02. Beep

Finalizada em: 19/12/2018

Capítulo Único


Tudo começou com um número escrito em um pequeno pedaço de guardanapo da boate. Era de se estranhar, já que geralmente quem fazia isso era as mulheres, mas naquele caso havia aberto uma exceção para mim. O número do garoto com a frase "Me liga, linda" estavam escritos no pequeno pedaço de papel enquanto eu apenas ria. Não sabia se ria do que estava escrito, da ocasião ou por apenas ter recebido o número do maior galinha da cidade, segundo minhas novas amigas de trabalho. Ser nova na cidade às vezes era bom e eu estava me adaptando perfeitamente não só ao local mas ao trabalho, já que a experiência me acompanhava. Com toda aquela palhaçada a única coisa que se passou por minha cabeça foi amassar o papel que havia ganhado e guardá-lo na bolsa como um lembrete de que não o usaria para nada. Se havia uma coisa na qual eu estava cansada era de homens galinhas. Nunca fui muito de se esbaldar de homem em homem, apesar de minhas novas amigas jurarem de pé junto que minto bem sobre isso. A diferença era que em vez de pular de homem em homem por aí, sempre tive em mente o que eu queria e a última coisa que eu iria querer agora era o contato com alguém que provavelmente nem lembraria do meu rosto no outro dia.
- Olha só ela. Arrasando corações. – Denise balançou a garrafa no ar enquanto me encarava.
- Não se arrasa coração de quem não tem um, meu amor. – Chelsea falou ao fundo enquanto arrumava as garrafas.
- Muito bem lembrado. – Apontei para a mulher que mexia nas garrafas – E além do mais, vocês mesmas disserem que ele faz isso com todas, logo... Nada de novo para vocês. – Apontei novamente, mas dessa vez para as duas agora.
- Mas mesmo assim. É a primeira vez que ele dá em cima de alguém do bar. Sei que nós somos lindas de morrer, deve ser por isso que ele não veio até nós. – Denise, a mais velha, jogou seu cabelo para o lado, fazendo uma pose tentando ser sexy, mas começou a rir.
- Muito obrigada por me chamar de feia. – Comentei num tom dramático, mas logo comecei a rir pela pose de Denise. – Definitivamente você é sexy demais pra que ele tente a chance de te cantar.
- Eu sei. Eu sei. – A mulher mandou um beijo para ela e voltou a suas obrigações.
Pode parecer estranho, mas em toda minha vida eu sempre fui uma pessoa bastante fechada em relação a amizades, procurando ao máximo evitar contato com as pessoas para que não tivesse que conversar pela timidez, mas o trabalho me ajudou bastante em como me relacionar com os outros e nessa nova fase da vida não foi difícil me adaptar ao novo trabalho. As garotas, que agora não largam do meu pé para nada se tornaram uma nova família, e como toda família tem aquele parente que insiste em fazer perguntas sobre namorados, elas insistiam em arranjar encontros para mim. Até tentei uma vez com um homem, ele era lindo, parecia um deus grego, mas... Bleh. Beleza não é o essencial. Não para mim.
Por incrível que pareça a última coisa que eu gostaria em minha vida agora era um homem. Não tive muitos namorados na vida, mas de uma coisa eu estava decidida: sem homens. A vida nunca foi tão boa comigo. Tudo estava certo e eu agradeceria bastante se a tranquilidade morasse comigo para sempre.
No caminho de casa dessa vez já pela manhã, depois de ir ao mercado e fazer as compras que precisava, a única coisa que queria era ter a oportunidade de deitar na cama e aproveitar o dia de folga, mas enquanto andava ouvi a voz de uma pessoa que vinha por trás. No momento achei que essa pessoa poderia estar falando com outra, mas depois percebi que não.
- Sabia que é feio ignorar as pessoas? Principalmente quando elas dão o número? – O rapaz atrás de mim falava tentando me alcançar.
- Oi? – Virei o rosto para trás e logo dei uma risada ao ver quem era – Ah, então é você. O menino que deixa números para garotas aleatórias.
- Opa, calma aí. Você não é aleatória – Agora andávamos lado a lado – Eu realmente queria conhecer você.
