02. 400 Lux

Última atualização: 10/08/2019

Capítulo 1

1. We might be hollow but we’re brave

Durante muitos anos da minha vida, eu me senti completamente sozinha, acabei seguindo o lado errado das coisas, já que minha mãe já havia desistido de mim e eu nunca havia conhecido meu pai. Acabei aprendendo a maneira fácil de fazer as coisas e que infelizmente não eram as coisas certas, conheci alguns amigos que me ensinaram a viver facilmente, outros colegas que ensinaram coisas piores, e com tantos pequenos passos acabei me tornando o que sou hoje: uma exímia ladra de carros que podia dirigir qualquer coisa sob quatro rodas, provavelmente melhor do que o Vin Diesel.
Enquanto eu aperfeiçoava meus dotes como piloto de fuga, conheci algumas de pessoas que estavam precisando exatamente do que eu era: uma pessoa que não tinha nada a perder e que por acaso sabia como escapar de cinco carros da polícia de uma vez, enquanto cuidava para não bater em ninguém e destruir nossas vidas.
Nosso grupo era completado por seis pessoas. Mas apenas eu e Jon éramos sempre os mesmos. Jon gostava de dizer que somos amuletos da sorte que não podem ser trocados, mas que os outros eram descartáveis. Por este motivo, ele sempre achava alguém para fazer o “trabalho sujo”, ele era o planejador, eu era a motorista e tínhamos um chefe que não mantinha contato direto conosco. Precisávamos de pessoas com culhão para assaltar bancos, joalherias e lojas de alto calão. E esse tipo de gente descartável era sempre o mais fácil de achar.
Uma regra que Jon criou era: Nunca use seu nome pessoal. No começo ele deixava as pessoas escolherem seus próprios nomes falsos, mas como as pessoas mudavam de semana em semana, estávamos confundindo muitos nomes. Então foi decidido que apenas nomes de personagens de Game of Thrones podiam ser utilizados.
E foi assim que me tornei Arya Stark.
As pessoas descartáveis pareciam gostar da ideia, e às vezes até brigavam para escolherem seus nomes. Eu estava satisfeita com o meu, e Jon estava satisfeito com o seu. E as confusões com nomes acabaram.
- E aí, Pirralha? Como foi lá? - Jon me perguntou enquanto eu deixava a chave do carro em cima da mesa, como sempre.
- Veja você mesmo. - Falei abrindo os braços, chamando a atenção de seus olhos.
A gola da minha camisa estava estraçalhada e manchada de sangue. Meu pescoço estava melado com o líquido ainda quente que escorria pelo meu decote e ombros.
- Caralho, o que houve?! - Ele correu ao meu alcance. Olhando meu pescoço com cuidado para ver se o sangue era meu.
- Não é meu. É do Tyrion. - Falei irritada. - O que aconteceu é que você está escolhendo o pior tipo de lunáticos para trabalhar comigo. Não aguento mais isso Jon.
- Calma, vamos lá limpar isso. Alguém te arranhou? - Perguntou novamente, colocando as mãos em meus ombros, me guiando ao banheiro. Logo depois ouvimos as vozes dos descartáveis entrando no pela garagem.
- Tyrion levou uma merda de tiro de raspão no ombro. Ficou gritando no banco de trás, me puxando para que eu parasse em um hospital. Cersei começou a chorar e gritar. Eu estava ficando louca, quase perdi o controle do carro na 312.
Entramos no banheiro e ele fechou a porta atrás de si. Tirei a merda da camisa completamente destroçada enquanto Jon pegava uma toalha embaixo da pia e encharcou debaixo da torneira. Eu podia muito bem me limpar sozinha, mas não vou negar que gostava de ser paparicada, por mais que Jon fosse um imbecil, eu era importante para ele. Provavelmente o mais perto de uma família que ele chegaria a ter um dia.
Jon passou a toalha limpa em meu pescoço e ombros, olhando cuidadosamente para a minha pele para ver se havia algum ferimento. No calor do momento eu só sentia raiva, mas sabia que podia ser perigoso se ele tivesse me ferido.
- Eu sabia que esse Tyrion ia fazer merda. Ele é muito novo, mas eu precisava de alguém explosivo no grupo. - Explicou ele, passando a toalha por minha nuca e depois descartando-a no chão.
Pegou outra para continuar o trabalho. Ele posicionou-se em minha frente, empurrou meu queixo para cima com o polegar, seus olhos queimando minha pele e suas sobrancelhas unidas.
- Você vai ver a pessoa explosiva quando eu sair daqui. - Falei bufando enquanto ele perdia o semblante sério do rosto.
- Por mais que eu queira que você dê uma surra nele, pois sei que você consegue e ele merece... Vou te pedir encarecidamente que não faça isso…
- Mas – Me preparei para reclamar.
- … enquanto eu não termino de contar o dinheiro. - Ele terminou a frase sorrindo. Sorri cúmplice, enquanto ele terminava de me limpar e examinar.
- Acho que você está ok. - Jon disse jogando a segunda toalha no chão. - Mas eu sugeriria a você um bom banho para tirar o sangue do cabelo, e jogar esse sutiã fora. - Falou passando o dedo pela alça suja de vermelho, fazendo-a estalar em minha pele. Abriu a porta.
- Vou pegar uma blusa para você.

