I.
— ? — chamei ao entrar no apartamento que dividia com meu namorado.
O som da televisão e a pouca claridade vinda da sala me faziam acreditar que ele estava em casa. Tirei meus sapatos altos, deixando-os ao lado da porta e pendurei minha bolsa no cabideiro de madeira escura ao lado da porta.
Caminhei sobre o piso frio até a sala. estava sentado no sofá, exatamente na posição que eu esperava, com uma garrafa verde de cerveja em uma das mãos e o pequeno controle preto na outra. Seus olhos estavam fixos na televisão, assistindo a algum evento esportivo e, se notou minha presença, não demonstrou. Algo estava errado com ele nos últimos dias e senti um aperto em meu coração. Sentei ao seu lado e só então ele me olhou, sorrindo fraco, mas não me convenceu.
— Oi, . — murmurou, se inclinando para beijar minha testa. Sorri com seu carinho e apoiei uma das mãos em sua coxa, chegando mais perto.
— Como foi seu dia? — questionei, ansiosa por qualquer pista de por que agia daquela maneira comigo.
Ele deu de ombros, voltando a olhar a televisão. A cada dia que passava, eu tinha a sensação de que seus olhos estavam mais vazios, como se as emoções estivessem sendo sugadas de seu corpo aos poucos. O pensamento quase me fez chorar.
— Bom. — murmurou, sem convicção alguma. — O treinador mudou um pouco o treino e fiquei mais cansado.
Assenti e apoiei a cabeça em seu ombro. era jogador profissional de basquete. Jogava desde a época da universidade, talvez até antes e, graças ao seu talento, sempre teve uma posição de destaque no time. Assim que se formou, alguns times entraram em contato para contratá-lo. Eu nunca o havia visto tão feliz como naquela época.
Mesmo nos dias em que quase chegava a exaustão durante os treinos, ele chegava em casa com um grande sorriso no rosto e os olhos brilhando, ansioso para me contar tudo que havia acontecido. Eu não estava nem perto de ser uma grande entendedora de basquete. Sabia o suficiente para assistir seus jogos. Mas não me importava de ouvi-lo por horas contando como o arremesso de seus colegas haviam melhorado e que tinha certeza que venceriam o próximo jogo. Há algumas semanas, ele começou a chegar cada vez mais quieto, alegando cansaço e não compartilhava mais os detalhes de seu dia comigo.
Era difícil lidar com a drástica mudança em seu comportamento, mas eu tinha esperanças de que ele me contaria tudo assim que estivesse pronto.
— Já jantou?
Ele assentiu e suspirei, dando um beijo em sua bochecha antes de me levantar. Fiz meu caminho até a cozinha, começando a preparar minha refeição. Não demorou muito para que minha comida estivesse pronta e a ingeri lentamente, pensando nos meus afazeres para o próximo dia. Então fui até o banheiro tomar um banho longo para colocar meu pijama quente.
— ? — chamei, colocando a cabeça para dentro do cômodo. — Eu já estou indo dormir.
— Tudo bem. — murmurou.
Me aproximei e inclinei, beijando-o rapidamente nos lábios. Aqueles pequenos gestos de amor eram o que me mantinham aquecida nos últimos dias.
— Boa noite. Eu te amo. — sussurrei.
Ele sorriu e dessa vez parecia um pouco mais sincero. Com sorte, eu estava quebrando a barreira entre nós.
— Eu também, .
Meu coração bateu um pouco mais forte ao ouvir aquelas palavras. Dei as costas e fui para o nosso quarto, fechando a porta atrás de mim em uma tentativa de abafar um pouco o som da televisão. Suspirei, tentando entender como minha vida estava naquele estado. Eu amava mais do que cabia em mim e era cada dia mais doloroso não saber o que se passava em sua cabeça. Eu mal conseguia me lembrar como era sua risada, que antes preenchia nosso apartamento a todo momento.
Me deitei na cama e fitei o teto. Mesmo sabendo que estava a apenas alguns metros de distância, eu tinha saudades dele e como tudo era mais fácil no começo do relacionamento. As pessoas diziam que isso acontecia, mas eu não conseguia entender completamente. Desde o nosso primeiro encontro, foi muito fácil para eu me conectar com ele e, definitivamente, não sabia lidar com o enfraquecimento dessa ligação. Como um estalo, me lembrei do diário que eu tinha quando era mais nova. Não se passava de um pequeno caderno surrado que antes servia para me dar algum rumo na vida. Escrever sempre me ajudava a organizar os pensamentos.
Levantei e abri a porta do meu lado do guarda-roupa branco. No fundo da pequena prateleira, haviam alguns objetos com grande valor emocional. A maioria deles, presentes de ao longo dos nossos sete anos de namoro. Não demorei para encontrar o pequeno caderno com capa desgastada e páginas sujas em que escrevi boa parte de meus pensamentos na época da faculdade.
Voltei a cama, sentando com as pernas cruzadas e comecei a folhear meu antigo diário. Não demorou muito para que eu encontrasse a página sobre o dia em que eu conheci . Eu era capaz de lembrar aquele dia com perfeição.
Eu estava sentada em uma das mesas de madeira distribuídas pelo campus da universidade. Para minha felicidade, poucos alunos passavam por ali e eu conseguia ler meu livro em paz, sem gritos e conversas animadas interrompendo meus pensamentos a cada cinco segundos. Era assim que eu passava a maior parte de minhas tardes. Até o dia que apareceu.
Sua sombra havia atrapalhado minha luz de leitura e esse foi o único motivo para que eu erguesse minha cabeça. Seus lábios se moviam mas eu não conseguia ouvi-lo graças a música dos fones de ouvido, um grupo que eu conheci naquela semana e acabou se tornando um de meus favoritos. Tirei um dos fones brancos, arqueando a sobrancelha e riu.
Seu cabelo claro parecia estar molhado e jogado para trás. Vestia uma jaqueta preta esportiva e bermuda da mesma cor. Seus olhos castanhos foram o que mais chamaram minha atenção, além de seu sorriso.
— Pois não?
— Tudo bem? — tentei disfarçar, mas seu sorriso me deixava desnorteada. Assenti timidamente e marquei a página do livro antes de fechar e colocá-lo sobre a mesa. — Meu nome é . — anunciou, sentando-se de frente para mim.
Estranhei seu comportamento, já que raramente interagia com qualquer aluno que não estivesse em uma de minhas classes.
— Somin . — respondi.
— O que está lendo? — perguntou, indicando o livro sobre a mesa entre nós.
— Algo que meu professor recomendou. — encolhi os ombros e ele fez uma careta antes de colocar sua bolsa no banco ao seu lado.
— Eu nunca leio esses.
Ri de sua expressão e ele pareceu satisfeito com a minha reação.
— Por que está aqui? — perguntei, já que nunca fui uma pessoa muito paciente.
— Eu te vi aqui e achei que talvez quisesse companhia. — deu de ombros. — Você parece uma pessoa legal.
Não pude evitar de rir outra vez.
— Só isso? — arqueei a sobrancelha.
— Bem… Talvez eu já tenha te visto algumas vezes por aqui. E talvez eu tenha prometido a mim mesmo que, se estivesse aqui de novo, eu te chamaria para sair. — sua voz estava mais baixa e percebi que provavelmente estava envergonhado.
Sua posição não era fácil e eu sabia disso. Algo em me fazia gostar dele e, mesmo se quisesse muito, não conseguiria dizer não para aqueles olhos gentis.
— Mesmo? — Ele assentiu. Parecia apreensivo com a minha resposta. — Está livre amanhã à noite?
respirou fundo e seus ombros relaxaram, o que me fez abrir um grande sorriso.
— Sim, senhorita! — respondeu prontamente.
Abri o primeiro bolso de minha mochila e peguei uma caneta preta, antes de puxar um pequeno pedaço de papel, desamassando-o antes de escrever meu endereço cuidadosamente. Provavelmente não era a melhor ideia do mundo, mas foi o que consegui fazer naquele momento. Ele me olhava com curiosidade, quase se curvando por cima da mesa para ver o que eu fazia. Guardei a caneta assim que terminei e deslizei o papel para ele.
— Pode me buscar as sete? — propus. — Podemos nos encontrar em outro lugar, se for melhor para você.
— Sim, claro! Estarei lá.
Sorri e sustentei seu olhar por alguns segundos, até que seu celular tocou e ele se levantou num pulo, xingando.
— Eu preciso ir agora, . — explicou. — Até amanhã. Foi muito bom falar com você. E obrigada! — minha confusão deveria estar clara em meu rosto, pois ele sentiu a necessidade de completar. — Por me dar uma chance. Você não vai se arrepender. — pausou. — Bem, eu espero.
Ri e nos despedimos rapidamente. Observei conforme ele se afastava a passos largos, meu coração batendo mais rápido por conta da nossa conversa. Eu não tinha a mínima ideia de por que tinha passado meu endereço a um estranho ou até mesmo aceitado de sair com ele. Só pareceu certo e, de algum modo, eu sabia que não iria me decepcionar.
Suspirei, fechando o diário e guardando-o na primeira gaveta do criado mudo. Era engraçado pensar em como desde o primeiro momento, eu havia gostado de . Algo simplesmente me dizia que eu deveria conhecê-lo melhor e lhe dar uma chance. Já havíamos passado por muita coisa juntos e eu não podia desistir agora.
O som da televisão e a pouca claridade vinda da sala me faziam acreditar que ele estava em casa. Tirei meus sapatos altos, deixando-os ao lado da porta e pendurei minha bolsa no cabideiro de madeira escura ao lado da porta.
Caminhei sobre o piso frio até a sala. estava sentado no sofá, exatamente na posição que eu esperava, com uma garrafa verde de cerveja em uma das mãos e o pequeno controle preto na outra. Seus olhos estavam fixos na televisão, assistindo a algum evento esportivo e, se notou minha presença, não demonstrou. Algo estava errado com ele nos últimos dias e senti um aperto em meu coração. Sentei ao seu lado e só então ele me olhou, sorrindo fraco, mas não me convenceu.
— Oi, . — murmurou, se inclinando para beijar minha testa. Sorri com seu carinho e apoiei uma das mãos em sua coxa, chegando mais perto.
— Como foi seu dia? — questionei, ansiosa por qualquer pista de por que agia daquela maneira comigo.
Ele deu de ombros, voltando a olhar a televisão. A cada dia que passava, eu tinha a sensação de que seus olhos estavam mais vazios, como se as emoções estivessem sendo sugadas de seu corpo aos poucos. O pensamento quase me fez chorar.
— Bom. — murmurou, sem convicção alguma. — O treinador mudou um pouco o treino e fiquei mais cansado.
