– E se alguém me ver assim? – perguntei, nas últimas tentativas de impedir aquilo de acontecer.
– É claro que vão te ver assim, seu idiota – me respondeu, doce como um coice de uma égua. – Vamos pra um pub, você acha que só vai ter nós três lá?
– Alguém conhecido, porra, você me entendeu.
– Não fale assim, – disse Elizabeth em tom condescendente. – Uma dama não deve falar palavrão.
– Eu não sou uma dama, eu tenho um pênis – falei o óbvio, e as duas riram.
– Breaking News: mulheres trans também têm pênis, em alguns casos. Mas isso é conversa pra outra hora, seu cérebro de amendoim não vai processar tanta informação ao mesmo tempo – Liz continuava falando com aquele ar de arrogante benevolência, o que começava a me irritar. – Agora, chama um táxi, . Vou ver se o restante do pessoal já tá lá.
Assentindo, minha irmã pegou o celular e se afastou para ligar. Se não fosse por uma boa causa, não aceitaria nunca me prestar a esse papel.
O importante da história era que, se eu sobrevivesse até o fim da noite, ganharia duzentas libras e poderia levar ao melhor encontro de dia dos namorados da vida dela – que eu ainda não tinha planejado, mas com certeza seria ótimo porque seria comigo. Eu estava apaixonado por ela ao ponto de me vestir de mulher para minha irmã poder fazer o trabalho da faculdade, acredito ser o suficiente para me chamarem de ridículo. Mas... valia a pena o esforço, honestamente.
era minha amiga, e eu era lerdo o bastante para não conseguir demonstrar a ela o que sentia. Não era um caso de friendzone – eu nem acredito nessa merda –, eu só não conseguia achar um jeito legal de dizer que, apesar das nossas ficadas sem compromisso, eu não queria ser só o estepe. Com o dia dos namorados se aproximando, eu daria a cara a tapa de uma vez por todas, ainda que fosse rejeitado. Pelo sim ou pelo não, eu resolveria logo esse problema.
Então, por causa dela, eu estava fantasiado de e teria que aparecer em público dessa forma, com direito a registros em vídeo, foto e relatório escrito. Tinha a ver com feminismo, o que era muito a cara de Elizabeth, colega da minha irmã. Elas fazem Comunicação, coisa de Humanas.
– O Damien já tá lá, ele levou a GoPro – Liz voltou para perto de mim, que estava sentado no braço do sofá, perto da porta. – Vamos gravar o primeiro vídeo logo.
Fiz uma cara de “Eu não tenho escolha, mesmo” e esperei ela dar algum sinal para começar. Ligando a câmera do celular e o pondo na horizontal, ela acenou com a cabeça para mim.
– O que eu tenho que falar?
– Se apresenta, diz que você tá contribuindo pro laboratório de jornalismo... – ela enumerou. – E ajeita essa postura, entra na personagem!
– Só vou entrar na personagem depois de beber – rebati, ajeitando-me. – Tá, vamos lá! – Respirei fundo. – Meu nome é , tenho 23 anos e estou ajudando a e a Elizabeth com o laboratório de jornalismo. Estou vestido de mulher pra saber como é o lado delas durante uma noite. Espero sair vivo dessa.
Liz riu, abaixando o celular em seguida. Ouvimos uma buzina no portão de casa, então apareceu no fim do corredor.
– Bora?
Primeira observação sobre ser mulher: sapatos de salto, independentemente da altura, são um inferno. Não sei onde conseguiram uma bota tamanho 41, mas eu estava usando uma; não sei onde ela era confortável – segundo a Liz –, também. Meu calcanhar estava começando a doer e mal tínhamos entrado no pub.
Maquiagem também era um desconforto, apesar de minha pele realmente parecer melhor quando eu estava de base. Meus olhos coçavam, e quando me atrevi a passar as costas das mãos, Liz quase me matou por “apagar o gatinho”, fazendo daquela a primeira e última vez.
Eu estava bonita, mas os pequenos detalhes que me faziam ser uma mulher atraente também me causavam incômodos. Agora eu entendia a questão de “indústria da beleza” e por que ela era tão cruel; induzir alguém a usar tudo isso, com o argumento de que só assim se alcançaria a beleza, reduzia todo mundo a um clubinho minúsculo. Ninguém devia ser obrigado a entrar no clubinho. Eu odiava clubinhos. Não era à toa que, durante o ensino médio, eu era aquele garoto esquisito que não tinha um grupo de melhores amigos, mas que conhecia todo mundo.
Mas lá estava eu, , travestido de mulher em um pub onde tocava um cover de The Kinks. Uma curiosidade sobre The Kinks: eles pareciam os Beatles, mas não deram certo. Provavelmente seriam os maiores rivais da época, principalmente nos EUA, que tem umas pessoas meio doidas que adoram ser fãs das coisas. Em particular, eu preferia The Kinks, porque gostava de ser do contra, então pelo menos algo naquela noite poderia ser legal.
O combinado entre mim e minha irmã era que eu deveria agir normalmente, sem contar para todo mundo que estava disfarçado. Isso implicava em afinar minha voz e usar o banheiro feminino, o que não seria uma boa ideia, definitivamente. Já estava pensando na prova de resistência que seria beber e não fazer xixi, e não me parecia nada bom, mas eu ia beber mesmo assim. Era por conta da e dos amigos dela, o que eu podia fazer?
