Finalizada em: 01/02/2019

Capítulo Único

“Now that you're out of my life
I'm so much better
You thought that I'd be weak without you
But I'm stronger
You thought that I'd be broke without you
But I'm richer
You thought that I'd be sad without you
I laugh harder
You thought I wouldn't grow without you
Now I'm wiser
Though that I'd be helpless without you
But I'm smarter
You thought that I'd be stressed without you
But I'm chillin'
You thought I wouldn't sell without you
Sold 9 million”


É mais fácil viver uma vida de negações a criar coragem para sair de sua zona de conforto. Para null null, sua vida em família era mais importante que qualquer coisa, por isso, ela viveu vários anos à mercê do marido, ouvindo xingamentos e frases que deixavam sua autoestima quase inexistente.
null null era um cantor famoso na adolescência, mas anos mais tarde, foi tomado pelo esquecimento, fadado a viver como um produtor falido, vivendo das migalhas de sua fama distante. Já sua esposa, tentava aumentar a renda da família, ganhando uns trocados a mais com suas obras de ficção, mas tudo aquilo que fazia, por menor que fosse, se tornava um problema para o marido.
- Eles vão comprar o seu livro? - Disse null enquanto tomava um gole de seu copo cheio de cerveja.
- Disseram que gostaram da história, que parece promissor. - Respondeu null enquanto cortava alguns legumes para o almoço. Sua voz não tinha tanta emoção, era apenas mais uma tentativa pra ele. Ele só estaria contente de verdade, se o dinheiro viesse junto. - Mas ainda acho que vai demorar para vingar alguma coisa…
- É porque você é ruim. Se você fosse uma boa escritora, não sofreria com isso. Se você fosse boa, as pessoas iam LUTAR por você nas editoras, e não você que teria que correr atrás disso.
Irritada, a mulher bateu com força na tábua com a faca.
- Você não tem o direito de falar assim comigo, null! Você sabe que estou tentando!
- Tentar não é suficiente, null. Tentar não te faz rico.
- Por que você sempre busca a riqueza ao invés de uma estabilidade gradativa?
- Porque eu penso alto e você não consegue sair do chão por ser tão… Inútil!
No andar de cima, null null ouvia a discussão com a mesma expressão de tédio que a dominava toda a vez que o pai sequer abria a boca para reclamar da faculdade de Cinema da filha.
Ele queria que a filha tocasse os negócios da família como uma produtora musical, mas ele era burro demais para entender que o tal “negócio” já tinha praticamente falido e estava com seus dias contados há tempos.
Voltando a atenção para o roteiro de “Scarface”, ela recolocou os fones de ouvido e esqueceu-se da briga, que continuava mesmo com a filha do casal em casa, estudando.
- Eu sou inútil, null? Eu? Você sabe muito bem que não sou nem a metade dessas coisas que você diz. O imprestável aqui é você, que fica o dia todo em casa e não consegue nem ao menos uma bandinha de fundo de quintal para produzir!
- Eu tento e você sabe!
- Você não tenta, null. Você nunca tenta! E sabe por que? Porque você prefere encher a cara nos bares a procurar talentos de verdade para gravar com você.
- O mundo está em crise, null. Spotify e essas plataformas ferraram com a gente!
- Você pode alugar o estúdio.
- Nem morto.
- Você não ganha dinheiro porque não quer.
- Cala a boca.
- Cala a boca você!
- Você é uma vagabunda imprestável!
- Já se olhou no espelho antes de falar sobre mim?
null respirou fundo e encarou a mulher. Seus olhos não tinham mais sentimentos, enquanto os dela quase transbordaram de lágrimas ao ouvir seu marido, o homem que mais amava no mundo, dizer as coisas horríveis que disse a ela.