Assenti e apoiei a cabeça em seu ombro. era jogador profissional de basquete. Jogava desde a época da universidade, talvez até antes e, graças ao seu talento, sempre teve uma posição de destaque no time. Assim que se formou, alguns times entraram em contato para contratá-lo. Eu nunca o havia visto tão feliz como naquela época.
Mesmo nos dias em que quase chegava a exaustão durante os treinos, ele chegava em casa com um grande sorriso no rosto e os olhos brilhando, ansioso para me contar tudo que havia acontecido. Eu não estava nem perto de ser uma grande entendedora de basquete. Sabia o suficiente para assistir seus jogos. Mas não me importava de ouvi-lo por horas contando como o arremesso de seus colegas haviam melhorado e que tinha certeza que venceriam o próximo jogo. Há algumas semanas, ele começou a chegar cada vez mais quieto, alegando cansaço e não compartilhava mais os detalhes de seu dia comigo.
Era difícil lidar com a drástica mudança em seu comportamento, mas eu tinha esperanças de que ele me contaria tudo assim que estivesse pronto.
— Já jantou?
Ele assentiu e suspirei, dando um beijo em sua bochecha antes de me levantar. Fiz meu caminho até a cozinha, começando a preparar minha refeição. Não demorou muito para que minha comida estivesse pronta e a ingeri lentamente, pensando nos meus afazeres para o próximo dia. Então fui até o banheiro tomar um banho longo para colocar meu pijama quente.
— ? — chamei, colocando a cabeça para dentro do cômodo. — Eu já estou indo dormir.
— Tudo bem. — murmurou.
Me aproximei e inclinei, beijando-o rapidamente nos lábios. Aqueles pequenos gestos de amor eram o que me mantinham aquecida nos últimos dias.
— Boa noite. Eu te amo. — sussurrei.
Ele sorriu e dessa vez parecia um pouco mais sincero. Com sorte, eu estava quebrando a barreira entre nós.
— Eu também, .
Meu coração bateu um pouco mais forte ao ouvir aquelas palavras. Dei as costas e fui para o nosso quarto, fechando a porta atrás de mim em uma tentativa de abafar um pouco o som da televisão. Suspirei, tentando entender como minha vida estava naquele estado. Eu amava mais do que cabia em mim e era cada dia mais doloroso não saber o que se passava em sua cabeça. Eu mal conseguia me lembrar como era sua risada, que antes preenchia nosso apartamento a todo momento.
Me deitei na cama e fitei o teto. Mesmo sabendo que estava a apenas alguns metros de distância, eu tinha saudades dele e como tudo era mais fácil no começo do relacionamento. As pessoas diziam que isso acontecia, mas eu não conseguia entender completamente. Desde o nosso primeiro encontro, foi muito fácil para eu me conectar com ele e, definitivamente, não sabia lidar com o enfraquecimento dessa ligação. Como um estalo, me lembrei do diário que eu tinha quando era mais nova. Não se passava de um pequeno caderno surrado que antes servia para me dar algum rumo na vida. Escrever sempre me ajudava a organizar os pensamentos.
Levantei e abri a porta do meu lado do guarda-roupa branco. No fundo da pequena prateleira, haviam alguns objetos com grande valor emocional. A maioria deles, presentes de ao longo dos nossos sete anos de namoro. Não demorei para encontrar o pequeno caderno com capa desgastada e páginas sujas em que escrevi boa parte de meus pensamentos na época da faculdade.
Voltei a cama, sentando com as pernas cruzadas e comecei a folhear meu antigo diário. Não demorou muito para que eu encontrasse a página sobre o dia em que eu conheci . Eu era capaz de lembrar aquele dia com perfeição.
Eu estava sentada em uma das mesas de madeira distribuídas pelo campus da universidade. Para minha felicidade, poucos alunos passavam por ali e eu conseguia ler meu livro em paz, sem gritos e conversas animadas interrompendo meus pensamentos a cada cinco segundos. Era assim que eu passava a maior parte de minhas tardes. Até o dia que apareceu.
Sua sombra havia atrapalhado minha luz de leitura e esse foi o único motivo para que eu erguesse minha cabeça. Seus lábios se moviam mas eu não conseguia ouvi-lo graças a música dos fones de ouvido, um grupo que eu conheci naquela semana e acabou se tornando um de meus favoritos. Tirei um dos fones brancos, arqueando a sobrancelha e riu.
Seu cabelo claro parecia estar molhado e jogado para trás. Vestia uma jaqueta preta esportiva e bermuda da mesma cor. Seus olhos castanhos foram o que mais chamaram minha atenção, além de seu sorriso.
— Pois não?
— Tudo bem? — tentei disfarçar, mas seu sorriso me deixava desnorteada. Assenti timidamente e marquei a página do livro antes de fechar e colocá-lo sobre a mesa. — Meu nome é . — anunciou, sentando-se de frente para mim.
Estranhei seu comportamento, já que raramente interagia com qualquer aluno que não estivesse em uma de minhas classes.
— Somin . — respondi.
— O que está lendo? — perguntou, indicando o livro sobre a mesa entre nós.
— Algo que meu professor recomendou. — encolhi os ombros e ele fez uma careta antes de colocar sua bolsa no banco ao seu lado.
— Eu nunca leio esses.
Ri de sua expressão e ele pareceu satisfeito com a minha reação.
— Por que está aqui? — perguntei, já que nunca fui uma pessoa muito paciente.
— Eu te vi aqui e achei que talvez quisesse companhia. — deu de ombros. — Você parece uma pessoa legal.
Não pude evitar de rir outra vez.
— Só isso? — arqueei a sobrancelha.
— Bem… Talvez eu já tenha te visto algumas vezes por aqui. E talvez eu tenha prometido a mim mesmo que, se estivesse aqui de novo, eu te chamaria para sair. — sua voz estava mais baixa e percebi que provavelmente estava envergonhado.
Sua posição não era fácil e eu sabia disso. Algo em me fazia gostar dele e, mesmo se quisesse muito, não conseguiria dizer não para aqueles olhos gentis.
— Mesmo? — Ele assentiu. Parecia apreensivo com a minha resposta. — Está livre amanhã à noite?
respirou fundo e seus ombros relaxaram, o que me fez abrir um grande sorriso.
— Sim, senhorita! — respondeu prontamente.
Abri o primeiro bolso de minha mochila e peguei uma caneta preta, antes de puxar um pequeno pedaço de papel, desamassando-o antes de escrever meu endereço cuidadosamente. Provavelmente não era a melhor ideia do mundo, mas foi o que consegui fazer naquele momento. Ele me olhava com curiosidade, quase se curvando por cima da mesa para ver o que eu fazia. Guardei a caneta assim que terminei e deslizei o papel para ele.
— Pode me buscar as sete? — propus. — Podemos nos encontrar em outro lugar, se for melhor para você.
— Sim, claro! Estarei lá.
Sorri e sustentei seu olhar por alguns segundos, até que seu celular tocou e ele se levantou num pulo, xingando.
— Eu preciso ir agora, . — explicou. — Até amanhã. Foi muito bom falar com você. E obrigada! — minha confusão deveria estar clara em meu rosto, pois ele sentiu a necessidade de completar. — Por me dar uma chance. Você não vai se arrepender. — pausou. — Bem, eu espero.
Ri e nos despedimos rapidamente. Observei conforme ele se afastava a passos largos, meu coração batendo mais rápido por conta da nossa conversa. Eu não tinha a mínima ideia de por que tinha passado meu endereço a um estranho ou até mesmo aceitado de sair com ele. Só pareceu certo e, de algum modo, eu sabia que não iria me decepcionar.
Suspirei, fechando o diário e guardando-o na primeira gaveta do criado mudo. Era engraçado pensar em como desde o primeiro momento, eu havia gostado de . Algo simplesmente me dizia que eu deveria conhecê-lo melhor e lhe dar uma chance. Já havíamos passado por muita coisa juntos e eu não podia desistir agora.
II.
Na noite seguinte, após várias horas de trabalho ainda mais longas, a situação no apartamento não havia mudado muita coisa. Para ser sincera, não havia mudado nada. Bem, talvez minha frustração estivesse maior. estava sentado no sofá, assistindo a algum jogo de algum esporte que não me importava. Tentei conversar novamente, sem sucesso, pois ele não me deu muita atenção. Então, como na noite anterior, jantei, tomei banho, disse que o amava e fui para o quarto ler meu diário outra vez, já que, aparentemente, era tudo que eu tinha.
Folheei por algum tempo até encontrar as folhas que narravam meu primeiro encontro com . Para minha surpresa, eu havia detalhado muito mais do que me lembrava. Com certeza, não queria me esquecer de nenhum momento daquela noite especial. Sorri com o pensamento.
Assim que terminei minha maquiagem, percebi que minhas mãos tremiam e era praticamente um milagre que ela estivesse boa. Respirei fundo algumas vezes antes de me olhar no espelho outra vez. Minha vida amorosa estava longe de ser agitada, ou até mesmo movimentada, e isso me deixava preocupada. Eu havia gostado de alguns rapazes durante o ensino médio, claro, mas não havia acontecido muita coisa. Acho que eu era muito antiquada para os padrões do resto do mundo. Não saberia trocar saliva com outro ser humano simplesmente porque poderia ser bom. Eu gostava de conhecer muito bem alguém antes de me relacionar e a maioria das pessoas não tinha tempo para isso, apesar de fazer mais sentido.
Isso é, até aparecer e me convidar para sair. Ele tinha um charme que me intrigava e, quando dei por mim, já havia aceitado. Sorri com o pensamento antes de ver me observando pelo espelho.
— Nunca te vi tão ansiosa para encontrar alguém, unnie. — provocou, sorrindo um tanto maliciosa.
— Eu só quero acabar com isso logo. — menti.
— Desculpa, você disse que só quer beijá-lo logo? Ah sim, nisso eu acredito.
Cometi a besteira de contar para como nos conhecemos na faculdade no dia anterior e como ele havia me convidado para sair. Ela não entendeu completamente e me importunou até que eu contasse que tinha algo nele que me atraia nunca e, desde então, minha colega de quarto me lembrava a cada cinco minutos como eu o achava bonito. Não que precisasse ser lembrado.
Revirei os olhos e ela riu escandalosamente, se jogando em minha cama em seguida.
— Eu só estou brincando, . Não leve tudo tão a sério. — murmurou ao ver minha expressão insatisfeita.
Assenti e me virei na frente do espelho, tentando ter uma ideia um pouco mais completa de qual era minha aparência, já que não estava completamente certa da escolha e ainda tinha alguns poucos minutos para mudar de ideia.
