Última atualização: 09/05/2021

Capítulo Único

Cheguei em casa depois de um dia exaustivo no trabalho. Assim que estacionei o carro pude escutar a gritaria e gargalhadas que tanto me animavam depois de um dia difícil — e ultimamente eram muitos. Caminhei devagar até o jardim para não atrapalhar a brincadeira dos dois terroristas e não contive um sorriso ao me deparar com a cena.

Kiera havia pintado o rosto inteiro de Edward com tinta guache. Meu filho mais novo corria pelo nosso quintal fugindo da irmã mais velha que o tinha como um boneco. Carl, nosso gigante bernese montanhês ficava observando os dois como um guardião. Ele foi o primeiro que notou a minha presença e correu até mim, me recebendo com um pulo.

Carl foi um presente que dei para uma pessoa especial, mas que no fim de tudo, se tornou o meu também. Meu melhor amigo.

— Papai!

— Papai, você chegou! — Kiera se jogou em cima de mim, fazendo-me rir. Peguei os dois e os girei no ar. — A tia Jordan está lá dentro fazendo o jantar!

— Pedimos pra ela fazer a comida preferida da mamãe. — Ed falou animado, me fazendo manter o sorriso. — Ela vem hoje, não vem?

Suspirei, colocando-os no chão e agachando para ficar na altura dos dois. Kiera me lançou um olhar triste, aparentemente já sabia o que eu iria dizer: a mesma coisa que eu falava há dois meses.

— A mamãe ainda não acordou. — Ed juntou as sobrancelhas, cruzando os bracinhos e me lançando o mesmo olhar que dava quando ficava brava.

— Certo. — o baixinho saiu a passos duros, indo em direção ao pier do lago que tinha na frente da nossa casa. Encarei Kiera que deu de ombros e foi atrás do irmão.

Passei a mão nos olhos e resolvi deixá-los a sós por uns instantes, não estávamos nos nossos melhores dias e eu sentia que a fé dos dois já não estava a mesma comparando com a primeira semana do acidente.

Há dois meses, minha esposa, amiga e companheira; se envolveu em um acidente de trabalho que resultou a internação da mesma. estava internada, sobrevivendo por aparelhos no mesmo hospital onde a gente trabalha. Por sorte, ela recebia muito amor e muitas orações de todos os nossos colegas, amigos e pacientes. sempre fora muito querida. Sua energia cativava cada pessoa que tivesse a sorte de esbarrar com ela.

Nunca fui uma pessoa muito espirituosa. Na realidade, eu era totalmente o oposto da mulher da minha vida e até hoje não sabia como ela pôde se apaixonar por alguém como eu; mas eu sabia que era impossível eu não me apaixonar por ela. era luz, esperança e alegria. Era das minhas lembranças que eu tirava forças para continuar e para cuidar dos nossos filhos.

Entrei em minha casa e fui recebido por Jordan, minha cunhada. Jordan era a irmã mais nova de , minha amiga e a pessoa preferida dos meus filhos. A ruiva me recebeu com um abraço, mas seu sorriso estava triste; sabia que as coisas não mudaram desde hoje de manhã.

— Pode ir descansar, Jord! — falei assim que ela me soltou. — Você precisa se divertir com seus amigos, hoje é sexta-feira!

— Olha quem fala! — sorriu, me dando um leve empurrão. — Não é um sacrífico ficar com Ed e Kiki. É bom que eles não me deixam esquecer daquela preguiçosa!

está testando nossa paciência, não é? — perguntei, rindo. sempre tentou fazer com que a gente entendesse que a paciência era uma virtude maravilhosa. Nós nunca fomos bons nisso, ao contrário dela. — Enfim, vá tirar uma folga. Eu preciso ficar sozinho com as crianças um pouquinho.

— Tem certeza? — Ela estava receosa, não era para menos. Eu era um bom pai, só que no primeiro mês do coma da minha esposa, acabei ficando meio ausente; isso fez com que as crianças se afastassem de mim aos poucos.

Eu não dei a elas a força que elas precisavam. Não foi só eu que perdi . Edward e Kiera perderam a mãe naquele acidente.

— Sim!

— Eu vou para a casa do Tyler, volto depois do café amanhã. Vou visitar ! — Concordei com a cabeça, vendo-a desligar alguma coisa no forno. — Fiz o jantar, eles já tomaram banho, mas acredito que você terá que fazer com que eles tomem outro... não esqueça de contar a história pra eles antes de dormir e...

