Capítulo 1
- , por que ao invés de ficar admirando a chuva, não vem me ajudar a fechar a mala? – Josie parou ao meu lado – O que você tanto olha?
- Nada. – disse e comecei a caminhar até a sala – Vamos terminar logo com isso.
- Então tá. – ela veio logo atrás de mim – Você está tão estranha.
- Não se preocupe, querida, nossos sentimentos são mútuos. – falei debochada e então avistei uma mala imensa no chão, ao lado do sofá – Nossa, o que você está levando? Metade de Nova Iorque?
- Haha, muito engraçado. – Josie apoiou as mãos na cintura.
- Onde está o Jay? – olhei ao redor.
- Aquele lesado foi comprar uma mala. – ela se ajoelhou e tentou fechar o zíper da mala.
- Sério isso? – fiz uma careta – Que tipo de pessoa não tem uma mala em casa?
- O tipo de pessoa chamada Jay. – ela disse e me olhou com uma cara bem estranha - , será que dá pra me ajudar aqui? Essa coisa não fecha.
- Tá legal. – fingi me render.
Sentei sobre a mala, a pressionando para baixo, enquanto Josie forçava o zíper. Aquilo estava sendo tão trabalhoso e estranho que começamos a rir, piorando a situação, pois ficamos sem forças pra continuar. Enquanto ainda estávamos lá, ouvimos o barulho de chave e Jay adentrou o apartamento. Ao nos notar, ficou nos olhando com aquela cara de paisagem.
- Eu não vou nem perguntar o que tá rolando. – ele terminou de fechar a porta e veio até nós.
- Precisamos de ajuda. – Josie disse.
- Claro, gata. – ele abriu os braços sorrindo – Faço o que você quiser.
- Eca! – fiz cara de nojo e me levantei de cima da mala – Se beijem logo. Enquanto isso vou terminar de arrumar minhas coisas.
Fui até meu quarto e ainda pude ouvir a risada de Jay e Josie me xingar de algo impublicável. Não demorei muito e logo estava deitada na cama, apenas esperando a hora de irmos.
Estávamos de férias na faculdade e aproveitaríamos aquele tempo para passar alguns dias em Huntigton Beach. Fazia quase três anos que eu não volta lá e essa era uma boa oportunidade. Tínhamos ligado para um dos meus tios e ele me cedeu uma sua casa de praia. Tudo estava perfeito. Bem, pelo menos deveria estar.
Não sabia o motivo, mas apesar da felicidade de poder rever meus parentes e amigos, um sentimento desconhecido estava me incomodando. Chegava a ser sufocante. Parecia que lidar com meu passado não era meu forte. Me virei de lado e então olhei para a foto em cima de meu criado mudo. Era a foto que havia encontrado algumas semanas atrás, da minha última festa em Huntington Beach. Eu a tinha colocado numa moldura. Sorri ao me lembrar da reação dos meus amigos ao verem que eu ainda guardava uma lembrança como aquela.
Quando já cochilava, senti uma mão sacolejar meu ombro. Abri os olhos, encontrando Jay com um largo sorriso.
- Está na hora de irmos, princesa. – ele disse – Não queremos perder o avião, não é mesmo?
Não respondi nada, apenas suspirei e me levantei, caminhando até minha mala aos pés da cama. Peguei também minha mochila e então descemos. Colocamos tudo no táxi e seguimos para nossas férias. A previsão para Los Angeles e seus arredores era de bastante sol, o que significava que poderíamos aproveitar a praia e, quem sabe, surfar.
Chegamos ao aeroporto em cima da hora. Pegamos o voo e, apesar da chuva, não ocorreram problemas. Quase cinco horas dentro de um avião não demoraram, afinal dormi do momento da saída até o da aterrissagem. Acordei apenas ao sentir sussurros no meu ouvido. Era Jay tirando com a minha cara.
Descemos e não demorou para que avistássemos nossos parentes, entre eles, minha mãe. Naquele segundo, me esqueci de que já era uma adulta e corri em sua direção, a abraçando com força. Fazia quase três anos que não a via pessoalmente.
- Querida, é tão bom te ver. – ela me apertou mais – Estava com tanta saudade.
- Eu também, mãe. – fechei os olhos e engoli seco para não chorar.
- Vamos. – ela se afastou lentamente – Precisamos levar você e seus amigos até a casa de seu tio.
