Última atualização: 20/05/2018

Capítulo Único

Engraçado, como na medida em que você desce os degraus da escada, seu corpo vai amolecendo e às vezes deixar-se cair apenas para chegar ao fim rapidamente não seria tão torturante, ou seria?
Aquele dia era um daqueles em que as coisas conspiravam com o objetivo de te deixar pra baixo e a única solução para tudo era simplesmente sumir. Era exatamente assim que eu me sentia, enjoada de viver, não que eu quisesse morrer, ou me matar, mas era realmente um dia em que eu me sentia um fardo pra mim mesma.
Fui com esses pensamentos descendo do sexto ao segundo andar, respirei fundo ao chegar no meu andar e então abri a porta de emergência permitindo que a claridade dos corredores invadisse o escuro. Coloquei um sorriso falso em meus lábios e então voltei para a minha mesa como se nada estivesse acontecendo internamente. De frente pra mim ficava a enorme janela que dava vista para o lado de fora do prédio e então reparei que mesmo com todo o brilho do sol, algo me impedia de o admirar, eu odiava aquele tipo de sentimento, mas eles estavam constantemente mantendo presença em minha vida.
Sou , trabalho em uma empresa de aviação civil e céus, nunca pensei que seria tão trabalhoso, quer dizer, fui contratada apenas para auxiliar em coisas pequenas, mas como fui me empenhando em aprender tudo o que se passava ali, acabei por fazer coisas além do que me foi designado, um dos pontos ruins em adquirir confiança dos chefes, eles sempre requisitam você para fazer os trabalhos que te acham competente para executar, mas era gratificante ver como eu me tornara de alguma forma, uma peça essencial para algumas tarefas, mesmo que o estresse fosse maior e o cansaço batesse a porta, os elogios e reconhecimento valiam à pena. E para completar, eu ainda estudava a noite, o que desgastava ainda mais a pouca inteligência que eu tinha, mas sem aquela rotina, eu simplesmente não seria nada.
Saí dos meus pensamentos e encarei minha mesa novamente, observando cada coisa e processo que ainda deveria ser feito, coloquei os fones para escutar música e colocar a “mão na massa”, não era um trabalho difícil de ser realizado, apenas trabalhoso pelo fato de ter que ser bem organizado, entendia tudo dos manuais que recebíamos, então os separei de acordo com o assunto que cada um continha e deixei em ordem para começar a montar. Não desviei minha atenção para mais nada, gostava de terminar minhas coisas o mais rápido que fosse possível, menos as segundas, essas eu me permitia ser a preguiça em pessoa. O trabalho ia de vento em poupa. Rendeu até o alarme de mensagem interromper a música que eu escutava.
“Precisamos conversar”. A mensagem piscava no visor do celular e me deixou hipnotizada por alguns segundos. Realmente era um dia de sorte, não?


— Inspire... Expire. — Disse a mim mesma.

“Podemos nos encontrar na hora do almoço”, respondi sem a menor vontade e esperei ele confirmar, a resposta veio em seguida com o restaurante em que deveríamos nos encontrar, Namjoon não trabalhava muito longe de mim, o que facilitava nossas fugas para passarmos um pouco mais de tempo juntos, sempre que dava tirávamos pelo menos um tempo para lanchar e matar um pouco da saudade, fora os fins de semana, bem, quando não estava corrido com trabalhos e matéria de prova para estudar, mas suas reclamações de que eu havia mudado demais estavam me matando, eu não era mais a pessoa animada que ele conheceu e muito menos mais carinhosa, ele sentia que me via distante em nossos encontros e era o mesmo que estar só. Aquilo sempre me irritava profundamente, pois eu sempre me esforçava para estar com ele mesmo que tivesse que mentir não estar ocupada, mas ao mesmo tempo me alertava do quão superficial eu estava ficando, eu gostava de Namjoon, mas não era como antes, nem ao menos sabia mais retribuir os sentimentos na mesma intensidade e felicidade que ele, e isso era o que me fazia parar e não começar uma discussão.


Uma hora já havia se passado quando olhei que o relógio, faltava apenas 10 minutos da hora que eu e Namjoon havíamos combinado, peguei minha bolsa menor apenas com o cartão e dinheiro, já que o restaurante era no prédio ao lado e fui para o térreo, onde Namjoon já me esperava para irmos juntos.

— Esperou muito tempo? — Me aproximei. — Pensei que iria me esperar lá. — Me inclinei para selar seus lábios.
— Apenas 5 minutos. Eu quis fazer uma surpresa. — Sorriu e retribuiu o selar.
— Hm... — Foi involuntário a expressão e o aparente descontentamento, não por ele ter ido lá, mas por saber onde aquilo levaria, Nam não sabia mais continuar o diálogo entre nós e apenas disse para irmos almoçar.

Caminhamos de mãos dadas em silêncio até chegar ao local, era desconfortante, aquele silêncio nunca fora tão longo, mas eu não tinha o que falar, já sabia o que viria, Namjoon era doce, mas nuca escondia o que tinha para falar, em momento algum me tratava com frieza ou indiferença, mas eu podia ver a reluta em que ele estava naquele momento, algo o incomodava além do comum. Sentamos e fizemos nossos pedidos, observei bem o local, estávamos em um restaurante com a aparência de uma casa, o que me fez sentir falta das refeições que fazia com minha família em meu lar, com a típica comida coreana feita por uma senhora que me lembrava muito a Vó Kim, minha avó materna. Ah! Aquilo me fez rir minimamente enquanto Namjoon avisava ao atendente que ele não poderia comer o Kimchi muito forte. Ficamos ali, sem uma palavra e pedia no íntimo que continuasse assim ao mesmo tempo em que queria que ele emitisse nem que fosse ao menos um som, eu acabei por ficar observando tudo ao redor, até parar em uma criança que fazia birra para a mãe lhe comprar um doce, pensei que se fosse meu filho não faria aquela cena toda, já que a mãe ficava se desculpando.

. — Namjoon finalmente se pronunciou, mas não voltei minha atenção a ele. — Vamos terminar. — Opa! Um sensor similar ao do Homem-Aranha começou a apitar em minha mente. Não era o que eu esperava ouvir ali, eu tinha mesmo escutado aquilo? Dei minha atenção a ele, que esperava por qualquer palavra de minha parte, o encarei por vários minutos com o nó na garganta e uma briga interna, eu não esperava isso dele, apenas mais uma bronca, apenas mais um “vamos tentar”, mas seria egoísmo da minha parte fazer aquilo, manter alguém que eu gostava, mas machucava, pensei, não estava mais sendo algo bom para ambos, deveria aceitar aquilo, então por que eu queria me agarrar a ele? Se eu mesmo havia dito que o que eu sentia não era mais o suficiente. Seria habito? Por me sentir segura ao lado dele, mesmo não sentindo mais metade do que ele sentia? Namjoon não era bobo, ele sabia, então daria a mínima resposta para que aquilo não prolongasse.
— Tudo bem... — Minha voz saiu num fio e voltei à atenção a criança para que não começasse a chorar ali mesmo, Namjoon suspirava pesado ao meu lado, ele sabia que eu não diria mais nada, sabia que guardaria e isso o machucava mais, o vi segurar as lágrimas, mas eu não queria o ver sofrer ainda mais no futuro, teria que aceitar o fim no agora. — Eu sinto muito. — Continuei, talvez estivesse surpreso por eu ainda proferir mais alguma palavra, eu estava buscando forças ainda para processar aquilo. — Eu queria muito que desse certo entre gente, sempre achei que íamos muito bem até que começou a falar que eu estava distante. Desde quando me tornei tão oca? Desde quando mudou o sentimento que tinha em relação a você? Digo, não mais tão intenso como era, eu amei você, Namjoon, eu gosto de você.
— Mas não é mais amor. — Sua voz carregava tristeza.
— Eu sinto muito, Namjoon, por ter mudado tanto — Sorri sem nenhuma graça. — Só não esperava isso assim.
— Você não me deu escolha, sempre se isola e ultimamente não me deixa te entender como costumava ser. Desde quando essa casca foi sendo criada e eu não percebi? Só percebi quando já era tarde e você já não retribuía ao meu carinho. É difícil estar ao seu lado e nem ao menos conseguir fazer você rir sinceramente e não superficialmente. — Ele se escorou na cadeira e olhou para o teto, cada um pensando naquela situação em que nos encontrávamos.


[...]



Voltei me arrastando para o trabalho, o dia já estava sendo muito para baixo e pra completar o clima fechou de uma hora para outra, com o fato de eu não estar bem e ainda veio a calhar com o termino do meu namoro, o que mais faltava para acontecer?
Chamei o elevador e fui para o amado segundo andar, pode parecer irônico, mas era realmente um ambiente agradável ali, todos estavam animados, mas eu não queria que ninguém sorrisse, pelo menos não nesse dia, era pedir demais que eu não fosse a única triste?


— Por que diabos ela tinha que gritar daquele jeito? Minha amiga me chamou com um sorriso enorme e eu quis socar a cara dela.
— Que? — Me sentei nada feminina na cadeira.
— Nossa, quanta animação, em? Alguém morreu? — Se sentou ao meu lado e então segurou minha mão, não esperava menos de alguém que cursava psicologia, Mimi tinha essa mania sempre.
— Talvez meu relacionamento, mas eu não quero falar disso agora. — Me arrumei e desbloqueei a tela do computador, o plano de fundo me deixou estática e assim que a menina ao meu lado estralou os dedos eu saí de transe, era uma foto de Namjoon, mudei o mais rápido possível, sendo observada pela garota.
— Talvez o que vim te contar te anime um pouco. — Pigarreou para me chamar atenção.
— Não é nenhuma dessas promoções de loja não, né? Ou essas massagens que você vive comprando.
— Não, é algo bem melhor que isso. — Ela estava bem animada
— Você desencalhou. — Ri.
— Idiota. — Fez um bico. — Mas quem sabe isso não seja uma oportunidade de isso acontecer? Hoje chegou um estagiário novo e ele é um gato, seu setor que contratou ele, descobri o nome dele quando sem querer esbarrei nele e ele disse que era novo. — Algo me dizia que não havia sido sem querer.
— E no que isso pode me animar, criatura? Eu acabei de ser chutada e jogada no canto da solidão do grupo que você faz parte. “As encalhadas de Seul city” — Ri da merda que eu mesma estava falando.
— Eu vou socar a sua cara. — Se levantou e então ela parou e sorriu sem graça. — Socar sua cara com amor, sua danadinha, obrigada pelas dicas. — Mimi falou com uma voz mais infantil.
— Ué, tá ficando louca? — A menina me fuzilou e só então percebi que a sua atenção logo foi para outro lugar, ela não me encarava e sim para cima, virei e só então reparei no menino parado ali.
— Posso ajudar em alguma coisa, ? — Ih! Ela estava me assustando com aquele jeito psicopata pro lado do rapaz, parecia que ela ia comer ele.
— Estou procurando minha mesa, me informaram que era a número 45, poderiam me ajudar? — Me encarou mostrando um papel e com o rosto levemente envergonhado. Ele era de fato muito bonito, tinha as maçãs do rosto bem redondinhas e a feição um tanto quanto infantil, mas seu corpo não era de uma criança e nem os lábios carnudos. Meu deus, eu deveria ser mais velha que ele, por que eu olhei justo aquele fato? Alguém devia o informar para não ir com blusas coladas como aquela. Me concentrei e então respondi o que havia pedido.
— É essa mesa onde você está parado, de frente para minha. Seja bem-vindo. — Sorri e desviei a atenção para o computador, não queria parecer um lobo faminto por um pedaço de carne como minha amiga, ainda estava abalada pelo almoço, eu não poderia ficar pensando em coisas que me deixassem longe de minha tristeza, era falta de respeito com Namjoon.
— Me chamo . . — Ele estendeu a mão para me cumprimentar e um sorriso como todos os dentes brancos e perfeitos alinhados à mostra.
. É um prazer, . Já sabe o que vai fazer? — Perguntei já que ele ficaria ali mesmo e não adiantava eu ignorar, mas por que o ignoraria? Meu deus, eu estava ficando variada.
— Ainda não, cheguei hoje mesmo e não sei por onde começar, se quiser, posso te ajudar com o que precisa. — Sorriu gentil.
— Ah! Você poderia me ajudar. — Mimi interrompeu.
— Você nem é desse setor. — Falei seca.
— Mas se ele quiser me ajudar... — Me limitei a rir e ela saiu puxando o garoto. Continuei fazendo meu trabalho e num intervalo de tempo olhava para a mesa de Mimi, ele não estava fazendo nada e ela estava o secando, o menino parecia querer se esconder, mas coitado, não tinha culpa da Mimi ter se atraído tanto por ele, até eu me atrairia.