- Alguém pode me explicar o motivo da Arya chegar aqui com a roupa rasgada e cheia de sangue? - Ouvi ele gritar, e todas as vozes se calaram ao mesmo tempo. - Vocês estão achando que essa merda é brincadeira? Se aquela mulher tivesse batido o carro, ou tivesse se machucado eu juro por Deus que ia caçar cada um, e vocês iam desejar não ter nascido.
- Tyrion levou um tiro. - Ouvi a voz de Theon e quis rir.
- Foda-se que ele levou um tiro! Devia ter levado um tiro no meio da testa, pelo menos não fodia com a minha motorista. Eu espero que esse caralho desse dinheiro esteja certo. Se não eu mesmo vou fazer questão de que o Tyrion leve um tiro. - Ouvi ele dizer, enquanto colocava a camiseta extremamente grande para o meu corpo. Fui até eles. - Vai com calma Jon. - Falei, fingindo que não era tudo aquilo.
Cersei estava com os olhos inchados. Tyrion estava jogado em uma cadeira, seu corpo estava encharcado de sangue. Theon estava de pé, tentando inutilmente defender o colega de “trabalho”.
- Como você está, Tyrion? - Perguntei, aproximando-me dele. Afastei sua mão que pressionava um pedaço de pano ensopado contra o machucado. Assim que ele tirou a mão, o sangue brotou do ferimento. Cersei afastou-se aparentemente enjoada. - Vou limpar isso. Jon conta esse dinheiro logo, tô de saco cheio dessa garota chorando.
Busquei o kit de primeiros socorros e comecei a limpar a ferida. Eu tinha uma noção bem básica de enfermagem, mas acho que dava para o gasto.
- Isso vai precisar de pontos. - Comentei, vendo pelo canto de olho que Jon estava concentrado em sua contagem.
- Ah mano, vai doer muito? - Tyrion perguntou, fechando os olhos.
Theon começou a rir.
- Ah, para de ser mulherzinha Tyrion!
Parei o que estava fazendo na hora.
- O que você disse?
Ele me olhou confuso, não sabendo exatamente o que dizer.
- Eu... Eu disse para ele parar de...
- De ser mulherzinha, certo? - Perguntei, levantando-me lentamente da cadeira.
- I-isso. - Ele gaguejou.
Respirei fundo, peguei duas pequenas lâminas em formato de gota que eu carregava comigo em tempo integral na lateral da calça, uma em cada lado do quadril.
Theon se encontrava encostado em um painel de madeira, com um dos pés encostado no mesmo e os braços cruzados. Levantei minha mão direita e lancei a lâmina em sua direção, e antes que ele pudesse entender o que estava acontecendo, lancei a outra. Uma delas parou raspando ao lado da sua orelha e a outra muito próxima do seu pescoço: exatamente onde eu havia mirado.
- A mulherzinha aqui salvou a porra da vida de vocês hoje. E eu não estou afim de ficar ouvindo homenzinho falando bosta enquanto eu salvo a vida de outro homenzinho de merda. Fui bem clara?
- 'Cê tá louca? - Theon gritou.
- Eu estou louca pra meter a porrada na sua cara se você continuar falando assim comigo, não estou para brincadeira com vocês. Cala a porra da boca e senta nessa cadeira antes que você se arrependa de ter se metido com a gente. - Falei, sentindo o olhar de todos na sala sobre mim. - Fui clara?
Ele apenas desviou o olhar.
Juro que pude ver o sorriso de Jon.
- Você se importa se eu der alguns pontos, Tyrion? - Falei, sentando-me novamente.
- Vai doer muito? - Perguntou ele novamente.
Eu ri.
- Provavelmente vai doer um pouco sim.