— Você está linda, unnie. — ela reforçou e sorri em agradecimento.
era insuportável às vezes, mas de alguma forma me lembrava minhas irmãs e isso me fazia ter um carinho especial por ela. Peguei o celular que terminava de carregar para conferir o horário mais uma vez. Já haviam se passado alguns minutos do combinado. estava atrasado. Tentei disfarçar minha frustração, mas apesar de nos conhecermos há apenas seis meses, sabia exatamente o que eu pensava.
— Ninguém é tão pontual quanto você, unnie. Não se preocupe. Ele não teria coragem de te dar um bolo. — pausou. — Eu mesma o procuraria e socaria se esse fosse o caso.
Ri de sua solução e concordei, desplugando o celular do carregador e o coloquei na pequena bolsa preta que eu levaria, aproveitando para conferir pela última vez se tinha tudo que poderia precisar. Graças a minha ansiedade e pontualidade, eu já estava pronta há alguns minutos. Me olhei no espelho pela última vez e anunciei que o esperaria na sala, na pequena ilusão de que isso pudesse me deixar um pouco mais perto do momento esperado. se juntou a mim, rapidamente ligando a televisão e se sentando no sofá. Não demorou muito para que ela escolhesse um programa ruim sobre conflitos familiares para nos distrair. A esposa expunha os péssimos hábitos do marido em rede nacional e ele não tinha a menor vergonha, se defendendo de todas as acusações como se fosse o dono da razão. Eu odiava esse tipo de entretenimento, mas, para a minha infelicidade, era um dos favoritos de .
Eu estava inquieta, checando minhas unhas vermelhas e me ajeitando no sofá a todo momento quando a campainha finalmente tocou, me assustando. Meu coração acelerou pelo nervosismo e se adiantou para atender a porta, fazendo um sinal para que eu ficasse onde estava. Ela abriu a porta e inconscientemente me inclinei um pouco, na tentativa de vê-lo.
— Sim? — ela disse e, pelo seu tom de voz, sabia que arqueava a sobrancelha.
Alguns segundos de silêncio seguiram antes de se pronunciar.
— Oi… hm, estou procurando por ? Eu não tenho certeza de qual seja o sobrenome dela, o que, pensando agora, é bem idiota de minha parte. Talvez eu esteja no apartamento errado? — a afirmação acabou soando como uma pergunta devido a seu nervosismo e sorri um pouco ao saber que eu não era a única.
— Ah, sim. Eu sou , dividimos o apartamento. estava se arrumando, verei se já está pronta.
agradeceu e veio em minha direção, sorrindo abertamente.
— O que foi isso? — perguntei enquanto ela conferia minha maquiagem e cabelo.
Ela deu de ombros, passando um dos dedos perto de meu olho e provavelmente corrigindo alguma imperfeição.
— Ele não deve saber que você já estava pronta e esperando pelo traseiro atrasado dele. — fez uma careta antes de sorrir satisfeita com minha aparência. — Aliás, por que não me disse que tem um encontro marcado com a estrela do basquete?
Eu não fazia ideia do que estava falando e minha expressão confusa provavelmente entregou isso.
— Você não sabe? — balancei a cabeça. — Ele é . O . Estrela dos Bears. Há, literalmente, fotos dele espalhadas por todo o campus. — encolhi os ombros e suspirou, desistindo. — O que estou pensando? Você é tão informada quanto uma batata.
— Ei! — protestei e ela riu, antes de se afastar para me olhar.
— Você está perfeita. Vá logo, está esperando.
Assenti e agradeci, me despedindo ao pegar minha bolsa, fazendo meu caminho até a porta. A altura de me surpreendeu novamente e percebi que provavelmente tinha razão sobre ele jogar basquete. Ele abriu seu grande sorriso simpático ao me ver e senti minhas bochechas esquentando.
— Oi, . — murmurou, trocando o peso para a outra perna.
— Oi. — respondi, ligeiramente envergonhada e sem saber o que fazer. — Sinto muito por qualquer coisa que possa ter feito, ela é bastante protetora às vezes. Quase como um chihuahua.
Ele riu de minha comparação e deu de ombros.
— Podemos ir?
Assenti e dei um passo a frente, pronta para fechar a porta branca.
— Estou indo, . Até mais tarde. — avisei.
— Quero ela em casa a meia noite, ! — gritou antes que eu tivesse chance de fechar a porta completamente e pude ouvi-lo rindo atrás de mim. Essa menina não cansava de me fazer passar vergonha.
Pedi desculpas novamente, que ele rapidamente dispensou com a mão, sorrindo de lado. Felizmente, era um cara bem humorado e se constrangia tão fácil quanto eu. Ele parecia um pouco inquieto conforme descíamos, colocando e tirando as mãos dos bolsos da jaqueta verde que vestia.
— Então… — ele murmurou, segurando a porta para que eu saísse para a rua. — Pensei que podíamos ir ao cinema e talvez depois comer alguma coisa. Tem um novo filme que parece ser bom, sobre alienígenas ou robôs? — arriscou e notei que estava receoso com a minha reação, provavelmente por que não tinha ideia do que eu poderia gostar.
— Parece ótimo. — concordei e sua expressão surpresa quase me fez rir.
Nos encaminhamos para o ponto de ônibus mais próximo e não demorou muito até que o que nos levaria até o cinema passou. permitiu que eu subisse na frente e se manteve perto de mim. Sorri ao ver dois assentos vazios e sentei, me ajeitando para que se sentasse do meu lado.
— Então, o que você gosta de fazer além de ler em lugares desertos? — perguntou, se inclinando na minha direção.
Ri baixo, fitando minhas mãos sobre meu colo.
— Eu gosto muito de assistir filmes. — admiti.
— Mesmo? — ele sorriu, claramente satisfeito com sua escolha para aquela noite. — Qual seu tipo favorito?
— Eu gosto de tudo um pouco. — dei de ombros. — Mas talvez filmes de ação? E você?
Ele desviou o olhar, ligeiramente envergonhado. Arqueei a sobrancelha e me inclinei, tentando ver a expressão em seu rosto já que ele havia se virado.
— Eu, hm… — pausou, pensando no que falar em seguida. — Não gosto muito de filmes.
— O quê?! Isso é um absurdo!
— Eu não consigo ficar parado por muito tempo. — explicou e sua perna balançando chamou minha atenção. Fazia sentido. — Fico entediado.
— Então por que decidiu me levar ao cinema hoje? — arqueei a sobrancelha, tentando compreendê-lo.
— Filmes de ação geralmente conseguem prender minha atenção. — encolheu os ombros.
— E o que faria se eu não gostasse de filmes de ação?
Ele riu, dando de ombros. Não demorou muito para que chegássemos ao cinema. parecia bem atencioso e isso me deixou um pouco sem graça. Me ajudou a descer do ônibus e tinha certeza de que eu conseguia acompanhá-lo. Em certo momento, tive a impressão de que ele quase colocou uma das mãos em minhas costas para me manter perto.
O cinema estava cheio, já que se tratava de uma sexta-feira à noite. Enquanto estávamos aguardando a nossa vez na fila mediana, me contou um pouco sobre sua vida. Ele nasceu nos Estados Unidos, onde viveu com seus pais e irmão mais novo até o ano interior. Como sua mãe era coreana, ele decidiu tentar a sorte na Universidade de Seul, já que tinha grande vontade de conhecer o país.
— Jogava basquete lá? — perguntei e ele riu, fitando os próprios pés. Parecia um pouco envergonhado, apesar de sua expressão divertida. — O que foi?
— Eu não disse nada sobre basquete. — murmurou, se abaixando, já que era no mínimo quinze centímetros mais alto do que eu, mesmo de salto. Só então percebi que quem havia me dito aquilo era , não . Eu não deveria saber daquilo.
Senti minhas bochechas queimarem e tentei me distrair olhando algumas pessoas que passavam por ali. Eu podia sentir que ainda me olhava e quando reuni coragem suficiente para encará-lo novamente, tinha um sorriso no rosto e os braços em suas costas. Arqueou a sobrancelha e riu de minha reação novamente.
— Eu não sabia até hoje. — justifiquei, me sentindo encurralada. — me contou depois que te viu. Ela disse que tem cartazes com fotos suas por todo campus ou algo do tipo. — contei. — Você é a estrela do time ou algo do tipo, certo?
Ele riu, balançando a cabeça. Mordeu o lábio e desviou o olhar.
— Eu só tento fazer o melhor pelo time. Não é nada demais.
Sorri. Era adorável que ele não tentasse ficar com toda a glória, mesmo sendo o melhor jogador do time. A universidade não teria todo o trabalho de divulgar o time com a sua imagem se não fosse realmente bom. Suas orelhas estavam vermelhas e eu soube que estava mais envergonhado do que admitiria.
— Sim, eu já jogava basquete na Califórnia. — disse e só então percebi que eu ainda o olhava com um sorriso nos lábios.
Antes que eu pudesse responder, era a nossa vez de comprar os ingressos. se aproximou do caixa e pediu nossos ingressos. Não demorou muito para que estivéssemos dentro da sala quase cheia, conversando sobre banalidades enquanto esperávamos o começo do filme. Era fácil conversar com e eu provavelmente conseguiria fazer isso a noite inteira, mas as luzes se apagaram e tivemos que ficar quietos.
O filme não parecia ruim, mas era um pouco parado. Ou talvez eu estivesse ansiosa demais para que acabasse e eu pudesse continuar a conversa com . Graças a pouca luminosidade vinda da grande tela, eu conseguia ver sua perna inquieta, o que era um pouco engraçado. Até que ele encostou sua perna na minha e prendi a respiração. Pelo canto do olho, tentei analisar sua expressão mas era difícil no escuro.
— Esperava que fosse um pouco melhor. — confessou conforme saiamos da sala de cinema, estendendo a mão para me ajudar a descer os degraus.
Agradeci com um sorriso ao descer o último e ele não perdeu tempo, entrelaçando seus dedos aos meus. Sua pele quente era extremamente confortável contra minha mão pequena e não tive a mínima vontade de me afastar. era uma exceção a todas as minhas regras para primeiros encontros.
— Foi um bom filme, a história foi interessante. Quer dizer, eles souberam fugir do clichê sobre alienígenas. — encolhi os ombros. — Isso deve valer de alguma coisa.
— Esqueci que você é uma especialista em cinema. — brincou, rindo.
Balancei a cabeça e baixei o olhar, fitando nossos dedos entrelaçados e sentindo meu coração bater um pouco mais forte.
— Então… — ele começou, chamando minha atenção. — Não conheço nenhum restaurante chique ou algo do tipo, não que eu pudesse pagar por algo assim. — riu. — Mas o que acha de pizza? Garanto que é a melhor da cidade. No mínimo, da região. E não é muito longe daqui, podemos ir andando.
