Capítulo único
acordou, depois de uma noite de sono agitada, cheia de sonhos bons e de alguns pesadelos também. No pior deles, ele se via no palco do The Voice Brasil, errando a letra de uma de suas músicas favoritas, desafinando em notas que sempre considerou de fácil alcance e até engasgando. Ele acordou antes do final do número musical, mas era claro que, naquele cenário tenebroso, nenhuma cadeira de nenhum dos jurados se viraria em aprovação à sua performance.
Ao abrir os olhos e se deparar com , sorriu, pensando que, muitas vezes, a realidade era melhor não somente que pesadelos daquele tipo, como também que a maioria dos sonhos. Ele estava na cidade do Rio de Janeiro, a grande capital que só tinha visitado duas vezes, ainda na infância. Era verdade que estava hospedado em um hotel barato, localizado em uma região um tanto inóspita do Centro, pagando a conta com dinheiro emprestado pelo padrasto, mas o importante era que estava prestes a realizar o sonho de participar de um de seus programas favoritos. Sua voz seria ouvida por pessoas do país inteiro, e o rapaz teria a namorada torcendo por ele nos bastidores.
Ele observou a garota, ainda adormecida a seu lado. Não podia acreditar que ela estava mesmo ali com ele! O primeiro beijo dos dois tinha acontecido quando um amigo em comum a desafiara a beijar o próximo carinha que entrasse no bar, na noite do aniversário do primo dele. Ele já a considerava uma das meninas mais bonitas que conhecia e passou a achá-la a mais linda de todas, depois de ver como ela era ao acordar, na manhã seguinte. Nunca imaginara sequer que ficariam juntos outras vezes, então era um pouco assustador o fato de já terem completado três anos de namoro.
acordou e sorriu para ele, que logo a puxou para junto de si. Ficaram curtindo a preguiça, abraçados, aproveitando que ainda era cedo para sair a caminho do estúdio onde o programa seria gravado. Conversaram sobre o ensaio do dia anterior, ao qual ela assistira, repetindo as palavras de incentivo de sempre. Confiava tanto na capacidade dele e insistia tanto para que ele corresse atrás dos próprios sonhos que isso conseguia assustá-lo ainda mais do que o fato de estar, pela primeira vez na vida, em um relacionamento sério e longo, e sem nenhuma vontade de sair dele.
“Acho melhor a gente levantar e tomar um bom café.” Ela disse, apesar de ter permanecido agarrada a ele.
“Se é que dá pra chamar aquele café que servem aqui de bom, né?” Respondeu e ela riu.
“A gente pode pegar o carro e comer alguma coisa numa padaria.” Sugeriu, finalmente movimentando-se para levantar da cama. “Você precisa estar no mínimo bem alimentado, já que eu sei que você não conseguiu descansar como deveria.”
“Certo.” Ele também se levantou, indo para o banheiro. “E já sei que vou ter que tomar banho sozinho, porque também tenho que me manter focado.”
Ela assentiu, sorridente. Ele podia até ficar contrariado, mas ela realmente queria que ele se preparasse da melhor forma possível para a apresentação daquela tarde. Ele era talentoso, tinha uma voz maravilhosa, merecia ser conhecido e reconhecido, e tudo isso dependia do pouco tempo que teria no palco, em frente a grandes nomes da música que o avaliariam apenas por alguns minutos. Seu destino dependia daquele momento!
O que ela não sabia era que ele não estava de fato aborrecido. Ele podia até ficar um pouco surpreso, pois nunca ninguém havia se preocupado tanto com ele, mas adorava os cuidados de e não queria que ela saísse do seu lado. Ele a amava demais e não podia mais imaginar seu mundo sem ela, o que podia ser um problema, considerando que, se passasse no teste, precisaria ficar bastante tempo no Rio de Janeiro, longe da cidade de Bom Jesus do Itabapoana, onde ambos haviam nascido e crescido. Talvez tivesse até que se mudar definitivamente para a capital. E talvez isso significasse ficar longe dela.
ligou o chuveiro e tentou relaxar, enquanto a água quente batia em suas costas. tinha sido sua grande incentivadora, insistira para que ele se inscrevesse, se oferecera para levá-lo até o local da audição, mesmo sem jamais ter pego a estrada que unia as duas cidades. Ele sabia que ela nunca se sentiria trocada pela carreira dele, tinha certeza de que nunca o acusaria de abandono. Porém não sabia se ela aceitaria largar tudo para ficar ao lado dele. Nunca tinham conversado sobre isso. Não sabia sequer se tinha o direito de lhe pedir tanto.