Capítulo 2

2. We’re never done with killing time, can I kill it with you?

Dirigi com Jon até a nossa casa para finalmente poder tirar o sangue seco de meu cabelo, e claro, tirar também a máscara de Game of Thrones que nos protegia.
- O que vai ser hoje? A pizza da discórdia ou o hambúrguer da vitória? - , vulgo Jon, perguntou entrando em casa. Tínhamos essa tradição de comer hambúrguer ou pizza depois dos nossos assaltos, se o assalto foi bom, comíamos hambúrguer, se foi ruim pizza.
- Acho que hoje vai ser hambúrguer, por mais que meu sentimento seja de pizza. - Respondi, indo diretamente ao meu quarto para pegar roupas limpas e tomar um banho.
- Tudo bem. - Ele riu. - Triplo bacon com cheddar e pepino? - Perguntou da cozinha.
- Isso mesmo! - Respondi entrando no banheiro. - E não esquece da minha coca. - Gritei pela fresta da porta antes de fechá-la.
Demorei mais do que deveria no banho, mas eu precisava de um bom banho relaxante e precisei passar xampu mais vezes do que o normal para tirar o cheiro terroso do sangue do meu cabelo. Deixei a água levar todo o meu estresse e saí.
Meu hambúrguer triplo já estava me esperando quando cheguei à cozinha. Minha boca salivou.
- Cara, um dia eu quero encontrar alguém que me olhe do jeito que você olha para comida. - brincou, tomando um gole do seu refrigerante.
- Comida é a única coisa que dificilmente me decepciona. E quando decepciona eu sei que foi culpa minha por ter escolhido aquilo. - Expliquei. - Isso não existe com pessoas, então boa sorte em encontrar alguém assim.
- Não estrague minhas esperanças. - Retrucou ele, empurrando meu ombro.
- Mas e a Dany? - Perguntei, dando uma mordida no lanche enquanto observava ele pensar no que responderia. Dany era uma pseudo-namoradinha de , eu não sabia seu nome, ele se dirigia a ela como “Daenerys” e eu acabei me afeiçoando a isto.
- Ah, a Dany está bem. Mas ela não é aquela garota. - Suspirou ele. era um grosso e estúpido quando queria ser, mas na maioria das vezes ele era apenas um chuchu perdido no mundo dos carnívoros. - Aquela garota é você, mas tu não quer nada comigo.
Fiz questão de dar um sorriso com a boca cheia de comida.
- Você sabe que Jon e Arya não são um casal. - Comentei. - São irmãos, são cúmplices.
- Você sabe que Game of Thrones adora um incesto, não sabe? - Perguntou ele, dando seu sorriso mais malicioso. Gargalhei completamente sem resposta. Terminamos nosso lanche e segui para a varanda do meu quarto.
Bolei meu baseado enquanto cantarolava algo distraidamente, sentei-me no beiral da varanda e tirei meu isqueiro do bolso. Acendi o cigarro e traguei-o, olhando o céu e as estrelas, desejando que aquilo tudo fosse um sonho e que eu pudesse acordar em uma casa com pessoas normais, uma família, uma irmã para contar meus segredos e um cachorro chamado Totó. Muitas pessoas queriam vidas com riqueza e ostentação, eu só queria uma vida normal.
- O que tá fazendo aí, pirralha? - Ouvi perguntar ao meu lado, esticando a mão, indicando que queria o baseado. Passei-o para ele.
- Estou pensando. - Respondi, olhando o horizonte de luzes da cidade que nunca dormia.
- Pensando em quê? - Perguntou ele, tragando e soltando a fumaça na minha direção.
- Pensando em pegar o meu carro e dirigir sem rumo. Só eu, a minha música e meu baseado. - Falei pegando o cigarro dele, dei mais uma bola.
- Você não me abandonaria assim. - Disse ele.
- Então vem comigo. - Eu sorri, soltando a fumaça no seu rosto também. Ele sorriu junto.
- Você sabe que não posso.
- Sei que você só está inventando desculpas.
- E por que você quer sair dessa vida? - Perguntou ele. - Temos tudo o que queremos, temos dinheiro, temos uma casa massa, temos a nossa amizade. Por que você quer arriscar tudo isso?
- Porque eu quero ser normal. Não quero ser rica, não quero ter uma mansão com dinheiro dos outros. Quero ser comum. - Respondi.
- Comum tipo ter um marido, com filhos e um golden retriever? - Ele perguntou subindo no beiral da varanda ao meu lado, nossos pés balançando juntos.
- Não necessariamente com marido e filhos, mas o cachorro eu aceito. - Falei sorrindo, empurrando-o com o ombro. - Não aguento mais viver fugindo da polícia de máscara com um nome falso e um carro que nunca fica comigo.
- Eu te entendo. Mas acho que nasci pra isso, . - Ele disse, pegando o baseado da minha mão e tragando.
- Então faça com que valha a pena. Usa esse dinheiro para o bem.
- É muita hipocrisia da sua parte querer escolher o que eu faço com o meu dinheiro. - Comentou ele, soltando a fumaça para o alto.
- Eu sei. Nós não nascemos pra isso, . - Falei suspirando. - Nós somos super-heróis, não vilões.
- Mas eu gosto de ser vilão. Gosto de ser o Coringa. Você é uma ótima Arlequina. - Ele sorriu maliciosamente, mordendo os lábios.
- Estamos mais para Sid e Nancy. - Brinquei e ele sorriu.
- É, estamos sim. - Concordou ele. Ficamos em silêncio por um tempo, apenas curtindo a presença um do outro.
era a coisa mais próxima que eu tinha de uma família, assim como eu era a dele. Eu o tratava como um irmão mais velho, porém fazia algum tempo que ele brincava que devíamos ser mais do que irmãos. Eu sempre levei na brincadeira pois sei que não daria certo. Trocamos muitas faíscas. Brigamos o mesmo tanto que ficamos bem. Ele discordava.
- Então é isso? Você quer sair? - Perguntou ele, depois de vários minutos em silêncio. Suspirei.
- Acho que é o certo a fazer. Não quero ser uma ladra para sempre. Não é tão glamouroso como nos filmes. - Respondi dando de ombros.
- E quem vai ser meu amuleto da sorte? - Perguntou ele rindo. Dei de ombros.
- Você é um cara foda, vai encontrar alguém. - Expliquei, descendo do beiral. Ele segurou meu braço antes que eu me afastasse.
- Mas eu quero você, . Só você é o meu amuleto. - Desceu também.
deu pequenos passos em minha direção, seus olhos queimando minha pele como sempre. Sua mão subiu pelo meu braço, passando por meu ombro e parando em minha nuca. Seus olhos olhavam fixamente para minha boca.
- ... - Sua voz saiu rouca e distraída.
- Hm. - Fiz apenas um som com a boca, seu cheiro me hipnotizou.
- Você é a melhor coisa que já me aconteceu. - Disse ele num sussurro.
Minhas mãos tocaram sua cintura sem muita certeza. Ou eu estava muito chapada, ou aquilo parecia fazer sentido? estava ali, realmente segurando meu pescoço com os dizeres de uma pessoa que me amava?
Meus olhos piscaram algumas vezes, para gravar aquilo em minha memória enquanto ouvi a música que mais me deixava apreensiva: A música de abertura de Game Of Thrones. O celular de estava tocando, demos um salto de distância entre um e outro, eu sabia que aquela música significava um novo trabalho.
Fingi que nada estivesse acontecendo e saí dali sem querer ouvir conversando com nosso chefe, também conhecido como Lorde Stark.



