Capítulo Único
Kingston Line, segunda-feira às 08:00
– Bom dia, senhora ! – Disse minha secretária.
– Bom dia, Rita. – Respondi.
– O senhor Ethan quer falar com a senhora na sala dele.
– Esse tanto de formalidade me deixa tonta. – Sorri. – Obrigada pelo recado. – Caminhei em direção à sala de meu chefe. O dia prometia ser cheio e nem um pouco satisfatório para mim. , meu marido, tinha constantemente a mesma bobeira de querer que eu não trabalhe e fique enfurnada naquela casa o dia todo. Realmente, se eu quisesse tal coisa eu não teria gastado anos da minha vida em uma universidade ou saído da casa de meus pais buscando independência.
– Ethan? – Bati na porta o chamando.
– Pode entrar. – Respondeu.
– Mandou me chamar? – Perguntei.
– Sim. – Largou os papéis sobre a mesa e me olhou. – Sente-se primeiro. – Retirou seus óculos. – Eu lhe chamei aqui para fazer um comunicado ou uma proposta, fica a sua escolha. – Começou, me deixando apreensiva.
–Pode dizer. – Falei.
– Quero que aceite e assuma o cargo na diretoria da empresa. – Falou. – Você trabalha há anos conosco, sempre mostrando bons resultados, sua competência em cada decisão que precisamos. – Argumentou.
– E o antigo diretor? – Questionei.
– Ele deu entrada em sua aposentadoria, quer aproveitar com a família. – Respondeu. – Você tem até amanhã pela noite para me responder, se me der licença preciso continuar com meu serviço. – Colocou novamente os óculos, se voltando para os papéis sobre a mesa. Me levantei, pedindo licença e saindo daquele cômodo rumo à minha sala, em estado de choque. Eu trabalhei naquele escritório desde a época do estágio. Apesar de sempre ser reconhecida pelas coisas que fazia, aquele comunicado tinha me surpreendido, eu nem sequer sabia se estava pronta para aquele cargo.
As horas passaram lentamente, eu não via à hora de chegar em casa, relaxar e contar sobre meu dia à , por mais que ele não mostrasse interesse nenhum em meu trabalho, o que me deixava frustrada sempre.
– Ei. – Abri a porta de casa, dando de cara com ele no telefone.
– Chegou mais cedo hoje. – Colocou o celular na mesinha.
– Não tive nenhuma reunião. – Joguei minha bolsa no sofá. – Você não vai acreditar no que aconteceu hoje. – Disse animada.
– O quê? – Sibilou
– Tive uma proposta para um cargo na diretoria da empresa. – Falei eufórica. – Isso não é demais?!
– Legal. – Se levantou. – Vou tomar um banho, Nathan e Emma nos convidou para um barzinho hoje. – Seguiu rumo às escadas. – Não quero atrasar você para se arrumar. – Me deixou ali sentada no sofá e mais uma vez conversando sozinha e com um bolo na garganta.
Mais tarde.
Por
– Você não tinha que estar feliz por ela? – Questionou Nathan
–É claro que estou, isso foi rápido demais. – Beberiquei minha bebida.
– Isso? – Questionou confuso.
– Essa promoção. – Respondi.
– Ela trabalha há seis anos naquela empresa, você acha que ela seria secretária ou a moça do café para sempre. – Debochou de mim
– Você não entende. – Bufei.
– Então explique, porque a única coisa que eu estou vendo é seu egoísmo ou um puro machismo aí.
– Nenhum dos dois, eu só queria ficar mais perto dela. Ela poderia ter aceitado minha proposta de trabalhar comigo. – Coloquei o copo sobre a mesa.
– E ser sua secretária o resto da vida?! Não mesmo. – Falou. – Conheço , se fosse para ser assim ela não teria desgrudado da barra da saia da mãe dela.
– Ela poderia ser como Victoria, que toda vez que eu chegava do serviço a encontrava me esperando, não chegava tarde do serviço. – Lembrei.
– Não acredito que você está se lembrando de sua ex esposa, ela nem trabalhava, como chegaria tarde do serviço? A não ser chegar tarde de algum SPA ou da casa do amante. – Fez sinal de chifres com a mão. – Isso é egoísmo, . – Respondeu. – Você não pode impedir de crescer, ela é uma ótima profissional, como marido tinha que estar ao lado dela apoiando. – Ralhou.