“Anda logo, amor! Meu estômago tá roncando.” Ela gritou do quarto, interrompendo suas elucubrações. “E eu tenho que tomar banho também.”
Eles tiveram que cruzar a cidade de carro para chegar aos estúdios onde era gravado o programa. observava tudo, imaginando como seria morar em um lugar como aquele. De seu lugar privilegiado no banco do carona, de vez em quando também observava dirigindo, concentrada para não errar o caminho que aprendera no dia anterior, a testa um pouco franzida.
não estava nervoso com a expectativa de ser ouvido por artistas que ele escutara e admirara, ao longo de sua vida, e já sabia exatamente quem escolher como técnico, se houvesse a oportunidade. No entanto, ainda estava apreensivo em relação à possibilidade de ter que enfrentar uma próxima etapa sem , de enfrentar a cidade grande sem ela, uma vida nova sem ela.
Ele colocou toda essa emoção na música que cantou e conseguiu fazer com que todos os jurados o quisessem em seus times. Conversou com eles, fez sua escolha, em meio a gargalhadas e lágrimas, mas foi o abraço dela o auge daquele momento de alegria e realização. Sem ela, ele sabia que não aproveitaria tudo o que estava por vir da mesma maneira, e só estando em seus braços ele conseguia afastar, por algum tempo, os pensamentos que estavam agitando seu coração.
“Eu tinha certeza que você conseguiria!” Ela disse, já de volta ao carro, depois da finalização das filmagens e de ter recebido instruções da produção sobre os próximos ensaios e gravações. “Você viu quantos elogios? Eles amaram você!”
“E eu amo você.” Ele respondeu, dando um beijo rápido nos lábios dela. “Obrigada.”
“Pelo quê?”
“Por estar aqui comigo.”
“E em que outro lugar eu ia querer estar? Eu não perderia isso por nada!” Assegurou, sorridente, e foi tudo de que ele precisava para enfim ter coragem de tirar o peso que carregava nos ombros.
“E você... Você acha que poderia ficar mais?” Perguntou, hesitante. “Talvez até... Se eu precisar vir morar aqui, você viria comigo? Eu sei que você tem sua família, que tem o trabalho. Você é cheia de amigos e...”
Antes que pudesse se tornar prolixo, o beijou e saiu do banco do motorista para o colo dele, sem se importar em olhar se havia gente em volta, observando os dois. Se já não se importava com fofoqueiros maledicentes em Bom Jesus, na capital ela se sentia ainda mais livre para agir como bem quisesse.
“Eu não iria a lugar nenhum, nem se você me enxotasse!” Ela disse, brincalhona. “Eu fiz amizade com um pessoal da produção e com certeza eles me arrumariam um lugarzinho na plateia pra te ver cantar.”
“Você é mesmo minha fã número um, né?”
“E você duvidou disso em algum momento?” Fingiu se ofender, dando um tapinha no braço dele, que riu.
“Mas e os seus pais? E a loja?”
“Eu conversei com meu pai. Ele teria mesmo que me dar umas férias, depois de quatro anos trabalhando, sem parar. Então ele concordou que eu merecia poder ficar aqui, pelo menos até você ganhar. E depois disso... Bem, eu posso deixar definitivamente o negócio da família e ser sua agente. Que tal?”
“Amor!” Repreendeu, mas sem conseguir deixar de sorrir. O jeito otimista dela era adorável. “Eu to falando sério. A minha vida pode mudar muito, e eu queria ter você do meu lado.”
“E eu vou estar.” Afirmou, assumindo uma postura mais serena. “Mesmo em um cenário mais pessimista, o seu lugar não vai ser mais Bom Jesus. E, consequentemente, o meu também não. Eu vou tirar essas férias agora e depois eu to pensando em fazer uma facul aqui no Rio. Os meus pais com certeza não iriam se opor.”
“Cinema?”
“A isso talvez eles se oponham.” Riu, saindo do colo dele e voltando ao banco do motorista. “Mas talvez eu possa convencê-los, se eu tiver um namorado popstar e arrumar logo um estágio com algum artista da televisão. Quem sabe, né? Isso é coisa pra daqui a algum tempo. Por enquanto, a minha maior preocupação é decidir onde nós vamos almoçar porque meu estômago tá roncando.”
“Me falaram de um lugar.” respondeu, explicando onde ficava o restaurante que tinha como especialidade frutos do mar.
tinha razão. Havia coisas que só o tempo poderia dizer, agora que ele estava oficialmente participando de uma competição na qual um monte de outros jovens talentosos adoraria estar.
