Favorite Girl
Finalizada em: 01/07/2018

Capítulo Único

“Se nada der certo e aos 30 ainda estivermos solteiros, promete que ficaremos juntos?”
Com essas palavras foi feito o juramento. Aos olhos de quem estivesse de fora poderia parecer a coisa mais idiota do mundo, mas para mim e não. A conexão que nós tínhamos só fazia com que aquela frase tivesse cada vez mais nexo com o passar do tempo. Era como se nós dois fôssemos namorados, mas nenhum de nós sabia disso, enquanto o resto do mundo fazia questão de achar que no final de tudo iríamos nos casar.
Nossa amizade veio desde a infância e quando digo infância é desde o berço. A minha família junto com a família de eram mais juntas do que se pode imaginar, logo, alguma coisa aconteceria eventualmente. Escola. Curso. Faculdade. Trabalho. Por incrível que pareça tudo isso nós fizemos juntos, mas nem sequer havia rolado algo de especial. Exceto pelo fato de que eu sempre fui apaixonado por ela.
Quando você gosta de uma pessoa às vezes é até difícil você pensar e colocar para si mesmo que está apaixonado, imagina então você conviver vendo o amor da sua vida com várias pessoas diferentes de você no lugar onde gostaria de estar? Bom, essa era a minha vida, mas nunca deixei de vivê-la, muito pelo contrário, assim como ela aproveitou sua vida eu também aproveitei a minha. Tive namoradas, não muitas, mas o suficiente para que eu aproveitasse o tempo com outras garotas... Até o dia em que encontrei minha melhor amiga devastada.

- ELE FEZ O QUÊ? – Esbravejei assim que terminou de contar em meio aos prantos. – Eu não acredito nisso. Não consigo acreditar. Eu vou matar esse homem!
- NÃO! Por favor, eu só... Esquece ele. – fungava enquanto limpava as lágrimas que insistiam em rolar pelo seu rosto. – Agora eu tenho que focar em outra coisa.
- Como eu vou esquecer o cara que te deu o mundo e simplesmente te abandonou no momento em que você mais precisa dele? – A encarei com a expressão de raiva e suspirei me ajoelhando a sua frente. – O que você vai fazer? O que eu posso fazer pra te ajudar?
- Eu ainda não sei. – Ela negou com a cabeça e suspirou passando a mão pelo rosto – Agora tudo o que eu queria era deitar na minha cama e dormir até as coisas melhorarem. – Sussurrou com uma expressão abatida.
- Não seja por isso. – A peguei no colo e caminhei com a garota até onde era seu quarto, deitando-a em sua cama e deitando ao seu lado. – Pronto, problema resolvido. Pode dormir o tanto que você quiser que eu vou estar aqui.
- Lógico que não. As coisas não são fáceis assim, . – Resmungou a garota emburrada segurando sua risada. – Eu não posso ficar jogada na cama. Eu tenho que fazer alguma coisa. Não sei. Procurar um médico? Um pediatra? O que uma pessoa faz quando fica grávida?
- Bom, primeiro eu acho que ela vomita muito. É assim que mostra nos filmes, né? – Inclinei a cabeça para o lado na esperança de arrancar um sorriso dela.
- Se você continuar assim eu vou vomitar na sua cara. – Revirou os olhos e mostrou a língua. – Como eu vou contar pra minha mãe que eu vou ter um filho, mas o pai dele não é presente?
- Eca. Que nojo, não precisava ser assim também. – Fiz uma careta a encarando e estreitei os olhos. – Eu. – Apontei para mim mesmo. – Eu sou.
- Você o quê, criatura?
- Eu sou presente. – Falei me sentando na cama e a encarando eufórico. – Eu sou presente na sua vida. Eu posso ser o pai da criança. Eu não tenho nenhuma experiência com crianças, mas meus cachorros me amam. – Sorri mostrando todos os meus dentes.
Era uma ideia louca? Talvez. Poderia dar errado? Com certeza. Eu estava com medo? Mais do que tudo na minha vida, mas se com isso minha melhor amiga ficaria feliz eu estaria disposto a fazer muito mais.
- Você sabe que criança é diferente de cachorro, não sabe? É um bebê. Não é só colocar ração e água que tá pronto. – Resmungou me fuzilando com os olhos.
- Linda, eu achei que você ficaria muito feliz de me ter como pai do seu filho, mas se você só se importa com a parte dos cachorros... – Assobiei balançando a mão no ar. – Eu tô só brincando, mas a parte de assumir eu não estou. Tenho certeza que você faria o mesmo por mim se nossos papéis fossem invertidos.
- Às vezes eu te odeio por você ser tão perfeito. – Seus olhos marejaram ao terminar sua fala, voltando a ficar chorona como antes.
- Eu estou longe de ser perfeito. Eu só não quero te ver triste. Por você eu faria qualquer coisa. - Sussurrei a abraçando e permanecendo assim sem falar mais nada.