Meu telefone tocou e era o ramal de minha amiga. Céus, eu ia pro inferno por rir dela, ela dava muito na cara, talvez eu daria um babador pra ela.

— Sei o que está pensando. — Falou afobada.
— Sabe? — Falei e a encarei do outro lado do setor.
— Quer um chocolate? Não precise ficar triste por causa do Namjoon, eu sei que você está rindo para não chorar. — Continuei a encarar o outro lado e também me olhava. Aquilo era pena nos olhos dele? Ah, não, eu não precisava de pena e Mimi só podia está ficando louca.
— E eu acho que você precisa se tratar por babar tanto em cima do menino novo, não demonstre tão de cara suas necessidades. — Bravejei e acabei me levantando para ir ao banheiro.

Lavar meu rosto, era tudo que eu precisava, seria bom se outras coisas pudessem ser limpas daquele jeito, mas não era tão fácil assim, a minha tristeza de mais cedo logo voltou ao me olhar no espelho e pensar em tudo que havia acontecido. Pensei em Namjoon, na minha vida, meu trabalho, meus estudos e no que de fato eu queria, o que de fato eu buscava para me sentir ainda mais viva, eu tinha me acomodado aquela rotina e essa era a verdade, eu queria que as coisas parecessem mais leves, para poder sorrir realmente por estar feliz. Algumas lágrimas necessárias escorreram pela minha face e eu fiquei por ali sentada na privada até que tivesse forças para levantar novamente. Mimi entrou no banheiro bufando, mas se limitou a levar no desaforo ao me ver chorar.

— Por que terminaram? — Se encostou na pia de braços cruzados.
— Pelo motivo que te falei, Nam percebeu que havia mudado com ele, eu não era mais a pessoa que retribuía os sentimentos dele da mesma forma, me fechei demais até pra ele. — Acabei por perder o ar e então solucei.
— Eu já tinha te falado, não era? Devia ter contado a ele antes que não era mais o mesmo que sentia. — Falou com calma, vindo em minha direção e me abraçou.
— Já sim. — A abracei de volta e então voltei a chorar. Foi bom, me aliviou bastante, mas a face inchada ficou e eu ri da minha própria situação. Arrumei a cara com a ajuda de minha amiga e então voltamos a nossos postos.


voltou ao seu lugar quando voltamos do banheiro e então se ofereceu para me ajudar, ele estava cursando aviação e queria ser um piloto de linhas aéreas, ou seja, piloto de companhias como a Korean Air, ele já tinha completado metade do caminho e já sabia pilotar aviões de pequeno porte, era esforçado e empenhado, conhecia bem os manuais, o que facilitou para que ele me ajudasse, ele me distraiu a tarde toda com as perguntas e se estava fazendo de maneira correta, não era muito mais novo que eu, apenas 1 ano de diferença e por incrível que pareça, estudava no mesmo local que eu.

— Juro que nunca te vi por lá. Deve fazer sucesso com as garotas, não é popular? — Ri e ele corou um pouco.
— Bem, não muito, sou tímido demais. — Ele sorriu realmente timidamente e não teve como eu não sorrir de volta, era inevitável o ver sorrir e não se juntar a ele.

Fomos juntos para a faculdade depois do expediente e descobrimos que tínhamos muito em comum. Ele era praticamente eu em forma de menino, só que bonito e bem alegre.

— Jura que é fã dela? Meu deus, como não amar Tori Kelly. Ela tem a voz linda. — Disse empolgado.
— Qual sua música favorita? — Respondeu e andou de costas para me encarar.
— Dear No One e a sua? — Era a mesma música.
— A mesma. — Sorri feliz, era ótimo para dialogar, conversamos sobre várias coisas e então paramos em frente a uma barraquinha.
— Espere aqui. — Ele sorriu. — Ahjumma, como está à senhora? Tem se cuidado? — Ele falou de um jeito calmo e doce.
— Estou sim, meu filho, e você tem estudado? Não tem aprontado muito, né? , sua mãe precisa de você inteiro.
— Não se preocupe. — Ele beijou o rosto cansado da senhora. — Eu estou sendo um bom menino e me dedicando ao meu sonho, vó. — Afirmou. — Vou querer o de sempre hoje, mas em dobro. — Ele olhou pra mim e sorriu. Acenei e corei quando a senhora perguntou se era namorada e logo ele disse que não, sorrindo nervoso.

havia comprado churros, e eu adorava churros como ninguém, como nunca tinha reparado que ali vendia? E eles eram tão divinos, quentinhos e o doce de leite escorria na boca. Eu devia estar toda lambuzada para o menino está me olhando com cara de quem estava se divertindo as minhas custas. Eu não me importava, achei que meu dia seria apenas aquele dia fechado, mas por que uma cor estava aparecendo em apenas um dia em que estávamos nos falando? Eu estava rindo por vontade, porque estava gostando, mas aí, me lembrar de Namjoon me fazia frear.

— Algum problema, noona? — Me encarou.
— Sim, não me chama de noona, me sinto sua tia com isso. — Desconversei para desviar os meus pensamentos sobre Nam.
— Minhas tias não são tão legais e bonitas como você. — Foi a minha vez de corar.
— Apenas foi um dia com muitas coisas tristes, sabe, geralmente acordo com vontade de nunca ter existido, tive muito trabalho, meu namorado terminou comigo, começou a chover do nada, e eu só estava esperando mais coisas ruins, mas você até que me animou. — Comi o último pedaço de churros.
— Poxa, eu não sabia que era tão difícil ser você. — Falou divertido.
— Pra você ver, é péssimo ser eu. — O acompanhei. — E você, ? Como foi seu dia? — Andávamos devagar quando já estávamos perto da faculdade.
— Acordei achando que não ia conseguir o estágio, estava chovendo quando cheguei e eu esqueci o guarda-chuva, minha mãe me acordou e não tinha meu leite quente — Sorriu e eu acabei gargalhando. — Acordei com a esperança desse estágio, falando sério, agora, só quero ser alguém que dê orgulho a minha mãe, ela já sofreu tanto comigo, acho que era hora de mudar. — Falou sério e eu o admirei, queria dar orgulho aos meus pais, mas olha o caminho que eu estava seguindo e sem o pingo de vontade não ajudava muito.
— E eu achando que você só queria ser piloto para poder conquistar as menininhas.
— Meu pai foi piloto, minha mãe contava longas histórias da época que eles se conheceram e ele ainda estava vivo. — Sua voz adquiriu uma tristeza e eu passei a mão em suas costas como conforto.
— Eu sinto muito. — Foi tudo que pude falar.
— Já faz muito tempo, eu ainda era pequeno, não precisa sentir. — A nossa caminhada parecia ter durado apenas alguns minutos e confesso que não queria ter que entrar para a aula por preferir continuar falando com ele. Nos despedimos por sermos de blocos diferentes, eu era totalmente da área humana da coisa.


Prova surpresa, quem não deveria estar surpresa era eu, como eu não havia estudado para aquela matéria, eu tiraria no mínimo a pior nota da sala, a minha maré de azar havia voltado, mas pelo menos eu chegaria mais cedo em casa. Estava exausta após entregar a prova com muita luta, não queria que ela corrigisse, ri quando minha amiga reclamou, e olha que ela havia estudado, mesmo assim achou difícil, imagine para mim. Iria de metrô, mas iria sozinha, Hyo Sung tinha conseguido carona com o novo ‘namoradinho” e eu não iria atrapalhar, mesmo ela dizendo que não tinha nada eu ir com eles, optei por ir de metrô mesmo. Caminhei vagarosamente já que tinha saído mais cedo e não estava atrasada para ir a nenhum lugar, encolhi minha bolsa quando vi que dois caras estavam muito próximos de mim, peguei o meu bilhete do transporte e coloquei no bolso, junto com documento e meu celular escondido na calça sem que pudessem notar meus movimentos, segurei a minha bolsa o mais firme que pude, mas mesmo assim, parecia que não era meu dia.

— Vamos, isso é um assalto, passa tudo, gatinha. — Minha respiração parou, nunca haviam me assaltado antes. Passei o que tinha de valor, mas mesmo assim ainda puxaram minha bolsa pra que eu não os escondesse nada e assim saíram correndo. Corri para a estação e avisei aos guardas que estavam lá, eles foram atrás do assaltante, mas ele já deveria estar longe, então voltaram e me acompanharam até onde eu deveria fazer a denúncia e dar as características. Fiquei pensando se algo de bom ainda poderia acontecer na minha vida. Voltei arrasada para casa, por inteligência havia guardado o que era mais importante no bolso.


Semanas e semanas se seguiram e desde meu termino com Namjoon, começava a acreditar que eu devia ter sido muito ruim em outra vida e estava pagando por aquilo, só podia, eu devia estar no meio da macumba de algum ser que me odiava e me odiava muito, tá, eu estava exagerando, mas queria que pelo menos um dia eu pudesse ficar tranquila sem nenhum imprevisto. sempre estava próximo por sentar-se à minha frente, conversava sempre com ele, que morria de rir de todas as minhas teorias, nossa amizade foi crescendo durante esse período e estávamos bem próximos, e depois do assalto, sempre me acompanhava até o metrô.
A sexta chegara e o trabalho estava a todo vapor, até que o dia tinha começado bem, tinha acordado cedo e estava um sol incrível, chegou mais cedo do que devia também, estava radiante com a novidade que trouxera, estava feliz por ele, eu deveria ter preparado pelo menos uma lembrança já que ele havia passado em mais uma prova que o levaria ao seu sonho. A manhã não podia ter sido melhor, me convidara para almoçar com ele para podermos comemorar sua conquista, e eu aceitei.