Concordei com um aceno de cabeça e então seguimos para os carros. Fui com minha mãe e Jay e Josie com seus parentes. No fim, paramos em frente à mesma casa. Não era muito grande, porém, seria o suficiente para três pessoas. A frente tinha uma cor amadeirada e as portas eram brancas. Por dentro o estilo era o mesmo e havia móveis marrons e pretos. Graças a Deus tinham três quartos. Claro, Jay foi o primeiro a escolher onde queria ficar.
Passamos o resto do dia conversando e almoçamos com nossos entes queridos. Foi tão bom poder passar aquele tempo com minha mãe. Mas tudo que é bom dura pouco e eles tiveram que voltar. Os levamos até seus carros e ficamos parados na entrada até virarem a esquina.
- O que faremos agora? – Josie perguntou.
- Não sei, mas seria bom dormirmos pra aproveitar o dia amanhã. – Jay sugeriu.
- Você acabou de dizer uma coisa sensata? – Josie fingiu espanto – Não acredito!
- Vamos entrar. – eu disse enquanto ria da situação.
Voltamos pra dentro e passamos o restante do dia comendo besteiras e rindo das bobagens que Jay falava. Fomos dormir cedo graças ao cansaço, mas fizemos planos de ir à praia logo cedo. De certa forma eu estava animada.
Eu queria ter dormido mais um pouco, mas isso é impossível quando se tem pessoas pulando em sua cama. Abri meus olhos assustada ao perceber o barulho das molas rangendo. Logo avistei Jay segurando o riso e Josie com um travesseiro em mãos.
- Vocês estão loucos? - me sentei ainda alarmada – Vão quebrar a cama!
- Por acaso está nos chamando de gordos? – Jay disse e começou a rir.
- Parem com isso, até parecem crianças! – me levantei, mas eles continuaram lá – Vamos logo pra essa praia.
- Sobre isso. – Josie finalmente parou de pular e desceu da cama – Vamos ter que voltar antes de meio dia, pois meus pais nos convidaram pra almoçar com eles.
- Tudo bem. – concordei.
Em seguida, segui até o banheiro e fiz toda minha higiene. Vesti um biquíni preto e por cima coloquei um short jeans curto e uma regata branca. Tomamos café e seguimos até a praia que ficava a uns dez minutos de caminhada da casa.
- Onde vocês encontraram essas pranchas? – perguntei enquanto seguíamos pela calçada.
- Eu conheço um cara. – Jay disse apenas.
- Tá legal. – revirei os olhos.
- Eu não acredito que vamos surfar! – Josie comemorou ao meu lado.
- É melhor pegar leve, estamos sem praticar há muito tempo. – eu disse.
- Tá, tá. – ela jogou o rabo de cavalo.
Chagamos e nos sentamos sob a sombra de um coqueiro. Observei o lugar e inalei o ar, sentindo o cheiro de maresia. Era tão relaxante que por um segundo me esqueci de todo o peso da faculdade. Eu precisava daquelas férias.
Não demorou muito e logo Jay estava na água surfando. Fiquei com certo receio pelo fato de não praticar há quase três anos, mas Josie insistiu tanto que acabei cedendo. Entramos juntas e percebi que não havia como esquecer algo tão legal. Passamos a manhã pegando onda, porém, fiquei com sede e saí com Jay.
De onde estávamos, podíamos ver Josie sobre a prancha e ela era boa. Sorri quando ela ficou de pé, mas numa fração de segundos minha expressão divertida se transformou em preocupação. Uma onda grande demais se aproximou e ela não conseguiu se manter na prancha, caindo na água. Ficamos apreensivos, esperando que ela voltasse. O que não aconteceu. Depois de instantes, eu sabia o que tinha acontecido.
- Ela está se afogando. – eu olhei para Jay – Não subiu até agora.
Não precisei dizer mais nada. Ele correu até à água para ajudá-la. Mas eu sabia que talvez não fosse suficiente. Sem vergonha, comecei a pedir ajuda. Isso fez com que algumas pessoas se aglomerassem ali perto. Não demorei à ver um homem de regata preta adentrar o mar para auxiliar Jay. Logo eles estavam voltando com ela, mas eu ainda não estava aliviada.
Passando pelas pessoas, eles a colocaram no chão, desacordada. Foi impossível me ajoelhar ao lado deles pelo tanto de pessoas em volta. Vi quando o homem fazia respiração boca a boca em Josie e suspirei, colocando a mão no peito, quando ela cuspiu água e acordou. Jay acariciou sua cabeça e lhe disse algumas coisas. Naquele momento me esforcei para me aproximar, me espremendo entre as pessoas e me abaixei ao lado deles.
