Finalizada em: 07/10/2019

Prólogo

– Desculpe a demora, dona Barbara. – falei cumprimentando. – Está tudo bem?
– Tudo. – Falou apressada.
– Estou sentindo a senhora um pouco tensa, aconteceu alguma coisa? está bem, senhor Gerard?
– Está sim, querida. – Não parava de apertar uma mão contra a outra. – Eu não sei como começar isso. – Confessou.
– Está me deixando aflita. – Disse a ela.
– Eu quero que você se separe do meu filho. – Falou.
– O quê? – Perguntei.
– A condição da filha do dono da gravadora é que ele esteja solteiro, só assim ela vai ajudar ele a conseguir essa chance. – Explicou.
sabe disso? – Questionei.
– Não, não sabe. – Disse. – Eu sei que ele não iria aceitar isso, por isso que eu quis vir falar com você, sem que ninguém saiba. Eu não posso deixar que esse sonho dele seja interrompido, ele lutou tanto até agora e não teve nenhum resultado, nossa família não tem dinheiro, e essa oportunidade é tudo que ele precisa.
– Vendendo–o. – Eu disse.
– Eu não estou vendendo meu filho, me sinto até ofendida com essas suas palavras. – Ralhou. – Eu estou sacrificando algo para o bem dele.
– Me sacrificando? – Perguntei. – Sacrificando o nosso amor?
– Como que você viveria ao lado dele pro resto de suas vidas, sabendo que a única chance de ele fazer sucesso, ser conhecido, foi interrompido por um mero capricho. Ele vai ficar a vida inteira dele naquele açougue, tentando entender por que nada deu certo, si perguntando o porquê, o que você irá responder? A culpa não irá te remoer? Vai suportar carregá-la sozinha?
– Eu não consigo. – Levei minhas mãos a minha cabeça.
– Você precisa. – Segurou meus punhos.
– Minha cabeça vai explodir. – As primeiras lágrimas se formaram. – Eu não consigo pensar, ecos gritam aqui dentro, meus olhos ardem. Eu só quero que tudo isso pare. – Gritei. – Eu não posso fazer isso, eu amo o seu filho e a senhora sabe o quanto nos amamos, eu pensei que... Que a senhora aprovasse.
– Amor não enche barriga. – Disse rude. – Eu aprovava, mas eu não posso permitir que alguém prejudique o meu filho.
– Eu não sei o que fazer. – Minhas vistas se embaralharam com as lagrimas.
– Você vai saber o que fazer. – Pegou a bolsa no sofá. – O que é o certo. – Saiu do cômodo, me deixando sozinha com meus ecos. Deslizei na parede até me sentar ao chão, eu não estava sendo egoísta, não entendia tudo aquilo que aconteceu, porque ele tinha que ser solteiro. Eu poderia dizer que lutaríamos juntos para conseguir outra oportunidade, mas por todos os seis anos que estávamos juntos, foi o que mais fizemos, e nunca passou de alguns shows em barzinhos.
era tão bom com música, sua voz era uma linda melodia, mas talvez a nossa falta de dinheiro, realmente o atrapalhasse.
Fiquei ali, naquele canto gelado, abraçando minhas próprias pernas, sem saber o que fazer, perdida.

Pegue um pedaço do meu coração
E torne–o todo seu
Assim, quando estivermos separados
Você nunca estará só
Nunca estará só.