– Não estou fazendo nada demais. – Dei de ombros.
– Você vai acabar perdendo ela, cara. – Alertou.
– Para de graça, Nathan. – Dei um soco em seu braço. – Elas vão demorar quanto tempo para se arrumarem? – Perguntei, em seguida vendo-as descer as escadas.
– Já estamos aqui. – Respondeu a esposa de Nathan.
– Vamos. – falou passando por nós, indo até a porta.
– Calma, o restaurante não vai sair do lugar. – Brinquei, ficando sério em seguida vendo sua expressão.
Oito meses depois, Centro da cidade.
– Se for para você ir comigo com essa cara, fique em casa que eu vou sozinha. – Falei batendo a porta do carro.
– Que cara estou fazendo? – Resmungou
– Essa cara de bunda. – Retruquei. – Qual o problema? – Perguntei.
– Problema nenhum. – Falou automático.
– Qual o SEU problema? – Dei ênfase. – Toda vez que sou promovida na empresa você fica assim.
– Não entendo por que você quer tanto trabalhar. – Me olhou. – Eu quero ter uma família, filhos, e você só pensa nessa empresa, em trabalhar.
– O quê? – Exclamei incrédula. – Você nunca me disse sobre isso. – O encarei. – Eu não penso só na droga daquela empresa, é você que só pensa no seu próprio umbigo.
– Eu sou o egoísta agora. – Gritou, parando o carro em uma vaga e desligando o mesmo.
– Sim, você é o egoísta da história, babaca que pensa que mulher tem que ficar em casa esperando o marido, cuidando de uma penca de catarrentos. – Soltei.
– Então é isso que você pensa sobre ter filhos? Catarrentos? – Perguntou.
– Não desvie o foco da conversa como você sempre faz. – Ralhei. – Em que século você vive?! Deveria estar feliz por mim, feliz por eu subir de cargo, por concorrer à droga desse prêmio.
– Estaria muito mais feliz se você estivesse trabalhando comigo, na nossa empresa. – Socou o volante.
– Realmente seria cômodo, não é mesmo? Eu sendo sua eterna secretaria. – Debochei. – Não entendo tudo isso, esse seu exagero.
– Não entende porque você não vê como aqueles porcos te olham quando passa pelo escritório, as indiretas que eles jogam para você. – Travou o maxilar.
– E eu lá me importo com eles? Nem sequer dou moral. – Falei furiosa. – Eu me casei com você, se eu quisesse te trair ou sair com alguém para conseguir algo, como você está querendo insinuar...
– Não estou querendo dizer isso. – Me cortou.
– Mas foi o que pareceu. – Voltei meu olhar para frente. – Se eu quisesse tudo isso não teria me casado ou teria simplesmente feito isso com você, como sua querida Victória fez. – Soltei.
– Quer saber, vai sozinha. – Tirou o cinto de segurança. – Eu não vou a lugar nenhum. – Saiu do carro.
– O que você pensa que está fazendo? – Perguntei saindo atrás, vendo-o se distanciar. – Espero que saiba o que suas atitudes estão provocando. – Fui em direção ao lado do motorista, entrando e dirigindo até o evento. Passando por ele sem ao menos olhar para o lado, pelo retrovisor pude ver sua expressão de incrédulo e estático no meio da rua.
Desde o dia que saímos para comemorar a minha promoção, aquela conversa que ouvi ao caminhar para a sala, ele queria que eu fosse como sua ex esposa ou simplesmente uma empregada. Victória fazia todas as vontades de e em troca tinha um cartão de crédito sem limites, nem ela o suportou. Estacionei próximo à entrada do salão de festas, entregando as chaves ao manobrista e entrando.
Casa do Ethan
Por
– Não acredito que você realmente está aqui. – Ethan falou, abrindo a porta.
– Se não quiser me receber, vou embora.
– Entra logo. – Foi em direção ao sofá.
– . – Emma falou surpresa. – Não era para você... – A cortei.
– Era.
– Emma, eu preciso conversar em particular com o cabeça dura, pode ser? – Perguntou à esposa.
– Tudo bem. – Assentiu, nos deixando a sós.