- Josie! – agarrei sua mão – Você é louca?
- E você só sabe dizer isso? - ela fechou os olhos.
- Você é mesmo uma idiota. – Jay falou, mas seu tom de voz não era de alguém zangado.
- Apenas me tirem daqui, sabem que odeio plateias. – ela disse passando as mãos no rosto.
Rimos de suas palavras. Foi quando me lembrei do rapaz que tinha ajudado minha amiga. Ele não estava mais lá. Olhei em volta e então o encontrei. Ele já se afastava com uma prancha em mãos. Voltei minha atenção para meus amigos e Jay ajudava Josie a levantar. Decidi que eu deveria agradecer aquele cara.
- Eu já volto. – disse à eles.
Fui até o homem e o chamei algumas vezes, mas ele parecia não ouvir. Ou ao menos fingia que não ouvia. Comecei a correr na sua direção e só quando estava a uma curta distância é que ele parou.
- Cara, pensei que não ia parar. – falei arfando – Você poderia ter...
Mas parei no mesmo segundo que ele se virou pra mim. Ao fitar seu rosto senti minhas pernas bambearem e meu coração bateu dez vezes mais rápido. As palavras não saiam e só consegui dizer uma coisa. Seu nome.
Capítulo 2
- . – ele disse.
- Você... – eu não sabia o que dizer – Salvou a Josie.
- Sim. – ele respondeu apenas.
- Mas... como... você... – olhei pros lados tentando dizer algo que fizesse sentido – Espera, por que estava indo embora?
- Eu só precisava ir. – ele respondeu.
- E ia sem falar com a gente? – franzi o cenho – Não nos vemos há três anos.
- Foi mal. – ele colocou a mão livre no bolso da bermuda – Achei que precisavam de um tempo.
- Eu não estou entendendo. – balancei a cabeça negativamente – Como assim um tempo? Nós somos amigos.
- Somos? – ele ergueu as sobrancelhas.
- O quê? – imitei seu gesto – Sim, nós somos.
- Certo. – ele acenou uma vez com a cabeça – Agora preciso ir, mas foi um prazer te ver.
- Mas... – tentei dizer.
No entanto, ele me deu as costas e começou a caminhar pra longe. Fiquei paralisada por alguns instantes tentando entender o que tinha acabado de acontecer ali. Aquele não podia ser o que eu conhecia. Não podia ser meu melhor amigo. Ele nunca me trataria assim. Independente do que tivesse acontecido. Pensei em correr outra vez atrás dele, mas vi alguém parar ao meu lado e fitei a pessoa. Era Jay.
- Cadê o ? – ele perguntou.
- Você sabia que era ele? – questionei.
- Sim. – ele respondeu – Só não entendi por que ele foi embora.
- Nem eu. – murmurei.
- Vamos levar a Josie pra casa. – ele disse - Depois falamos com o .
Eu não disse nada, apenas o segui. Levamos nossa amiga pra casa, mas eu não conseguia parar de pensar no meu reencontro com . Havia sido perturbador. Ele me tratou como se eu fosse uma estranha. Tomei um banho e ainda com aquilo na cabeça fui falar com Jay.
- Hey, por acaso você tem o celular do ? – perguntei, me sentando no sofá, ao seu lado.
- E pra que você quer o celular dele? – ele disse enquanto trocava insistentemente de canal.
- Eu não estou muito a fim de pensar numa resposta pra replicar sua pergunta. – suspirei fundo – Então apenas me responde.
- Sim, eu tenho. – ele continuava sua briga com o controle.
- Desde quando? – o questionei.
- Sei lá. – ele deu de ombros – Desde que fomos pra Nova Iorque.
Engoli seco. É claro que ele tinha o número do . E Josie também devia ter, afinal eles não piraram e saíram apagando todos os contato de sua lista telefônica. Joguei a cabeça pra trás e suspirei.
- Será que poderia passar pra mim? – pedi.
- Tá. – ele disse apenas e me jogou o celular – Procura na lista de contatos.
Revirei os olhos, mas fiz o que ele disse. Logo encontrei o número do . Fiquei encarando os números por um tempo incalculável até que tomei coragem e os registrei em meu celular. Devolvi o celular de Jay e fui para meu quarto. Precisava saber o motivo de ter me tratado daquela forma. Apesar de já desconfiar. Liguei para ele e aguardei apreensiva.