– Ei – chamei o garçom, imitando Elizabeth ao me apoiar sobre o balcão, fazendo meus seios falsos parecerem maiores. O cara que se virou para mim veio me atender com um sorrisinho nojento. – Me vê outra Cuba Libre, por favor?
– Só isso? – Assenti. – E o seu nome, posso saber?
– Não – sorri ao respondê-lo. – Faz o meu drink sem dar em cima de mim, por favor.
Ele ficou puto com a minha resposta, e eu só fiquei preocupado com a possibilidade de ele cuspir no meu copo. Eu faria isso, no lugar dele, embora, pensando melhor, fosse uma completa idiotice punir alguém que não quis ficar comigo. As pessoas têm direito de dizer “não”, não?
– Aqui, querida – disse outro atendente, entregando-me um drink errado e indo embora com a minha comanda imediatamente, para registrar.
– Moço, meu drink tá errado! – ouvi alguém dizer ao meu lado, quando abri a boca para falar. Olhei para a pessoa e vi minha Cuba Libre ali.
– O seu é um Mojito? – perguntei, vendo-a se virar. Gelei da cabeça ao saco por ver ali.
– É! – Respondeu ela, primeiro olhando para o copo que eu estendera. Ao erguer os olhos na minha direção, ela franziu o cenho. – ?!
Tentei desviar rapidamente, trocando os copos entre a gente, mas já era tarde.
– , por que você tá vestido assim? – ela quis rir, e em um ato desesperado, eu a beijei. não resistiu por já termos feito aquilo diversas outras vezes, mesmo aquela sendo uma ocasião extraordinária. Eu mal conseguia pensar em como tinha torcido para nos pegarmos de novo, desde a última vez que ficamos na festinha da irmã mais nova dela, pois estava ocupado demais tentando pensar em como a tirar dali e explicar que não tinha nada a ver. estava me devendo bem mais que duzentas pratas.
– Dá pra dar licença? – Disse alguém, nos empurrando para fora do balcão do bar. – Aqui não é lugar de ficar se agarrando, tem gente querendo ser atendido também!
Separei-me de , pegando os copos e rapidamente saindo dali, com ela em meu encalço. A barulheira não me deixava ouvir sequer a voz da minha consciência, e era ideal para ela não me fazer qualquer pergunta. Somente quando saímos para a área de fumantes que pude respirar fundo.
– Não é isso que você tá pensando – disparei, apelando pro clichê. Ela continuava um tanto assustada, um tanto com vontade de rir. – Eu sou, eu tô num experimento. Pra minha irmã.
– Tá experimentando as roupas dela?
– Não! – Ri da minha própria situação. – Ela e dois amigos estão fazendo um trabalho final pra faculdade e precisavam de ajuda. Eu sou a ajuda deles, entendeu?
– Ah, sim... – com bom humor, ela pareceu entender.
– Eu não posso contar pra ninguém que sou eu, as pessoas têm que acreditar que sou uma mulher – suspirei, frustrado. – Minha irmã não pode saber que você sabe, e você não pode contar pra ninguém.
– Ok, eu prometo não contar – ela cruzou os indicadores sobre os lábios, em sinal de silêncio. – Mas você tem que me prometer não me beijar mais na frente de todo mundo.
Então eu murchei. Senti uma agulha espetando minha cabeça, fazendo todo o ar do meu corpo sair e a pele molenga e sem sustentação cair no chão. Tudo isso provavelmente foi traduzido por uma cara de merda.
– Meu primo tá comigo, ele é meio... – tentou procurar a palavra certa – homofóbico. Prefiro evitar problemas.
– Entendo. – Por trás do tom compreensivo, eu respirava aliviado por não ser uma rejeição traumática, e sim um desvio de percurso. Lembrei-me finalmente dos drinks, entregando a ela o correto. – A propósito, tô bonita?
– Linda, – riu , daquele jeitinho que os olhos sorriam junto. Eu instantaneamente quis beijá-la de novo, mas fui obrigado a me conter. – Vamos voltar? Quero terminar de ver o cover.
Assenti, lembrando-me que Damien tinha pedido para eu não me afastar, já que ele teria de gravar alguns trechos da noite. Entre idas à área de fumantes para gravar e filas enormes do banheiro feminino – elas iam em grupo para uma segurar a porta para a outra, eu descobri –, acabei me perdendo de . Não que ela fosse motivo de preocupação, eu que era meio neurótico e carente quando ficava bêbado, e encarnar uma mulher me deixava bastante inseguro. Eu gostava de fazer as coisas bem-feitas, então se eu seria uma mulher durante uma noite inteira, devia ser o mais crível possível. Nessa história, já tinha perdido as contas de quantas vezes perguntei se não parecia forçado, para quem sabia do disfarce.
– Se você me perguntar mais uma vez sobre isso, vou te dar um soco – disse minha irmã, virando-se de costas para mim e fechando a rodinha com os amigos dela. Entediado, comecei a mexer no celular e tive a brilhante ideia de tirar selfies.
Eu estava gato pra caralho, tinha mesmo que guardar uma recordação.
Um maluco acabou se enfiando na minha foto e não foi nem como photobomber, foi na cara de pau, em primeiro plano, mesmo. Imediatamente me afastei, olhando-o de cara feia.