Ela havia aceitado. Mesmo achando que nada daquilo daria certo, nós dois tentamos encarar aquilo da maneira mais sadia do mundo e mais uma vez o mundo achou que nós estávamos destinados a nos casarmos. Não é que eu não queria que isso acontecesse (não vou mentir), mas sei que nada aconteceria entre nós.
O tempo se passava, os meses pareciam voar e a barriga de crescia cada vez mais e eu achava aquilo fascinante! Eu nunca tinha acompanhado uma gravidez de perto e aquilo estava sendo uma verdadeira montanha-russa. Às vezes ficávamos revezando em qual casa iríamos dormir já que eu fiz questão de não deixar que ela ficasse sozinha em casa.
A cada ultra parecia que eu ia explodir de tanta felicidade. Mesmo sabendo de tudo como é uma gestação eu parecia uma criança de dez anos feliz ao saber que vai ter um irmão. Eu achava tudo maravilhoso. Como uma coisa pequenina se transformaria numa criança grande? A cada dia que passava todo o meu amor por que estava guardado dentro de mim estava vindo à tona e eu não queria estragar esse momento lindo que estávamos tendo. Era doloroso para mim? Bastante. Mas eu não poderia deixar aquilo transparecer. Eu precisava de sair com alguma pessoa.

- Posso saber aonde o senhor vai todo bonito assim? – A mulher parou em minha frente me analisando de cima até em baixo. estava de quase nove meses e mesmo assim continuava linda como sempre.
- Eu vou... Hum... Num encontro. – Pigarreei antes de falar sobre o encontro e suspirei – Eu me sinto com dezoito anos de novo.
- Então você vai sair com alguém? Quem é? Qual o nome dela? De onde ela é? Eu conheço?
- Você é do FBI ou algo desse tipo? – Arqueei uma sobrancelha para ela e a vi negar com a cabeça – Então não vou dizer.
- Ah, para... Você vai falar assim com sua melhor amiga? Gravidinha? – Passou a mão pela barriga a alisando como se fosse uma bola de cristal.
- Golpe baixo. – Resmunguei fazendo um bico e ri em seguida. – O nome dela é Clarissa. Você deve lembrar dela. A gente saía na época da faculdade, mas ela mudou de cidade e não quis continuar.
- Clarissa, Clarissa? Aquela que te deu um pé na bunda que você ficou sem falar com nenhuma garota um tempo por trauma? – Falou um pouco mais alto dessa vez.
- Não foi bem um trauma, tá? Eu só quis dar um tempo de beijar na boca. – Dei de ombros e a encarei, rindo de sua cara. – Calma, ela está aqui a trabalho e me convidou pra gente tomar um drink e comer alguma coisa. Nada demais. Pode ficar tranquila.
- Hum... Sei... Juízo, ok? – ajeitou a gola de minha camisa como se fosse minha mãe e arrumou meu cabelo – O jeito que você penteia seu cabelo te faz parecer muito santinho. Desse jeito você fica mais bonito do que já é e não te deixa com cara de “mamãe vou para a igreja”.
- Acho que vou levar isso como um elogio. – Falei depois de um tempo tentando digerir o que havia acabado de ouvir dela. – E a senhorita? Vai aonde? – Parei para analisá-la de cima até em baixo.
- Noite com as garotas. Aliás, a noite com as garotas vai ser aqui. Então, por favor – Ela colocou a mão em um dos meus ombros – Chegue tarde. Ou vai ficar ouvindo as garotas falarem de homens ou falarem sobre você. – Piscou para mim e deu seus últimos retoques no que eu vestia.
- Isso foi um sinal seu pra que eu leve a Clarissa para um motel? Não, né?
- Interprete como quiser, bebezão.
Ela sabia que me chamar daquele jeito me deixava com raiva. Sempre fazia isso para implicar comigo. Mas até que aquela ideia não era ruim. Lógico que eu não estava com aquilo em mente, mas se eventualmente rolasse, bom... Seria ótimo.
Encarei meu reflexo no espelho e tive que concordar com o que ela sempre falava comigo. Dessa vez eu estava mais com cara de homem do que das outras vezes que eu me arrumava. Vai entender...