- Alô! – finalmente ouvi sua voz e travei – Alô?
- Er... ? – respirei fundo – Sou... sou eu.
- ? – ele parecia surpreso – Como...
- O Jay me deu seu número. – eu disse de uma vez e pigarreei – Eu queria saber se... é que...
- , o que você quer? – ele me cortou.
- Sei que não nos falamos há algum tempo, mas, , eu queria saber se podemos... – engoli seco – Conversar.
- Acho melhor não. – ele ao menos parou pra pensar.
- Olha, sei que não tenho o direito de te pedir nada, mas preciso disso. – tentei outra vez – Prometo que será apenas dessa vez.
Por longos instantes a linha ficou muda, ele não disse nada. Eu ouvia apenas sua respiração. Aquilo me deixou cada vez mais apreensiva, mas eu ainda tinha esperanças de que ele me desse uma chance.
- Tudo bem. – ele disse e soltou um suspiro – Podemos nos ver hoje à noite na minha casa.
- Você ainda mora naquele mesmo lugar? – perguntei.
- Sim. – ele respondeu.
- Está bem. – eu disse – Nos vemos à noite.
Ele não respondeu, apenas desligou o celular. Após aquela conversa, me joguei na cama e cobri meu rosto com o travesseiro. Deveria ter confiado em minha intuição. Estava me sentindo mal e não poderia imaginar que seria por isso. Qual era a probabilidade de encontrá-lo em Huntington Beach? Bem, parecia que era maior do que eu esperava.
Passei o restante do dia em casa. Não quis ir ao almoço na casa dos pais de Josie e fiquei sozinha. Não sabia que horas ir até a casa de , mas seria melhor ir cedo, não queria incomodar.
Quando era mais ou menos uma sete da noite, resolvi ir. Coloquei um vestido simples e uma sandália rasteira e peguei um táxi. Não demorei a estar bem em frente da casa onde o morava. Não era muito grande, mas mais do que suficiente para apenas uma pessoa. Bati na porta e esperei.
Logo pude ouvir a maçaneta girar e segurei minha respiração. Quando a porta foi aberta vi e nossos olhares se encontraram. Por um segundo, tive vontade de ir embora, mas me contive. Precisávamos conversar.
- Oi. – foi tudo o que eu disse.
- Pode entrar. – ele me deu passagem – Fique à vontade.
O olhei por alguns instantes, percebendo o quanto suas palavras não eram sinceras. Ele não me queria ali. Assim como eu não o quis em minha vida em certo tempo. Caminhei até o sofá de dois lugares e me sentei. Ele se sentou na poltrona ao lado.
Ficamos em silêncio. Um silêncio constrangedor e me perguntei mais uma vez o que fazia ali. Porém, resolvi dar início aquela conversa, assim, poderia encerrá-la o mais rápido possível.
- , antes de qualquer coisa, só queria dizer que sinto muito. – comecei a falar – Eu só...
- Você acha que depois de três anos pode voltar e me pedir desculpas? – ele me interrompeu – Especialmente quando foi você que se afastou?
- Eu não tive escolha. – eu o fitei – Você sabe.
- A última vez que nos falamos, você me disse que um garoto tinha partido seu coração. Depois, não me ligou mais. – ele balançou os ombros – Então, acho que não sei.
Baixei o rosto e mordi os lábios. Não podíamos conversar se eu não contasse tudo. Os últimos três anos não haviam sido fáceis e ele precisava saber. Mesmo que fosse o último mais uma vez.
- Como chegamos à isso? – murmurei e fitei minhas mãos sobre meu colo.
- É difícil dizer. – ele apoiou os cotovelos nos joelhos – Mas gostaria que tentasse me explicar.
- , eu sei que acha que escolhi me afastar, mas eu estava passando por um momento difícil. – respirei fundo – Meu pai estava doente e meu namorado terminou comigo, justo quando eu precisava dele. Foi por isso que liguei pra você, por que sabia que me ajudaria. Mas então meu pai morreu.
- E eu sinto muito por isso. – ele disse – Deve ter sido difícil.
- Não, . Foi mais que isso. – balancei a cabeça negativamente – Quando ele morreu, fiquei sem saber o que fazer. Pensei até mesmo em voltar pra Huntington Beach. Nos primeiros meses entrei em depressão e até fui reprovada no semestre da faculdade. Naquele tempo, eu não queria saber de mais nada, de mais ninguém.
- , eu não sabia. – ele franziu o cenho.
