02. Natural

Última atualização: 22/04/2020

Capítulo 1

Mesmo cercado de gente, eu me sentia sozinho. Murmúrios não faltavam dentro do camarim e aquilo estava me deixando um tanto sem paciência. Ora ou outra eu sorria para alguém fingindo entender o que eles estavam falando, mas eu não estava. Meu pensamento estava tão longe que estava sendo impossível me concentrar naquele momento.

? — olhei na direção da voz — Está tudo bem?
— Está. Por quê? — questionei.
— Você está estranho.
— É só o nervosismo pra subir no palco — sorri, desviando os olhos. Lana deu algumas tapinhas nas minhas costas e lançou um sorriso compreensivo.
— Não é como se fosse a sua primeira vez fazendo isso. Vai se sair bem.
— Cada vez que eu vou para uma cidade ou país diferente, tudo muda. Então sim, é como se fosse a primeira vez sempre. Mas aqui... tsc. Sei lá.
— O que têm aqui?
Olhei vagamente para ela e sorri alargando os lábios que permaneceram fechados. Pisquei lentamente e desviei o olhar, pois algumas lembranças me atingiram, fazendo com que meus lábios se abrissem para um riso.
— Nada — mexi a cabeça.
Ela mexeu os ombros e curvou o lábio inferior.
— Certo. Logo você vai entrar no palco, espero que esteja se sentindo bem.
Saiu do camarim para resolver algumas coisas com o pessoal do lado de fora e eu permaneci ali enquanto não era chamado. A sala antes cheia, agora estava vazia, o que deu mais liberdade para meus pensamentos virem à tona.
Ajeitei o cabelo enquanto olhava no espelho e a porta se abriu, revelando minha produtora ali. Ela fechou a porta e encostou na mesma, enquanto me media pelas costas. Eu estava vendo tudo e não consegui prender um riso que insistiu em sair.
— Eu estou vendo — virei o corpo, apoiei as mãos e o quadril na bancada que tinha ali.
— Eu já disse que você fica sexy em roupa preta? — andou devagar até chegar onde eu estava.
— Eu sei o quanto você me acha sexy de qualquer jeito.
Puxei ela pela cintura e colei nossos corpos enquanto seus braços rodearam meu pescoço. Megan fez um carinho gostoso com as unhas na minha nuca e eu fechei os olhos apreciando o momento.
— Está preparado para o show? — perguntou.
— Como sempre — eu disse, convicto.
Ela não precisava saber que eu estava nervoso para subir no palco, mas não era o fato de estar na frente de milhares de pessoas que estava mexendo comigo. Era o fato de que, por algum acaso, eu pudesse ver a em algum canto. Eu não sei qual seria a minha reação, muito menos a dela. Fazia um bom tempo que não nos víamos e eu sentia falta dela todos os dias desde que tivemos uma briga das feias.
Conheci a numa boate. Ela estava com umas amigas que queriam se aproximar de mim e mandaram ela para fazer a cena. Nossa ideia bateu tanto que esquecemos o real motivo dela estar puxando assunto comigo e demos o fora daquele lugar. Fomos parar num lugar mais reservado, onde pudemos conversar sem gritar um com o outro, já que a música da boate era altíssima. Lembro que as horas pareceram minutos perto dela. Era tudo tão natural e eu não sabia como agradecer por aquilo. Porque pela primeira vez em anos de carreira, aquele tinha sido o momento onde eu havia esquecido que era famoso. Me senti eu mesmo. Um cara normal de vinte e seis anos conversando com uma garota incrível sem me sentir pressionado. Eu sentia sinceridade em cada palavra proferida por ela e meu interesse aumentou.
Nos tornamos amigos depois de um tempo e consequentemente, quando vimos, tínhamos nos tornado amigos coloridos. Ela costumava aparecer em quase todos os shows quando possível e ter ela por perto tornavam as coisas mais toleráveis e eu me acalmava em questão de segundos. Mas, depois de uma crise de ciúmes vindo da minha parte, a gente brigou feio e ela nunca mais apareceu em nenhum show. Também havia mudado de número, pois liguei inúmeras vezes e nem sinal. Então, estar na cidade onde ela morava, me deixou aflito e com uma pitada de esperança. Eu queria ver ela, queria mesmo, mas não sabia se aquilo seria uma boa ideia, pois ao mesmo tempo que poderia ser bom, poderia ser uma catástrofe. Pois éramos como a força da natureza, tudo acontecia naturalmente.
Saí dos meus devaneios quando ouvi a voz de Megan me chamando bem lá no fundo.
?
— Oi?
— Você está bem mesmo? — falou acariciando meu rosto.
— De repente, todo mundo decidiu me perguntar se estou bem hoje? — ri um pouco nervoso.
— Quem mais perguntou?
— A Lana — dei de ombros — Vocês estão vendo coisa onde não têm.
— Se eu não fui a única a perguntar, é porque você está sim estranho.
Fiz um barulho de "tsc" com a boca e balancei a cabeça.
— Vem aqui — puxou-me para frente e beijou o canto da minha boca — Isso vai ajudar você a ficar calmo.
Megan emaranhou os dedos nos meus cabelos e encostou os lábios nos meus. Sua língua pediu passagem para um beijo e eu concedi. Apertei sua cintura e ela arfou entre meus lábios.
A porta abriu de uma vez e ouvimos a voz do pessoal preencher o lugar. Nos separamos tão rápido que minha cabeça girou.
— Então... Megan, eu treinei um pouco a voz, mas se você quiser, podemos treinar antes de eu subir no palco — disfarcei.
— Ãn... Ótimo, — olhou para os lados e respirou fundo — Vamos fazer mais alguns testes, apenas.
Ninguém pareceu notar que estávamos nos beijando pouco tempo atrás. Acredito que ninguém sabia sobre nosso pequeno rolo, ou fingiam não saber e eu preferia que continuasse daquele jeito.
Pouco antes de eu terminar o aquecimento da minha voz, Lana veio até nós e avisou que dali cinco minutos iriam me chamar, então seguimos pelo corredor que levava ao palco. Peguei a setlist na mão e decorei a ordem das músicas mais uma vez. Eu podia ouvir os gritos ensurdecedores vindos do salão. Elas nunca paravam. Não era a primeira vez que eu quase ficava surdo, mas era a milésima. Anunciaram meu nome e eu entrei correndo com as mãos para cima.
— E aí, galera. Estão preparadas para tornarem essa noite a melhor da vida de vocês? — gritos e mais gritos — Vamos nessa!
As luzes abaixaram-se e acenderam novamente para a primeira música. Eu amava o que fazia. Estar no palco era como combustível em minhas veias e a galera gritando me dava um gás danado.
Mais da metade do show já tinha ido embora e eu interagi com o pessoal um pouco. Andei até o fundo do palco para beber uma água e engasguei quando olhei para o lado; no backstage haviam algumas fãs e dentre elas, estava quem eu mais queria ver. pareceu tão assustada quanto eu, apenas sorriu de lado e eu tampouco pisquei. Senti meu corpo gelar e meu coração bateu mais rápido dentro do meu peito. Ela continuava do mesmo jeito que eu lembrava. Era uma miragem em meio a toda aquela gente.
— O que foi? — ouvi de relance — ?
Quê?
— Você está pálido — Lana colocou a mão na minha testa e depois na minha bochecha.
— O que foi? — tirei os olhos de para encarar Lana.
— O show — ela falou entre os dentes, apontando para frente — Volta para o show.
Minha cabeça estava a mil e eu tinha perdido um pouco o rumo. O fato de vê-la ali tinha me deixado nervoso, mas não de um jeito ruim. Era um nervoso que mexia com meu estômago o fazendo se contorcer, minhas pernas tremiam e minhas mãos suavam. Mas eu tinha que seguir com o show, então, voltei o foco para a turnê.
— Qual é música favorita de vocês da Icarus Falls: The Tour? — como esperado, eu não entendi uma palavra, apenas ouvi gritos e eu ri com aquilo — Eu sou suspeito em falar, mas... tem uma música que mexe muito comigo porque me traz lembranças, e eu vou cantar ela agora — ajustei o microfone no tripé e olhei para a banda, dando sinal para que eles fizessem apenas um toquinho — It feels so natural, natural, when we come together like a force of nature — todos foram a loucura e eu olhei para trás, tentando localizar , mas ela não estava mais lá.
Aquela música me levava a lugares inimagináveis e me fazia reviver muitas coisas das quais eu gostaria de repetir. Tinha ficado marcada em nós e eu sabia que causava algo nela assim como causava em mim.
Chegando nos minutos finais, fiz os agradecimentos e deixei o palco. Passei pelo backstage e procurei , mas nada. Produtores, acessores, seguranças estavam tudo atrás de mim e eu caminhei rapidamente até chegar ao portão, onde consegui apenas vê-la sair por ali e apontar o dedo para um táxi que logo estacionou. Antes de abrir a porta do carro, virou em minha direção e seus cabelos soltos voaram conforme o vento bateu. E então ela entrou no carro, me deixando plantado ali.
? — ouvi a voz de Megan atrás de mim, e apenas suspirei — O que houve?
— Nada.
— Você foi incrível lá — ela sorriu, segurando meu braço — Acho que podemos comemorar, não acha?
— Como? — perguntei, aéreo.
— Tem uma casa noturna por aqui, ouvi falar muito bem dela — deu a ideia, levantando as sobrancelhas — Poderíamos comemorar o show de hoje e depois voltar para o hotel. Você tem uma semana de folga até o próximo show, poderíamos aproveitar, não acha?
— Pode ser — falei, ainda olhando para trás.
— O que você tem? Normal não está — ela parou antes de entrarmos no camarim — Aconteceu alguma coisa?
— Achei que tivesse visto alguém — expliquei. Eu tinha certeza que tinha visto alguém, mas não precisava comentar de quem se tratava.
— Ah — ela disse sem graça, mas logo sentou-se no sofá do camarim — O que você acha de passarmos uns dias no Caribe?
Ponderei. Não estava muito girando na órbita correta; estava confuso, ansioso. Meu coração parecia bater na minha garganta, minhas mãos suavam. Tentei respirar o máximo possível, tomei uma água, mas meu corpo parecia não responder da forma que eu tentava comandar.
— É, bacana.
— Então vou reservar nosso hotel, tá? — ela passou as mãos pelas minhas costas — Vamos poder ficar juntos sem se esconder.
Ela beijou meu pescoço e saiu porta a fora me deixando sozinho. Fechei os olhos e empurrei o sofá na qual eu estava apoiado. Eu era simplesmente inútil e conseguia estragar tudo, até a melhor época da minha vida eu consegui acabar.