— Ed só dorme depois que toma o leite quente e Kiki precisa comer alguns biscoitos! — completei, rindo. Jordan sorriu e passou a mão na testa. — Vá, Jord!

— Qualquer coisa me ligue!

— Pode deixar.

Olhei em volta assim que Jordan se retirou da cozinha. O cheiro da lasanha me trazia uma sensação de calma e acolhimento. Peguei os pratos, copos e talheres e os levei para o lado de fora. A noite estava fresca e agradável para termos um momento diferente, fugindo dos nossos problemas. Kiera logo viu o que eu planejava e correu para me ajudar a organizar, ela sempre foi prática e ágil; como eu. Já Ed era como , rápido, mas sempre focando em fazer tudo de uma maneira que agradasse a todos.

— Como foi o dia de vocês? — perguntei, enchendo o copo dos dois — A professora Íris me ligou no trabalho hoje... alguém quer me dizer alguma coisa?

— Obrigada, papai! — Kiki sorriu ao beber um gole de suco. Segurei uma risada, Kiki era ótima em mudar de assunto — A gente queria muito jantar aqui fora hoje!

Ed estava sério, não esboçou expressão alguma. No meio do meu plantão, recebi uma ligação da escola dizendo que Edward se envolveu em uma briga com um dos colegas, Kiera acabou descobrindo e entrou no meio para defender o mais novo. Por um lado, eu adorava o fato dos meus filhos serem unidos o suficiente para defender o outro e não ficarem calados diante a uma situação assim; mas por outro lado, sabia que odiaria saber disso. resolveria com uma conversa séria e didática, eu teria que fazer do jeito dela.

— Ed?

— A professora Íris queria que a gente fizesse um trabalho sobre os nossos pais. — ele começou a dizer, cutucando o pedaço da lasanha com o garfo — Harold falou que não tinha como eu falar sobre os meus pais porque a mamãe está dormindo todo esse tempo porque não quer voltar pra gente e meu pai fica fora o tempo inteiro porque não suporta mais a gente! — Malditas crianças. O fato de morarmos em uma cidade pequena, fazia com que todos nos conhecessem. O acidente de é algo comentado até hoje. — Eu mandei ele calar a boca, ele não calou. Cansei de ficar quieto e ser superior como a mamãe falava!

— Eu tive que entrar no meio para defender o Ed. Harold é um brutamonte ridículo!

— Sinto muito pelo que esse garoto falou, filho. — eu disse, tentando não elogiar a atitude dos dois — Você sabe que Harold mentiu, certo? Sua mãe não morreu e eu estou com vocês para qualquer coisa.

— Sei... — suspirou, dando de ombros. — Mas ele tem razão em algumas partes. A mamãe não quer voltar pra gente.

— Pare com isso, Ed! — Kiera o repreendeu — A mamãe vai voltar pra gente.

— Então porque ela continua longe? Ela não cansa de dormir tanto? — Kiki o encarou, sem saber se lhe dava uma bronca ou se brigava comigo, afinal, eu nunca voltava com a notícia que eles queriam escutar. E por mais que aquilo não fosse culpa minha, eu me sentia responsável. — A mamãe não gosta mais da gente!

— Edward Halston ! — o repreendi, vendo-o revirar os olhinhos castanhos dramaticamente. A cópia fiel da mãe. — Sua mãe ama vocês! Infelizmente, o acidente foi muito sério, mas isso não significa que ela te odeie. está voltando pra nós, Ed. E está voltando pra nunca mais ir embora!

— Você é médico, não sabe dizer quando ela vai acordar? — ele retrucou. — Você só sabe dizer que ela vai voltar, mas cadê ela?

— O papai não tem culpa, Ed. — Kiki cruzou os braços. — Não faça isso com ele.

— Tudo bem, Kiera. — Segurei sua mão e encarei meu filho mais novo. — Sua mãe teve um trauma na cabeça muito forte quando bateu contra a pedra e caiu na água. Já expliquei isso várias vezes. O coma varia de pessoa pra pessoa. Não há um padrão.

— Desculpe, papai... eu sei que a culpa não é sua. — Os olhos marejados me partiu o coração. — Só... sinto falta dela.

— Eu também, Ed. — Havia perdido a fome. O silêncio que se instalou dos talheres batendo contra o prato, era ensurdecedor. — Sobre o que é o trabalho? Posso ajudar?