Clarissa estava muito mais linda do que a última vez que nos encontramos. Agora, ambos com a vida e empregos dos sonhos poderíamos ter uma conversa sadia e terminar a conversa que tivemos, mas nunca chegou ao fim.
- Nunca imaginei que estaríamos aqui novamente. Juntos. – Clarissa me observou com um sorriso ladino no rosto. – Acho que temos muita coisa para conversar.
- Nunca imaginei que você me chamaria pra sair. Isso sim. – Brinquei com a garota, dando um sorriso ladino. – Depois de tanto tempo achei que nem se lembrava mais de mim.
- Como posso esquecer o meu primeiro namorado da faculdade? – Arqueou as sobrancelhas para mim, rindo em seguida.
- Olha, é muito fácil de esquecer uma pessoa que você não vê mais. – Inclinei a cabeça para o lado – Mas eu fico muito feliz de saber que você não se esqueceu de mim. – Sussurrei e segurei sua mão, acariciando-a com delicadeza.
- Pelo visto você não mudou completamente nada. – Sussurrou ela de volta com um sorriso bobo no rosto.
Nunca me passou pela cabeça que alguma coisa daria certo logo agora nesse momento da minha vida. Pai por opção e voltando a me relacionar com uma ex da faculdade? O mundo deveria estar pregando peças aleatoriamente e acabou caindo em mim.
- Fiquei sabendo que está grávida. – Clarissa comentou me observando enquanto eu comia, o que me fez quase engasgar.
- Sim, sim. Ela já está quase ganhando a criança e eu tô muito feliz de fazer parte desse momento. – Bebi um gole de água para empurrar a comida que quase engasguei.
- E você é o pai?
- Sim. Quer dizer. Não. – Me atrapalhei tentando explicar. – O ex-namorado dela surtou quando soube que ela estava grávida e pulou fora. Pra que a criança não cresça sem referência paterna eu me dispus a ser o “pai” – Fiz aspas com os dedos ao mencionar a última palavra – dela, sabe? Daí eu acompanho ela em todas as coisas que necessita de pai e tá tudo certo.
- Você sempre fez tudo por ela, não é? – Disse a mulher comendo agora um pouco do sorvete que ela pediu de sobremesa.
- Ah, eu apenas faço coisas que um melhor amigo faria, na minha opinião. – Dei de ombros e terminei de comer, encarando-a – Vai comer isso sozinha? – Brinquei e apontei para a tigela grande de sorvete. Sorvete era meu ponto fraco.
- Estava só esperando você perguntar. – Sorriu e me entregou outra colher.
Mesmo com outras pessoas parecia que me perseguia. Era estranho pensar nisso, já que eu estava num encontro tentando parar de pensar nela, mas sempre assuntos sobre ela apareciam sem que eu tocasse neles. O que eu deveria fazer além daquilo? Nosso jantar já havia acabado. Nossa sobremesa já havia acabado. Assuntos sobre trabalhos vieram à tona e me senti mais aliviado, já que agora eu poderia falar de uma forma mais tranquila.
De longe estava sendo uma noite bastante agradável. Em alguns momentos mandava fotos das brincadeiras que estava fazendo com as garotas. Mandava fotos desde as garotas bêbadas em poses comprometedoras até da própria com um penteado ridículo.
- Você gosta bastante dela, não é? – Clarissa disse assim que terminei de ver as fotos no celular.
- Hã? Não entendi. – Guardei o celular no bolso a encarando.
- Você. Fica com cara de besta quando vê alguma coisa dela.
- Eu? Não, acho que você tá se enganando...
- . – Clarissa chamou minha atenção e riu da minha cara – Essa é a mesma cara que você fazia quando estávamos juntos. – Ela segurou em minha mão e a acariciou devagar. – Você pode até tentar esconder dela, já que ela não sabe como você fica quando está louco de amores por alguém, mas eu sei. Acha que eu me apaixonei por esse rostinho atoa? – Ela apertou minha bochecha, o que me fez resmungar.