{•••}

Consegui tomar um banho e me acalmar algumas horas depois, e antes de sair, fumei um baseado. Comi duas balas de hortelã e peguei meu celular saindo até o hall do hotel. Alguns fãs estavam na porta, e apenas acenei, tirei algumas fotos e dei autógrafos.
Entrei no carro em direção à tal casa noturna que Megan tinha falado. Ela estava no banco da frente ao lado de Theo, meu amigo, que também acompanhava a turnê. Ele era responsável pela equipe de montagem do palco, então sempre estava ocupado, mas vez ou outra eu dava um jeito dele também se divertir.
Fui observando o caminho, lugares que eu já havia passado quando eu tinha uma companhia, quando a gente se dava bem e nos falávamos. Eu conseguia ver cada parte dos nossos momentos: saindo de uma cafeteria com chocolate quente — ela não gostava de café —, e o meu inseparável café; corríamos pelo parque como se fizéssemos exercícios físicos, tomávamos sorvete sentados na beirada do píer, e entre outras tantas coisas que sempre fazíamos juntos. Eu sentia falta dessa época.
Não demorou muito para que chegássemos ao local. Reconheci no mesmo momento, uma boate que eu havia vindo há alguns anos, bem no início da fama. O nome havia mudado, agora era BYOB, e tinha aumentado o tamanho, iluminação, e outras diversas coisas. Desci do carro, olhando o local por baixo dos óculos de descanso. Theo tomou a frente e entrou no local, mostrando uma credencial. Eu apresentei meu documento e fui automaticamente liberado com um segurança, que nos guiou para o camarote.
— Acho que poderíamos aproveitar para dançar agora — Megan sussurrou em meu ouvido — Theo sabe sobre nós, mas os outros logo mais chegarão, não poderemos ficar tão juntos.
— Megs, não estou muito no clima — falei olhando em volta. O bar! Precisava beber algo — Vou buscar alguma bebida, pode ser? O que quer?
— Eles trarão! — ela disse, sentando-se no sofá VIP.
Dei as costas, observando o quanto tinha crescido o lugar. As pessoas pareciam diferentes, a cidade estava diferente. Sentei na ponta do sofá, um pouco afastado de Megan, pensando que deveria ter ficado no hotel.
Dusk Till Down começou a tocar bem alto e eu sorri satisfeito por ver o quanto a galera curtiu. As pessoas tinham uma imagem de mim como um badboy, talvez por conta dos meus clipes e roupas, mas eu estava muito longe disso. Me pintavam como um cara ignorante, sendo que eu não era, mas também não gostava quando tentavam se interferir na minha vida, o que sempre acontecia por ser figura pública, mas acho que como qualquer pessoa, eu merecia ter um pouco de privacidade.
Até que, voltando os olhos para o bar, pude então ver quem eu mais esperava — ou temia encontrar. estava com avental, do outro lado do bar, servindo algum cliente. Depois ela pegou uma bandeja e andou em direção aonde estávamos, no camarote. Cumprimentou algumas pessoas e voltou os olhos para onde eu estava, e parou ao me ver. Ela piscou diversas vezes, e apreensiva, continuou andando até onde estávamos. Colocou a bandeja em cima da mesa e virou-se para mim, sorrindo.
— Vocês desejam mais alguma coisa? — nos perguntou e eu senti minhas mãos geladas.
— Não, obrigada — Megs falou sorrindo para ela.
Antes que ela pudesse sair de onde estávamos, eu fiquei em pé e barrei a passagem. Arregalou os olhos, me encarando.
— Vai agir como se não nos conhecêssemos? — perguntei, e ela sorriu, então eu consegui relaxar.
— Não achei que lembrasse de mim — deu de ombros, e cruzou os braços — Como você está?
— Ah, bem. E você? — falei sentando novamente no sofá — Você está trabalhando aqui agora?
— Na verdade, meu tio é o novo dono…
— Por isso tudo mudou — deduzi e ela concordou.
— E daí que eu cheguei agora a pouco depois de…
— Ter ido ao show — conclui, ela sorriu e também concordou — Eu te vi, mas você fugiu de mim.
— Ele precisou de uma ajudinha — apontou para a bandeja, desviando do assunto que a coloquei — Geralmente só venho aqui para me divertir mesmo, como nos velhos tempos.
— Como nos velhos tempos — repeti, vendo-a morder o lábio nervosa.
Eu sabia deduzir cada expressão dela, quando estava apreensiva, quando estava ansiosa, feliz, triste, e nervosa como agora.
— Eu tenho que ir — falou apontando para trás — A gente vai se vendo até o final do noite. Provavelmente vou servir muita bebida — apontou para a porta, onde o resto da minha equipe entrava.
Acenou tímida e deu-nos as costas. Suspirei tentando controlar a minha ansiedade, mas era inútil. Por mais que eu quisesse ficar ali, o ambiente estava acabando comigo. Ela me deixava nervoso, e consequentemente eu tinha esses efeitos horríveis.
— Quem era? — Megan perguntou olhando para a tela do celular.
— Uma amiga de longa data — continuei olhando para ela, que agora sorridente, servia um whisky para um cara qualquer no bar.