Capítulo Único

Naquele cômodo quatro por quatro, as paredes brancas com sua mobília marrom escuro, os ecos de meu passos apressados de um lado para o outro. O barulho do ponteiro do relógio em seu perfeito tic tac. O trinco da porta se abrindo, e dois estranhos tão conhecidos frente a frente.
– Você? – Perguntou incrédulo. – O que faz aqui? – Instou.
– Eu vim apenas conversar com você. – Respondi.
– Não temos nada o que dizer, tudo que você tinha a me dizer ficou lá atrás. – Impaciente.
– Eu não disse tudo o que queria. – O encarei.
– Não importa mais. – Foi lacônico.
– Eu não posso continuar a viver sem dizer o que esteve preso aqui dentro. – Propugnei.
– O que você quer? – Perguntou. – É dinheiro? Eu sabia que você voltaria assim que me visse.
– Eu não quero seu dinheiro, eu não estou aqui para isso. – Rebati.
– Então por que veio? – Prosseguiu. – Não faz sentido nenhum, eu não sou o mesmo e nenhuma meia palavra vai me fazer apagar tudo aquilo da minha memória.
– Era o melhor a se fazer. – Atenuei. – Aquele homem que foi me buscar na nossa casa aquele dia, era primo de uma amiga.
– Que diferença isso faz?! – Abriu os braços.
– Faz toda diferença. – O cortei. – Ele foi apenas me ajudar naquele teatro. – Soltei. – Senta e me ouve, depois você pode falar tudo que quiser. – Fui autoritária. – No dia anterior que eu fui embora, eu fui chamada no cômodo que você ensaiava, eu achei que seria uma conversa normal ou preparação de uma surpresa. Só que a sua mãe estava diferente, meio alterada.
– Não coloque minha mãe no meio das suas mentiras. – Ameaçou se levantar.
– Eu perguntei se tinha acontecido algo com você ou seu pai, mas ela disse que não. Ela começou a lembrar de todas as vezes que você tentou gravar um disco em gravadoras, de quando você conseguia tocar em algum barzinho. De você cada vez mais para baixo, e mergulhado naquele açougue, então ela disse que a sua grande chance de gravar e ser assessorado na workfs tinha uma condição. Você teria que ser solteiro, para que Emma te apresentasse para o pai dela e conseguisse te ajudar.
– Eu sabia que essa estória estava caminhando para outro lado. – Balançou a cabeça. – Ela esteve do meu lado, me apoiou em cada venda, vendia os meus CDs para amigos, comprou alguns e entregava na porta da faculdade, convenceu o pai dela a dar uma chance para um desconhecido.
– Eu não estou pedindo que você se separe dela, e nem a culpando de nada. – Justifiquei. – A sua mãe se transformou naquela tarde, me fez pensar que eu poderia te fazer abdicar de um sonho que seria sucesso no certo. E ela não estava errada. – Comentei, olhando-o. – Ela me falou que eu sabia exatamente o que fazer, sendo que eu estava perdida sem direção.
– Eu não acredito em você. – Sorriu cínico. – Como eu poderia acreditar em você?
– Você pode pensar que me conhece, mas você não faz ideia o que eu senti. – Quando percebi já estávamos aos gritos. – Eu não poderia viver com a culpa de tudo isso aqui, não ter passado de um sonho. Eu tenho meus segredos, enterrei–os profundamente, algumas coisas são privadas, só tem significado pra mim. Você não tem o direito de apontar o seu dedo para mim e dizer que eu sou fria e interesseira.

Não acredite no que lê
Não acredite no que ouve
As coisas não são como parecem
Apenas o que aparentam ser
Você não vê o que eu vejo
Quando eu olho no espelho.


– O que está acontecendo aqui? – Perguntou Barbara. – Você aqui? – Ficou pálida.
– Ela já está de saída. – Segurou meu antebraço tentando me colocar para fora.
Você precisa de um tipo diferente de espelho para ver através de mim, dentro de mim. – Olha nos meus olhos. – Pedi.
– Você ficou no meu passado, enterrado por 1461 dias, e não tem o direito de aparecer aqui. – As lagrimas rolavam em nossos rostos. – Como se todo o meu sofrimento não tivesse sido nada, eu te amei como nenhum outro homem irá te amar. Fiquei esperando dias pela sua volta, pensando que era uma brincadeira de mal gosto. Como um monstro.
Eu posso ter meus monstros, meus esqueletos acorrentado à minha mente, e eu sei que eles não vão se libertar. – Tentei me aproximar. – Eu não fui ameaçada e forçada a fazer nada, eu pensei e eu fiz o que achei que fosse o certo, mas eu não quero carregar tudo isso nas costas sozinha, não quero ver o seu olhar machucado toda vez que encontra o meu, eu não quero que você siga a sua vida guardando magoa ou rancor de mim.
– O que você quer ? – minha ex-sogra. – Revirar o passado, colocando o meu filho contra mim e a sua noiva? Você não tem esse direito, quer dinheiro é isso. – Abriu a carteira. – Quanto você quer? – Jogou algumas notas em minha direção.
– Não finja que não sabe do que eu estou falando. – Rosnei. – Eu nunca tive interesse nenhum em dinheiro, eu vivi seis anos com você, , achei que me conhece o suficiente.
– Ter ido embora com um Mauricinho e depois aparecer depois que meu filho fez sucesso, essa história eu já ouvi. – Rebateu Barbara.
– Por favor parem de discutir. – Pediu. – Minha cabeça está explodindo, vai embora , me deixa em paz, eu não consigo pensar. – Se encolheu no sofá.
– Como posso ser interesseira vivendo seis anos com o , quando ele não tinha nada. Seis anos ajudando–o no açougue. – Rebati. – Você não pode conhecer minha história, a menos que a tenha vivido pra mim. – Disse batendo a porta e deixando os dois ali.