– É pra postar no Facebook quando você colocar “em um relacionamento sério” – disse o cara, e eu me segurei muito para não perguntar se ele estava me estranhando, até lembrar que eu quem o enganava.
– E quem disse que eu quero um namorado? – Indaguei, pondo a mão fechada na cintura.
– Por que não ia querer?
E nesse momento começou a jornada de conquista de um galalau que nem havia perguntado meu nome. Meu autocontrole realmente era sensacional, pois mesmo bêbado eu não desatava a falar que:
Primeiro ele colocou a mão em mim, quase na minha bunda.
Depois ele se inclinou para cima de mim – Só um beijo, pra eu me despedir – disse ele, sem me dar tempo de pensar.
Em seguida eu pus minha mão aberta colada em seu rosto, empurrando-o em velocidade recorde.
– !
Novamente ouvi a voz de , mas ela não havia me chamado. Ao vê-la se enfiar entre mim e o babaca que falava comigo, liguei os pontos e assimilei que era o primo homofóbico dela. Que irônico.
– Você tá bem? – Perguntou-me ela, e eu assenti. – , você tem problemas?
– Vocês se conhecem? – O filho da mãe agia como se nada tivesse acontecido.
– Sim, é o--
– A Dolores – apressei-me, cortando . – Lola.
– Como a música que tocaram? – Ele sorriu, empolgado.
– Exatamente como a música – falei pausadamente, divertindo-me com a ambiguidade da frase. Naquele momento, notei que , Elizabeth e Damien não haviam movido um dedo para me ajudar. Que porra de consideração por quem os estava ajudando, não?
Olhei ao redor, identificando a luz vermelha da GoPro de Damien não muito distante dali. estava ao lado, dando sinal para que eu continuasse ali, porque eles estavam gravando. Bufei, cansado daquela história.
– Me desculpa... Lola – teve de pensar antes de falar. – Ele tá bêbado, tá fazendo merda... Já chamei um táxi, pelo menos.
– Eu também tô bêbada e não agarrei ninguém – argumentei, sendo rebatido pelo olhar inquisidor dela, que fez questão de me lembrar que aquilo era uma mentira. Sorri, sem graça.
– Eu acho que te amo, Lola – disse , nos lembrando de sua existência desnecessária. Ele novamente se aproximou, segurando meus ombros firmemente. Franzi o cenho para ele, sem entender por que ele tinha dito aquilo. – Dizem que a gente sente borboletas no estômago quando ama alguém. Eu tô sentindo borboletas por você, eu te amo com meu estômago!
– Ele vai vomitar – alertei, olhando, assustado, para . Segurei os braços de , na altura dos cotovelos, guiando-o para o banheiro ou lugar mais vazio e perto possível. Poucos instantes depois, uma lixeira se tornara vítima de afogamento em vômito.
– Ainda bem que foi antes do táxi – observou ela, tentando ignorar qualquer detalhe que remetesse ao primo passando mal, de cara para uma lixeira. – Com certeza o motorista ia matar ele.
– Se ele soubesse que tava dando em cima de um cara, ele mesmo se mataria – falei propositalmente mais alto, para que ele pudesse me ouvir. Provavelmente a bebedeira apagaria essa parte da memória dele, infelizmente. – Por falar em dar em cima, quero sair contigo um dia.
– Um encontro de verdade? – Assenti. – Quando?
– Agora não é a melhor hora pra marcar um compromisso, eu vou esquecer – confessei, rindo e a fazendo rir também.
– Passa lá em casa amanhã – disse ela, ignorando também o que eu acabara de falar. – Se você esquecer, vai perder a chance.
– Cacete, – cocei a nuca, fazendo uma careta. Ela deu de ombros, com um sorriso vitorioso. – Amanhã, hoje mais tarde? Ou amanhã, domingo?
– Domingo – ela deu uma risada gostosa de ouvir antes de responder. Ainda bem que era amanhã mesmo, porque eu precisaria de dezoito horas de sono para esquecer esse dia. – Depois do almoço, de preferência.
– Eu só almoço depois das três, no domingo, só avisando.
– Ótimo, posso começar a me arrumar às onze – disse , jogando os cabelos para trás, fingindo-se de top model. Quando ela desviou o olhar para algo em movimento, procurei o foco de seus olhos e vi o táxi parando a alguns metros de nós. – Me ajuda com meu primo?
Concordei, embora não quisesse respingos de vômito na roupa da – ela me mataria se soubesse. Seguramos pelos ombros, colocando-o no banco sob o olhar mortífero do motorista. Ele não precisava nem dizer o quanto estava odiando levar uma pessoa passando mal no carro limpinho dele.
– Tchau, Lola – acenou para mim, com um sorriso lânguido. Respondi também com um aceno, abaixando-me um pouco à frente da janela. Eu apostava muitas fichas de que aquela noite, para ele, nunca existiria; a Lola sequer teria nome, na cabeça dele, mas saber que ele queria me beijar (eu, , um homem) era “vingança” o suficiente para a moral e os bons costumes dele. Eu me sentia um pouco realizado por aquilo, sendo honesto.
aproveitou o estado do primo para me dar um beijo estalado nos lábios, disfarçando logo depois. Esperei o carro se distanciar para voltar ao bar, onde o trio que eu acompanhava me esperava. Não ficamos até muito depois, pois eu já começava a ficar rabugento por estar com sono e eles já tinham material suficiente para editar, faltaria somente meu depoimento final, que gravaríamos em casa. Já estava contando os segundos até finalmente poder me desmontar.