Capítulo 2

Eu não aguentava mais ouvir a Megan falando no meu ouvido ou pegando no meu pé à noite inteira como se fosse a minha dona. Olhei feio para ela assim que ela se atreveu a me prender no mesmo sofá onde ela estava. Além de estar dando muita bandeira sobre nós, estava me fazendo sentir como um animal na jaula.
— Para — desvencilhei de seus braços — Você está me sufocando.
Megan me repreendeu com o olhar e sorriu sarcástica.
— É isso que você acha?
— É. É sim, Megan — fiquei sério — Pelo fato da galera não saber, você não está nem um pouco preocupada se eles descobrirem do nosso rolo. Eu disse rolo e não compromisso — dei ênfase na última palavra.
— Eu nunca disse que tínhamos um compromisso, meu bem — cruzou as pernas lentamente e olhou para o lado pra ver se alguém estava olhando — Eu sei o que temos — levou a mão até a minha coxa e apertou aquela região enquanto fazia uma cara de safadeza.
Ajeitei a postura e mordi o lado interno da bochecha. Engoli seco e respirei mais profundamente.
— Não parece. Porque está no meu pé desde que chegamos. Enfim, eu vou dar uma volta — me coloquei de pé.
— Posso ir também?
— Aí, é isso. Está vendo? — apontei para ela — É disso que eu estou falando. Não haja como se tivéssemos algo. Eu não quero te machucar.
— Mas,
— Eu estou sendo sincero. Fica aqui e divirta-se com a equipe se preferir. Eu vou dar uma volta porque preciso espairecer, ok? Vai se divertir também — toquei os ombros dela e sorri fraco.
Dei as costas para a mulher e andei a passos largos até chegar numa escada que direcionava ao andar debaixo. A minha vida era resumida em: show, hotel, treino, gravação, gente no meu pé o tempo inteiro, falta de privacidade e tudo que mais se pode adicionar, menos uma vida normal. Não que não fosse bom ter tudo o que eu tinha ou viver tudo o que eu vivia, é óbvio que era bom. Mas haviam momentos que pediam por um pouco de paz, sossego, tranquilidade e eu raramente tinha, porque sempre tinha alguém por perto enchendo meu saco. Sozinho? Nunca mais fui... quero dizer, sempre estive rodeado de gente e isso é bem diferente de estar acompanhado, certo? Mas eu compreendia perfeitamente que, quando uma pessoa se torna pública, ela está sujeita a todo e qualquer tipo de situação; desde as mais belas as mais bizarras, e de bizarras eu tinha inúmeras histórias para contar.
Tudo era diferente quando a estava por perto. Embora meus dias fossem corridos, ela trazia calmaria. Para todos os dias nublados, ela era o sol. Para todo peso, ela era a leveza. E pensar que eu abri mão de tudo isso só por conta de ciúme. Eu não admitia que tinha destruído um laço incrível por algo tão bobo. Exatamente por isso que quis deixar claríssimo como água o que eu tinha com a Megan, pois mesmo tendo tudo claro com a – não do modo que eu queria – a gente se permitiu ir além e deu no que deu.
Amizade colorida. Tensão. Sentimentos. Ciúme e então, tudo se escapuliu. Eu não sabia muito bem o que era quando apareceu dentro de mim, porque era tudo tão novo que me deixou assustado. Eu nunca tinha sentido aquilo por alguém, quero dizer, talvez tenha sentido quando tinha uns sete anos de idade, mas isso não vem ao caso. Com ela era diferente. Era algo agradável e confortável. Eu queria estar perto sempre, porque a companhia dela me fazia bem, me fazia querer algo além de só estar junto, só estar presente, entende? Eu sentia a necessidade de ser mais, para melhor, claro.
Houve uma mudança significativa quando ela apareceu na minha vida, também houve uma mudança drástica quando ela saiu. Eu era um e de repente era outro. Era como se existissem duas versões de mim: uma antes da aparecer e uma após a cair fora.
Eu entendia os motivos dela, nunca fui o tipo de cara que não entendia os pingos dos is. Demorei um bom tempo para entender que o erro estava em mim e que ela não tinha nada a ver com toda a situação. Talvez as coisas tenham sido explicadas de um modo e vividas de outro, porque na prática tudo é muito diferente. Foi deixado muito claro: não se apaixonar pelo outro. E quando eu vi, já tinha pulado de cabeça e ferrado com tudo.
Me aproximei do balcão e sentei em um dos bancos que estava vago. Batuquei os dedos sob a pedra escura e esperei que alguém viesse até mim. Torci por dentro para que ela viesse e, como previsto, aconteceu. O universo devolve o que eu emano, tenho certeza.
— Eu quero um duplo de uísque, por favor — sorri para ela.
— Você não está na área VIP?
— Sim, mas me cansei de lá. Muita gente.
Ela riu enquanto enchia o meu copo. Colocou-o na minha frente e guardou a bebida em algum canto por ali.
— Achei que estivesse acostumado com esse tanto de gente na sua cola.
— Aí que está o problema. Eu nunca estou sozinho e isso cansa — dei uma golada no uísque — Você quer? — ofereci, direcionando o copo até ela.
— Não, eu não posso beber aqui — olhou para os lados.
— A que eu conheci não deixaria de correr riscos — travei um riso ao lembrar das loucuras que fazíamos.
— Já passou pela sua cabeça que eu possa ter mudado? Afinal, você mudou — cruzou os braços.
Senti como se alguém tivesse me dado um soco no estômago, mas fiz o máximo para disfarçar o quanto aquilo tinha me afetado.
— Ah, qual é? Escolhe uma aí que eu pago. Ninguém merece trabalhar em boate e não poder beber um tico de algo — mudei de assunto.
— Você acha que eu não posso pagar uma bebida para mim mesma? — semicerrou os olhos e ficou séria.
Engoli seco e confesso ter ficado sem graça por um momento. Passei a mão pelos cabelos e travei a mandíbula.
— Eu não disse isso.
Sua risada atingiu meus ouvidos e automaticamente eu a acompanhei.
— Eu estou brincando com você. Relaxa. Você está precisando relaxar.
— Achei que estivesse falando sério. Me deixou sem graça — ela riu mais um pouco.
— Eu sei como te deixar sem jeito.
— Sabe.
Um silêncio se instalou entre nós e daquela vez nossos olhares permaneceram na mesma intensidade e frequência. E mesmo com a música rolando solta, era como se ninguém mais estivesse por perto. Eu não me cansava de admirar sua beleza, não só a exterior. Ela não fazia ideia o quanto que eu sentia a falta dela e o quanto eu esperei por aquele momento. Tanto que jurei que nunca mais nos veríamos ou chegaríamos a ter contato novamente. E lá estávamos nós; um olhando para o outro como se nada tivesse acontecido. Eu sentia uma porrada de coisas por dentro e não sabia definir exatamente o que era o quê. Eu só sentia.
— Ãn... Vou atender o pessoal ali do canto.
— Aí, você vai fazer algo depois daqui? — perguntei, antes que ela saísse.
— Não. Por quê?
— Estava pensando em ir para algum lugar mais tranquilo... fugir de gente, sabe? Topa ir comigo? — fiquei sem jeito.
Ela pareceu pensar no assunto e mexeu os ombros. Um vínculo se formou acima de seu nariz e seus lábios se abriram em um sorriso mínimo.
— Por que não?
— Sério? — perguntei, desacreditado.
— É. Por que não?
— Caramba. Tá. Tá bom — sorri, embasbacado.
Ela deu as costas e foi atender o pessoal que havia dito minutos atrás. Por fora eu estava contente, mas por dentro eu estava pulando de alegria. Porém, por um segundo me bateu uma insegurança e uma certa preocupação, porque eu não fazia a mínima ideia de como as coisas seriam se estivéssemos a sós.
Senti uma mão apertar a região próxima do meu ombro e olhei na direção de onde vinha aquilo. Theo sentou ao meu lado e ergueu o dedo para o barman que ia passando. Fez seu pedido e voltou-se para mim.
— Tem alguém procurando por você lá de cima — comentou e eu virei o corpo para olhar a área VIP — Não olha agora, . Você não sabe disfarçar, cara. Tsc — ficou um tanto irritado.
— Eu nem olhei — soltei — O que ela está falando?
— Perguntou de você e pediu para que eu te procurasse. Algumas pessoas já foram embora, mas a Megan disse que só vai quando você for.
Provavelmente eu tinha me metido numa enrascada quando decidi dar brecha para Megan ser parte de algo além dos negócios. Não é à toa que dizem que não dá certo misturar trabalho com vida pessoal. Há quem saiba separar as coisas e infelizmente há quem não saiba. E lidar com situações assim é mais do que complicado. Se falamos A, a pessoa entende B, pratica C e acaba resultando em D. Quando vemos, já foi o alfabeto todo numa burrada.
— Ela sabe que não temos nada.
— Não parece.
— Agora pouco ela disse que sabia.
— Ou ela disse isso pra você achar que sim. Mas no fundo é um baita de um não.
— Talvez eu precise desenhar.
— Então desenha, brother. Porque ela não entende no falado — deu uns tapinhas na minhas costas e eu soltei o ar de uma vez pelo nariz.
Jogamos conversa fora um tempinho e ele tomou sua última bebida. Levantou do banco e tocou na minha mão.
— Aí, vou sair fora. Você vem?
— Vou dar mais um tempo aqui.
— Me liga qualquer coisa, tá?
— Pode deixar, Theo — soltamos as mãos.
— Demorou.
— Aí, faz um favor? — parou do meu outro lado e esperou que eu falasse — Fala pros seguranças que podem ir também. Estão liberados. E por favor, leva a Megan junto — fiz cara de pidão e ele soltou um riso.
— Vou fazer meu máximo, mas não sei se ela vai querer ir.
— Eu sei que você consegue — mostrei os dentes num sorriso convincente.
— Te mando uma mensagem pra avisar se consegui ou não.
— Firmeza.
Não demorou para que eu recebesse uma mensagem do Theo, da qual dizia que a Megan relutou muito para ir embora e que queria saber onde eu estava. Revirei os olhos para mim mesmo, mas senti um alívio ao saber que ela não estava mais presente. Eu realmente não sabia o que se passava na cabeça dela. Minha intenção nunca foi ter algo firme, mas pelo visto ela tinha entendido errado, ou só queria ver as coisas da maneira dela. Afinal, tudo nos é permitido, mas nem tudo nos convém.
Meus olhos acompanharam para todos os lados dentro do balcão, o único lugar onde eu não a procurava era na multidão, o que seria impossível e também desesperador. Mas, sempre que ela estava por perto, meu coração insistia em bater mais rápido e eu até que gostava da sensação. O frio na barriga também era muito bem-vindo, porque eu senti falta daquilo. Coisa que eu não sentia com nenhuma outra pessoa.
Passados das duas e alguma coisa, eu já estava ficando entediado e talvez um pouco embriagado, pois tinha bebido por distração e para que o tempo passasse mais depressa. Sem contar que o cansaço começou a bater e meus olhos me pregaram uma peça tentando fechar. Chamei o barman e pedi uma água com gás e limão, para ficar tranquilo. Tomei longos goles do líquido transparente e meus olhos encheram-se de lágrimas, por conta do gás.
— Vamos? — levei um leve susto com a voz tão próxima.
— Já terminou? — mexi o dedo indicador, direcionando-o para dentro do balcão.
— Arrãn. Não vão mais precisar de mim.
Saímos pelos fundos da boate para não corrermos o risco de alguma fã alarmar meu aparecimento naquela matina. A rua estava soturna, apenas alguns carros passavam para lá e para cá. Não tínhamos trocado uma palavra sequer desde então e permanecemos assim uma boa parte do caminho. Ambos estávamos com os braços em torno do corpo para aquecer do frio, e ao notar que estava apenas com um cardigã, tirei meu casaco mais grosso e o coloquei sob seus ombros. Ela pareceu ficar estática por poucos segundos, mas sorriu em gratidão.
— Você não vai ficar com frio? — perguntou.
— Não. Estou tranquilo — formei uma linha dura entre os lábios — Mas então, como tem sido as coisas por aqui? Estão tranquilas?
— Bom... tirando o fato de eu ter sido demitida de três empresas da profissão que eu decidi ter pra minha vida; o resto está tranquilo — riu e eu a olhei pelo canto dos olhos.
— Como assim? — girei um pouco o corpo para o lado dela e abri a boca, indignado — Por que você foi demitida?
— Porque os caras são uns babacas. É isso.
— O que eles fizeram?
— Acham que mulher se compra com sexo e grana. Não me levavam a sério por ser mulher. Se achavam melhores do que eu e até apostavam entre eles para ver quem era melhor naquilo que eu fazia. Duvidavam da minha capacidade, entende? Homens tecnicamente com a masculinidade fragilizada.
— Talvez eles sejam o tipo que não suportam ver uma mulher forte e independente fazendo aquilo que eles se julgam melhores.
— Exatamente isso — apontou para mim — Machismo, a palavra. Ou sexismo, também serve.
— Babacas — soltei um riso frouxo — Eles não estão nem ligados do baita erro que cometeram e muito menos da mulher incrível que perderam.
Ela parou de andar e eu continuei. Olhei para o lado e não a vi ali, então olhei um pouco para trás e ela estava me encarando com um riso mínimo nos lábios.
— Por que você falou isso?
— Isso o quê?
— Que eu sou incrível — disse o óbvio.
— E eu disse alguma mentira?
Ela balançou a cabeça e tornou a andar. Passou por mim e eu a acompanhei.
sempre foi uma pessoa muito dedicada a tudo que se propusesse a fazer. Mesmo não tendo obrigação nenhuma, fazia questão que eu tivesse os melhores momentos quando podia. O que fazia um diferencial na minha vida. Era uma pena saber que tinham demitido ela por escrotice deles mesmos e nem se permitiram ver o quanto ela poderia acrescentar na empresa.
— Você acredita que eu fui pedir um aumento pro meu antigo chefe e ele disse que só o faria se eu desse um trato nele?
Meu queixo bateu no chão e voltou.
— Eu acredito. Porque sei o quanto um cara pode ser escroto quando ele quer. Por que você não me ligou? Eu sairia de onde estivesse para dar um trato nele — ela riu e me empurrou com o ombro, então, eu ri também — E o que você fez?
— Dei um soco no nariz dele e aí me tiraram de lá. Fui carregada pelos seguranças.
Gargalhei super alto e levei a mão até a boca para tampar meu próprio riso. Ela me encarou e começou a rir junto. Um contagiou o outro, pois chegou um momento que não tínhamos nada para rir, mas ríamos da risada um do outro.
— Lembra daquela vez que fomos comer num restaurante em Miami? — eu disse.
— Nossa — ela fez um drama em seu tom de voz e apertou meu antebraço. Meus olhos foram diretamente para aquela direção e meu corpo tremeu com o seu toque — Como eu ia esquecer? O cara te confundiu com alguém, tenho certeza — riu da lembrança.
Lembro que era um dos dias mais tediosos que eu tive. Eu não suportava mais ouvir que teríamos que sair de um show e partir para outra cidade, e depois outra, mais outra e assim por diante. Eu só queria dormir e mais nada. Aí, eu liguei para e contei como estava sendo meu dia e o quanto eu gostaria que ela estivesse comigo. Ela disse que estava numa cidade próxima e que iria até mim, e que assim que chegasse, nós iríamos sair para que eu pudesse espairecer um pouco e esquecer palco, canto, viagens etc. Lembro de ter ficado surpreso por ela realmente ter ido até onde eu estava, achei que era alguma brincadeira, mas agradeço aos deuses até hoje por ter sido verdade. Tudo ocorreu muito bem naquela noite, tirando o fato de que um cara surgiu de sabe-se-lá-onde e começou a bater boca comigo. Achei que ela tinha armado uma pra cima de mim e levei tudo numa boa, até ele decidir jogar a comida do meu prato na minha cabeça. Não respondi mais por mim, lembro vagamente de alguém me tirando de cima dele porque eu tinha passado da cota de socos naquele momento. Acredito que mais um pouco teria complicado muito pro lado dele e principalmente para o meu. Saiu até em jornais e eu fiquei marcado até hoje por conta disso. espanca desconhecido em restaurante”, “ deixou homem desacordado durante uma briga”. E ninguém procurou saber o motivo, só souberam me apedrejar. E mesmo com tudo, tive um dos melhores dias, porque a estava comigo e fez de tudo para que eu esquecesse o episódio atordoado.
— Nunca mais ele arruma encrenca com alguém — esbocei um riso.
— Você se meteu em uma das grandes aquele dia. Confesso que fiquei com medo de você matar o cara.
— Mais um pouco e eu o teria feito. Aí você teria que me visitar na cadeia e não em shows — rimos.
Avistamos um barzinho próximo de onde estávamos e decidimos entrar. Sentamos um de frente para o outro e esperamos que alguém viesse até nós. Um homem bem vestido se aproximou da mesa e perguntou se já tínhamos sido atendidos, negamos com a cabeça e eu pedi uma garrafa do melhor vinho que eles tinham na casa.
O vinho nos foi servido e o homem se afastou, nos deixando a sós.
— Mas e você, ... Como tem sido sua vida nessa correria?
— Ah, você sabe. Eu nunca paro, e mesmo quando paro têm gente na minha cola. Não sei se vai ser tolice minha falar isso mas, às vezes sinto falta do tempo onde tudo era normal, entende? Sem holofotes, sem fama, sem uma penca de compromissos tediosos.
Ela me ouvia atenta.
— Eu te entendo, mas não tanto, porque não passo pelas mesmas coisas. Mas tem que ter algo de proveitoso nesse meio, não é?
— É claro que tem. Estaria mentindo e também sendo ingrato se dissesse que não. Mas nada compra uma paz.
— Mas compra passagem pra Ilhas Maldivas onde você pode ter sua paz e uma bela vista — rimos e eu balancei a cabeça para cima e para baixo.
— Isso sim.
levou o copo até os lábios e delicadamente deliciou-se com uma dose do vinho tinto, enquanto mantinha contato visual comigo. Mordi o lábio inferior e imaginei várias coisas. Ela riu e colocou o copo de volta na mesa. Eu puxei um riso de lado e beberiquei de meu vinho também.
Os minutos passaram e já tínhamos passado da cota de limites, porque estávamos rindo tão alto que atraímos olhares até nós. Por volta das três e alguma coisa, meu celular começou a vibrar freneticamente dentro do bolso da minha calça e eu o puxei para ver quem era. Bufei ao ver o nome de Megan na tela e bloqueei a tela do celular, o colocando sob a mesa. A luz de tela se ascendeu e as mensagens foram aparecendo.
— Parece ser importante — indicou com o queixo.
Tirei o celular da mesa e o coloquei no meu bolso, lugar aquele de onde ele nem deveria ter saído.
— É só a minha produtora. Preocupada — sorri e desmanchei o sorriso em fração de segundos.
olhou em seu relógio de pulso e me encarou com um riso desconfiado.
— Alguém está encrencado.
— Eu? Jamais.
— Será?
— Por que eu estaria?

— Uma produtora preocupada às três e quarenta me parece suspeito — pendeu a cabeça e alargou os lábios — Ou ela realmente é muito preocupada com a sua carreira. Tadinho. Quero dizer: homem de sorte — fez um bico.
— Qual é? Não é bem assim. — Eu te conheço, . E não é de hoje.
Mexi o corpo no banco um tanto desconfortável e a encarei, desviei o olhar e tornei encara-la. Minha boca se abriu para proferir algo, mas eu desisti.

