Capítulo Único
Algo chamou sua atenção no outro lado do ambiente. A senhora de fios brancos não parecia uma vovó comum. Até porque ele nunca havia visto alguém tão descolado quanto ela. Sorriu de lado, bebericando seu café.
Por mais que sua avó materna fosse um tanto quanto moderna, assim como sua mãe, ele nunca a imaginaria usando um óculos totalmente amarelo, assim como o All Star da mesma coloração. Sem contar as tatuagens no braço enrugado, as quais mal conseguia distinguir os riscos e formatos.
Fitou o chão por um momento e começou a pensar como seria a sua velhice. Se deixaria os cabelos se tornarem 100% monocromáticos, ou se os coloriria. Deixaria- os longos para reviver sua juventude ou se sofreria de uma calvície. Precisou segurar a risada para não chamar a atenção, mas quase não conseguiu se conter. Será que iria continuar cantando, assim como o Steven Tyler na casa dos 70 ou se iria sumir do mapa e virar notícia de vez em quando, com a clássica manchete “Por onde anda Harry Styles, o astro da One Direction? Veja como ele ficou depois de anos!”.
Harry se desprendeu de seus pensamentos quando seu iPhone mostrou uma nova notificação, um tanto quanto inútil, e se deu conta que havia passado mais tempo do que necessário no mesmo lugar. Virou a xícara de café e limpou os lábios com uma folha de guardanapo. Levantou- se então e se dirigiu até o caixa.
Enquanto esperava na fila, viu o quão bonito era o desenho do balcão. O design antigo desenhado no mogno contrastava- se bastante com os doces que preenchiam a parte de cima do móvel. O que talvez tivesse sido uma ideia genial, já que o que mais chamava a atenção era os produtos em cima. Precisou se esticar um pouquinho para alcançar um pacote de gomas de melancia que se destacava ali.
Rasgou a pontinha da embalagem e começou a desembrulhar um deles.
- Ah, melancia... - Escutou uma risada feminina vindo de suas costas e se virou - Na minha época a gente se divertia com esse sabor, garoto.
Harry não deixou de sorrir com o comentário confuso da senhora dos óculos amarelo. Sem saber o que responder, ofereceu um chiclete a ela. Ela sorriu de volta e aceitou.
- Aproveite meu querido. A vida passa rápido... - Disse enquanto levava o doce a boca.
- Eu amei o seu estilo, queria ter te conhecido quando a senhora era jovem - Harry respondeu com um sorriso que encantou a senhora, sem mentir.
- Fui eu que gostei do seu, garoto! Quando esbarrei meus olhos em você já me lembrei dos meus anos 80, calças flare e rock’n’roll - Disse a mais velha, enquanto mastigava o chiclete de melancia.
Harry foi o próximo a ser chamado pela moça do caixa. Sorriu para a senhora e virou para frente, pronto para fazer o pagamento. Em poucos minutos sua notinha já havia sido impressa e o jovem decidiu esperar a senhora para conversar mais um pouco.
Olhou novamente para ela, que fazia um comentário engraçado e ria junto com a moça do caixa. Sentido o olhar em suas costas, a senhora levou seu olhar à Harry e caminhou até ele depois de se despedir amigavelmente dos funcionários do estabelecimento.
- Qual é o nome da senhora? - erguntou enquanto abria a porta para que ela passasse primeiro.
- É Olivia, Olivia Star - Sorriu de canto, como se lembrasse de alguma coisa- E você, menino?
- Harry Styles, Sra. Star. Gostei do seu nome.
Olivia sorriu em resposta e logo acrescentou:
- Não é o meu sobrenome verdadeiro, mudei em… 1971, isso. Foi logo depois que me casei, nós dois não gostávamos dos nossos nomes antes mesmo - Riu mais ainda.
Harry se divertiu com a resposta, pensando em todos os nomes terríveis que ela e o marido poderiam ter sido nomeados no nascimento. Sem pensar muito, perguntou o que ela faria em seguida.
- Bom, nunca se sabe. Desde nova odeio planejar, acho que vou me sentar naquele banco ali - Apontou para a praça no outro lado da rua - E ver as crianças brincarem um pouco. Estou esperando meu carro ser consertado. E você, garoto? Vai trabalhar?
- Não, não. Na verdade ando precisando de inspiração para isso. Se a senhora não se importar, poderia fazer companhia para você.
- Claro, Harry. Vamos antes que aquele carro passe por cima de nós - Disse Olivia e em seguida se dirigiu a praça e foi seguida por ele.
O motorista do carro, que dirigia em uma velocidade levemente maior do que a aceita, precisou frear um pouco para não atropelar os dois, que passaram correndo e rindo. Um rápido flashback passou pela mente de Olivia, recordando de vários momentos parecidos com esse, mais precisamente os que haviam vivido em sua juventude.
Olivia parou por um instante e varreu a extensão do parque com o olhar. Decidiu sentar- se em um banco, no qual a copa de uma árvore fazia sombra. Harry acompanhava a senhora com um olhar curioso, tentando prever os próximos passos dela. Acabaram sentados lado a lado, olhando o horizonte repleto de natureza. Aquela parte de Los Angeles era menos movimentada e permitia momentos longe dos flashs.
- De qual parte da Inglaterra você é, Harry? Não pude deixar de notar o sotaque- Sem olhá-lo, questionou Olivia.
Harry encarou a silhueta do rosto da mais velha e respondeu que havia passado parte da vida em Holmes Chapel. Olivia balançou a cabeça em concordância.
- Sim, sim. Eu nasci em Bristol. Lembro como se fosse ontem quando atravessava as ruas da cidade correndo assim - Sorriu e finalmente encarou Harry, que sorriu para ela.