***
e eu saímos para um restaurante caro com o dinheiro que recebi. Nos beijamos. Mais tarde, transamos. Nos beijamos mais um pouco, e eu a pedi em namoro. Ela aceitou depois de eu apresentar uns bons porquês de ser minha namorada, um deles era já conhecer os pais dela e não precisar passar pela situação constrangedora de ser apresentado a eles. Minha entrada na vida dela – e na casa também – foi natural, e meses depois continuávamos firmes.
, Elizabeth e Damien conseguiram nota máxima com o curta-documentário, que foi postado no Youtube e recebeu algumas milhares de visualizações, viralizando dentro da faculdade deles – e eu acabei virando uma subcelebridade entre os amigos deles.
havia voltado para casa no sábado, ele morava na cidade ao lado e tinha aparecido somente porque a mãe de pedira a ele que acompanhasse a filha. Quando se recompôs, não comentou nada sobre as três garotas que tentou beijar à força – e teve que socorrer –, pois só se lembrava de estar de cara para uma lata de lixo. A Lola havia se tornado uma piada interna entre mim e minha namorada, e algum tempo depois minha sogra descobriu e achou o máximo. Ela até mesmo pediu para ver as minhas fotos com disfarce e – eu levei na esportiva – disse que eu era ainda mais bonito como mulher.
Até que, em uma reunião de família, ela desatou a falar sobre como “um conhecido” havia “se apaixonado com o estômago” por outro cara sem saber.
– É sério, se isso aconteceu com um conhecido meu, pode acontecer com o , por exemplo – disse ela, quase entregando o jogo. – Vai que um dia ele conhece uma Lola também? – Caso eu não estivesse ali, com certeza ela teria dado nome aos bois para os pais dele, tão conservadores quanto.
– Meu filho não anda com esse tipo de gente – rebateu a tia de , um pouco irritada.
– Com todo respeito, a senhora sabe com quem ele anda, na verdade? – Indagou , muito mais incomodada com a defensiva da tia que tentada a contar a verdade. – Porque se a senhora acha que os amigos dele são pessoas de bem só porque não andam com gays, devia rever seus conceitos. Seu filho fica bêbado e quer agarrar qualquer coisa que vê pela frente. Esse tipo de gente também não devia ser considerado gente de bem, não.
– Ele é homem – foi o argumento do tio.
– Eu também e não preciso disso – me meti na conversa brevemente. – O senhor também não, tem uma esposa. Não é porque um cara tá solteiro que ele tem que tratar as garotas como pedaço de carne por aí.
apontou para mim, com um sorriso orgulhoso, como se dissessem “Viram só? Bem melhor”.
– Lola? – ouvi a voz de e gelei na hora, vendo o rosto confuso da tia de . Virei-me devagar, ansioso pela reação dele. – Foi mal, cara, achei que fosse outra pessoa.
– Acho que você acertou a pessoa – disse minha sogra, totalmente divertida com a situação.
– Tá doida, tia? – Ele riu. – Achei que fosse uma garota que conheci, amiga da .
– Prazer, – levantei-me do sofá, onde antes estava de costas para a entrada da sala. Estendi a mão para , que não esboçou emoção alguma. – Ou Lola, exatamente como a música.
Então a ficha – não só – dele caiu.
Por dentro, a música que embalou a história tocava como uma canção da vitória.
“Well, I’m not the world's most masculine man,
But I know what I am,
And I’m glad I’m a man,
So is Lola.”
– É claro que vão te ver assim, seu idiota – me respondeu, doce como um coice de uma égua. – Vamos pra um pub, você acha que só vai ter nós três lá?
– Alguém conhecido, porra, você me entendeu.
– Não fale assim, – disse Elizabeth em tom condescendente. – Uma dama não deve falar palavrão.
– Eu não sou uma dama, eu tenho um pênis – falei o óbvio, e as duas riram.
– Breaking News: mulheres trans também têm pênis, em alguns casos. Mas isso é conversa pra outra hora, seu cérebro de amendoim não vai processar tanta informação ao mesmo tempo – Liz continuava falando com aquele ar de arrogante benevolência, o que começava a me irritar. – Agora, chama um táxi, . Vou ver se o restante do pessoal já tá lá.
Assentindo, minha irmã pegou o celular e se afastou para ligar. Se não fosse por uma boa causa, não aceitaria nunca me prestar a esse papel.
O importante da história era que, se eu sobrevivesse até o fim da noite, ganharia duzentas libras e poderia levar ao melhor encontro de dia dos namorados da vida dela – que eu ainda não tinha planejado, mas com certeza seria ótimo porque seria comigo. Eu estava apaixonado por ela ao ponto de me vestir de mulher para minha irmã poder fazer o trabalho da faculdade, acredito ser o suficiente para me chamarem de ridículo. Mas... valia a pena o esforço, honestamente.
era minha amiga, e eu era lerdo o bastante para não conseguir demonstrar a ela o que sentia. Não era um caso de friendzone – eu nem acredito nessa merda –, eu só não conseguia achar um jeito legal de dizer que, apesar das nossas ficadas sem compromisso, eu não queria ser só o estepe. Com o dia dos namorados se aproximando, eu daria a cara a tapa de uma vez por todas, ainda que fosse rejeitado. Pelo sim ou pelo não, eu resolveria logo esse problema.
