — Sarah disse baixinho. — Vá para casa e se acalme.
— Tudo bem. — o policial suspirou.
Os dois se despediram e foi para sua casa. , como sempre, era a última a sair da delegacia. Ficava analisando outros casos, organizando o sistema e tentava checar as metas da delegacia. Quando deu por si, estava mais tarde do que pensava, então a capitã organizou suas coisas e foi até sua casa.
O caminho até seu apartamento não lhe custou muito tempo, até porque ela tinha escolhido um lugar que ficasse entre seu trabalho e a casa dos seus pais. sentia que aquela seria mais uma noite que passaria acordada pensando em Sarah. A capitã rapidamente abriu sua porta e assim que ia fechar, sentiu a respiração de alguém em sua nuca.
— Boa noite, capitã Bennett. — ouviu Andrew Collins falar. — Preparada para encontrar sua melhor amiga no inferno?
E, antes que a capitã pudesse esboçar alguma defesa, Andrew Collins colocou um pano com álcool em seu nariz, deixando-a zonza. Aos poucos, perdia a consciência e conforme isso acontecia, sentia que jamais veria a justiça por Sarah Wells acontecer.
Assim que serviu um copo de whisky para si, seu telefone tocou. Era sua mãe. Talvez ele não estivesse bem para falar com ele, mas ignorar a matriarca dos Wells parecia quase que um crime bem sério.
— Querido, tudo bem? — sua mãe perguntou assim que ele atendeu o celular. — Já jantou?
— Oi, mãe. — ele sorriu fraco. Reviver a ferida de sua irmã doeria mais em seus pais do que nele, certamente. Mas ele não conseguia dormir em paz enquanto o assassino de Sarah não fosse preso. — Já jantei sim. E você?
— Estou bem também, querido. Estou ligando para saber se está com você. — ela foi sincera. — Katherine me ligou e disse que ia encontrá-la hoje, mas não apareceu.
— Hoje foi um dia ruim no trabalho, mãe… Ela deve estar na delegacia. — ele massageou as têmporas.
— A recepcionista disse que ela saiu faz três horas. — sua mãe o informou. rapidamente levantou da poltrona em que estava sentado.
— Como assim?
— É, meu filho. Devemos nos preocupar?
— Não, mãe. Vou tentar contato, assim que tiver notícias eu ligo para senhora Bennett.
— Pensa, pensa, pensa. — ele forte bateu na cabeça.
— , o que você está fazendo aqui? — Ellie, uma das detetives da delegacia apareceu.
— Ellie, preciso rastrear um carro.
— Você sabe a placa? — ela perguntou e o puxou para sua mesa.
Em pouco tempo, Ellie conseguiu rastrear o carro de Andrew Collins. Estava em uma área um pouco deserta em Tallahassee, perto de uma área florestal. Conhecia aquele lugar porque ele e Sarah costumavam brincar num celeiro abandonado que tinha por perto.
— Ellie, obrigado. Por favor, mande viaturas para o local.
— O que está acontecendo, ? — ela perguntou, assustada.
— O tenente Collins vai tentar matar a capitã Bennett.
— O quê? — ela arregalou os olhos.
— Ele matou minha irmã. — ele engoliu em seco. — E vai matar .
Num intervalo de poucos minutos, três viaturas estavam a caminho do endereço que encontraram o carro. O sargento Wells estava mais nervoso que tudo, parecia estar vivendo a sensação de perder alguém cenicamente e se culpava por aquilo. Como podiam ter pensado que Collins não imaginaria que e ele se juntariam para resolver o caso Wells?
Todos sabiam que e haviam entrado na polícia para descobrir quem havia matado sua irmã e melhor amiga. Era óbvio para todos do condado. E lá estava , falhando mais uma vez com quem amava e com quem havia jurado proteger — mesmo que não soubesse.
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— Ellie. — o homem sussurrou. Fez sinal para que a policial o seguisse com os homens para adentrar o local.
E a equipe fez exatamente o que ele ordenou. Collins, ao ouvir o estrondo, correu para pegar sua arma, mas foi ligeiro e atirou em seu braço para que ele não pudesse fazer nada. Ellie rapidamente correu até o homem e o algemou.
— Andrew Collins, você está preso em flagrante por tentativa de homicídio. — a policial disse. — Você tem o direito de permanecer calado e tudo que você disser será usado contra você no tribunal.