– O que foi desta vez? – Me olhou.
– Por que você pensa que sempre há um problema em minhas visitas? – Arqueei a sobrancelha.
– E não tem? – Disse cínico. – Eu detesto ter essas conversas com você, para ser verdadeiro, porque eu realmente tenho vontade de te socar no final. Então dá para falar logo qual foi a mais nova burrada que você fez?
– Eu tive um pequeno surto com a ideia de ela ser eleita uma das melhores empresárias do ano. – Comecei. – Antes que venha falar que é egoísmo, não é.
– E o que seria? Porque você está a cinco anos na sua própria empresa e nunca foi indicado sequer para algum prêmio, não seria inveja ou algo do tipo? – Falou.
– Claro que não, Ethan, onde está com a cabeça? – Exclamei. – Você não entende.
– Entenderia se você falasse, e você tem certeza que não é isso que se passa na cabeça dela? – Pausou. – Ser deixada no caminho de um evento importante para ela e você sequer pensou em ir atrás.
– Como você reagiria se sua esposa ficasse o dia todo rodeada por homens no serviço, fosse a queridinha do chefe. – Disparei. – Com essa merda de prêmio ela ficará mais conhecida e disputada por muitas empresas, você sabe o quão porco são os homens desse ramo.
– Ela não é como as outras que por algum motivo se venderam, e eu nem quero saber o porquê, não me interessa o que se passa na vida alheia. – Me olhou sério. – sempre esteve do seu lado, nunca lhe escondeu nada e sempre te ajudou e é isso que ganha em troca? Desconfianças?
– Eu não quero perdê-la. – Exclamei.
– Mais é isso que vai acontecer, essa desconfiança de tudo. Não é porque sua mãe traiu seu pai ou porque sua ex-esposa te deixou por outro que tudo em sua volta seguirá o mesmo caminho.
– Eu nunca disse que seria.
– Você agiu como se fosse. – Aumentou o tom de voz. – Não é porque ela é independente, tem o serviço dela e gosta do que faz que vai dizer que ela te dará um pé nessa sua bunda gorda. Independência é crescer e aprender a viver com as próprias pernas.
– E-eeu. ¬– Gaguejei sendo interrompido.
– Seja lá o que você cresceu ouvindo de qualquer pessoa a respeito de sua mãe ou o que te disseram quando o seu primeiro casamento acabou, não leve isso em consideração. – Pediu. – Não estrague tudo por comentários ou simplesmente por uma má experiência na sua vida.
–Ethan...
– Vá trás dela e fique com ela nesse momento. – Se levantou.
– Preciso de um táxi. – Falei indo em direção à porta e saindo.
Por
A festa tinha acabado há uns cinco minutos, fiquei sentada no meio fio com aquele troféu enquanto o manobrista buscava o carro. Realmente parecia uma piada, a minutos atrás rodeada de pessoas me parabenizando pelo ótimo trabalho e agora aqui sozinha. Até que uma figura conhecida senta ao meu lado.
– Você ganhou? – Quebrou o silêncio, se referindo àquele pedaço de lata em meu colo. – Me desculpa por ser esse idiota.
– O seu carro, senhorita. – Fomos interrompidos.
– Obrigada. – pegou a chave, entrei no carro do lado do passageiro, colocando o sinto de segurança, encostando minha cabeça na janela.
– Eu fui um completo babaca e entendo você não querer conversar comigo. – Pausou. – Mas eu só quero que você saiba...
– Só dirige para a casa. – O cortei.
Não demorou muito para que eu escutasse o barulho do carro ligando e começasse a se movimentar. O único som que se instalava no ar, era do rádio ligado, algo como Beyoncé estava tocando. E minha mente vagava por algum lugar desconhecido.
Você pode assistir minha bunda enorme rebolar, garoto
Enquanto eu rebolo para o próximo pau, garoto
E fique com seu dinheiro, eu tenho o meu próprio
Tenho um sorriso ainda maior em meu rosto sozinha
O rádio foi desligado, barulho do portão se abrindo. Aquele caminho longo tinha acabado, eu só queria entrar na minha casa e me afundar nas cobertas e esquecer tudo o que aconteceu. Desci do carro sem esperá-lo, andando em passos largos até meu quarto.