— Vamos? Já estou faminto — Se levantou de sua cadeira esticando o corpo.
— Ainda são 11:40, , não podemos esperar pelo menos o meio dia? — Digitava um documento enquanto ele se ajeitava.
— Não, vamos logo que assim voltamos e vamos embora mais cedo também.
— Então aonde vamos? — Me dei por vencida e levantei me esticando assim como fizera.
— Fiquei sabendo de um restaurante ótimo por aqui, não é caro, dá pro salário de estagiário pagar. — Sorri com aquilo.
— Não sou rica, mas posso pagar o soju, que tal? — Ri e ele acenou positivamente. — Hoje você pode beber. — Ele me empurrou por insinuar que ele ainda era novo pra isso.


Não pude evitar o espanto, era o mesmo restaurante que Namjoon tinha terminado comigo, senti aquela sensação já não mais tão dolorosa, mas nostálgica no momento em que pisei o pé ali, meu sorriso murchou um pouco e eu não queria isso, mesmo não sendo forte, eu ainda sentia algo por Namjoon, mas a distância já era grande desde a última vez que nos falamos, eu não iria o esquecer tão rápido, nosso termino era tão recente que voltar aquele lugar era no mínimo pedir para me deixar com o coração daquele jeito estranho, deixei transparecer o meu aperto sem perceber.

— Você se sente bem? — perguntou com o ar preocupado. Sorri balançando a cabeça, não estragaria a comemoração dele por algo que só cabia a mim.
— Não é nada, é só que... conheço o lugar. — sorriu com os olhos.
— É incrível, não é? A senhora que faz a comida aqui é de Busan, minha cidade natal, por isso me disseram para eu vir. — Sorri para não deixar o que sentia me sufocar.

Conversávamos e me dediquei a olhar apenas o cardápio e , talvez procurar por algo diferente para comer pudesse me distrair e esquecer por alguns minutos o lugar onde eu estava, por sorte não percebera e continuava falante, o que ajudava a me relaxar um pouco, hora ou outra ria de suas piadinhas, mas eu queria era que aquele almoço terminasse logo e sair dali, das lembranças.

? — Não podia ser possível, podia? Olhei para com os olhos arregalados e ele estava confuso, afinal, não conhecia a pessoa a me chamar.
— Nam… Namjoon? É você? — Me virei e me arrependi no mesmo momento de ter continuado ali, ele tinha mesmo que aparecer justo no dia em que eu voltei naquele lugar?
— Acho que ainda me chamo Namjoon? — Riu desconfortável, estava tenso e era visível, estava passando demais a mão nos cabelos recém-pintados. — Nem faz tanto tempo que nos vimos para eu ter mudado assim.
— Tem razão, sente-se conosco. — Convidei por educação. Tentei parecer relaxada, Namjoon sentou e eu apresentei ele a , que já não estava tão piadista como antes, mas não achei estranho, devia ser por não conhecer Namjoon.
— Como tem estado? Não nos falamos muito depois que terminamos, só naquele dia que me ligou gritando. — Pensei que ele não se lembraria ou comentaria aquele fato. No dia seguinte do nosso terminou eu acabei por ligar para Namjoon e reclamar por ele ter terminado comigo num dia ruim.
— Desculpe por aquilo, eu estava bêbada. — Desconversei e menti, porque eu nem bebia tanto assim.
— Olha essa garota, nem admite que não estava. Te conheço muito bem para saber que tinha o mínimo de álcool em seu corpo — A nossa conversa estava forçada, era como se tentássemos mostrar uma coisa que realmente não era.
— Eu estava chateada demais e nem sabia o que estava falando, falo coisas sem sentido nessas horas, não dá para me levar a sério.
— Isso é verdade. — finalmente disse algo e nos levou a prestar atenção nele, que se encolheu um pouco no lugar, estava com o corpo rígido e eu queria que ele se mantivesse relaxado para eu poder me apoiar nele, pelo menos me manteria calma se ele estivesse também.
— Não tem nem dois meses que me conhece e já acha que sabe minhas manias? — sorriu finalmente mostrando ser o mesmo de minutos atrás, o agradeci mentalmente.
— Você parece bem louca umas horas, cheias de paranoias e suposições quando acha que está na macumba de alguém. — O encarei e dei língua, gargalhou e perguntou quantos anos eu tinha, começamos a rir e provocar um ao outro. Namjoon se levantou brutamente da cadeira, me assustando.
— Tenho que ir — Ele estava a expressão irritada e meu sorriso murchou novamente, não era assim que eu queria que ele entendesse as coisas.
— Já está na sua hora? Você nem comeu — Perguntei num fio de voz
— Não acho que devemos conversar agora, nem hoje. — Me desesperei, não queria deixá-lo ir embora daquele jeito.
— Nam, nós... ãh, pode vim comigo um instante? — Eu tinha que dizer alguma coisa, só ainda não fazia ideia do que — Nos dê licença, . — Levantei e o mesmo segurou a minha mão.
— A comida vai esfriar e logo temos de voltar. — Ele estava sério e isso era o que eu menos precisava naquele momento, Namjoon o encarou e deu um sorriso debochado.
— Não vou demorar, ainda vou comemorar com você. Me espera aqui. — Saí com Namjoon logo atrás de mim.
— Vejo que já está muito bem, não é mesmo? — Aquilo doeu, acertou em cheio no meu estômago.
— Não tire conclusões sem saber os fatos.
— Tiro pelo que estou vendo. Era por isso que não conseguia mais se divertir e sorrir daquele jeito comigo? — Segurou minha mão, mas a soltou em seguida.
— Nam, ele é o estagiário novo, ele é apenas um amigo, está comemorando por ter começado a realizar o sonho, só viemos comemorar, por favor.
— Cara, eu não sei. Poxa, eu sinto sua falta, olha, ver você rindo daquele jeito e não ser eu o motivo dele, isso me lembrou do início que tivemos, foi desse jeito que você entregou seu coração, fiz você rir com minhas piadas idiotas por me achar um tremendo nerd.
— Namjoon, por favor. — Tentei o acalmar, mas nem mesmo eu estava.
— Vamos voltar, eu cometi um erro, eu não consigo parar de pensar que fiz àquilo na esperança de você me impedir, mas sabia que você sempre respeitava minhas decisões, sabia que não iria se impor.
— Namjoon, fique calmo, por favor. — Ele voltou a segurar minhas mãos, mas dessa vez foi eu quem se soltou. — Não vamos voltar. — O que eu estava falando? Não, sabia exatamente o que estava fazendo. — Não podemos voltar para a mesma coisa, as mesmas brigas, as mesmas palavras e mesmas atitudes. Se voltarmos vamos continuar nos machucando, eu não quero ferir você, Namjoon, você é alguém importante e eu te amo, mas não o amor que é preciso para manter um relacionamento de namoro, não com o amor que você quer, não vamos errar de novo, vamos manter o que tivemos de bom. — Namjoon respirou algumas vezes e travou uma luta interna, hora ou outra abria a boca com a ideia de dizer algo e então saiu sem dizer sequer uma palavra mais. Encostei na parede e deixei as lágrimas escorrerem, era afastado e me permitir ter um momento de fraqueza ali, não demorou muito para sentir as mãos em meus ombros, meu rosto devia estar lindo para alguém me chamar.
— Será que se eu te abraçar e sair com você no meio de todos vão achar que somos namorados que fizemos as pazes? — forçou um sorriso.
— Não se sabe, mas podemos tentar um dia. — Sorri de volta segurando o choro. — Vamos, ainda temos meia hora, vou te levar em um lugar.
— E nosso almoço? — O segurei.
— Está aqui. — Ele levantou à marmitinha que o restaurante havia embrulhado para viagem.

segurou minha mão e me puxou dali, atraímos vários olhares, mas naquele momento não estava muito preocupada com aquilo, eu só queria sair dali e poder respirar um pouco.
estava me levando para o parque que ficava em frente ao nosso local de trabalho, era um parque cercado e cheio de mesinhas a beira de um pequeno lago, ele deu um jeitinho de deixar a mesinha do lugar o mais limpo possível e então nos sentamos para que finalmente pudéssemos comer. Ele tinha comprado arroz com Kimchi, o churrasco que tinha feito e o Japjae* que eu tinha pedido, ele separou cuidadosamente cada coisa e eu apenas observava, era muito gentil, reparei nisso quando encontramos a senhora do churros, estava grata por ele não ter dito mais nada e por de alguma forma está cuidando de mim. Me distraí olhando seu rosto, a mania que tinha de morder o lábio inferior quando estava nervoso, isso ele tinha me contado, mas agora era mais visível, eu queria dizer alguma coisa, ele estava nervoso desde que as coisas ficaram tensas entre eu e Namjoon, acabei sorrindo do esforço dele e ele me encarou.

— Acho que não tem mais como melhorar. — Fez uma careta. — Não era a comemoração que eu queria, mas acho que dá pro gasto.
— Está ótimo, vamos comer, senão vamos ficar sem comemorar e voltar ao trabalho. , me desculpa, juro que vamos comemorar decentemente — Tentei me esforça para não ser um tempo perdido.

Comemos em silêncio, observava o lago e as pessoas que passavam em volta, elas tinham suas preocupações, mas ali elas não pensavam naquilo, apenas caminhavam, escutavam suas músicas e se exercitavam, respirei fundo inúmeras vezes para poder esquecer também, uma hora daria certo.

— Ainda gosta dele? — A voz de me despertou e me pegou de surpresa com a pergunta. — Quer dizer, sei que nem tem muito tempo que terminaram, mas se isso te afeta tanto, por que não volta?
— Do Namjoon? Não é gostar como de uma mulher gosta de um homem que quer namorar, se é isso que quer saber, não é de agora que isso aconteceu, não foi de repente que terminamos e eu não sinto mais amor, já não vinha sendo o suficiente há algum tempo. Namoramos por muito tempo, foi o meu primeiro namorado, mas com os anos o amor foi se tornando apenas um grande carinho e cuidado por ele. Nam é como a sombra de uma árvore em dia de sol pra mim, ele me ajudou e me ensinou muito, e eu o dei muita dor de cabeça no final e não retribuí como devia os sentimentos dele por mim. Me afeta por estar o machucando — Ri ao falar daquilo, era frustrante aquela situação.
— Gostaria se ser algo assim pra você um dia. — Falou num sussurro, mas pude ouvir. — A sombra de uma árvore em dia de sol para proteger.
— O que disse? — Me fiz de desentendida para que ele dissesse novamente.
— Nada, só estava pensando alto. — Sorriu.

Já havíamos terminado de comer àquela altura, tínhamos que voltar, já havia se passado tempo demais e eu tinha muito que fazer, mas aí eu vi um pequeno parque com balanço logo a nossa frente, costumava a brincar ali quando criança, fui ali com Namjoon e muitas outras vezes que quis balançar sozinha para ter um momento de paz. Caminhei e fui seguida até lá, me sentei e então olhei para o céu, começou a empurrar o balanço e eu permiti que ele continuasse, nada mais foi dito por nenhum, ficamos ali na paz, e era reconfortante, talvez eu não pudesse sentir aquela paz se eu tivesse só, o toque dele era como se eu tivesse recebendo um forcinha e eu estava grata.
O resto da tarde passou e trabalhamos muito, parecia que tudo havia caído em nossas mãos em dobro e até triplo naquela tarde, me concentrei e apenas fiz meu trabalho, sem pensamentos em coisas externas. Quando deu a hora de ir embora, se levantou de sua cadeira e pegou suas coisas.