- Por que você veio pra América? - Questionou.
- É uma longa história, espero que tenha tempo… - Riu e se acomodou melhor no banco.
---
Olivia atravessou a rua correndo, recebendo uma buzinada e um grito em reprovação. Não era a primeira vez. Sempre fora meio distraída e odiava irresponsabilidade no trânsito. Afinal, a preferência é dos pedestres, não era? Carregava em seus braços três livros que precisava devolver na biblioteca da cidade. Era 1962, estava no seu auge dos 18 anos.
Entrou na biblioteca e se dirigiu a mesa que se sentava normalmente. Mas dessa vez ela estava ocupada por uma garota loira. Já tinha a visto outras vezes no local, porém nunca conversaram. Olivia passou um pouquinho de tempo demais olhando para a moça, que acabou detectando o olhar em si.
- Tudo bem?- Perguntou a garota que deveria ter mesma idade de Olivia.
- Ah, sim. Posso me sentar com você?- A resposta recebida foi somente um aceno com a cabeça.
Olivia se aproximou e colocou os livros e sua bolsa na mesa. Pretendia terminar de pesquisar sobre morfologia e devolver os livros. Talvez até parar para tentar achar um romance para ler. Desistiu da ideia logo depois, não queria ter que procurar entre tantas opções. Ela nem gostava tanto assim de ler. A garota a sua frente a olhava disfarçadamente, achando graça em seus movimentos delicados. Olivia folheava as páginas com o maior cuidado, temendo causar algum dano ao material.
- Diana Moore, você é? - Quis saber a garota loira. Ela vestia uma jaqueta de couro e batom vermelho, um escândalo para a cidade.
- Olivia Lis- Disse simplesmente e sorriu para Diana. Reparou que a garota tinha um livro com imagens de uma cidade repleta de prédios - Aula de geografia?
- Oh não, isso aqui é bem melhor do que o colégio - Virou o livro para a morena e apontou para a legenda - Isso aqui é Los Angeles! Não é demais? Na verdade, acho que New York talvez seja mais bonita do que LA…
Olivia riu de sua animação, em dúvida entre encarar as feições engraçadas de Diana ou contemplar as fotografias recém-impressas no livro que supunha ser novo.
- Com certeza isso me parece melhor do que Londres, de verdade - Disse Olivia, desta vez mirando nas fotos.
No fim, Olivia não estudou mais para a prova de linguística. As garotas conversaram e riram até a bibliotecária chamar atenção das duas.
Olivia descobriu que Diana tinha a mesma idade dela, mas estudava em outro colégio de Bristol. Quem olhasse para elas não imaginaria que garotas com estilos tão diferentes se tornariam amigas tão rápido.
Olívia sempre gostou de ousar em suas vestes, misturando cores que faziam com que pessoas a olhassem desaprovando sua escolha. Ela amava combinar peças, era sua parte favorita do dia. Já Diana preferia passar menos tempo decidindo o que usar, mas gostava de se maquiar. A dupla nunca passaria despercebida por onde passasse.
- Diana e eu nos conhecemos assim, e desde então nunca mais nos desgrudamos. Saímos ainda hoje em todas as quintas para celebrar os velhos tempos! - Harry detectou que os olhos de Olivia brilhavam e não conseguiu não pedir para que ela continuasse sua história.
Se tinha uma coisa que Diana e Olivia tinham em comum era a vontade de sair por aí, sem rumo. Dedicavam quase todas as suas tardes depois da aula para conhecerem todos os pontos da cidade. E se aborreceram rápido com isso. Um ovo era maior que Bristol nos anos 60.
O ponto de encontro delas era em um terreno baldio, bem isolado. Lá as duas inventam histórias épicas de como suas vidas seriam se tivessem nascido em outros lugares do globo, sempre com um baseado aceso. Entre elas não havia rixa entre Beatles e Elvis, somente o bom e velho rock’n’roll. Viraram unha e carne em menos de um ano.
Logo se formaram no ensino médio. Por mais que já fosse permitido que mulheres estudassem em universidades, ambas não pensavam na possibilidade. Não queriam mais ter que frequentar bibliotecas ou ter provas. Já sabiam o que seria de suas vidas se dependessem de suas famílias e da cidade toda: se casariam, teriam filhos, depois netos e morreriam. E detestavam essa possibilidade. Primeiro porque já estavam atrasadas no primeiro quesito, sequer namoravam ou tinham pretendentes. Não por falta de beleza, mas eram muito diferentes das outras garotas.
Foi em um dia nublado, apoiadas no muro de tijolos cinza do terreno baldio, olhando para a grama que crescia cada dia mais e com um cigarro artesanal em mãos, que a ideia surgiu.
- E se a gente sair daqui? - Questionou Olivia, encarando as pontas de seus sapatos azuis.
Tudo demorou cerca de um mês para acontecer. Decidiram que iriam para New York e depois partiriam para Los Angeles. Infelizmente não tinham muito dinheiro guardado, por isso não podiam ainda realizar o sonho de conhecer mais cidades.
Suas famílias, mesmo que acostumadas com as diferenças de suas filhas, não apoiaram a mudança. A mãe de Olivia afirmava que Diana não era uma boa influência e que tudo tinha mudado depois do início da amizade. O mesmo era dito pela mãe de Diana.
Todo o dinheiro que tinha havia sido conseguido durante trabalhos de verão dos anos anteriores e suas economias. Olivia também ganhava alguns trocados dos pais e sempre os guardava, o que foi bastante útil para que a mudança pudesse acontecer. Já Diana havia trabalhado durante o último ano da escola e conseguiu uma boa quantia.