– , me espera. – Pediu.
– Quem diabos você acha que eu sou?– Comecei a falar. – Você não está casado com uma qualquer.
– Eu nunca te disse isso. – Respondeu.
– Você não pode querer que eu seja igual a ela. – Comecei a alterar a voz. – Você nunca irá recriá-la, NUNCA. – Comecei a tirar suas roupas e jogá-las no chão.
Você tem que deixar rolar
Deixe rolar, deixe rolar, deixe rolar
– Eu não quis dizer isso. – Tentava pegá-las. – Eu só não quero ter que dividi-la com seu serviço.
– Desde quando você precisa me dividir com serviço? Você é patético.
– Você fica mais tempo lá do que em casa, chega depois de mim. Não tem motivo para ficar tanto tempo lá.
– Eu tenho um cargo de importância lá dentro. – Apontei o dedo. – Quando você insinua que eu poderia ter algo com alguém que irá conviver no mesmo ambiente que eu, você está sendo cruel porque me conhece, conhece meu caráter.
– Eu não insinuei, só quero você longe desses homens que ficam te bajulando, te elogiando toda hora, soltando cantadas.
– Você teria motivo para ficar assim se eu não os cortasse, se eu retribuísse. E eles nunca me assediaram, apenas elogios ao meu serviço ou algum penteado novo.
– Eles não têm que elogiar seu cabelo ou roupa. – Argumentou
– Você tem que sair desse mundo que seu pai criou e colocou toda a culpa na sua mãe. – Berrei. – Aquele velho turrão que nunca fica contente e feliz por nada nessa vida.
– ...
– Sempre colocando defeitos. – Ele precisava ouvir tudo que estava entalado. – Te apresentou aquela mulher, pensou que ela ia ser uma completa dona de casa que fica o dia inteiro fazendo tudo pelo marido, que chega e ainda fica reclamando, como se ela fosse obrigada a ouvi-lo e fazer tudo para agradá-lo. E o que que ela fez?! Te traiu e meteu o pé na sua bunda.
– Não foi bem assim.
– E você não aprendeu nada com seus erros. – O encarei. – Eu não vou deixar de fazer as coisas que gosto para agradar seu ego ultrapassado.
Não se machuque
Quando você me difama, você se difama
Não se machuque
Quando você me machuca, você se machuca
Não se machuque, não se machuque
– Eu estou tentando mudar, tentando tirar tudo o que eu cresci ouvindo do meu pai da minha cabeça.
–Você não está tentando o suficiente, você não está amando o suficiente. – Sentei na cama. – Você está me sufocando, fazendo tudo que ele fazia com a sua mãe.
– Eu não estou.
– Você não está vendo, mas está fazendo. – Lágrimas rolavam por seu rosto. – Seu pai não aceitava a independência da sua mãe, mesmo se casando por contrato, tendo várias amantes, te abandonando doente sozinho em casa. – O lembrei. – Existe uma grande diferença entre nós dois, eu te amo.
– Eu também te amo, só fiquei cego por tudo isso. – Tentou se desculpar.
– Você não me ama profundamente como deve, nada justifica você ser frio comigo, me deixar sozinha em casa, ficar enfiado na casa de amigos por não aceitar que eu fique reconhecida. – O fitei. – Me deixar sozinha em lugares porque eu apenas respondi educadamente um homem.
Cegos de amor, eu estou com você
Até perceber, eu sou boa demais para você
Eu sou simplesmente demais para você
– Eu tenho tanto medo de te perder, de você achar alguém melhor que eu. – Segurou minha mão.
– Você só está fazendo com que me perca. Quando você me machuca, você se machuca. Eu quero um marido e não um pai ciumento de adolescente rebelde. E você de uma esposa e não um pedaço de carne.
– Me dê uma chance, prometo mudar e não te decepcionar. – Pediu.
– Eu quero dormir, me deixe sozinha. – Levantei. – Amanhã conversamos sobre isso. – Fui em direção ao banheiro, tirando toda aquela maquiagem borrada, enquanto lágrimas rolavam. Meu casamento a cada dia se esfriava e se autodestruía, ele o destruía. Por desconfianças, por paranoias, por ciúme obsessivo. Enquanto todos da família ficavam me culpando por trabalhar oito horas por dia, culpando por toda imagem distorcida que uma mulher independente tem sobre os olhos da sociedade machista.