- Ninguém sabia. – eu sorri fraco – Até que contei a minha mãe e ela falou com o Jay e a Josie. Eles praticamente me obrigaram a dividir o apartamento com eles e agradeço todos os dias por isso. A presença deles de certa forma me fez reviver. Agora não imagino mais minha vida sem aqueles dois. Assim como não imaginava minha vida sem você.
- Por que nunca me contou nada? – ele parecia surpreso – Eu teria ido até lá, eu...
- Eu não queria ninguém comigo, afastei todos. Troquei de número e apaguei todos meus contatos. Passei boa parte do meu tempo presa em casa. – ri sem humor – Eu já não era mais a mesma que você conheceu um dia.
- Mas e depois? Agora que está melhor deveria ter me procurado. – ele parecia inconformado – Eu poderia te ajudar.
- Achei melhor não. – mordi meu lábio inferior – Não queria atrapalhar sua vida.
- Atrapalhar minha vida? – ele passou uma mão na boca – Está ouvindo o que está dizendo?
- É um pouco dramático, eu sei. Mas eu estava em crise. – olhei pra cima – Se você soubesse o quanto me arrependo de tudo o que fiz.
- Deveria ter tentado mudar as coisas. – ele sussurrou, mas fui capaz de ouvir.
- Eu sei. – falei no mesmo tom.
Em seguida, me levantei e segui até à porta. Não podia mais continuar ali. Meus olhos já ardiam e choraria a qualquer momento. Percebi que continuou no mesmo lugar então não disse nada, apenas cheguei até à porta e saí. Caminhei apressada em busca de um táxi e voltei pra casa. Só quando cheguei e fui para meu quarto é que desabei. Não eram essas as férias que eu havia imaginado.
Capítulo 3
Me levantei e, depois de passar no banheiro, segui o som dos risos. Assim que adentrei a cozinha, não consegui conter a surpresa. estava lá com os outros, sentado sobre a mesa de jantar.
- Eu não acredito! – murmurei.
- , é você? – o desceu da mesa e veio até mim.
Sem avisar, ele me abraçou. Um abraço que urso que me fez tirar os pés do chão. Foi impossível não sorrir. Ele não demorou a me soltar.
- Não acredito que você cresceu! – ele fingiu estar chorando – Mas me diz, quanto tempo vão ficar?
- Mais uns três dias. – respondi – E o que faz aqui?
- Também é bom te ver. – ele fez o sinal de positivo.
- Deixa de ser tapado. – lhe dei um soco leve no ombro – Só estou curiosa.
- Eu soube que vocês viriam e resolvi dar uma passada aqui. – ele falou – Que tal irmos lá pra casa? Vamos nos reunir na piscina pra tocar um pouco.
- Pode ser. – balancei os ombros.
- nimo, garota. – ele me balançou – Você está prestes a visitar a o lar dos Strombergs.
- Super. – fingi entusiasmo.
Nós três nos arrumamos, enquanto comia todas as nossas guloseimas. Logo estávamos prontos e fomos com ele em seu carro. Sua família ainda morava na mesma casa e seria bom revê-los. Quando adentramos a casa e fomos para o quintal, pude avistar uma galera com alguns instrumentos. Ia acenar para eles, mas parei no segundo que vi . Deveria ter previsto que ele também estaria aqui.
Me afastei um pouco e sentei numa cadeira de praia perto da piscina. Os garotos começaram a tocar músicas no violão. Seria bom ouvir aquilo mais uma vez, então me ajeitei e fechei os olhos. Hora eles faziam improvisos, hora cantavam. Era divertido. Ficamos ali até de tarde. Foi quando senti alguém passar por mim. Abri os olhos e encontrei o Chadwick sentado na cadeira ao lado.
- O que houve? – desviei olhar.
- Só queria dizer que não terminamos aquela conversa ainda. – ele falou.
- Tudo o que eu tinha pra dizer eu disse, acho que não precisamos mais fazer isso. – cruzei os braços.
- Você falou, agora é minha vez. – ele se levantou – Vou te esperar no quarto de hóspedes.
Então, ele se levantou e adentrou a casa. Mordi meus lábios e me remexi inquieta. Não podia ser sério. Ele queria falar comigo e justo no quarto de hóspedes. Eu me lembrava muito bem do que tinha acontecido quando estive lá da última vez. Falamos o que sentíamos um pelo outro. Mas agora a situação era diferente.