— Vamos pra faculdade? — Chamou.
— Não vou hoje, não tenho muita disposição, vou ficar aqui até mais tarde e depois vou pra casa. — Parei de fazer o trabalho apenas para lhe dar atenção.
— Ah! Vai ficar tudo bem? — Céus, podia parar de ser tão cuidadoso.
— Vai sim, só preciso de um tempo para fazer essas coisas. Não tem nada de mais.
— Ok, então, nos vemos amanhã. — se aproximou e me surpreendeu com um beijinho leve no rosto. Acho que fiquei tão quente e vermelha de vergonha, não por ele ter me beijado, mas pelo olhar das pessoas ali sobre mim.
— Amanhã é sábado. — Ele se virou com minha afirmação — Até segunda.
— Até amanhã. — Manteve a resposta para não ficar por errado e apenas sorri.
— Até amanhã, . E obrigada. — Ele não estava escutando, mas eram palavras que eu queria dizer a ele.


O silêncio daquele lugar durante a noite era tão bom, eu poderia fazer tudo com a maior paciência do mundo, sem ninguém me chamar, sem novos documentos chegando, sem a conversa alta dos meus companheiros de trabalho, eu estava disposta e nem sabia o motivo, me sentia bem melhor do que naquela tarde. Produzi mais do que em todos os dias que haviam se passado daquela semana.
Era por volta das 20h quando peguei minhas coisas e desliguei meu computador, deixei minha mesa organizada e então fui para o elevador, esperei o mesmo chegar para assim ir embora. O vento estava fresco e a noite estava bonita, tinha uma lua enorme e caminhei tranquilamente, me lembrei de muitas vezes em que Nam fora me buscar numa noite como aquela e sentávamos em um banco para admirar o céu, meus lábios se ergueram em um sorriso de saudades, eram boas lembranças, lembranças que eu guardaria com muito carinho. Sentei-me em um dos bancos que avistei e levantei os braços para os esticar, poderia o tempo parar e eu sentir aquela paz? A paz que eu precisava e que há muito tempo não sentia.

— A noite está linda, não é? — Reconheci bem aquela voz e continuei a olhar o céu.
— Está incrível, compensou por toda aquela bagunça durante o dia. — Confessei.
— É bom ver que se sente melhor, . — Vire-me para encarar , me sentia tão leve ali, naquela brisa gostosa e ele ao meu lado, era tão confortável aquela companhia.
— Não devia estar na faculdade? — O questionei, na verdade era bom o tê-lo ali.
— Eu fui, mas... quis voltar e ficar com você. — Confessou se apoiando no banco e olhando para cima.
, eu sei lidar com minhas coisas sozinha. — Falei rindo soprado e batendo as mãos para limpar, não queria parecer solitária, mesmo que eu me sentisse bem com ele ali, e muito bem.
— Isso não é ruim? Guardar tudo para si mesma? — Ele não havia entendido o que eu quis dizer, mas sei para onde ele tinha levado tal assunto.
— Houve uma época em que eu achei que sim, mas estou bem como resolvo as coisas.
— Não é o que parece? — Rebateu.
— E o que parece pra você? — Questionei e cruzei os braços esperando algo. — Por que estamos entrando nesse assunto? — Comecei a ficar incomodada.
— Que você quer provar que é forte sendo sozinha, mas não consegue mostrar isso porque você não é, você é sensível, sente mais do que os outros, demonstra mais do que os outros, se entrega demais e acaba desgastada com as coisas, por isso não conseguiu continuar como estava e voltar para Namjoon, tem medo de estragar. Hoje no restaurante pude ouvir sua conversa com ele, sinto muito, mas perguntei para Mimi também. Desculpe ter sido bisbilhoteiro demais. É porque você precisa conversar com alguém, se acha que errou com Namjoon, por que continua se fechando e agindo da mesma forma? Eu não quis dizer nada no parque por ser delicado naquele momento, mas não conseguiria ficar pensando que você chegaria em casa, pensaria e pensaria, choraria e amanhã seria a mesma coisa, você guardando as coisas e deixando acontecer. Tanto que você não consegue superar ele — Pontuou.
— Por que quer tanto saber assim das minhas coisas? Não me conhece há muito tempo pra isso. — Me senti acuada.
— Me pergunto a mesma coisa, apenas aconteceu, me interessei pelo seu jeito, não quis me envolver, mas... — deixou no ar. — Não que você seja um problema, só que, não sei, eu sinto que eu preciso falar isso pra você ou que preciso estar ao seu lado, conhecer você.
, olha, sou complicada demais pra ser entendida, não tente, por favor. — Eu não acreditava que estava ouvindo aquelas coisas.
— Quem disse que tudo é fácil? — Rebateu firme. Que menino teimoso.

Não queria mais falar, levantei e sai dali do lado dele como se nem mesmo estivesse ali, eu sabia que ele me seguiria, mas eu não sabia como reagir àquilo e apenas o evitaria.

— Não me segue. — Gritei.
— Não adianta pedir, está muito tarde para ficar sozinha, — Virei e fuzilei ele com o olhar, nunca mais queria falar com , queria, mas não devia, se ele insistisse naquilo de me conhecer, eu não deveria ter me aproximado, devia ter ficado sempre na minha, mas ele era tão convidativo, tinha cara de “conversem comigo, sou legal”, não podia prever,
— Tsc, faça como quiser, mas vou ignorar sua presença aí. — Ele apenas gargalhou.
— Isso não muda que ainda estarei aqui. — Disse zombeiro, mas ele tinha razão.
— Cala boca. — Acabei rindo daquilo sem querer. me seguiu até a estação, entrou no mesmo vagão e desceu no mesmo lugar que eu.
— Você mora muito longe? — Analisou onde estávamos.
— Por quê? Não quer mais seguir a mocinha. Está com medo? — Ironizei provocando, parando para que ele me alcançasse. — E se alguém me raptar, vai se sentir culpado? — Rodopiei em volta dele e comecei a rir, o plano de o ignorar já havia caído por terra há minutos atrás.
— Não. — Ele me puxou pela mão no intuito de me fazer parar e acabamos ficando próximos demais, estava um pouco escuro e pouquíssimas pessoas passavam ali, quase nenhuma pra ser mais exata.
... — Ele se aproximou ainda mais e eu o impedi com a palma da mão.
— Sim. — Respondeu e pude sentir seu hálito quente, cheirava a canela.
— O que está fazendo? — Minha respiração começou a falhar com aquilo e fiquei nervosa. Ele recuou.
— Perdendo meu controle? — Riu soprado e me soltou. — Vamos, eu tenho que voltar logo, minha mãe fica preocupada. — Pigarreou e voltamos a caminhar.

Caminhei quieta e esfregando ora ou outra as minhas mãos, meu coração havia acelerado com aquele contato recente e por um minuto eu imaginei o que teria acontecido se ele tivesse continuado a se aproximar e eu só tivesse ficado calada, não era muito incomodo o silêncio, mas talvez ele estivesse se sentindo um pouco estranho, geralmente falava mais que a mulher fofoqueira de cidade do interior e agora ele nem emitia som, parecia um morto andando.

— O ar está fresco, né? — Ri alto tentando tirar aquele clima de peso.
— É, não está com frio? — Ele passou a mão na franja a jogando pra trás e passou a língua nos lábios antes de sorrir por eu ter puxado assunto. O lábio de ficou molhado e eu imaginei como deveria ser beijá-lo, eu devia estar louca por pensar aquilo, desde que ele ficou próximo daquele jeito eu não sabia se eu estava bem.
— Não, está molhado, quer dizer, úmido, quero dizer, está fresco, não está muito frio. — Meu deus! Bati com a mão na testa quando ele se virou e riu.
— Não é o que os pelinhos do seu braço dizem. — Riu
— E o que eles dizem? Eu não ouço nada. — Ele riu e eu, bem, queria me esconder ou sair correndo. Evitei contato até que chegássemos à minha casa, era sexta e não tinha ninguém, todos tinham uma vida social e eu gostava do sossego e do silêncio do meu quarto. Paramos na entrada, nos encaramos e suspirou.
. — se aproximou de novo e eu o segurei para que parasse a uma distância boa de mim.
— Obrigada por me trazer, . Boa noite, tchau. — Eu vasculhei as chaves dentro da bolsa as pegando rapidamente e entrei ouvindo apenas o meu nome em seus lábios antes de desistir.

O fim de semana foi cheio de trabalhos que eu já deveria ter terminado, mas como procrastinadora nata que eu era, acabei deixando tudo para domingo. O que me mantinha até bem concentrada e esquecida do celular, onde havia mensagens de e Mimi, mas eu não queria tempo para responder, não estava chateada com eles, mas eles deviam respeitar meu espaço.
A noite ia caindo e então saí para uma caminhada no bairro onde eu morava, fui até a venda da esquina comprar sorvete e voltei para arrumar as coisas do dia seguinte.


[...]



Tudo estava tranquilo na segunda, o trabalho que não fora terminado na sexta, finalmente pode ser concluído e tudo indicaria que nenhum material chegaria naquele dia.


— Você vai, né, ? — Ji soo e Ah Yeong chegaram a minha mesa eufóricas.
— Para onde? — Me perguntei se eu tinha esquecido algo.
— É aniversário do na próxima sexta, estamos planejando uma surpresa. Mimi não te falou? Disse que te falaria nesse fim de semana. — Questionaram.
— Ah! Claro que vou. — Sorri por finalmente me lembrar das mensagens ignoradas. Encarei a mesa da minha amiga do outro lado da sala, que me olhava com todo o ódio do coração. Ela se levantou da sua mesa assim que as outras duas saíram tagarelando da minha.
— Você estava em algum tipo de greve ou só querendo que a gente se sinta mal?
— Não sei do que está falando. — Rebati.
— Você ignorou todas as minhas mensagens e ligações, sua palhaça. — Cruzou os braços.
— É que eu tinha muito trabalho da faculdade pra fazer. — Respondi mexendo em folhas quaisquer.
— Conta outra, , isso nunca foi problema pra você me responder. — Suspirei.
— Se não quer acreditar, não posso fazer nada. — Levantei indo pra impressora.
. — Me virei. — Você vai pra festa do ? Eu sei que odeia voltar tarde pra casa, mas vamos fazer mais cedo pra que isso não seja um problema.
— Eu vou sim. — Sorri e fui para a salinha de impressão, mesmo que não tivesse nada o que fazer lá.


[...]



Era dia de festa, e eu, e Mimi íamos de carro para a Domino's que ficava um quarteirão da estação de Hongdae.


— Será que vai muita gente? — Mimi tentou puxar assunto no carro dominado pelo silêncio.
— Provavelmente, todas as meninas dos setores adoram o . — Não era mentira, desde sua entrada, o estagiário havia conquistado um considerado número de "fãs".
— Senti uma pontada de ciúmes? — Ele riu em minha direção.
— Só nos seus sonhos, neném. — Apertei-lhe as bochechas e caímos na gargalhada.

Como eu tinha afirmado, ao entrar na pizzaria em que combinamos encontrar o pessoal, 85% do nosso grupo era composto por mulheres, o que me fez soltar um risinho e corar ao me ver rindo.

— Ah, qual é, quem sabe hoje você não dá a sorte com uma, hein? — Provoquei.
— Não quero nenhuma delas. — Virou o rosto.
— Duvido muito, todas lindas. — Insisti.
— Mas isso não quer dizer que eu queira algo com alguma, ué!! — parecia meio irritado com meus comentários, mas resolvi apenas deixar pra lá.