Uh, este é o seu aviso final
Você sabe que te dei vida
Se você tentar essa merda de novo
Você vai perder a sua esposa
– Bom dia, senhora ! – Disse minha secretária.
– Bom dia, Rita. – Respondi.
– O senhor Ethan quer falar com a senhora na sala dele.
– Esse tanto de formalidade me deixa tonta. – Sorri. – Obrigada pelo recado. – Caminhei em direção à sala de meu chefe. O dia prometia ser cheio e nem um pouco satisfatório para mim. , meu marido, tinha constantemente a mesma bobeira de querer que eu não trabalhe e fique enfurnada naquela casa o dia todo. Realmente, se eu quisesse tal coisa eu não teria gastado anos da minha vida em uma universidade ou saído da casa de meus pais buscando independência.
– Ethan? – Bati na porta o chamando.
– Pode entrar. – Respondeu.
– Mandou me chamar? – Perguntei.
– Sim. – Largou os papéis sobre a mesa e me olhou. – Sente-se primeiro. – Retirou seus óculos. – Eu lhe chamei aqui para fazer um comunicado ou uma proposta, fica a sua escolha. – Começou, me deixando apreensiva.
–Pode dizer. – Falei.
– Quero que aceite e assuma o cargo na diretoria da empresa. – Falou. – Você trabalha há anos conosco, sempre mostrando bons resultados, sua competência em cada decisão que precisamos. – Argumentou.
– E o antigo diretor? – Questionei.
– Ele deu entrada em sua aposentadoria, quer aproveitar com a família. – Respondeu. – Você tem até amanhã pela noite para me responder, se me der licença preciso continuar com meu serviço. – Colocou novamente os óculos, se voltando para os papéis sobre a mesa. Me levantei, pedindo licença e saindo daquele cômodo rumo à minha sala, em estado de choque. Eu trabalhei naquele escritório desde a época do estágio. Apesar de sempre ser reconhecida pelas coisas que fazia, aquele comunicado tinha me surpreendido, eu nem sequer sabia se estava pronta para aquele cargo.
As horas passaram lentamente, eu não via à hora de chegar em casa, relaxar e contar sobre meu dia à , por mais que ele não mostrasse interesse nenhum em meu trabalho, o que me deixava frustrada sempre.
– Ei. – Abri a porta de casa, dando de cara com ele no telefone.
– Chegou mais cedo hoje. – Colocou o celular na mesinha.
– Não tive nenhuma reunião. – Joguei minha bolsa no sofá. – Você não vai acreditar no que aconteceu hoje. – Disse animada.
– O quê? – Sibilou
– Tive uma proposta para um cargo na diretoria da empresa. – Falei eufórica. – Isso não é demais?!
– Legal. – Se levantou. – Vou tomar um banho, Nathan e Emma nos convidou para um barzinho hoje. – Seguiu rumo às escadas. – Não quero atrasar você para se arrumar. – Me deixou ali sentada no sofá e mais uma vez conversando sozinha e com um bolo na garganta.
Mais tarde.
Por
– Você não tinha que estar feliz por ela? – Questionou Nathan
–É claro que estou, isso foi rápido demais. – Beberiquei minha bebida.
– Isso? – Questionou confuso.
– Essa promoção. – Respondi.
– Ela trabalha há seis anos naquela empresa, você acha que ela seria secretária ou a moça do café para sempre. – Debochou de mim
– Você não entende. – Bufei.
– Então explique, porque a única coisa que eu estou vendo é seu egoísmo ou um puro machismo aí.
– Nenhum dos dois, eu só queria ficar mais perto dela. Ela poderia ter aceitado minha proposta de trabalhar comigo. – Coloquei o copo sobre a mesa.
– E ser sua secretária o resto da vida?! Não mesmo. – Falou. – Conheço , se fosse para ser assim ela não teria desgrudado da barra da saia da mãe dela.
– Ela poderia ser como Victoria, que toda vez que eu chegava do serviço a encontrava me esperando, não chegava tarde do serviço. – Lembrei.