, honestamente, nem pensou em mais Collins assim que a policial do turno da noite o algemou. O sargento rapidamente correu até Bennett e cenas passadas vieram à sua cabeça. Sarah com a corda em seu pescoço, a poça de sangue debaixo de seu corpo. Collins teve a minuciosidade de usar o mesmo tipo de corda que usou em sua irmã.
— Sargento, você vai cortar sua mão. — um detetive apareceu ao seu lado. No fundo, podia ouvir o som da ambulância se aproximando.
— Não me importo. — disse tentando desatar o nó ao redor do pescoço de .
Quando os cacos já haviam cortado grande parte de sua mão, ele parou e percebeu que não havia tido êxito nenhum. Vê-la naquela situação a remetia ao corpo sem vida de Sarah em seu quarto. A cena havia causado um grande gatilho nele.
— . — Ellie o chamou. — Pare agora.
Ele nem mesmo lhe deu ouvidos e voltou a missão de tirar a corda do pescoço de sem machucá-la.
— Sargento! — Ellie aumentou seu tom de voz e ele se assustou. — Por favor, se afaste da capitã Bennett que eu vou cortar a corda de seu pescoço.
assimilou as palavras e se afastou. Suas mãos pingavam sangue, mas ele nem se importava. Nem mesmo sentia. Ellie fez o que havia dito que faria e no segundo que o fez, se aproximou de . Suas mãos tremiam ao pegá-la no colo. ouviu as sirenes se aproximando e correu para fora daquele lugar. parecia estar perdendo sua vida aos poucos, deixando-o mais desesperado do que estava.
— … — ele ouviu sua voz baixa.
— , por favor, não fale nada. — ele sentiu sua voz embargar. — A ambulância está chegando.
— E-ele está vivo? — foi tudo que ela perguntou.
— Sim, . — ele a respondeu. — O assassino de Sarah foi preso.
— Depois de todas as defesas e acusações apresentadas, declaro o réu culpado. O Sr. Collins foi condenado por homicídio qualificado por emprego de asfixia, e esfaqueamento, métodos considerados extremamente cruéis pelo estado da Flórida.
Assim que ouviu o veredicto, precisou sair do tribunal, pois sentia que seu estômago sairia de seu corpo. Quando chegou perto dos banheiros, adentrou rapidamente e despejou todo líquido ácido que tinha ali dentro. Em segundos, a porta foi aberta e ela sabia que era .
— Vai ficar tudo bem, . — ele se aproximou. — Acabou.
— Eu estou tão aliviada, . — ela confessou. — Esperei anos por este momento.
— Eu também. — ele a observou se limpar. — Vamos logo, seus pais devem estar preocupados.
Os dois policiais saíram do banheiro e encontraram com seus pais à espera deles. abraçou seus pais e fez o mesmo com os seus. Os senhores Wells tinham o rosto inchado pelo choro, assim como e .
— Espero que esse seja nosso recomeço. — Katherine falou e apertou a mão de Anthony.
— Será. — Emily Wells deu um leve sorriso.
Enquanto isso, pegou a mão de e pela primeira vez em vinte anos, se sentiu em paz. sorriu para o melhor amigo e eles deram o primeiro passo do recomeço. Juntos. Como deveria ter sido anos atrás.
— Espera. — fez com que os seis parassem. — Eu preciso falar uma coisa.
— Fale, filho. — Nicolas disse ao filho.
— … Eu amo você. — ele deixou seu coração comandar sua fala. — Não me vejo sem você e desde novo sabia que você seria meu futuro. Você é meu futuro, preciso de você comigo. Por favor, não saia da cidade. Ou, ao menos, queira que eu saia da cidade com você.
— … — os olhos dela encheram de lágrima.
— Você é a mulher da minha vida, capitã Bennett. — ele sorriu. — Não desista de nós.
— Não vou desistir de nós, . — ela o abraçou. — Não vou mais brigar com meus sentimentos.
— Não? — o sorriso do policial se estendeu. — Então você vai ficar?
— Vou para onde você for. — ela se aproximou de e colou seus rostos. — Eu te amo, Wells.
— Eu também te amo, Bennett.
There's a high we keep on choosing, we don't wanna change it
Everybody calls us foolish, they don't know how foolish tastes
Every time we try to fight it, we just end up wasted
Wasted on each other
Fim!
Nota da autora: Oi, gente! Finalmente essa história saiu. Eu tenho ela guardada há muitos anos, mas nunca parei para escrevê-la. Espero que gostem tanto quanto eu! Um beijo. Se vocês quiserem, entrem no meu grupo do facebook Fics da Tris | Facebook.
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