- Péssimo jeito de querer conhecer as pessoas. – Brinquei, dando uma risada baixa e negando com a cabeça.
- Por quê? Desde que você apareceu lá eu sempre quis arranjar uma forma de falar com você. – O garoto agora andava com as mãos nos bolsos observando as sacolas em minhas mãos – Eu posso levar pra você se quiser.
- Você poderia ter me encontrado em vários lugares. Não precisava mandar um papelzinho. – Revirei os olhos e ri quando ele ofereceu ajuda. – Não precisa. Tá tudo certinho aqui.
- É que assim você me daria bola. Igual agora. – piscou de uma forma sapeca e sorriu.
- Até que você não é burro. – Fiz um bico como se estivesse impressionada. – Mas agora isso também é bom porque eu posso falar pra você desistir. Não me leve a mal. Eu posso ser nova por aqui, mas já me disseram sobre sua fama e isso não vai colar comigo.
- Fama? – Ele arqueou uma sobrancelha sem entender muito.
- É. Fama de galinha. Pegador. Dá em cima de todas. Sem coração. Só pensa com a cabeça de baixo. – Enumerava as coisas que tinha ouvido a respeito do garoto.
- Isso porque eu nunca fiz nada de ruim pra ninguém. Imagina se fizesse – Murmurou de forma pensativa depois de ouvir os adjetivos. – Olha, isso que te falaram é mentira e eu posso provar.
- Você não precisa me provar nada. – Dei de ombros para ele avistando o prédio onde morava. – É só fingir que nunca me conheceu. – Parei em frente ao prédio onde morava. – Fim do caminho para nós dois.
- Ou talvez não. – Ele levantou os ombros e indicou com a cabeça para o prédio ao lado – Eu moro aqui.
- Praticamente quase dentro da minha casa. – Inclinei a cabeça para o lado tentando entender qual era a do garoto.
- Ah não, você que mora praticamente dentro da minha casa, já que chegou agora. – Mostrou a língua de forma infantil, me fazendo rir.
- Você – Olhou para o garoto e depois para o prédio – sabia que eu morava aqui? E sabia que eu trabalhava na boate? Vai dizer que sabia que eu estava voltando do mercado?
- Sim. Sim e não, eu acabei de voltar da casa de um amigo. Foi pura coincidência te encontrar na rua. – Levantou as mãos para o alto. – Pensa na minha proposta?
- Você não vai desistir, não é?
- Dependendo da sua resposta... Quem sabe – Levantou os ombros.
- Eu vou fazer você desistir então. Me aguarde. – Sorri para ele de forma desafiadora.
- Que vença o melhor. – O garoto concordou com a cabeça antes de se virar e começar a andar em direção ao prédio ao lado. – A propósito, meu nome é . Foi um prazer te conhecer, .
Abri a boca para falar algo, mas logo sorri em seguida ao saber que ele de fato já sabia meu nome. Era de se esperar. Depois de ter passado por todo aquele interrogatório (ou quase um) era necessário um descanso. Descansar e aproveitar o dia que tinha dentro de casa fazendo o que mais gostava: comer besteiras e assistir filmes. Praticamente uma criança nesse quesito.
Guloseimas postas na mesa de centro, filme pronto para começar e o sofá mais aconchegante do que tudo. Aquilo era a definição do paraíso e nada mais importava. Enquanto andava até a janela para fechar a cortina, dei de cara com uma cena bastante cômica: estava apenas de short brincando com um cachorrinho no chão de sua casa. Por incrível que possa parecer ele estava numa cena bem fofa com o animal, o que fez com que o encarasse por um bom momento até que enfim ele percebeu fazendo com que nossos olhares se cruzassem. No mesmo momento, um pouco envergonhada por ser pega no flagra, virei escondendo atrás da cortina na qual iria puxar. Fiquei parada ali por um tempo na esperança que ele já tivesse saído da janela, mas ao tentar bisbilhotar novamente, novamente fui pega, vendo o garoto rir e apontar em minha direção.
- Te peguei. – Ele silabou fazendo gestos com as mãos.