— Desembucha — mandou.
— O que a gente faz quando uma pessoa não entende que X não é Y?
Quê? — ela gargalhou e jogou a cabeça para trás — Suspende o vinho aqui — falou alto e apontou para a mesa — Fala a minha língua. Não precisa ter vergonha de mim.
— Digamos que, hipoteticamente…
— Hm, hipoteticamente.
— É, hipoteticamente!
— Tá, fala logo — abanou a mão.
— Hipoteticamente, John tem um rolo com Mary e já deixou claro para ela que eles não estão em um compromisso, e Mary diz entender, mas não larga do pé de John. O que John deveria fazer?
A feição de era de confusa. Pois seus olhos passaram de mim para um canto ao lado e depois para o teto. Batucou os dedos na mesa e pegou a taça na mão.
— Espera, deixa eu beber um pouco porque eu estou confusa — encheu a taça até a boca e bebeu gole atrás de gole, até que a taça estivesse vazia — Hipoteticamente falando — fez sinal com a cabeça e eu acompanhei enquanto seus olhos estavam cravados em mim — John deveria conversar com Mary mais uma vez e se ela não entendesse e continuasse invadindo um espaço que não lhe foi concedido, John deveria se afastar.
Olhei para o lado e notei que aquilo não seria tão fácil assim.
— Mas e se eles trabalhassem juntos? — forcei um riso e ela semicerrou os olhos.
— John deveria se perguntar: essa pessoa tem grande feito na equipe? Acrescenta em algo? Faz diferença tê-la? Se não, afastamento continua sendo a resposta. Se sim, aí você se fodeu grandão.
— Eu não disse que era eu — arregalei os olhos.
— Ops... É o John. O John se fodeu grandão.
abaixou a cabeça e começou a rir baixo. Me entreolhou e riu mais um pouco, perdendo a graça do riso logo depois.
— Do que você está rindo?
— De você, oras.
— Por quê? — fiquei intrigado.
— Nós sabemos que estamos falando de você, . Não temos nove anos pra brincar de faz de conta. Qual o problema de falar a real? Mas eu respeito a sua decisão de não querer falar.
— Não tenho o que falar.
Após me encarar com semblante neutro, proferiu:
— Ótimo. Algumas coisas nunca mudam — balançou a cabeça.
Pedi a conta um tempo depois e ela insistiu para dividirmos, mas eu não topei e ela cedeu depois de muito custo.
passou o braço pelo meu para que pudéssemos ir até o lado de fora do barzinho, porque já estava tropeçando nos próprios pés.
— Você vai para onde agora? — perguntei.
— Para a casa de uma amiga.
— Desse jeito? Você não está muito bem.
— Estou tomando conta da casa até ela voltar de viagem. Mas e você? Vai pra onde?
— Pro hotel. Vou ligar para um dos caras e nós levamos você.
— Não. Não precisa fazer isso. Obrigada.
— Eu insisto. Não vou deixar você pegar um táxi uma hora dessa, ainda mais sozinha.
— Não precisa se preocupar.
— É claro que eu me preocupo — fiquei mais sério do que já estava — Vamos pegar um táxi. Eu vou com você até lá e depois peço para ele me deixar no hotel.
— Tem certeza que quer dar essa volta?
— Tenho — enfiei as mãos nos bolsos da calça e balancei o corpo um pouco para frente — É o mínimo do mínimo que eu posso fazer depois de tudo — prensei os lábios um no outro.
Ela pareceu pensar e abriu um sorriso tímido.
— Sendo assim, por mim pode ser.
O caminho foi silencioso e aquilo estava acabando comigo de alguma forma da qual eu não sabia explicar. Fazia tempo que eu não andava em radiotáxi e até que estava sendo uma experiência tranquila para alguém que havia acostumado a ter motorista. O carro parou e ela desceu, pedi para que o motorista esperasse um minuto e ele concedeu.
— Eu não sei quando a gente vai se ver de novo, então eu quero deixar bem claro que essa noite vai ficar marcada na minha vida. Não sei nem expressar o quão bom foi te rever e ver que, apesar do tempo, poucas coisas mudaram. Obrigado por essa noite. . Eu ainda posso te chamar assim, né? — segurei uma de suas mãos e busquei por seus olhos.
— Você pode — sorriu, mas logo ficou séria — Foi muito bom te ver hoje, . Foi realmente bom. Melhor ainda é ver que a fama não te mudou de uma forma ruim e isso são para poucos. Obrigada por hoje. Fazia tempo que eu não me divertia tanto — inclinou o corpo para frente e beijou a minha bochecha.
Eu senti todos os tipos de sentimentos e sensações possíveis: medo, amor, tremor, alívio, suador, felicidade, angústia, gratidão. E também senti como se aquilo fosse uma despedida e não gostei nem um pouco. Eu queria mais daquilo. Queria mais da gente. Eu sei que merecíamos mais e provavelmente ela também. Tudo tinha mudado mas ao mesmo tempo tudo permanecia como antes. Estávamos diferentes, mas algo fazia com que continuássemos os mesmos. Ao mesmo tempo que parecíamos amigos, algo gritava como se fôssemos desconhecidos. Existia recuo, porém vontade. Existia desejo, eu sabia que sim porque estava estampado em ambos os olhos, mas também existia receio. Era inegável, inesquecível e nada se comparava quando estávamos juntos.
— Eu não gosto disso.
— Disso o quê? — questionou.
— Dessa sensação de despedida. Não me agrada.
— Então não vá embora — travei — Você não quer entrar?
— Não sei se é uma boa ideia.
— Você está com fome?
— Morrendo — confessei.
— Você está com fome. Eu estou com fome. Vou fazer um macarrão a carbonária para nós.
Olhei em meu relógio e franzi o cenho.
— São quase cinco.
— E desde quando tem hora pra comer? O que eu conheci não negaria algo assim — sorriu com os lábios fechados e ergueu as sobrancelhas.
Vencido pela fome e por aquela mulher, decidi ficar. Paguei o taxista e ele seguiu seu rumo.
Ajudei a preparar a comida e sentamos à mesa. Ela ofereceu vinho e eu neguei, pois não estava aguentando mais nenhuma gota de álcool naquele momento.
— Passo — levantei a mão — Mas aceito água.
— Negando bebida? Tem algo errado aí.
Foi até a cozinha e retornou com uma garrafa de água. Despejou o líquido no meu copo e sentou-se novamente.
— Depois que eu como, não consigo mais beber.
— Faz sentido.
— A propósito, o macarrão ficou uma delícia.
— Obrigada.
Olhei de um lado para o outro pensando no que ia falar e se aquele era o momento certo para dizer algo sobre nosso passado. Ou melhor, se seria conveniente, já que tudo aparentava estar extremamente bem, e eu não queria ferrar com tudo mais uma vez. Pensei mais um pouco e cheguei à conclusão de que se eu não falasse, iria me arrepender, e eu precisava conversar sobre aquilo com ela.
— Entao, ... Já que estamos aqui, eu... — ajeitei o corpo na cadeira, claramente nervoso e pigarreei — Eu quero te dizer que eu fui um babaca. Sim, babaca. Porque agi de um modo inoportuno com você. Aquele provavelmente não era eu, ou era, não sei. Mas, eu levei um bom tempo para perceber que o errado da história era eu. Eu tive muito tempo para pensar sobre isso, se vale a pena acrescentar — sorri fraco — E eu me arrependo. Me arrependo porque perdi a única pessoa que me fazia bem no meio de todo o caos. No meio de toda a bagunça. Eu me peguei falando sozinho várias vezes sobre isso, e fiquei ansioso pelo dia que eu poderia chegar a te ver e ter a oportunidade de explicar tudo. Mas também tive medo. Medo disso nunca acontecer. Eu estava errado, mais uma vez, porque cá estamos. E não teve um só dia do qual eu não tenha pensado no quanto pisei na bola com você e no tanto de tempo eu perdi. Então me desculpa por ter sido mais um dos babacas que passaram pela sua vida. Desculpa não... Perdão, por isso. Ufa, foi. Achei que não ia conseguir falar — soltei um riso extremamente nervoso e senti minha boca seca, o que me fez tomar um gole de água.
Seus olhos estavam vidrados em mim e sua boca estava entreaberta. Ela engoliu seco e piscou vagarosamente, como se estivesse processando cada palavra. Pigarreou e endireitou a postura.
— Forcei demais? — perguntei, sentindo minhas mãos começarem a suar — Você não precisa dizer nada, sério. Eu precisava muito te dizer algo porque me pareceu o certo a ser feito. Você merecia uma explicação. Eu não tinha o direito de agir como agi com você. De todas as pessoas que eu já conheci, você é a que menos merece qualquer tipo de maldade. Mas eu vou entender se você quiser um tempo para pensar se eu mereço o teu perdão ou não. E se eu não merecer, vai doer; vai doer para um caralho, porque já foi difícil demais não te ter por perto, mas não te ter por perto nunca mais, vai ser um grande baque, porém, eu posso aprender a viver com isso.
— Cala a boca — bateu na mesa e eu dei um pulo na cadeira — Só cala essa boca, — respirou fundo e eu notei quando seu peito subiu e desceu freneticamente — Você acha que foi fácil para mim ter você longe? Não foi, que fique claro. Eu passei a noite com você e você ainda acha que eu estou brava com algo? Pra começo de conversa, eu nunca guardei rancor de você. Você não faz ideia do quanto acrescentou na minha vida quando apareceu, não é? Também não faz ideia do quanto levou dela quando decidiu pôr um fim no que tínhamos, mesmo que pouco, era singelo. Então, por favor, para. Porque você vai acabar comigo se continuar se fazendo de vítima de algo que nunca teve um culpado. Talvez tenhamos sido tolos demais, mas agora as coisas mudaram e nós mudamos juntos. Esse lance de amizade colorida não ia dar certo, a gente sabia desde o começo. A gente sabia. E mesmo com tudo, eu desejei que você voltasse, e aparentemente eu fui atendida.
A mulher saiu de sua cadeira e andou até mim. Empurrou a mesa um pouco para a frente e deixou um espaço vago próximo de onde estávamos. Ergueu um pouco o vestido, numa altura considerável que me fez pirar. Passou uma das pernas para o outro lado onde eu estava sentado e sentou-se em meu colo, forçando a sua intimidade na minha. Soltei um gemido baixo e mordi meu lábio com força, enquanto minhas mãos seguraram e apertaram a cintura de . Ela jogou a cabeça para trás e puxou de leve meu cabelo. Forçou o corpo um pouco mais para frente e encostou a testa na minha. Meus olhos transbordavam desejo e os delas beiravam ao delírio. Sua respiração bateu de encontro ao meu rosto e eu fechei os olhos. Aquele cheiro de vinho me fez querer beija-la e não soltar mais. Levei uma das mãos até sua nuca e emaranhei meus dedos por entre os fios do cabelo dela, dando um puxão suave. Os dedos dela fizeram um carinho na minha nunca e eu senti cada pêlo do meu corpo se enrijecer. Movi o rosto para frente e ela veio de encontro a mim. Quando nossos lábios se tocaram, eu esqueci o mundo. Esqueci problema. Esqueci fama. Esqueci tudo que havíamos passado, porque ali era algo novo. Nada se comparava quando nos tocávamos. Quando nos uníamos éramos como uma força da natureza e eu gostava daquele fenômeno natural.
Mordi o lábio inferior dela e o puxei devagar. Nossas línguas se tocaram segundos depois e começamos um beijo delicado que deu lugar a algo feroz. Nossos corpos conversavam entre si e nossos toques pareciam ter o encaixe perfeito. Passei os beijos para o pescoço de que não hesitou em me dar passagem. Desci para o seu colo do seio e os segurei por cima da blusa, apertando-os. Ela arfou e puxou meu cabelo com mais força. Mas algo me fez brecar e eu afastei minha boca, recebendo um olhar de desaprovação.
— Por que você parou?
— Eu não posso fazer isso com você — olhei no mais fundo dos seus olhos.
— Como assim, ? A gente costumava ser assim.
— É, mas as coisas não são como antes, . Eu não posso. Além do mais, você nem está tão sóbria. Eu não reagiria bem se você acordasse amanhã e nem sequer se lembrasse de hoje. Eu quero muito fazer isso com você, mas agora, nesse exato momento eu não posso. Eu estou morto de tesão, mas posso segurar a barra e esperar até que você esteja sóbria. Se formos fazer isso, que seja diferente e para melhor.
O riso em seus lábios me fez ficar sem graça, pois estava nítido o quanto ela queria aquilo. Eu também queria, mas me sentiria péssimo se ela não lembrasse de nada no dia seguinte. Ou agisse como se algo tivesse sido sem o consentimento dela. Eu ia me sentir extremamente péssimo.
O que antes era riso de deboche, transferiu-se para um olhar compreensivo e surpreso. beijou o canto da minha boca e passou para os meus lábios, depositando três selinhos ali. Eu a apertei com toda a força que me era permitida e depois ela se levantou ajeitando o vestido e sentou-se na mesma cadeira que estava minutos atrás. Me encarou e riu. Eu estava entorpecido por ela.
— Eu gosto dessa sua nova versão.
— Eu senti a sua falta. Todos os dias. Até aqui — inflei as narinas e balancei a cabeça. Senti meus olhos arderem, mas joguei para bem longe qualquer que fosse aquela coisa — Eu realmente senti.
— Eu também senti a sua, ! — encostou no encosto e cruzou os braços, mandando um sorriso acolhedor.
— Agora que as coisas estão bem, eu quero fazer direito.
Um vínculo se formou entre as suas sobrancelhas e ela pendeu a cabeça para o lado.
— Quem disse que as coisas estão bem? Você vai precisar de muito mais do que um discurso que abalou minhas estruturas e um beijo arrebatador, anjo.
— Isso é um desafio? — puxei um riso de lado.
— Pode apostar!
— Aceito.
Ela perguntou se eu não queria passar o resto do dia ali e eu até que queria, mas precisava voltar para o hotel. Então, liguei para um dos meus motoristas e ele apareceu para me buscar. Nos despedimos e eu esperei que ela entrasse.
Em torno de quase seis horas, eu tomei um banho de gato e me joguei na cama. Os pensamentos ficaram atingindo a minha mente por longos minutos. Até passei os dedos pelos meus lábios para crer que era real e estava acontecendo. Sorri abertamente porque a felicidade havia tomado conta de mim. Nesse mesmo clima, acabei dormindo rapidamente.