Capítulo 3

3. We’re hollow like the bottles that we drain

E lá estava eu: mãos no volante, The Runaways no máximo e os dedos batucando enquanto Ygritte, Sansa e Littlefinger entravam na joalheria com máscaras do Trump. Elas demoraram mais do que o esperado e peguei meu celular descartável para ligar para Jon.
- Eles estão demorando demais. - Falei, enquanto ouvi o barulho das sirenes da polícia se aproximando, junto do alarme da loja.
- Vai até lá, veja como está, tenta ajudar e vaza. Você sabe que as nossas vidas vem antes do dinheiro. - Ele respondeu.
Desliguei o celular. Já havia feito isso antes, mas eu sempre gostava de avisar Jon, afinal se algo desse errado ele estaria ciente.
Coloquei meus óculos escuros, amarrei meu cabelo, amarrei um lenço sobre minha boca e sobre o nariz, e pus um boné azul escuro na cabeça antes de sair rodando a chave do carro nos dedos.
- Tudo bem por aqui, Sansa? - Perguntei, entrando na loja.
Havia quatro câmeras, três clientes abaixados no chão, quatro vendedores ainda atrás dos balcões, o guarda estava rendido por Sansa no canto esquerdo da loja e um cara bem vestido, que eu supus ser o gerente, que estava tremendo tentando abrir as vitrines. Littlefinger gritava absurdamente alto com ele, apenas o fazendo tremer mais.
Saquei minha arma, ainda ensurdecida pelo alarme e os berros dele, aproximei-me. - Littlefinger, o que diabos você está fazendo? - Perguntei calmamente.
- Esse bosta acionou o alarme e não está conseguindo abrir os cadeados. ‘Tá enrolando para a polícia chegar aqui logo... - Ele explicou, aos berros.
- Senhor. - Chamei-o, ele desviou o olhar do cadeado que tentava abrir e me olhou, seu olho esquerdo estava roxo e inchado, lágrimas desciam por seus olhos. - Você consegue desligar o alarme para conversarmos melhor? - Perguntei, meu coração saindo pela boca, eu sabia que tinha cerca de três minutos.
O homem conseguiu seguir até o balcão e apertar o botão novamente.
- Obrigada. Littlefinger, vai vigiar a porta. - Falei entredentes e percebi que ele saiu bufando. Voltei minha atenção ao senhor à minha frente. - Qual o seu nome?
- Albert.
- Albert, relaxa, ok? Meu colega não sabe lidar com pessoas. - Tentei explicar. - Meu nome é Arya, e estou aqui para te deixar mais tranquilo. Só queremos as jóias e não vamos machucar ninguém. Meu colega é um babaca que vai apanhar muito de mim quando sairmos daqui, pode ficar tranquilo quanto a isto, pois nosso grupo não tolera violência gratuita com pessoas de bem. Você abre esses cadeados todos os dias, não abre? Quando algum cliente quer ver algo? - Ele concordou com a cabeça. - Então finja que sou uma cliente, esqueça os outros.
- T-tudo bem. - Ele gaguejou.
Fiz uma voz afetada.
- Adorei aquele colar ali, Sr. Albert. Você poderia pegá-lo para mim, pois meu noivo vai me dar de aniversário de casamento. - Brinquei e ele sorriu forçadamente.
Ele conseguiu abrir o cadeado.
Fiz um sinal com a cabeça para que Ygritte se aproximasse com a sacola de veludo que guardávamos as joias.
Fomos para o balcão onde estavam os anéis.
- Só mais esse cadeado e nós vamos embora. - Falei para Albert. Ele assentiu com a cabeça.
Albert abriu o cadeado com as mãos tremendo, mas não levou nem trinta segundos, logo Ygritte já estava ao seu lado pegando os anéis caríssimos.
- Peço desculpas por fazê-los passar por isto. - Falei seguindo para a porta. - Me desculpe pelo meu colega, Sr. Albert. Infelizmente não sou eu que escolho a minha equipe.
Segui para o carro enquanto os três idiotas saíam um de cada vez, como o ensaiado.