- Não do jeito como queria. – Falei, rindo por ele não ter entendido e pedi para que ele esperasse.
No fundo sabia que o que iria fazer seria um atestado de burrice, mas ele parecia legal. Seria legal também conhecê-lo ou até mesmo brincar com ele. Remexendo na bolsa consegui achar o papel amassado, rindo ao abri-lo e ver o que estava escrito. Com o celular em mãos, salvei o nome de como ”Pseudo-Babaca” e novamente caminhei até a janela, vendo que ele ainda permanecia ali a minha espera. Com um sorriso sapeca nos lábios enviei o que tinha dito para ele em uma mensagem, esperando sua reação.
Várias e várias mensagens trocadas através do vidro, ambos estávamos parecendo crianças com o primeiro celular em mãos. Talvez sessenta por cento de nossa conversa se resumia no garoto passando cantadas em cada brecha que tinha, mas nada que passasse dos limites, aquilo até me fazia rir, já que às vezes chegavam a ser mais cômicas do que sedutoras. Ao me despedir, mandei um beijo para ele da janela, fechando a cortina e jogando o celular sobre a mesa. Agora era o meu tempo. Tempo sagrado. Tempo de se divertir. Sem homens. Sem preocupações. Apenas eu.

(...)

- Red Party. – Denise colocou três convites em cima da bancada, encarando eu e Chelsea. – A festa que sempre lota de gente bonita. – Piscou para mim – Bocas para beijar, bebidas de graça... Eu já falei sobre bocas para beijar?
- Ela é obcecada com essa festa. – A mulher ao meu lado sussurrou em meu ouvido.
- Obcecada não. Eu só não perdi nenhuma edição ainda. – Deu de ombros e se sentou na bancada, cruzando suas pernas. – Vocês irão comigo. Principalmente você. – Apontou para mim.
- Por que principalmente eu? – Me assustei, fazendo uma expressão de surpresa.
- Porque eu quero ver você beijando vários homens lindos já que você dispensou o último que arrumei pra você. – Resmungou, revirando os olhos.
- Eu não tenho culpa se ele não sabia conversar comigo – Levantei os ombros e ri – Ele também só queria me levar pra cama. Desculpa, não gosto de homem assim. – Balancei a mão no ar. – Mas eu vou. De toda forma.
- Essa é a minha garota. – Denise pulou da bancada e foi até mim, me abraçando com força. – Essa vai ser a melhor festa da sua vida. – Disse ela, sonhadora.
- Isso não vai prestar. – Chelsea, que estava ao nosso lado negava com a cabeça, rindo da situação.
Feixes de luz para todos os lugares, som alto e bebidas a todo o vapor. A boate sempre tinha um ritmo acelerado e trabalhar no meio daquela adrenalina era bastante eletrizante. Enquanto preparava alguns drinks, cantarolava a música que saía das caixas de som e entregava os pedidos no compasso da mesma. Algumas pessoas poderiam me achar idiota por aquilo? Poderiam. Eu estava preocupada com isso? Nem um pouco.
Quando os pedidos deram uma amenizada, encostadas no balcão encarávamos as pessoas que se encontravam na pista. Era lindo como todo mundo beijava na boca sem se importar em saber o nome da pessoa, segundo Chelsea. Definitivamente eu concordava com sua ironia. Aquilo de ter uma noite de prazer com alguém que não conhecia era horrível do meu ponto de vista. Sempre fui mais do tipo de pessoa que gosta de conhecer, sair, beber algo e ir conversando para depois chegar nas grandes coisas. Chelsea e Denise riam de mim por esse pensamento, mas eu não dava a mínima. Cada macaco no seu galho.
- Olha só quem apareceu. O menino do telefone – A mais velha me cutucou com o cotovelo, apontando para e seus amigos de longe.
- Eu dou de cinco a dez minutos para ele beijar qualquer menina da festa - A outra, com os braços cruzados e com uma de suas sobrancelhas arqueadas estava o encarando também.
- Eu dou de cinco a dez minutos pra vocês voltarem a prestar atenção no trabalho – Comentei indo preparar um pedido de bebida.