Então, por causa dela, eu estava fantasiado de e teria que aparecer em público dessa forma, com direito a registros em vídeo, foto e relatório escrito. Tinha a ver com feminismo, o que era muito a cara de Elizabeth, colega da minha irmã. Elas fazem Comunicação, coisa de Humanas.
– O Damien já tá lá, ele levou a GoPro – Liz voltou para perto de mim, que estava sentado no braço do sofá, perto da porta. – Vamos gravar o primeiro vídeo logo.
Fiz uma cara de “Eu não tenho escolha, mesmo” e esperei ela dar algum sinal para começar. Ligando a câmera do celular e o pondo na horizontal, ela acenou com a cabeça para mim.
– O que eu tenho que falar?
– Se apresenta, diz que você tá contribuindo pro laboratório de jornalismo... – ela enumerou. – E ajeita essa postura, entra na personagem!
– Só vou entrar na personagem depois de beber – rebati, ajeitando-me. – Tá, vamos lá! – Respirei fundo. – Meu nome é , tenho 23 anos e estou ajudando a e a Elizabeth com o laboratório de jornalismo. Estou vestido de mulher pra saber como é o lado delas durante uma noite. Espero sair vivo dessa.
Liz riu, abaixando o celular em seguida. Ouvimos uma buzina no portão de casa, então apareceu no fim do corredor.
– Bora?
Primeira observação sobre ser mulher: sapatos de salto, independentemente da altura, são um inferno. Não sei onde conseguiram uma bota tamanho 41, mas eu estava usando uma; não sei onde ela era confortável – segundo a Liz –, também. Meu calcanhar estava começando a doer e mal tínhamos entrado no pub.
Maquiagem também era um desconforto, apesar de minha pele realmente parecer melhor quando eu estava de base. Meus olhos coçavam, e quando me atrevi a passar as costas das mãos, Liz quase me matou por “apagar o gatinho”, fazendo daquela a primeira e última vez.
Eu estava bonita, mas os pequenos detalhes que me faziam ser uma mulher atraente também me causavam incômodos. Agora eu entendia a questão de “indústria da beleza” e por que ela era tão cruel; induzir alguém a usar tudo isso, com o argumento de que só assim se alcançaria a beleza, reduzia todo mundo a um clubinho minúsculo. Ninguém devia ser obrigado a entrar no clubinho. Eu odiava clubinhos. Não era à toa que, durante o ensino médio, eu era aquele garoto esquisito que não tinha um grupo de melhores amigos, mas que conhecia todo mundo.
Mas lá estava eu, , travestido de mulher em um pub onde tocava um cover de The Kinks. Uma curiosidade sobre The Kinks: eles pareciam os Beatles, mas não deram certo. Provavelmente seriam os maiores rivais da época, principalmente nos EUA, que tem umas pessoas meio doidas que adoram ser fãs das coisas. Em particular, eu preferia The Kinks, porque gostava de ser do contra, então pelo menos algo naquela noite poderia ser legal.
O combinado entre mim e minha irmã era que eu deveria agir normalmente, sem contar para todo mundo que estava disfarçado. Isso implicava em afinar minha voz e usar o banheiro feminino, o que não seria uma boa ideia, definitivamente. Já estava pensando na prova de resistência que seria beber e não fazer xixi, e não me parecia nada bom, mas eu ia beber mesmo assim. Era por conta da e dos amigos dela, o que eu podia fazer?
– Ei – chamei o garçom, imitando Elizabeth ao me apoiar sobre o balcão, fazendo meus seios falsos parecerem maiores. O cara que se virou para mim veio me atender com um sorrisinho nojento. – Me vê outra Cuba Libre, por favor?
– Só isso? – Assenti. – E o seu nome, posso saber?
– Não – sorri ao respondê-lo. – Faz o meu drink sem dar em cima de mim, por favor.
Ele ficou puto com a minha resposta, e eu só fiquei preocupado com a possibilidade de ele cuspir no meu copo. Eu faria isso, no lugar dele, embora, pensando melhor, fosse uma completa idiotice punir alguém que não quis ficar comigo. As pessoas têm direito de dizer “não”, não?
– Aqui, querida – disse outro atendente, entregando-me um drink errado e indo embora com a minha comanda imediatamente, para registrar.
– Moço, meu drink tá errado! – ouvi alguém dizer ao meu lado, quando abri a boca para falar. Olhei para a pessoa e vi minha Cuba Libre ali.
– O seu é um Mojito? – perguntei, vendo-a se virar. Gelei da cabeça ao saco por ver ali.
– É! – Respondeu ela, primeiro olhando para o copo que eu estendera. Ao erguer os olhos na minha direção, ela franziu o cenho. – ?!
Tentei desviar rapidamente, trocando os copos entre a gente, mas já era tarde.
– , por que você tá vestido assim? – ela quis rir, e em um ato desesperado, eu a beijei. não resistiu por já termos feito aquilo diversas outras vezes, mesmo aquela sendo uma ocasião extraordinária. Eu mal conseguia pensar em como tinha torcido para nos pegarmos de novo, desde a última vez que ficamos na festinha da irmã mais nova dela, pois estava ocupado demais tentando pensar em como a tirar dali e explicar que não tinha nada a ver. estava me devendo bem mais que duzentas pratas.