A polícia nos alcançou com facilidade já que saímos extremamente atrasados da loja. Tive que pegar vários atalhos e usar o freio de mão mais vezes do que normalmente. No som tocava Queen, e eu mexia a cabeça e cantava junto enquanto corria pelas ruas a cada segundo sendo contado pela minha cabeça. Eu havia decorado cara milímetro daquela cidade, sabia exatamente onde eu podia passar, em qual velocidade e ainda desviar de qualquer coisa que viesse na minha frente. Era matemática pura. E eu sempre gostei de matemática.
Estacionei no local indicado e trocamos de carro, dessa vez Littlefinger foi dirigindo para não levantar tanta suspeita. Quando ele estacionou na nossa garagem, saí do carro imediatamente, abri a porta do motorista e o puxei pelo colarinho jogando-o no chão.
- Ei! O que você está faz... - Ele tentou falar, calei sua boca com um soco bem dado em seu nariz. Não ouvi o estalo do mesmo quebrando, então segurei seu colarinho e dei três socos em seu rosto antes de sentir os braços de Jon me envolvendo e me afastando dele.
- Da próxima vez que for bater em alguém, bate em alguém do seu tamanho seu covarde de merda. - Gritei, enquanto Jon me levava até a parte de dentro da garagem.
- O que houve, Arya? - Perguntou ele, sentando-me em uma cadeira.
As meninas vieram atrás.
- Esse merda socou um idoso, Jon. Foi isso que aconteceu. Nós nos atrasamos porque aquele pedaço de lixo socou o único cara que sabia os códigos para abrir as vitrines. - Expliquei, respirando forte, tentando acalmar a adrenalina que subiu por meu corpo. Jon olhou para Sansa e Ygritte e elas concordaram com a cabeça.
- Eu não tenho mais cabeça pra isso, Jon. Todo assalto acontece algo. - Expliquei, olhando minha mão dolorida.
Não demorou muito para Littlefinger entrar.
- Foi mal mano. - Ele falou para Jon.
- Não é para mim que você tem que dizer isso. - Jon indicou com a cabeça em minha direção. Ele não olhou na minha cara, só murmurou um “foi mal” que fingi não ouvir.