- null, eu quero o divórcio.
Antes de tomar fôlego para responder qualquer coisa com a ofensa mais feia que ela poderia achar, null continuou.
- Eu não aguento mais só eu fazer alguma coisa por essa casa. Por essa família. Sua filha está cursando a faculdade mais inútil que poderia ser feita em Nova Iorque. Cinema, null. Sua filha está cursando cinema!
- Ela gosta, null… E ela é boa no que faz. Não sei qual é o seu problema com isso. E o que a faculdade da null tem a ver com o nosso casamento? Você não é mais feliz?
- Há anos que eu não sou feliz, null. Há muitos anos.
null se afastou da pia, encarando o marido com a expressão assustada.
- Você não tá falando sério, né?
null riu, achando graça a incredibilidade da esposa.
- Você realmente acha que não? Você não passa de uma fraca. Você e a null podem apodrecer na falência. Eu vou arrumar um jeito de ficar rico ainda. Sozinho. Vocês vão ver. Você vai implorar para voltar e a null vai sentir vergonha de ter escolhido a faculdade errada.
null negou com a cabeça, sentindo as lágrimas escaparem de seus olhos.
- Isso não é coisa que se fale, null…
Achando graça do choro da esposa, ele riu.
- Vocês duas sempre me desprezaram e eu não posso mais pensar assim? A vida toda minha esposa e minha filha me negaram, me disseram que nada daria certo, mas nunca me ajudaram a fazer. Pois agora, agora é a minha hora da vingança!
null negou com a cabeça de novo e passou por ele aos prantos, ao que se fez arrancar mais uma gargalhada do homem.
- Você é doente! - Gritou ela enquanto se trancava no quarto.
Ao ouvir a gritaria, null desceu as escadas e deu de cara com seu pai, virando a cerveja inteira na boca, sorrindo feito bobo. A filha o encarou com cara de poucos amigos.
- Por que você não vai embora?
O pai olhou para a garota e riu mais.
- Porque a casa é minha.
- Mas eu e minha mãe somos maioria.
Sem entender, ele se aproximou da filha, encarando-a nos olhos.
- Como é?
- Foi isso mesmo que você ouviu… Eu e a minha mãe somos maioria. Estou pedindo para você sair de casa até eu arrumar algum lugar para ir com ela. Nada mais justo, né? Depois que você disse aquelas coisas horríveis para ela. Sobre ela. E sobre mim.
null negou com a cabeça, abrindo mais uma garrafa de cerveja, desta vez sorvendo o líquido diretamente do recipiente de vidro.
- Mas a casa é minha.
- Bom, pai, a casa continua sendo sua, mas até eu e minha mãe arrumarmos um lugar, nós vamos ficar aqui. Mas eu não quero olhar para essa sua cara, então… Se você não quer que eu jogue as suas coisas fora e troque a fechadura da casa sem você saber e te deixe para fora qualquer dia desses… É bom você cooperar.
Com um pouco de medo do que a filha seria capaz de fazer, null abre mão da casa temporariamente, e sai no mesmo dia com uma muda de roupas e sem as chaves.
Depois de se ver livre do pai, null vai até o quarto da mãe e bate na porta, esperando por alguma resposta. A mãe não responde e mesmo sem saber se poderia entrar, a garota abre a porta e se senta na cama.
- Ele foi embora. - Diz baixinho, olhando a mãe com a cabeça enterrada no travesseiro.
Apesar da idade das duas, a semelhança entre elas era inegável. O mesmo cabelo grosso e escuro, os mesmos olhos expressivos e o mesmo corpo desenhado e esguio.
- Você o mandou embora? - Pergunta null, levantando o rosto com os olhos vermelhos e inchados de choro.
- Achei que já estava na hora de você deixar as coisas que não estão à sua altura para trás.
- Ele ainda é meu marido.
- Mas ele não te ama mais.