Chegaram à América somente no final de 1963, com poucas bagagens. Desde o primeiro passo dado dentro daquela terra, ambas sabiam que não iriam querer voltar para Bristol. New York era um sonho.
Conseguiram um quarto em um hotel pequeno e não muito limpo no centro da cidade. O valor da diária não era muito caro, mas como não poderiam gastar tudo de uma vez, ficaram só uma semana na cidade. Em absolutamente todos aqueles dias as garotas se divertiram em salões de festa, fumavam e bebiam o que lhes era oferecido e dançaram a beça. Era realmente um sonho. Passariam despercebidas na cidade se não fosse pelo sotaque inglês, já que as roupas e maquiagens que usavam eram completamente normais na cidade. Elas não eram mais as esquisitas, eram normais.
Doeu ter que partir, sim. Mas ao chegarem a Los Angeles não se arrependeram de ter escolhido ela nem por um segundo. LA era ainda melhor do que New York. Olivia ficou espantada com o tanto de figurinos diferentes, jeitos diferentes, pessoas diferentes. Era realmente a cidade dos anjos.
Com quase todo o dinheiro que tinham conseguiram alugar um apartamento pequeno no subúrbio e o desespero começou. Com o dinheiro acabando sabiam que precisavam achar formas de se manter e conseguir pagar suas contas. Diana foi a primeira que conseguiu um emprego. Uma lanchonete perto dali estava contratando e Diana conseguiu o emprego depois de quatro dias da mudança. Com Olivia foi diferente. Fez tantas entrevistas que perdeu a conta de quantas vezes chegou derrotada em casa.
Foi Diana que conseguiu um emprego para ela. Com o sotaque inglês, depois de um mês e meio servindo os pedidos dos clientes, conseguiu conhecer a maior parte dos clientes da lanchonete. Sabia quando vinham, seus nomes e pedidos regulares. Uma delas, uma senhora chamada Jane, sempre tomava o café da manhã de segundas lá. Sempre muito simpática, logo se afeiçoou a Diana e passou a lhe contar parte de seus dias para a garota, mas só quando o chefe dela não estava por perto. Assim, um dia lhe contou que era dona de uma loja de roupas e que estava cansada de contratar pessoas erradas. No mesmo minuto que a senhora Jane disse isso, Diana logo contou que tinha uma amiga apaixonada por moda precisando de um emprego, e que, além disso, era muito comprometida. Olivia começou a trabalhar no local em poucos dias.
Depois de três anos vivendo em Los Angeles, o sotaque foi se perdendo aos poucos. A cada dia pareciam mais com as pessoas que haviam morado durante anos ou nascido na cidade. Suas rotinas se resumiam em trabalhar nos dias de semana e enlouquecer nos finais de semana. Era raro quando não conseguiam sair juntas. O passatempo favorito das duas era dançar ao som de disco music ou balançar os cabelos ao som de bandas de rock amadoras. E foi da segunda forma que Olivia o conheceu.
- Diga-me, garoto. Você já se apaixonou perdidamente por uma pessoa, assim como nos filmes de romance? - Olivia questionou Harry, que estava perdido em sua história.
- Bom, acho que deste jeito não - Sorriu meio constrangido. Ele se sentia uma criança ouvindo uma mulher muito mais vivida do que ele.
- Harry, Harry… eu te digo: quando encontrar esta pessoa, aproveite todos os momentos ao lado dela - Sorriu e se preparou para continuar sua história.
Era uma sexta, e por mais que Diana e Olivia estivessem mortas de cansaço, não poderiam perder o show que aconteceria hoje. Seria a estréia de uma banda nova da cidade, todos estavam ansiosos para isso. Olivia se arrumou com um vestido preto e uma jaqueta felpuda que Diana odiava. Durante todos os anos em diante, ela sempre repetia que tinha sido por causa da jaqueta que ele tinha sido atraído por ela, e Diana sempre torcia o nariz.
O show foi bom. As duas dançaram como podiam por causa dos copos de bebida na mão. Infelizmente tinham chegado tarde e o salão estava cheio, por isso ficaram bem no fundo e quase não enxergaram os músicos amadores. Depois do show, se sentaram no lado de fora do lugar, onde vários jovens estavam, e fumaram um baseado que Diana havia comprado no final de semana passado.
Enquanto ela e Diana conversaram, um garoto em especial que passava por ali parou por alguns segundos seu olhar em Olivia, que retribuiu na mesma intensidade.
- Jaqueta legal - Comentou enquanto a olhava. Olivia respondeu apenas com um sorriso.
O garoto então se virou e antes de seguir seu caminho, Diana disse com um sorriso malicioso:
- Ela comprou na FreeCoast. Ela trabalha lá.
O resto da noite ocorreu normalmente. Beberam, conversaram, fumaram um pouco mais e mais tarde retornaram ao seu apartamento. Ambas cansadas, não quiseram sair mais naquele final de semana.
Foi na terça-feira seguinte que Olivia o viu novamente. Reconheceu sua silhueta enquanto ele mexia em algumas peças no cabide da FreeCoast. Usava um jeans cintura alta e uma jaqueta de couro. O cabelo batia nos ombros.
- Precisa de ajuda? - Perguntou. O homem se virou para ela, fingindo que estava ali por coincidência.
- Sim. Tem alguma calça dessa do meu tamanho? - Questionou com uma peça em mãos. Olivia riu um pouco e em segundos encontrou o tamanho dele na prateleira.
- É da sessão feminina, mas acho que vai ficar ótimo em você. Caso precise de ajuda, me chame. Meu nome é Olivia.