Aos poucos, fomos ficando alterados devido à bebida e cheios graças à pizza maravilhosa de quatro queijos, minha favorita.

— Vamos ao karaokê, galera? Ainda está cedo. — Ji soo disse com a voz embolada.
— Olha, vocês podem ir, que eu vou voltar pra casa. — Eu disse tirando a pequena bolsa com minha parte do pagamento.
— Ah, qual é? — Mimi insistiu.
— Você sabe que não posso chegar tarde às sextas. — Bufei.
— Provavelmente seus pais nem estão em casa. — Disse sussurrando.
— Exatamente, eu tenho que entrar em casa antes de eu ter um treco. — Desde o assalto, eu mal conseguia me sentir segura indo pra casa.
— Você é muito medrosa. — Se Mimi estava a fim de me tirar do sério, ela estava conseguindo.
— Não vai dá pra mim também, gente, amanhã eu tenho que ajudar minha mãe cedo. — disse arrancando o olhar triste das meninas.
— Eu vou com vocês. — Mimi deu as costas e logo se juntou a Ji soo.
— Vamos? — me chamou, mas o olhei confusa. — Pra estação.
— Você também está indo pra lá? — só usava o metrô quando ia pra faculdade e eu sabia disso.
— Vou, vou te acompanhar. — Fiquei agradecida, mesmo achando que estava tudo bem voltar só, eu realmente tinha muito medo, mas sabia que morava muito longe e eu não queria incomodar.

manteve uma conversa qualquer enquanto passávamos pelas estações, hora ou outra eu soltava um bocejo e ele ria dizendo que eu estava ficando velha, eu fingia estar irritada e imitava minha avó brigando comigo e com meus primos.

— É sério, , não precisa descer comigo, daqui posso ir pra casa sozinha. — Falei quando fez menção a se levantar junto comigo.
— Ah não, ainda posso te levar pra casa que não vai ficar tarde pra eu voltar. — era muito insistente e as vezes eu esquecia disso, mas acabei me dando por vencida e lá estávamos nós, lado a lado como há semanas atrás com o episódio de tentar me entender.
— Bem, você está entregue. — Chegamos à porta da minha casa.
— Obrigada de verdade, , fico te devendo mais uma. — Ri para ele antes de voltar minha atenção a procurar a chaves em minha bolsa.
. — chamou novamente.
— Oi. — Continuei mexendo na bolsa sem o encarar.
— O que eu disse a você naquele dia, sobre ter me interessado. — Acho que estava escolhendo palavras para me dizer.
— Por que não deixamos isso pra lá? Naquele dia, eu inclusive tenho que pedir desculpas por agir de forma grosseira com você. — Não tinha motivos para voltarmos naquele assunto, se era que ele de fato existia entre nós. Eu andava muito confusa com tudo e decidi que o evitar seria bem melhor.
, eu realmente estou nutrindo sentimentos por você. — continuou.
. Por favor, é sério, eu não quero te magoar. — Mas que caralhos, eu não achava a chave em lugar nenhum e o nervosismo só aumentava.
, eu... — Por fim olhei para ele, com a luz que vinha da porta encarei seu rosto e então o interrompi.
— Desculpa, , eu não estou preparada para que alguém que se interesse e nem invista ou tente me conhecer, você e incrível demais e eu sou alguém que se afasta das pessoas quando se acha insuficiente, me escondo por covardia, não quero fazer o mesmo com você, como você mesmo disse, eu tenho muito o que mudar. Eu não superei o Nam e céus, eu não quero machucar ninguém de novo, muito menos você, você é tão gentil, cuidadoso, carinhoso, me sinto bem com você, , confortável demais para eu deixar que isso se torne algo além de amizade, faz "pouco" tempo que nos conhecemos e eu não tenho certeza do que sinto, me sinto uma traidora. Depois da sua aproximação naquele dia, eu percebi o quão você me atrai, entende? Não seria rápido demais? Talvez você só esteja atraído pelo meu jeito por se divertir com o que eu digo, mas não sabe o caos que eu sou.
— Você tem que mudar por você mesma, e não pelo que eu disse. — passou a mão pelos cabelos, era uma mania que eu já havia percebido quando ele estava alterado. — , pelo que conversamos, sei perfeitamente onde estou me metendo, poxa, não foge, arrisque, corre atrás, mude se é o que quer, não fique sendo assim e colocando a desculpa de sua personalidade se você se culpa por isso. Do que adianta querer mudar e não fazer nada pra isso? Só se afastar das pessoas não é solução, se privar das coisas por medo. — Ele estava com um ar decepcionado. — Quanto ao ir rápido demais, conhecer, como acha que as pessoas se interessam pelas outras? Conhecendo, eu sei o caos que é e mesmo assim estou expondo o que sinto e penso. Quem liga pro rápido? A vida é curta para se preocupar com o que os outros pensam, não acha?
— Sinto muito... — Foi o que consegui dizer, não queira parecer confusa demais, eu sempre era, uma contradição em pessoa.

Encostei a testa no portão de entrada e continuei ali como se estivesse em reflexão, o vento ficou mais forte e já estava começando a sentir frio, tremi um pouco e então me recompus, ele estava ali parado, sentia seu olhar em mim, por que não encontrava logo aquelas malditas chaves?

— Não estão aqui. — Falei pra mim mesma, havia esquecido em algum lugar.
— Sua família vai demorar? — Ele também mantinha a voz baixa.
— Não sei, talvez meus pais não demorem, meu irmão dorme na namorada e minha irmã na casa do dela. — Suspirei. — Vá pra casa, , está ficando frio e você tem que voltar.
— Não se preocupe comigo. — Cruzou os braços por sentir frio. — Vamos esperar até alguém chegar e aí eu vou embora quando entrar. — Não insisti para que ele me deixasse, porém ficava preocupada como o quão tarde estava ficando e nada de alguém aparecer, resolvi que deveria pelo menos ligar para algum ser que morava naquela casa. Minha mãe atendeu depois da minha terceira tentativa e disse que como percebera que eu havia esquecido as minhas chaves, deixara uma extra atrás do vaso de flores na entrada, logo em baixo da pedra. Minha frustração foi maior quando percebi que eu poderia ter ligado antes, eles só voltariam no domingo e eu teria ficado esperando, e mais, ficara ali tempo demais. O telefone do menino tocou e ele se afastou um pouco, o ouvir dizer pra mãe que estava tudo bem e que acompanhara uma amiga.
— Não, mãe, não posso dormir onde estou. — Fez uma pausa. — Não é perigoso, posso voltar. — Ele suspirou novamente, talvez a mãe estivesse insistindo e preocupada e a culpa era minha. — Mãe, já falei, por favor.
... pode dormir aqui se quiser. Talvez sua mãe esteja certa... tenho medo de ficar só também. Tudo bem se ficar. — Forcei um sorriso e ele suspirou novamente, nunca tive medo de ficar sozinha em casa, mas era uma mentirinha para o bem.
— Ok, mas volto logo para ajudar a senhora amanhã. — Eles conversaram mais alguma coisa antes até eu ouvir ele se despedir. — Boa noite, mãe, te amo. — Ele desligou e me encarou. Fui até o vaso que minha mãe havia colocado as chaves e em seguida me dirigi até o portão para o abrir.
— Se sinta em casa, sei que é difícil, mas tente. — riu e observava tudo ao entrar. Me joguei no sofá e ele se sentou ao meu lado. — Hm, o que vamos fazer, senhor convidado? Ainda está com fome? — O encarei, ainda devia uma comemoração, ele passaria a noite ali e precisava tirar aquele clima da nossa conversa.
— Claro que estou faminto, fiquei igual um morador de rua por horas na sua calçada. — Debochou e riu, como sempre fazia quando estava à vontade, riu como no dia em que o conheci, no dia que Namjoon terminou nosso namoro. Engraçado parar para pensar que num dia ruim, outra boa aconteceu. Acho que fiquei longos minutos encarando , ele sorriu e eu retribui.
— No que está pensando? — Perguntou.
— Nada demais, vamos, vou preparar algo para comermos. Pode tirar os sapatos, tem os chinelos do meu irmão bem ali na porta, acho que serve em você, mesmo sendo menor que Jungkook. — Ele fez um bico quando eu disse menor, odiava sua estatura.

Preparei algo simples, pois não tinha muita opção em casa, dava para fazer omelete, tinha Kimchi, arroz na panela, um pouco de carne que eu iria grelhar na chapa e outras besteirinhas que podíamos comer. Fui preparando as coisas e colocou a roupa de Jungkook que emprestei para que ele ficasse mais confortável, por sorte as roupas lhe caíram bem, ele foi muito prestativo e me ajudou lavando as coisas para a salada, arrumando os pratos e outras coisas que usaríamos.

— Não gostaria de ir pra minha casa amanhã? — perguntou enquanto cortava os pepinos. — Você ficará sozinha, então é... seria legal. — Estava surpresa com o convite.
— O que eu faria lá? Quer dizer, sua mãe e... — Namjoon raramente me chamava para ir a sua casa, mesmo que eu conhecesse bem os seus pais, ele não gostava do meu contanto com os pais dele. Ok, talvez eu devesse parar de comparar as coisas.
— Minha mãe ia adorar te conhecer, moramos em uma casa tradicional, minha mãe gosta de espaço, de plantar e eu a ajudo aos sábados, só achei que... — Ele mal terminou e eu me exaltei. — Seria legal você... Ir — A última palavra saiu tão baixa que eu podia jurar que ele tinha se arrependido de dar essa ideia.
— Adoraria ir. — Eu gostava desse ambiente mais puro das casas tradicionais, gostava de quando ia para a casa da minha vó e a ajudava com as hortaliças.
— Ok. — abriu um sorriso lindo e enorme, satisfeito. Me pergunto onde o “eu” que o queria afastar estava naquele momento, eu conseguia esquecer qualquer coisa conversando ali com .

Comemos e decidimos que assistiríamos um filme, não era nem uma hora da manhã, poderíamos dormir até um pouco mais tarde antes de sairmos.

. — chamou enquanto retirava os pratos. — Olha pra mim. — Me virei distraída e ele estava bem atrás de mim, vacilei por alguns segundos e o vi se aproximar mais. selou nossos lábios e acabei por soltar os pratos na bancada, permaneci com os olhos abertos e mantinha os dele fechados, talvez estivesse esperando eu o empurrar, mas eu não queria nos distanciar naquele momento, não me sentia assim há muito tempo, bem, confortável, alegre. Deixei que meus olhos se fechassem e então dei passagem para que aprofundasse o osculo, riu entre o beijo quando aceitei e então me puxou ainda mais para o aperto dos seus braços, tudo que estava em volta, tudo o que me perturbava, situações desconfortáveis foram sendo deixadas para trás pelo menos naquele momento, começamos a andar até que paramos no sofá, nos deitamos e começaram a ter caricias, toques e carinho, era errado aquilo? Eu poderia me dar uma nova chance e mudar como havia dito? Deveria ao menos tentar e não me afastar e me fechar para as pessoas e a minha própria vida? estava por cima e eu inverti as posições, sorrimos um para o outro quando nos separamos e antes de iniciar outra vez um beijo, eu deitei minha cabeça em seu peito.
— Vamos até aqui por hoje. — O abracei. Ele me envolveu de volta e então ficamos apenas ali conversando.
— Foi o melhor presente que recebi hoje. — Sorri minimamente enquanto escutava seu coração.