XXX


Quando alguém morre ou sai das nossas vidas, passamos pelo que a psicologia chama de “fases do luto”. A primeira é a negação, onde é difícil aceitar que o ente querido se foi, e que não existe nada a se fazer para mudar a situação. A segunda é a raiva, e é quando nos culpamos ou culpamos a outra pessoa por ter ido embora e por não ter feito nada.
A terceira fase é a barganha, que é quando pensamos que as coisas possam ser diferentes, e que ainda há alguma chance. A quarta fase é a depressão, que nos faz sentir impotentes e quase sempre nos lembra que somos incapazes. Por fim, a quinta e última fase do luto é a aceitação, quando finalmente entendemos que não há mais nada a se fazer.
No entanto, null não pode se dar ao luxo de viver todas as fases de seu luto. Por pressão de sua filha, null saiu de casa, mas isso não significava que ele as deixariam em paz.
Todos os dias ele aparecia lá e exigia que as duas saíssem da casa o mais rápido possível, pois ele não tinha como bancar as despesas de um hotel por muito tempo. Todos os dias ele brigava com a ex-mulher e com a filha para que elas liberassem a casa antes mesmo da papelada do divórcio.
Com raiva, um dia null atendeu a porta e gritou para que seu pai as deixassem em paz, já que elas estavam em busca de algum lugar mas ainda não tiveram chance de desocupar a casa.
null percebe que a filha está agitada e vai até ela para entender o que está acontecendo.
- O que houve, null?
- O seu ex-marido que houve, mãe! Ele veio aqui de novo implorando pra gente sair da casa. Ele não entende que você ainda não está em condições?
- Ah filha, você sabe como é… - null suspirou e pegou a mão de null com firmeza. - Vamos sair daqui logo. Você vai ver. Esse final de semana vamos visitar alguns estúdios. O que acha?
null deu de ombros, um pouco desinteressada.
- Não sei por que não podemos ficar aqui…
- Ele não vai pagar nossas despesas, null. Você sabe que essa casa é bem cara.
- Mas você não vai se tornar uma escritora logo?
null suspirou. null às vezes não notava, mas agia exatamente como o pai, aquele que tanto odiava.
- Não sei, null. É tudo uma questão de tempo. Eu sei que vai acontecer, mas vai ser no tempo certo! ‘Cê vai ver.
Ainda sem botar muita fé na mãe, null apenas assentiu. Era pior se levantassem uma discussão sobre o assunto. Mas era totalmente imprescindível que elas saíssem de lá antes que o despejo viesse.
- Só não esquece que a casa tá no nome dele. Por favor.
Sem querer discutir também, null fez que sim com a cabeça e se virou para o quarto, entrando no cômodo e se enfiando na cama novamente. Aquilo tirava a filha do sério, mas em respeito às fases do luto de sua mãe, a jovem decidiu não falar nada.
Para null, tinha sido difícil demais ver a mãe na situação em que estava, sem poder fazer nada. Era necessário que ela também fizesse algo por si, por isso, arrumou outro emprego para ajudar nas despesas da casa, e também no aluguel do apartamento que elas pensavam em se mudar.
Naquela noite, no entanto, null estava aprontando a pior das surpresas que viriam bagunçar ainda mais as cabeças de null e null.
No meio da madrugada, o ex-marido de null bateu com força na porta, dizendo que estava com um mandato para ela liberar a casa. Sonolentas, mãe e filha acordaram e deram de cara com null, que segurava um documento assinado por autoridades, que davam a ele o total comando da casa, naquela noite.
- null, a gente nem sabe para onde vamos ainda! Você não pode simplesmente jogar as nossas coisas na rua!
- Na verdade, eu posso sim!
Coçando a cabeça, null suspirou.
- Olha só, cara. Eu sei que você quer a casa, eu sei que você PRECISA dessa mansão caindo aos pedaços desse jeito, mas escuta… A gente ainda tá procurando!
- Então, cara. Eu ainda sou o seu pai, o dono dessa casa. E eu não quero mais vocês dentro dela! E fui até a justiça para conseguir o que eu queria.
Sorrindo maliciosa, null esperou ele se calar e finalmente tomou fôlego:
- O que você acharia se eu divulgasse essa história na internet com o seu nominho, hein? Se lembra dos meus seguidores?
Apesar do estúdio falido e da carreira esquecida do pai, null era uma das garotas mais populares do colégio que estudou em Upper East Side, um dos bairros mais ricos da cidade. Ela fez sua fama se transformar de tal forma, que conseguiu manter mais de 10 mil seguidores em seu Twitter.
Engolindo em seco, null negou com a cabeça.
- Você é baixa e chantagista, menina.
- Eu aprendi com o melhor. E aí, o que vai ser? Vai expulsar a gente daqui, ou eu vou ter que apelar para o meu plano B? Você vai escolher o caminho mais fácil… Ou o mais difícil?
Grunhindo, null concordou com a cabeça, mas se apressou logo em falar.
- Podem ficar até essa semana acabar. Mas segunda estarei aqui. E espero que não seja surpreendido.
null sorriu vitoriosa e finalmente fechou a porta. Ao encarar a mãe, a garota suspirou e respirou bem fundo.
- Chegou a hora, mãe.