— Espero que seja bom, pizza é minha comida favorita.
— Acertei de novo! — ele comemorou. — Acho que sou um gênio dos encontros, hm?
Ri, revirando os olhos conforme saiamos do cinema. Apesar de vestir minha jaqueta vermelha a blusa que eu usava por baixo era fina e eu estava com um pouco de frio. Acabei me encolhendo contra , apoiando a outra mão em seu braço, sentindo seus músculos sob a jaqueta verde clara. Tentei não me constranger muito com isso e ele parecia inabalável, completamente confortável.
— Dois acertos me garantem um segundo encontro? — perguntou, arqueando a sobrancelha e sua conclusão me fez rir.
— Vamos ver como se sai até o fim da noite. Um jantar é tempo suficiente para estragar tudo. — provoquei.
— Está torcendo pelo meu fracasso, ? — fingiu estar ofendido. — Eu deveria largá-la agora mesmo e voltar para casa. O único problema é que gosto demais de você.
Senti meu rosto esquentar com as palavras inesperadas de e me encolhi ainda mais contra ele, que apenas ria de minha situação. Não era nem um pouco justo. Tentei desconversar, falando sobre amenidades, mas minha vergonha era perceptível. Para minha sorte, logo iniciou uma história sobre seu melhor amigo, J.Seph. Aparentemente, ele o havia ajudado a se adaptar com a vida na Coreia, já que seus pais se conheciam há algum tempo. Era adorável o modo como falava do amigo e acabei sorrindo por isso.
— O que foi? — ele perguntou, interrompendo sua história ao me olhar.
— Nada. — ri. — Só estou pensando sobre como parece admirá-lo. É bonito encontrar isso atualmente.
— Ah. — ele encolheu os ombros, mas parecia tímido. — Ele é como meu irmão mais velho.
— Eu sei o que quer dizer. Me sinto assim sobre . — expliquei. — Ela se preocupa muito comigo. É quase como se sentisse responsável por mim, o que é engraçado, já que é mais nova.
— Nem me fale. Quase achei que ela fosse me bater quando abriu a porta. — comentou e não pude segurar a risada. — Eu sei que estava atrasado, mas fiz meu melhor para chegar no horário, foi uma loucura.
— Não se preocupe com isso.
Só então percebi que não deveríamos estar muito longe do campus, já que eu reconhecia aquelas ruas. anunciou que havíamos chegado e entramos numa pequena porta que levava a pizzaria, que eu nunca teria reparado se não fosse por ele. Se encaminhou até o homem atrás do balcão na recepção, ainda de mãos dadas comigo, e o cumprimentou alegremente antes de me guiar até uma das mesas. Logo, o garçom estava em nossa mesa, nos perguntando o que queríamos. Eu não tinha ideia e deixei que pedisse sua pizza favorita para nós.
Conversamos bastante enquanto esperávamos e em dado momento, coloquei discretamente uma de minhas mãos na mesa, com a palma para cima, convidando-o para entrelaçar seus dedos aos meus. Eu estava curiosa para saber o que faria e um grande sorriso nasceu em meu rosto ao vê-lo brincar distraidamente com meus dedos segundos depois, enquanto conversávamos.
Aproveitei aquele momento para admirar seu rosto. Minha maior vontade era de esticar o braço e acariciá-lo. Eu tinha uma enorme vontade de cuidar dele e encher seu rosto de beijos, tanto que mal sabia o que fazer com aquele sentimento.
Assim que nossa pizza chegou, , infelizmente, soltou minha mão. Ele tinha razão, aquela provavelmente era a melhor pizzaria da região e não demorou muito para que ele estivesse se vangloriando e exigindo um segundo encontro, que acabei aceitando.
— Você já precisa ir? Queria te mostrar algo. — perguntou, entrelaçando seus dedos aos meus assim que saímos da pizzaria.
Balancei a cabeça e ele sorriu, antes de começarmos a andar novamente. Percebi que estava me levando a universidade. Passamos pelo lugar em que nos conhecemos e me levou até o ginásio. Ele se aproximou da porta de vidro, colocando as mãos na frente do rosto para tentar enxergar lá dentro.
— Acho que está vazio. — sorriu. — Venha.
Ele me puxou até o canto e parou na frente de um pequeno teclado, que percebi se tratar do sistema de segurança. Ele digitou a senha rapidamente e uma luz verde acendeu, indicando que estava aberto.
— Não tem problema estarmos aqui?
— Todos do time tem a senha. — explicou. — Para que possamos treinar de noite, se quisermos. — eu provavelmente ainda parecia apreensiva, pois ele deu um meio sorriso ao me olhar. — Confie em mim, .
Assenti e me puxou para dentro do prédio, caminhamos pelos corredores escuros até a quadra. Assim que entramos, ele acendeu as luzes fortes e precisei piscar algumas vezes para me adaptar. Eu já havia assistido há alguns poucos jogos e a quadra parecia muito maior ali debaixo. largou a minha mão e logo estava correndo como uma criança. Ele se virou ao ouvir minhas risadas, sorrindo.
— O que acha? — perguntou, abrindo os braços como se quisesse mostrar toda a grandiosidade daquele lugar.
— Então esse é o seu palco?
Ele deu de ombros antes de pegar uma das bolas no carrinho de metal e bater no chão algumas vezes, driblando e brincando antes de jogar na cesta. Gritou e ergueu os braços ao ver que tinha acertado, o que, com certeza, não era novidade. Bati palmas e me aproximei, rindo.
— Então é isso que faz nos seus encontros? — provoquei, arqueando a sobrancelha. — Traz as garotas para a quadra e as impressiona com seu talento?
Ele riu, balançando a cabeça.
— Eu nunca trouxe ninguém aqui. — deu de ombros novamente, pegando minha mão e me puxando para perto.
— Certo. — a ironia em minha voz o fez arregalar os olhos.
— Eu juro, . — o apelido e a intimidade que ele significava me arrepiou toda e sorri para tentar disfarçar. — Aliás, você nem sabia que eu jogo basquete, que diferença faria?
Ele pegou outra bola no carrinho e estendeu para mim, arqueando a sobrancelha e me convidando a me juntar a ele. Balancei a cabeça e ele sorriu abertamente.
— Vamos lá, juro que pego leve com você.
Seus olhos escuros praticamente imploravam para que eu entrasse na brincadeira com ele, mas eu continuava séria. Eu ri e bati na bola, fazendo-a começar a quicar pela quadra e pegando-o de surpresa. Tentei me adiantar para pegá-la, mas eu não era nada ágil e no segundo seguinte, o braço de estava em minha cintura, me impedindo de continuar. Eu gritei pela surpresa e ri novamente quando ele me tirou do chão sem dificuldade, girando no lugar.
— Então você é uma trapaceira? — perguntou, sua risada grave ecoando pela quadra.
Ainda estávamos rindo quando me colocou no chão, mas manteve suas mãos em minha cintura, como forma de garantir meu equilíbrio. Apoiei as mãos em seus braços e ele sorria de lado, me olhando.
Eu não conseguia me concentrar corretamente vendo que ele me fitava tão intensamente. Meu coração, acelerado como nunca esteve, batia tão forte que eu tinha a sensação de que poderia ouvi-lo. Ele estava cada vez mais perto, com as mãos ainda em minha cintura. Ele parecia incerto do que fazer, o que era bem diferente da sua usual postura confiante e sorri ao ver que seu olhar foi para meus lábios. Não aguentei e dei um passo à frente, acabando com a distância entre nós e selando nossos lábios. Com isso, me puxou para ainda mais perto e meu corpo pequeno ficou completamente acomodado contra o seu.
Ele me beijava sem cuidado, quase com urgência e eu podia entendê-lo completamente. Era como se ambos estivéssemos esperando por aquilo a noite inteira. Acabei quebrando o beijo com uma risada baixa, incapaz de controlar minha felicidade. se afastou um pouco, me olhando antes de beijar minha bochecha demoradamente. Seu sorriso era enorme quando ele se abaixou para me abraçar, escondendo o rosto em meu pescoço e me beijando ali, o que me fez rir novamente e levar uma das mãos para sua nuca, brincando distraidamente com seus fios curtos.
Era surpreendente como eu estava feliz na pequena bolha que havíamos construído juntos ao longo daquela primeira noite. O mundo poderia acabar fora daquela quadra e eu provavelmente nem prestaria atenção. Eu estava extremamente ansiosa para saber o que aconteceria no futuro.
Sorri sozinha ao terminar de ler aquela última frase, com lágrimas nos olhos. Apesar de todos os anos juntos e os últimos acontecimentos, continuava sendo minha bolha de felicidade e eu sempre me sentiria segura em seu abraço. Eu o amo tanto que mal cabe dentro de mim. Me deitei e dormi me lembrando de qual era a sensação ao de ter os braços de a minha volta.
Folheei por algum tempo até encontrar as folhas que narravam meu primeiro encontro com . Para minha surpresa, eu havia detalhado muito mais do que me lembrava. Com certeza, não queria me esquecer de nenhum momento daquela noite especial. Sorri com o pensamento.
Assim que terminei minha maquiagem, percebi que minhas mãos tremiam e era praticamente um milagre que ela estivesse boa. Respirei fundo algumas vezes antes de me olhar no espelho outra vez. Minha vida amorosa estava longe de ser agitada, ou até mesmo movimentada, e isso me deixava preocupada. Eu havia gostado de alguns rapazes durante o ensino médio, claro, mas não havia acontecido muita coisa. Acho que eu era muito antiquada para os padrões do resto do mundo. Não saberia trocar saliva com outro ser humano simplesmente porque poderia ser bom. Eu gostava de conhecer muito bem alguém antes de me relacionar e a maioria das pessoas não tinha tempo para isso, apesar de fazer mais sentido.
Isso é, até aparecer e me convidar para sair. Ele tinha um charme que me intrigava e, quando dei por mim, já havia aceitado. Sorri com o pensamento antes de ver me observando pelo espelho.
— Nunca te vi tão ansiosa para encontrar alguém, unnie. — provocou, sorrindo um tanto maliciosa.
— Eu só quero acabar com isso logo. — menti.
— Desculpa, você disse que só quer beijá-lo logo? Ah sim, nisso eu acredito.
Cometi a besteira de contar para como nos conhecemos na faculdade no dia anterior e como ele havia me convidado para sair. Ela não entendeu completamente e me importunou até que eu contasse que tinha algo nele que me atraia nunca e, desde então, minha colega de quarto me lembrava a cada cinco minutos como eu o achava bonito. Não que precisasse ser lembrado.