Ed sorriu de canto e apoiou a cabeça nas mãos e me encarou.

— É para o dia dos namorados... — começou a dizer. — Eu queria contar a história de como vocês se conheceram e como se apaixonaram!

— Ah... — dei risada me lembrando de como conheci. — É uma boa história!

— Quer me ajudar?

— É claro que quero, pequeno monstrinho! — Baguncei seu cabelo. O sorriso dos dois me deixou feliz e com certo ânimo.

— A gente vai matar a saudade dela! — Kiki comemorou. — Comece logo!

— Só depois que vocês dois tomarem banho! — Levantei-me, pegando os pratos. — Eu vou arrumar a cozinha e depois conto o que quiserem antes de dormir.

— Ah, banho? — Ed fez uma careta.

— Vamos logo, Ed! Vamos matar a saudade da mamãe hoje! — Kiera o cutucou, se levantando e correndo na frente do irmão mais novo.

Ri com a cena, finalmente pude fazê-los sorrir. e eu tínhamos uma história digna de filme. Aquilo faria com que eles matassem a saudade dela e se sentissem mais próximos da mãe. Aquilo faria bem para nós três.

A verdade é que as coisas não me faziam bem há alguns meses, desde o dia que o amor da minha vida decidiu que a vida de alguém era mais importante que a dela e decidiu salva-la. sempre foi assim, desde que eu a conheci. Essa foi a razao pela qual escolheu medicina e vem exercendo a profissao como ninguem. Em minha humilde opinião, ela é a melhor médica existente em todo o mundo e ninguém pode me convencer do contrário.

O dia em que eu a conheci me fez ter um pensamento aleatório de que eu gostaria que a mulher da minha vida fosse exatamente daquele jeito: humilde, altruista, focada, confiante e com aquele sorriso encantador que parecia ter um efeito em meus lábios: todas as vezes que ela sorria, eu sorria também. Era inevitável.

Nosso primeiro contato físico foi terrivelmente vergonhoso: era nosso primeiro ano de internato, estavamos mais cansados do que nunca, sem tempo para conversarmos e dificilmente comemorávamos com amigos, nossos encontros eram sempre no vestiario, mas nada alem de trocas de sorrisos e olhares. Era um dia atrapalhado, estava nevando nos arredores de Boston, os hospitais estavam lotados e passamos o dia todo suturando cortes em testas de crianças desastradas e após nosso turno de 16h, corremos até o vestiário para conseguirmos pegar o último ônibus que sairia da porta do hospital. Você pode imaginar que não conseguimos, não é? Foi um verdadeiro desastre, ela estava indo em direção a porta, enquanto terminava de colocar sua camiseta, carregando um casaco gigante, quando nos trombamos. Eu carregava um copo de coca cola gigante em uma mão e acabei derramando em seus cabelos, roupas e tudo o que tinha direito. E então, — vou te contar, hoje eu não bebo mais refrigerante, porque ela me disse que eu morreria antes dela — eu gaguejava mil desculpas incansáveis e ela respondeu, pacientemente:

“Está tudo bem, mas vou perder meu ônibus.”

E eu, atrapalhado, cocei a cabeça e disse que a pagaria um táxi para casa. Eu não tinha dinheiro para pagar um táxi, porém era o mínimo que eu poderia fazer. E foi assim, emprestei alguns dólares de um colega conhecido, paguei um táxi para ela e tive que dormir no hospital, pois não conseguiria um táxi para mim — alguns meses depois, descobrimos que morávamos na mesma rua, eu poderia ter ido de táxi com ela ao invés de dormir naquele colchão duro e ter uma dor nas costas de 3 meses.

De qualquer forma, nunca fui tão agradecido por ter derrubado coca cola nela. Depois desse nosso encontro inesperado, surgiu uma amizade que eu não conseguiria explicar nem com as melhores palavras. No dia seguinte, eu pedi desculpas novamente na frente de todos os nossos colegas, que insisiram em saber porque eu estava me desculpando tantas vezes e eu contei a história.

era a garota mais bonita e mais inteligente da nossa turma e foi por causa dela que passei na prova de residência e me tornei um excelente médico. Ela me estimulava a estudar e ser mais bondoso, quando eu tinha pouca paciência com alguns pacientes. Durante o dia, soltava frases como: “Quais são os sintomas de Angina?” , eu respondia “Han... dor no peito, dor no pescoço...” e ela já tinha todas as repostas na ponta da lingua, como ninguém. é minha wikipedia com cheiro de pêssego (seu hidratante favorito).