- Eu não... Ah, quer saber? Eu gosto dela sim. – Resolvi abrir o jogo com Clarissa. – Mas é algo que eu já tenho desde antes. Não insisto, pois sei que não vai dar em nada e eu estou bem desse jeito.
- Não... Você não está. – Negou com a cabeça e suspirou – Você tenta passar isso pra si mesmo, mas uma hora ou outra isso vai te machucar. E você sabe como você lida com essas coisas.
Infelizmente o que ela estava falando era verdade. Eu nunca fui bom em lidar com minhas frustrações pessoais e sempre acabava por me afastar dos outros. E se eu chegasse ao meu limite e me afastasse de quando ela mais precisasse de mim? Não... Eu não faria isso.
- Shhhh. – Coloquei o dedo indicador sobre os lábios da mulher e a encarei – Vamos parar de falar de mim por hoje. – Sussurrei e colei nossos lábios.
Eu a beijei. Beijei como se fosse a primeira vez que nossas bocas se encontravam. Relembrei de um passado que há muito tempo eu não lembrava como era. Eu senti saudades daquela boca, por incrível que pareça. Enquanto sua mão ia de encontro aos meus cabelos, meu braço desceu diretamente até o seu quadril o envolvendo e a puxando para que nossos corpos ficassem ainda mais juntos.
Nossas bocas já conheciam o lugar como ninguém e ambos sabíamos o que cada um gostava. Era isso. Eu precisava daquilo. Entrelacei meus dedos em seus cabelos e o puxei com certa delicadeza, fazendo com que ela tombasse a cabeça para o lado e seu pescoço ficasse exposto, pronto para que eu o beijasse daquele jeito.
-
... – Clarissa suspirou assim que comecei a beijar seu pescoço – Você não vai querer fazer isso em frente da sua casa, né? – Ela riu e me encarou.
- Você sabe que eu não me importaria com isso. – Sussurrei e dei um selinho em seus lábios, segurando em sua mão e a puxando para que pudéssemos entrar em casa.
Agora sim era o nosso momento. Momento de descontração. Os dedos de Clarissa desceram lentamente até chegarem à barra de minha camisa para logo a retirar sem cerimônia alguma. Em relação ao sexo nós nunca precisamos falar algo um para o outro. Apenas com olhares já sabíamos o que cada um queria.
Sentados nos sofá agora, era a minha vez de tirar uma peça da roupa de Clarissa. Desatei o nó que prendia sua fina camisa de cetim e a passei por sua cabeça, adorando a visão que passei a ter. Segurei em sua nuca e voltei a beijá-la. Com fome. Desejo. Vontade de tê-la. O celular em meu bolso tocava. Eu conhecia aquele toque, era o toque que havia colocado para identificar as chamadas de . Eu precisava atender... Ou não. Enquanto a beijava, tateei o celular em meu bolso e consegui tirá-lo, colocando para o lado no qual recusava a chamada. Voltei com o celular para o bolso e comecei a trilhar beijos pelo busto da mulher a minha frente. Seus cabelos negros faziam com que o branco de sua pele ficasse mais vívido e a minha única vontade era de deixá-la totalmente marcada com meus lábios. Chupões eram distribuídos enquanto nossa excitação ficava cada vez mais visível. Mais uma vez meu celular tocou o mesmo toque e a mesma pessoa que vinha em minha cabeça. . Eu sequer estava com cabeça para poder atender. A última coisa que eu faria era atender telefone. O mesmo desligou sozinho e voltamos ao que estávamos fazendo. A mão de Clarissa percorreu todo meu abdômen até chegar a barra de minha calça, onde começou a brincar com meu cinto com um sorriso sacana no rosto mas antes que pudesse fazer alguma coisa, novamente o celular tocou. Mas dessa vez não era a música destinada a e sim um número desconhecido.
- Desculpa. Eu preciso atender. – Murmurei tirando o celular do bolso e o colocando no ouvido, gelando por completo assim que ouvi a mensagem no aparelho.