XXX


Naquela semana, null e null não pararam em casa um minuto. Foram do Queens à Manhattan, visitaram todos os bairros e estúdios da região, fizeram contas e começaram a separar as coisas. A parte mais difícil era perceber que mais da metade das coisas teriam que ser doadas ou vendidas, pois não cabiam no novo apartamento.
Tinham escolhido um apartamento simples, virado para a rua, próximo ao metrô, em Manhattan. Apesar de pequeno, o local era ideal para as duas, que já tinham visto alguns bicos para fazerem por ali em barzinhos e lanchonetes.
null estava com um estágio em vista, esperava apenas a confirmação na próxima semana para já começar. Com receio do pai, ela manteve em segredo até mesmo da mãe. Já null, tinha conseguido um bico em um bar bem próximo de casa e um emprego fixo na Five Napkin Burguer, uma das lanchonetes mais famosas de NY, próximo da Times Square.
Depois de decidir o que iria para a mudança e o que ficaria, mãe e filha escolheram como fariam o transporte e a mudança. Em duas viagens com dois carros, elas entregaram as chaves para o caseiro e foram embora.
Ao entrarem no apartamento novo, a sensação de liberdade as preencheu, fazendo a paz entrar junto do vento gelado.
- Você é uma sobrevivente, mãe.
- Você também é, minha filha.