[...]



Na manhã seguinte levantamos não muito cedo como queríamos, mas ainda daria para aproveitar parte da manhã, fiz minha higiene e fez a dele no banheiro de Jungkook, resolvemos que tomaríamos café no caminho e então fomos para a casa dele. Era longe demais, dei graças por ter mesmo aceitado dormir na minha casa, me culparia eternamente se algo tivesse acontecido com ele. Quando a maior parte do caminho já havia passado, avisou que dali 10 minutos estaríamos em sua casa e pude ver as casas tradicionais tomarem lugar, era cada uma mais linda do que a outra, eu amava minha cultura e as coisas que meu povo criou, nossa arquitetura érea realmente era muito bonita e eu tinha orgulho. Admirei cada parte daquele bairro.


— Cheguei, mãe. — abriu a entrada e chamou a mais velha. Uma jovem senhora muito bonita saiu de casa secando as mãos em seu avental, se aproximou e beijou o rosto de o olhando.
— Dormiu bem? Não foi perigoso, né? , por favor... — Ela estava preocupada e aliviada por o ver ali.
— Ele... dormiu na minha casa. — Falei envergonhada saindo de trás dele, talvez ela pensasse que estava fazendo algo errado e era minha culpa.
— Você é a? — Olhou para e em seguida para mim.
. . Prazer em conhecer a senhora. — Me curvei e ela fez o mesmo só que com a inclinação menor.
— Bem, seja bem-vinda, entre — Ela sorriu simpática, mas algo me dizia que ela não ficara muito contente.
— Não liga não, ela faz essa cara quando está com ciúmes, mas ela é a mulher da minha vida. — Ri, parecia ter lido meus pensamentos. Ele falou num tom que a senhora pudesse escutar e ela balançou a cabeça em negação, acabei por rir junto.


Entramos e a senhora cortara diversas frutas recém colhidas para nós três, preparou chá e nos serviu, ela não permaneceu muito ali e logo estava na terra, plantando alguma erva que não consegui identificar.

— Ela devia descansar, mas olha só como trabalha, não para um minuto nem aos fins de semana. — reclamou preocupado.
— Talvez ela só esteja tentando ocupar a mente. — Ou talvez ela só goste muito daquilo. Pensei.
— Não talvez, ela está tentando. — Suspirou.
— Tem alguma coisa que eu não saiba? — Tomei um gole do meu chá.
— Há muitas coisas. — Ele parou e deu um gole do dele. — Sempre fui muito travesso, dei muito trabalho e preocupações a ela, posso ser bonito, mas sou uma peste. — Bati nele e ele abriu um sorriso enorme. — Era... até meu irmão sair de casa. Assim que teve oportunidade, ele se foi, minha mãe tinha muito orgulho e eu sempre quis ser como ele. Tem um pouco mais de um ano desde que ele simplesmente sumiu no mundo, ela sempre pensa que ele pode entrar por aquela porta e voltar para esta casa.
— Você não acha isso, não é? — Ele balançou a cabeça em negação. Observei a senhora e me amaldiçoei por sempre me deixar para baixo por coisas fúteis, enquanto pessoas viviam situações bem mais preocupantes e mantinham-se de pé e esperançosas. se levantou e foi até sua mãe, a abraçou e ela lhe deu um tapa para que a soltasse, mas ele grudou e a beijou, ela sorria com muito gosto, contemplei aquela imagem e senti inveja, queria fazer o mesmo com a minha mãe.

De tarde, eu e fomos colher morangos que senhora havia plantado, e tudo parecia realmente muito agradável, há tempos um simples sábado me trazia tanta paz.
A noite foi caindo e liguei para meus pais para avisar que não dormiria em casa, mesmo que eles estivessem ausentes, sempre era bom avisar, não iria correr o risco de descobrirem e levar uma bronca, me despedi e chegou com alguns futons e cobertas, iria fazer muito frio ali, e ele disse que me manteria bem aquecida.

— Não se importa em dormir no quarto do meu irmão, né? É o maior quarto, eu ia te deixar no meu, mas minha mãe brigou. — Revirou os olhos.
— Quem sabe você não dê uma escapada de noite, já que há espaço para nós dois. — Falei brincando e ele olhou com uma expressão travessa. — Estou brincando, . — Joguei-lhe a almofada.
— Você que me deu a ideia, não posso fazer nada se gostei dela. — Colocou a coberta em cima do futon, várias almofadas e outra coberta para que eu passasse a noite protegida, deitamos sobre eles e encaramos o teto.
— Sabe, , há tempos não passava um dia tão bom e sem preocupações, você e sua mãe são doces. — Me virei e o encarei. — Obrigada por se tornar meu amigo. — Ele se virou e passou a mão em uma das minhas bochechas.
— Amigos. — Fechou os olhos.

Acabou que dormiu ali mesmo ao meu lado, eu demorei para pregar os olhos e apenas fiquei ali o observando, a mãe de ainda estava acordada e me levantei para ver o que fazia. Com cuidado ela temperava a carne e a limpava, deixava várias hortaliças separadas e voltava a se dedicar a carne.

— Não consegue dormir? — Me perguntou me pegando de surpresa por saber que eu estava ali.
— Não, mas não é ruim, esse lugar é tão acolhedor, não é uma falta de sono cansativa. — Me sentei próxima a ela.
— E antes seu sono era de algo que a incomodava? — Eu refleti sobre aquilo por um momento e me questionei no que eu deveria responder.
— Eu não tenho certeza se as coisas que faço são as que eu realmente gosto e isso já me fez perder o sono, não sei me relacionar com as pessoas, parece tão errado, me cobro demais e acabo cobrando de quem me cerca, eu me sinto frustrada em como estou levando a vida, desde que terminei com Namjoon, meu ex, quer dizer, ele terminou comigo, — Corrigi. — eu venho pensando ainda mais nessas coisas, chegou em uma hora para me animar um pouco, com ele sinto que posso relaxar e esquecer as coisas que eu guardo demais, ele praticamente me força sem forçar a me abrir, é como se ele fosse um imã que atrai meus problemas e eu acabo falando, aprendo muito com ele e com as coisas que ele fala pra mim. — Me senti uma carente me abrindo tão rápido como eles dois.
— Que tal apenas viver? Sem se cobrar demais, sem esperar demais e sem criar expectativas em algo que você sabe que não vai acontecer. — Ela parou por uns instantes e se sentou ao meu lado na varandinha da cozinha. — Sabe, , eu aprendi muito com a vida e quando parei de finalmente querer as coisas do meu jeito, tudo começou a ter um rumo, começou a correr atrás do que sonhava, posso plantar minhas coisinhas e manter a casa com o que vendo e os serviços que presto. O nosso problema é querer resolver tudo do nosso jeito e não deixamos acontecer, nos fechamos numa bolha sem deixar espaço para alguém entrar ou nós mesmos sair. Não sei se me compreende, mas espero que um dia consiga achar essa resposta também. — A senhora segurava a minha mão e me senti acolhida e suas palavras se firmaram em mim, era como ela. Voltei para o quarto depois de conversarmos mais um pouco, ela disse para que eu fosse pro quarto do , já que o mesmo dormira no lugar que era para mim, mas fui para o quarto do irmão.

Ele dormia tranquilamente e então me deitei ao seu lado, desde que o conheci, não esperava que aprenderia tanto com aquele ser, ele era gentil, orgulhava sua mãe e ela era um amor de pessoa assim como ele comigo, eu merecia o carinho dele? Eu estaria mentindo se dissesse que eu ainda queria que não se interessasse por mim, eu o queria para mim, precisava de sua proteção, mesmo que meus sentimentos ainda não fossem o que eu queria dar.
abriu os olhos ainda sonolento e sorriu, me abraçou e eu não fiz a questão de rejeitar, estava tão bom, será que eu comecei a ficar mais gananciosa com relação a me abrir? Me lembrei do quanto já havia me sentido assim quando era com Namjoon, mas havia uma diferença entre os dois, Namjoon me amava e isso eu não tinha dúvidas, mas no fundo eu sabia que Namjoon queria que me tornasse dependente dele e que eu sempre contasse e sentisse na mesma forma com ele, sabia que eu não daria meus sentimentos logo a ele, mas mesmo assim não mudava, não me cobrava, claro, quem não quer ser retribuído, mas desde sexta que se confessou e eu o rejeitei, ele permaneceu o mesmo, e isso me deu segurança, ele apenas me entendeu

— Vamos dormir? — Retribui seu abraço.
— Mas eu acabei de acordar. — A voz ainda estava rouca de sono.
— Ainda é noite. — Eu só o queria manter falando, apenas que não falássemos nada e ao mesmo tempo, tudo.
— O que deu em você? — Ele perguntou me fazendo o encarar? — Estava tendo pensamentos enquanto me via dormir? — Cobriu o corpo
— Ah, sim, muitos pensamentos. — Gargalhei.
— Safada. — Eu o olhava e não percebera que era algo diferente.
. — O chamei calmamente.
— Sim. — Se ajeitou para que eu pudesse me deitar mais confortável ao seu lado.
— Vamos tentar. — Falei baixo.
— Tentar o que? — Ele me encarou e logo arregalou os olhos. — Está falando sério? — O brilho que havia em seus olhos fizeram o meu coração se aquecer.
— Bem, não garanto que serei fácil, mas.... — selou nossos lábios antes que eu pudesse concluir qualquer frase. O empurrei. — Você poderia pelo menos deixar eu concluir.
— Não posso arriscar você mudar de ideia. — Colocou uma mecha de cabelo que acabou caído em meu rosto.
— Não vou mudar. — Estava envergonhada. O osculo seguinte foi iniciado por mim.


[...]



A semana novamente estava começando, eu estava bem mais disposta a seguir e com uma visão totalmente mudada desde as palavras da mãe de , muitos perceberam minha mudança, até mesmo Mimi, fora a primeira a vim me perguntar se algo estava errado comigo, mas era algo que eu ainda manteria para mim. Me limitava apenas a dizer que era algo bom.
Meses depois eu ainda estava naquele processo de mudanças. Por mim mesma. Creio que passei a ver a felicidade de outra forma, eu e começamos a namorar e ele estava me ajudando sempre que eu queria relembrar os períodos de trevas. Era engraçado pensar assim, mas era exatamente assim. Ele entrou para eu ter um motivo para continuar, um motivo para sorrir e motivo para viver, não que ele fosse o motivo, mas os momentos que presenciamos, vivenciamos e o que aprendemos enquanto estamos vivos. Os sentimentos, cada gesto, pessoa e coisas mais simples é que mostram que temos motivos todos os dias, estava feliz por ser um dos meus motivos.
E cá estou eu, novamente descendo os degraus, do sexto ao segundo andar, não mais com aquela carga pesada, não mais com a desmotivação, e mesmo que os dias sejam cinzas, tenho motivos para os ver belos e cheios de cores, os pintando do meu próprio jeito. Abri a porta e as luzes invadiram o escuro das escadas, estava logo a porta mais adiante, sorriu e vindo em minha direção, me levando de volta para as escadas, me beijou intensamente, retribui com um sorriso brincando em meus lábios em meio àquela escapadinha do bem.


Um ano depois.