Revirei os olhos e ela riu escandalosamente, se jogando em minha cama em seguida.
— Eu só estou brincando, . Não leve tudo tão a sério. — murmurou ao ver minha expressão insatisfeita.
Assenti e me virei na frente do espelho, tentando ter uma ideia um pouco mais completa de qual era minha aparência, já que não estava completamente certa da escolha e ainda tinha alguns poucos minutos para mudar de ideia.
— Você está linda, unnie. — ela reforçou e sorri em agradecimento.
era insuportável às vezes, mas de alguma forma me lembrava minhas irmãs e isso me fazia ter um carinho especial por ela. Peguei o celular que terminava de carregar para conferir o horário mais uma vez. Já haviam se passado alguns minutos do combinado. estava atrasado. Tentei disfarçar minha frustração, mas apesar de nos conhecermos há apenas seis meses, sabia exatamente o que eu pensava.
— Ninguém é tão pontual quanto você, unnie. Não se preocupe. Ele não teria coragem de te dar um bolo. — pausou. — Eu mesma o procuraria e socaria se esse fosse o caso.
Ri de sua solução e concordei, desplugando o celular do carregador e o coloquei na pequena bolsa preta que eu levaria, aproveitando para conferir pela última vez se tinha tudo que poderia precisar. Graças a minha ansiedade e pontualidade, eu já estava pronta há alguns minutos. Me olhei no espelho pela última vez e anunciei que o esperaria na sala, na pequena ilusão de que isso pudesse me deixar um pouco mais perto do momento esperado. se juntou a mim, rapidamente ligando a televisão e se sentando no sofá. Não demorou muito para que ela escolhesse um programa ruim sobre conflitos familiares para nos distrair. A esposa expunha os péssimos hábitos do marido em rede nacional e ele não tinha a menor vergonha, se defendendo de todas as acusações como se fosse o dono da razão. Eu odiava esse tipo de entretenimento, mas, para a minha infelicidade, era um dos favoritos de .
Eu estava inquieta, checando minhas unhas vermelhas e me ajeitando no sofá a todo momento quando a campainha finalmente tocou, me assustando. Meu coração acelerou pelo nervosismo e se adiantou para atender a porta, fazendo um sinal para que eu ficasse onde estava. Ela abriu a porta e inconscientemente me inclinei um pouco, na tentativa de vê-lo.
— Sim? — ela disse e, pelo seu tom de voz, sabia que arqueava a sobrancelha.
Alguns segundos de silêncio seguiram antes de se pronunciar.
— Oi… hm, estou procurando por ? Eu não tenho certeza de qual seja o sobrenome dela, o que, pensando agora, é bem idiota de minha parte. Talvez eu esteja no apartamento errado? — a afirmação acabou soando como uma pergunta devido a seu nervosismo e sorri um pouco ao saber que eu não era a única.
— Ah, sim. Eu sou , dividimos o apartamento. estava se arrumando, verei se já está pronta.
agradeceu e veio em minha direção, sorrindo abertamente.
— O que foi isso? — perguntei enquanto ela conferia minha maquiagem e cabelo.
Ela deu de ombros, passando um dos dedos perto de meu olho e provavelmente corrigindo alguma imperfeição.
— Ele não deve saber que você já estava pronta e esperando pelo traseiro atrasado dele. — fez uma careta antes de sorrir satisfeita com minha aparência. — Aliás, por que não me disse que tem um encontro marcado com a estrela do basquete?
Eu não fazia ideia do que estava falando e minha expressão confusa provavelmente entregou isso.
— Você não sabe? — balancei a cabeça. — Ele é . O . Estrela dos Bears. Há, literalmente, fotos dele espalhadas por todo o campus. — encolhi os ombros e suspirou, desistindo. — O que estou pensando? Você é tão informada quanto uma batata.
— Ei! — protestei e ela riu, antes de se afastar para me olhar.
— Você está perfeita. Vá logo, está esperando.
Assenti e agradeci, me despedindo ao pegar minha bolsa, fazendo meu caminho até a porta. A altura de me surpreendeu novamente e percebi que provavelmente tinha razão sobre ele jogar basquete. Ele abriu seu grande sorriso simpático ao me ver e senti minhas bochechas esquentando.
— Oi, . — murmurou, trocando o peso para a outra perna.
— Oi. — respondi, ligeiramente envergonhada e sem saber o que fazer. — Sinto muito por qualquer coisa que possa ter feito, ela é bastante protetora às vezes. Quase como um chihuahua.
Ele riu de minha comparação e deu de ombros.
— Podemos ir?
Assenti e dei um passo a frente, pronta para fechar a porta branca.
— Estou indo, . Até mais tarde. — avisei.
— Quero ela em casa a meia noite, ! — gritou antes que eu tivesse chance de fechar a porta completamente e pude ouvi-lo rindo atrás de mim. Essa menina não cansava de me fazer passar vergonha.
Pedi desculpas novamente, que ele rapidamente dispensou com a mão, sorrindo de lado. Felizmente, era um cara bem humorado e se constrangia tão fácil quanto eu. Ele parecia um pouco inquieto conforme descíamos, colocando e tirando as mãos dos bolsos da jaqueta verde que vestia.
— Então… — ele murmurou, segurando a porta para que eu saísse para a rua. — Pensei que podíamos ir ao cinema e talvez depois comer alguma coisa. Tem um novo filme que parece ser bom, sobre alienígenas ou robôs? — arriscou e notei que estava receoso com a minha reação, provavelmente por que não tinha ideia do que eu poderia gostar.
— Parece ótimo. — concordei e sua expressão surpresa quase me fez rir.
Nos encaminhamos para o ponto de ônibus mais próximo e não demorou muito até que o que nos levaria até o cinema passou. permitiu que eu subisse na frente e se manteve perto de mim. Sorri ao ver dois assentos vazios e sentei, me ajeitando para que se sentasse do meu lado.
— Então, o que você gosta de fazer além de ler em lugares desertos? — perguntou, se inclinando na minha direção.
Ri baixo, fitando minhas mãos sobre meu colo.
— Eu gosto muito de assistir filmes. — admiti.
— Mesmo? — ele sorriu, claramente satisfeito com sua escolha para aquela noite. — Qual seu tipo favorito?
— Eu gosto de tudo um pouco. — dei de ombros. — Mas talvez filmes de ação? E você?
Ele desviou o olhar, ligeiramente envergonhado. Arqueei a sobrancelha e me inclinei, tentando ver a expressão em seu rosto já que ele havia se virado.
— Eu, hm… — pausou, pensando no que falar em seguida. — Não gosto muito de filmes.
— O quê?! Isso é um absurdo!
— Eu não consigo ficar parado por muito tempo. — explicou e sua perna balançando chamou minha atenção. Fazia sentido. — Fico entediado.
— Então por que decidiu me levar ao cinema hoje? — arqueei a sobrancelha, tentando compreendê-lo.
— Filmes de ação geralmente conseguem prender minha atenção. — encolheu os ombros.
— E o que faria se eu não gostasse de filmes de ação?
Ele riu, dando de ombros. Não demorou muito para que chegássemos ao cinema. parecia bem atencioso e isso me deixou um pouco sem graça. Me ajudou a descer do ônibus e tinha certeza de que eu conseguia acompanhá-lo. Em certo momento, tive a impressão de que ele quase colocou uma das mãos em minhas costas para me manter perto.
O cinema estava cheio, já que se tratava de uma sexta-feira à noite. Enquanto estávamos aguardando a nossa vez na fila mediana, me contou um pouco sobre sua vida. Ele nasceu nos Estados Unidos, onde viveu com seus pais e irmão mais novo até o ano interior. Como sua mãe era coreana, ele decidiu tentar a sorte na Universidade de Seul, já que tinha grande vontade de conhecer o país.
— Jogava basquete lá? — perguntei e ele riu, fitando os próprios pés. Parecia um pouco envergonhado, apesar de sua expressão divertida. — O que foi?
— Eu não disse nada sobre basquete. — murmurou, se abaixando, já que era no mínimo quinze centímetros mais alto do que eu, mesmo de salto. Só então percebi que quem havia me dito aquilo era , não . Eu não deveria saber daquilo.
Senti minhas bochechas queimarem e tentei me distrair olhando algumas pessoas que passavam por ali. Eu podia sentir que ainda me olhava e quando reuni coragem suficiente para encará-lo novamente, tinha um sorriso no rosto e os braços em suas costas. Arqueou a sobrancelha e riu de minha reação novamente.
— Eu não sabia até hoje. — justifiquei, me sentindo encurralada. — me contou depois que te viu. Ela disse que tem cartazes com fotos suas por todo campus ou algo do tipo. — contei. — Você é a estrela do time ou algo do tipo, certo?
Ele riu, balançando a cabeça. Mordeu o lábio e desviou o olhar.
— Eu só tento fazer o melhor pelo time. Não é nada demais.
Sorri. Era adorável que ele não tentasse ficar com toda a glória, mesmo sendo o melhor jogador do time. A universidade não teria todo o trabalho de divulgar o time com a sua imagem se não fosse realmente bom. Suas orelhas estavam vermelhas e eu soube que estava mais envergonhado do que admitiria.
— Sim, eu já jogava basquete na Califórnia. — disse e só então percebi que eu ainda o olhava com um sorriso nos lábios.
Antes que eu pudesse responder, era a nossa vez de comprar os ingressos. se aproximou do caixa e pediu nossos ingressos. Não demorou muito para que estivéssemos dentro da sala quase cheia, conversando sobre banalidades enquanto esperávamos o começo do filme. Era fácil conversar com e eu provavelmente conseguiria fazer isso a noite inteira, mas as luzes se apagaram e tivemos que ficar quietos.
O filme não parecia ruim, mas era um pouco parado. Ou talvez eu estivesse ansiosa demais para que acabasse e eu pudesse continuar a conversa com . Graças a pouca luminosidade vinda da grande tela, eu conseguia ver sua perna inquieta, o que era um pouco engraçado. Até que ele encostou sua perna na minha e prendi a respiração. Pelo canto do olho, tentei analisar sua expressão mas era difícil no escuro.
— Esperava que fosse um pouco melhor. — confessou conforme saiamos da sala de cinema, estendendo a mão para me ajudar a descer os degraus.
Agradeci com um sorriso ao descer o último e ele não perdeu tempo, entrelaçando seus dedos aos meus. Sua pele quente era extremamente confortável contra minha mão pequena e não tive a mínima vontade de me afastar. era uma exceção a todas as minhas regras para primeiros encontros.