Capítulo 4

4. I’d like it if you stayed

- Dessa vez quero pizza da discórdia. - Falei quando chegamos em casa.
- Tudo bem. Vou pedir uma pequena, hoje vou lá na Dany. - Falou ele sem olhar para mim.
- Opa! Alguém vai se dar bem hoje. - Brinquei enfiando meu dedo no seu ouvido, ele afastou a cabeça.
- Alguém nessa casa precisa se dar bem né? Você está bem parada ultimamente.
- Estou na seca, né? - Comentei rindo. - É que estou conhecendo tanto traste que estou ficando sem vontade.
- É só você me dar uma chance que eu te mostro que não existem só trastes. - Ele disse, dando de ombros. Mostrei a língua para ele enquanto largava minha bolsa na cômoda.
- Não faça essas propostas enquanto estou na seca. - Falei levantando as mãos. - Não me responsabilizo por meus atos. Ele gargalhou.
- Não me responsabilizo também. Você sabe que tenho um crush em ti. É até maldade falar isso pra mim. - Ele disse mordendo o lábio.
- Crush, ? Sério? - Virei os olhos. - Você é o maior cafajeste que eu conheço.
- Só sou porque você não me dá chance. - Comentou ele olhando para o lado, sabendo que eu iria olhá-lo indignada. Logo desatou a rir.
- Não me use como desculpas para a sua cafajestice. - Retruquei vendo-o se divertir às minhas custas.
- Não é desculpa. É verdade. Você vive desfilando por aí com suas calcinhas de super-herói e com minhas blusas, eu sou homem porra! - disse rindo, olhei-o com os olhos arregalados. Eu tinha duas cuecas box do Homem-Aranha que eu gostava de usar para dormir pois era extremamente confortáveis, mas nunca achei que fosse notar, já que eu não “desfilava” com elas por aí. A parte das suas blusas era verdade, eu adorava usá-las, era motivo de muitas brigas nossas já que ele não podia usar as minhas como vingança.
- Eu não desfilo por aí de calcinha! - Foi a única coisa que consegui pensar em dizer.
- Está tudo bem, . Eu aceito você desfilar por aí de calcinha. - Ele disse rindo da minha cara.
- Vai se fuder, . - Falei virando os olhos, vendo-o rir vitorioso.
- Olha a boca suja, pirralha.
Ignorei suas provocações.
- Quero uma pizza de quatro queijos. Pede aí que vou tomar banho. - Falei enquanto ia até o meu quarto, peguei minha cueca do Homem-Aranha, uma blusa velha dele dos Strokes e entrei no banheiro. Ele ia se arrepender daquilo.
Deixei a porta aberta, como eu sempre fazia quando queria falar com ele durante o banho. Fechei a cortina azul bebê do box e entrei.
- Por que você não chama a Dany para vir aqui? - Perguntei alto para que ele escutasse, liguei o chuveiro e comecei a me ensaboar.
- Porque não. - Respondeu ele.
- Mas eu quero conhecer ela! - Retruquei.
- Ela é chata, . - Insistiu ele.
- Você também é chato, devem combinar bem. - Respondi rindo.
- Eu sou um chato legal.
- Não, você é um chato legítimo. Aposto que é uma garota legal, se não você não estaria a chamando de Daenerys.
- Mas eu não gosto da Daenerys. Gosto da Missandei! - Ele falou rindo.
- Entendi... Então deixa a Dany e vai atrás da tua Missandei. Não fica enganando a garota. - Falei esfregando minha pele com a esponja.
- E quem disse que eu estou enganando? Estamos transando sem compromisso. - Ele disse. - Você devia fazer isso também, vai ficar menos estressada no trabalho.
- Vai cagar, . Ouvi sua risada.
- Tá vendo? Só fica me xingando. - Reclamou ele. - Se precisar dar umazinha, estou à disposição.
Filho da puta. Ele ia ver só.
Não respondi. Terminei meu banho, enrolei-me na toalha e fechei a porta.