Olhei em volta e ao perceber que os outros estavam distraídos na roda de música, decidi ir até o quarto. Me levantei discretamente e adentrei a cozinha. Fui em direção às escadas e subi. O quarto de hospedes era o do fim do corredor. Isso era algo que eu não poderia esquecer.
Ao parar em frente à porta branca, ri abafado. Mais uma vez eu estava ali. Receosa, segurei a maçaneta e a abri. Coloquei metade do meu corpo para dentro e vi parado perto da janela. No mesmo segundo, me recordei do momento que conversamos sobre minha partida para Nova Iorque.
Flash Back –On-
estava parado na janela que dava visão ao quintal, onde parte da festa acontecia. Mordi meus lábios e então terminei de entrar, fechando a porta sem tentar fazer barulho. No mesmo segundo o som de fora foi abafado.
- Pensei que não vinha mais. – ele disse quando comecei a me aproximar.
- Eu... estava criando coragem. – resolvi admitir.
- Então é verdade. – ele finalmente se virou pra mim – , por que não me contou antes?
- , eu... eu não sei. – acelerei meus passos, parando em sua frente – É só que...
- Só que o quê? – ele tentou me olhar nos olhos.
- Eu apenas não consegui, me desculpe. – baixei o rosto.
Flash Back –Off-
- Hey! – falei, tentando mandar meus pensamentos embora e ele se virou pra mim – Estou aqui.
- Estou vendo. – ele disse.
- O que quer me dizer? – me aproximei alguns passos, parando à alguns metros dele.
- Bem direta você. – ele sorriu de canto.
- Geralmente é assim que fico quando estou nervosa. – dei de ombros – Ou então não consigo dizer nada.
- É, eu me lembro bem dos trabalhos que fazíamos no colégio. – ele disse – Você era terrível.
- Obrigada por me lembrar. – fingi estar ofendida, mas soltei um riso anasalado em seguida – Sabe, aqueles foram bons tempos.
- É, foram. – ele concordou comigo.
Soltei o ar pela boca de uma só vez e me aproximei mais. Eu não queria admitir, porém, o desejo de saber o que me diria era tão grande que chegava a me consumir. E acho que ele notou, pois também se aproximou. Paramos apenas quando faltava um pequeno espaço entre nós e tive que erguer um pouco meu rosto para fitá-lo melhor. Antes que eu pensasse em dizer algo, ele começou a dizer.
- Não há muito que eu possa te dizer, então acho melhor começar do inicio. – ele disse.
- Essa é uma boa forma de não se perder. – sorri minimamente.
- , sei que sabe que quando você foi embora para Nova Iorque, eu sofri. – ele começou – Mas eu me apoiei no que sentíamos um pelo outro, e eu tinha esperanças de que... pudéssemos ter um futuro juntos. Mas depois de um ano você arrumou um namorado.
- O Peter. – eu torci o nariz.
- Quando você me disse que estava com ele, todas as minhas esperanças acabaram. Eu não tinha mais chances, afinal. – ele continuou – Porém, quase um ano mais tarde, vocês terminaram e você ligou pra mim. Naquele minuto voltei a acreditar que poderíamos ficar juntos. Eu planejei ir até Nova Iorque pra te ver e também pra saber como seu pai estava. Mas então ele morreu e você parou de manter contato.
Desviei os olhos por um segundo, pois sabia do que ele falava. Só depois de suspirar fundo é que o olhei novamente e ele parecia esperar por isso para continuar.
- Falei com sua mãe e ela me disse que você estava passando por um momento difícil, então resolvi te dar tempo. – mordeu os lábios por um instante e voltou a falar – Quase um ano depois o Jay veio passar as férias aqui e eu soube por ele que vocês estavam dividindo um apartamento. Fiquei feliz por saber que já estava melhor. Mas, quando pedi seu número ele disse que era melhor não, que você não queria falar com ninguém de Huntington Beach, inclusive eu. Especialmente comigo.
- Eu não queria que visse como fiquei. – o interrompi por um instante.
- Agora eu sei disso, mas antes não. O que me deixou extremamente magoado. – ele olhou para o teto – Dali em diante decidi que, se você não me queria em sua vida, não havia motivos para eu ir atrás de você. Foi a decisão mais difícil que tomei, mas só queria que ficasse bem.
- Você sempre me protegeu, Chadwick. – sorri.
- E não será diferente dessa vez. – ele completou.
- Como assim? – franzi o cenho, confusa – O que quer dizer?
