Finalizada em: 05/06/2021

Capítulo Único

Eu prometo que vou voltar. Vou ficar vivo... por você.

O barulho dos socos ecoava alto por toda a sala. Meu olhar era focado num ponto específico e eu canalizava toda a raiva e determinação aflorada.
Meus sentidos estavam parcialmente em alerta, afinal, eu não estava no lugar mais seguro do mundo. A qualquer momento, a base poderia ser invadida e precisava estar constantemente preparado para o pior.
Eu me encontrava confinado naquele lugar há exatos oito meses, sem celular ou qualquer outro meio de comunicação. Não havia a menor possibilidade disso, porque qualquer equipamento do tipo denunciaria minha localização e o inimigo era poderoso e astuto demais para nos descuidarmos daquele jeito. Era óbvio que isso não melhorava em nada o meu estado de espírito.
Oito meses e eu não havia esquecido aquela promessa por um segundo sequer.
É engraçado quando a vida nos surpreende desse jeito. Em um minuto, você não se importa, não se apega e não tem por quem voltar e então, no minuto seguinte, tudo ganha sentido e você se pega preso por seu próprio coração, enlaçado a uma promessa que tinha tudo para não ser cumprida, e concentrando todas as suas forças para ir contra seu fatídico destino, porque descobriu que estava errado e tinha, sim, por quem voltar.
era a dona da minha promessa e de todos os meus pensamentos durante os últimos oito meses.
Os piores da minha vida.
Sem contar as cinco vezes nas quais saímos para atacar uma base inimiga, todos os dias a minha rotina era constante, com exceção do tipo de treinamento, variando apenas para eu não morrer de completo tédio, sem contar os treinamentos coletivos ocorridos uma vez por semana.
Confesso que eu me sentia extremamente incomodado por ter de passar por todo aquele treinamento novamente. Era ridículo. Eu estava há muitos anos num meio como aquele. Lutar, atirar, faziam parte da minha vida há alguns anos. Na verdade, eu percebi ter nascido para aquilo. Nasci treinado para matar. Mas é como dizem, preparação nunca é demais e aquilo muitas vezes se tornava um meio de aliviar a tensão e a frustração que eu sentia.
Não havia um dia em que eu não sentisse o arrependimento por ter saído para aquela missão, mas não era como se eu pudesse recusar. Eu assumi um compromisso e tinha um dever com a minha nação.
Ser um soldado nunca esteve nos meus planos, na verdade, meu maior sonho sempre foi seguir a música. Me tornar um cantor, montar uma banda, viver o sonho de rockstar, mas, como se a vida não houvesse sido injusta comigo o suficiente por me fazer crescer sem uma mãe, todas as minhas perspectivas mudaram quando eu perdi meu pai no ataque de onze de setembro.
Nunca esqueceria da sensação de desespero e revolta que me dominou. Quando ele foi arrancado de mim, eu me vi completamente sozinho, desamparado. Meu pai era a única pessoa que eu tinha e se importava comigo.
Queria me vingar por aquilo e não queria que mais ninguém se sentisse como eu me senti. Um pouco contraditória essa história de vingança, se parar para pensar, mas esse sentimento foi o suficiente para que eu me alistasse no exército. A partir daquele dia, a minha vida tomou um rumo diferente e eu tinha sempre o mesmo foco: me preparar e lutar pelo meu país.
Os anos foram passando, eu fui enviado para algumas missões e havia obtido sucesso em todas elas. Cada batalha vencida era um motivo de extremo orgulho de mim mesmo, porque algo dentro de mim me dizia que meu pai também estaria orgulhoso e aquilo era o suficiente para mim.
Não demorei a conseguir uma posição de respeito e a receber algumas propostas para subir de cargo, mas a verdade era que por mais que eu gostasse, na época, da decisão tomada, algo me dizia que eu não deveria dedicar mais tempo do que já dedicava ao meu trabalho.
Foi durante uma de minhas férias que eu a conheci.
Eu nunca fui o tipo de cara que namorava, na verdade, eu apenas aproveitava a boa aparência que havia herdado de meus pais para pegar o maior número possível de mulheres que pudesse. Não tinha nenhuma dificuldade com aquilo, porque eu sempre soube exatamente o que dizer para fazê-las cederem aos meus encantos.
Mas teve uma mulher que não cedeu.
E foi exatamente essa mulher que virou o meu mundo de ponta cabeça, mexeu com minhas convicções e me tornou o homem que eu jurava que nunca seria: um homem apaixonado.
Clichê demais, mas era a verdade, ela não cedeu e eu caí aos pés dela como um pateta. O mais engraçado era que nunca me arrependeria por isso, porque aquele cara que eu costumava ser era um tremendo babaca.
Ela chegou à minha vida de forma mansa, nem eu mesmo percebi quando começou a mexer comigo. Nós sempre fomos amigos acima de tudo, era para ela que eu ligava para contar sobre a vítima da noite. Lógico que eu sempre tentava seduzi-la quando via oportunidade, mas no fundo eu sabia que nunca teria chances com uma mulher como ela, incrível demais, encantadora demais.
Depois de alguns anos de amizade que eu fui descobrir que a palavra nunca era muito forte e toda vez que fosse pronunciada atrairia uma prova contrária.
Ela passou a ser muito mais do que uma amiga. Ela era o que eu tinha de mais importante. Era minha namorada, companheira, confidente.
E foi por isso que eu me odiei com todas as forças por ter escolhido a profissão que escolhi. Meu pai ainda merecia que eu vingasse a morte dele e defendesse nossa nação, mas a vida adquiriu outro significado e, se ele estivesse vivo, talvez me aconselhasse a seguir em frente. Não era saudável manter aquele ódio por tanto tempo.
Aquela distância toda estava me matando. Todas as noites eu me pegava rolando pela cama com impaciência porque algo me faltava. Meu antigo eu gritava dentro de mim que eu era patético, que parecia um adolescente tolo e sem nenhum senso de realidade, mas quer saber? Que meu antigo eu babaca se fodesse! Eu não estava nem aí para rótulos. Acho que é isso que o amor faz com a gente.
Sim, eu a amava e aquele tempo todo longe dela estava servindo exatamente para me provar isso.