O que importava era que ela estaria com ele durante a jornada, escrevendo mais uma página daquela história de amor assustadoramente maravilhosa.
Ao abrir os olhos e se deparar com , sorriu, pensando que, muitas vezes, a realidade era melhor não somente que pesadelos daquele tipo, como também que a maioria dos sonhos. Ele estava na cidade do Rio de Janeiro, a grande capital que só tinha visitado duas vezes, ainda na infância. Era verdade que estava hospedado em um hotel barato, localizado em uma região um tanto inóspita do Centro, pagando a conta com dinheiro emprestado pelo padrasto, mas o importante era que estava prestes a realizar o sonho de participar de um de seus programas favoritos. Sua voz seria ouvida por pessoas do país inteiro, e o rapaz teria a namorada torcendo por ele nos bastidores.
Ele observou a garota, ainda adormecida a seu lado. Não podia acreditar que ela estava mesmo ali com ele! O primeiro beijo dos dois tinha acontecido quando um amigo em comum a desafiara a beijar o próximo carinha que entrasse no bar, na noite do aniversário do primo dele. Ele já a considerava uma das meninas mais bonitas que conhecia e passou a achá-la a mais linda de todas, depois de ver como ela era ao acordar, na manhã seguinte. Nunca imaginara sequer que ficariam juntos outras vezes, então era um pouco assustador o fato de já terem completado três anos de namoro.
acordou e sorriu para ele, que logo a puxou para junto de si. Ficaram curtindo a preguiça, abraçados, aproveitando que ainda era cedo para sair a caminho do estúdio onde o programa seria gravado. Conversaram sobre o ensaio do dia anterior, ao qual ela assistira, repetindo as palavras de incentivo de sempre. Confiava tanto na capacidade dele e insistia tanto para que ele corresse atrás dos próprios sonhos que isso conseguia assustá-lo ainda mais do que o fato de estar, pela primeira vez na vida, em um relacionamento sério e longo, e sem nenhuma vontade de sair dele.
“Acho melhor a gente levantar e tomar um bom café.” Ela disse, apesar de ter permanecido agarrada a ele.
“Se é que dá pra chamar aquele café que servem aqui de bom, né?” Respondeu e ela riu.
“A gente pode pegar o carro e comer alguma coisa numa padaria.” Sugeriu, finalmente movimentando-se para levantar da cama. “Você precisa estar no mínimo bem alimentado, já que eu sei que você não conseguiu descansar como deveria.”
“Certo.” Ele também se levantou, indo para o banheiro. “E já sei que vou ter que tomar banho sozinho, porque também tenho que me manter focado.”
Ela assentiu, sorridente. Ele podia até ficar contrariado, mas ela realmente queria que ele se preparasse da melhor forma possível para a apresentação daquela tarde. Ele era talentoso, tinha uma voz maravilhosa, merecia ser conhecido e reconhecido, e tudo isso dependia do pouco tempo que teria no palco, em frente a grandes nomes da música que o avaliariam apenas por alguns minutos. Seu destino dependia daquele momento!
O que ela não sabia era que ele não estava de fato aborrecido. Ele podia até ficar um pouco surpreso, pois nunca ninguém havia se preocupado tanto com ele, mas adorava os cuidados de e não queria que ela saísse do seu lado. Ele a amava demais e não podia mais imaginar seu mundo sem ela, o que podia ser um problema, considerando que, se passasse no teste, precisaria ficar bastante tempo no Rio de Janeiro, longe da cidade de Bom Jesus do Itabapoana, onde ambos haviam nascido e crescido. Talvez tivesse até que se mudar definitivamente para a capital. E talvez isso significasse ficar longe dela.
ligou o chuveiro e tentou relaxar, enquanto a água quente batia em suas costas. tinha sido sua grande incentivadora, insistira para que ele se inscrevesse, se oferecera para levá-lo até o local da audição, mesmo sem jamais ter pego a estrada que unia as duas cidades. Ele sabia que ela nunca se sentiria trocada pela carreira dele, tinha certeza de que nunca o acusaria de abandono. Porém não sabia se ela aceitaria largar tudo para ficar ao lado dele. Nunca tinham conversado sobre isso. Não sabia sequer se tinha o direito de lhe pedir tanto.
“Anda logo, amor! Meu estômago tá roncando.” Ela gritou do quarto, interrompendo suas elucubrações. “E eu tenho que tomar banho também.”