- Acho que vou precisar sim. Quero achar algo que combine com a calça. Meu nome é Will - Sorriu galanteador. Pela voz, Olivia finalmente o reconheceu como o vocalista da banda que ouviu na sexta.
Diana gritou de felicidade e bateu em Olivia com uma almofada quando a amiga contou as novidades. Will havia a chamado para sair no dia seguinte e disse que usaria a roupa que comprou com a ajuda dela.
Olivia teve certeza depois do primeiro encontro que Will era o homem certo. Eles se completavam de uma forma totalmente clichê, que até então ela só havia visto em filmes. Sentia borboletas no estômago quando ele dizia que a amava. Will Scott tinha vindo de uma família com dinheiro, mas não era metido. Seus pais nunca o apoiaram na carreira de cantor e Olivia odiava isso. Will era o melhor cantor que ela conhecia.
A carreira dele crescia a cada ano que passava. Um pouco antes do aniversário deles de quatro anos, Will havia saído pela primeira vez em uma turnê pelos Estados Unidos. Olivia se orgulhava tanto dele. Mas ela também se orgulhava de si mesma. Ela e Diana haviam decidido que montariam uma loja de roupas e estavam juntando dinheiro a mais de um ano. Já havia cinco anos que estavam juntos quando a loja foi inaugurada.
Uma das mil coisas que ela amava era que quando estavam juntos se sentia jovem. E tinha certeza que mesmo se tivessem 30 ou 40, se sentiria assim. O passatempo favorito dos dois era deitar no gramado verde da casa de Will durante as tardes e noites de verão e aproveitar o calor. Às vezes comiam e brincavam com morangos, outras vezes fumavam ou só aproveitavam para ficar nos braços um do outro sem conversar. Mas também amavam pensar em como seria o futuro, ainda mais quando estavam altos sentindo o gosto de melancia que nem haviam comido.
- Opa, só um minuto. Minha neta me mandou uma mensagem, ela está vindo me buscar. Ela levou meu Cadillac para o conserto - Riu Olivia. Harry imaginou ela dirigindo loucamente o carro nos anos 70 ou 80, e logo pediu para que continuasse a história.
No fim de maio de 69, Olivia descobriu que estava grávida. Ela e Diana choraram, em um mix de alegria e medo do desconhecido. Não fazia nem uma semana que Will tinha saído para a sua segunda turnê e só retornaria um mês depois. Foi difícil não contar para ele em ligação, mas Olivia queria contar a novidade quando ele voltasse para casa.
Foi no final de junho que Will retornou. Ele contou tudo que aconteceu na turnê, totalmente empolgado. Olivia olhava seus traços tão bonitos e imaginava como seria a criança. Percebendo que Olivia estava distraída, Will a puxou para seus braços. Estava morrendo de saudades dela. E então ela contou para ele.
Hoje, Olivia ficava triste por não poder ter gravado a reação dele. O misto de emoções que passou pelo rosto dele a fez gargalhar. Ele a puxou para outro abraço, desta vez mais apertado do que antes.
- É normal já amar uma pessoa que há 5 minutos eu não sabia da existência? - Questionou o homem e com todo o cuidado encostou as mãos na barriga da namorada.
- Acho que sim. Eu estava pensando… se for menina eu escolho o nome, e se for menino você escolhe. Mas o sobrenome vai ter que ser Star, porque o pai é uma - Olivia riu da própria fala e Will também.
- Tudo bem, mas quando nos casarmos mudamos nós dois para Star também!
No fim, quem decidiu o nome da criança foi Olivia. Ana Star foi infinitamente amada pelo casal e por Diana. Quando a menininha completou um ano, ela e Will se casaram e a pequena Ana levou as alianças.
---
Olivia riu da expressão de Harry, que estava emocionado com a história. Ela prontamente pegou seu celular para mostrar fotos dela e de Diana tiradas recentemente.
- E você tem fotos suas e do Will também? - Questionou Harry, adorando imaginar como seriam Olivia e Diana jovens.
- Tenho, mas são antigas. Will faleceu quando Ana tinha vinte anos. Acidente de carro - Olivia sorriu de canto, um pouco abalada em falar da morte do marido.
- Eu lamento, de verdade - Disse Harry com a feição fechada, sabia que perder entes queridos doía.
Olivia agradeceu o carinho do mais novo, e continuou tentando buscar fotos de Ana e da neta.
- Vovó! Achei você! Dei quase duas voltas neste parque e nada de te achar! E olá! - Acenou para Harry, que correspondeu o aceno e se apresentou - Meu nome é Carolina, vovó te prendeu aqui? - Questionou a garota com cabelos castanhos e olhos da mesma cor.
- Não, ela estava me contando a história dela! Mas eu ainda não entendi como funciona esse doce de melancia - Riu Harry, curioso para saber como a droga funcionava.
- Você contou até isso pra ele, vovó? Acredita que até hoje ela também não explicou como funciona de verdade, e muito menos como fazer para conseguir!? - Disse a garota fingindo estar brava. Harry e Olivia riram.
- Não vou ensinar isso para vocês! Vocês que se virem! - Disse Olivia se levantando.
- Vou conseguir sim, pode ter certeza! - Riu Harry, já pensando em todos os seus contatos que possivelmente teriam a droga para vender.
- Bom, se você conseguir, me avise! - Respondeu Carolina. Harry sorriu, pediu o número da garota e prometeu que se conseguisse a ligaria para tentarem usar.
Olivia se despediu de Harry com um abraço e Carolina com um sorriso de canto. Ela havia o achado muito bonito. A avó e neta se viraram, prontas para atravessar a rua e entrar no carro estacionado do outro lado da rua. Mas antes disso, Harry Styles gritou:
- Hey, Olivia! Talvez eu escreva uma outra música sobre você - Sorriu e as viu entrar no Cadillac.