[...]

Começamos a namorar logo após a prova de residência, quando tivemos certeza que passaríamos mais 4 anos no mesmo hospital, juntos.

E foram mais quatro anos de muito trabalho, paciência e muitas visitas em quartos vazios.

Para descontrair a cabeça do trabalho, às vezes, fazíamos rodas com violões e microfones de pedaços de madeira e nos reuniamos envolta do saguão. Os enfermeiros amavam, era uma cantoria só. Foi assim que fizemos amizade com a maioria dos colegas de trabalho e o hospital foi se tornando cada vez mais importante.

Os finais do expediente faziam com que os atores de cinema invejassem a profundidade dos nossos toques e beijos. Nós éramos o casal de cinema. Quero dizer, nós ainda somos e pela primeira vez, tenho fé que continuaremos sendo.

[...]

O dia do nosso casamento foi o dia mais azarado já existente em toda a face da Terra: deu completamente tudo errado, acredita? Estávamos nos planejando em casar na praia, com uma festa fechada para os amigos e um pastor da igreja dela. Estava tudo pago, tudo pronto, tudo perfeito e até o cachorro já estava com as alianças. Tivemos que pedir para os convidados irem ao hospital e decidimos que o casamento seria no saguão, no meio de todas as pessoas que amamos a nossa volta e da forma mais simples possível. Casamos em meio a enfermeiros, médicos, pacientes e bolsas de sangue. Foi o melhor casamento que eu poderia ter e posso dizer o mesmo por ela, que ama contar essa história a todos que perguntam. Na verdade, você nem precisa perguntar, é a primeira história que ela vai contar. E, sinceramente, a vida com ela foi incrível. Não me arrependo de nenhum segundo. Tivemos dois filhos lindos, que nos enchem de orgulho a cada dia e a história do nascimento do mais velho consegue ser mais engraçada do que todas as histórias que eu já contei aqui hoje. Ela o teve em pé, durante uma cirurgia. Essa mulher não existe. Não quis largar porque sabia que ninguém faria aquele trabalho melhor do que ela e deu à luz vestindo crocs e um roupão ridículo. O nome dele é Edward em homenagem ao coitado do paciente que estava deitado naquela maca, enquanto minha mulher paria! Kiera foi diferente, ela teve nossa filha em uma sala de parto normal. Essa é a única história normal que nós temos juntos.

E sim, tudo estava lindo. Viagem para a Disney planejada para o aniversário da nossa filha, malas prontas e dias de férias, até insistir que precisava pegar alguns papéis no hospital há exatamente dois meses e vinte dias, hoje. O dia estava horrível. Uma tempestade que nunca vimos em toda nossa vida atingiu a cidade e durante o caminho para o hospital, ela se deparou com diversos acidentes e não hesitou em parar. Minha mulher tem um coração do tamanho de um elefante. Ela parou o carro, ajudou a ambulância e quando eles estavam a caminho do hospital, se chocaram com um ónibus que perdeu a direção. O paciente morreu na hora, os paramédicos quebraram o braço e , na tentativa de proteger o paciente, bateu a nuca na janela, assim que a ambulância virou. Sempre tentou proteger tudo e todos, acabou esquecendo de se proteger. Desde então, minha mulher está em um coma infinito, sem resposta. Meus filhos não entendem o que aquilo quer dizer e sinceramente? Eu também não entendo. Não existe nenhuma explicação para alguém como ela ficar naquele estado. Ela não merece isso. Aposto que esta lutando para voltar para nós e continuar fazendo o que ela faz de melhor: cuidar. O que talvez ela não entenda e nem permita, é que ela precisa deixar nós cuidarmos dela agora.

Nunca vou esquecer da notícia que recebi por telefone quando liguei para o celular dela. Ryan, um dos nossos melhores amigos e colega de trabalho, atendeu e me avisou sobre o ocorrido; imediatamente eu corri para lá e tive a pior visão de . Foi a primeira vez que ela não me passou paz e calma. O desespero de perdê-la era inevitável, mas eu tenho esperança e acredito que ela está voltando para nós.

[...]