Saí do banheiro sentindo o cheiro da minha pizza, eu usava minha cueca e amarrei sua camisa na minha cintura com um nó.
- , você se importa se eu pegar um pedaç... - Sua voz morreu quando me viu, deixou a tampa da caixa cair sob a pizza.
- É assim que você diz que eu desfilo, por aí? - Perguntei passando a mão em meus cabelos, me aproximando dele.
- Porra, . - Ele disse com certa dificuldade, engolindo seco.
Sorri satisfeita, finalmente deixando sua língua afiada sem palavras. Dei alguns passos em sua direção, vendo-o me encarar com a boca meio aberta, seus olhos queimando minha pele. Cheguei à sua frente, e estiquei meu corpo sob o seu, para alcançar a caixa de pizza. ficou completamente imóvel e eu caí na gargalhada, minha risada pareceu tirá-lo do transe.
- Isso não se faz. Eu realmente não estava preparado para te ver assim. - Falou ele, pigarreando. Alcancei meu pedaço de pizza e dei um passo para trás, ainda na sua frente. - Não foi você que disse que eu ando assim sempre? - Perguntei.
- Não foi o que eu disse! - Exclamou ele. - Mas se você quiser andar sempre assim não vou negar. - Falou mordendo o lábio inferior.
- Você não aguentaria me ver todos os dias assim sem poder fazer nada, baby. - Falei passando a mão no seu rosto, acariciando sua barba por fazer, depois dei um tapinha.
- Eu te convenceria a fazer algo. Posso ser bem persuasivo. - Ele aproveitou a minha deixa de tocá-lo para colocar as mãos em minha cintura.
- Eu duvido muito disso. - Eu sorri. Ok, talvez não fosse a melhor das ideias, mas era gostoso pra caralho e eu estava disposta a ver até onde aquilo iria sem prejudicar nossa amizade, um beijo não faria mal, faria?
- Não duvida de mim, pirralha. - Ele disse lambendo os lábios, antes de colar nossas bocas. Soltei o pedaço de pizza que estava em minha mão e levei até a sua nuca, nossas línguas se encontraram, brincando uma com a outra enquanto suas mãos saiam da minha cintura para a minha bunda sem vergonha nenhuma.
Separei nossas bocas. sorriu convencido.
- Isso foi... - Começou a falar.
- Estranho. - Completei.
- Estranho?! - Ele arregalou os olhos, suas mãos ainda estavam em minha bunda. As minhas ainda estavam em sua nuca. - Não foi estranho.
- Foi sim. Parece que beijei meu irmão.
- Cala a boca, . Não fala babaquice. - Ele disse indignado. - Só foi novo, deixa eu te mostrar como que se faz.
me pegou no colo, passando um de seus braços por baixo da minha bunda, enlacei sua cintura com as minhas pernas enquanto ele me prensou contra a parede, passando seus lábios pelo meu pescoço antes de encontrar minha boca e iniciar um beijo de tirar o fôlego.
Dessa vez ele não estava com medo de mostrar o que sabia fazer. espalmou as duas mãos em minhas pernas prensando-me mais contra a parede enquanto sugava meu lábio inferior, separando nossas bocas. Desceu seus beijos para minha clavícula enquanto eu puxava seus cabelos da nuca. Senti seu pênis começar a pulsar por baixo da sua calça jeans e roçar na minha virilha. Seu beijos subiram para meu pescoço, onde ele deu algumas mordidas antes de me soltar da parede e me colocar no chão.
Eu esperava um olhar debochado e cheio de si. Mas vi um meio atordoado, passou as mãos pelo cabelo distraído, pegou um pedaço de pizza e foi para o banheiro. Merda.
Não era para aquilo ter acontecido.


Capítulo 5

5. I’m glad that we stopped kissing in the tar on the highway

Meia hora depois, saiu do banho.
- Não faz isso, . - Chamei-o antes que ele pudesse sair de casa.
- Fazer o quê?
- Isso! - Apontei para ele. - Ta fingindo que eu não existo.
Ele sorriu sem graça.
- Claro que não, .
- Nós acabamos de dar uns pegas daqueles, um pega que você está insistindo para que acontecesse faz tempo... - Falei unindo as sobrancelhas. - Não que eu esteja esperando um buquê de flores e um pedido de casamento, mas vindo de ti, eu esperava pelo menos um sorrisinho convencido e um “eu te disse”.
- Eu só... Não sei. Fiquei com medo que você ficasse brava comigo. Fui eu que comecei. - Explicou ele, ainda sem graça.
- , você acha que eu não aguento um monte de indiretas bestas e um beijo? Se eu não quisesse que aquilo acontecesse, não teria acontecido. - Expliquei. - Achei que você, antes de qualquer pessoa saberia disso. Parece até que você não me conhece.
- Eu te conheço bem demais. - Ele disse rindo finalmente. - Acho que esse foi o problema.
- Ficou com medo de levar uma surra? - Perguntei levantando-me e finalmente pegando um pedaço da minha pizza.
- Sim. Quando te coloquei no chão, achei que já ia vir um tapão bem no meio da cara. - Dei uma gargalhada.
- Pode ficar tranquilo . Estamos bem, pode ir ver a Dany. - Mordi a pizza.
Ele pareceu aliviado. Sorri vitoriosa.
- Eu sabia que você não ia resistir ao meu charme de Homem-Aranha. - Pisquei e ele riu.
- Eu nunca neguei isso, inclusive te incentivei. Então tecnicamente eu que tenho que tirar vantagem disso. - Retrucou.
- Mas você não estava esperando que eu o fizesse, então o crédito é meu.
- Tudo bem. Você venceu. Você fica muito gostosa com essa merda.
- Obrigada benzinho. - Mandei um beijo no ar, enquanto ele saía. - Manda um beijo pra Daenerys! - Berrei e ele mandou um dedo do meio para mim antes de fechar a porta.
Limpei a sujeira que eu havia feito com o pedaço de pizza que caiu no chão e me joguei na cama ainda rindo sozinha com o que havia acontecido.
Adormeci com meus fones de ouvido tocando Creedence, sonhei com a vida que eu sempre quis mas não poderia ter.