🤍

Despertei de meus pensamentos com um estrondo que reverberou por toda a sala e me fez fazer uma careta ao mesmo tempo em que tossia por conta da poeira que havia se levantado. Eu tinha destruído mais um saco de areia.
Soltei um suspiro longo, aquela sessão havia acabado, mas eu não estava satisfeito. No momento, eu não havia descarregado toda a minha frustração ainda, então decidi ir até uma outra sala para treinar tiro.
Depois de colocar o equipamento de proteção adequado, mirei a arma na cabeça do boneco e meus olhos se reviraram em tédio quando o acertei em cheio na testa.
Alguns tiros depois e eu havia desistido de tentar me distrair. Dias como aquele se tornavam cada vez mais frequentes e tudo o que eu queria era que pudesse ao menos mandar uma maldita carta para ela, mas eu não podia. Eu era de uma divisão um pouco mais secreta e nós éramos mandados apenas para missões especiais, a única promoção que eu havia aceitado.
Bufei alto quando terminei de guardar o equipamento e logo eu estava no meu quarto, de banho tomado e jogado na cama após bater a porta com frustração.
Então eu fiz uma promessa para mim mesmo: aquela seria a minha última missão.

🤍

, eu não... É melhor eu ir embora. — Os olhos dela expressaram dúvida em minha direção e ela se soltou dos meus braços. Teria realmente ido embora se eu não fosse mais rápido e a segurasse pelo braço.
— Não, , não fuja mais de mim — eu disse, olhando fixamente os olhos dela, expressando o quanto eu queria que ela ficasse.
Não tinha sido fácil expressar para ela tudo o que sentia. Eu tinha recusado aquilo até meu peito praticamente se rasgar implorando por ela e agora que eu havia parado de me enganar, não iria desistir fácil assim.
Ela me encarou longamente, me mostrando com o olhar que ela não queria fugir, mas tinha medo. Tinha medo de arriscar, de se entregar e sofrer.
— Por favor, não fuja — insisti, mais uma vez, tocando a cintura dela de leve. suspirou pesadamente e então sorriu de leve, com suas bochechas corando.
— Eu não tenho mais forças para fugir de você — ela confessou, e no instante seguinte nossos lábios estavam unidos mais uma vez.
Puxei ela para mais perto de mim, abraçando sua cintura e sentindo as mãos dela tocarem meus ombros, apertando como se estivesse louca para fazer aquilo desde o começo. Soltei um grunhido em meio ao beijo, demonstrando o quanto eu estava ansiando por aquilo, por mais que tivéssemos nos beijando minutos antes. Daquela vez era diferente, daquela vez eu não precisava me controlar, não precisava temer uma possível fuga porque ela havia se rendido.
Minhas mãos criaram vida própria, deslizando pelo corpo dela, acariciando da cintura até um pouco abaixo dos seios e então descendo, apertando a bunda dela e trazendo mais intensidade ao beijo. correspondia com vontade, subindo uma das mãos para minha nuca, puxando alguns fios dos meus cabelos e gemendo baixo contra meus lábios.
Dei alguns passos, levando-a comigo e segundos depois ela soltou uma exclamação ao sentir seu corpo se chocar com a parede da sala. Uma risada baixa ecoou de meus lábios e as unhas dela se fincaram em meus ombros, deslizando até as costas com uma certa força. Os arranhões provocaram uma dor tão prazerosa que só serviu para aumentar meu estado de excitação ainda mais. Só o calor que emanava dela já era o suficiente para me enlouquecer, mas os toques tornavam tudo aquilo melhor ainda.