– Dá pra dar licença? – Disse alguém, nos empurrando para fora do balcão do bar. – Aqui não é lugar de ficar se agarrando, tem gente querendo ser atendido também!
Separei-me de , pegando os copos e rapidamente saindo dali, com ela em meu encalço. A barulheira não me deixava ouvir sequer a voz da minha consciência, e era ideal para ela não me fazer qualquer pergunta. Somente quando saímos para a área de fumantes que pude respirar fundo.
– Não é isso que você tá pensando – disparei, apelando pro clichê. Ela continuava um tanto assustada, um tanto com vontade de rir. – Eu sou, eu tô num experimento. Pra minha irmã.
– Tá experimentando as roupas dela?
– Não! – Ri da minha própria situação. – Ela e dois amigos estão fazendo um trabalho final pra faculdade e precisavam de ajuda. Eu sou a ajuda deles, entendeu?
– Ah, sim... – com bom humor, ela pareceu entender.
– Eu não posso contar pra ninguém que sou eu, as pessoas têm que acreditar que sou uma mulher – suspirei, frustrado. – Minha irmã não pode saber que você sabe, e você não pode contar pra ninguém.
– Ok, eu prometo não contar – ela cruzou os indicadores sobre os lábios, em sinal de silêncio. – Mas você tem que me prometer não me beijar mais na frente de todo mundo.
Então eu murchei. Senti uma agulha espetando minha cabeça, fazendo todo o ar do meu corpo sair e a pele molenga e sem sustentação cair no chão. Tudo isso provavelmente foi traduzido por uma cara de merda.
– Meu primo tá comigo, ele é meio... – tentou procurar a palavra certa – homofóbico. Prefiro evitar problemas.
– Entendo. – Por trás do tom compreensivo, eu respirava aliviado por não ser uma rejeição traumática, e sim um desvio de percurso. Lembrei-me finalmente dos drinks, entregando a ela o correto. – A propósito, tô bonita?
– Linda, – riu , daquele jeitinho que os olhos sorriam junto. Eu instantaneamente quis beijá-la de novo, mas fui obrigado a me conter. – Vamos voltar? Quero terminar de ver o cover.
Assenti, lembrando-me que Damien tinha pedido para eu não me afastar, já que ele teria de gravar alguns trechos da noite. Entre idas à área de fumantes para gravar e filas enormes do banheiro feminino – elas iam em grupo para uma segurar a porta para a outra, eu descobri –, acabei me perdendo de . Não que ela fosse motivo de preocupação, eu que era meio neurótico e carente quando ficava bêbado, e encarnar uma mulher me deixava bastante inseguro. Eu gostava de fazer as coisas bem-feitas, então se eu seria uma mulher durante uma noite inteira, devia ser o mais crível possível. Nessa história, já tinha perdido as contas de quantas vezes perguntei se não parecia forçado, para quem sabia do disfarce.
– Se você me perguntar mais uma vez sobre isso, vou te dar um soco – disse minha irmã, virando-se de costas para mim e fechando a rodinha com os amigos dela. Entediado, comecei a mexer no celular e tive a brilhante ideia de tirar selfies.
Eu estava gato pra caralho, tinha mesmo que guardar uma recordação.
Um maluco acabou se enfiando na minha foto e não foi nem como photobomber, foi na cara de pau, em primeiro plano, mesmo. Imediatamente me afastei, olhando-o de cara feia.
– É pra postar no Facebook quando você colocar “em um relacionamento sério” – disse o cara, e eu me segurei muito para não perguntar se ele estava me estranhando, até lembrar que eu quem o enganava.
– E quem disse que eu quero um namorado? – Indaguei, pondo a mão fechada na cintura.
– Por que não ia querer?
E nesse momento começou a jornada de conquista de um galalau que nem havia perguntado meu nome. Meu autocontrole realmente era sensacional, pois mesmo bêbado eu não desatava a falar que:
1) Eu não era uma mulher;O que fez o cara achar que realmente poderia continuar dando em cima de mim, mesmo eu dando diversas negativas seguidas. Até mesmo outra Cuba Libre ele me pagou, e eu estava aceitando beber até água benta, naquela noite. Mas ainda que eu aceitasse um drink, não ia beijar marmanjo; eu não o devia nada, ele quem quis me presentear, não era obrigação minha retribuir. Qual era o problema dele em entender que “não” queria dizer exatamente o que foi dito, e não o contrário? Eu nem estava sendo simpática, para que ele ao menos pensasse que era charme ou joguinho de sedução. Eu não sabia jogar esses joguinhos nem como homem, tinha preguiça e só sabia ser franco – era testemunha, já que, na primeira vez que ficamos, eu disse com todas as letras que transaria com ela, se ela quisesse. Obviamente, depois de alguns minutos de conversa que só dava voltas ao redor do “Quero ficar contigo”, comecei a me cansar do cara. E quando tentei me despedir, as coisas ficaram meio estranhas.
2) Eu não sou gay.
Primeiro ele colocou a mão em mim, quase na minha bunda.
Depois ele se inclinou para cima de mim – Só um beijo, pra eu me despedir – disse ele, sem me dar tempo de pensar.
Em seguida eu pus minha mão aberta colada em seu rosto, empurrando-o em velocidade recorde.
– !
Novamente ouvi a voz de , mas ela não havia me chamado. Ao vê-la se enfiar entre mim e o babaca que falava comigo, liguei os pontos e assimilei que era o primo homofóbico dela. Que irônico.