Por mais que sua avó materna fosse um tanto quanto moderna, assim como sua mãe, ele nunca a imaginaria usando um óculos totalmente amarelo, assim como o All Star da mesma coloração. Sem contar as tatuagens no braço enrugado, as quais mal conseguia distinguir os riscos e formatos.
Fitou o chão por um momento e começou a pensar como seria a sua velhice. Se deixaria os cabelos se tornarem 100% monocromáticos, ou se os coloriria. Deixaria- os longos para reviver sua juventude ou se sofreria de uma calvície. Precisou segurar a risada para não chamar a atenção, mas quase não conseguiu se conter. Será que iria continuar cantando, assim como o Steven Tyler na casa dos 70 ou se iria sumir do mapa e virar notícia de vez em quando, com a clássica manchete “Por onde anda Harry Styles, o astro da One Direction? Veja como ele ficou depois de anos!”.
Harry se desprendeu de seus pensamentos quando seu iPhone mostrou uma nova notificação, um tanto quanto inútil, e se deu conta que havia passado mais tempo do que necessário no mesmo lugar. Virou a xícara de café e limpou os lábios com uma folha de guardanapo. Levantou- se então e se dirigiu até o caixa.
Enquanto esperava na fila, viu o quão bonito era o desenho do balcão. O design antigo desenhado no mogno contrastava- se bastante com os doces que preenchiam a parte de cima do móvel. O que talvez tivesse sido uma ideia genial, já que o que mais chamava a atenção era os produtos em cima. Precisou se esticar um pouquinho para alcançar um pacote de gomas de melancia que se destacava ali.
Rasgou a pontinha da embalagem e começou a desembrulhar um deles.
- Ah, melancia... - Escutou uma risada feminina vindo de suas costas e se virou - Na minha época a gente se divertia com esse sabor, garoto.
Harry não deixou de sorrir com o comentário confuso da senhora dos óculos amarelo. Sem saber o que responder, ofereceu um chiclete a ela. Ela sorriu de volta e aceitou.
- Aproveite meu querido. A vida passa rápido... - Disse enquanto levava o doce a boca.
- Eu amei o seu estilo, queria ter te conhecido quando a senhora era jovem - Harry respondeu com um sorriso que encantou a senhora, sem mentir.
- Fui eu que gostei do seu, garoto! Quando esbarrei meus olhos em você já me lembrei dos meus anos 80, calças flare e rock’n’roll - Disse a mais velha, enquanto mastigava o chiclete de melancia.
Harry foi o próximo a ser chamado pela moça do caixa. Sorriu para a senhora e virou para frente, pronto para fazer o pagamento. Em poucos minutos sua notinha já havia sido impressa e o jovem decidiu esperar a senhora para conversar mais um pouco.
Olhou novamente para ela, que fazia um comentário engraçado e ria junto com a moça do caixa. Sentido o olhar em suas costas, a senhora levou seu olhar à Harry e caminhou até ele depois de se despedir amigavelmente dos funcionários do estabelecimento.
- Qual é o nome da senhora? - erguntou enquanto abria a porta para que ela passasse primeiro.
- É Olivia, Olivia Star - Sorriu de canto, como se lembrasse de alguma coisa- E você, menino?
- Harry Styles, Sra. Star. Gostei do seu nome.
Olivia sorriu em resposta e logo acrescentou:
- Não é o meu sobrenome verdadeiro, mudei em… 1971, isso. Foi logo depois que me casei, nós dois não gostávamos dos nossos nomes antes mesmo - Riu mais ainda.
Harry se divertiu com a resposta, pensando em todos os nomes terríveis que ela e o marido poderiam ter sido nomeados no nascimento. Sem pensar muito, perguntou o que ela faria em seguida.
- Bom, nunca se sabe. Desde nova odeio planejar, acho que vou me sentar naquele banco ali - Apontou para a praça no outro lado da rua - E ver as crianças brincarem um pouco. Estou esperando meu carro ser consertado. E você, garoto? Vai trabalhar?
- Não, não. Na verdade ando precisando de inspiração para isso. Se a senhora não se importar, poderia fazer companhia para você.
- Claro, Harry. Vamos antes que aquele carro passe por cima de nós - Disse Olivia e em seguida se dirigiu a praça e foi seguida por ele.
O motorista do carro, que dirigia em uma velocidade levemente maior do que a aceita, precisou frear um pouco para não atropelar os dois, que passaram correndo e rindo. Um rápido flashback passou pela mente de Olivia, recordando de vários momentos parecidos com esse, mais precisamente os que haviam vivido em sua juventude.
Olivia parou por um instante e varreu a extensão do parque com o olhar. Decidiu sentar- se em um banco, no qual a copa de uma árvore fazia sombra. Harry acompanhava a senhora com um olhar curioso, tentando prever os próximos passos dela. Acabaram sentados lado a lado, olhando o horizonte repleto de natureza. Aquela parte de Los Angeles era menos movimentada e permitia momentos longe dos flashs.
- De qual parte da Inglaterra você é, Harry? Não pude deixar de notar o sotaque- Sem olhá-lo, questionou Olivia.
Harry encarou a silhueta do rosto da mais velha e respondeu que havia passado parte da vida em Holmes Chapel. Olivia balançou a cabeça em concordância.
- Sim, sim. Eu nasci em Bristol. Lembro como se fosse ontem quando atravessava as ruas da cidade correndo assim - Sorriu e finalmente encarou Harry, que sorriu para ela.
- Por que você veio pra América? - Questionou.