Ao entregar a bebida, desviei meu olhar pela multidão, mirando bem onde não devia. se atracava com uma loira na pista como se a boca dela fosse a última coisa do mundo.
- Credo. – Comentei fazendo uma careta – Ele tá quase engolindo a menina de tanta vontade que tá beijando.
- Bom, o resto dessa história você já sabe no que vai dar. – As duas falaram quase num coro, fazendo com que nós três ríssemos.
Ao terminar de quase engolir a garota, perdido na multidão tentando achar seus amigos acabou me encarando sem querer. Acenei com a mão com um sinal de continência com apenas dois dedos e ri de sua cara. Definitivamente parecia que ele havia visto uma assombração ao me ver.
era um bom menino, nossas conversas eram bastante produtivas e engraçadas e aquilo era bom. Por incrível que pareça, até estava pensando em dar uma chance de acontecer algo entre nós, mas agora eu estava vendo que ele não estava tão disposto assim igual havia me falado antes. Vida que segue, certo? Ou será que as coisas poderiam ser um pouco diferentes? Talvez eu deveria dar um pouco de emoção as coisas.

(...)

Roupas vermelhas nunca foram difíceis de achar, principalmente eu que era amante de um bom vestido vermelho ou preto. De tanto Denise falar sobre essa festa fiquei mais animada do que o esperado, eu simplesmente deveria ceder um pouco a um dos prazeres do mundo e com certeza seria nessa festa. mandou algumas mensagens tentando se explicar sobre o que aconteceu na noite passada, mas aquilo só me fez gargalhar, já que ele não me devia nenhuma satisfação de sua vida, e ele estava me dando.
Em frente a grande janela de vidro pela qual nos comunicamos há alguns dias, parei ali olhando para sua sala. Com uma mensagem mandei que ele aparecesse para que pudesse me ver e sorri com certa malícia, em sua direção. Dei uma olhada rápida em meu celular e pude ler algumas mensagens com elogios, alguns até pervertidos, como era de se esperar. Com uma das mãos, bem devagar, fui subindo o vestido colado que usava, parando antes de chegar até minha calcinha, levando uma mão até a boca como se fizesse um ‘’Ops’’ para ele. Ri com a cara que ele fez quando não dei o que ele queria ver e levantei os ombros, mandando um beijo para ele.

- Muito obrigada por me trazer nesse lugar maravilhoso – Disse um pouco alto pelo barulho do som alto do local no ouvido de Denise.
- Não precisa me agradecer. É só aproveitar. – Piscou para mim com um tom de segundas intenções e sorriu, me oferecendo um shot de tequila, sal e limão.
- A nós. – Levantou o pequeno copo e eu fiz o mesmo, lambendo o sal em minha mão, bebendo o shot e chupando o pequeno pedaço de limão.
A música cada vez se tornava mais dançável a medida em que o álcool entrava. Eu já não estava mais ligando para onde estava e com quem estava, apenas queria me acabar de tanto dançar. Em um momento me vi dançando com uma mulher que nunca havia visto em minha vida. Ela era linda. Era alta, cabelos bastante escuros e ondulados. Sua boca era bastante chamativa com um batom bem vermelho. Qualquer um queria beijar aquela boca.
Enquanto dançávamos, olhei para o lado e encontrei parado ao lado do DJ, de braços cruzados me encarando, o que me fez apenas sorrir e piscar para ele. De frente para a garota novamente, a puxei pela mão para que pudéssemos ficar mais perto do garoto que apenas nos encarava. Envolvi sua cintura com uma das mãos e comecei a dançar com ela no ritmo da música, remexendo meu quadril sempre que podia a encarando sem tirar os olhos dos dela. Agora dessa vez, eu estava de costas para ela, fazendo com que suas mãos estivessem em minha cintura enquanto meu quadril balançava de um lado para o outro como se tivesse vida própria. Em meio as reboladas, segurei uma de suas mãos e a passei por toda lateral de meu corpo, fitando meu olhar em que não se movia e nem tirava o olhar de nós duas.