Capítulo 3

Eu não fazia ideia de que horas eram, mas acordei com o sol estralando na minha cara porque alguém havia decido invadir a minha privacidade e abrir as cortinas. Xinguei alto e virei o corpo na cama, colocando um travesseiro em cima do rosto.
— Você pode me explicar isso? — ouvi a voz conhecida e soltei o ar bruscamente pelo nariz.
— Você deve estar brincando comigo, não é? Fala que é brincadeira — murmurei meio abafado por conta do travesseiro.
— Uma foto sua com uma garota, .
— E? — permaneci imóvel.
— E? É sério isso? — falou num tom como se estivesse ofendida.
— A gente não tem nada, Megan — eu disse, calmo.
— Não estou falando como a garota que você fode! — ela quase gritou, jogando as folhas impressas em cima da cama — Estou falando como sua produtora! A gente pasta para limpar a merda da sua imagem, você simplesmente sai com uma garota na madrugada, não atende as ligações e nem responde mensagens. Você é doido? E se você sofre algum tipo de sequestro, acidente ou atentado? Caralho, !
Silêncio. Tirei o travesseiro da cara e ela estava parada na minha frente com os braços cruzados. Revirei os olhos e sentei na cama.
— Por isso não me respondeu ontem? — questionou, e eu peguei as folhas, vendo os cliques. era linda, meu Deus! — Estava com ela, não estava? — voltei a atenção para Megan.
— E isso faz diferença?
— Faz, — colocou as mãos na cintura e suspirou — Quando você é uma figura pública, tem a vida exposta para o mundo, um passo em falso é uma puta diferença!
Eu conhecia aquele olhar. Era o mesmo que eu tinha quando olhava para a .
— Megs, me diz que você não se apegou — balancei a cabeça — Caramba!
— Eu? Claro que não.
— Ok, então vamos colocar os pingos nos is! — joguei de lado o travesseiro — Nossas vidas pessoais: o que temos é casual. Você não me deve satisfação, consequentemente eu também não te devo. Minha vida profissional: eu te devo satisfações.
— Isso era o que deveria ser feito — resmungou.
— Vou ser bem claro: não somos um casal, ok? — ela deu de ombros — A minha intenção nunca foi fazer você achar que somos. Eu nunca quis te magoar e sinto muito se fiz isso.
, sobre isso... — ponderei. Não queria tratar ela como um alívio da minha tensão.
— Olha, Megs — bati a mão sob a cama e pedi que ela sentasse. Segurei sua mão e procurei seus olhos — Você é uma profissional incrível e esse é o principal motivo de você fazer parte da minha equipe. Não sei ao certo o momento que decidimos trazer isso para além do profissional, mas você é sensacional na cama, eu adoro você. Porém acho que como profissionais nós somos ainda melhores. Você cuida da minha carreira, eu canto, consequentemente com nosso esforço, trazemos dinheiro. Acho que somos uma ótima equipe, não acha? — ela concordou — Eu não quero estragar isso, Megs. Quero continuar tendo você como produtora, e acho que você merece alguém melhor do que eu, que goste de você além do sexo.
, eu entendo — ela riu de canto, e voltou os olhos para mim — O caso, é que eu me preocupo. Você de madrugada, sem segurança... Eu sou um tanto responsável por você! E você não colabora! Fora que agora com uma garota envolvida? E a sua carreira?
— Desculpa, Megs — pedi, voltando os olhos para as fotos — Quando eu estou com ela, parece que as órbitas dos planetas se realinham. É inexplicável!
— Ok, senhor apaixonado — ela revirou os olhos e sorriu — Só peço que tome cuidado e que não atrapalhe meu trabalho, nem da Lana e do Otto, seu empresário, que inclusive pediu para que eu viesse, para não te degolar.
— Obrigado, Megs — falei, e ela ia saindo do quarto, mas tratei de chamá-la logo — Sobre o Caribe... Acho que não quero ir. Eu... Vou querer ficar essa semana aqui, pode ser?
— Aqui em San Francisco? — ela parou na porta e eu concordei — Essa garota deve ter mel de Marte.
Em seguida ela fechou a porta e eu caí na cama novamente. Comecei relembrar da noite passada, e um arrepio percorreu minha coluna. era maravilhosa, e eu não podia negar que ainda tinha aquela leve atração por ela.
Fiz um leve esforço para levantar e caminhei até o banheiro. Bati a porta atrás de mim, ergui a tampa do vaso e o acento, estava apertadíssimo. Dei descarga e passei para a pia, lavei as mãos e procurei por minha escova de dente e pasta, não demorando em acha-las. Enxaguei a boca e joguei uma água no rosto, secando em seguida. Voltei para o quarto e me joguei na cama, liguei a TV num canal qualquer, peguei meu celular e vi as mensagens que tinha, mas nenhuma era dela. Procurei seu nome na lista de chamadas, mas lembrei que ela havia trocado de número, então decidi buscar pelo instagram, e ainda estava lá, eu a seguia.
Suas fotos eram simplesmente perfeitas. Ela quase nunca aparecia pelo feed, mas fazia muitas fotos viajando pela costa da Califórnia. Tinha fotos de Los Angeles, do letreiro de Hollywood, do pier de Santa Monica... Ela era uma baita de uma fotógrafa.
Até que no calor do momento, mandei um direct. Talvez eu não devesse, mas com certeza ela já tinha recebido a notificação e acho que apagar estava fora de cogitação. Antes mesmo que minha ansiedade pudesse dar o ar da graça, peguei minha carteira que tinha um saquinho com um pouco de maconha. Peguei a celulose em um dos compartimentos e bolei um cigarro fino, começando a fumar ali mesmo, na cama. Até que ouvi o celular dar um bipe.
"Ora ora, a mini férias será aqui em San Francisco?"
Respondi que sim. E mandei uma foto minha com o baseado na boca.
"Pelo menos não é cigarro"
Ela implicava com meu cigarro. Sempre preferiu que eu fumasse um caminhão de maconha do que fumar apenas um cigarro. Mas ela nunca falou explicitamente, apenas comentava vez ou outra indiretamente; ela sabia que eu odiava que criticassem meus vícios, mas ela podia; se ela quisesse, podia falar de absolutamente tudo, até porque comigo ela tinha passe livre.
"Eu lembro que você fumou comigo uma vez" — enviei, e ela começou digitar.
"Realmente. Até que não foi tão ruim" disse e senti meu corpo relaxar. Aquela altura, se não fosse o baseado, eu estaria suando — "Aonde você está?"
Olhei em volta, procurando algo que indicasse onde eu estava. Olhei a toalha do banheiro, e comecei digitar.
"Hutington Hotel. Vai vir?"
Ela começou digitar alguma coisa e eu comecei morder a parte interna da minha boca.
"Sí."
Levantei da cama como um furacão e comecei ajeitar as coisas que estavam fora do lugar. Organizei minhas roupas, joguei os sapatos para dentro do closet, procurei uma bermuda de moletom e coloquei uma camiseta branca. Avisei a recepção que estava aguardando uma visita e que eles poderiam deixar ela subir.
E em menos de dez minutos, recebi o comunicado que ela estava subindo. Comecei fumar um pouco mais, agora acalmando novamente a movimentação que eu havia feito com o corpo. Abri a porta dando de cara com a perfeição. Usava um macacão jeans, blusa branca e botas de couro, com uma blusa rosa amarrada na cintura. Eu amava o jeito que ela se vestia.
! — ela invadiu o quarto, tirando o baseado da minha mão, o tragando. Fechei a porta e caminhei para dentro do quarto atrás dela.
— O que te fez desistir de Caribe?
— Quem te falou sobre o Caribe? — perguntei curioso, e ela sorriu de lado, tragando mais uma vez.
— Você não é tão imprevisível assim — piscou, e agora foi minha vez de tragar o baseado. Ela se jogou na cama do hotel e abraçou meu travesseiro.
— Não sei — sentei na ponta da cama, de costas para ela — Eu gosto daqui, me traz boas lembranças, me da uma sensação boa de novo.
Ela ficou em silêncio, e percebi se mexer. Suas mãos encontraram minhas costas e me deliciei com seu toque. sabia fazer uma massagem incrível, devido a um curso que tinha feito depois da faculdade. Relaxei, sentindo suas mãos fazerem mágica sobre meus ombros.
— Você está muito tenso — ela massageou uma área que senti um pouco de dor, mas sorri.
Tirei suas mãos de mim, e em um movimento rápido, segurei sua cintura e nos derrubei na cama. Ela deu um gritinho e começou gargalhar, esperei que ela parasse e mordi seu lábio inferior. Seus braços agarraram meu pescoço, e seus lábios se juntaram aos meus, começando um beijo não muito inocente.
Eu fazia questão de passar as mãos em cada parte de seu corpo, agarrando por último seu seio, fazendo-a gemer. Suas mãos agarraram a barra da minha camisa, e ela a puxou por cima de minha cabeça. Tentei desprender seu macacão, mas falhei e ela começou rir, fazendo por mim. Puxou para cima a camiseta, ficando de sutiã branco. Aproveitei para tirar o seu macacão pelas pernas, depois de lançar fora suas botas. Ela colocou as mãos em meu short de moletom, mas neguei. Ela voltou os olhos para baixo e percebeu o quão excitado eu estava.
Ela era simplesmente perfeita. Seu corpo tinha uma simetria incrível. Coxas num tamanho proporcional e uma bunda de tirar o fôlego de qualquer um. Não tinha uma barriguinha chapada, muito pelo contrário, os pneuzinhos eram a parte mais fofa dela. Seus seios não eram muito grandes e nem muito pequenos, mas cabiam nas minhas mãos — pelo que bem me lembro —, e muito bem na minha boca — coisa que ela adorava.
— Chega de olhar? — ela pediu e eu só pude sorrir.
Desci os lábios até sua pélvis, e lentamente subi com a língua até o início dos seus seios, o que a deixou ainda ansiosa. Puxei seu sutiã para baixo, fazendo seus seios pularem em meus olhos.
— É novo! — quase gritou, arrumando as alças — Não sou as modelos que você fica!
— Não mesmo — concordei, começando chupar seu seio —, você é muito melhor.
Ela suspirou, e então desci para onde mais importava, começando tirar sua calcinha enquanto beijava suas coxas.
— De verdade, eu adoro seu trabalho bocal, mas podemos pular essa parte? — implorou e eu sorri.
Não queria, mas também estava realmente louco, ainda mais quando terminei de tirar a calcinha e ela ficou com as pernas abertas em minha direção. A lubrificação escorria pela poupa da bunda, e tudo que eu queria era senti-la por completo. Até eu lembrar que…
— Estou sem camisinha! — ela me olhou confusa, e em seguida bufou.
— Qual homem na face da terra anda sem camisinha, ? — bateu a mão na testa.
— Acabaram e não tive tempo de providenciar outras — dei de ombros, tentando pensar no que poderia fazer, mas não tinha o que fazer.
— É foda transar com gente transuda demais — ela ficou de pé, e caminhou até sua bolsa, arrancando de lá um preservativo — Tenho essa há algum tempo aqui, espero que sirva.
Olhei o pacote, vendo que era realmente meu tamanho. Pensei rapidamente que ela havia aparecido pensando em sexo, já que estava preparada e carregava até meu tamanho num preservativo. Não contive um riso bobo. Mas também poderia ser só coincidência. Abri enquanto voltava para minha frente e eu vestia a camisinha sobre meu pênis. Finalizei e me encaixei entre suas pernas. Voltei a beijar sua boca, com calma.
— Senti falta de nós — sussurrei olhando seus olhos tão próximos aos meus. Ela acariciou meus cabelos, selando mais uma vez nossos lábios.
Não demorei a preenche-la por completo, ouvindo um gemido na primeira investida. Retirei por completo e mais uma vez repeti o movimento.
era simplesmente o paraíso, e era tão natural fazer amor com ela, que eu me sentia renovado. O toque das nossas peles era incrível e não se comparava a nenhuma outra. Não sei o tipo de feitiço que ela lançou sobre mim, mas eu sabia que jamais, em mulher alguma, eu encontraria o que encontrei nela.
Os movimentos se tornaram mais rápidos e senti suas pernas tremerem em minha volta. Seu corpo arqueou embaixo do meu e seus olhos reviraram. Ela tampou a boca com a mão, mas logo afastei, porque eu queria ouvi-la gritando. Estoquei uma última vez, e gemi junto com ela, tentando segurar o peso do meu corpo com os braços, colocando o nariz em seu pescoço.
— Meu Deus — ela disse, engolindo seco.
— O que? — perguntei um pouco preocupado.
— Eu preciso... — ela me empurrou de leve, e estranhei. Sai de dentro dela, e dei espaço — Foi incrível, , mas eu preciso ir... — colocou sua calcinha e ajeitou o sutiã. Buscou sua blusa e começou colocar ainda ao contrário — Foi realmente muito bom.
? — perguntei confuso, vendo ela terminar de se vestir e calçar as botas — ? O que foi?
— Está tudo bem, — ela riu, mas eu sabia que ela não estava bem — A gente se fala depois, pode ser? Tenho um compromisso muito importante e não posso faltar. Esqueci completamente!
Ela andou em direção à porta e arrumou os cabelos no espelho do aparador, nem sequer abotoou o macacão direito. Abriu a porta em seguida com o cartão que estava ali e a bateu sem olhar para trás. O que será que eu tinha feito de errado? Eu havia acabado de ter a melhor transa da minha vida, com a garota que eu, ãn... gostava (?). E ela simplesmente sai pela porta, como se eu estivesse com uma doença contagiosa?
Eu tinha uma semana de folga para entender o que estava acontecendo com a , e eu ia descobrir.