O último ano da faculdade chegou, e junto com ele o medo do que viria a seguir e a incerteza sobre o meu futuro em minha vida profissional. , como sempre, estava ao meu lado e com palavras que me acalmavam, mas ele mesmo estava à flor da pele com todo aquele semestre, terminaríamos juntos, mas eu com o trabalho escrito e com as horas de voo que vinha fazendo antes mesmo de serem solicitadas. “Prefiro me adiantar”, dizia para mim e eu o invejava, tinha uma forma diferente da minha de lidar com o que o assustava, enquanto eu queria apenas me esconder, ele fazia algo para que o medo se dissipasse, por sorte, eu sempre me escondia nele.
mexia no celular deitado em minha cama enquanto mais uma vez procurava por palavras certas para escrever o meu trabalho, aquilo me perturbava e me questionava se realmente havia aprendido alguma coisa naqueles anos de estudo. Retirei os óculos e me estiquei no acento, fechando os olhos em seguida e tentando descasar.

— Não acha que é melhor parar por hoje? Você está sentada há horas. — As mãos de passearam por meus ombros e ele me abraçou, virei minha cadeira e fiquei de frente pra ele, abraçando sua cintura.
— Eu não consigo escrever, amor. O que eu faço? — Choraminguei para ele.
— Eu sei que você consegue, . Parece difícil agora, mas sei que quando se concentra algo sai, e sai bem feito, quantas páginas você já fez? — perguntou.
— Umas 10 no máximo. — Me agarrei ainda mais a ele.
— Amor, eu sei que você vai conseguir, se quiser eu te ajudo. Quando eu voltar no domingo, eu posso passar aqui e te ajudar com pesquisa, se quiser. — Falou animado e eu até sorri pra ele. era um doce quando não estava bravo.
— Então vou esperar você voltar, amanhã não vou mexer nisso, já que estou trabalhando nele todos os dias. — O soltei para salvar o arquivo e fechar o notebook sobre a mesa.
— Preguiçosa. — Ri. — Já que não vai fazer amanhã, não quer ir comigo para o centro de treinamento, tem lugar para você ficar, e bem, quem sabe não posso te levar para um passeio nos ares.
— JURA? — Me levantei de uma vez. — Você me levaria com você em um voo?
— Claro que levaria, eu pensei em convidar antes, mas com a correria não era certo de irmos juntos. — Voltou a se deitar em minha cama.
— Claro que vou, . Ah, eu sempre quis te ver pilotando. — Eu estava eufórica, confesso que meu interesse por aviões cresceu de 50% para 90% graças a ele.
— Então é melhor arrumar suas coisas, porque pretendo pegar o primeiro trem da manhã. — Ele sabia da minha imensa enrolação e dificuldade com acordar cedo.
— Posso levar só uma calça? — Ele riu. — É sério, eu estou cansada, acho que vou levar minha bolsa com as coisas de higiene, qualquer coisa uso sua blusa. — Fui me arrastando até a cama e me joguei. me puxou para seu lado e tirou os cabelos de cima do meu rosto, permaneci de olhos fechados, mas sabia que ele estava me encarando.
— O que eu faço com um ser humano como você? A preguiça de arrumar uma mala pequena, mas não de ir com seu namorado em aulas de voo.
— Minhas roupas não são mais importantes do que o meu namorado. — Senti o ar da risada de e meus lábios se esticaram em um sorriso mínimo.
— Como você é idiota. — Ele me envolveu trazendo para si.
— Mas você me ama assim mesmo. — Meus braços o cercaram de volta.
— Amo muito. — O cansaço tomou conta do meu corpo tão rápido que mal percebi que havia pego no sono.

O relógio apontava 3h da manhã quando despertei e já não estava ao meu lado, provavelmente ele tinha ido pra casa arrumar suas coisas e descansar para a viagem que faríamos, levantei sonolenta ainda e acendi a luz do abajur. Arrumaria uma pequena maleta com algumas roupas mais finas, pois sabia que faria calor e uma mais grossa. Fui para um banho e me vesti, coloquei um macacão jeans e prendi os cabelos em um coque, voltei para a cama e só levantaria quando chegasse para me buscar.


Já em Incheon, esperávamos o KTX que nos levaria até o centro de treinamento de pilotos de Busan, cidade natal de , o horário do trem seria 6:55 e chegaríamos às 10:37.

— Quer que eu compre alguns ovos para comermos no caminho? — procurava a carteira todo atrapalhado com suas coisas.
— Amor, eu trouxe coisas para nós dois comermos. — Mostrei a sacolinha plástica em meus braços.
— Água? — Procurou em sua mochila.
— Comigo. — Ri. — , relaxa, temos tudo aqui, eu só estou indo te acompanhar, não precisa agir assim, vai como se eu nem estivesse indo.
— Não tem como, estou feliz por finalmente ir comigo. — Segurou minhas bochechas e selou meus lábios. A partida do nosso trem foi anunciada e logo entramos em direção à nossas poltronas.

O KTX finalmente pôs-se a andar e como tínhamos acordado cedo, acabei por cair no sono nos ombros de , meu namorado parece ter feito o mesmo, pois quando despertei o vi encostado em mim, respirando tranquilamente. Não era uma viagem muito longa e nos ajeitamos quando o despertei ainda em Ulsan.

— Chegamos? — bocejou.
— Ainda não, faltam alguns minutos. — Ele sorriu se espreguiçando. — Estou faminto. — Entreguei-lhe alguns lanches que havia feito em casa e um suco que comprara na conveniência.

Quando chegamos em Busan, um dos amigos de , Danny, estava o esperando.

— Dan! — acenou para o mesmo que correu até nós.
, quanto tempo. — Se cumprimentaram e conversaram algo que não pude escutar muito bem. Nunca tinha ido a Busan e ainda olhava ao meu redor, as pessoas e seu dialeto, era o que eu mais me encantava no momento, só falava quando estava nervoso e eu geralmente começava a rir por não entender algumas coisas.
— Essa é , a minha namorada, que te falei da última vez que vim. — Sorri para o menino a minha frente e então me curvei.
— Prazer, sou Danny Im. — Diferente de mim ele pegou em minhas mãos em cumprimento.
— Sou . — Ele sorriu.
— Realmente, ela é bonita exatamente como você disse. Sabe, seu namorado aqui ficou se gabando com os outros que tinha uma namorada linda e que queria trazê-la um dia, mas estava duvidando, por causa da demora. — Olhei para que incinerou Danny com os olhos.
— Vamos, se não nos atrasamos para a aula e eu ainda quero mostrar as coisas para a . — Apenas pisquei para Danny que estava rindo do amigo que me puxou pelas mãos em saída da estação.

O hangar estava com alguns pilotos prontos para o treino de voo e eram lindas as aeronaves estacionadas ali, eu nunca chegara a entrar nelas, apesar de já tê-las visto de perto por várias vezes. foi trocar a roupar e voltou vestido com um macacão azul como os demais ali. A rapaziada dizia o mesmo que Danny, sempre que ele me apresentava e sempre me faziam rir com o desespero que ficava.

, quem mandou se gabar tanto por ai? Agora aguenta as piadas. — envergonhado seria minha arma para quando brigássemos.
— Eu só disse verdades. Eu tenho uma namorada linda. — Um dos meninos passou por nós no mesmo instante que me puxara para um beijo.
— É, só cuidado pra não ficar nervoso com ela e acabar caindo lá de cima. — não seria deixado em paz por um tempo. selou rapidamente meus lábios e correu para não perder as instruções.

Aproveitei que estavam treinando para pensar em algumas coisas para o meu trabalho, levei um caderninho para fazer anotações e a tranquilidade do lugar me ajudaria a pensar apenas naquilo por um instante. Duas horas se passavam e pelo menos algo fluía, mesmo que algumas pessoas passassem e me cumprimentassem, não me atrapalharam e consegui escrever mais do que faria se estivesse em minha casa. Meu futuro dependia do que eu escrevesse naquele trabalho que apelidei com um carinhoso nome de “Tinhoso”. Será que como , eu conseguiria alcançar o que eu queria que fosse o meu céu? Ele sonhava em ser piloto como o pai e já havia experimentado a sensação de voar e estar no controle de uma aeronave, mas eu nunca experimentei de fato o campo do meu trabalho. Me encostei em um lugar qualquer e observei um avião que passava ali por cima, fechei os olhos sentindo o sol em meu rosto e suspirei sentindo aquele ar e a brisa leve. Eu tinha que começar a me mexer em direção ao que eu queria, queria ser como que corria atrás e não deixava a passos lentos. Talvez eu ficara naqueles pensamentos por uns 10 minutos.

— Está entediada? — A voz me despertou e eu sabia bem a quem ela pertencia.
— Pensando, apenas. — se sentou ao meu lado um pouco suado, com o macacão um pouco aberto e ofegante. Me atentei a cada detalhe de como ele estava e se antes eu pensava coisas sérias e importantes, tudo se modificou em como séria com aquele macacão ou sem ele.
— Você pensa demais. — Jogou os cabelos para trás, umedeceu os lábios e sorriu me olhando. Eu não podia pensar essas coisas naquele momento. Talvez seja por ser a primeira vez em vê-lo assim.
— Você que está me fazendo pensar agora. — Virei o rosto para o lado oposto. estava extremamente lindo e eu querendo pensar no meu futuro, e a melhor distração chegou no momento crucial.
— No que pensou agora? — Pegou minha cabeça por cima e virou. — Fala, amor, no que estava pensando?
— No meu futuro, até você chegar e eu pensar em como você fica com esse macacão aberto e, não tá na hora de irmos almoçar? — Mudei de assunto repentinamente
— Pera, o que tem eu com esse macacão aberto? — Desabotoou mais um dos botões.
— Nada, você pode voltar para o seu treino. — Desconversei.
— Só depois de me falar o que pensou com meu macacão. — Meu rosto ruborizou e eu me negaria a falar.
— Nada, , por favor. Olha, tão te chamando ali. — Apontei para qualquer lugar que fosse apenas para ele sair.
— Ah, vou voar só mais tarde, agora o sol está muito forte. — Contou. — Temos tempo de você me falar.
— Falar o quê? Quer ouvir o que eu escrevi do meu TCC? Escolhi umas palavras e, será que está bom? — Virei à página do caderninho em minhas mãos
, amor, quer ir ver uma coisa comigo no hangar vizinho depois do almoço? — Falou de repente, esquecendo fácil demais o assunto. Se tinha uma coisa que não deixaria para trás, era um assunto pendente, se não nem estaríamos namorando hoje.
— O que tem lá? — A curiosidade era minha pior inimiga.
— Segredo. — Arg, odiava essa palavra.
— Não quero então, eu odeio segredos e você me deixou curiosa, não quero saber. Isso é um jogo — Voltei a encostar onde estava.
— Ah, mas eu sei que você vai gostar. Paro de insistir se souber o que estava pensando. — Espertinho.
— Só porque eu não quero falar, eu vou com você. — Deixei claro.


E após o almoço, enquanto todos foram descansar, eu e fomos em direção ao local que ele mencionou. O hangar vizinho não tinha ninguém além de nós dois, mas havia alguns aviões guardados, me guiou em direção a um específico, que estava mais a fundo do hangar.