? Nós estamos falando do hospital St. Monique onde acabou de dar entrada e está internada. Sua situação é complicada e você é o responsável pela criança, poderia comparecer aqui?”


Por quanto tempo eu havia ficado fora para que isso acontecesse? Será que suas chamadas eram um pedido de ajuda? Não... Não poderia ser isso. Eu estaria indo contra todas as promessas que um dia fiz. Num piscar de olhos minha roupa já estava novamente em meu corpo e mais ainda apavorado com toda situação. Clarissa estava nervosa, já que nada do que saía de minha boca fazia sentido por eu estar apenas gaguejando.
- Ho-Hospital. Bê-Bêbe. E-Eu. – Apontei para as chaves do carro – Por favor. – Supliquei ao vê-la pegar as chaves de imediato.
- Você não vai dirigir neste estado. – Disse a mulher de forma firme me encarando – Eu te levo, mas, por favor, fica calmo. Bebe um copo d’água, respira fundo. Só se acalma. – Ela segurou em minhas mãos e começou a respirar fundo, indicando que eu deveria fazer o mesmo.
Uma, duas, três... Dez vezes foi o suficiente para que finalmente a calmaria tomasse conta de mim aos poucos. O que poderia ter acontecido de tão grave? Será que a criança estava bem? Como estava? Eram tantas dúvidas que pairavam sobre minha cabeça que raciocinar agora era uma tentativa falha. Clarissa, com suas roupas já trocadas fez a gentileza de me levar até o hospital e cada minuto que se passava era um aperto a mais que meu coração sofria.
- Por favor, em qual quarto se encontra ? – Perguntei nervoso a uma enfermeira aleatória.
- Você é ? – Confirmei com a cabeça de imediato – Por favor, me siga até um lugar mais reservado.
Pronto, agora era eu quem iria precisar de um médico.
- , certo? Eu sou a Dra. Mônica, a médica que fez o parto de . O bebê nasceu com saúde e se encontra no berçário, mas estou aqui para falar sobre sua mulher. – A mulher cruzou os braços e sua feição mudou. – Houve complicações. Ela chegou reclamando de muita dor e tivemos que fazer uma cesárea de emergência, já que ela não estava com dilatação o suficiente para ter o parto normal, mas, durante a cirurgia ela acabou por perder muito sangue e permanece entubada. Sei que é muito para o senhor assimilar, mas peço que tenha paciência. Elas precisam de você. e sua filha.
Era muita coisa para ser assimilada. Uma garotinha. Minha melhor amiga. Eu iria desabar a qualquer momento. Lágrimas rolavam involuntariamente por meu rosto e sem perceber eu já estava em prantos. A mão de Clarissa suavemente limpou as lágrimas involuntárias, fazendo com que eu a encarasse. Um sussurro saiu de seus lábios. Algo como “tudo vai ficar bem” e o que me restou foi concordar com a cabeça. Agora tudo o que eu mais queria era um abraço, mas não era da pessoa no qual eu estava recebendo.