- É uma longa história, espero que tenha tempo… - Riu e se acomodou melhor no banco.
Olivia atravessou a rua correndo, recebendo uma buzinada e um grito em reprovação. Não era a primeira vez. Sempre fora meio distraída e odiava irresponsabilidade no trânsito. Afinal, a preferência é dos pedestres, não era? Carregava em seus braços três livros que precisava devolver na biblioteca da cidade. Era 1962, estava no seu auge dos 18 anos.
Entrou na biblioteca e se dirigiu a mesa que se sentava normalmente. Mas dessa vez ela estava ocupada por uma garota loira. Já tinha a visto outras vezes no local, porém nunca conversaram. Olivia passou um pouquinho de tempo demais olhando para a moça, que acabou detectando o olhar em si.
- Tudo bem?- Perguntou a garota que deveria ter mesma idade de Olivia.
- Ah, sim. Posso me sentar com você?- A resposta recebida foi somente um aceno com a cabeça.
Olivia se aproximou e colocou os livros e sua bolsa na mesa. Pretendia terminar de pesquisar sobre morfologia e devolver os livros. Talvez até parar para tentar achar um romance para ler. Desistiu da ideia logo depois, não queria ter que procurar entre tantas opções. Ela nem gostava tanto assim de ler. A garota a sua frente a olhava disfarçadamente, achando graça em seus movimentos delicados. Olivia folheava as páginas com o maior cuidado, temendo causar algum dano ao material.
- Diana Moore, você é? - Quis saber a garota loira. Ela vestia uma jaqueta de couro e batom vermelho, um escândalo para a cidade.
- Olivia Lis- Disse simplesmente e sorriu para Diana. Reparou que a garota tinha um livro com imagens de uma cidade repleta de prédios - Aula de geografia?
- Oh não, isso aqui é bem melhor do que o colégio - Virou o livro para a morena e apontou para a legenda - Isso aqui é Los Angeles! Não é demais? Na verdade, acho que New York talvez seja mais bonita do que LA…
Olivia riu de sua animação, em dúvida entre encarar as feições engraçadas de Diana ou contemplar as fotografias recém-impressas no livro que supunha ser novo.
- Com certeza isso me parece melhor do que Londres, de verdade - Disse Olivia, desta vez mirando nas fotos.
No fim, Olivia não estudou mais para a prova de linguística. As garotas conversaram e riram até a bibliotecária chamar atenção das duas.
Olivia descobriu que Diana tinha a mesma idade dela, mas estudava em outro colégio de Bristol. Quem olhasse para elas não imaginaria que garotas com estilos tão diferentes se tornariam amigas tão rápido.
Olívia sempre gostou de ousar em suas vestes, misturando cores que faziam com que pessoas a olhassem desaprovando sua escolha. Ela amava combinar peças, era sua parte favorita do dia. Já Diana preferia passar menos tempo decidindo o que usar, mas gostava de se maquiar. A dupla nunca passaria despercebida por onde passasse.
- Diana e eu nos conhecemos assim, e desde então nunca mais nos desgrudamos. Saímos ainda hoje em todas as quintas para celebrar os velhos tempos! - Harry detectou que os olhos de Olivia brilhavam e não conseguiu não pedir para que ela continuasse sua história.
Se tinha uma coisa que Diana e Olivia tinham em comum era a vontade de sair por aí, sem rumo. Dedicavam quase todas as suas tardes depois da aula para conhecerem todos os pontos da cidade. E se aborreceram rápido com isso. Um ovo era maior que Bristol nos anos 60.
O ponto de encontro delas era em um terreno baldio, bem isolado. Lá as duas inventam histórias épicas de como suas vidas seriam se tivessem nascido em outros lugares do globo, sempre com um baseado aceso. Entre elas não havia rixa entre Beatles e Elvis, somente o bom e velho rock’n’roll. Viraram unha e carne em menos de um ano.
Logo se formaram no ensino médio. Por mais que já fosse permitido que mulheres estudassem em universidades, ambas não pensavam na possibilidade. Não queriam mais ter que frequentar bibliotecas ou ter provas. Já sabiam o que seria de suas vidas se dependessem de suas famílias e da cidade toda: se casariam, teriam filhos, depois netos e morreriam. E detestavam essa possibilidade. Primeiro porque já estavam atrasadas no primeiro quesito, sequer namoravam ou tinham pretendentes. Não por falta de beleza, mas eram muito diferentes das outras garotas.
Foi em um dia nublado, apoiadas no muro de tijolos cinza do terreno baldio, olhando para a grama que crescia cada dia mais e com um cigarro artesanal em mãos, que a ideia surgiu.
- E se a gente sair daqui? - Questionou Olivia, encarando as pontas de seus sapatos azuis.
Tudo demorou cerca de um mês para acontecer. Decidiram que iriam para New York e depois partiriam para Los Angeles. Infelizmente não tinham muito dinheiro guardado, por isso não podiam ainda realizar o sonho de conhecer mais cidades.
Suas famílias, mesmo que acostumadas com as diferenças de suas filhas, não apoiaram a mudança. A mãe de Olivia afirmava que Diana não era uma boa influência e que tudo tinha mudado depois do início da amizade. O mesmo era dito pela mãe de Diana.
Todo o dinheiro que tinha havia sido conseguido durante trabalhos de verão dos anos anteriores e suas economias. Olivia também ganhava alguns trocados dos pais e sempre os guardava, o que foi bastante útil para que a mudança pudesse acontecer. Já Diana havia trabalhado durante o último ano da escola e conseguiu uma boa quantia.
Chegaram à América somente no final de 1963, com poucas bagagens. Desde o primeiro passo dado dentro daquela terra, ambas sabiam que não iriam querer voltar para Bristol. New York era um sonho.