– Você tá bem? – Perguntou-me ela, e eu assenti. – , você tem problemas?
– Vocês se conhecem? – O filho da mãe agia como se nada tivesse acontecido.
– Sim, é o--
– A Dolores – apressei-me, cortando . – Lola.
– Como a música que tocaram? – Ele sorriu, empolgado.
– Exatamente como a música – falei pausadamente, divertindo-me com a ambiguidade da frase. Naquele momento, notei que , Elizabeth e Damien não haviam movido um dedo para me ajudar. Que porra de consideração por quem os estava ajudando, não?
Olhei ao redor, identificando a luz vermelha da GoPro de Damien não muito distante dali. estava ao lado, dando sinal para que eu continuasse ali, porque eles estavam gravando. Bufei, cansado daquela história.
– Me desculpa... Lola – teve de pensar antes de falar. – Ele tá bêbado, tá fazendo merda... Já chamei um táxi, pelo menos.
– Eu também tô bêbada e não agarrei ninguém – argumentei, sendo rebatido pelo olhar inquisidor dela, que fez questão de me lembrar que aquilo era uma mentira. Sorri, sem graça.
– Eu acho que te amo, Lola – disse , nos lembrando de sua existência desnecessária. Ele novamente se aproximou, segurando meus ombros firmemente. Franzi o cenho para ele, sem entender por que ele tinha dito aquilo. – Dizem que a gente sente borboletas no estômago quando ama alguém. Eu tô sentindo borboletas por você, eu te amo com meu estômago!
– Ele vai vomitar – alertei, olhando, assustado, para . Segurei os braços de , na altura dos cotovelos, guiando-o para o banheiro ou lugar mais vazio e perto possível. Poucos instantes depois, uma lixeira se tornara vítima de afogamento em vômito.
– Ainda bem que foi antes do táxi – observou ela, tentando ignorar qualquer detalhe que remetesse ao primo passando mal, de cara para uma lixeira. – Com certeza o motorista ia matar ele.
– Se ele soubesse que tava dando em cima de um cara, ele mesmo se mataria – falei propositalmente mais alto, para que ele pudesse me ouvir. Provavelmente a bebedeira apagaria essa parte da memória dele, infelizmente. – Por falar em dar em cima, quero sair contigo um dia.
– Um encontro de verdade? – Assenti. – Quando?
– Agora não é a melhor hora pra marcar um compromisso, eu vou esquecer – confessei, rindo e a fazendo rir também.
– Passa lá em casa amanhã – disse ela, ignorando também o que eu acabara de falar. – Se você esquecer, vai perder a chance.
– Cacete, – cocei a nuca, fazendo uma careta. Ela deu de ombros, com um sorriso vitorioso. – Amanhã, hoje mais tarde? Ou amanhã, domingo?
– Domingo – ela deu uma risada gostosa de ouvir antes de responder. Ainda bem que era amanhã mesmo, porque eu precisaria de dezoito horas de sono para esquecer esse dia. – Depois do almoço, de preferência.
– Eu só almoço depois das três, no domingo, só avisando.
– Ótimo, posso começar a me arrumar às onze – disse , jogando os cabelos para trás, fingindo-se de top model. Quando ela desviou o olhar para algo em movimento, procurei o foco de seus olhos e vi o táxi parando a alguns metros de nós. – Me ajuda com meu primo?
Concordei, embora não quisesse respingos de vômito na roupa da – ela me mataria se soubesse. Seguramos pelos ombros, colocando-o no banco sob o olhar mortífero do motorista. Ele não precisava nem dizer o quanto estava odiando levar uma pessoa passando mal no carro limpinho dele.
– Tchau, Lola – acenou para mim, com um sorriso lânguido. Respondi também com um aceno, abaixando-me um pouco à frente da janela. Eu apostava muitas fichas de que aquela noite, para ele, nunca existiria; a Lola sequer teria nome, na cabeça dele, mas saber que ele queria me beijar (eu, , um homem) era “vingança” o suficiente para a moral e os bons costumes dele. Eu me sentia um pouco realizado por aquilo, sendo honesto.
aproveitou o estado do primo para me dar um beijo estalado nos lábios, disfarçando logo depois. Esperei o carro se distanciar para voltar ao bar, onde o trio que eu acompanhava me esperava. Não ficamos até muito depois, pois eu já começava a ficar rabugento por estar com sono e eles já tinham material suficiente para editar, faltaria somente meu depoimento final, que gravaríamos em casa. Já estava contando os segundos até finalmente poder me desmontar.
e eu saímos para um restaurante caro com o dinheiro que recebi. Nos beijamos. Mais tarde, transamos. Nos beijamos mais um pouco, e eu a pedi em namoro. Ela aceitou depois de eu apresentar uns bons porquês de ser minha namorada, um deles era já conhecer os pais dela e não precisar passar pela situação constrangedora de ser apresentado a eles. Minha entrada na vida dela – e na casa também – foi natural, e meses depois continuávamos firmes.