1 semana depois...
- (...) Mais tarde, o lobo acordou com um peso estranho no estômago. Teria sido indigesta a vovó? Pulou da cama e foi beber água no córrego, mas as pedras pesavam tanto que, quando se abaixou, ele caiu na água e ficou preso no fundo do córrego. O caçador foi embora contente e a vovó comeu com gosto as broinhas. Chapeuzinho Vermelho prometeu a si mesma nunca mais esquecer os conselhos da mamãe: “Não pare para conversar com ninguém, e vá em frente pelo seu caminho”. – Encarei a criança dormindo em meu colo tranquilamente e sorri ao perceber que ela era basicamente a cópia de . – Definitivamente você é a cara da sua mãe. – Sussurrei passando o dedo indicador na pontinha de seu nariz.
Mesmo tentando manter e seguir tudo da forma mais tranquila possível estava sendo difícil segurar a barra. Várias pessoas nos ajudavam, mas mesmo assim ainda faltava alguma coisa.
Ao deixar nossa criança com a mãe de , pude ter um momento a sós com ela. Respirei fundo e sentei-me ao seu lado na cama, segurando em sua mão.
- Daqui a alguns dias é o nosso aniversário. – Disse baixo enquanto acariciava seus dedos delicados – A nossa promessa ainda continua de pé, tudo bem? – Brinquei dando um sorriso melancólico. – Por favor. Eu preciso de você. – Sussurrei com a voz trêmula tentando me conter para não chorar mais.
Eu não conseguia comer direito e muito menos dormir. O pensamento de perdê-la só fazia com que eu ficasse ainda mais assustado. Perder minha melhor amiga e o amor da minha vida me assustava de uma maneira incompreensível e eu me recusava a deixar que outros tocassem nesse assunto como se fosse algo que deveria ser feito.
- Não! Vocês não irão fazer isso. – Esbravejei encarando as pessoas ao meu redor. – Vocês não fazem ideia do quão louco isso fica em voz alta. Isso não vale a pena! Vocês não estão pensando direito. – Levei as mãos aos cabelos de forma nervosa.
- ... Nós não temos muito que fazer. Os próprios médicos conversaram conosco sobre isso. – Sussurrou a mãe de . – É o melhor a se fazer.
- Não, não é! Ela vai sair dessa e eu tenho certeza disso. Eu sinto que isso vai acontecer. – Bati o pé no chão os encarando – Enquanto eu estiver aqui não vou deixar que este absurdo aconteça. – Com a raiva pelo meu corpo, abri a porta do quarto e fechei assim que entrei, voltando a ficar ao lado de onde eu jamais sairia.

2 semanas depois...
Flores e balões enfeitavam o quarto de uma maneira que parecíamos estar em uma festa infantil. Cores vivas traziam um humor diferente para o quarto, mas o meu não mudava de nenhum jeito. Era o nosso aniversário e não havia motivo para comemorá-lo. Eu estava perdendo as esperanças... Talvez desistir de tudo seria uma ótima opção.
- Droga, . – Resmunguei depois de um tempo a encarando do mesmo jeito há vários dias. – Eu preciso de você. Pode soar egoísta, mas eu não sei viver sem você. Eu não consigo pensar em nada sem antes pensar em você. Você é o meu combustível, minha essência, meu chão, meu tudo. Eu te amo tanto que chega a doer em mim. – Suspirei em meio aos soluços causados pelo choro e apertei sua mão. Minha cabeça doía mais do que tudo agora. Fechei os olhos e respirei fundo, só conseguindo me lembrar de soltar sua mão e adormecer.
- ... ... Acorda. – Uma voz insistia em me chamar, mas eu não queria acordar. – Vamos. – Abri os olhos devagar, passando a mão pelo rosto e suspirei ao olhar para cima, encontrando minha mãe. – Feliz aniversário! – Ela sorriu me entregando uma sacola com vários doces que ela mesma havia feito.
- Muito obrigado. Você sabe que não precisava disso. – A abracei com força e me permiti fechar os olhos novamente. – Não faz sentido eu comer isso tudo sozinho se não tiver a comigo. – Suspirei cansado. Eu não queria chorar mais. Só queria um tempo pra descansar e respirar ou o abraço da minha mãe.
- Eu queria poder te ajudar. Te ver assim parte o meu coração.
- Não precisa se preocupar comigo. Eu estou bem. – Sorri de forma cansada tentando acreditar em minha própria mentira e voltei a me sentar ao lado de .
- Feliz aniversário para nós dois. – Sussurrei entrelaçando nossos dedos. – Você tem uma filha linda, sabia? Acho que vou fazer questão de te lembrar disso sempre. – Sorri ao me lembrar da pequena criança em meus braços. – Registrei seu nome como Aurora por conta do nosso sonho de vermos a Aurora boreal um dia juntos. Bom, pelo menos agora temos uma Aurora dentro de casa. – Beijei sua mão com delicadeza. – Eu te amo muito. Muito mesmo. E sei que você não vai nos abandonar. – A encarei com convicção e logo arregalei os olhos ao sentir um aperto em minha mão. – ? - A chamei, sentindo novamente o aperto em minha mão. Seus olhos se abriram lentamente e a única coisa que saiu de meus lábios foi: ENFERMEIRA!