Ao me virar, dei uma olhada pra trás, me certificando de que ele ainda estava olhando e então beijei a garota em minha frente. Seus lábios eram macios e sua pegada era uma coisa de outro mundo. Eu deveria ter conhecido ela antes de . (Ou não). Ao finalizar nosso beijo, mordi seu lábio inferior, puxando para mim com um sorriso safado no rosto. Limpei o rosto dela devagar com a mão e ela fez o mesmo comigo já que ambas estávamos sujas pelo batom vermelho e lhe dei o último selinho antes de voltar minha atenção para , que agora estava com outra expressão. Uma expressão mais séria, o que me despertou um desejo profundo de provocá-lo mais ainda. Mas dessa vez apenas eu e ele.
Caminhando a passos firmes, parei a sua frente, passando a mão por seus ombros devagar e o olhando nos olhos.
- Sabe... – Passei o dedo indicador por seu peitoral devagar – Eu vou até o banheiro. – Sussurrei piscando para ele antes de começar a caminhar em direção ao banheiro que era um pouco isolado de onde estávamos.
Enquanto eu andava, pude sentir que alguém estava vindo atrás de mim. Como esperado. Uma das mãos de foi diretamente em minha cintura, me puxando para que eu parasse de andar, até me puxar para um canto e me prensar contra a parede.
- Qual o seu joguinho dessa vez? – O garoto perguntou num tom sério, fazendo pressão contra meu corpo com o dele.
- Não sei do que você está falando. – Me fingi de boba, passando a língua pelos lábios.
- Ah, mas você sabe muito bem do que eu estou falando. – Continuou ele no mesmo tom, passando as costas de sua mão por meu ombro desnudo.
- Eu só quero me divertir igual você se diverte. – Sussurrei aproximando meu rosto o suficiente do dele, sentindo seu hálito quente contra minha pele. – Se me permitir. – Sorri voltando a me encostar à parede, dessa vez o empurrando para trás.
Ri baixo ao ver sua cara ao sentir meu empurrão, mas logo sua expressão mudou novamente quando eu o empurrei para a parede dessa vez. Aproximei meu rosto do dele até ficarem poucos centímetros de nossos lábios se tocarem.
- Eu. Não. Sou. Como. As. Garotas. Que. Você. Fica. Por. Aí. – Sussurrei em pausas indo e voltando com a cabeça para que ele não avançasse em meus lábios. – Você pode até conseguir um beijo meu, mas não vai conseguir me levar pra cama como as outras. – Sorri, descendo minha mão desde seu peitoral até seu abdômen de forma lenta.
- Eu não ligo. – Ele sussurrou de volta, fitando meus lábios e depois meus olhos. - Eu disse que você não é igual às outras pra mim. – Levou sua mão até meu quadril, segurando ali.
- E não sou mesmo. – Neguei com a cabeça, aproximando meu rosto e depositando um beijo em seu pescoço de forma suave.
Sorri de imediato ao ouvir o suspiro sair de seus lábios e suspirei também quando seus dedos apertaram meu quadril de uma forma gostosa. Mais uma vez um beijo foi depositado em seu pescoço, mas dessa vez com mais vontade. Minha mão livre foi de encontro ao cabelo do garoto, onde fiz questão de puxá-los para o lado, fazendo com que seu pescoço ficasse ainda mais exposto para mim. Minha boca brincava em seu pescoço alternando entre beijos e pequenas mordidas enquanto sua mão de meu quadril passou para minha bunda, onde a apertou com vontade. Segurei em sua mão e a puxei novamente para meu quadril.
- Você ainda não tem permissão pra fazer isso – Disse de forma séria para ele, segurando em seu rosto e o encarando.
Encarei seus lábios e no momento em que ele sorriu, tive a certeza de que queria beijá-lo. E foi o que fiz. O beijei com toda vontade que tinha, adentrando minha mão por dentro de sua camisa e tocando sua pele quente. Diferente do beijo que ele havia dado na garota da última festa, o nosso era lento. Lento, porém totalmente cheio de vontade. Enquanto nos beijávamos parecia que tudo ao nosso redor não existia. A música, as luzes, as pessoas... Tudo parecia ter desaparecido. Seu beijo era ótimo. Sua pegada era boa. Agora eu entendia o que as garotas viam nele. Quando sua mão tomou o rumo de minhas coxas, a segurei em meio ao beijo e abri os olhos para o encará-lo.