Três meses depois…


A vida de null estava puxada demais para que ela pudesse aguentar por muito tempo. Os braços doíam de carregar bandejas pesadas pela lanchonete, os olhos estavam sempre inchados de choro porque os bêbados do bar assediaram ela.
Cansada de ouvir a mãe reclamar da vida e dos percalços de seus dois empregos, null decidiu usar o seu dom de escrita a seu favor.
Em uma conversa com sua supervisora, ela questionou se poderia fazer algum roteiro experimental e apresentá-lo futuramente para um dos produtores que comprava as ideias de lá para vender aos streamings, estúdios e canais de TV como a Netflix, a Warner e a Sony.
- E sobre o que seria esse maravilhoso roteiro, null? - Perguntou Natalie Helman, curiosa.
- Sobre a história da minha mãe.
Sentida e tocada pelo sentimento puro de sua estagiária, Natalie decide ajudar null com a apresentação do roteiro para o caça-talentos.
- Eu tenho certeza que você vai conseguir.
Animada com o seu mais novo desafio, null foi para sua cafeteria favorita e se dispôs a escrever. Foram três cafés, duas torradas e um croissant para finalizar a história toda.
Ao chegar em casa, null sorriu boba. A mãe tinha chegado um pouco mais cedo, e estava aproveitando para escrever seu romance. Com os óculos na ponta do nariz e as mãos ágeis que não paravam de digitar um minuto, null colocava no papel tudo aquilo que ela gostaria que acontecesse com ela, naquele instante. Ela imaginava cada cena, se deleitava com cada parágrafo, descrevia cada simples movimento.
A escrita fluía por entre seus dedos e ela deixava a história criar vida pela sua ótica boêmia e romântica. Ao escrever, ela sentia que estava fazendo mágica, sentia que estava fazendo um milagre do qual todos poderiam sentir quando finalmente lessem suas histórias.
Em silêncio, null seguiu para o quarto e fechou a porta, deixando sua mãe à vontade para escrever e voar longe com suas histórias. Em seu quarto, ela deu os últimos ajustes no roteiro e enviou para Natalie na mesma hora. Minutos depois, ela recebeu uma mensagem que a deixaria com borboletas no estômago e cheia de esperança durante alguns dias.
“Enviado com sucesso para Robert Gringer, o caça-talentos de todo mundo. Espero a resposta dele amanhã. Durma bem, sweetie. Xo.”
Animada, null comemorou de forma contida e, apesar de estar cansada, não conseguiu dormir. Na manhã seguinte, ela chegou na produtora antes mesmo de sua supervisora. E a pessoa que ela trouxe a tiracolo foi a melhor das surpresas.
- null! Quero apresentar você, oficialmente, para o meu amigo Robert! Ele já conheceu vários roteiristas famosos. Ele disse que o Shyamalan é hilário!
Rindo, null acenou com a cabeça e estendeu a mão, da qual Robert depositou um leve beijo, deixando null envergonhada.
- É um prazer, senhor Gringer.
- Pode me chamar de Robert, senhorita.
Vermelha como um pimentão, null voltou a mão para o lugar e recuperou a compostura.
Eles caminharam em silêncio até a sala de reunião, onde Natalie se despediu dos dois.
- Vou deixar vocês à sós. Robert disse que quer saber várias coisas de seu roteiro. Nos falamos mais tarde!
Caminhando lentamente até a mesa, null limpou as mãos na saia de moletom que usava. Ela estava nervosa e ansiosa para saber se ele compraria ou não sua ideia.
- null… Se importa se eu te chamar de null? Eu não gosto de formalidades, elas me deixam sem graça.
Respirando um pouco mais aliviada, null concordou.
- Sem problemas. Pode chamar de null, sim.
- Ótimo! Eu queria dizer que eu adorei o seu roteiro. A sua história é complexa, é romântica e dramática. Os pontos de virada são incríveis, e eu adorei a humanização de todos os personagens. É claro que quando vendermos a ideia, ela não vai continuar da forma original, os outros roteiristas também vão mexer, mas acredito que seja tudo em prol da produção… E aí, vamos fechar negócio?
Em choque, null piscou os olhos duas vezes antes de falar alguma coisa.
- V-você vai comprar mesmo o meu roteiro?
- É claro! Você achava que não? Survivor vai ser um sucesso… Eu e a Natalie já pensamos em vender até com sugestão de trilha sonora…
- Sério? E qual seria?
- Beyoncé.
Em choque, de novo, null começou a rir.
- Isso é surreal demais.
- Prepare-se mocinha, você vai ficar rica.

XXX


Ao chegar em casa à noite, depois de assinar a venda do roteiro, null chegou em casa afobada.
- MÃE!
null levantou-se rapidamente, deixando o computador na mesinha de centro e indo até a filha, que pulava de alegria.
- O que foi?
- A gente vai ficar rica.
- Como assim, null?
- Eu fiz um roteiro com base na sua história. E eu vendi. Para Netflix.
Em êxtase, null começou a rir. Tudo o que null menos esperava, era virar um meme ou ver a filha e ela mais ricas que ele.
- Eu não acredito, filha…
- Pois pode acreditar. Fui em uma reunião hoje. Eles adoraram o roteiro e querem conhecer você, mais para frente. Vamos participar até do clipe promocional.
- Como assim?
- Sabe aqueles clipes que eles veiculam para deixar o filme mais interessante? Então… Eles já decidiram quem vão chamar.
- E quem é?
- Surpresa…
null abraçou a filha forte e suspirou.
- Eu estou tão feliz, filha.
- Eu também, mãe… Eu também…