Acordei ouvindo a voz do Julian Casablancas cantando uma música que eu não conhecia. Demorei para perceber que estava dentro de um carro.
- Caralho, que sono pesado da porra que você tem! - Ouvi a voz de rir da minha cara.
- Onde eu tô? - Perguntei coçando os olhos.
- Pega aqui. - Ele esticou uma pequena garrafa térmica, que abri sabendo que havia café dentro. Servi na tampa da garrafa, ainda meio zonza.
- , onde eu tô? - Repeti, depois de tomar o primeiro gole que claramente havia sido ele que tinha feito. Estava horrível.
- Você está realizando o seu sonho. - Falou ele indicando o banco de trás com a cabeça. No banco de trás havia malas, cobertores, travesseiros, sacolas e bolsas. Todo o tipo de coisas jogadas e amontoadas de qualquer maneira.
- Não! É sério?! - Quase me afoguei com o gole de café que tinha tomado.
- É. Estou dirigindo há três horas, só eu, você, minha música e meu baseado. - Falou ele rindo, imitando minha epifania.
- Eu não acredito! - Eu não sabia se ria, gritava ou tomava mais café. - É sério isso? Você não vai se arrepender?
- Provavelmente vou me arrepender sim. - Ele disse dando uma gargalhada gostosa. - Mas vou olhar para o lado e te ver, então acho que vou ficar bem.
- Caralho! - Levantei-me do banco do carona e enchi seu rosto de beijos. - Eu não acredito que você está fazendo isso.
- Nós somos Sid e Nancy, lembra? Não existe Sid sem Nancy ou Nancy sem Sid. - Ele disse rindo dando de ombros.
- Eu sou o Sid. - Exclamei rápido.
- Nem em sonho que você é o Sid. Eu sou o Sid!
- Cala a boca, animal. Eu sou o Sid, falei primeiro.
- Cala a boca já morreu, quem manda aqui sou eu.
Caímos na gargalhada enquanto eu enchia mais um copo de café.
- Obrigada por fazer isso, . De verdade. - Deitei minha cabeça no seu ombro.
- Eu gosto de ti, sua retardada. - Ele beijou o topo da minha cabeça, e estacionou o carro em um posto de gasolina.
Desci para fazer minha higiene pessoal enquanto ele abastecia e provavelmente comprava batata chips e chiclete de canela.
- Eu também. - Falei entrando no carro, vendo-o me olhar com as sobrancelhas unidas.
- Tu também o que, demente?
- Eu também gosto de ti. - Falei, roubando um punhado de batatas chips.
- Eu sei. - Sorriu convencido. - Assim como sei que você está caidinha por mim.
- Só uma pessoa que está caidinha por outra faz esse tipo de afirmação. - Falei rolando os olhos.
- Essa afirmação está completamente errada. - Disse ele indignado. - Quer dirigir?
- Só se eu puder escolher minha música. - Respondi e ele abriu a porta do motorista.
Abri a porta do carona, nos encontramos na frente do carro, ele esticou a chave para eu pegar e ficou naquela babaquice que ele sabia que eu odiava, de ficar tirando a chave quando eu ia pegar. Dei uma porra de soco no seu ombro. E ele riu agarrando minha cintura.
- Vem cá, sua esquentadinha da porra.
E colou nossos lábios, meio rindo, meio beijando enquanto minhas mãos foram até a lateral do seu rosto, uma de suas mãos que estava em minha cintura desceu para a minha bunda enquanto a outra foi para as minhas costas.
- Vão arranjar um quarto! Aqui não é motel! - Um dos frentistas gritou e paramos de nos beijar na hora. riu mais ainda e me deu a chave. Entrei no carro.
Dire Straits começou a tocar.
Liguei o carro.
Dei um cavalinho de pau mostrando o dedo do meio para o frentista e saímos.
- Esquentadinha é a vó. - Falei para que explodiu de dar risada.
Seguimos sem rumo.
Só eu, ele, a estrada, nossa música e nosso baseado.
And I like you.




Fim.



Nota da autora: Mais um ficstape meuuu, tô viciada em ficstapes gente, socorro! Espero que tenham gostado de verdade. Demorei muito para pensar em como seria essa fic, e acabei me rendendo aos encantos do filme “Baby Driver”, espero que tenham notado as referências. Obrigada por lerem e leiam as outras fics do ficstape desse mulherão da porra que é a Lorde <3 E comentem!





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