— Foi um bom filme, a história foi interessante. Quer dizer, eles souberam fugir do clichê sobre alienígenas. — encolhi os ombros. — Isso deve valer de alguma coisa.
— Esqueci que você é uma especialista em cinema. — brincou, rindo.
Balancei a cabeça e baixei o olhar, fitando nossos dedos entrelaçados e sentindo meu coração bater um pouco mais forte.
— Então… — ele começou, chamando minha atenção. — Não conheço nenhum restaurante chique ou algo do tipo, não que eu pudesse pagar por algo assim. — riu. — Mas o que acha de pizza? Garanto que é a melhor da cidade. No mínimo, da região. E não é muito longe daqui, podemos ir andando.
— Espero que seja bom, pizza é minha comida favorita.
— Acertei de novo! — ele comemorou. — Acho que sou um gênio dos encontros, hm?
Ri, revirando os olhos conforme saiamos do cinema. Apesar de vestir minha jaqueta vermelha a blusa que eu usava por baixo era fina e eu estava com um pouco de frio. Acabei me encolhendo contra , apoiando a outra mão em seu braço, sentindo seus músculos sob a jaqueta verde clara. Tentei não me constranger muito com isso e ele parecia inabalável, completamente confortável.
— Dois acertos me garantem um segundo encontro? — perguntou, arqueando a sobrancelha e sua conclusão me fez rir.
— Vamos ver como se sai até o fim da noite. Um jantar é tempo suficiente para estragar tudo. — provoquei.
— Está torcendo pelo meu fracasso, ? — fingiu estar ofendido. — Eu deveria largá-la agora mesmo e voltar para casa. O único problema é que gosto demais de você.
Senti meu rosto esquentar com as palavras inesperadas de e me encolhi ainda mais contra ele, que apenas ria de minha situação. Não era nem um pouco justo. Tentei desconversar, falando sobre amenidades, mas minha vergonha era perceptível. Para minha sorte, logo iniciou uma história sobre seu melhor amigo, J.Seph. Aparentemente, ele o havia ajudado a se adaptar com a vida na Coreia, já que seus pais se conheciam há algum tempo. Era adorável o modo como falava do amigo e acabei sorrindo por isso.
— O que foi? — ele perguntou, interrompendo sua história ao me olhar.
— Nada. — ri. — Só estou pensando sobre como parece admirá-lo. É bonito encontrar isso atualmente.
— Ah. — ele encolheu os ombros, mas parecia tímido. — Ele é como meu irmão mais velho.
— Eu sei o que quer dizer. Me sinto assim sobre . — expliquei. — Ela se preocupa muito comigo. É quase como se sentisse responsável por mim, o que é engraçado, já que é mais nova.
— Nem me fale. Quase achei que ela fosse me bater quando abriu a porta. — comentou e não pude segurar a risada. — Eu sei que estava atrasado, mas fiz meu melhor para chegar no horário, foi uma loucura.
— Não se preocupe com isso.
Só então percebi que não deveríamos estar muito longe do campus, já que eu reconhecia aquelas ruas. anunciou que havíamos chegado e entramos numa pequena porta que levava a pizzaria, que eu nunca teria reparado se não fosse por ele. Se encaminhou até o homem atrás do balcão na recepção, ainda de mãos dadas comigo, e o cumprimentou alegremente antes de me guiar até uma das mesas. Logo, o garçom estava em nossa mesa, nos perguntando o que queríamos. Eu não tinha ideia e deixei que pedisse sua pizza favorita para nós.
Conversamos bastante enquanto esperávamos e em dado momento, coloquei discretamente uma de minhas mãos na mesa, com a palma para cima, convidando-o para entrelaçar seus dedos aos meus. Eu estava curiosa para saber o que faria e um grande sorriso nasceu em meu rosto ao vê-lo brincar distraidamente com meus dedos segundos depois, enquanto conversávamos.
Aproveitei aquele momento para admirar seu rosto. Minha maior vontade era de esticar o braço e acariciá-lo. Eu tinha uma enorme vontade de cuidar dele e encher seu rosto de beijos, tanto que mal sabia o que fazer com aquele sentimento.
Assim que nossa pizza chegou, , infelizmente, soltou minha mão. Ele tinha razão, aquela provavelmente era a melhor pizzaria da região e não demorou muito para que ele estivesse se vangloriando e exigindo um segundo encontro, que acabei aceitando.
— Você já precisa ir? Queria te mostrar algo. — perguntou, entrelaçando seus dedos aos meus assim que saímos da pizzaria.
Balancei a cabeça e ele sorriu, antes de começarmos a andar novamente. Percebi que estava me levando a universidade. Passamos pelo lugar em que nos conhecemos e me levou até o ginásio. Ele se aproximou da porta de vidro, colocando as mãos na frente do rosto para tentar enxergar lá dentro.
— Acho que está vazio. — sorriu. — Venha.
Ele me puxou até o canto e parou na frente de um pequeno teclado, que percebi se tratar do sistema de segurança. Ele digitou a senha rapidamente e uma luz verde acendeu, indicando que estava aberto.
— Não tem problema estarmos aqui?
— Todos do time tem a senha. — explicou. — Para que possamos treinar de noite, se quisermos. — eu provavelmente ainda parecia apreensiva, pois ele deu um meio sorriso ao me olhar. — Confie em mim, .
Assenti e me puxou para dentro do prédio, caminhamos pelos corredores escuros até a quadra. Assim que entramos, ele acendeu as luzes fortes e precisei piscar algumas vezes para me adaptar. Eu já havia assistido há alguns poucos jogos e a quadra parecia muito maior ali debaixo. largou a minha mão e logo estava correndo como uma criança. Ele se virou ao ouvir minhas risadas, sorrindo.
— O que acha? — perguntou, abrindo os braços como se quisesse mostrar toda a grandiosidade daquele lugar.
— Então esse é o seu palco?
Ele deu de ombros antes de pegar uma das bolas no carrinho de metal e bater no chão algumas vezes, driblando e brincando antes de jogar na cesta. Gritou e ergueu os braços ao ver que tinha acertado, o que, com certeza, não era novidade. Bati palmas e me aproximei, rindo.
— Então é isso que faz nos seus encontros? — provoquei, arqueando a sobrancelha. — Traz as garotas para a quadra e as impressiona com seu talento?
Ele riu, balançando a cabeça.
— Eu nunca trouxe ninguém aqui. — deu de ombros novamente, pegando minha mão e me puxando para perto.
— Certo. — a ironia em minha voz o fez arregalar os olhos.
— Eu juro, . — o apelido e a intimidade que ele significava me arrepiou toda e sorri para tentar disfarçar. — Aliás, você nem sabia que eu jogo basquete, que diferença faria?
Ele pegou outra bola no carrinho e estendeu para mim, arqueando a sobrancelha e me convidando a me juntar a ele. Balancei a cabeça e ele sorriu abertamente.
— Vamos lá, juro que pego leve com você.
Seus olhos escuros praticamente imploravam para que eu entrasse na brincadeira com ele, mas eu continuava séria. Eu ri e bati na bola, fazendo-a começar a quicar pela quadra e pegando-o de surpresa. Tentei me adiantar para pegá-la, mas eu não era nada ágil e no segundo seguinte, o braço de estava em minha cintura, me impedindo de continuar. Eu gritei pela surpresa e ri novamente quando ele me tirou do chão sem dificuldade, girando no lugar.
— Então você é uma trapaceira? — perguntou, sua risada grave ecoando pela quadra.
Ainda estávamos rindo quando me colocou no chão, mas manteve suas mãos em minha cintura, como forma de garantir meu equilíbrio. Apoiei as mãos em seus braços e ele sorria de lado, me olhando.
Eu não conseguia me concentrar corretamente vendo que ele me fitava tão intensamente. Meu coração, acelerado como nunca esteve, batia tão forte que eu tinha a sensação de que poderia ouvi-lo. Ele estava cada vez mais perto, com as mãos ainda em minha cintura. Ele parecia incerto do que fazer, o que era bem diferente da sua usual postura confiante e sorri ao ver que seu olhar foi para meus lábios. Não aguentei e dei um passo à frente, acabando com a distância entre nós e selando nossos lábios. Com isso, me puxou para ainda mais perto e meu corpo pequeno ficou completamente acomodado contra o seu.
Ele me beijava sem cuidado, quase com urgência e eu podia entendê-lo completamente. Era como se ambos estivéssemos esperando por aquilo a noite inteira. Acabei quebrando o beijo com uma risada baixa, incapaz de controlar minha felicidade. se afastou um pouco, me olhando antes de beijar minha bochecha demoradamente. Seu sorriso era enorme quando ele se abaixou para me abraçar, escondendo o rosto em meu pescoço e me beijando ali, o que me fez rir novamente e levar uma das mãos para sua nuca, brincando distraidamente com seus fios curtos.
Era surpreendente como eu estava feliz na pequena bolha que havíamos construído juntos ao longo daquela primeira noite. O mundo poderia acabar fora daquela quadra e eu provavelmente nem prestaria atenção. Eu estava extremamente ansiosa para saber o que aconteceria no futuro.
Sorri sozinha ao terminar de ler aquela última frase, com lágrimas nos olhos. Apesar de todos os anos juntos e os últimos acontecimentos, continuava sendo minha bolha de felicidade e eu sempre me sentiria segura em seu abraço. Eu o amo tanto que mal cabe dentro de mim. Me deitei e dormi me lembrando de qual era a sensação ao de ter os braços de a minha volta.
III.
Eu estava quase chegando em casa na noite seguinte, quando recebi uma ligação de me pedindo para comprar mais cervejas, já que seu pequeno estoque havia acabado.
Suspirei ao desligar e entrei na loja de conveniência mais próxima. Naquele dia, eu estava com menos vontade de voltar para casa e lidar com o fracasso iminente de meu relacionamento. Gastei mais tempo do que o necessário na loja, andando por todos os corredores lentamente e olhando produtos que eu não compraria.
Então, caminha para casa sem pressa alguma, aproveitando o frescor daquele início de noite. Haviam mais pessoas na rua, provavelmente fazendo o mesmo. Subi as poucas escadas do prédio com um pouco de dificuldade devido ao peso das garrafas.
Dessa vez, estava sentado na mesa esperando por mim. O cumprimentei com um beijo no rosto e levei o que havia comprado até a cozinha, guardando em seguida.
— Pedi pizza. — ele informou, indicando a caixa fechada em cima do balcão.
Assenti e agradeci, antes de pegar um pedaço. apoiou a mão em minha cintura quando se aproximou para pegar uma cerveja. Aquele pequeno contato de sua parte fez meu coração acelerar, mas não demorou muito para que ele se afastasse e voltasse a seu lugar na sala.