– Não acredito que você está se lembrando de sua ex esposa, ela nem trabalhava, como chegaria tarde do serviço? A não ser chegar tarde de algum SPA ou da casa do amante. – Fez sinal de chifres com a mão. – Isso é egoísmo, . – Respondeu. – Você não pode impedir de crescer, ela é uma ótima profissional, como marido tinha que estar ao lado dela apoiando. – Ralhou.
– Não estou fazendo nada demais. – Dei de ombros.
– Você vai acabar perdendo ela, cara. – Alertou.
– Para de graça, Nathan. – Dei um soco em seu braço. – Elas vão demorar quanto tempo para se arrumarem? – Perguntei, em seguida vendo-as descer as escadas.
– Já estamos aqui. – Respondeu a esposa de Nathan.
– Vamos. – falou passando por nós, indo até a porta.
– Calma, o restaurante não vai sair do lugar. – Brinquei, ficando sério em seguida vendo sua expressão.
Oito meses depois, Centro da cidade.
– Se for para você ir comigo com essa cara, fique em casa que eu vou sozinha. – Falei batendo a porta do carro.
– Que cara estou fazendo? – Resmungou
– Essa cara de bunda. – Retruquei. – Qual o problema? – Perguntei.
– Problema nenhum. – Falou automático.
– Qual o SEU problema? – Dei ênfase. – Toda vez que sou promovida na empresa você fica assim.
– Não entendo por que você quer tanto trabalhar. – Me olhou. – Eu quero ter uma família, filhos, e você só pensa nessa empresa, em trabalhar.
– O quê? – Exclamei incrédula. – Você nunca me disse sobre isso. – O encarei. – Eu não penso só na droga daquela empresa, é você que só pensa no seu próprio umbigo.
– Eu sou o egoísta agora. – Gritou, parando o carro em uma vaga e desligando o mesmo.
– Sim, você é o egoísta da história, babaca que pensa que mulher tem que ficar em casa esperando o marido, cuidando de uma penca de catarrentos. – Soltei.
– Então é isso que você pensa sobre ter filhos? Catarrentos? – Perguntou.
– Não desvie o foco da conversa como você sempre faz. – Ralhei. – Em que século você vive?! Deveria estar feliz por mim, feliz por eu subir de cargo, por concorrer à droga desse prêmio.
– Estaria muito mais feliz se você estivesse trabalhando comigo, na nossa empresa. – Socou o volante.
– Realmente seria cômodo, não é mesmo? Eu sendo sua eterna secretaria. – Debochei. – Não entendo tudo isso, esse seu exagero.
– Não entende porque você não vê como aqueles porcos te olham quando passa pelo escritório, as indiretas que eles jogam para você. – Travou o maxilar.
– E eu lá me importo com eles? Nem sequer dou moral. – Falei furiosa. – Eu me casei com você, se eu quisesse te trair ou sair com alguém para conseguir algo, como você está querendo insinuar...
– Não estou querendo dizer isso. – Me cortou.
– Mas foi o que pareceu. – Voltei meu olhar para frente. – Se eu quisesse tudo isso não teria me casado ou teria simplesmente feito isso com você, como sua querida Victória fez. – Soltei.
– Quer saber, vai sozinha. – Tirou o cinto de segurança. – Eu não vou a lugar nenhum. – Saiu do carro.
– O que você pensa que está fazendo? – Perguntei saindo atrás, vendo-o se distanciar. – Espero que saiba o que suas atitudes estão provocando. – Fui em direção ao lado do motorista, entrando e dirigindo até o evento. Passando por ele sem ao menos olhar para o lado, pelo retrovisor pude ver sua expressão de incrédulo e estático no meio da rua.
Desde o dia que saímos para comemorar a minha promoção, aquela conversa que ouvi ao caminhar para a sala, ele queria que eu fosse como sua ex esposa ou simplesmente uma empregada. Victória fazia todas as vontades de e em troca tinha um cartão de crédito sem limites, nem ela o suportou. Estacionei próximo à entrada do salão de festas, entregando as chaves ao manobrista e entrando.
Casa do Ethan
Por
– Não acredito que você realmente está aqui. – Ethan falou, abrindo a porta.
– Se não quiser me receber, vou embora.
– Entra logo. – Foi em direção ao sofá.