, eu amo você. — Ouvi minha própria voz murmurar, enquanto meus lábios haviam se ocupado com o lóbulo de sua orelha. Por poucos segundos, ela estacou, surpresa por minha revelação repentina, mas então, segundos depois, ela fez com que eu lhe encarasse e abriu um sorriso lindo e maravilhado que mexeu com cada poro de meu corpo.
— Eu também amo você, . — E nossos lábios voltaram a se encaixar com desejo, anseio um pelo outro.


🤍

Um tiro ricocheteou na parede ao meu lado e eu mal acreditei que aquilo tudo não passava de um sonho, onde as lembranças tripudiavam de mim. Que eu havia voltado ao inferno e estava literalmente na toca do diabo.
Havíamos conseguido invadir a base inimiga e se conseguíssemos atingir o líder estava tudo acabado. Minha liberdade estava a poucos tiros de distância.
Um estrondo, então minha visão se tornou embaçada, as coisas tremeram ao meu redor e um som contínuo me deixou surdo. Parecia que tudo havia ficado em câmera lenta e com uma dor lancinante invadindo meu peito, eu me dei conta do que estava acontecendo.
Eu havia sido atingido.
Mas não, eu não poderia desistir de tudo agora, não podia morrer e ficar sem ela, eu tinha uma promessa que precisava cumprir.
Levantei com toda a determinação que pude e segurei uma granada em uma das minhas mãos, mirando-a na origem dos tiros e jogando após armá-la, ouvindo mais um estrondo que denunciava que eu havia os atingido com sucesso.
Perdi as contas de quantos inimigos acertei, quantas vidas eu ceifei naquele dia, mas nada importava, assim como o sangue que eu perdia também não importava, porque eu voltaria por ela, tudo que eu fazia era por ela.
E nós havíamos conseguido vencer, eu tinha a cabeça do diabo para provar isso. Mas quando minha consciência foi levada, as esperanças todas se esvaíram.

🤍

Meus olhos se abriram quem sabe horas ou dias depois e quando eu percebi a imagem parada diante de mim, não consegui acreditar. Talvez aquela fosse minha ideia de paraíso, ou o inferno me castigando pelos meus pecados.
— minha voz chamou, fraca e dolorida enquanto eu sentia meu peito se apertar novamente.
— Estou aqui, meu amor. Você voltou! — Ela estava chorosa e as lágrimas escorriam de seus olhos brilhantes, me encarando com a felicidade genuína estampada.
— Eu prometi que voltaria, não prometi? — Soltei uma risada fraca que fez tudo doer mais, então ela estava ali mais perto de mim e a sensação de seus lábios encostando nos meus provou que não era um sonho, era tudo real e o inferno havia acabado e recusado minha presença.
— Por mim — ela murmurou contra meus lábios.
— Por você — deixei soar de volta e a apertei contra mim, ignorando qualquer dor porque era tudo o que importava.
Minha missão havia chegado ao fim. Eu estava livre para ficar com ela.


FIM



Nota da autora: Espero que tenham gostado da short. Ela foi escrita com muito carinho!
Me contem nos comentários o que acharam!
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Beijos e até a próxima.
Ste.



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