Coloquei outro pedaço de pizza num prato e fui para o quarto, ansiosa para relembrar nossos momentos juntos.
Sorri tristemente ao lembrar o pedido de namoro desajeitado de e outros encontros. A primeira vez que dormimos juntos até a decisão de dividirmos um apartamento. Parei na página que narrava, alguns meses depois de nos mudarmos juntos, o aniversário de e minha tentativa fracassada de lhe fazer um bolo de aniversário.
— ? — cantarolou ao entrar no apartamento.
Xinguei alto, ainda tentando consertar o bolo na minha frente, que mal passava de uma montanha feia de massa, que havia rachado com o peso do recheio. não deveria chegar em casa por pelo menos outra hora e, já que era meu dia de folga, decidi tentar fazer um bolo para comemorar o seu aniversário. Eu deveria ter tempo para tentar consertar o bolo ou, em último caso, comprar outro. Mas não foi isso que aconteceu.
Tentei não fazer barulho enquanto andava pela cozinha desesperada em busca de uma solução.
— ? — ele chamou novamente e percebi que vinha na direção da cozinha. Eu estava completamente desesperada, mas não era como se pudesse fazer algo. — Aí está você. — disse ao me entrar na cozinha. Parei onde estava e fechei os olhos com força, na esperança de que isso magicamente me faria invisível ou imperceptível. Pude ouvi-lo se aproximar e então senti suas mãos em minha cintura, antes que beijasse minha bochecha.
— O que está fazendo?
Respirei fundo, derrotada.
— Eu queria fazer um bolo para você. — murmurei, derrotada.
Ele riu baixo e me puxou para mais perto, me abraçando por trás. Suspirei e me encostei em seu peito.
— Isso é adorável, . — murmurou.
— Deu tudo errado! Foi um completo desastre. — minha voz estava à beira do choro por conta da minha frustração. — Eu até liguei para sua mãe para conseguir a receita do bolo que você sempre fala, mas estraguei tudo. Eu sinto muito.
me girou com facilidade, colocando as duas mãos em meu rosto em seguida. Ele sorriu abertamente e beijou a ponta de meu nariz.
— Eu sei que fez o seu melhor, . E foi a coisa mais legal que já fizeram por mim.
— Ah, certo. — revirei os olhos, rindo.
Ele bufou e se esticou para pegar um pedaço do bolo desmontado no balcão ao nosso lado. Observei em silêncio enquanto ele mastigava, a expressão de surpresa surgiu em seu rosto e ergui a sobrancelha.
— Pode estar feio, mas está delicioso! — disse animado, esticando a mão para pegar outro pedaço.
Ao ver que eu não estava acreditando no que eu dizia, pegou outro pedaço e pôs em minha boca. Para minha surpresa, ele estava certo. Apesar de destruído, o bolo estava delicioso.
— É o que dizem: as aparências enganam.
Ri com seu comentário e bati em seu braço. Ele fingiu ter se machucado antes de me puxar para um beijo no rosto.
— Muito obrigada, . De verdade.
Suspirei ao desligar e entrei na loja de conveniência mais próxima. Naquele dia, eu estava com menos vontade de voltar para casa e lidar com o fracasso iminente de meu relacionamento. Gastei mais tempo do que o necessário na loja, andando por todos os corredores lentamente e olhando produtos que eu não compraria.
Então, caminha para casa sem pressa alguma, aproveitando o frescor daquele início de noite. Haviam mais pessoas na rua, provavelmente fazendo o mesmo. Subi as poucas escadas do prédio com um pouco de dificuldade devido ao peso das garrafas.
Dessa vez, estava sentado na mesa esperando por mim. O cumprimentei com um beijo no rosto e levei o que havia comprado até a cozinha, guardando em seguida.
— Pedi pizza. — ele informou, indicando a caixa fechada em cima do balcão.
Assenti e agradeci, antes de pegar um pedaço. apoiou a mão em minha cintura quando se aproximou para pegar uma cerveja. Aquele pequeno contato de sua parte fez meu coração acelerar, mas não demorou muito para que ele se afastasse e voltasse a seu lugar na sala.
Coloquei outro pedaço de pizza num prato e fui para o quarto, ansiosa para relembrar nossos momentos juntos.
Sorri tristemente ao lembrar o pedido de namoro desajeitado de e outros encontros. A primeira vez que dormimos juntos até a decisão de dividirmos um apartamento. Parei na página que narrava, alguns meses depois de nos mudarmos juntos, o aniversário de e minha tentativa fracassada de lhe fazer um bolo de aniversário.
— ? — cantarolou ao entrar no apartamento.
Xinguei alto, ainda tentando consertar o bolo na minha frente, que mal passava de uma montanha feia de massa, que havia rachado com o peso do recheio. não deveria chegar em casa por pelo menos outra hora e, já que era meu dia de folga, decidi tentar fazer um bolo para comemorar o seu aniversário. Eu deveria ter tempo para tentar consertar o bolo ou, em último caso, comprar outro. Mas não foi isso que aconteceu.
Tentei não fazer barulho enquanto andava pela cozinha desesperada em busca de uma solução.
— ? — ele chamou novamente e percebi que vinha na direção da cozinha. Eu estava completamente desesperada, mas não era como se pudesse fazer algo. — Aí está você. — disse ao me entrar na cozinha. Parei onde estava e fechei os olhos com força, na esperança de que isso magicamente me faria invisível ou imperceptível. Pude ouvi-lo se aproximar e então senti suas mãos em minha cintura, antes que beijasse minha bochecha.
— O que está fazendo?
Respirei fundo, derrotada.
— Eu queria fazer um bolo para você. — murmurei, derrotada.
Ele riu baixo e me puxou para mais perto, me abraçando por trás. Suspirei e me encostei em seu peito.
— Isso é adorável, . — murmurou.
— Deu tudo errado! Foi um completo desastre. — minha voz estava à beira do choro por conta da minha frustração. — Eu até liguei para sua mãe para conseguir a receita do bolo que você sempre fala, mas estraguei tudo. Eu sinto muito.
me girou com facilidade, colocando as duas mãos em meu rosto em seguida. Ele sorriu abertamente e beijou a ponta de meu nariz.
— Eu sei que fez o seu melhor, . E foi a coisa mais legal que já fizeram por mim.
— Ah, certo. — revirei os olhos, rindo.
Ele bufou e se esticou para pegar um pedaço do bolo desmontado no balcão ao nosso lado. Observei em silêncio enquanto ele mastigava, a expressão de surpresa surgiu em seu rosto e ergui a sobrancelha.
— Pode estar feio, mas está delicioso! — disse animado, esticando a mão para pegar outro pedaço.
Ao ver que eu não estava acreditando no que eu dizia, pegou outro pedaço e pôs em minha boca. Para minha surpresa, ele estava certo. Apesar de destruído, o bolo estava delicioso.
— É o que dizem: as aparências enganam.
Ri com seu comentário e bati em seu braço. Ele fingiu ter se machucado antes de me puxar para um beijo no rosto.
— Muito obrigada, . De verdade.
IV.
suspirou ao entrar em casa e fechou a porta atrás de si. Desde que havia machucado seu ombro três semanas atrás, seu trabalho não era a mesma coisa. Já havia perdido a conta de quantos exames e sessões de fisioterapia havia feito. O médico da equipe dizia que estava no caminho para a recuperação, mas não tinha certeza de quanto tempo demoraria para que conseguisse voltar ao normal.
Era frustrante, sair de casa todos os dias para mais um dia de incerteza e não demorou muito para que aquilo abalasse sua vida pessoal com . Ela era maravilhosa. Todos os dias tentava conversar com ele e descobrir o que estava acontecendo, mas ele simplesmente não conseguia contar que estava falhando na única coisa que sabia fazer. Então sentava no sofá e assistia televisão por longas horas. Se sua mãe estivesse ali, diria que seu cérebro iria derreter com tanto tempo gasto na frente da tela. Ele riu baixo com o pensamento, tirando seus sapatos antes de levar a bolsa de academia para seu quarto.
Deitou-se na impecável cama branca, que arrumava com todo o cuidado do mundo todas as manhãs. Era extremamente grato por tudo que ela fazia por ele todos os dias e sentia saudades de passar algum tempo bom com sua namorada. Não se lembrava qual a última vez em que a havia abraçado ou beijado seu rosto, como sempre fazia. Estava tão ocupado com os próprios pensamentos e preocupações que quase se esqueceu de manter o relacionamento vivo.
Suspirou pesadamente e rolou na cama. O tom de verde do pequeno caderno sobre o criado mudo chamou sua atenção. Esticou o braço e o pegou, lembrando do diário em que escrevia quase que religiosamente no começo de seu namoro. Ele sempre teve curiosidade de saber o que ela tanto escrevia ali, mas não tinha coragem de ler sem a sua permissão. Mordeu o lábio, sem saber o que fazer, brincando com o caderno em suas mãos. Quando o girava pela terceira ou quarta vez, uma folha dobrada caiu. Ele pretendia colocá-la no lugar, mas ao ver seu nome no topo da folha, não resistiu.
Seu coração apertava a frase linha que lia, já que deixou registrado naquele pedaço de papel toda a frustração que sentia com o relacionamento dos dois. Nunca se considerou uma pessoa emotiva, mas não pode conter as lágrimas. Era doloroso saber que ela já havia pensado em deixá-lo. Sua vida havia se entrelaçado tanto com a dela desde o primeiro momento em que se conheceram que não tinha a mínima ideia de como poderiam viver separados. Em meio a tanta dor, encontrou um pouco de conforto nas linhas finais. o amava e, mesmo com todas as coisas erradas que havia feito nos últimos dias, estava disposta a continuar tentando.
Ele continuou olhando o papel por longos minutos, depois de terminar de ler. Suas mãos tremiam e seus pensamentos agitados tentavam se organizar. Finalmente, suspirou. Guardou a carta e o diário em seus devidos lugares antes de se levantar da cama, esticando o lençol branco antes de sair do quarto.
Procurou uma folha em branco, uma caneta preta e sentou-se na mesa. Tinha tanto para dizer que nem sabia por onde começar. Calmamente, escreveu o apelido dela no começo da folha.
“,
Sei que estive um pouco distante ultimamente, tentando organizar meus pensamentos negativos e tentando descobrir coisas na minha vida. O mundo, infelizmente, é um lugar frio e estou cansado de ter um monte de altos e baixos, muito empurra e puxa. Ainda estou me acostumando com toda a pressão e dor que existem por aí.