- Qual a parte do ‘’você ainda não tem permissão pra fazer isso’’ você não entendeu, meu amor? – Comentei contra seus lábios e neguei com a cabeça. – Você tem que aprender isso ainda.
A sua expressão era a coisa mais cômica que eu podia ter visto naquela noite.
- O que foi? Nenhuma mulher nunca disse não pra você? – Fingi surpresa para o garoto.
- Você é incrível. – Ele falou depois de um tempo, passando a mão pelos cabelos. – Parabéns. Sério. – Levantou as mãos para cima – Eu desisto de tentar te levar pra cama.
- Agora que as coisas estavam ficando boas? – Brinquei com ele, passando a mão pelos cabelos. – Mas você ainda nem me viu na cama... – Fiz um biquinho para ele, mas logo comecei a rir.
- Eu disse que desisto de te levar pra cama, mas não disse que desisti de te conquistar. - Ele me corrigiu, puxando meu corpo para perto do dele novamente.
- Droga. Eu achei que tinha conseguido fazer você largar do meu pé – Fingi resmungar e passei meus braços por seu pescoço – Se você tentar alguma mão boba eu juro que entro no seu apartamento à noite e corto suas bolas fora. – Sussurrei em seu ouvido antes de tomar seus lábios num beijo novamente.

(...)

Várias mensagens em meu celular. Várias mensagens de Denise. Várias mensagens de . Varias mensagens de Chelsea. Desde quando eu fiquei tão requisitada por conta de uma ida em festas? Depois de um banho demorado e um café bem quente, comecei a ler as mensagens. Chelsea e Denise estavam surpresas por conhecerem meu lado beijoqueiro, o que me fez quase cair da cama de tanto rir. Várias fotos da noite anterior foram tiradas e algumas eu não me lembrava de ter tirado.
As mensagens de eram todas elogiando nosso beijo. Ou como eu o provoquei e não o deixei fazer nada, o que por um lado o chateou, mas por outro o deixou com mais vontade. Sua última mensagem era um pedido. Pediu que, assim que eu acordasse desse uma passada em seu apartamento que ele tinha uma surpresa para mim, deixando seu endereço escrito na mensagem. Surpresa? Pra mim? Tudo bem, isso é estranho, mas eu estava até gostando disso.
Com as roupas trocadas e cabelo penteado, saí do prédio onde morava e caminhei tranquilamente até o outro lado da rua, onde morava. Pelas escadas, subi até o andar que indicava o endereço e ao chegar até sua porta, bati nela o suficiente para que ele pudesse ouvir. Bati outra vez, já que a primeira não obteve sucesso e ao ver a porta ser aberta, me assustei com o que vi.
- Oi? – Uma garota loira atendeu a porta me encarando de cima até em baixo.
- Desculpa. Essa é a casa do ? – A encarei e depois encarei o celular. Talvez eu tenha errado o andar.
- É sim, mas ele não está. – Ela me analisava de cima até em baixo. – Quer deixar algum recado?
- Hum... Avisa pra ele que a esteve aqui e mandou lembranças. – Sorri de forma forçada para a garota e virei-me, começando a andar em direção ao elevador.
Definitivamente eu estava me sentindo estúpida. Não estúpida por achar que ele não arranjaria uma garota que desse a ele o que queria, mas estúpida por ter ido até a casa dele e ele não estar ali nem para me receber ou ter deixado uma mensagem. Suspirei de forma pesada e neguei com a cabeça, chamando o elevador. Assim que a porta abriu, entrei no mesmo, apertado sem querer o número errado por estar ainda pensando no que havia acontecido, acabando por ir parar no estacionamento, quando ia apertar o botão certo para voltar, entrou no elevador. Uma parte de mim queria muito esganar aquele rostinho bonito e outra parte queria bater com a cabeça dele contra um chapisco.
- Você não... – Ele me encarou, fazendo uma cara de desespero. – Olha, eu posso explicar.
- Me poupe de suas explicações. – Levantei a mão para ele com a palma estendida num sinal para parar de falar.