Conseguiram um quarto em um hotel pequeno e não muito limpo no centro da cidade. O valor da diária não era muito caro, mas como não poderiam gastar tudo de uma vez, ficaram só uma semana na cidade. Em absolutamente todos aqueles dias as garotas se divertiram em salões de festa, fumavam e bebiam o que lhes era oferecido e dançaram a beça. Era realmente um sonho. Passariam despercebidas na cidade se não fosse pelo sotaque inglês, já que as roupas e maquiagens que usavam eram completamente normais na cidade. Elas não eram mais as esquisitas, eram normais.
Doeu ter que partir, sim. Mas ao chegarem a Los Angeles não se arrependeram de ter escolhido ela nem por um segundo. LA era ainda melhor do que New York. Olivia ficou espantada com o tanto de figurinos diferentes, jeitos diferentes, pessoas diferentes. Era realmente a cidade dos anjos.
Com quase todo o dinheiro que tinham conseguiram alugar um apartamento pequeno no subúrbio e o desespero começou. Com o dinheiro acabando sabiam que precisavam achar formas de se manter e conseguir pagar suas contas. Diana foi a primeira que conseguiu um emprego. Uma lanchonete perto dali estava contratando e Diana conseguiu o emprego depois de quatro dias da mudança. Com Olivia foi diferente. Fez tantas entrevistas que perdeu a conta de quantas vezes chegou derrotada em casa.
Foi Diana que conseguiu um emprego para ela. Com o sotaque inglês, depois de um mês e meio servindo os pedidos dos clientes, conseguiu conhecer a maior parte dos clientes da lanchonete. Sabia quando vinham, seus nomes e pedidos regulares. Uma delas, uma senhora chamada Jane, sempre tomava o café da manhã de segundas lá. Sempre muito simpática, logo se afeiçoou a Diana e passou a lhe contar parte de seus dias para a garota, mas só quando o chefe dela não estava por perto. Assim, um dia lhe contou que era dona de uma loja de roupas e que estava cansada de contratar pessoas erradas. No mesmo minuto que a senhora Jane disse isso, Diana logo contou que tinha uma amiga apaixonada por moda precisando de um emprego, e que, além disso, era muito comprometida. Olivia começou a trabalhar no local em poucos dias.
Depois de três anos vivendo em Los Angeles, o sotaque foi se perdendo aos poucos. A cada dia pareciam mais com as pessoas que haviam morado durante anos ou nascido na cidade. Suas rotinas se resumiam em trabalhar nos dias de semana e enlouquecer nos finais de semana. Era raro quando não conseguiam sair juntas. O passatempo favorito das duas era dançar ao som de disco music ou balançar os cabelos ao som de bandas de rock amadoras. E foi da segunda forma que Olivia o conheceu.
- Diga-me, garoto. Você já se apaixonou perdidamente por uma pessoa, assim como nos filmes de romance? - Olivia questionou Harry, que estava perdido em sua história.
- Bom, acho que deste jeito não - Sorriu meio constrangido. Ele se sentia uma criança ouvindo uma mulher muito mais vivida do que ele.
- Harry, Harry… eu te digo: quando encontrar esta pessoa, aproveite todos os momentos ao lado dela - Sorriu e se preparou para continuar sua história.
Era uma sexta, e por mais que Diana e Olivia estivessem mortas de cansaço, não poderiam perder o show que aconteceria hoje. Seria a estréia de uma banda nova da cidade, todos estavam ansiosos para isso. Olivia se arrumou com um vestido preto e uma jaqueta felpuda que Diana odiava. Durante todos os anos em diante, ela sempre repetia que tinha sido por causa da jaqueta que ele tinha sido atraído por ela, e Diana sempre torcia o nariz.
O show foi bom. As duas dançaram como podiam por causa dos copos de bebida na mão. Infelizmente tinham chegado tarde e o salão estava cheio, por isso ficaram bem no fundo e quase não enxergaram os músicos amadores. Depois do show, se sentaram no lado de fora do lugar, onde vários jovens estavam, e fumaram um baseado que Diana havia comprado no final de semana passado.
Enquanto ela e Diana conversaram, um garoto em especial que passava por ali parou por alguns segundos seu olhar em Olivia, que retribuiu na mesma intensidade.
- Jaqueta legal - Comentou enquanto a olhava. Olivia respondeu apenas com um sorriso.
O garoto então se virou e antes de seguir seu caminho, Diana disse com um sorriso malicioso:
- Ela comprou na FreeCoast. Ela trabalha lá.
O resto da noite ocorreu normalmente. Beberam, conversaram, fumaram um pouco mais e mais tarde retornaram ao seu apartamento. Ambas cansadas, não quiseram sair mais naquele final de semana.
Foi na terça-feira seguinte que Olivia o viu novamente. Reconheceu sua silhueta enquanto ele mexia em algumas peças no cabide da FreeCoast. Usava um jeans cintura alta e uma jaqueta de couro. O cabelo batia nos ombros.
- Precisa de ajuda? - Perguntou. O homem se virou para ela, fingindo que estava ali por coincidência.
- Sim. Tem alguma calça dessa do meu tamanho? - Questionou com uma peça em mãos. Olivia riu um pouco e em segundos encontrou o tamanho dele na prateleira.
- É da sessão feminina, mas acho que vai ficar ótimo em você. Caso precise de ajuda, me chame. Meu nome é Olivia.
- Acho que vou precisar sim. Quero achar algo que combine com a calça. Meu nome é Will - Sorriu galanteador. Pela voz, Olivia finalmente o reconheceu como o vocalista da banda que ouviu na sexta.