Epílogo

Seis meses depois.
Querido ,
Pelo tempo que passou você deve ter digerido tudo que aconteceu, eu não sei o que se passou em seu coração por esse tempo, o que você ouviu, em quem acreditou e isso no final realmente não importa, não é mesmo? Eu nunca quis ser como um furacão em sua vida, não foi minha intenção passar por ela e deixar tantos destroços. A seis meses atrás eu não imaginava que fosse te reencontrar depois de quatro longos anos, eu estava sem coragem de comprar aquele ingresso, queria ver de perto tudo aquilo que você sonhava, não foi egoísmo, e hoje penso que o melhor seria eu nunca ter ido naquele show, eu não quero ressurgir em sua vida, não quero ser como um vulcão que fica adormecido aproveitando a calmaria ao redor. Não pretendo que sua relação com sua mãe mude, ela fez o que toda mãe desesperada iria fazer, ela te ama e o amor de mãe por mais que a medida seja atrapalhada é sempre maior que qualquer outra coisa. Eu escolhi esse caminho, o seu caminho. O que seria do amor a não ser o seu sacrifício? Sobre Emma, você tem toda razão, ela esteve ao seu lado, de todos os modos te ajudou, até mais que eu, ela te deu tudo que eu nunca poderia te dar. Do fundo do meu coração eu desejo que tudo na sua vida dê certo, fico feliz pelo noivado, que seu casamento seja infinitamente abençoado. Existe um ditado que se diz, “Na vida existe o amor da sua vida, e o amor pra sua vida. O amor da sua vida sempre será o seu ponto fraco por muito tempo, mesmo nunca dando certo. Mas o amor pra sua vida é aquele que dá certo, que é recíproco, que tem diálogo, e maturidade.
E talvez seja esse o maior dilema da vida, ficar com alguém pelo qual você daria o mundo, ou se permitir construir um novo mundo com alguém. Há quem encontre tudo isso em uma só pessoa. Mas a maioria de nós, sempre terá na vida dois grandes amores: aquele que deu certo, e aquele que a gente queria que tivesse dado certo.”
Antes que eu me esqueça, vi pelo computador seu último show da turnê H.A.R.D, toda a sua trajetória, imagens do estúdio passando naquele grande telão do centro do palco, ninguém disse que seria fácil, mas você está colhendo exatamente aquilo que mereceu, o seu plantio. Que esse seja apenas o começo de grandes coisas. Seja feliz onde quer que for. De um modo não convencional finalizo, que entre dois corações machucados haja sempre o desencontro. Que você siga seu caminho e eu ... eu vou em busca do meu.
Com amor, .
Olhe para as estrelas
Olhe como elas brilham para você
E para tudo o que você faz
Sim, elas eram todas amarelas.





Fim.



Nota da autora: Oi, pessoas, eu estou feliz em fazer parte desse ficstape, obrigada a Flávia querida por organizar. Tive muitas ideias com essa música, a inicial em um momento de euforia me perdi, a segunda sairia bem grande, do jeitinho que vocês gostam, mas o tempo corrido pela vida pessoal não deixou alternativa. Essa ideia final, a continuação de 13. Famous Last Words – MCR (FICSTAPE: The Black Parade), veio quando eu fui responder um comentário. Obrigada todos (as) que leram, leiam as outras também, deixem comentários.


Nota da beta: Ah, Lou, que coisinha lindinha, foda e levemente desesperadora, é foda quando alguém tenta nos passar por mentirosos. E obrigada por participar desse ficstape, fiquei muito feliz! A música coube direitinho!
Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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