- Me deixa explicar. – Ele relutou, deixando suas sacolas de lado agora, me encarando.
- Garoto, eu não quero te ouvir. – Revirei os olhos e tentei colocar o número no qual queria chegar para ir embora logo dali. – Me dá licença. – Pedi com certa raiva, já que ele não me dava espaço e bufei quando ele apertou alguns botões junto de mim, fazendo com que o elevador desse uma parada brusca. – Ah, ótimo. Tudo o que eu queria era ficar presa com você agora.
- Agora você tem que me escutar. – Ele parou em minha frente e segurou em meus ombros.
- Não encosta em mim. – O fuzilei com o olhar, me desfazendo de suas mãos em meus ombros.
- Não era bem isso que eu queria que você visse no meu apartamento. Eu não sabia que você acordaria tão cedo assim e já fosse direto na minha casa.
- Você achou que eu iria fazer o quê? Depois de todos esses dias que nos falamos você achou que eu ia te ligar e avisar que eu estava indo? Que eu ia mandar um e-mail? Uma carta? Um sinal de fumaça? – Cruzei os braços o encarando.
- Não. Não era bem isso que eu imaginava... Olha. E ia fazer um negócio pra você – Apontou para as sacolas no chão.
- Ah, claro. Depois de mandar a garota que você provavelmente comeu a noite inteira embora você ia me chamar pra comer. Ótima ideia a sua. E depois? Íamos fazer o quê? Você ia tentar me levar pra cama? Ou tentaria fazer algo na sala?
- EU ESQUECI, tá bom? Esqueci de mandar uma mensagem pra você avisando que não era pra ir. Caramba, eu realmente tô a fim de você. – Disse agora nervoso.
- Meu amor, suas atitudes só me provam o contrário disso. Primeiro você fica com mil garotas e vem me dar seu número dizendo que sempre quis conversar comigo, que quer me conhecer – Enumerei para ele com uma das mãos – Segundo, quando começamos a trocar mensagens te achei uma cara legal e cogitei te dar uma chance, mas você de novo ficou com outra menina e se assustou quando me viu. Eu liguei? Não. Porque eu não tenho nada com você. Terceiro, nós ficamos. Ficamos MUITO – Disse a última palavra mais alta – e depois disso você traz uma garota pra sua casa e ainda é a fim de mim? Suas atitudes só me fazem ver o contrário disso. Eu tento acreditar em você, mas não consigo. – Neguei com a cabeça, bufando de nervoso. – É por isso que eu odeio ficar dando corda pra homem, porque a maioria acha que pode fazer o que bem entender com as mulheres. – Passei as mãos pelos cabelos nervosa e dei graças pelo elevador ter aberto naquela hora. – Por favor, me esquece. – Falei por último, saindo do elevador antes que ele pudesse falar alguma coisa. Homens...

(...)

Dias se passaram desde o infeliz encontro que tive com no elevador. Suas mensagens eram ignoradas e suas idas ao bar para que pudesse me encontrar também foram sem sucesso, já que de nenhuma forma eu queria encontrar aquele garoto novamente em minha frente. As garotas também me ajudavam com isso e sempre que o viam me avisavam para não correr o risco de dar de cara com essa assombração novamente. Eu sentia falta de conversar com ele, mas mesmo assim o fato dele falado uma coisa e ter feito outra ainda me deixava ainda mais chateada, e era isso que me fazia não querer encontrá-lo.
Sábado de manhã um belo dia para o quê? Isso mesmo! Bingo! Em um asilo da cidade me dispus como voluntária para organização de eventos com a finalidade de haver uma confraternização e uma distração para os idosos da casa com direito a jogos, prêmios e música. Ver o sorriso nos lábios deles era como se aquele pequeno gesto curasse todos os males que estava sentindo.
- 4, 39, 10, 59, 71 – Os números eram falados enquanto todos colocavam as pecinhas nos números que tinham.
- BINGO! – Wanda levantou os braços numa animação contagiante, fazendo com que todos a sua volta comemorassem junto dela.