– . – Emma falou surpresa. – Não era para você... – A cortei.
– Era.
– Emma, eu preciso conversar em particular com o cabeça dura, pode ser? – Perguntou à esposa.
– Tudo bem. – Assentiu, nos deixando a sós.
– O que foi desta vez? – Me olhou.
– Por que você pensa que sempre há um problema em minhas visitas? – Arqueei a sobrancelha.
– E não tem? – Disse cínico. – Eu detesto ter essas conversas com você, para ser verdadeiro, porque eu realmente tenho vontade de te socar no final. Então dá para falar logo qual foi a mais nova burrada que você fez?
– Eu tive um pequeno surto com a ideia de ela ser eleita uma das melhores empresárias do ano. – Comecei. – Antes que venha falar que é egoísmo, não é.
– E o que seria? Porque você está a cinco anos na sua própria empresa e nunca foi indicado sequer para algum prêmio, não seria inveja ou algo do tipo? – Falou.
– Claro que não, Ethan, onde está com a cabeça? – Exclamei. – Você não entende.
– Entenderia se você falasse, e você tem certeza que não é isso que se passa na cabeça dela? – Pausou. – Ser deixada no caminho de um evento importante para ela e você sequer pensou em ir atrás.
– Como você reagiria se sua esposa ficasse o dia todo rodeada por homens no serviço, fosse a queridinha do chefe. – Disparei. – Com essa merda de prêmio ela ficará mais conhecida e disputada por muitas empresas, você sabe o quão porco são os homens desse ramo.
– Ela não é como as outras que por algum motivo se venderam, e eu nem quero saber o porquê, não me interessa o que se passa na vida alheia. – Me olhou sério. – sempre esteve do seu lado, nunca lhe escondeu nada e sempre te ajudou e é isso que ganha em troca? Desconfianças?
– Eu não quero perdê-la. – Exclamei.
– Mais é isso que vai acontecer, essa desconfiança de tudo. Não é porque sua mãe traiu seu pai ou porque sua ex-esposa te deixou por outro que tudo em sua volta seguirá o mesmo caminho.
– Eu nunca disse que seria.
– Você agiu como se fosse. – Aumentou o tom de voz. – Não é porque ela é independente, tem o serviço dela e gosta do que faz que vai dizer que ela te dará um pé nessa sua bunda gorda. Independência é crescer e aprender a viver com as próprias pernas.
– E-eeu. ¬– Gaguejei sendo interrompido.
– Seja lá o que você cresceu ouvindo de qualquer pessoa a respeito de sua mãe ou o que te disseram quando o seu primeiro casamento acabou, não leve isso em consideração. – Pediu. – Não estrague tudo por comentários ou simplesmente por uma má experiência na sua vida.
–Ethan...
– Vá trás dela e fique com ela nesse momento. – Se levantou.
– Preciso de um táxi. – Falei indo em direção à porta e saindo.
Por
A festa tinha acabado há uns cinco minutos, fiquei sentada no meio fio com aquele troféu enquanto o manobrista buscava o carro. Realmente parecia uma piada, a minutos atrás rodeada de pessoas me parabenizando pelo ótimo trabalho e agora aqui sozinha. Até que uma figura conhecida senta ao meu lado.
– Você ganhou? – Quebrou o silêncio, se referindo àquele pedaço de lata em meu colo. – Me desculpa por ser esse idiota.
– O seu carro, senhorita. – Fomos interrompidos.
– Obrigada. – pegou a chave, entrei no carro do lado do passageiro, colocando o sinto de segurança, encostando minha cabeça na janela.
– Eu fui um completo babaca e entendo você não querer conversar comigo. – Pausou. – Mas eu só quero que você saiba...
– Só dirige para a casa. – O cortei.
Não demorou muito para que eu escutasse o barulho do carro ligando e começasse a se movimentar. O único som que se instalava no ar, era do rádio ligado, algo como Beyoncé estava tocando. E minha mente vagava por algum lugar desconhecido.
Enquanto eu rebolo para o próximo pau, garoto
E fique com seu dinheiro, eu tenho o meu próprio
Tenho um sorriso ainda maior em meu rosto sozinha
– , me espera. – Pediu.