- Quero dizer que você tem que voltar pra sua vida, tem que se formar e se tornar uma ótima médica. – parou e me olhou nos olhos por um longo instante – Ficamos bem assim, não é? Quer dizer que podemos continuar um sem o outro.
- Mas, somos amigos. – falei surpresa.
- E continuaremos a ser. – ele sorriu – E esse é o problema. Pelo menos pra mim.
- Problema? – ergui as sobrancelhas – , o que...
Mas não terminei de falar, pois ele se afastou enquanto passava as mãos no rosto. Suspirei pesado e continuei no mesmo lugar até que ele parou, um pouco mais longe dessa vez.
- Você ainda não percebeu, não é? – ele falava sem me encarar.
- Percebi o quê? – caminhei em sua direção – Será que poderia ser mais direto?
- Você quer que eu seja mais direto? – ele se virou de uma só vez e ficamos cara a cara – Quer mesmo que eu seja?
- Sim, eu quero. – não me intimidei.
- Eu não posso continuar sendo seu amigo, como antes, por que eu ainda te amo. – ele disse de uma só vez – , eu ainda amo você.
- ... – arfei sem acreditar.
- Achei que já tinha superado, mas quando conversamos ontem na minha casa, tudo voltou de uma só vez. – ele chegou mais perto – Eu sinto muito.
Mordi meus lábios. estava se desculpando por ainda me amar. Ele ainda me amava. Depois de tanto tempo, depois de tudo. Por um impulso, terminei a distância que havia entre nós e uni nossos lábios. Mas então percebi o que fazia e, tão rápido quanto me aproximei, me afastei.
- Ah meu Deus... – murmurei colocando uma mão sobre a boca – Eu não deveria ter feito isso. Me desculpe, eu...
- Ei!- ele chamou minha atenção.
O olhei com os olhos marejados e quando pensei em baixar o rosto, ele me impediu, segurando meu queixo com os dedos. me olhou nos olhos e percebi o que ele faria. Quando ele aproximou seu rosto do meu e senti sua respiração bater contra minha bochecha, fechei os olhos. Logo senti seus lábios outra vez. Daquela vez, porém, foi mais intenso.
Quando nos separamos, notei que segurava a barra de sua bermuda e que ele tinha uma de suas mãos em minha cintura. ainda me amava. Sorri e sem pensar o abracei. O abracei forte e senti seus braços em minha volta. Há quanto tempo sonhei com isso? Em receber seus beijos e abraços outra vez?
Ele se afastou, me fitando e sem precisar dizer mais nada, voltamos a nos beijar. Um beijo cheio de saudade e que parecia ser o perdão que pedíamos um ao outro. Joguei meus braços sobre seus ombros, aproximando nossos corpos e isso deixou o beijo mais intenso. Instantes depois já podia sentir as chamas tomando conta de mim aos poucos. parecia estar da mesma forma, pois deslizou suas mãos pelo meu corpo, até chegar às minhas pernas. Arfei pela surpresa, mas entendi o que ele queria. Num impulso, entrelacei minhas pernas ao redor de seu quadril.
começou a caminhar e quando percebi, já estava deitada na cama ali no quarto com o Chadwick sobre mim. Partimos o beijo e ele desceu seus lábios até meu pescoço, deixando seu rastro ali. Mordi meus lábios para evitar gemer e agarrei seus cabelos sem muita força.
- ... – falei seu nome em meio a minha respiração descompassada.
Isso o fez me beijar novamente, dessa vez com mais urgência. Agarrei sua camiseta e a puxei com voracidade e ele me ajudou a terminar de tirá-la, fazendo o mesmo com a minha em seguida. Depois de fazê-lo, ele se apoiou num dos braços e me encarou intensamente com a respiração pesada.
- Eu não quero ir muito rápido, mas é muito difícil ir devagar quando você se sente do jeito que eu sinto sempre que estou perto de você. – ele sussurrou.
- Então não vá devagar. – eu disse com um largo sorriso.
Ele também sorriu e se inclinou na minha direção, me beijando. A partir daquele segundo, me deixei levar. Eu o amava, certo? Só havia me esquecido. No entanto, agora não havia como não me lembrar.
Capítulo 4
Olhei para a janela entreaberta e vi que o sol brilhava. Parece que tínhamos dormido bastante. Me estiquei até o criado mudo e peguei meu celular. Ele marcava cinco e quarenta da manhã. Fitei o Chadwick mais uma vez. Ele estava tão sereno que não me permiti acordá-lo, mesmo que estivéssemos no quarto de hóspedes da casa dos pais de .