Diana gritou de felicidade e bateu em Olivia com uma almofada quando a amiga contou as novidades. Will havia a chamado para sair no dia seguinte e disse que usaria a roupa que comprou com a ajuda dela.
Olivia teve certeza depois do primeiro encontro que Will era o homem certo. Eles se completavam de uma forma totalmente clichê, que até então ela só havia visto em filmes. Sentia borboletas no estômago quando ele dizia que a amava. Will Scott tinha vindo de uma família com dinheiro, mas não era metido. Seus pais nunca o apoiaram na carreira de cantor e Olivia odiava isso. Will era o melhor cantor que ela conhecia.
A carreira dele crescia a cada ano que passava. Um pouco antes do aniversário deles de quatro anos, Will havia saído pela primeira vez em uma turnê pelos Estados Unidos. Olivia se orgulhava tanto dele. Mas ela também se orgulhava de si mesma. Ela e Diana haviam decidido que montariam uma loja de roupas e estavam juntando dinheiro a mais de um ano. Já havia cinco anos que estavam juntos quando a loja foi inaugurada.
Uma das mil coisas que ela amava era que quando estavam juntos se sentia jovem. E tinha certeza que mesmo se tivessem 30 ou 40, se sentiria assim. O passatempo favorito dos dois era deitar no gramado verde da casa de Will durante as tardes e noites de verão e aproveitar o calor. Às vezes comiam e brincavam com morangos, outras vezes fumavam ou só aproveitavam para ficar nos braços um do outro sem conversar. Mas também amavam pensar em como seria o futuro, ainda mais quando estavam altos sentindo o gosto de melancia que nem haviam comido.
- Opa, só um minuto. Minha neta me mandou uma mensagem, ela está vindo me buscar. Ela levou meu Cadillac para o conserto - Riu Olivia. Harry imaginou ela dirigindo loucamente o carro nos anos 70 ou 80, e logo pediu para que continuasse a história.
No fim de maio de 69, Olivia descobriu que estava grávida. Ela e Diana choraram, em um mix de alegria e medo do desconhecido. Não fazia nem uma semana que Will tinha saído para a sua segunda turnê e só retornaria um mês depois. Foi difícil não contar para ele em ligação, mas Olivia queria contar a novidade quando ele voltasse para casa.
Foi no final de junho que Will retornou. Ele contou tudo que aconteceu na turnê, totalmente empolgado. Olivia olhava seus traços tão bonitos e imaginava como seria a criança. Percebendo que Olivia estava distraída, Will a puxou para seus braços. Estava morrendo de saudades dela. E então ela contou para ele.
Hoje, Olivia ficava triste por não poder ter gravado a reação dele. O misto de emoções que passou pelo rosto dele a fez gargalhar. Ele a puxou para outro abraço, desta vez mais apertado do que antes.
- É normal já amar uma pessoa que há 5 minutos eu não sabia da existência? - Questionou o homem e com todo o cuidado encostou as mãos na barriga da namorada.
- Acho que sim. Eu estava pensando… se for menina eu escolho o nome, e se for menino você escolhe. Mas o sobrenome vai ter que ser Star, porque o pai é uma - Olivia riu da própria fala e Will também.
- Tudo bem, mas quando nos casarmos mudamos nós dois para Star também!
No fim, quem decidiu o nome da criança foi Olivia. Ana Star foi infinitamente amada pelo casal e por Diana. Quando a menininha completou um ano, ela e Will se casaram e a pequena Ana levou as alianças.
Olivia riu da expressão de Harry, que estava emocionado com a história. Ela prontamente pegou seu celular para mostrar fotos dela e de Diana tiradas recentemente.
- E você tem fotos suas e do Will também? - Questionou Harry, adorando imaginar como seriam Olivia e Diana jovens.
- Tenho, mas são antigas. Will faleceu quando Ana tinha vinte anos. Acidente de carro - Olivia sorriu de canto, um pouco abalada em falar da morte do marido.
- Eu lamento, de verdade - Disse Harry com a feição fechada, sabia que perder entes queridos doía.
Olivia agradeceu o carinho do mais novo, e continuou tentando buscar fotos de Ana e da neta.
- Vovó! Achei você! Dei quase duas voltas neste parque e nada de te achar! E olá! - Acenou para Harry, que correspondeu o aceno e se apresentou - Meu nome é Carolina, vovó te prendeu aqui? - Questionou a garota com cabelos castanhos e olhos da mesma cor.
- Não, ela estava me contando a história dela! Mas eu ainda não entendi como funciona esse doce de melancia - Riu Harry, curioso para saber como a droga funcionava.
- Você contou até isso pra ele, vovó? Acredita que até hoje ela também não explicou como funciona de verdade, e muito menos como fazer para conseguir!? - Disse a garota fingindo estar brava. Harry e Olivia riram.
- Não vou ensinar isso para vocês! Vocês que se virem! - Disse Olivia se levantando.
- Vou conseguir sim, pode ter certeza! - Riu Harry, já pensando em todos os seus contatos que possivelmente teriam a droga para vender.
- Bom, se você conseguir, me avise! - Respondeu Carolina. Harry sorriu, pediu o número da garota e prometeu que se conseguisse a ligaria para tentarem usar.
Olivia se despediu de Harry com um abraço e Carolina com um sorriso de canto. Ela havia o achado muito bonito. A avó e neta se viraram, prontas para atravessar a rua e entrar no carro estacionado do outro lado da rua. Mas antes disso, Harry Styles gritou:
- Hey, Olivia! Talvez eu escreva uma outra música sobre você - Sorriu e as viu entrar no Cadillac.
FIM
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