Sinto muito pelo que te fiz passar nos últimos dias. Nunca foi minha intenção te machucar dessa forma. Me deixei ser consumido pelos problemas. Eu nunca desejaria colocar o peso do meu mundo sobre você, mas o estresse me pegou. Se não formos cuidadosos o suficiente, a vida se move um pouco mais rápido do que esperamos e eu estou tendo problemas para controlar o ritmo. É um inferno.
Você é a única coisa real neste mundo. Nada mais importa ou deveria ficar entre nós. Desde que nos conhecemos, você é meu ponto de paz. Eu te amo e, embora não diga com frequência, aprecio você e tudo que faz por mim. Eu prometo prestar mais atenção a nós dois no futuro, pois sei que nossa relação não vai sobreviver se não fizer minha parte.
Não importa o que esteja acontecendo, você me traz de volta. Sei que me conhece melhor do que eu mesmo e soube que algo estava errado. Agradeço por ter me dado espaço, mas a partir de agora, resolveremos tudo juntos. Você e eu contra o mundo. Por favor, nunca perca a fé em mim.
Saiba que eu sou persistente. Eu realmente pretendo cumprir todas as promessas feitas até aqui e ser uma pessoa melhor. Mas preciso de você ao meu lado, pois você me ajuda a ficar fiel a mim mesmo. O que você me dá nunca poderia se equivaler a qualquer riqueza. Você é a minha esperança nesses dias sombrios, . Dizem que o sol não brilha para sempre, mas você sim. Nós vamos fazer isso juntos. Por favor, confie em mim.
Eu te amo.”
Várias folhas amassadas ou riscadas estavam jogadas na mesa, mas finalmente estava satisfeito com suas palavras. Esperava de todo coração que lhe perdoasse. Limpou tudo antes de cuidadosamente dobrar a folha, levando-a até o quarto e colocando sobre o diário da namorada.
Estava ansioso para que chegasse logo, mas ainda faltavam algumas horas. Então preparou seu jantar e limpou tudo antes de tomar um banho longo quente, na esperança de conseguir relaxar. Quando tudo estava pronto, sentou-se na frente da televisão para tentar se distrair, mas nada adiantava. Estava inquieto e checava seu relógio a todo momento, esperando que voltasse para casa.
Finalmente, ela entrou pela porta. Permaneceu sentado, o olhar fixo na tela enquanto a ouvia andar pela casa. Não demorou para que ela fosse até a sala, suspirando audivelmente ao vê-lo na mesma posição de sempre.
— Oi, . — murmurou, forçando um sorriso.
— Oi, . — sorriu abertamente e isso a pegou de surpresa. — Por que não se troca para jantarmos juntos?
Ela pareceu desconfiada, mas concordou. saiu em direção ao quarto e ele baixou todo o volume da televisão, na esperança de ouvir algo. Pode ouvir o rangido da porta do quarto e então completo silêncio por vários minutos. Ele tinha certeza que ela encontraria a carta assim que entrasse no quarto e decidiu lhe dar alguns minutos a sós, apesar da ansiedade crescente em seu peito.
imaginava que essa era a sensação de ser julgado. Total inquietação até que outra pessoa decidisse seu destino. Preciso reunir forças para se levantar e caminhar lentamente até o quarto. estava sentada na cama, de costas para ele, o pequeno corpo tremendo com o choro. Se aproximou com cuidado e sentou ao seu lado na cama. Ela se virou ao sentir sua presença, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e estragando a maquiagem outrora perfeita.
— Eu sinto muito por tudo, . — murmurou baixo, quase como se estivesse medo de assustá-la. — Prometo que vou melhorar, só preciso de mais uma chance. Acha que pode confiar em mim outra vez?
Ela riu baixo e se lançou na sua direção, abraçando-o forte. a cercou com seus braços, acariciando suas costas delicadamente antes de beijar sua cabeça.
— Eu sempre vou confiar em você, .
Era frustrante, sair de casa todos os dias para mais um dia de incerteza e não demorou muito para que aquilo abalasse sua vida pessoal com . Ela era maravilhosa. Todos os dias tentava conversar com ele e descobrir o que estava acontecendo, mas ele simplesmente não conseguia contar que estava falhando na única coisa que sabia fazer. Então sentava no sofá e assistia televisão por longas horas. Se sua mãe estivesse ali, diria que seu cérebro iria derreter com tanto tempo gasto na frente da tela. Ele riu baixo com o pensamento, tirando seus sapatos antes de levar a bolsa de academia para seu quarto.
Deitou-se na impecável cama branca, que arrumava com todo o cuidado do mundo todas as manhãs. Era extremamente grato por tudo que ela fazia por ele todos os dias e sentia saudades de passar algum tempo bom com sua namorada. Não se lembrava qual a última vez em que a havia abraçado ou beijado seu rosto, como sempre fazia. Estava tão ocupado com os próprios pensamentos e preocupações que quase se esqueceu de manter o relacionamento vivo.
Suspirou pesadamente e rolou na cama. O tom de verde do pequeno caderno sobre o criado mudo chamou sua atenção. Esticou o braço e o pegou, lembrando do diário em que escrevia quase que religiosamente no começo de seu namoro. Ele sempre teve curiosidade de saber o que ela tanto escrevia ali, mas não tinha coragem de ler sem a sua permissão. Mordeu o lábio, sem saber o que fazer, brincando com o caderno em suas mãos. Quando o girava pela terceira ou quarta vez, uma folha dobrada caiu. Ele pretendia colocá-la no lugar, mas ao ver seu nome no topo da folha, não resistiu.
Seu coração apertava a frase linha que lia, já que deixou registrado naquele pedaço de papel toda a frustração que sentia com o relacionamento dos dois. Nunca se considerou uma pessoa emotiva, mas não pode conter as lágrimas. Era doloroso saber que ela já havia pensado em deixá-lo. Sua vida havia se entrelaçado tanto com a dela desde o primeiro momento em que se conheceram que não tinha a mínima ideia de como poderiam viver separados. Em meio a tanta dor, encontrou um pouco de conforto nas linhas finais. o amava e, mesmo com todas as coisas erradas que havia feito nos últimos dias, estava disposta a continuar tentando.
Ele continuou olhando o papel por longos minutos, depois de terminar de ler. Suas mãos tremiam e seus pensamentos agitados tentavam se organizar. Finalmente, suspirou. Guardou a carta e o diário em seus devidos lugares antes de se levantar da cama, esticando o lençol branco antes de sair do quarto.
Procurou uma folha em branco, uma caneta preta e sentou-se na mesa. Tinha tanto para dizer que nem sabia por onde começar. Calmamente, escreveu o apelido dela no começo da folha.
“,
Sei que estive um pouco distante ultimamente, tentando organizar meus pensamentos negativos e tentando descobrir coisas na minha vida. O mundo, infelizmente, é um lugar frio e estou cansado de ter um monte de altos e baixos, muito empurra e puxa. Ainda estou me acostumando com toda a pressão e dor que existem por aí.
Sinto muito pelo que te fiz passar nos últimos dias. Nunca foi minha intenção te machucar dessa forma. Me deixei ser consumido pelos problemas. Eu nunca desejaria colocar o peso do meu mundo sobre você, mas o estresse me pegou. Se não formos cuidadosos o suficiente, a vida se move um pouco mais rápido do que esperamos e eu estou tendo problemas para controlar o ritmo. É um inferno.
Você é a única coisa real neste mundo. Nada mais importa ou deveria ficar entre nós. Desde que nos conhecemos, você é meu ponto de paz. Eu te amo e, embora não diga com frequência, aprecio você e tudo que faz por mim. Eu prometo prestar mais atenção a nós dois no futuro, pois sei que nossa relação não vai sobreviver se não fizer minha parte.
Não importa o que esteja acontecendo, você me traz de volta. Sei que me conhece melhor do que eu mesmo e soube que algo estava errado. Agradeço por ter me dado espaço, mas a partir de agora, resolveremos tudo juntos. Você e eu contra o mundo. Por favor, nunca perca a fé em mim.
Saiba que eu sou persistente. Eu realmente pretendo cumprir todas as promessas feitas até aqui e ser uma pessoa melhor. Mas preciso de você ao meu lado, pois você me ajuda a ficar fiel a mim mesmo. O que você me dá nunca poderia se equivaler a qualquer riqueza. Você é a minha esperança nesses dias sombrios, . Dizem que o sol não brilha para sempre, mas você sim. Nós vamos fazer isso juntos. Por favor, confie em mim.
Eu te amo.”
Várias folhas amassadas ou riscadas estavam jogadas na mesa, mas finalmente estava satisfeito com suas palavras. Esperava de todo coração que lhe perdoasse. Limpou tudo antes de cuidadosamente dobrar a folha, levando-a até o quarto e colocando sobre o diário da namorada.
Estava ansioso para que chegasse logo, mas ainda faltavam algumas horas. Então preparou seu jantar e limpou tudo antes de tomar um banho longo quente, na esperança de conseguir relaxar. Quando tudo estava pronto, sentou-se na frente da televisão para tentar se distrair, mas nada adiantava. Estava inquieto e checava seu relógio a todo momento, esperando que voltasse para casa.
Finalmente, ela entrou pela porta. Permaneceu sentado, o olhar fixo na tela enquanto a ouvia andar pela casa. Não demorou para que ela fosse até a sala, suspirando audivelmente ao vê-lo na mesma posição de sempre.
— Oi, . — murmurou, forçando um sorriso.
— Oi, . — sorriu abertamente e isso a pegou de surpresa. — Por que não se troca para jantarmos juntos?
Ela pareceu desconfiada, mas concordou. saiu em direção ao quarto e ele baixou todo o volume da televisão, na esperança de ouvir algo. Pode ouvir o rangido da porta do quarto e então completo silêncio por vários minutos. Ele tinha certeza que ela encontraria a carta assim que entrasse no quarto e decidiu lhe dar alguns minutos a sós, apesar da ansiedade crescente em seu peito.
imaginava que essa era a sensação de ser julgado. Total inquietação até que outra pessoa decidisse seu destino. Preciso reunir forças para se levantar e caminhar lentamente até o quarto. estava sentada na cama, de costas para ele, o pequeno corpo tremendo com o choro. Se aproximou com cuidado e sentou ao seu lado na cama. Ela se virou ao sentir sua presença, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto e estragando a maquiagem outrora perfeita.
— Eu sinto muito por tudo, . — murmurou baixo, quase como se estivesse medo de assustá-la. — Prometo que vou melhorar, só preciso de mais uma chance. Acha que pode confiar em mim outra vez?
Ela riu baixo e se lançou na sua direção, abraçando-o forte. a cercou com seus braços, acariciando suas costas delicadamente antes de beijar sua cabeça.
— Eu sempre vou confiar em você, .
Continua...
Nota da autora: Sem nota.
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