Sem fazer muito barulho, me levantei e vesti minhas roupas e penteei meus cabelos. Em seguida, me sentei na beirada da cama, ao lado de . O observei por um longo tempo. Foi então que aquele sentimento sufocante voltou e me acertou em cheio. Minha mente me acusava, dizendo que o que tínhamos feito não era o certo.
Sem refletir nas consequências, decidi que era hora de voltar pra casa. Me levantei e saí do quarto, indo até a escada. Desci na ponta dos pés para não acordar ninguém, porém, quando estava perto da porta, ouvi alguém chamar meu nome e pulei pelo susto. Ao me virar, encontrei vindo com uma xícara nas mãos.
- Quer me matar do coração? – levei a mão ao peito.
- Onde você está indo? – ele perguntou.
- Eu... só vou... caminhar um pouco. – tentei inventar uma desculpa.
- Estava indo embora? – ele arregalou os olhos – , você não vai fazer isso.
- , eu preciso de tempo. – desviei meu olhar – Só isso, tá legal!
- Tempo? – ele disse e riu sem humor – Mais do que já tiveram?
- Eu sei, mas... – tentei falar.
- Mas nada. – ele se aproximou – Se fizer isso vai abandoná-lo. Outra vez.
estava sendo sincero. Mas eu o entendia. Ele e eram melhores amigos e o deve ter sido a principal pessoa que ajudou o quando fui embora e depois, quando me afastei.
- , eu quero ficar, mas algo dentro de mim me diz que é impossível. – engoli seco – E se esse sentimento estiver certo?
- Você é tão idiota quanto o . – ele colocou a xícara sobre a mesa de centro e voltou – Parem de se fazer de vítimas. Todos passam por dificuldades, é óbvio, mas isso não é motivo para sacrificar amizades, muito menos um amor. Esqueça qualquer coisa que te preocupe e siga seu coração, pirralha.
- Tá. – balancei a cabeça positivamente.
Depois, me virei e caminhei até à porta a abrindo. Me virei uma última vez para e vi que ele estava confuso, por isso soltei um leve riso.
- Diga a ele que estarei na praia, perto da ponte. – falei, continuando – E, obrigada.
Ele acenou com a cabeça e então eu saí. A casa dos Strombergs ficava perto da praia e precisei caminhar por uns dez minutos apenas. Logo estava pisando na areia branca e vi só algumas pessoas caminhando por lá também. Me afastei delas, seguindo para perto da ponte de madeira que fazia parte da orla. Parei e deixei que a água salgada molhasse meus pés e fechei os olhos, sentindo a brisa balançar meus cabelos. Aquela era uma das melhores sensações que poderia ter.
Perdi a noção do tempo e por um segundo se passou em minha mente a ideia de que não viria. Balancei minha cabeça pros lados, me recusando a pensar nisso. De repente, ouvi uma voz atrás de mim e meu coração se descompassou no mesmo segundo.
- Não me lembrava de que você era tão linda! – ele disse e olhei por cima do ombro.
- ! – sorri.
- Você gosta mesmo dessa ponte, não é? – ele falou num tom debochado – Não vejo muita graça nela.
- Não tem a ver com a beleza e sim com os momentos que passei aqui. – falei e fitei o céu sem nuvens – Com minha família, com meus amigos. Com você.
- Me lembro de cada um deles. – ele se aproximou por trás.
Ficamos em silêncio, apenas aproveitando a presença um do outro. Em certo instante, senti uma das mãos de pousar em minha cintura e tentei conter meu sorriso.
- Sei que tudo aconteceu muito rápido, mas se você me der uma mínima chance. – ele disse e sua respiração acoitou minha nuca – Apenas me diga sim.
- Sim! – me virei de frente para ele - Eu te daria todas as chances do mundo, .
- Eu te amo! – ele disse sorrindo.
- Eu também amo você! – acariciei sua nuca – E sempre vou amar.
Sem que nenhum de nós precisasse dizer nada, ele me beijou. Retribuí seu gesto o abraçando pelo pescoço e sorri entre o beijo quando ele me ergueu do chão. Partimos o beijo e me rodopiou, arrancando risos de mim.
Há cinco anos, quando parti de Huntington Beach, perdemos a chance de sermos felizes. Depois, problemas ainda maiores continuaram a nos afastar. Mas agora, parecia que a vida queria nos dar uma nova chance. Era o tempo certo para nos redimir. Era o tempo certo para sermos felizes.