Escolhi uma sacola de presente e a entreguei, vendo que a mesma estava eufórica para abri-la e ver o que havia ganhado. Era uma chale de frio tricotado a mão todo rosa. Era a cara dela. Empolgada com seu presente, não esperou nem um minuto e já estava com ele sobre seus ombros, se achando com o novo presente. Aquilo era bom. Aquilo fazia qualquer um rir e esquecer-se dos problemas rapidamente.
Com todos os prêmios sorteados agora era a hora da comida junto com a música. Enquanto servíamos todos os idosos em suas mesas, passando por todas com os lanches que preparamos ouvi um murmúrio começar ao lado do palco onde iria começar a música, que me fez olhar para trás em busca do que estava acontecendo. A banda não estava ali, estava apenas uma pessoa com um capuz que de longe estava difícil de reconhecer, mas quando a pessoa falou no microfone era como se meu corpo tivesse sido paralisado.
- . – O homem encapuzado começou a falar no microfone – Eu quero muito te falar isso há um tempo. – Ele retirou o capuz e coçou a cabeça de forma nervosa. – Eu não sabia muito bem uma maneira de chamar a sua atenção, já que você deu um jeito de realmente desaparecer da minha vida. Mas eu não desisti mesmo assim. Você disse que minhas atitudes não condiziam com o que eu estava falando e realmente, hoje vejo que pisei na bola feio com você. As coisas que eu fiz não deveriam ter sido feitas nunca. Os pensamentos que tive também não deveriam ter sido pensados. – Segurou o microfone com mais firmeza sem deixar de me encarar. – Eu entendo perfeitamente sua atitude e vejo que mereci, mas hoje, aqui, vim te pedir uma nova chance. Uma nova chance pra um recomeço. Te encontrar foi difícil, não vou negar. Mas com umas ajudinhas ou outra a gente acaba conseguindo o que quer quando sente que é verdadeiro. – O garoto andou até uma cadeira e buscou um buquê de flores que fez com que todos ali presentes, começassem a bater palmas – Eu nunca tive a chance de poder tentar fazer o que eu realmente queria e hoje estou aqui de corpo, coração e alma entregues totalmente a você – começou a descer as escadas do palanque e andar em minha direção.
Por um momento eu quis correr dali para bem longe, mas por outro lado eu queria ficar. Eu acreditava naquelas palavras, mesmo não devendo acreditar. Esse garoto não desistiu do que disse mesmo. Meu rosto queimava de vergonha por ter passado por aquilo e quando ele chegou a minha frente com aquele imenso buquê, se ajoelhou e me encarou.
- , você me perdoa? Por tudo o que eu fiz? Por todas minhas atitudes babacas? Pelo momento embaraçoso que te fiz passar agora? Por tudo o que é mais sagrado, a única pessoa que eu tenho pensado é em você. É em você que eu penso quando acordo, quando almoço, quando estudo e quando vou dormir. É com você que eu quero ter a oportunidade de retomar o que estávamos construindo antes. Nossa amizade, nosso caso. Eu só quero ter a sua companhia novamente. – me encarava com um sorriso sincero no rosto.
Com os olhos marejados, encarei o céu por um minuto, respirando fundo e passei as mãos pelo rosto tentando raciocinar tudo o que estava acontecendo e foi nesse tempo que um coro começou a gritar ‘’Aceita’’ repetidas vezes, me fazendo rir feito uma boba. Neguei com a cabeça, encarando o garoto e soltei o ar de forma lenta.
- Eu aceito. – Falei com a voz trêmula, sentindo o abraço do garoto assim que ele ouviu minha resposta.
Meus braços o envolveram de forma forte, o apertando no abraço e ao encará-lo, dessa vez ele tomou meus lábios num beijo. Um beijo sincero, apavorado, quente, de saudade. Com a testa colada a dele, fechei os olhos e sorri. Sorri por tudo o que ouvi. Sorri pela surpresa. Sorri por ter alguém que se importasse comigo daquela forma. Com o buquê em mãos, Hillary, uma das organizadoras tirou uma foto nossa. Uma foto que marcou minha vida e a vida de .
Uma foto que nos fez perceber que: quando o sentimento é verdadeiro, não importa os obstáculos, sempre haverá um jeito de conquistar o que mais quer.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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