Acordei com o som de algo caindo no andar de baixo, olhei em volta e vi que estava no quarto das crianças, mas eles não estavam ali. Me levantei no mesmo minuto e fui para onde eles estavam fazendo o barulho e tive a cena que me encheu de alívio, mas ao mesmo tempo me encheu de desespero. Edward estava com algumas fotos e Kiara tirava da impressora outras. Eles estavam copiando as fotografias da mãe. Ambos me encararam assustados, mas logo deram aquele sorriso travesso e seguiram o que estavam fazendo sem ao menos me darem uma explicação.

— Papai, você ainda não está pronto?

— Nós estamos atrasados! — Ed falava correndo de um lado para o outro. — Vou pegar as flores no jardim e você termina a colagem.

— Certo. O que está acontecendo? — perguntei, sentando-me em frente a eles.

— A mamãe vai acordar hoje. — os dois falaram juntos. Suspirei, não queria que eles se decepcionassem mais uma vez com o coma de .

— E nós estamos atrasados! Vamos logo para o hospital. — Edward prosseguiu, indo até a porta que dava acesso ao jardim da minha esposa.

— Alguém quer me explicar? — questionei novamente.

— A mamãe me falou no sonho que ela iria acordar hoje, pai. — Ed disse sem mais nem menos. — Ela estava com aquele vestido azul que a gente ama e o cabelo estava solto... nós estávamos ali na beira do lago e ela me disse pra não perder a esperança e muito menos a fé. Falou também que estava voltando e que sentia minha falta. — Encarei Kiara, ela sorriu e deu alguns pulinhos. — Vamos para o hospital, pai.

— Eu também sonhei com a mamãe. Ela estava no hospital e você estava abraçando ela! — Era muita coisa para digerir. Provavelmente eles sonharam com por terem ido dormir com ela na cabeça, eu contei a história toda até pegarmos no sono. Contudo, não queria estragar a felicidade deles naquele momento; sei muito bem que minha esposa espera que os filhos acreditem neles mesmos.

— Tudo bem, vamos ao hospital.

Meu coração estava saltitante, Ed e Kiki me deixaram esperançoso, mas sabia que as chances de isso acontecer, eram baixas. Meu filho mais novo não era o tipo que acreditava muito em sonhos, sempre o achei muito cético e odiava isso. Já Kiki era o oposto, minha filha é cheia de esperança. Me arrumei em cinco minutos, sendo apressado a cada segundo. Ed estava pronto com as flores preferidas da mãe: peônias. Kiara estava com as colagens. Eu estava com a chave do carro e sendo empurrado para dirigir em direção ao hospital. O caminho foi animado, as crianças estavam animadas e alegres; eu estava contente por finalmente vê-los sorrindo. Mas, como eu já disse antes: temia por isso.

Chegamos ao hospital e eu precisei pedir para que os dois apressadinhos me esperassem, mas foi em vão. Ed e Kiki conheciam aquele hospital como ninguém, até mais do que eu. Quantas vezes eu e não perdemos os dois lá dentro e recebíamos um chamado de algum paiger de funcionários que se tornaram nossos amigos. Meus filhos eram tão amados quanto era.

— Bom ver você, Dr. ! — Charlie, um enfermeiro me cumprimentou — Achei que hoje era sua folga.

— É difícil ficar de folga com dois filhos serelepes e uma esposa em coma, Charlie. — Eu ri, mas o meu colega pareceu não achar graça da minha piada. — Certo, foi de mal gosto.

— Admiro a forma que você lida com isso. Não é fácil passar por essas coisas, .

lidaria dessa forma. — Suspirei. — Bom, tenho dois terroristas correndo por aqui, vou atrás deles antes que eles façam algo. Segui pelos corredores e não me surpreendi por ver os dois parados na porta do quarto da mãe. Meus filhos estavam abraçados e travados ali. — O que aconteceu?

— Hoje a gente vai voltar a ver a mamãe.

— E ela vai ficar com a gente pra sempre! — Kiara sorriu e abriu a porta.

estava como sempre esteve: linda. No entanto, não me surpreendi ao vê-la dormindo. Já meus filhos, se aproximaram dela e beijaram tudo que alcançavam da mãe. Me aproximei e dei um beijo na testa da minha esposa; ainda tinha o cheiro único dela. Respirava com os aparelhos e a única coisa que escutávamos era o barulho deles. Nada além.

— Você deu para se atrasar agora? — Ed sussurrou, sorrindo de canto. — Estamos te esperando, mãe.