(...)


- Eu não sou de vidro. – resmungou na tentativa de ajudá-la.
- Ai, eu sei. Mas você estava no hospital, né? Eu não quero te deixar sozinha mais. - O homem resmungou, cruzando os braços e fazendo um bico.
- , faz um mês e meio que eu recebi alta. – Revirou os olhos para ele enquanto dobrava as roupas da bebê.
- Eu só quero que você se certifique de que eu não vou sair do seu pé agora. Nunca mais. – Negou com a cabeça de forma birrenta, mas logo sorriu feliz por estar com ela agora.
- Até sendo chato você consegue ser um amorzinho. Por que você é assim? – A mulher o encarou com os braços cruzados e negou com a cabeça. – É obra do tinhoso. Só pode.
- Tudo isso porque você merece. – O rapaz levantou os ombros e se espreguiçou, bocejando. - Faz um favor pra mim? Abre a gaveta da cômoda e pega uma camisinha pra mim. As minhas acabaram. – Ele a encarou, segurando a risada.
- Eu não acredito que você tá me pedindo isso. – A mulher, agora nervosa revirou os olhos. – Pega você, eu ein.
- Shhhhh, só pega logo. – Balançou a mão no ar de forma repetitiva.
Ao finalmente abrir a gaveta se deparou com algo que não estava. Era uma caixinha. Uma pequena caixinha azul aveludada com as iniciais de seu nome.
- Você pode me dizer o que é isso? – Com a caixinha em mãos, a mulher virou-se para o homem que agora estava de joelhos a sua frente.
- Eu esperei bastante tempo. Na verdade esperei trinta anos para finalmente poder me declarar e fico feliz que esse dia tenha chegado. Em toda a minha vida foi sempre difícil ter que esconder esse sentimento por você que cada vez mais ia crescendo com o passar do tempo. Eu sentia ciúmes. Sentia ciúmes de você com todos os babacas que já namorou na vida e mesmo eu namorando com várias garotas nenhuma delas me fez tão bem igual você faz. Todas as vezes que você precisou de mim eu estava lá ao seu lado, não importando o que acontecesse. Fui seu melhor amigo, às vezes seu pai, irmão e até seu namorado. A única coisa que eu mais queria na minha vida era ter você porque com você tudo fica melhor. Tudo. – O homem se esticou e pegou a caixinha da mão da mulher e a abriu, exibindo os anéis. – Hoje com Aurora em casa eu percebo que não quero deixar esse momento passar. Quero viver ele ao seu lado. Ao lado de vocês duas. Mas eu não quero ser só o seu melhor amigo, eu quero muito mais do que isso. Quero ser o seu melhor amigo, seu amante, seu namorado... Quero construir uma vida ao seu lado e permanecer para sempre. - ”Se nada der certo e aos 30 ainda estivermos solteiros, promete que ficaremos juntos?” – Esticou a caixinha na direção dela. – Aceita construir essa nova etapa da sua vida comigo?
A mulher tinha um sorriso enorme em seu rosto e assim que ele havia terminado de se declarar, a mesma fez questão de pular em cima do homem, o jogando no chão. Encheu seu rosto de beijos e encarou com toda felicidade do mundo.
- É lógico que eu aceito. Aceito, aceito, aceito! – Voltou a encher seu rosto de beijos e por fim, os dois se beijaram.
O primeiro beijo. O primeiro beijo de forma mais espontânea o possível. Um beijo que se encaixou perfeitamente. Os dois tinham uma química que nem mesmo os químicos poderiam explicar tamanha compatibilidade entre si. A vida as vezes pode fazer com que momentos difíceis venham à tona, mas sempre a tempestade vem primeiro e depois o arco-íris. Esta é a ordem.




Fim.



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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