– Quem diabos você acha que eu sou?– Comecei a falar. – Você não está casado com uma qualquer.
– Eu nunca te disse isso. – Respondeu.
– Você não pode querer que eu seja igual a ela. – Comecei a alterar a voz. – Você nunca irá recriá-la, NUNCA. – Comecei a tirar suas roupas e jogá-las no chão.
Deixe rolar, deixe rolar, deixe rolar
– Desde quando você precisa me dividir com serviço? Você é patético.
– Você fica mais tempo lá do que em casa, chega depois de mim. Não tem motivo para ficar tanto tempo lá.
– Eu tenho um cargo de importância lá dentro. – Apontei o dedo. – Quando você insinua que eu poderia ter algo com alguém que irá conviver no mesmo ambiente que eu, você está sendo cruel porque me conhece, conhece meu caráter.
– Eu não insinuei, só quero você longe desses homens que ficam te bajulando, te elogiando toda hora, soltando cantadas.
– Você teria motivo para ficar assim se eu não os cortasse, se eu retribuísse. E eles nunca me assediaram, apenas elogios ao meu serviço ou algum penteado novo.
– Eles não têm que elogiar seu cabelo ou roupa. – Argumentou
– Você tem que sair desse mundo que seu pai criou e colocou toda a culpa na sua mãe. – Berrei. – Aquele velho turrão que nunca fica contente e feliz por nada nessa vida.
– ...
– Sempre colocando defeitos. – Ele precisava ouvir tudo que estava entalado. – Te apresentou aquela mulher, pensou que ela ia ser uma completa dona de casa que fica o dia inteiro fazendo tudo pelo marido, que chega e ainda fica reclamando, como se ela fosse obrigada a ouvi-lo e fazer tudo para agradá-lo. E o que que ela fez?! Te traiu e meteu o pé na sua bunda.
– Não foi bem assim.
– E você não aprendeu nada com seus erros. – O encarei. – Eu não vou deixar de fazer as coisas que gosto para agradar seu ego ultrapassado.
Quando você me difama, você se difama
Não se machuque
Quando você me machuca, você se machuca
Não se machuque, não se machuque
– Eu não estou.
– Você não está vendo, mas está fazendo. – Lágrimas rolavam por seu rosto. – Seu pai não aceitava a independência da sua mãe, mesmo se casando por contrato, tendo várias amantes, te abandonando doente sozinho em casa. – O lembrei. – Existe uma grande diferença entre nós dois, eu te amo.
– Eu também te amo, só fiquei cego por tudo isso. – Tentou se desculpar.
– Você não me ama profundamente como deve, nada justifica você ser frio comigo, me deixar sozinha em casa, ficar enfiado na casa de amigos por não aceitar que eu fique reconhecida. – O fitei. – Me deixar sozinha em lugares porque eu apenas respondi educadamente um homem.
Até perceber, eu sou boa demais para você
Eu sou simplesmente demais para você
– Você só está fazendo com que me perca. Quando você me machuca, você se machuca. Eu quero um marido e não um pai ciumento de adolescente rebelde. E você de uma esposa e não um pedaço de carne.
– Me dê uma chance, prometo mudar e não te decepcionar. – Pediu.
– Eu quero dormir, me deixe sozinha. – Levantei. – Amanhã conversamos sobre isso. – Fui em direção ao banheiro, tirando toda aquela maquiagem borrada, enquanto lágrimas rolavam. Meu casamento a cada dia se esfriava e se autodestruía, ele o destruía. Por desconfianças, por paranoias, por ciúme obsessivo. Enquanto todos da família ficavam me culpando por trabalhar oito horas por dia, culpando por toda imagem distorcida que uma mulher independente tem sobre os olhos da sociedade machista.
Uh, este é o seu aviso final
Você sabe que te dei vida
Se você tentar essa merda de novo
Você vai perder a sua esposa
Fim.
Nota A: Obrigada por lerem, espero que gostem e que entendam o que quisemos passar. Quero agradecer a Kah pela ajuda.
Nota Kah: Olá Girls. Quero agradecer a Tharcylla Christinne pela força e por nos ajudar com a ideia.
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Nota Kah: Olá Girls. Quero agradecer a Tharcylla Christinne pela força e por nos ajudar com a ideia.
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