— Já chega, mãe. Por favor, acorde. — Kiki falou baixinho. Meu coração se partiu, aquilo era doloroso demais.

— A mamãe está bem, viram? — Falei, fingindo animação. — Por que vocês não vão chamar o Dr. Ryan para falar pra ele vir nos contar como ela está? — Não demorou muito para os dois saírem e me deixarem sozinho com minha esposa. Minha bela esposa. Minha postura se desfez, eu desabei no colo dela e meus olhos marejaram; doía vê-la daquele jeito — , não sei o que você falou para os nossos filhos nesse sonho, mas se você realmente os visitou, trate de acordar; eles não vão superar uma coisa dessa. Eu não vou suportar.

Minha família e eu passamos o dia todo ao lado dela, era terrível ver meus filhos debruçados em cima da mãe, orando e pedindo pro “Papai do céu” fazer ela acordar. Aquela noite foi a pior noite de todas, Kiki não parava de chorar, teve três paradas cardíacas, mas voltou em todas. Tiveram que nos tirar da sala várias vezes e mesmo assim, optamos por passar a noite ali, debruçados no amor das nossas vidas.

Consegui fazer meus filhos dormirem contando uma história que costumava me contar, sobre um moço que, a 2021 anos atrás fez história no mundo todo e nos salvou. Mesmo que eu não acreditasse nessa história, meus filhos acreditavam. E, assim, eles conseguiram descansar. Eu, pelo contrário, passei a noite em claro, perguntando-me se eu deveria ajoelhar e orar para alguém trazê-la de volta, pois não aguentava mais essa tortura imensurável.

Então, foi o que eu fiz. Eu ajoelhei, fechei os meus olhos e orei para que alguém a trouxesse de volta. Prometi que, se acontecesse, eu começaria a frequentar a igreja com ela todos os domingos e pararia de duvidar na existência dEle. Após terminar a oração que eu nem sabia fazer, eu dormi naquela cadeira desconfortavel, com meu filho no colo.

Diferentemente dos meus filhos, ninguém apareceu para mim em sonhos. Quando eu abri meus olhos, foi difícil processar exatamente o que estava acontecendo: muitas pessoas na sala, meu colo já estava vazio e milhares de vozes passavam pelos meus ouvidos, era até dificil discernir de quem eral qual. Até que, então, eu ouvi ela dizer:

— Ninguém vai acordar meu marido, não?

Pensei que estivesse tendo mais algum sonho, então, ignorei.

— Papai, papai! — Kiki pulou em meus braços.

— Oi, Kiki. — abri os olhos novamente, desnorteado.

— A mamãe acordou. — Ela me disse tranquilamente, passando suas mãos delicadas pelo meu rosto.

Pulei da cadeiraa e o quarto estava em festa. Todos estavam em volta dela, abraçando, beijando e dando graças a Deus. Parei de frente para a porta, onde uma multidão de enfermeiros e médicos estavam em pé, esperando a vez deles de cumprimentá-la, quando notei alguém diferente por ali. Alguém que nunca vi antes naquele hospital, que me olhou no fundo dos olhos e balaçou a cabeça quando notou que eu o olhava também. Antes que eu pudesse chegar até ele, desapareceu como um relampago e eu, então, entendi. Agradeci mais do que toda a minha vida e corri para os braços da minha mulher, que já estava quase pulando daquela cama.


Fim...



Nota da autora: OI OI! Estou tão feliz em estar aqui e poder compartilhar essa história maravilhosa que eu e a Mi escrevemos. Quem sabe não vem uma long, né? Espero que vocês gostem, comentem MUUUUUITO! Amo vcs

Oiiii, aqui é a Mi. Que honra ajudar a Lice a escrever essa história linda! Totalmente diferente do que eu estou acostumada, mas cheia de ensinamento e coisas boas; que família linda, genteeeeee. Espero que vocês gostem e comentem MUITO, quem sabe a gente não faça uma long dessa short? Merece, né? Lice, obrigada pela oportunidade, você é demais! Beijos, Mi.


Link do grupo no Facebook: https://www.facebook.com/groups/1236293263387719/?ref=share





Outras Fanfics:

http://fanficobsession.com.br/independentes/c/chooselove.html

https://fanficobsession.com.br/independentes/y/youngblood.html

https://fanficobsession.com.br/ficstape/02complicated.html



comments powered by Disqus