Eles tiveram que cruzar a cidade de carro para chegar aos estúdios onde era gravado o programa. observava tudo, imaginando como seria morar em um lugar como aquele. De seu lugar privilegiado no banco do carona, de vez em quando também observava dirigindo, concentrada para não errar o caminho que aprendera no dia anterior, a testa um pouco franzida.
não estava nervoso com a expectativa de ser ouvido por artistas que ele escutara e admirara, ao longo de sua vida, e já sabia exatamente quem escolher como técnico, se houvesse a oportunidade. No entanto, ainda estava apreensivo em relação à possibilidade de ter que enfrentar uma próxima etapa sem , de enfrentar a cidade grande sem ela, uma vida nova sem ela.
Ele colocou toda essa emoção na música que cantou e conseguiu fazer com que todos os jurados o quisessem em seus times. Conversou com eles, fez sua escolha, em meio a gargalhadas e lágrimas, mas foi o abraço dela o auge daquele momento de alegria e realização. Sem ela, ele sabia que não aproveitaria tudo o que estava por vir da mesma maneira, e só estando em seus braços ele conseguia afastar, por algum tempo, os pensamentos que estavam agitando seu coração.
“Eu tinha certeza que você conseguiria!” Ela disse, já de volta ao carro, depois da finalização das filmagens e de ter recebido instruções da produção sobre os próximos ensaios e gravações. “Você viu quantos elogios? Eles amaram você!”
“E eu amo você.” Ele respondeu, dando um beijo rápido nos lábios dela. “Obrigada.”
“Pelo quê?”
“Por estar aqui comigo.”
“E em que outro lugar eu ia querer estar? Eu não perderia isso por nada!” Assegurou, sorridente, e foi tudo de que ele precisava para enfim ter coragem de tirar o peso que carregava nos ombros.
“E você... Você acha que poderia ficar mais?” Perguntou, hesitante. “Talvez até... Se eu precisar vir morar aqui, você viria comigo? Eu sei que você tem sua família, que tem o trabalho. Você é cheia de amigos e...”
Antes que pudesse se tornar prolixo, o beijou e saiu do banco do motorista para o colo dele, sem se importar em olhar se havia gente em volta, observando os dois. Se já não se importava com fofoqueiros maledicentes em Bom Jesus, na capital ela se sentia ainda mais livre para agir como bem quisesse.
“Eu não iria a lugar nenhum, nem se você me enxotasse!” Ela disse, brincalhona. “Eu fiz amizade com um pessoal da produção e com certeza eles me arrumariam um lugarzinho na plateia pra te ver cantar.”
“Você é mesmo minha fã número um, né?”
“E você duvidou disso em algum momento?” Fingiu se ofender, dando um tapinha no braço dele, que riu.
“Mas e os seus pais? E a loja?”
“Eu conversei com meu pai. Ele teria mesmo que me dar umas férias, depois de quatro anos trabalhando, sem parar. Então ele concordou que eu merecia poder ficar aqui, pelo menos até você ganhar. E depois disso... Bem, eu posso deixar definitivamente o negócio da família e ser sua agente. Que tal?”
“Amor!” Repreendeu, mas sem conseguir deixar de sorrir. O jeito otimista dela era adorável. “Eu to falando sério. A minha vida pode mudar muito, e eu queria ter você do meu lado.”
“E eu vou estar.” Afirmou, assumindo uma postura mais serena. “Mesmo em um cenário mais pessimista, o seu lugar não vai ser mais Bom Jesus. E, consequentemente, o meu também não. Eu vou tirar essas férias agora e depois eu to pensando em fazer uma facul aqui no Rio. Os meus pais com certeza não iriam se opor.”
“Cinema?”
“A isso talvez eles se oponham.” Riu, saindo do colo dele e voltando ao banco do motorista. “Mas talvez eu possa convencê-los, se eu tiver um namorado popstar e arrumar logo um estágio com algum artista da televisão. Quem sabe, né? Isso é coisa pra daqui a algum tempo. Por enquanto, a minha maior preocupação é decidir onde nós vamos almoçar porque meu estômago tá roncando.”
“Me falaram de um lugar.” respondeu, explicando onde ficava o restaurante que tinha como especialidade frutos do mar.
tinha razão. Havia coisas que só o tempo poderia dizer, agora que ele estava oficialmente participando de uma competição na qual um monte de outros jovens talentosos adoraria estar.
O que importava era que ela estaria com ele durante a jornada, escrevendo mais uma página daquela história de amor assustadoramente maravilhosa.