Capítulo 4

As ruas de San Francisco nunca pareceram tão agitadas quanto estavam. Eu lembro que o movimento era relativo, mas agora era muito intenso. Continuei caminhando pela vizinhança que eu costumava conhecer, e parei o carro em frente à um muro branco, que parecia uma prisão. As casas ali não precisavam de tanta segurança, pois o bairro era tranquilo.
Sai de dentro do carro, largando a porta que bateu atrás de mim. Algumas senhoras estavam tomando chá no quintal da outra, duas mulheres corriam com roupas de academia na rua — e quando me viram piscaram. Havia um senhor escorado na caixa postal, que lia o jornal enquanto um cachorro pequeno fazia suas necessidades pelo gramado, preso a uma coleira que esticava. Me aproximei e ele subiu os olhos para mim, na qual logo o reconheci.
— Sr. Folley? — perguntei curioso e ele piscou tirando os óculos.
— Eu mesmo — arregalou os olhos — Você é o menino ! — se aproximou me abraçando, e eu não pude deixar de retribuir — Quanto tempo, menino! Como você está crescido!
— Fico feliz em ver o senhor! — falei me afastando — A ainda mora por aqui?
— Mora sim, meu filho! — ele apontou para a casa logo atrás de mim — Ela deu uma reformada na casa, mas não saiu de lá. Os pais dela que se mudaram para Wisconsin há uns dois anos, mas ela não quis ir, preferiu ficar aqui.
— Ah, entendi — olhei para casa, sentindo minhas mãos suarem. Coloquei-as dentro do bolso e tentei relaxar — Eu preciso falar com ela. Muito prazer em revê-lo, Sr. Folley.
— O prazer é meu, menino! Volte mais vezes!
Acenei e caminhei até a casa que eu tanto conhecia, mas que agora parecia bem diferente. Estava toda pintada de branco, tinha as portas pretas e o corrimão da mesa cor. Subi as escadas principais e dei três murrinhos na porta. Ouvi uma movimentação, e minutos depois percebi que alguém se aproximava da porta. não parecia tão contente ao me ver, mas estava bem surpresa. Se escondeu um pouco mais atrás da porta, mas percebi que ela usava uma camisa de manga longa, que cobria até metade das suas coxas.
? — sorriu sem graça, fechando um pouco mais a porta. Ela estava agindo estranho — O que você está fazendo aqui? Como encontrou minha casa?
— Ah, eu lembrava — falei olhando em volta — E o Sr. Folley me ajudou um pouco. Inclusive ficou diferente aqui.
— É, realmente — ela suspirou um pouco sem graça e estranhei.
— Está tudo bem, ? — perguntei olhando em seus olhos e ela sorriu nervosa.
Ouvi uma outra movimentação dentro da casa e ela olhou em direção, me deixando um pouco preocupado. Será que os pais dela estavam ali? Acho que eles não gostavam tanto assim de mim, não sei o motivo, talvez por ser famoso? Talvez.
Antes que eu perguntasse qualquer coisa, um cara sem camisa colocou-se atrás dela, apoiando a mão na porta que antes ela segurava. Meu estômago pesou, e não senti a ponta dos meus dedos, assim como minha mão estava formigando.
Ele era loiro e seu cabelo era grande. Era bem mais alto que ela, ainda mais alto do que eu. Minha garganta secou, assim como minha respiração passou a ficar trêmula. Maldito seja o transtorno de ansiedade.
— Ei, esse não é o ? — perguntou o cara, olhando para mim sorridente. Eu queria quebrar os dentes brancos dele — E aí, cara.
Semicerrei os olhos e não consegui dizer nada. Passei meus olhos dele para , que me encarava sem piscar.
, ciúme não. Você vai estragar tudo de novo! De novo não. Não agora que você “tem” ela e que está tudo bem! MAS ELA NAMORA? Acho que estava tendo uma crise de pânico. Os dois estavam me encarando como se eu fosse um ET. Precisava me mexer, sem fazer besteira.
— Cara, você está bem? — o cara me perguntou e eu engoli seco, abrindo um sorriso mínimo.
Eu sabia fingir, com as mãos dentro dos bolsos, eu sabia perfeitamente mentir. Reuni todas as minhas forças e coloquei de lado o ciúme que estava me corroendo. Eu podia deixar para ter uma crise quando estivesse sozinho, não? Chorar quando estivesse sozinho.
— Estou sim, cara — disse um pouco travado — Desculpa se eu atrapalhei alguma coisa, de verdade mesmo. Eu vou indo — apontei para o carro atrás de mim, e fui dando os primeiros passos, me virando logo em seguida.
Minha visão parecia escurecer a cada passo, mas me forcei até chegar no carro, nem sequer prestei atenção se passava algum carro na rua e abri a porta do motorista. Antes mesmo que eu pudesse entrar, senti uma mão em minhas costas, e a respiração pesada.
, você não pode dirigir assim — me olhava preocupada.
Eu não queria tratar ela mal, mas não conseguia entender. Meu coração parecia querer explodir dentro de mim, um bolo parecia estar entalado em minha garganta. Eu queria sair dali o mais rápido possível, mas acho que não seria tão possível assim.
— Eu estou bem — falei tentando parecer normal. O foda é que ela me conhecia bem até demais — Só não sabia que você tinha namorado. Se eu soubesse, não teria acontecido o que aconteceu.
— Não estamos namorando — ela tratou de se explicar, mas eu não queria muito papo — Ele só... hum…
— Não me diz respeito — abri mais a porta, entrando no carro — E está tudo bem, , de verdade.
Talvez eu que fosse culpado por confundir as coisas. E pensar que apontei o dedo para a Megan pelos mesmos motivos, agora entendia o lado dela. Afinal, a gente só entende uma situação quando passa pela experiência.
? — ela pediu, ficando na janela do motorista. Olhei estranho, pois não podia sair dali com ela pendurada em meu carro.
Eu olhava para ela e lembrava do cara. Era inútil tentar não sentir ciúme e era horrível guardar isso dentro de mim, mas eu não podia começar novamente com essa futilidade, ela não era minha — e nem de ninguém —, mas quem me dera ela me desse a oportunidade de poder compartilhar minha vida com ela!
Meus olhos queriam me trair, mas fui firme e sorri para ela, colocando a chave do carro na ignição. Espero que ela não tenha percebido minhas mãos trêmulas, que tenha passado despercebido.
— Realmente eu preciso ir — lambi os lábios, tentando olhar em seus olhos, ser sincero — Só vim me despedir.
— Você não ia ficar a semana aqui em San Francisco? — ela perguntou confusa, talvez um tanto atônita.
— Mudança de plano — dei de ombros — Acho que preciso sentir a água do mar novamente, o cheiro da maresia. Talvez Caribe seja minha opção imediata mesmo.
— Você vai se afastar novamente — seus olhos estavam marejados, e eu balancei a cabeça negando — Eu estou sentindo que essa será a última vez que vamos nos ver.
— Não sei, mas nunca esqueça de uma coisa, — fiz uma pausa. Eu realmente ia dizer aquilo? — Eu amo você.
Ela se afastou do carro nervosa, em estado de choque. Aproveitei aquele momento para dar finalmente partida no carro, e deixar ela para trás. Talvez tenha sido esse um dos motivos de não conseguir me desprender; eu estava enrolado até demais com ela. Observei ela parada no meio da rua pelo retrovisor. Tive a mesma sensação, de que aquela seria a última vez que teríamos ficado juntos, e que eu a veria.