, Elizabeth e Damien conseguiram nota máxima com o curta-documentário, que foi postado no Youtube e recebeu algumas milhares de visualizações, viralizando dentro da faculdade deles – e eu acabei virando uma subcelebridade entre os amigos deles.
havia voltado para casa no sábado, ele morava na cidade ao lado e tinha aparecido somente porque a mãe de pedira a ele que acompanhasse a filha. Quando se recompôs, não comentou nada sobre as três garotas que tentou beijar à força – e teve que socorrer –, pois só se lembrava de estar de cara para uma lata de lixo. A Lola havia se tornado uma piada interna entre mim e minha namorada, e algum tempo depois minha sogra descobriu e achou o máximo. Ela até mesmo pediu para ver as minhas fotos com disfarce e – eu levei na esportiva – disse que eu era ainda mais bonito como mulher.
Até que, em uma reunião de família, ela desatou a falar sobre como “um conhecido” havia “se apaixonado com o estômago” por outro cara sem saber.
– É sério, se isso aconteceu com um conhecido meu, pode acontecer com o , por exemplo – disse ela, quase entregando o jogo. – Vai que um dia ele conhece uma Lola também? – Caso eu não estivesse ali, com certeza ela teria dado nome aos bois para os pais dele, tão conservadores quanto.
– Meu filho não anda com esse tipo de gente – rebateu a tia de , um pouco irritada.
– Com todo respeito, a senhora sabe com quem ele anda, na verdade? – Indagou , muito mais incomodada com a defensiva da tia que tentada a contar a verdade. – Porque se a senhora acha que os amigos dele são pessoas de bem só porque não andam com gays, devia rever seus conceitos. Seu filho fica bêbado e quer agarrar qualquer coisa que vê pela frente. Esse tipo de gente também não devia ser considerado gente de bem, não.
– Ele é homem – foi o argumento do tio.
– Eu também e não preciso disso – me meti na conversa brevemente. – O senhor também não, tem uma esposa. Não é porque um cara tá solteiro que ele tem que tratar as garotas como pedaço de carne por aí.
apontou para mim, com um sorriso orgulhoso, como se dissessem “Viram só? Bem melhor”.
– Lola? – ouvi a voz de e gelei na hora, vendo o rosto confuso da tia de . Virei-me devagar, ansioso pela reação dele. – Foi mal, cara, achei que fosse outra pessoa.
– Acho que você acertou a pessoa – disse minha sogra, totalmente divertida com a situação.
– Tá doida, tia? – Ele riu. – Achei que fosse uma garota que conheci, amiga da .
– Prazer, – levantei-me do sofá, onde antes estava de costas para a entrada da sala. Estendi a mão para , que não esboçou emoção alguma. – Ou Lola, exatamente como a música.
Então a ficha – não só – dele caiu.
Por dentro, a música que embalou a história tocava como uma canção da vitória.
But I know what I am,
And I’m glad I’m a man,
So is Lola.”
FIM
Nota da autora: (28/06/2015) NÃO ME XINGUEM SE ESTIVER RUIM
Desculpem pela fic horrorosa, na moral. HAHAHAHAHHAHAHAHA
The Kinks é foda, Pudd é vida, tchau <3
Outras Fanfics:
Longfics:
Theater - McFly / Finalizadas
[/independentes/t/theater.html]
Shortfics/oneshots e Ficstapes:
I L.G.B.T.? - LGBTQ / Em andamento
[/independentes/i/ilgbt.html]
Theater: Three Little Words - Especial All Stars 2014 / Finalizada (Spin-Off de Theater)
[/independentes/t/theaterthreelittlewords.html]
05. I Want it All - Ficstape #001: Arctic Monkeys – AM / Finalizada
[/ficstape/05iwantitall.html]
07. Jealous - Ficstape #020: Beyoncé – Self-Titled / Finalizada
[/ficstape/07jealous.html]
Estado Latente - McFly / Finalizada
[/independentes/e/estadolatente.html]
Mesmerized - Especial Dia do Sexo (The Wanted) / Finalizada
[/independentes/m/mesmerized.html]
Falling Away with You - Restritas - Originais / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio.)
[/independentes/f/fallingawaywitu.htm]
Famous Last Words - LGBTQ / Finalizada (ATENÇÃO: Conteúdo sensível, suicídio. Releitura da fic acima.)
[/independentes/f/famouslastwords.htm]
Fear of Sleep - McFly / Finalizada
[/independentes/f/fearofsleep.htm]
Second Heartbeat - Restritas - Bandas (McFly) / Finalizada
[/independentes/s/secondheartbeat.htm]
Reminiscences - Originais / Finalizada
[/independentes/r/reminiscences.htm]
He's Got You High - Originais / Finalizada
[/independentes/h/hesgotyouhigh.htm]
She's Got You High - Originais / Finalizada
[/independentes/s/shesgotyouhigh.htm]
Farewell - Especial de Agosto 2013 / Finalizada
[/independentes/f/farewell.html]
Give Me a Reason - Especial FFAwards 2013 / Finalizada (Spin-Off de Give Me Novacaine)
[/independentes/g/givemeareason.html]
Todo e qualquer erro, seja de escrita ou html, deve ser enviado diretamente para mim em awfulhurricano@gmail.com. Não use a caixa de comentários, por favor.
Desculpem pela fic horrorosa, na moral. HAHAHAHAHHAHAHAHA
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Outras Fanfics:
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Shortfics/oneshots e Ficstapes:
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Theater: Three Little Words - Especial All Stars 2014 / Finalizada (Spin-Off de Theater)
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05. I Want it All - Ficstape #001: Arctic Monkeys – AM / Finalizada
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07. Jealous - Ficstape #020: Beyoncé – Self-Titled / Finalizada
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