Oito meses depois…


Com a mesma rapidez que compraram o roteiro, eles começaram a filmar. Acompanhando de perto as gravações, null recebia uma diária suficiente para deixar sua mãe em casa, escrevendo seus livros de sucesso e fazendo suas artes na cozinha, mas naquela manhã, as duas saíram bem cedo e foram para um estúdio de dança na Times Square, conhecer, finalmente, quem faria a trilha sonora do filme.
null estava tranquila, mas null estava ansiosa.
- Eu não acredito que você não vai me dar dicas…
- Claro que não, perderia totalmente a graça!
Meio irritadinha, null seguiu a filha e entrou no elevador.
- Para de fazer manha… Eu sei que você vai amar.
Logo a porta do elevador se abriu, revelando um estúdio de ballet contemporâneo, repleto de espelhos e barras de apoio. Uma voz conhecida fez-se ouvir, comandando os bailarinos.
null virou-se para o som e quase caiu de costas quando notou quem era.
- É A BEYONCÉ?
- Sh! Sim, mãe, é a Beyoncé. Ela queria te conhecer, mas se acalma, por favor!
Dando alguns pulinhos, null esperou ela terminar o ensaio e vir até ela e a filha, o que não demorou muito.
- null! Oi, meu bem. Essa é a sua mãe? Meu Deus! Ela é mais bonita pessoalmente!
Rindo, null cumprimentou a rainha do pop com os olhos brilhando em êxtase.
- É um prazer conhecê-la. - Disse null, de forma tímida.
- Ela estava louca pra saber quem ia fazer a trilha do filme dela…
Bey sorriu.
- Espero que eu esteja à altura de vossa majestade, null. - Fazendo uma reverência, a cantora saiu e voltou aos ensaios.
- Ela quer que a gente participe do clipe amanhã…
- Sério?
- Aham… Eu vou em casa te buscar bem cedo e a gente vem gravar, tudo bem?
- Claro! Você acha que eu vou perder isso, filha?
null riu.
- Claro que não… Vai pra casa escrever um pouco. Eu passo lá pra gente tomar café.
Voltando pelo caminho que veio, desta vez sozinha, null entrou no carro e começou a pensar no quanto sua vida mudou tão rápido assim. Ela era uma sobrevivente sim, por ter ficado tanto tempo ouvindo coisas horríveis ao seu respeito sem poder fazer nada. Ela era uma guerreira, porque junto da filha conseguiu superar os problemas. Ela era indestrutível, pois null não se cansava de pisar nela, mas ela seguiu viva.
Ela e a filha ganharam sim, muito dinheiro com o roteiro, mas continuaram morando no mesmo apartamento. Boa parte do dinheiro foi revertida para instituições que apoiam mulheres e crianças que passaram por pesadelos terríveis com pais e maridos violentos.
Por mais que a história das duas não tenha sido tão cruel, era justo reverter o lucro de algo bom para pessoas que precisam de ajuda.
Ao sentar para escrever a frase final de seu livro, ela sorriu. Era sobre a sua história com null e, depois de tudo aquilo, de sofrer com dores físicas e emocionais por tanto tempo, ela pode finalizar sua história com um final feliz.
Ela não precisou desmoralizá-lo, como ele fez. Ela não precisou descer ao fundo como ele fez. E aos tabloides que comentaram sobre o filme e sobre a história de vida de null, ela pode sorrir e dizer que era muito mais feliz.

“I'm a survivor (what), I'm not gon' give up (what)
I'm not gon' stop (what), I'm gon' work harder (what)
I'm a survivor (what), I'm gonna make it (what)
I will survive (what), keep on survivin' (what)”






Fim.



Nota da autora: Essa história é dedicada à todas as mulheres sobreviventes de relacionamentos tóxicos que conseguiram dar a volta por cima depois de anos.
Vocês são guerreiras incríveis.
Obrigada a todos que leram a minha primeira participação em um ficstape. Aguardo vocês nos comentários.
Beijos da G.

P.S.: Mãe, essa é pra você.





Nota da beta: Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


comments powered by Disqus