{•••}


Parei o carro num acostamento qualquer e o desliguei. Respirei fundo e recostei a cabeça sob a parte mais alta do banco. Eu não sei explicar exatamente como eu estava me sentindo naquele momento. Sabe quando você cria muita expectativa sobre algo e aí as coisas acontecem totalmente diferente? Qual é a sensação que você têm? A sensação que temos é de frustração, exato? Eu estava sentindo algo semelhante a frustração, mas era muito pior. Não era só o desânimo, ou sensação de mãos atadas, ou um pensamento de: "achei que seria de outro jeito", não. E antes fosse. Mas era muito mais e eu não sabia definir. Senti como se alguém tivesse arrancado meu coração do peito, o jogado no chão com toda a força existente e, como se não bastasse, pisado em cima.
Bolei um baseado e o levei até meus lábios, acendendo em seguida. Eu não conseguia pensar em mais nada além do possível vínculo acabado entre eu e a , vínculo aquele que eu nem sabia definir o que era porque não existia um. E só a brisa do baseado poderia me deixar leve naquele instante, porque de repente todo o peso do mundo pareceu estar sob meus ombros.
Quando ela me confrontou sobre eu ter que ir mais além por nós, achei que estivesse falando sério, porque eu estava. Achei que estávamos falando a mesma língua e querendo a mesma coisa. Não sei se é certo dizer, mas aparentemente, não estávamos na mesma frequência, e isso me deixava perdido. Ri sozinho com uma lembrança distante, ou talvez fosse o baseado causando seu efeito em mim. Eu precisava daquilo pros dias turbulentos, tais como o de hoje. Meu corpo relaxou e tudo pareceu estar mais lento, tranquilo, suave. Dei uma última tragada no meu pedaço de céu e apaguei o resto – provavelmente eu usaria mais tarde.
Talvez aquela tenha sido realmente a última vez que nos vimos, mas só talvez. Porque a angústia não me deixava. Estava tudo dormindo dentro de mim antes de eu vir fazer show em San Francisco, mas nunca deixei de ter sentimentos por , eu só não queria admitir para mim mesmo, pois quando o fazemos, as coisas tomam uma proporção além do que podemos dar conta. Ficam bem mais evidentes. Bastou ela aparecer na minha frente para tudo que existia dentro de mim acordar. E agora, estava uma confusão. Mas, nunca ouvi alguém dizer que conseguiu controlar o destino, afinal, em destino ninguém manda.
Meus olhos arderam e eu mexi o corpo no banco. Inclinei o tronco para frente e segurei o volante com as duas mãos, encostei a testa em cima das costas das mãos e respirei fundo. Minha garganta travou com o choro preso, porque eu não queria chorar, mas estava doendo tanto, de um jeito que eu nunca imaginei ser possível. E quando me dei conta, as poças de lágrimas já estavam formadas em meus olhos, escorrendo pelas minhas bochechas. Joguei o corpo para trás, batendo as costas no banco mais uma vez e passei as mãos pelo rosto, limpando tudo por ali. Balancei a cabeça em negação e foquei em um ponto fixo, estava em transe. Senti vontade de chorar de novo, mas travei o choro.
Eu já estive em vários lugares, conheci muitas pessoas e nenhuma delas me fez sentir tudo o que eu sentia quando estava com a , e isso inclui os sentimentos não tão bons. Eu estava tentando conter tudo que acontecia dentro de mim, mas não era tão fácil, porque toda hora minha cabeça fazia questão de voltar em minutos atrás. E eu ri de mim mesmo ao imaginar a cara que eu devo ter feito.
Meu celular fez um som de mensagem e vibrou. O som se tornou frequente e eu me vi pegando o aparelho lentamente de dentro do meu bolso. Um vínculo se formou entre minhas sobrancelhas, pois eu não conhecia o número, mas pelas mensagens eu sabia muito bem quem era. Não me lembro de termos trocado número de celular. A não ser que eu estivesse numa brisa monstra e tenha passado, mas ainda acredito que não.
Todas as mensagens se direcionavam para a preocupação. A maioria era algo como: "aonde você está?", "você está bem?", ", vamos conversar?", "esta aí?", "você não pode dizer que me ama e sair fora.".
Senti um pesar no coração. Eu queria responder, mas ao mesmo tempo não queria. O motivo? Não faço a mínima ideia. Ou talvez fosse orgulho. Quem sabe? E eu tinha plena noção de que se fosse orgulho, eu poderia me arrepender mais tarde. Desbloqueei a tela e apenas li as mensagens do whatsapp. Saí da conversa e abri o Instagram. Posicionei os dedos para digitar, mas travei. Eu não sabia o que dizer, nem sabia se deveria dizer algo.
Apareceu digitando e um frio percorreu todo meu corpo.
“Você leu as mensagens, então por favor, me responde, .”
Bati os dedos nas laterais do celular, e depois bloqueei novamente. Até que o visor mais uma vez acendeu:
"Se você não me responder, eu vou falar para o seu pessoal que vi uns caras te colocando dentro de uma van e em menos de uma hora o mundo todo vai saber do seu desaparecimento (fake, devo acrescentar. mas isso só nós saberemos), e a polícia vai estar te procurando. E você sabe que eu sou capaz disso."
Um riso saiu dos meus lábios e eu chacoalhei a cabeça para cima e para baixo porque sabia que ela era capaz de qualquer coisa quando queria, mas não acho que chegaria ao extremo.
O celular começou a piscar sem parar e lá estava meu nervosismo de volta, as mãos suando e as pernas bambas.
“Quer testar a sorte?” perguntou e eu desbloqueei o celular.
“O que houve, ? E quem te passou o meu número?“ — digitei e enviei, vendo que visualizou no mesmo momento.
“Eu nunca deixei de tê-lo. Não acha que devemos conversar?” ela questionou e eu mordi a bochecha por dentro, observando os carros passarem pela via — “Você está no hotel?”
Percebi o fato dela ter meu número desde sempre e nunca sequer ter entrado em contato. Aquilo não poderia ser algo bom, de jeito nenhum. O que me afetou mais ainda, pois senti meu coração destroçado.
“Não!” — fui breve.
“Você nem me deixou explicar nada.” — ela escreveu em seguida, e eu suspirei nervoso.
“Você não me deve satisfação de nada, . É sério, eu estou bem. Está tudo bem!” — eu digitei, mesmo que as lágrimas teimosas quisessem sair pelos meus olhos.
“Sério? Não pareceu. Eu te conheço como a palma da minha mão.”
“Não faz isso.”
“Isso o quê?” — quis saber.
“Quando você demonstra que me conhece ou que se preocupa… Sei lá.”
Não digitou mais nada.
Fiquei afoito.
Será que eu tinha dito algo errado de novo?
Eu e minha maldita boca.
“Eu preciso te ver. Não aceito não como resposta. Hoje mais cedo não pode ter sido um adeus, . Foi da pior maneira e eu não paro de pensar nisso, muito menos ao lembrar dos seus olhos me encarando e principalmente de você dizendo que me ama. Se for pra dizer adeus, que façamos direito.”
Pensei por alguns minutos que mais pareceram horas. Não ia conseguir aguentar outro baque vindo de . É a segunda vez que profundamente me decepciono, mas não ia aguentar, não mais.
“Sinto muito.” — digitei com muito pesar e enviei.
Ela visualizou e não respondeu mais, e então tomei novamente o controle do carro em direção ao hotel. A viagem até o Caribe já estava marcada e eu realmente queria me afastar. Talvez definitivamente dessa vez, porque eu não podia mais fazer aquilo comigo. Era uma auto tortura; talvez ela não percebesse, mas eu não podia mais.

Capítulo 5

Perguntei a Megan se ela havia cancelado a nossa viagem para o Caribe e ela constatou que ainda não havia o feito, que faria dali uns minutos, pois estava ocupada demais com outras coisas – ao seu ver, mais importantes.
Disse a ela para que não cancelasse, que faríamos a viagem. Seu olhar confuso chegou até mim e eu sorri de canto. Menos de uma hora, estávamos fazendo o check-out no hotel e a galera perguntou porque iríamos somente eu e a Megan. Inventei uma desculpa relacionada a trabalho e todos pareceram acreditar – menos o Theo, óbvio.
Passei a viagem toda tentando pensar em outras coisas que não fosse a , e até que estava dando certo, com muito custo, devo acrescentar. Procurei manter o foco em todas as coisas que me levavam para longe dela e mesmo que me machucasse, era necessário. Embora eu tivesse alguns dias de folga, pensar no trabalho me faria ficar centrado, ou simplesmente curtir a viagem da forma que eu me sentisse mais a vontade. A Megan fez questão de escolher um dos melhores hotéis. Quando descemos do avião e entramos no aeroporto, um homem com trajes praiano estava com uma plaquinha em mãos escrito meu nome. Seguimos até ele e não demorou para que chegássemos ao nosso destino. Olhei tudo em volta e fiquei boquiaberto com a beleza daquele lugar. Não decepcionou em nada. Achei que era bonito somente por fotos, mas foi engano meu.
— Escolheu certinho — olhei a mulher pelo canto dos olhos e abri um sorriso.
— Posso dizer que conheço seus gostos? — me empurrou com o ombro.
— Pode — não contive um sorriso perverso que saiu pelos meus lábios.
Mesmo não sendo a minha acessora, a Megan se encarregou de fazer o check-in na recepção, enquanto eu esperava sentado em uma poltrona extremamente confortável, depois de horas num banco de avião. A mulher me chamou com a mão e um rapaz pegou nossas malas.
— Eu quero uma poltrona dessa — apontei e ela riu — Dormiria fácil até sentado.
— Você dorme em qualquer lugar, .
Fiz uma careta.
— Não é verdade.
Megan abanou as mãos no ar e andou um pouco a minha frente. Nosso quarto era no penúltimo andar, na última porta do corredor. Ótimo! Ela passou o cartão na porta e abriu, dando espaço para que eu também entrasse. O rapaz entrou logo em seguida e ajeitou nossas malas em cima de uma bancada. Depois, parou na porta, nos encarou e estendeu a mão. Eu sabia que ele queria gorjeta, era tão comum, mas eu ainda assim ria da situação.
— Megan — chamei a mulher que logo apareceu atrás de mim — Quanto a gente tem que dar de gorjeta por aqui? — olhei para ela.
— Quanto você quiser.
Puxei a carteira do meu bolso traseiro e a abri, tirando dali uma nota de cem dólares. O rapaz arregalou os olhos e um sorriso espontâneo preencheu seus lábios. Ele pegou a nota em mãos e agradeceu repetidamente.
— Obrigado, senhor. Muito obrigado mesmo.
— Não há de quê — bati com a mão no ombro dele.
Ele nos deixou a sós e eu fechei a porta.
— O que foi? — Megan quis saber.
— Esses caribenhos — balancei a cabeça e ri — A propósito, você fez check-in com quais nomes?
— Franklin e Domênica.
Guargalhei, não acreditando.
— Não tinha piores não, Domênica? — tornei gargalhar e desviei de uma peça de roupa que ela arremessou.
— Posso voltar lá e colocar teu nome inteirinho pros fãs te acharem fácil.
Parei de rir na mesma hora e aí foi a vez dela gargalhar.
— Não tem graça — franzi o nariz.
Antes que pegássemos voo para o Caribe, a Megan disse que ia respeitar a minha privacidade e que havia entendido cada palavra da qual eu havia falado dias atrás. Insistiu que iria dormir em outro quarto, porque era seu dever como profissional, mas eu insisti que ela não precisaria fazer aquilo, já que estávamos de férias por alguns dias. Ela não teria que ser minha produtora pelos dias restantes, só precisava ser a Megan e eu o , simples. Então, ela cedeu quando eu pedi para que ficasse no mesmo quarto que eu. Porque querendo ou não, a vida de alguém famoso é cheia de pessoas, mas muitas vezes... solitária. E eu não queria me sentir solitário no Caribe. Seria uma covardia total.