— Esse avião aqui é um dos meus favoritos, lindo, não é? — Era um avião realmente bonito, prata com detalhes em azul, um bico mais fino que os que eu já havia visto.
— Ele se chama Phenom 300. Esse é um dos meus maiores sonhos. — passou a mão pela aeronave e vi seu olhar apaixonado. Eu tinha orgulho do amor que sentia. — Vamos, tem um outro aqui que a gente pode entrar.
— Tem certeza? Se pegarem a gente não tem problema? — Fiquei com o pé atrás quando saiu me direcionando ao lugar.
— Não, sempre venho aqui. — Garantiu.

Entramos em um avião pouco menor do que o anterior, mas não menos bonito, era confortável por dentro e me sentia fazendo algo errado, era como se fossemos ser pegos e isso deixou tudo mais emocionante.
— É lindo, , imagino você pilotando isso aqui. — Comentei.
— Mas você vai me vê pilotando um desses. — Me puxou para um abraço, mas fora forte demais e nossos corpos se chocaram e meus olhos foram de encontro aos dele, estava provocando.
— Nem pense nisso. — Me afastei. — Está quente aqui, vamos sair. — Mas ele não me deixou sair e logo já havia me puxado de novo para si.
— Sabe, sempre imaginei como seria com você aqui. — Riu ladino.
— Tem pensamentos eróticos com nos dois em um avião? — Perguntei e gargalhou.
— Bem, agora que falou. — Riu. — Não, boba, quem está tendo é você, estou falando de vim aqui e eu te mostrar o que faço e com você fazendo parte disso tudo.
— Eu fico feliz que me inclua. Queria fazer o mesmo com você, mas mal sei se estou preparada para o que estou estudando. — Confessei e ele me abraçou.
— Eu faço parte de cada detalhe de suas coisas, não acha que porque não pode me envolver em algum trabalho, você não está fazendo nada.
— É que eu queria ser tão determinada quanto você, eu estou com medo, . Esse TCC é a prova de que eu aprendi, e mal ele está saindo.
— Você tem que confiar mais nas próprias habilidades, você se impede com esses pensamentos negativos, você é a sua própria barreira quando não arrisca. Ninguém pode fazer isso por ti, apenas você tem o controle por você. Eu posso te incentivar e me manter ao seu lado, mas quem tem que continuar e se impulsionar pra frente é . — tinha razão, sempre tinha, as vezes eu sabia a respostas para meus problemas, mas eu tinha que escutar para que a ficha caísse e a voz salvadora era sempre de . O puxei para olhar para mim e o beijei.
— Obrigada por sempre ter as palavras certas. — Selei nossos lábios.
— Espero que pense de verdade no que eu disse. — Devolveu o selar.

Saímos de lá e o tempo parecia ter passado demais, mas não fazia uma hora que estávamos ali, logo mais alguns minutos teria sua prática de voo e eu estava com um frio gostoso na barriga em imaginar como seria está com ele lá em cima e sorri.

— Que foi? — me olhou enquanto me ajudava a descer da escada.
— Nada demais. — olhei para onde pisava.
— Tsc. Pensando indecência. — Revirei os olhos
— Como sabe? — Brinquei.
— Você só pensa nisso desde que me viu ali com macacão e todo suadinho, acha que não vi a baba?
— Que baba? Eu nem babei, só porque pensei besteira não vai dizendo que... — A gargalhada de me cortou.
— Você nem sabe esconder direito que pensou. — Esfregou meus cabelos.
— Af! Eu te odeio. — Ele me agarrou.
— Odeia nada, você me ama e me acha o melhor namorado do mundo. — Dei leves batidas para que ele me “soltasse”.
— Quem anda te iludindo? Tem uma segunda namorada louca por aí? — Rebati.
— Tenho e ela nem é sem vergonha como você. — Me chamou de sem vergonha, e quando pensei em falar mais alguma coisa, os lábios de me calaram. Alguns toques que ele sabia me provocar e me deixar vulnerável foram sabiamente usados a favor dele.

Sem saber ao certo por onde andar, fora me empurrando com seu próprio corpo, mas nunca chegávamos ao limite de fato do lugar.

— Aqui não é adequado, . — Tive que me concentrar para o impedir e buscando por ar.
— Não vai aparecer ninguém, relaxa. — distribuiu selares em minha face e pescoço enquanto tentava com dificuldade usar as palavras. A tensão entre nós aumentou e sentia as mãos de apertarem minha cintura.
— Não podemos fazer isso aqui. — Tentei mais uma vez, mas ele não pensava em me soltar.
— Há uma salinha no fundo do hangar. Podemos ir para lá. — Sugeriu ainda distribuindo pequenos ósculos em meu pescoço.

Eu não dei sinais de objeção e então fomos para a salinha feita pelos meninos que treinavam ali, servia apenas para guardar equipamentos, e era mantida limpa pelo pessoal do clube. Era pequena, organizada e iluminada somente com a claridade de uma janela pequena. trancou a porta atrás de si e o esperei encostada em uma bancada de madeira, já sem o macacão que dificultaria nosso contato mais íntimo, voltou a selar nossos lábios com um beijo lento, mas intenso. Suas mãos foram tocando as laterais de meu corpo, subindo e descendo, incomodado com a fina blusa que eu ainda usava.
a retirou, a jogou em um canto qualquer, e com volúpia seus lábios voltaram a possuir os meus, levei minhas mãos ao feixe do sutiã e o retirei, deixando meus seios grudados ao seu peitoral, o que não impediu que ele os tocasse com pressa, os apertava e arfei pelo toque gelado de suas mãos. Eu estava entre as pernas de e o atrito entre nossas intimidades renderam alguns de meus gemidos, que foram abafados por ele para não corrermos o risco de alguém passar ali e nos escutar, desceu uma de suas mãos até minha intimidade a estimulando por cima da roupa intima e sua boca que antes se ocupavam com meus lábios, fizeram o caminho para meu pescoço, colo e por fim meu mamilo esquerdo, sugando e mordiscando a parte enrijecida, ora o impedindo de deixar marcas em lugares que ficariam visíveis, aumentava e diminuía o ritmo em meu clitóris me provocando e me fazendo ansiar por mais, meu corpo espasmava em resposta a corrente de prazer que me tomava.
se agachou , deu um beijo leve por cima da minha calcinha úmida, retirou a última peça e passou a língua em meus grandes lábios, levantou uma de minhas pernas a colocando em cima de seu ombro, levei minhas mãos aos seus cabelos e fechando os olhos com força, chupava a parte mais sensível e penetrava com o indicador, puxei com força seus cabelos e ele apenas grunhiu um pouco pela dor, retirando o dedo de minha entrada, penetrou-me com a língua quando gemi em protesto e continuei abafando qualquer gemido como pude. Se levantou e novamente me beijou, me dando um pouco do meu próprio gosto, enquanto tinha dois de seus dedos em meu intimo com movimentos de vem e vai.

... — Não sei como consegui chamá-lo pelo nome, pois a sanidade já não fazia parte de mim, quando esperou pelo que eu diria, apenas tirei sua roupa desesperadamente, me posicionando a altura de seu membro e retirando a boxer, seu pênis estava ereto, então o lubrifiquei e passei a dar-lhe atenção, o segurei e coloquei a ponta de sua glande em minha boca e vagarosamente passei a lamber, esperando as reações que veria em , sem muita delonga, envolvi seu membro em minha boca e gemeu mais alto, os movimentos em minha boca começavam a aumentar e ele a se descontrolar, apenas reclamei um pouco e ele foi cuidadoso novamente, segurando meus cabelos e ditando o ritmo que queria, estocando em minha boca, não queria que se desfizesse ali ainda, então desacelerei e interrompi o ato. me puxou para cima novamente e me virou de costas, o vi inalar meu cheiro e suas mãos apalparam meus seios os massageando. sabia o que eu queria e precisava naquele momento.
— Estamos sem camisinha. — sussurrou em meus ouvidos. — Não transamos sem camisinha antes.
— Agora é tarde demais — Engoli tentando acalmar minha respiração. — Pra tudo se há uma primeira vez.
— Sinto muito, amor. — disse com um pesar — Prometo sair antes de gozar.
— Seja mais rápido. — Pedi e ele se posicionou em mim ainda de costas e me penetrou por trás.

O incomodo era grande, mas eu sabia que era questão de meu corpo se acostumar com em mim, seus movimentos eram precisos, mas ainda agia com cautela. Quando dei sinais de que o prazer era atingido às estocadas foram mais fortes e rápidas, o suor já era presente em nossos corpos e entrava com força, não a ponto de me machucar, abruptamente me virou de frente, penetrando em mim novamente, nossos corpos se chocavam e nem eu e nem contínhamos mais os gemidos, não nos importávamos mais se alguém escutasse, cheguei ao ápice primeiro e esperei que chegasse ao dele, se retirou de mim quando atingiu seu limite e então gozou no chão da salinha.
Aos poucos nossas respirações se normalizavam e permanecemos entre alguns beijos e cariciais mais sutis, eu amava e amava muito o bem que ele me fazia. Nos vestimos ali e deu um jeito de limpar a bagunça que havíamos feito. Indo em seguida para um vestiário onde nos ajeitarmos para não dar na cara o que estávamos fazendo.
Quando voltamos ao local onde estávamos antes de nos aventurar pelo hangar vizinho, Danny nos olhou com certa desconfiança, mas se limitou a avisar que era hora de se preparar para o voo.

— Vamos, amor, chegou a hora. — Ele sorriu e entrelaçou nossas mãos. Fomos para onde as aeronaves preparadas estavam e fora passada as instruções, tudo o que deveria fazer lá em cima, mesmo que ele já soubesse, fora explicado nos mínimos detalhes novamente.
, tem certeza que quer que eu vá? — Perguntei antes de entrarmos.
— Não está com medo né? — Brincou.
— Claro que estou. — Sorrimos
— Não fica com medo, pelo menos se cair, vamos os dois juntos. — O atingi com um tapa leve nos ombros.
— Nem brinca. — Minha voz deve ter atingido uma oitava acima do normal.
— Vamos, amor, quando chegarmos lá em cima, você vai ver como o medo some. — Garantiu e eu embarquei.

A aeronave começou a taxiar momentos seguintes, e me lembrei da primeira vez que subi em um avião. O frio na barriga, o céu pintado com as cores do pôr do sol, o nervosismo gostoso e a nostalgia, tudo misturado em um só momento, mas além de tudo isso, ao lado de . A aeronave ganhava velocidade e logo estaria pronta para decolar. Então ela subiu, planou e subiu novamente. Se eu pudesse descrever a cena, eu não teria palavras o suficiente. Era maravilhoso e guardaria aquilo em minha memória até onde fosse capaz de lembrar. Creio que estava indo bem e não tive mais medo de estar ali. Eu confiava nele, e ele me levara ao céu. me encarou e sorriu, era difícil não retribui e sorri de volta, os nossos momentos juntos se passaram em minha cabeça, desde o momento em que o conheci ainda estagiário onde eu trabalhei, em como enfrentei o termino com Namjoon com ele já em meus dias, em como decidi nos dar uma chance e finalmente em como estava feliz ao lado dele, não éramos perfeitos, e nem tudo era só felicidade, mas eu não mudaria nada.

”O que aconteceu conosco? Porque sofremos tanto? [...] Não importa como planejou. Não importa como imaginou. Mesmo sem saber, a vida dá um jeito de lhe encontrar com exatamente aquilo que você precisava… Ou exatamente quem você precisava.”





Fim



Nota da autora: Sem nota.



Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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