Ajeitamos nossas coisas e ela avisou que iria tomar banho, apenas fiz um aceno com a cabeça e logo a porta do banheiro bateu. Ficamos apenas eu e meus pensamentos. Sentei na cama e bati os olhos na grande janela de vidro que me retornava uma vista esplêndida. E todas as vezes que o rosto da aparecia na minha mente, eu mandava logo embora e procurava algo para fazer, até mesmo se não tivesse. Tomei um banho logo depois da Megan e nós saímos para curtir o dia – mesmo que eu estivesse um caco, eu preferia sair para espairecer, conhecer o lugar e com isso cansar mais ainda para que ao cair da noite eu não ficasse rolando de um lado para o outro esperando o sono vir.
Os dias passaram tão rápidos que eu senti como se tivesse fechado os olhos e os aberto em fração de segundos. Não queria ir embora, confesso. Na última noite, após deitarmos para dormir, senti as mãos de Megan no meu tronco e fingi que não estava sentindo nada – mas estava sentindo uns arrepios loucos. As mãos dela subiram até meu tórax, tornaram a descer até a minha barriga e seus dedos encostaram na bainha do meu short. Sua respiração estava mais próxima do meu rosto e ela se moveu na cama. Seus lábios encostaram na minha bochecha e logo desceram para o meu pescoço. Menos de segundos, ela estava sentada no meu colo pressionando sua intimidade na minha. Apertei sua cintura e desci para suas nádegas, apertando mais ainda. Cedi ao beijo que ela me deu e começamos uns amassos, mas parei assim que as coisas começaram a tomar outro rumo. Segurei os braços dela suavemente e procurei seu rosto na escuridão do quarto.
— Não dá. Desculpa, Megan, mas não dá.
Ela sorriu de canto e saiu do meu colo, sentando ao meu lado.
— Foi algo que eu fiz?
— Não. Não é você — virei o rosto para o lado dela — E como eu disse antes, não quero te magoar.
— Eu entendo. Prometo ficar na minha, tá? É que faz dias que estamos dormindo na mesma cama e, céus... hoje eu sai de mim — riu e eu acompanhei.
— Vamos dormir? Amanhã temos que levantar super cedo pra seguirmos para Flórida, certo?
— É, vamos.
Escorregou o corpo na cama e se ajustou no colchão, puxando o lençol para se cobrir. Puxei seu corpo para perto do meu e ela deitou a cabeça no meu peito. Fechei os olhos e depois não vi mais nada.

{•••}


Cantarolei algumas musicas no camarim e bebi uns goles de água. Algumas fãs estavam presentes para o M&G, mas não tardaram em sair. Lana fez sinal com a mão para que eu a seguisse e seguimos em direção a um corredor não tão extenso. Chegamos a beirada da escada que ligava ao palco e esperamos a banda de abertura terminar sua última música. Os caras desceram do palco minutos depois e tocaram na minha mão, desejando sorte e sucesso. Meu nome foi anunciado e eu subi os lances de escada correndo, aparecendo para a multidão que foi a loucura. A mesma vibe desde sempre.
A primeira música deu seu toque e eu comecei a cantar. Era um prazer estar no palco e fazer aquilo que eu amava. Segui com mais três músicas e interagi com o pessoal – como de costume.
— E aí, Orlando. Estão curtindo essa noite? — gritos — Pelos gritos acredito que estão curtindo sim — mais gritos — Eu estou amando estar aqui e dividir essa noite com vocês. Estamos só começando — eu ri — Vamos nessa!
Nas músicas mais lentas, a luz sempre diminuía a claridade e a galera acendia a lanterna do celular, deixando um cenário acolhedor e bonito.
Terminei a última música com maestria e mesmo de longe, dava pra ver o quão felizes as fãs estavam, até mesmo um pouco tristonhas pelo final do show.
— Muito obrigado, Orlando — eu disse, enquanto minha mão mexia-se para lá e para cá num aceno de tchau — Foi um prazer estar aqui hoje. Nos vemos numa próxima. Tchau — corri para trás do palco e desci as escadas. Sendo cercado pelos meus seguranças.
Pouco antes de eu entrar para o camarim, escutei alguém me chamar. Eu conhecia aquela voz, mas achei estar ficando louco, então mandei a sensação de nostalgia para longe. Mais uma vez gritaram por mim e eu parei de andar, fazendo com que algumas pessoas trombassem em mim. Olhei em direção ao portão e uma mulher estava lutando com os seguranças para passar. Forcei um pouco mais as vistas e comecei a rir internamente. Não acreditei que ela estava ali.
, precisamos ir para a van que nos levará até o hotel. De lá vamos para o aeroporto e seguimos para Miami — Lana apareceu ao meu lado.
— Só um minuto.
— Não temos um minuto, .
— Prometo ser só um minuto.
Ela assentiu e entrou no camarim. Aos poucos, o corredor ficou vazio e apenas alguns seguranças estavam ali. continuou a batalhar para passar e eu me aproximei um pouco mais, mas não tão perto. Chamei um dos meus seguranças e cochichei em seu ouvido.
— Tem certeza? — me olhou.
— Vai. Tenho — prendi um riso.
Ele levantou e abaixou os ombros. Foi até onde os outros seguranças estavam e rodeou a mulher, segurou em seus braços e fez com que ela deitasse no chão de barriga para baixo.
— O que é isso? Que palhaçada é essa? , me ajuda aqui — gritou por mim e eu coloquei a mão na boca para rir sem que ela visse.
O segurança a levantou e a levou para fora. Mesmo que tivesse sido apenas para zoar com ela, eu me senti um tanto mal. Pensei ter passado do ponto e meu coração apertou, pois o riso foi se esvaindo aos poucos e eu senti falta dela naqueles meros segundos onde sua fisionomia não estava mais presente. Meu coração começou a bater mais rápido e pensamentos aleatório invadiram a minha mente mais uma vez. Escutei Theo me chamar e corri em direção a ele.
— Vamos? — ele disse.
— Vamos. Cadê a Lana?
— Já está te esperando lá fora faz tempo.
Chegamos na van e todos estavam do lado de fora me encarando. Me senti estranho e logo dispersaram um para cada canto, menos os seguranças que rodearam a van e a Lana que se achegou próxima a mim.
— O quê? — perguntei, reconhecendo que algo poderia estar errado.
— Só entra na van — mandou.
— Nossa, é desse jeito assim?
Ela riu com meu tom de voz e apontou para a van.
— Entra logo, .
Se afastou e sentou-se no meio-fio. Adentrei a van e parei de andar assim que vi a sentada em um dos bancos. Ela levantou imediatamente e me encarou com um riso apreensivo misturado com felicidade. Todos os músculos do meu corpo queriam recuar, mas meu cérebro ordenou que eu ficasse. Engoli seco e apertei minhas mãos. Meu coração parecia que ia sair pela boca e meu estômago retorceu por dentro, sem contar o frio na espinha que eu senti.
— Oi — ela disse, entre um riso tímido.
— Quem te deixou entrar aqui? — olhei para fora, mas ninguém podia nos ver por conta do insulfilm escuro.
— A Lana. A gente pode conversar?
Ela me encarou enquanto eu mantinha meu silêncio presente. Eu tinha me esquecido o quão bom era estar na presença dela, mas ela não precisava saber. Eu me esqueci do quão bom era sentir milhões de sentimentos por uma pessoa só. Eu me esqueci o quão bom era o cheiro dela. Como eu poderia ter esquecido?
— Agora não dá. Preciso ir para o hotel. Muito ocupado, sabe? — permaneci sério.
— Prometo ser breve — deu alguns passos e eu retrocedi a mesma quantidade. Seu semblante murchou e eu senti meu nariz arder, passando a sensação para os olhos.
— O que você quer, ?
— Falar sobre a gente.
— Sabemos que não existe a gente.
— Não faz isso. Não me afasta de você. Não se afasta de mim, por favor. Faz pouco mais de uma semana que eu estou tentando entrar em contato e nada. A gente precisa conversar sobre aquele episódio. Você nem me deixou explicar nada, .
— É porque eu fui aproveitar minha folga bem longe de toda mentira, sabe? Estava sem tempo para isso.
— Mentira? Que mentira?
— Você já tinha alguém, . E me fez de bobo.
Ela estreitou os olhos.
— Eu não tinha ninguém. Olha aí você falando como se soubesse das coisas.
— Você foi até o meu hotel em San Francisco, a gente transou e você saiu correndo dizendo que tinha compromisso. Eu bato na sua porta e um cara aparece atrás de você. Como você acha que eu me senti? Você agiu como se o que tivemos não passasse de uma noitada, quando na verdade para mim significava muito mais. Eu…
— Eu te amo — falou, antes que eu terminasse de falar e eu travei — Droga — sorriu — Eu te amo, tá? Foi um saco ficar longe de você por tempos e achei que fosse suportável essas uma semana e pouco, mas não foi. Eu senti a sua falta todos os dias. Eu não sou eu sem você por perto. Então por favor, me deixa explicar a situação. Eu saí correndo no dia do hotel porque felizmente me dei conta do quão importante você é para mim. Fiquei assustada.
— Eu... Ãn... — senti meus olhos marejados e meu coração bater mais rápido que o normal. Eu queria sorrir, porque estava contente por dentro, mas não consegui.
— Me escuta — aproximou-se e segurou minhas mãos. Meus olhos foram dali para os seus olhos, que já se encontravam com poças de lágrimas — Não era ninguém lá em casa aquele dia. Ninguém que vá acrescentar algo entre a gente. Tecnicamente nunca tivemos nada sério e eu achei que continuaríamos assim. Mas quando você foi embora, eu percebi que estava deixando passar a oportunidade de ficar com o cara que me faz feliz. O amor da minha vida — encostou a mão no meu rosto e eu fechei os olhos, travando a mandíbula. Senti uma lágrima correr pela minha bochecha e ela foi parada pela mão de — Você é a pessoa mais extraordinária e engraçada que eu conheço. Se eu te magoei, me perdoa, eu nunca quis fazer isso; especialmente se tratando de você. Eu te amo, .
Abri meus olhos e sorri de canto. Passei as mãos pela cintura dela e ela contornou meu pescoço com seus braços.
— Fala de novo, porque não pode ser real — pedi.
— O quê? Que eu te amo? — riu — É, eu te amo. Tirando o fato de que você me fez passar uma vergonha com os seguranças, não é mesmo? Aí eu te amo só um pouquinho menos — sorriu.
Eu ri e levantei ela do chão. Aproximei nossos rostos e nossos lábios se tocaram. O beijo lento me fez perder toda a noção de tempo e espaço. E pude sentir algumas lágrimas ainda percorrerem meu rosto, pois não estava acreditando que estávamos próximos mais uma vez. Todo o meu corpo tremeu e eu tive a total certeza que o meu lugar era ali, nos braços dela, nos lábios dela e com ela.
Vamos nos unir, agora! — eu sussurrei em seus lábios e ela sorriu, pois sabia que aquilo fazia parte da música que eu havia feito baseada nela.
“Uns chegam, outros vão. Nossa vida é com aqueles que ficam.”
“Let's come together, come together
Right now, right now
Come together, together
Right now…”



Fim!



Nota da autora: Sem nota.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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